UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

terça-feira, 15 de julho de 2025
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A importância da luta armada na história do Brasil

Carlos Lamarca treinando Iara IavelbergDurante a elaboração do Terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos, os movimentos sociais propuseram e aprovaram a criação da Comissão de Verdade e Justiça, para investigar e julgar os crimes cometidos pela Ditadura Militar no Brasil. Hoje, finalmente está sendo formada essa comissão, agora apenas Comissão da Verdade, pois o povo brasileiro ainda terá que lutar mais tempo para conquistar a justiça.

Muitos são os ataques feitos a essa comissão. São ataques que vem de lugares certos: dos setores atrasados da igreja que apoiaram a ditadura, dos latifundiários, empresários e banqueiros que financiaram e enriqueceram com a ditadura, e é claro dos próprios militares que temem que a terrível verdade venha à tona. Uma das ‘justificativas’ dos implacáveis ocultadores da verdade é a de que foram cometidos crimes não só pelos militares, mas também pelos brasileiros que lutaram pela reposição do presidente eleito democraticamente, pelo fim da ditadura e redemocratização do país, e por um país mais justo e igualitário, diferente do Brasil de hoje, o país mais desigual da América Latina.

Esses combatentes, heróis nacionais, sofreram torturas, foram separados de seus filhos, viram seus entes mais queridos serem estuprados e assassinados na sua frente, tiveram os seios arrancados, foram seviciados com cassetetes, foram para o pau de arara, foram assassinados, jogados em valas comuns ou no mar, sem direito a qualquer tipo de julgamento. Suas famílias até hoje procuram seus corpos e a verdade a respeito de seu ‘desaparecimento’. Esses heróis são chamados pela corja da mentira de ‘terroristas’, maneira pela qual parece ter se encantado a burguesia em chamar os revolucionários em todo mundo, como o Che Guevara e as Farc na Colômbia.

Muitas vezes, mais que caluniar os revolucionários através da mídia, a direita tenta de fato transformar movimentos armados em terroristas, corrompendo elementos e manipulando as informações. É o que aconteceu com os Panteras Negras, movimento armado em defesa dos negros nos EUA nos anos 60, que foi difamado pelo governo que infiltrou drogas e traficantes nas comunidades negras.

É por isso que antes de aceitarmos que os jovens que lutaram contra a Ditadura Militar no país, ditadura que censurou a imprensa e a educação, que mais que duplicou nossa dívida externa e nossa dependência dos EUA, que impôs o medo a vários brasileiros, que impedia a livre expressão e atuação política, que freou os avanços sociais do Governo Jango e acabou com as Reformas de Base fortalecendo a desigualdade social no Brasil, antes de aceitarmos que eles sejam chamados de terroristas é importante lembrarmos o papel da luta armada em toda a história do Brasil.

A História do Brasil é a história da resistência do povo brasileiro. Na época da Colônia foram as revoltas dos índios contra a exploração portuguesa e até de outros países da Europa que vigoraram. Como a Confederação dos Tamoios (1555-1567), a Guerra dos Aimorés na Bahia (1555-1673) e a Guerra dos Potiguares na Paraíba e no Rio Grande do Norte (1586-1599). Depois começaram as resistências às entradas e bandeiras, expedições bandeirantes e bugreiras de exploração e captura de indígenas no interior do Brasil que duraram até o séc. XVII.

É quando, por não conseguir dominar a maioria dos índios e adequá-los à escravidão, os portugueses trazem mais escravos da África e mesmo com todo o esforço para impedir a organização dos negros que eram separados de seus familiares e tribos para não poderem se comunicar, quase imediatamente começam a existir os Quilombos e finalmente acontece a Guerra dos Palmares. Os quilombos foram formados no Brasil até o século XVIII e ainda hoje existem diversas comunidades negras e quilombolas no país que sofrem nas mãos das armas policiais.

Durante quatro anos, de 1617 a 1621 ocorreu o Levante dos Tupinambás, numa brava resitência aos portugueses que abrangeu o estado do Espirito Santo e a Bahia e na mesma época a primeira Insurreição Pernambucana, a Guerra da Luz Divina. Em São Paulo teve a Revolta de Amador Bueno, insurreição popular de 1641. Em 1666 o Motim do Nosso Pai em Pernambuco e a Revolução de Beckman ou revolta de comerciantes no Maranhão de 1684 a 1685. E continuam as revoltas indígenas com a Confederação dos Cariris na Paraíba e no Ceará (1686-1692) e com a Guerrilha dos Muras já no século XVIII. Houve também a Guerra dos Emboabas entre bandeirantes e mineiros, em São Paulo e Minas Gerais no início de 1700.

E aí se iniciam as Revoltas contra as altas taxas e impostos como a Revolta do Sal em Santos (1710), a Guerra dos Mascates entre comerciantes e canavieiros em Pernambuco (1710-1711), os Motins do Maneta, sublevações ocorridas em Salvador contra o monopólio do sal e aumento de impostos (1711) e a Revolta de Felipe dos Santos, revolta de mineradores contra a política fiscal em Minas Gerais (1720).

E é claro, com a ampliação do controle português sobre o território brasileiro continuam as resistências indígenas desta vez no Amazonas, a Guerra dos Manaus (1723-1728) e a Resistência Guaicuru no Mato Grosso do Sul (1725-1744). E até os jesuítas se unem aos índios catequizados em luta contra Portugal e Espanha na Guerra Guaranítica no Sul (1751-1757).

Até que chegamos as Revoltas pela Independência do Brasil, a famosa Inconfidência Mineira republicana (1789), a Conjuração Carioca (1794-1795) e a Conjuração Baiana ou Revolução dos Alfaiates (1798), revolta independentista e abolicionista, a única das três que não foi abortada. E já no século XIX a Conspiração dos Suassunas em Pernambuco (1801) onde também houve a Revolução Pernambucana em 1817, a Revolução Liberal de 1821 na Bahia e no Pará, a Independência da Bahia (1821-1823) e finalmente a Guerra da independência do Brasil contra militares legalistas portugueses, que abrangeu Bahia, Piauí, Maranhão, Pará e Uruguai (1822-1823).

Após tantas revoltas, nosso Brasil ganha o título de Império e com ele mais revoltas, a Confederação do Equador, revolta separatista no Nordeste (1823-1824), a Revolta dos Mercenários contra o Império do Brasil no Rio de Janeiro (1828), onde também ocorreu a Noite das Garrafadas, insurreição popular e confronto entre brasileiros e portugueses em abril de 1831 e a famosa Cabanada, insurreição popular em Pernambuco e Alagoas (1832-1835).

Aí volta, cada vez mais forte o desejo pela república, como na Federação do Guanais na Bahia (1832) e a Rusga que foi uma revolta entre conservadores (que queriam manter o império) e republicanos no Mato Grosso (1834). Teve a também famosa Cabanagem, insurreição popular no Pará (1834-1840), a Revolta dos Malês na Bahia (1835), a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul (1835-1845), a Sabinada, insurreição popular na Bahia (1837-1838), a Balaiada, insurreição popular no Maranhão (1838-1841) e as Revoltas Liberais de São Paulo e Minas Gerais (1842) e Revolta dos Lisos em Alagoas (1844).

