Cerca de 300 famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas do Ceará ocuparam, no dia 28 de julho, terreno abandonado da Universidade Estadual do Ceará (Uece) localizado no bairro Dendê. A ação teve início às 4h da manhã, saindo das comunidades do Henrique Jorge, Antônio Bezerra, Pan-Americano, Curió e Mucuripe. Ao amanhecer, a barraca da cozinha coletiva já estava montada e a comissão de alimentação servia o café da manhã para as famílias organizadas. Com o sorriso no rosto, cada uma delas trabalhava na coletividade, confiando na vitória, com a perspectiva e a certeza de que a luta conquista.
O movimento contou com o apoio do reitor da Uece, Jackson Sampaio, que esteve sempre dialogando conosco. Por intermédio dele conseguimos uma audiência com o secretário das Cidades, Camilo Santana. A audiência se deu no dia 1º de agosto, com a presença de representantes da Secretaria das Cidades, o secretário e os técnicos, da Defensoria Pública do Núcleo de Habitantes e Moradia e do MLB, para tratar da situação das 300 famílias necessitadas ocupantes do terreno. Chegou-se a um acordo segundo o qual o governo do Estado, através da Secretaria das Cidades, aportaria recursos para a construção de 150 unidades habitacionais para as famílias cadastradas pelo MLB e contemplaria 150 famílias indicadas pelo MLB nos empreendimentos contratados e em execução no município de Fortaleza em que o governo do Estado atua como interveniente.
No dia 4 seguinte, as 300 famílias desocuparam o terreno e voltaram às suas comunidades. Essas famílias continuam a assistir às reuniões semanais, cumprindo o regimento e as normas do movimento e com a certeza da vitória conquistada através da organização e da luta.
Após inúmeras evasivas da prefeitura e da Urbel – órgão responsável pela habitação –, do completo descaso com as pessoas, pois nem mesmo aluguel social ou outra medida paliativa foram apresentados, o MLB deu continuidade às reuniões e assembleias, uma nova ocupação foi realizada em Belo Horizonte pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). A ocupação reúne as famílias remanescentes da última ação ocorrida em abril passado e despejada em 11 de maio.
Com as barracas erguidas, muita coragem e disposição, a nova ocupação Eliana Silva renasce, mais organizada e mais forte num terreno localizada na mesma avenida da ocupação anterior.
Truculência, repressão e resistência
No sábado, dia 25 de agosto, centenas de famílias e um grande grupo de apoiadores do MLB foram até a nova ocupação. Lá enfrentaram o forte aparato policial, a truculência e a repressão da PM de Minas Gerais. Houve Tropa de Choque, Gate, helicóptero e o destempero completo do comandante da ação, o Capitão Natan, que agrediu várias pessoas, prendeu dois advogados do movimento e de integrantes do MLB, sacou armas e queria retirar a ocupação com tiros, entre outras ameaças e agressões verbais, inclusive de baixo calão. Porém nada disso foi capaz de deter a determinação das famílias da ocupação Eliana Silva de manter-se no terreno e lutar pelo direito de morar dignamente.
Na nova mobilização do MLB, reuniram-se, além de um grupo de advogados populares, integrantes de várias entidades, padres, lideranças sindicais, professores, estudantes, militantes de partidos e organizações de esquerda, unificados na defesa da ocupação e da luta pela moradia em BH. Foi uma batalha, vencida nesse momento pelo MLB. A rede de apoiadores continua crescendo a cada dia e tem ajudado a fortalecer a ocupação. Agora, a Ocupação Eliana Silva avança com a instalação de luz e água, a construção da creche e da cozinha comunitária, além do funcionamento de várias comissões de trabalho.
Desigualdade social e injustiça
Belo Horizonte é uma das cidades mais injustas e desiguais, não apenas do Brasil, mas de toda a América Latina. É o que comprova recente estudo apresentado pela Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado no dia 21 de agosto, que classifica a América Latina como a região mais urbanizada e desigual do mundo. O estudo destaca um panorama do desenvolvimento de cidades e regiões latino-americanas e escancara as deficiências no processo de urbanização e ocupação dos grandes centros urbanos. Das 24 cidades pesquisadas, Belo Horizonte amarga o título de quarta cidade mais injusta e desigual da América Latina e Caribe, sendo a quarta metrópole com pior distribuição de renda do continente, atrás apenas de Bogotá, Goiânia e Fortaleza.