Em Pernambuco teve o Motim do Fecha-Fecha (1844), o Motim do Mata-Mata (1847-1848) e a Insurreição Praieira, revolta socialista de 1848 a 1850. A Revolta do Ronco de Abelha no Nordeste (1851-1854), o Levante dos Marimbondos em Pernambuco (1852), a Revolta da Fazenda Ibicaba em São Paulo (1857), o Motim da Carne sem Osso, insurreição popular na Bahia (1858), a Revolta dos Muckers, insurreição popular-messiânica no Rio Grande do Sul (1868-1874), a Revolta do Quebra-Quilos, insurreição popular no Nordeste (1874-1875), a Guerra das Mulheres, uma insurreição popular no Nordeste (1875-1876) que mostra que as mulheres nunca foram passíveis na história, a Revolta do Vintém, insurreição popular no Rio de Janeiro (1880) e Curitiba (1883) e finalmente a Proclamação da República em 1889.

Na verdade, quando os poderosos no Brasil veem que não vão conseguir parar as revoltas populares, eles vão e fazem as mudanças por eles mesmos para dar algumas concessões ao povo sem perder o poder, mas com isso as revoltas não param, pois o povo quer uma mudança real que beneficie a todos e transforme a sociedade. E na República teve a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul (1893-1894), a República de Cunani, insurreição popular-separatista no Amapá (1895-1900) e a famosa Guerra de Canudos, insurreição popular-messiânica na Bahia (1896-1897).
Já no século XX, teve a Revolução Acreana, insurreição popular-separatista no Acre (1900-1903), a Revolta da Vacina, insurreição popular no Rio de Janeiro (1903), a Revolta da Chibata no Rio de Janeiro (1910), a Guerra do Contestado, insurreição popular-messiânica em Santa Catarina e Paraná (1912-1916), a Sedição de Juazeiro, insurreição política no Ceará (1914), a Revolta dos 18 do Forte no Rio de Janeiro (1922) e finalmente a Coluna Prestes, insurreição militar de fama internacional (1923-1925) que aderiu a Revolta Paulista de 1924.

Por conta destes movimentos (o último deles com forte influência socialista), o Governo pensou: “Façamos a Revolução antes que o povo a faça.” E aí veio a Revolução de 1930, golpe de Estado civil-militar e a Revolução Constitucionalista de 1932, revolta político-militar e guerra civil em São Paulo e finalmente a Intentona Comunista, insurreição comunista no Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Norte (1935) e a Intentona Integralista, insurreição integralista no Rio de Janeiro (1938). Até na Segunda Guerra Mundial teve mais de 23.000 soldados brasileiros lutando para derrotar o nazismo.

E aí vem em 1964 o Golpe Militar fascista, patrocinado pelos poderosos e pelos EUA, para deter os avanços que o povo vinha conseguindo depois de tanto sangue derramado para cada vitória do povo. E como nunca faltou à luta contra as injustiças, filhos do povo brasileiro novamente se armaram na cidade e no campo contra este novo inimigo do avanço da luta popular, o Governo Ditatorial. A Luta armada, as guerrilhas urbanas e rurais de 1965 a 1972, como a Guerrilha do Araguaia, foram terrivelmente reprimidas pelo Regime militar com requintes de crueldade e desumanidade, e por isso os melhores filhos do povo foram barbaramente torturados e assassinados. Mas a luta não parou e por isso hoje, temos nossa “liberdade democrática” que garante por exemplo, a publicação do Jornal A Verdade e a existência do PCR, e é também por fruto desta luta armada e de outras lutas que vieram depois, que este ano poderemos ir as urnas e eleger nossos representantes, direito que não tínhamos na ditadura militar.

É claro que ainda há muito pelo que lutar, e até hoje, filhos do povo são assassinados pela polícia fascista na luta por moradia e terra no país. Mas a luta não vai parar. A polícia pode nos chamar de terroristas, mas somos o povo brasileiro e lutaremos, se for preciso com armas na mão, até que toda desigualdade e exploração seja banida, lutaremos até a construção da sociedade socialista.

Luanna Grammont de Cristo, Belo Horizonte

A criminosa guerra contra o Afeganistão

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A criminosa guerra contra o AfeganistãoO massacre de 16 civis praticado pelo sargento da marinha norte-americana Robert Bales no último dia 11 de março, na vila de Panjwai, no Afeganistão, trouxe de volta às manchetes a discussão sobre a crescente violência no país – mesmo após mais de 10 anos da sua invasão pelas tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – e sobre as consequências da mais longa guerra imperialista da atualidade.

O caso é emblemático, pois mostra como a população afegã vive refém do medo e da violência impostos pela ocupação militar estadunidense. Segundo a versão do comando do exército dos EUA, o sargento, após uma noite de bebedeira com colegas, deixou a base militar de Zangabad durante a madrugada e dirigiu-se a um bairro próximo, onde praticou o crime. Em apenas uma casa, matou a sangue frio 11 pessoas, incendiando depois seus corpos. “Vi todos os meus parentes mortos, incluindo meus filhos e netos”, disse Haji Samad, um dos poucos sobreviventes. Testemunhas, entretanto, afirmam que o militar não agiu sozinho. “Vários soldados entraram em casa e ficaramem silêncio. Permanecino chão, fingindo estar morto”, disse Jan Agha, que escapou da chacina.

Este é apenas mais um dos muitos atos de violência protagonizados por soldados das tropas norte-americanas contra civis afegãos. Desde o início, em 2001, a ocupação militar do Afeganistão é marcada por inúmeros crimes contra a população e violações dos direitos humanos. Essa prática não vem diminuindo à medida que a ocupação se consolida, mas, ao contrário, não para de crescer, e ganha traços de sadismo. Dois casos exemplificam bem isso: o primeiro se deu em janeiro deste ano, quando soldados urinaram em corpos de militantes do Talibã mortos em combate, e o segundo em fevereiro, ocasião em que militares norte-americanos queimaram cópias do Alcorão – o livro sagrado dos muçulmanos – numa base militar em Bagram, provocando um repúdio maciço contra as tropas da Otan, dentro e fora do país.

Crimes de guerra

Crimes de guerra e desrespeito aos direitos humanos e aos valores de uma população local são comuns nas agressões praticadas pelo imperialismo. No Afeganistão, o primeiro caso do que acabou se tornando uma prática comum no país foi o massacre de Dasht-i-Leili, em dezembro de 2001, apenas dois meses depois da invasão, que provocou a morte de cerca de três mil prisioneiros talibãs, assassinados sumariamente quando eram transportados para a prisão.

Em 2005, cinco soldados norte-americanos promoveram outro massacre, dessa vez na região de Kandahar, que ficou marcado pelo fato de que eles esquartejaram os cadáveres das vítimas e guardaram seus ossos e crânios como “troféus de guerra”. Já no dia 22 de agosto de 2008, na aldeia de Azizabad, província de Herat, um ataque aéreo das forças de ocupação matou mais de 90 civis, a maioria deles crianças. Outros “erros” que ocasionaram a morte de civis também incluem o dia em que soldados franceses bombardearam um ônibus cheio de crianças, em 2008, matando oito; uma ronda feita pelas tropas norte-americanas que matou 15 passageiros e o extermínio de uma vila inteira durante uma festa de casamento, incluindo uma mulher grávida e várias crianças.

A lista de crimes e assassinatos praticados pelas tropas imperialistas é realmente interminável. De acordo com o fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, documentos militares norte-americanos divulgados pelo site trazem evidências contundentes de crimes de guerra cometidos no Afeganistão e revelam episódios muito mais violentos do que aqueles que são anunciados oficialmente pelos militares. “É a continuidade dos pequenos eventos, são as contínuas mortes de crianças e de insurgentes pelas forças aliadas”, afirmou.

Segundo Assange, dezenas de irregularidades cometidas pelos Estados Unidos, tais como assassinatos de civis e operações secretas contra rebeldes, não constam dos relatórios oficiais. Entre as informações divulgadas pelo WikiLeaks estão documentos que afirmam que centenas de civis foram mortos, sem conhecimento público e oficial, pelas tropas norte-americanas e aliadas, planos secretos para exterminar líderes rebeldes, bem como a discussão do suposto envolvimento do Irã e do Paquistão no apoio à resistência.

Número de mortos bate recorde

Nos últimos meses a violência no Afeganistão alcançou seu nível mais intenso desde que os EUA invadiram o país há mais de nove anos. Em 2011, de acordo com a missão da ONU no Afeganistão (Unama), um total de 3.021 civis morreram vítimas de violência no país, um recorde desde o início da invasão. O número de vítimas aumentou 8% na comparação com os 2.790 civis mortos em 2010. Ainda segundo a ONU, 2011 foi o quinto ano consecutivo de alta das mortes de civis no Afeganistão. Ao todo, mais de 12 mil civis morreram durante a invasão, contra um total de 2.753 soldados da Força Internacional de Assistência na Segurança (Isaf) mortos, revelando com clareza a crueldade e a covardia dessa guerra. “Há muito tempo civis afegãos vêm pagando o preço mais alto da guerra”, disse Jan Kubis, representante especial do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

População vive sem água potável

De fato, apesar das inúmeras riquezas que possui – o Afeganistão possui reservas de petróleo estimadas em 1,8 bilhão de barris e é rico em ferro, cobre, cobalto, ouro e metais fundamentais para a indústria, como o lítio – o país foi completamente arrasado pelos anos de guerra e ocupação militar imperialista, e a população condenada à mais absoluta miséria.

O governo do presidente fantoche Hamid Karzai é considerado o terceiro mais corrupto do mundo, atrás apenas dos governos da Somália e de Mianmar. Atualmente, 90% de todo o gasto público do Afeganistão vem hoje de ajuda internacional. Passados mais de 10 anos desde o início da invasão, a expectativa de vida no país diminuiu drasticamente, enquanto que a mortalidade infantil, a pobreza e a desigualdade social estão entre as maiores do mundo: 36% da população vive abaixo da linha da miséria e 35% da população adulta está desempregada.

Tem mais: a maioria da população afegã não tem acesso à água potável e ao saneamento básico, e apenas 10% possuem energia elétrica. O país tem também a segunda pior taxa de mortalidade materna do mundo, atrás apenas de Serra Leoa, fazendo com que, para cada 10 mil nascimentos, 1.600 mulheres morram durante o parto e, segundo relatório da agência da ONU para crimes e drogas, cerca de 1 milhão de afegãos entre 15 e 64 anos são viciados, ou seja, 8% da população.

Essa situação é resultado de uma década de uma guerra injusta e covarde promovida pelas maiores potências do mundo contra um país miserável. Injusta porque se trata de uma guerra imperialista, uma guerra de pilhagem cujo objetivo sempre foi tomar posse das riquezas afegãs e explorar seu povo. E covarde porque estamos falando de uma guerra promovida pelos maiores exércitos do mundo contra um dos países mais atrasados e indefesos do planeta.

O resultado é que hoje o Afeganistão é um país literalmente arrasado, sua economia está praticamente destruída, não há liberdade para o povo e, como vimos, o desemprego, a violência e a pobreza são maiores do que antes da guerra. Se ainda há alguém no mundo que não reconheça a ferocidade e a brutalidade do imperialismo, olhe para o que estão fazendo com o Afeganistão.

Da Redação

Homenagem a Elis Regina – Elis vive, viva Elis

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Homenagem a Elis Regina - Elis vive, viva ElisElis Regina Carvalho Costa foi uma das mais brilhantes cantoras brasileiras dos anos 60, 70 e início dos 80 e, devido a suas fortes e marcantes interpretações. Gravou O Bêbado e a Equilibrista (de João Bosco e Aldir Blanc), canção que se tornou o hino da anistia no fim da década de 1970.

No ano de 1978, em sua turnê Transversal do Tempo, na qual os shows tinham um viés político e de crítica social, Elis participou de uma missa celebrada por Dom Hélder Câmara (na época arcebispo católico de Olinda e Recife), em favor da libertação do estudante Edival Nunes da Silva (Cajá), e manifestou seu apoio a todos os atingidos pela ditadura militar no governo do general-presidente Ernesto Geisel.

Em 2012 completam-se 30 anos desde que Elis Regina se foi, e, pensando nisso, o Movimento de Mulheres Olga Benário, o Centro Cultural Manoel Lisboa de Moura e o Sindicato das Secretárias do Estado de Pernambuco organizaram uma homenagem intitulada Elis Vive, Viva Elis, que aconteceu no dia 20 de março (mês do aniversário da cantora) no Salão Nobre do Teatro Santa Isabel. O evento contou com depoimentos de Edival Nunes Cajá (ex-preso político), Carminha Pereira (radialista e amiga de Elis), Guita Kozmhinsky (do Movimento de Mulheres Olga Benário) e do padre Reginaldo Veloso (do Movimento de Trabalhadores Cristãos). Contou também com a participação de músicos como Cláudio Almeida (violonista), Beth Coelho (cantora), Diógenes Batista (flautista) e Arthur Johnson (professor de violino do Conservatório Pernambucano de Música).

Foi uma noite emocionante, durante a qual, pelos depoimentos e relatos dos convidados, o público presente pôde conhecer um pouco mais sobre Elis, saber de algumas curiosidades e matar as saudades daquela que foi considerada uma das melhores cantoras do Brasil.

Geysa Karla, diretora-adjunta do Sinsepe

Ocupação Ruy Frazão conquista terreno

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Ocupação Ruy Frazão, em PernambucoNove meses é o período de uma gestação, e foi o tempo necessário entre reuniões e ocupação para 350 famílias conquistarem suas casas. Na semana em que completariam dois meses de ocupação no terreno da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que há 30 anos não tinha nenhuma utilidade, as famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas/PE (MLB) conquistaram terreno para construção de suas casas.

O termo de compromisso foi assinado pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU), a Secretaria das Cidades de Pernambuco, Governo do Estado, o Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas- MLB/PE e a Universidade Federal de Pernambuco.

Nele, a Secretaria do Patrimônio da União se compromete a destinar ao movimento área de 24 mil metros quadrados no bairro de Afogados, Recife. O Estado de Pernambuco expressa em documento sua desistência de interesse pela referida área, já que está empenhado na solução do caso, e a UFPE prestará assistência técnica para o anteprojeto habitacional da área destinada ao MLB.

Em assembleia, as famílias ouviam atentamente a proposta do Termo de Compromisso. A aprovação pelas famílias veio de uma forma diferenciada; em vez de mãos erguidas, foram sorrisos, palmas e palavras de ordem. Esta é uma vitória importante de uma longa caminhada, que o processo de organização deve continuar; um grande ato para assinatura pública do termo está previamente marcado para o dia 13 de abril, e os próximos passos serão a elaboração do projeto habitacional e a captação do recurso para sua construção.