Por outro lado, nem o governo demotucano de Antônio Anastasia nem o prefeito de BH, Márcio Lacerda, apresentam soluções para essas e outras famílias que não têm o direito de morar dignamente na capital mineira. Além de Eliana Silva, existem ainda as ocupações Dandara, Camilo Torres, Irmã Dorothy 1 e 2, Helena Grecco-Zilah Spósito, entre outras dezenas realizadas espontaneamente na cidade. E o pior é que nem mesmo os programas de moradia popular são promovidos para diminuir o enorme déficit habitacional de Belo Horizonte, que é um dos maiores do país. Até mesmo o Programa Minha Casa, Minha Vida para famílias de baixa renda é ignorado e nenhuma casa foi construída por esse programa na capital. O número de inscritos nele é de 198 mil famílias, ou seja, cerca de 1 milhão de pessoas, mas a prefeitura, ao invés de promover um convênio com o governo federal, prefere tratar as ocupações urbanas como caso de polícia. Além disso, existem 70 mil imóveis ociosos que são utilizados pela especulação imobiliária, porque a prefeitura não aplica as leis vigentes e não dá destinação social a eles.
Uma comissão de famílias da ocupação foi até um comício realizado por Márcio Lacerda, na Praça da Febem, no Barreiro, para cobrar uma audiência que resolveria definitivamente a situação da construção das moradias. Lacerda ficou sem reação e nervoso.
Solidariedade
No evento Duelo Nacional de MCs, que reuniu milhares de pessoas debaixo do Viaduto Santa Tereza, houve mais apoio à ocupação Eliana Silva.
A primeira foi de Leonardo Bicalho: “Nós estamos lutando pela cidade, para ocupar a cidade, fazer dela algo nosso. Por isso, nós nos solidarizamos com todas as ocupações urbanas, com todas as comunidades em luta nessa cidade!!! Somos todos Eliana Silva!!!” E, numa aparição surpresa no evento, o rapper Emicida arrematou, abrindo a bandeira do MLB bem alto e falando: “Esse lugar é nosso, nós construímos isso aqui, enquanto eles deixam abandonado, nós damos vida, enquanto eles abandonam, nós ocupamos e fazemos cultura!”
Um grupo de arquitetos da UFMG que desenvolve projetos e moradias populares também reuniu-se com o MLB e apresentou propostas para a construção de habitações populares na ocupação. O grupo é composto, principalmente, por professores sensibilizados com a luta urbana. Com a nova ocupação Eliana Silva cresce a luta popular em Minas e no Brasil.
No final de julho, o Conselho de Transporte de Belém aprovou reajuste no valor da passagem do transporte público, que passou de R$ 2 para R$ 2,20, fato que gerou grande revolta da população da capital paraense. O aumento representou quase o dobro do reajuste do salário mínimo.
Uma grande frente estudantil foi formada, incluindo a Uesb, Fepet, DCEs, UJR e outras organizações políticas, e levou às ruas mais de mil manifestantes até a sede da Prefeitura, no dia 9 de agosto. O ato, até então pacífico, foi recebido pela Guarda Municipal de Belém com spray de pimenta, bombas de efeito moral e balas de borracha, ferindo dezenas de estudantes, entre eles a aluna do IFPA Jaquelliny Lopes, diretora da Fenet, que ficou com o pé ferido.
A truculência da Prefeitura, que ganhou destaque na imprensa nacional, aumentou ainda mais o ânimo da juventude que, no dia 14, voltou às ruas contando, desta vez, com a solidariedade de categorias profissionais do Município, a exemplo dos servidores da Saúde que se encontravam em greve.