Às famílias cabe manter o compromisso de continuar a lutar, manter as reuniões semanais, assembleias, atos e passeatas, tudo enfim que seja contribua para conquistar a vitória definitiva, a casa tão desejada.

Elizabeth Araújo, Recife

Universidade brasileira será debatida em Campina Grande, PB

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3º Seminário Universidade BrasileiraNos dias 20, 21 e 22 de abril acontecerá em Campina Grande-PB o 3º Seminário Universidade Brasileira, que terá debates e mesas-redondas sobre temas como autonomia universitária, permanência e assistência estudantil e a campanha nacional por 10% do PIB para a educação.

O evento será sediado na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) pela importância que a instituição assumiu no último período em relação à luta dos estudantes das universidades públicas por autonomia, especialmente com a resistência que toda a comunidade acadêmica vem desenvolvendo contra o decreto autoritário do governador Ricardo Coutinho, que corta cerca de R$ 9 milhões mensais do já pequeno orçamento da instituição.

Vários são os problemas, para além da autonomia, que os universitários brasileiros enfrentam: moradias com vagas insuficientes e caindo aos pedaços, bandejões caros e limitados no número de refeições, bolsas de iniciação científica inacessíveis, etc. O Seminário busca discutir esses temas e contribuir com a organização dos estudantes para reivindicar estes e outros direitos.

A inscrição custará R$ 30,00 e poderá ser feita na hora do credenciamento, no local do evento. Para maiores informações acesse www.universidadebrasileira.wordpress.com ou entre em contato pelo telefone (83) 9802-6578.

O massacre de Eldorado dos Carajás: se calarmos, as pedras gritarão

MASSACRE. Mulher chora ao lado de túmulo de seu marido, vítima do massacre. (Foto: Jorge Araújo/Folhapress)

Não houve diálogo. Os policiais já chegaram lançando bombas de gás lacrimogêneo. Não houve confronto. O que poderiam ferramentas de trabalho contra armas de fogo? Houve, sim, resistência pacífica. Os sem-terra não aceitaram parar a caminhada. O coronel Mário Pantoja de Oliveira deu a ordem de fogo! As balas choveram sobre os trabalhadores. Dezenove morreram no local, mais de 70 ficaram feridos, dos quais dois faleceram posteriormente. Mas não foram apenas as balas. A Perícia Judicial atestou que dez camponeses foram executados e sete deles apresentavam ferimentos de foices e facas. Além de matar, os policiais tentaram lançar a culpa nos próprios sem-terra.

José Levino.


Joana está perto de completar 15 anos de idade e, como todas as adolescentes, pensa numa bela festa. Mas sabe que seu olhar refletirá um misto de alegria e tristeza, porque ela sabe da história. Pensa que seu pai poderia ter sido um dos 21 mortos naquela fatídica data. 17 de abril de 1996. Ela nasceu no ano seguinte, quando as lembranças ainda eram muito fortes e lhe marcaram desde a gestação.

Foi no começo de março de 1996 que 1.500 famílias ocuparam a fazenda Macaxeira, situada em Eldorado dos Carajás, Pará. O camponês não pode viver sem terra para trabalhar, para produzir o alimento necessário ao sustento da família. A fazenda ocupada era utilizada para pasto, 40 mil hectares destinados ao lucro de um só proprietário, o Paulo Pinheiro. Mas o Incra considerava a terra como produtiva, portanto não poderia desapropriá-la. Diante disso, o MST programou uma caminhada até Belém para as famílias convencerem o Incra de que elas tinham razão. Mil e cem camponeses puseram o pé na estrada, a rodovia PA-50, no dia 16 de abril.

Governava o Estado do Pará o Sr. Almir Gabriel (PSDB). Seu Secretário de Segurança, Paulo Sette Câmara, mandou a Polícia Militar desobstruir a estrada, em nome do direito de ir e vir. Direito de quem? Dos veículos, conduzindo mercadorias, madeiras e minérios roubados da Amazônia? E as pessoas não têm esse direito constitucional?

Não houve diálogo. Os policiais já chegaram lançando bombas de gás lacrimogêneo. Não houve confronto. O que poderiam ferramentas de trabalho contra armas de fogo? Houve, sim, resistência pacífica. Os sem-terra não aceitaram parar a caminhada. O coronel Mário Pantoja de Oliveira deu a ordem de fogo! As balas choveram sobre os trabalhadores. Dezenove morreram no local, mais de 70 ficaram feridos, dos quais dois faleceram posteriormente. Mas não foram apenas as balas. A Perícia Judicial atestou que dez camponeses foram executados e sete deles apresentavam ferimentos de foices e facas. Além de matar, os policiais tentaram lançar a culpa nos próprios sem-terra.

Um Processo Inglório

LUTO E LUTA. Caixões dos sem-terras assassinados cobertos por bandeiras do MST. (Foto: Jorge Araújo/Folhapress)

A repercussão do massacre foi enorme, tanto no país como no exterior. O então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, do mesmo partido do governador do Pará, pediu a prisão imediata dos responsáveis. Mas ninguém foi preso. Para não ser injusto, registremos que o coronel Pantoja passou 30 dias em prisão domiciliar.

Só isso, apesar de José Gregori, chefe de gabinete do Ministro da Justiça, Nélson Jobim, ter dito em alto e bom som: “ O réu desse crime é a polícia, que teve um comandante que agiu de forma inadequada”. Ele falou após assistir ao vídeo do massacre, pois foi tudo filmado. O coronel Mário Pantoja disse que cumpriu ordem do Secretário de Segurança e este confirmou que havia autorizado a polícia a “usar os meios necessários, inclusive a atirar”. Ricardo Marcondes de Oliveira, outro fazendeiro da região informou que dias antes contribuíra com uma coleta organizada pelo dono da fazenda Macaxeira e sabia que se destinava ao dito coronel da PM. Propina. Mesmo assim nenhum fazendeiro foi indiciado. Nem o governador e seu secretário, que assumiu ter autorizado o massacre. Sintomático!

Indiciados foram os 155 PMs que participaram da operação. O Ministério Público denunciou-os por homicídio, mas o inquérito foi mal feito. Não existe no direito penal brasileiro punição coletiva. Precisaria que as armas tivessem sido periciadas para identificar de onde partiram os tiros que ocasionaram as mortes. O próprio Procurador Geral da República, Geraldo Brindeiro, considerou o inquérito repleto de imperfeições técnicas e determinou que a Polícia Federal o refizesse, mas não adiantou muito.

ASSASSINATO. O trabalhador Lourival da Costa Santana, uma das vítimas do massacre de Eldorado dos Carajás, no IML de Marabá. (Foto: Jorge Araújo/Folhapress)

O juiz de Primeira instância convocou júri popular, mas só dois policiais foram condenados: o coronel Mário Pantoja, a 228 anos de prisão, e o major José Mário Pereira, a 158 anos. Mas não cumpriram nem um. Tiveram o direito de recorrer em liberdade e vêm recorrendo indefinidamente. Quinze anos depois, o processo está parado, aguardando julgamento de Agravo de Instrumento no Supremo Tribunal Federal (STF). O promotor Marco Aurélio Nascimento, que atuou no caso, comenta: “As decisões de primeira instância não são cumpridas, e as pessoas ficam recorrendo. No Brasil, há uma infinidade de recursos. Os processos nunca se encerram”.