Com as mobilizações, o movimento arrancou o compromisso de uma audiência com o prefeito, onde reivindicou: revogação do aumento; audiência pública sobre a condição do transporte; meia-passagem para alunos de cursos pré-vestibulares; passe-livre aos estudantes; gratuidade, num domingo por mês, nos ônibus; fim da taxa de R$ 22 para emissão da segunda via da meia-passagem; e a garantia de que qualquer outra proposta de aumento seja submetida a audiência pública com a sociedade civil. O prefeito só acatou a proposta de abolição da taxa da segunda via da meia-passagem.
Um calendário de lutas já está marcado para continuar as manifestações no mês de setembro, pelo congelamento por tempo indeterminado da tarifa, pela meia-passagem aos estudantes de cursinhos e pelo passe-livre aos estudantes.
Matheus Tavares, presidente da Federação Paraense dos Estudantes de Escolas Técnicas e membro da UJR
No dia 10 de agosto, mais de 500 jovens de escolas estaduais saíram em caminhada até o Marco Zero da cidade de Caruaru, no Agreste pernambucano, e lá entregaram uma pauta de reivindicações da juventude a um dos candidatos a prefeito do Município. A passeata foi organizada pela União dos Estudantes Secundaristas de Caruaru (Uesc) e pela União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (Uespe), que têm como bandeiras de luta a reivindicação de implantação imediata de 10 % do PIB para educação, eleições diretas para a diretoria das escolas, passe-livre nos transportes urbanos e meia-passagem intermunicipal.
Segundo o diretor-executivo da Uesc, Gleison dos Santos, “a lista tríplice para indicação de diretor de escola é uma múmia morta e enterrada, que agora o governador Eduardo Campos quer ressuscitar para poder indicar os diretores e, assim, esconder da sociedade o descaso com a educação pública”.
O Brasil ocupa o 53º lugar em educação, entre 65 países avaliados no mundo. Sabemos bem que a educação não é prioridade para os governos, e prova disso é que aumenta a cada dia o grau de sucateamento das escolas. O pior de tudo é que rios de dinheiro são desviados dos cofres públicos para empresas privadas do setor da educação, a exemplo do sistema S (Senai, Sesi, Senac), ainda o ProUni e o Pronatec, aos quais o governo federal repassa enormes quantias de verbas públicas sob pretexto de dar oportunidade às pessoas que não conseguiram uma vaga em instituições públicas. O fato é que todo esse dinheiro, se investido no setor público, ampliaria o número de novos estudantes do ensino técnico.
O Estado do Piauí vem se destacando pelo fato de suas escolas receberem títulos tão diferentes como a Escola Dom Barreto, em Teresina, que está entre uma das melhores do Brasil, enquanto a Escola Municipal Francisco José dos Santos, em Santa Rosa do Piauí, é considerada a terceira pior do país. Atualmente as Secretarias de Educação do Estado e da cidade de Teresina são administradas por empresários, donos de escolas e universidades particulares, e uma de suas estratégias é sucatear cada vez mais a educação pública para aumentar seus lucros.
E como é o povo que sempre fica com o ônus, o Estado continua em segundo lugar no ranking dos Estados brasileiros com o maior número de jovens e adultos analfabetos, totalizando 563 mil pessoas.
Natália Santos, estudante do Liceu Piauiense e militante da UJR
Um debate sobre o tema dos recursos energéticos ocorreu na Faculdade de Engenharia da Fumec, em Minas Gerais, como parte da programação de calourada dos estudantes da universidade. O auditório lotado e a grande participação estudantil mostrou o quanto é importante debater temas como esse na universidade.
Cerca de 300 estudantes participaram do debate “Os Recursos Energéticos no Brasil”, realizado pelo Diretório Acadêmico de Engenharia da Fumec em conjunto com o Diretório Central dos Estudantes e a Converge-Jr., no dia 22 de agosto. Como palestrantes participaram o professor Wladmir Coelho, responsável pela coluna Petróleo e Política no portal Diário Liberdade e mestre em direito; o engenheiro Cláudio Homero, doutor em Engenharia Química pela Universidade Federal de Uberlândia; o professor Nilo Sérgio, ex-presidente do Sindicato dos Engenheiros (MG); e o professor Gustavo Isaia, coordenador do curso de Engenharia Bioenergética da Fumec, além de representantes do Crea-RJ.
A discussão sobre os recursos energéticos está cada vez mais presente na sociedade porque a disputa pelo petróleo tem causado guerras e conflitos em várias regiões do mundo, onde a soberania nacional e interesses econômicos têm se colocado em campos opostos. Todos os palestrantes destacaram o caráter privatista da política energética adotada no Brasil, especialmente através dos leilões organizados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Outro debate abordou o fim dos contratos de concessão das hidrelétricas e a descoberta do pré-sal. Do ponto de vista dos que pensam na soberania nacional, no equilíbrio da natureza e numa política voltada para a melhoria das condições sociais da população, essas riquezas devem servir para melhorar as condições vida do povo, aplicando-se uma política de tarifas mais acessíveis e o controle social.
A União dos Estudantes Secundaristas Potiguares (Uesp) e a União da Juventude Rebelião (UJR) organizaram, no último dia 16, em Natal, uma manifestação que ocupou a Secretaria Estadual de Educação do RN.
O ato teve como objetivo relembrar a história de luta de tantos estudantes e jovens que deram suas vidas defendendo o povo brasileiro no período da ditadura militar. Um deles foi Emmanuel Bezerra dos Santos, estudante secundarista e universitário na cidade de Natal, que foi perseguido e barbaramente assassinado.
Os estudantes denunciaram os cortes e os poucos investimentos na educação pública e o descaso com que são tratadas as escolas do Estado. Cobraram um quadro completo de professores e a construção ou reforma das quadras esportivas, apontando como absurdos os enormes gastos com as obras de um novo estádio de futebol para a Copa 2014. Exigiram ainda estrutura para os laboratórios de química e informática, climatização das salas de aula e acessibilidade aos portadores de deficiências.
Com a ocupação, uma comissão de estudantil foi recebida pela secretária de Educação Betânia Carvalho, e por seu adjunto, Joaquim Juraci de Oliveira. A secretária se comprometeu a visitar prioritariamente as dez escolas ali representadas até o fim de setembro, para falar com os estudantes, professores, funcionário e direções, levando com ela uma equipe de engenheiros e técnicos com a finalidade tratar da situação das unidades, diante da pauta de reivindicações apresentada.
Samara Martins,
presidente da Uesp e militante da UJR
Entre os dias 4 e 10 de agosto, na cidade de Caracas, capital da Venezuela, aconteceu a 23ª edição do Encontro Internacional da Juventude Antifascista e Anti-imperialista (EIJAA), que a cada dois anos reúne jovens revolucionários de diversos países na luta por um mundo novo e contra as intervenções imperialistas contra os povos e a juventude.
Estiveram presentes na Universidade Bolivariana da Venezuela delegações da Alemanha, Argentina, Áustria, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, França, Inglaterra, Líbano, País Basco, Peru, República Dominicana, Turquia, Venezuela e Brasil. Temas como cultura, educação, meio-ambiente, lutas da juventude no mundo e a repressão aos movimentos sociais foram abordados, sempre tendo em vista a crise econômica do capitalismo que assola o mundo.
Muitas consequências da crise são comuns aos jovens destes diversos países: desemprego, aumento da repressão policial, queda na qualidade da educação, perda de perspectiva de futuro; aumentando consequentemente os índices de alcoolismo, consumo de drogas e de suicídios.
Contra tudo isso, uma grande quantidade de lutas tem sido protagonizada pela juventude nos últimos anos: greves pelo aumento nos investimentos da educação, lutas contra os cortes das áreas sociais, protestos contra as demissões e, de uma forma mais clara e decidida, a denúncia do imperialismo como o grande responsável pelos problemas sociais que assolam o mundo.
A delegação brasileira, formada por treze pessoas, se fez presente em todos os espaços do acampamento, levando questões importantes da conjuntura política do país: a campanha pela punição dos torturadores e assassinos da Ditadura Militar; a denúncia dos mais de 90 dias de greves das universidades federais; a mobilização crescente do movimento estudantil pelos 10% do PIB para a educação, etc.