Vitoriosos, sim!

Se no processo judicial só houve decepção (mas qual é mesmo o papel do Poder Judiciário em nossa sociedade? Sobre o assunto, leia A Verdade nº137), os camponeses foram vitoriosos, sim. 18 mil hectares da Fazenda Macaxeira foram desapropriados, e assentadas 690 famílias. Hoje, vivem na área em torno de 6 mil pessoas, praticando a agricultura de subsistência, criando vacas de leite e pequenos animais. Avaliando toda a história, afirma o assentado Iedimar Rodrigues (depoimento ao jornal Brasil de Fato): “…Foi uma coisa difícil até conseguirmos. Mas depois foi só alegria e muito trabalho porque fomos capazes de transformar nossas vidas”. “Hoje, consegui arrumar minha família, tenho casa. O que temos, devemos aos companheiros que foram mortos”, acrescenta o assentado Miguel Pontes.

O renomado arquiteto Oscar Niemeyer projetou uma homenagem aos Sem-Terra mortos. O Monumento Eldorado Memória, inaugurado no dia 7 de setembro de 1996 em Marabá (PA) foi destruído dias depois. Quem teria sido responsável pelo ato terrorista? Alguém ousa responder? Niemeyer não se surpreendeu: “Já esperava. Aconteceu o mesmo quando levantamos o monumento em homenagem aos operários mortos pelo Exército na ocupação da Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda”, disse o arquiteto.

17 de abril tornou-se Dia Nacional de Luta pela Terra. E nesse mês, o Movimento dos Sem-Terra (MST) promove ocupações e manifestações em todo o país. É o Abril Vermelho! Então, uma vida, muitas vidas valem um sonho!

“…Canudos, Contestado, Caldeirão, Candelária, Carandiru, Corumbiara, Eldorado dos Carajás… Se calarmos, as pedras gritarão” (Pedro Tierra)

Lei Geral da Copa é ofensa à Nação

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Para Romário, "a Fifa poderia ganhar um pouco menos para que o brasileiro possa participar", pois se a FIFA conseguir barra a meia-entrada "essa não vai ser a Copa do povo brasileiro."Nas últimas semanas, ganhou destaque nos principais meios de comunicação do país o debate no Congresso Nacional em torno da Lei Geral da Copa, um conjunto de exigências impostas pela Fifa para a realização do Mundial de 2014 e que, uma vez aprovada, limitará a soberania e a autonomia nacional durante as semanas da competição, anulando uma série de leis existentes no país.

Defensor ferrenho da aprovação da Lei e dos acordos com a corrupta Fifa, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo (PCdoB), ameniza a questão afirmando que “a Lei Geral da Copa configura compromissos, obrigações que o Brasil assumiu, como todos os outros países. Ao longo de todas as Copas, os países assumem esse compromisso. Na Lei Geral não há propriamente polêmica em torno do conteúdo. A não ser uma interpretação sobre o significado da suspensão de um artigo do Estatuto do Torcedor para a permissão de venda de bebida alcoólica dentro dos estádios”. E completa: “O problema durante a Copa é encontrar uma solução que cumpra o compromisso que (o Brasil) assinou e precisa cumprir. Para que o Brasil continue respeitado como país sério e cumpridor dos compromissos, sejam comerciais, diplomáticos ou de qualquer outro tipo”.

A questão, entretanto, ministro, é bem mais grave do que simplesmente a liberação ou não de bebidas alcoólicas nos estádios onde ocorrerão os jogos. Trata-se aqui de uma questão de garantia de direitos e de soberania nacional.

De fato, aprovada a Lei da Copa, um verdadeiro Estado de exceção será imposto ao país: o comércio não oficial de produtos nos arredores dos estádios e nas vias de acesso a eles será proibido, bares ou restaurantes estarão cometendo um crime se mostrarem em telões para seus clientes jogos da Copa do Mundo, a Fifa não pagará nenhum centavo ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) para registrar suas marcas, e a meia-entrada para estudantes foi abolida, entre outras coisas. A Fifa também terá a prerrogativa de decidir quem entra no Brasil, uma vez que bastará ter ingresso ou credencial para adentrar livremente no país. Na prática, a lei defendida pelo ministro pretende alugar o Brasil para a Fifa durante as semanas da Copa.

Romário: “Fifa mandará mais que Dilma”

Para Romário, ex-jogador da Seleção brasileira e atual deputado federal pelo PSB do Rio de Janeiro, além de vice-presidente da Comissão de Turismo e Desporto da Câmara, é necessário que o Governo brasileiro se imponha diante das exigências da Fifa. “Se não colocar a Fifa no seu determinado lugar, daqui a pouco, ela estará mandando mais que a nossa presidente, e a Copa vai ser do jeito que a Fifa quer, e não como a gente tem que fazer”, afirmou.

O baixinho vai além e defende que a Fifa tem que fazer uma Copa no Brasil para todas as classes e, não só para os ricos. “A conta feita pela Fifa é que, com a lei da meia-entrada, eles perderiam R$ 180 milhões, ou deixariam de ganhar. Nós não temos que pagar isso. A Fifa poderia ganhar um pouco menos para que o brasileiro possa participar. Não vai ser a Copa do povo brasileiro. Na minha concepção, teria que ser uma Copa para as classes A, B, C, D e E. A e B não terão problemas, mas as demais classes terão problemas porque o ingresso vai custar no mínimo R$ 150”, disse.

AI-5 da Copa

Entretanto, enquanto as atenções estão voltadas para a Lei Geral da Copa, os senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ), Ana Amélia (PP-RS) e Walter Pinheiro (PT-BA) apresentaram outro Projeto de Lei no Senado, que já está sendo chamado de “AI-5 da Copa”, uma vez que pretende reeditar medidas típicas da Ditadura Militar, como proibir greves durante o período dos jogos e incluir o ‘terrorismo’ na relação de crimes com punições duras e penas altas para quem ‘provocar terror ou pânico generalizado’”.

O Projeto 728/2011 ainda aguarda voto do relator Álvaro Dias (PSDB-PR) na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado, mas, se for aprovado, vai criar oito novos tipos penais que não constam no Código Penal brasileiro, tais como “terrorismo”, “violação de sistema de informática” e “revenda ilegal de ingressos”, determinando penas específicas para eles.

O projeto prevê ainda que, quem “cometer crimes contra a integridade da delegação, árbitros, voluntários ou autoridades públicas esportivas com o fim de intimidar ou influenciar o resultado da partida de futebol, poderá pegar entre dois e cinco anos de prisão”. Para quem “violar, bloquear ou dificultar o acesso a páginas da internet, sistema de informática ou banco de dados utilizado pela organização dos eventos”, a pena seria de um a quatro anos de prisão, além de multa. E para deixar a aplicação das penas ainda mais eficaz, o projeto prevê a instauração de um “incidente de celeridade processual” (art. 15), quer dizer, um regime de urgência em que a comunicação do crime poderia se dar por mensagem eletrônica ou ligação telefônica, funcionando também nos finais de semana e feriados.

Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB de São Paulo, Martim Sampaio, o projeto é um “atentado contra o Estado Democrático de Direito”. “É um projeto de lei absurdo que quer sobrepor os interesses de mercado à soberania popular. Uma lei para proteger a Fifa e não os cidadãos e que, além de tudo, abre precedentes para injustiças por suas definições vagas”, completa. Segundo Sampaio, o conceito de “terrorismo” presente no projeto de lei, e que até hoje não existe no nosso Código penal, chama atenção. Na proposta, terrorismo é definido como “o ato de provocar terror ou pânico generalizado mediante ofensa à integridade física ou privação da liberdade de pessoa, por motivo ideológico, religioso, político ou de preconceito racial, étnico ou xenófobo” e terá pena de 15 a 30 anos de prisão. “Da maneira como está na lei, qualquer manifestação, passeata, protesto, ato individual ou coletivo pode ser entendido como terrorismo. Isso é um cheque em branco na mão da Fifa e do Estado”, denuncia.

O AI-5 da Copa também pretende reduzir o direito de greve dos trabalhadores de setores considerados essenciais, como a manutenção de portos e aeroportos e os serviços de hotelaria e vigilância, além dos que atualmente trabalham nas obras da Copa, de três meses antes dos eventos até o fim dos jogos. Os sindicatos que decidirem fazer uma paralisação terão de avisar com 15 dias de antecedência e manter ao menos 70% dos trabalhadores em atividade. O governo ainda estará autorizado a contratar trabalhadores substitutos para manter o atendimento, o que é proibido pela lei 7.283/1989 em vigor no país, que estabelece 72 horas de antecedência para o aviso de greve e não determina um percentual mínimo de empregados em atividade durante as paralisações.

Para Eli Alves, presidente da Comissão de Direito Trabalhista da OAB-SP, a sensação que fica é a de que “o Brasil está sendo alugado para a Fifa, flexibilizando suas próprias regras para fazer a Copa no país”, e lembra que as greves foram proibidas durante a Ditadura Militar: “A gente conquistou este direito com o fim da Ditadura, muitas vidas foram perdidas neste processo. Não é possível que agora criemos uma ditadura transitória da Fifa. O único jeito de não deixar esta lei ser aprovada é por pressão popular”, afirma.

O que é a Fifa

Fifa é a Federação Internacional de Futebol Associado, entidade fundada em 1904, com sede atual em Zurique, na Suíça, e que congrega as federações e confederações de futebol de cada país. E considerada uma das entidades mais corruptas do mundo. Há vários anos, está atolada em esquemas de corrupção, e seus dirigentes possuem dezenas de processos na Justiça de vários países. A cada dia, surgem novos escândalos que vão desde denúncias de compra de votos para a reeleição do atual presidente Joseph Blatter, passando por negociatas e favorecimentos a grandes empresas durantes os longos anos de domínio do brasileiro João Havelange, até as recentes escolhas das sedes da Copa do Mundo do Brasil (2014), Rússia (2018) e Qatar (2022). Assim, A Copa, que é o maior evento esportivo do mundo, transformou-se num meganegócio para os diretores da entidade e para as empresas patrocinadoras, todos, ao final, contabilizando enormes lucros com a construção dos estádios e da infraestrutura das cidades, a venda de pacotes turísticos, ingressos e produtos de multinacionais.

Heron Barroso, Rio de Janeiro

A raiz da corrupção no Brasil

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Corrupção no BrasilSão incessantes e numerosos os casos de corrupção no nosso país. Não param as denúncias contra funcionários públicos, parlamentares, secretários e ministros do poder Executivo. Aliás, pelo menos nove ministros sofreram pesadas queixas de crimes do colarinho branco, e seis deles já foram afastados pela presidenta Dilma Roussef, numa clara demonstração de que a corrupção é um câncer no Estado brasileiro. Porém, é preciso se perguntar porque entra governo e sai governo, ano após ano, o dinheiro dos impostos do povo brasileiro é surrupiado por esses criminosos de paletó e gravata. Para responder a essa pergunta, é necessário sabermos o que é e como funciona essa estrutura política chamada Estado.

O Estado é o destacamento de homens fortemente armados, supostamente criado para defender a pátria, com acréscimo de um grupo regular de funcionários públicos, aparentemente acima de todos na sociedade. Esta primeira característica é o principal traço do Estado, pois ele existe desde que surgiram as classes sociais e é um instrumento de repressão de uma classe por outra, a qual domina o poder econômico. Em outras palavras, somente existe ‘Estado’ porque uma minoria necessita dominar a maioria e o utiliza para manter seu poder sem que ninguém sequer questione o porquê. É preciso notar que esse poder é exercido no Brasil pelas Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), que aparentam a ‘mais pura’ de todas as estruturas, o que já foi diferente, pois sofremos o controle desses militares durante mais de duas décadas envoltos em inúmeros casos de roubo do dinheiro público.

Toda essa estrutura aperfeiçoada durante séculos apresenta-se como inquestionável e inquebrantável. Mas, uma das provas mais seguras da sua fragilidade é a corrupção. Desde que surgiu o Estado com o fim da sociedade primitiva de clãs¹, existe a corrupção. Mais do que isso. Ele surgiu a partir de uma tremenda injustiça: garantir a proteção legal, por meio das armas, das propriedades de um reduzido grupo de pessoas que se apossaram dos bens produzidos socialmente.

Como resultado desse desenvolvimento que remonta a milhares de anos, na nossa época atual, portanto, a corrupção do Estado é resultado do domínio político dos capitalistas. Desde juízes, promotores, deputados, vereadores, prefeitos, governadores, ministros, enfim, todos estão envolvidos pelo câncer da corrupção. Muito embora alguns ocupem cargos de forma honesta, trata-se de toda estrutura que é podre e não pode ser modificada nos marcos do atual regime econômico. Exatamente por isso, mudam-se os nomes, mas o papel que cumprem os substitutos é o mesmo. Por mais investigação que se faça, a Polícia Federal não haverá de modificar tal realidade nos marcos da sociedade capitalista.

A forma do roubo dos nossos impostos

Vejamos agora como funciona esse assalto aos nossos bolsos.

O poder Executivo, os governos, recolhem os nossos impostos com a justificativa de nos dar condições adequadas de saúde, educação, lazer, infraestrutura, etc. Utilizam, para isso, a coação dos cidadãos. Quem não pagar os impostos perde direitos sociais. Veja que essa medida somente pode ser imposta aos trabalhadores, pois, os capitalistas não recolhem impostos, eles os embutem nos preços das mercadorias que nos vendem. Logo, desde o pagamento dos tributos somos lesados pelos dominadores.

Ao recolher todos esses impostos o governo administra tais recursos por meio de um plano chamado Orçamento. É com ele que os diversos funcionários públicos podem gastar os recursos. Porém, existe uma particularidade interessante: o governo não pode contratar diretamente os serviços ou obras criando empresas próprias para execução em virtude do seu caráter liberal². Ele seleciona tais empresas mediante editais públicos chamados de licitações. Ora, trata-se de uma concorrência pública para executar os serviços ou obras que, na prática, se tornam peças de um jogo de interesses das empresas capitalistas. Em virtude dos subornos, os processos são fraudados e se caracteriza a forma de transferência de recursos do nosso dinheiro para os bolsos dos grandes empresários. Por outro lado, sem consultar nenhum cidadão, o governo paga desse mesmo orçamento uma soma estratosférica de recursos de juros de dívidas a bancos e especuladores, e, exatamente por isso, sempre afirma que não dispõe de dinheiro para os serviços sociais. Esses bancos (seus donos, os banqueiros) repassam aos ‘parlamentares’ somas enormes de dinheiro para que sejam mantidos os pagamentos. No popular, “uma mão lava a outra”. Caso não aceitemos tais imposições, somos encarcerados. Se nos manifestamos, denunciamos, questionamos esse poder dos capitalistas, está lá o poder ‘policial’ para impedir qualquer mudança significativa.