As atividades culturais organizadas pelos próprios participantes dos diversos países foram uma grande oportunidade para apresentar a cultura popular, mostrando que também na cultura é preciso e possível combater o massacre da cultura imperialista que tenta anular a participação do povo nas manifestações artísticas.
O término do acampamento aconteceu com uma combativa manifestação que tomou as ruas de Caracas com palavras de ordem e muitas denúncias contra o imperialismo, somando-se ao espírito do povo venezuelano, que nos últimos anos vem travando uma grande luta pela soberania nacional com várias mudanças sociais promovidas pela grande mobilização popular e pelas ações do Governo de Hugo Chávez.
Hoje as atividades do jornal A Verdade servem de estímulo aos seus admiradores, aliados e assinantes, e é principalmente nas brigadas e assembleias que o jornal concentra todos, com o intuito de divulgar e propagandear a impressa que defende o interesse dos trabalhadores. Exemplo disso são os companheiros da cidade de Carpina, em Pernambuco, que mensalmente realizam assembleias nas associações de moradores, creches, escolas, etc., além de brigadas nas fábricas, comércio e faculdades.
Nas assembleias realizadas nas escolas são dezenas de alunos que leem e debatem um tema que, muitas vezes, tem a ver com a sua realidade e conhecem mais o nosso jornal. Diante disso, temos que intensificar nossa agitação política em todos os lugares e, onde não estão sendo realizadas essas atividades, devemos retomá-las com ânimo novo. Se, em todo começo de mês, realizarmos assembleias e brigadas, teremos um jornal quinzenal como todos queremos e, em breve, diário, para defender mais fortemente o socialismo em nosso país.
Nas duas últimas décadas ocorreu um aumento muito grande do número de casos de depressão na adolescência e na infância. Algumas pesquisas também mostram que cerca de 20% dos estudantes do ensino médio sentem-se profundamente infelizes ou têm algum tipo de problema.
A depressão é certamente o diagnóstico psiquiátrico mais observado em adolescentes que tentam o suicídio. Desesperança, falta de oportunidades, transtornos de humor e principalmente o meio social de que o jovem faz parte podem ser considerados os principais agentes causadores desse distúrbio.
A taxa de doentes depressivos que cometem suicídio chega a ser de 15%, somente na adolescência. O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking da prevalência da depressão em países subdesenvolvimento: são 18,4% de doentes em uma faixa de idade que vai até 24 anos.
Afinal de contas, qual é a principal causa do sofrimento mental? Como explica o médico de psiquiatria no setor de saúde mental do hospital universitário Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará, “A origem do sofrimento reside no próprio sistema; onde deveria haver amor é dada violência, onde deveria ser distribuída a riqueza produzida pela sociedade para a felicidade de todos, o que é dado é miséria e fome”
Por exemplo, crianças que abandonaram a escola até os sete anos para cuidar da casa, ajudar os pais por falta de estrutura familiar (ou até mesmo para arrumar um trabalho, ilegalmente, e que na maioria das vezes são mais exploradas que uma pessoa adulta), perdem toda a esperança de vida, fazendo assim com que 23 mil delas estejam hoje vivendo nas ruas, desmotivadas a viver por não verem mais um caminho que as possa tirar da situação de miséria.
Outro caso muito comumente analisado de jovens que ficam depressivos e depois cometem suicídio é o fato de a maioria deles morarem em setores marginais da zona urbana. De acordo com o Ministério da Saúde, 22% da população brasileira é formada de jovens de baixa renda que moram em área de risco das cidades, o que dificulta ainda mais o contato com a escola, diversão e arte, trabalho e saúde. Anualmente milhares de estudantes que concluem o ensino médio tentam o vestibular para ingressar em uma universidade pública, mas, com um pouco mais de 270 mil vagas, sendo metade delas ocupadas por alunos de escolas privadas, a maioria acaba perdendo a oportunidade e a esperança de formar-se; um total equivalente a 4,5 milhões de jovens fora das universidades.
Recente pesquisa realizada em Nova Iorque, EUA, mostrou que o fato de ir para a cama mais cedo protege os adolescentes contra a depressão e pensamentos suicidas. Dos 15.500 adolescentes com idade entre 12 e 18 anos estudados, aqueles que costumavam ir para a cama depois da meia-noite mostraram chances de ter depressão 24% maiores que os adolescentes que iam dormir por volta das 22 horas. Os adolescentes que dormiam menos de cinco horas por noite tinham um risco de depressão 71% maior do que aqueles que dormiam oito horas.
Em nosso país também temos jovens que passam a noite sem dormir ou dormem apenas cinco horas por noite, e o motivo da insônia é que, dos usuários da internet à noite, 79% deles estão presos à alienação da mídia burguesa, o Facebook. Os usuários fanáticos ou desequilibrados do Facebook acreditam que, por ser uma rede social em que eles possam expressar-se livremente ou fazer autoexposição, ela os ajuda a ficar felizes ou até mesmo fugir dos seus problemas pessoais. O que não sabem, porém, é que as prováveis consequências são de reações negativas, podendo aumentar o risco da depressão.
No dia 9 de setembro comemora-se o Dia Internacional da Luta contra o Suicídio, e não podemos deixar de nos manifestar e dizer que a vida e seus benefícios são um direito de todos, que só haverá jovens e adultos satisfeitos com ela quando viverem numa sociedade em que a vida humana prevaleça mais do que o dinheiro, em que pessoas de qualquer idade terão acesso à cultura, com uma educação suficiente para lhes dar suporte psicológico, com direito para todos, uma sociedade socialista.
Luane Mota,
diretora da Fenet e militante da UJR – Fortaleza
O filme Batman: o cavaleiro das trevas ressurge (Christopher Nolan, 2012) confirma duas verdades da sétima arte. A primeira é que as superproduções hollywoodianas são armas de propaganda ideológica do sistema e a segunda é que os “investidores” preocupados com essa luta ideológica não jogam leve: foram gastos US$ 250 milhões nesse filme. Não por acaso, a trilogia (que pretende ser definitiva) Batman aparece ao púbico mundial em meio a uma das maiores crises econômicas da história do capitalismo e, consequentemente, em meio a diversas revoltas e rebeliões populares ao redor do mundo. Rebeliões que contam com um protagonismo da juventude, exatamente o público ao qual se destina, principalmente, a trilogia.
Em recente entrevista, o diretor Christopher Nolan dá a dica: “Não acho que exista uma perspectiva de esquerda ou de direita no filme. Ele faz apenas uma avaliação honesta, uma exploração honesta do mundo em que vivemos – de coisas que nos preocupam”. O ambiente do filme é uma Gotham pacificada, onde os policiais quase não tem trabalho a fazer. A proeza se deve ao Ato Dent (surpreendentemente parecido com o Ato Patriótico de Bush), lei que permite à polícia prender sem mandado, punir sem provas contundentes, extingue o habeas corpus e institui a incomunicabilidade do preso pelo tempo “necessário”. Essa lei colocou na cadeia todos os criminosos de Gotham, à exceção de alguns ladrões de galinhas. Nesse contexto, Bruce Wayne descansa tranquilo em sua mansão, pois não precisa ser mais o Batman.
Porém uma conspiração acontece em meio a essa calmaria. Um vilão de nome Bane recruta centenas de degredados sociais para algum desígnio obscuro. E não são homens comuns os que ele recruta, pois mesmo ao serem torturados (ou interrogados, segundo linguagem do filme e da vida real da polícia) não falam nada, não entregam o esconderijo e sequer confirmam qualquer acusação. Simplesmente ficam calados. Qualquer semelhança dos “bandidos do mal” em questão com militantes políticos não parece mera coincidência. E quando se percebe a gravidade do caso, temos o ressurgimento do Batman para, mais uma vez, salvar Gotham. Mas não é assim tão fácil.