Além dessas, para realizar as demais transferências dos nossos recursos para as empresas ‘seguras’, dentro dos esquemas de benefícios de uns e outros, são realizados outras diversas formas de subornos, esquemas ilegais e desvios. São bizarras e escrachantes as formas que os capitalistas utilizam para realizar esse roubo – desde os parlamentares junto com capitalistas criarem grandes empresas nos nomes de seus parentes até mesmo construções de obras públicas dentro de terras privadas.

As famílias Sarney, Magalhães, Collor, Jereissati, Serra, Calheiros, por exempo, possuem dezenas de empreendimentos vultosos. Até mesmo o filho de Luís Inácio (PT), conhecido como Lulinha, criou uma empresa de tecnologia, disputou licitações, milagrosamente ganhou-as e já se tornou milionário em poucos anos. Por outro lado, tais empresas financiam campanhas dos parlamentares e governantes, nomeiam parentes, desviam funcionários públicos das suas funções, criam cargos fantasmas, subornam juízes e promotores, etc. Teríamos que escrever centenas de páginas para citar todas as formas de corrupção, mas este não é o objetivo do presente artigo.

Outro ponto importante a ser lembrado: muitos historiadores interligam a nossa corrupção ao modelo de colonização portuguesa. Até chegam a compará-la às decisões da Corte Portuguesa de enviar para cá ‘degredados’³ para diversas regiões do país. Trata-se, pois, de mascarar a raiz do problema. Embora tal colonização e suas características tenham certa influência na forma, nem de longe expressam o conteúdo dessa questão. Basta ver os casos de corrupção em todos os países imperialistas e nas suas semicolônias. Costa do Marfim, por exemplo, foi colonizada pela ‘civilizada’ França e é considerada um dos países com piores índices de corrupção; ou o Paraguai, colonizado pelos espanhóis, que está em 140º lugar entre os 145 países em casos de desvio de recursos públicos.

Assim, o que fica demonstrado é que a corrupção em qualquer país capitalista está ligada fundamentalmente a quem detém o poder econômico. Em último caso, tais ‘funcionários públicos’ são corrompidos exatamente por essas empresas. Os servidores públicos, unindo-se a elas, tornam-se também capitalistas e sucede-se assim a ‘cadeia produtiva’ dos roubos que não param de acontecer.

Para solucionar tudo isso, seria necessário destruir toda a estrutura podre do Estado. Seriam obrigatórios: um total controle popular dos recursos dos trabalhadores, o fim da imunidade e inamovibilidade desses funcionários públicos, especialmente parlamentares e governantes; fim dos recursos de capitalistas nas campanhas eleitorais; proibição de todos os políticos com família ligada as empresários, juízes democraticamente eleitos e com mandatos revogáveis. Tais medidas mudariam esse quadro desolador do nosso país; mas antes delas serem implementadas, teremos de enfrentar uma intensa luta contra esses mesmos ‘ladrões’ de colarinho branco, sejam funcionários das empresas capitalistas sejam os infiltrados no serviço público.

Notas:
¹Comunidade de clã: forma social de uma coletividade igualitária unida pelos interesses econômicos e espi¬rituais, a mesma origem e os mesmos laços de parentesco. Nascida sob o regime do casamento por grupos, era matriarcal, ou seja, baseada nos laços de parentesco pelo lado materno.

²Cárater Liberal do Estado: forma de organização estatal com intervenção na economia reduzida em virtude da expressão idealista do conceito de ‘autorregulação do mercado’. Tal caráter se evapora nos momentos de crise econômica quando todas as estruturas estatais são mobilizadas para salvar o sistema capitalista de produção;

³Degregados: termo para designar cidadãos portugueses que eram punidos com seu traslado para a colônia em virtude de crimes tais como – Matar a mulher – 4 anos de degredo no Brasil; Roubar uma carteira – 2 anos de degredo; Xingar algum administrador público português – 5 anos.

Serley Leal, Fortaleza

Fifa e Governo atacam meia-entrada para a Copa 2014

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Fifa e Governo atacam meia-entrada Vitória das mobilizações e lutas que foram organizadas pelas entidades estudantis, a década de 1980 celebrou em diversos estados o direito à meia-entrada nos eventos esportivos e culturais para os estudantes, garantindo em parte o acesso da juventude à cultura e ao lazer.

Em outubro do ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou o Estatuto da Juventude, que estabelece uma legislação nacional para o direito à meia-entrada aos jovens de 15 a 29 anos. Agora, o Estatuto está em tramitação no Senado.

Na contramão, a Câmara aprovou a Lei da Copa anulando o direito da juventude à meia-entrada, com a única finalidade de aumentar os lucros da corrupta Fifa e suas empresas.

A verdade é que para os grandes mandatários do futebol mundial, entre ele Joseph Blatter e Jérôme Valcke (aquele que disse que o Brasil precisava de “um chute do traseiro”), o esporte que é a paixão nacional dos brasileiros nada mais é que um negócio. Para eles, pouco importam os gastos da Copa (que será mais cara do que as três últimas edições juntas) ou as famílias desabrigadas com as obras.

Quanto aos ingressos, serão estabelecidos “ingressos populares” para beneficiários dos programas sociais do Governo Federal, estudantes e idosos, restritos à chamada categoria 4. Toda a comercialização e controle dos ingressos será feita pela Fifa, que determinará suas cotas de venda avulsa ou vinculada a pacotes turísticos. Celebrar a Copa do Mundo em nosso país não será, portanto, motivo de festa e de alegria para o povo brasileiro, pois este estará excluído dos estádios.

Infelizmente, a Copa 2014 será marcada pelo desrespeito aos direitos da juventude, descumprimento das leis do país (como a liberação da vendo e do uso de bebidas alcoólicas no estádio, tudo para beneficiar uma única marca de cerveja), superfaturamento de obras e bilhões do dinheiro público indo para nos bolsos das grandes empreiteiras e da Fifa.

Um país com tanta identidade com o futebol, tendo-o como verdadeiro patrimônio cultural, não pode ser tratado dessa forma.

Da Redação

Servidores se unem contra congelamento dos salários

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Servidores federais protestam em BrasíliaBrasília, mais uma vez, foi palco de uma manifestação dos servidores públicos federais. O Fórum de Entidades Nacionais, que reúne 28 entidades de servidores e mais três centrais sindicais (CUT, Conlutas e CTB), concentrou duas mil pessoas na porta do Ministério do Planejamento para cobrar respostas do secretário de recursos humanos, Sr. Sergio Mendonça, à pauta de reivindicações da categoria, cujos pontos centrais são: política salarial de reposição da inflação (22,08%), defesa dos direitos adquiridos, paridade entre ativos, aposentados e pensionistas, data-base em 1º de maio, incorporação das gratificações e cumprimento dos acordos e protocolos firmados com o Governo. Além disso, faziam parte das negociações as 26 emendas ao PL 2.203, que mexe com benefícios, e as questões ligadas à insalubridade e periculosidade.