Bane é, na verdade, herdeiro de Ra’s Al Ghul e líder da Liga das Sombras, organização “terrorista” secreta, que pretende acabar com a hipocrisia e corrupção existentes no mundo, com métodos nada ortodoxos, tais como dizimar toda a população de uma cidade. Num determinado momento, depois de plantar explosivos por toda a cidade e dinamitar todas as pontes que ligam Gotham ao continente, Bane convoca o povo a assumir o poder, ou seja, lidera uma insurreição popular na qual o grupo de vanguarda são os prisioneiros do Ato Dent (claro que todos bandidos perigosíssimos). Aqui, é necessário entender a caracterização que Nolan dá ao vilão em questão.
No segundo filme da série (Batman, o cavaleiro das trevas), o vilão era o Coringa. Personagem de uma crueldade insana desde sua aparição em 1940, ele é a própria antítese do Batman, um vilão sem nenhum escrúpulo. É humanizado, porém, em suas características psicológicas (além de uma impressionante interpretação de Heath Ledger) nesta série, enquanto Bane é o vilão sem qualquer vestígio de humanidade ou compaixão, que não pensa duas vezes em assassinar friamente qualquer de seus colaboradores ou inimigos. Os dois representam, no fim das contas, uma crítica frontal e profunda ao sistema corrupto e hipócrita de Gotham City, ou seja, o capitalismo. Cada qual com sua característica, o Coringa é a revolta sem objetivos definidos, a anarquia em sua mais pura essência. A crítica à moral hipócrita burguesa é central nesse personagem desde sempre. Sua ação é sempre impulsiva, nunca arquitetada, a não ser para gerar o caos e a confusão; ao contrário de Bane, que representa a ameaça à própria existência do Estado burguês. Sua ação não é individual, ele não quer a glória para si. Ele é a própria representação da vanguarda organizada dos oprimidos e espoliados, é exatamente Bane que lidera a revolução popular que acontece na trama e institui a ditadura dos pobres e oprimidos. Ele representa o fim das instituições democráticas burguesas, é o poder do povo de Gotham. É sintomático o tratamento diferenciado para os dois personagens. É natural que Hollywood e seus financiadores prefiram e achem mais humano o primeiro ao segundo.
O fato é que Bane lidera uma insurreição popular que expropria os ricos e distribui a riqueza entre a população de Gotham. Mais: institui um tribunal revolucionário para julgar a burguesia. Prende a polícia de Gotham nos esgotos da cidade e institui uma brigada popular que patrulha as ruas. Qualquer semelhança, novamente, não deve ser mera coincidência. Mas há resistência, e ela vem de Jim Gordon, o chefe policial e reserva moral de Gotham City. Ele começa a recrutar os policiais que não estão presos no esgoto para libertar seus homens e começar a luta contra a tirania de Bane.
No final, Batman forja a própria morte salvando Gotham de uma catastrófica explosão atômica, sacrificando a própria vida pela da cidade. Na verdade ele escapa e se esconde para viver em paz, sob a justificativa de que não precisamos de heróis. Pois sempre existirá mal e sempre existirá bem, e o ideal é o equilíbrio, ou seja, não vale a pena lutar. As últimas palavras de Bruce Wayne (supostamente morto na rebelião popular por ser um dos ricaços) são lidas por um emocionado Jim Gordon e são as últimas palavras do Conto de duas cidades, de Charles Dickens: “Essa é a melhor coisa que faço e que jamais fiz, este é sem dúvida o melhor descanso que terei e que jamais tive”. Exatamente porque os extremos sempre carregam em si alternativas antidemocráticas e totalitárias aos defeitos e erros da democracia instituída.
A última frase do segundo filme da trilogia (Batman, o cavaleiro das trevas) pode resumir todos os três filmes: “A verdade às vezes não é o suficiente. Por vezes as pessoas precisam mais que a verdade, precisam ver sua fé recompensada”. Ou seja, o povo precisa ser protegido de si mesmo, porque sem as instituições democráticas (polícia, bancos, Estado etc.) em que ele tem fé, e as quais escondem a verdade, a tendência é que esse mesmo povo siga líderes cruéis e sanguinariamente igualitaristas e totalitários. Toda essa lição de moral nos é dada por um milionário que faz fortuna com fabricação de armas e especulação financeira.
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