A proposta de reposição inflacionária para esse ano é formada pelo INPC de maio de 2010 a fevereiro de 2012 (10,58%), somado ao PIB de 2010 e 2011 (7,5% e 2,7% respectivamente). Essa proposta, aliada à incorporação das gratificações, faz justiça com os aposentados e é um passo importante para a correção das distorções salariais entre os diversos setores do serviço público federal e aumento salarial para os servidores, que até hoje não têm seu direito de Contrato Coletivo de Trabalho.

No começo da audiência, o secretário de recursos humanos foi enfático em afirmar que o Governo descarta qualquer tipo de reajuste linear para os servidores, pois isso demandaria 0,5% do PIB, o que estaria fora de cogitação dentro da política de ajuste fiscal, que, nada mais é do que a garantia de dinheiro para pagar a dívida pública.

O secretário disse ainda que não poderia dar aumento linear, pois havia muitas distorções no serviço público. Não apresentou, no entanto, nenhuma proposta para corrigir essas distorções. Ao defender aquilo que chamou de “política macroeconômica do Governo Dilma”, Sergio Mendonça se mostrou disposto a continuar as conversas com as entidades sindicais, “mas não necessariamente para atender às reivindicações”.
O resumo da conversa é que o Governo não tem intenção de gastar nenhum centavo nem com os servidores nem com a melhoria dos serviços públicos, pois já cortou do orçamento R$ 55 bilhões em investimentos.

As entidades nacionais dos servidores saíram indignadas da audiência e estão construindo as agendas de mobilização. A lição do ano passado, quando todas as mesas de negociação não deram em nada, está levando os servidores a não mais confiar nas ditas “boas intenções” dos representantes governamentais. E, depois de mais essa demonstração de desrespeito e intransigência, a previsão é de que no começo de maio se deflagre uma grande Greve Geral do serviço público em favor dos eixos da Campanha Salarial.

Sendo assim, o Fórum de Entidades Nacionais marcou para dia 25 de abril uma Greve Geral de um dia, como preparação para a Greve Geral da categoria. Essa proposta vai requerer que cada sindicato e associação debatam nas bases a situação da classe trabalhadora e busquem uma ampla e profunda unidade dos trabalhadores. Dessa maneira, devemos seguir os exemplos dos trabalhadores do Velho Continente, construindo mobilizações e greves como a única forma de garantir seus direitos históricos e avançar para novas conquistas.

Victor Madeira, Rio de Janeiro
Diretor da Condsef e da Coordenação do MLC (Movimento Luta de Classes)

Democratizar o Ceeteps: uma tarefa para a comunidade

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O mandato da atual diretora superintendente do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (Ceeteps) se encerra no segundo semestre de 2012 e não há possibilidade de recondução por tratar-se do seu segundo mandato.

Assim como na indicação nos dois mandatos de Marcos Antonio Monteiro e nos dois mandatos de Laura Laganá, seis pessoas, estranhas ao Ceeteps em sua “maioria”, que compõem o Conselho Deliberativo é que vão “eleger” o próximo dirigente da autarquia e enviar o nome do escolhido ao governador para sua nomeação, tudo obviamente já combinado.

Através deste sistema, o Ceeteps vai sendo dirigido por pessoas ligadas ao partido da situação, submetidas às demandas do partido, alheias aos interesses da comunidade e sem qualquer compromisso com os professores, funcionários e alunos. É por isso que temos o mais baixo salário da Educação Profissional e Tecnológica do Brasil; é por isso que as condições de trabalho são ruins e, às vezes, até precárias; é por isso que a expansão do Ceeteps é feita aos sabores dos desejos e compromissos políticos; é por isso que não há democracia em nossa instituição e, mesmo no último rincão de participação da comunidade, a escolha de diretores de unidades, nem sempre o primeiro colocado é o nomeado.

Este quadro já foi diferente, mostrando que é possível, com a força da comunidade acadêmica, democratizar o Ceeteps com eleições para os dirigentes, ampliação e participação dos diversos segmentos no Conselho Deliberativo e a implantação de novos Conselhos para discussão Administrativa, de Ensino, Pesquisa e Extensão de Serviços à Comunidade, objetivos diretos de uma instituição pública da educação profissional e tecnológica.

Tão logo o processo democrático foi conquistado no país e a Constituição promulgada em 5 de outubro de 1988, os ares da democracia começaram a rondar todas as instâncias e, no Ceeteps, não foi diferente.

Assim, em 1991, com a proximidade do término do mandato de Oduvaldo Vendramento, as entidades representativas dos servidores administrativos, docentes e dos estudantes, cansadas dos processos sucessórios de cartas marcadas e de constrangimentos em listas de apoio a um ou a outro candidato, reivindicam a participação da comunidade no processo sucessório que se iniciara.

A negativa do Governo em permitir a participação da comunidade e manter o processo sucessório restrito aos seis membros do Conselho Deliberativo do Ceeteps impulsiona o movimento chamado de “Processo Paralelo de Consulta”, encabeçado pela Asps, Adeteps, Adfatec e CA XXIII de Abril.

O processo paralelo foi realizado com regras claras, debates entre os candidatos e uma participação maciça da comunidade. Neste mesmo período, um processo sucessório oficial é deflagrado pela instituição, mas, temendo a iminente revolta da comunidade – que não teria seu escolhido nomeado pois fora votado num processo não reconhecido pelo Governo, a Unesp interveio e nomeou como diretor superintendente interino o então vice-diretor Kazuo Watanabe.

Face às pressões, paralisações de trabalhadores e estudantes e com a ocupação da Congregação pelos estudantes da Fatec São Paulo, o reitor da Unesp, professor Dr. Milton Barbosa Landim, atende aos clamores da comunidade e, usando prerrogativas do vínculo e associação do Ceeteps à Unesp, convoca nova consulta com regras definidas e a participação oficial das entidades no processo. Não houve paridade, os docentes representaram 60%, os funcionários 25% e os alunos 15%, mas houve proporção entre o 2º e o 3º graus. As entidades e a comunidade entenderam que as regras atendiam às reivindicações, e a normalidade voltou ao Ceeteps. Ao final do processo, foi sagrado vencedor o professor Elias Horani, que obteve aceitação em todos os segmentos.

Empossado em setembro de 1992, Elias Horani demonstrou que valeu a pena a luta da comunidade. Foi um mandato organizado, democrático, participativo e resistente. Tão resistente que causou seu afastamento do cargo logo no primeiro ano da gestão tucana em São Paulo.

Foi no mandato do professor Elias que vários entraves foram resolvidos, como a contratação inédita de um profissional da área de recursos humanos para gerir este setor. Os coordenadores de área passaram a ser eleitos por seus pares; diretores escolhidos nos processos de consulta eram nomeados quando ganhavam; a política salarial do Cruesp foi respeitada; acordos trabalhistas foram feitos, como pagamento do adicional noturno, entre outros.

Foi também nesta gestão que o processo de consulta à comunidade se consolidou, com a repetição do processo de consulta à comunidade para o cargo de vice-diretor superintendente (na época os mandatos não eram coincidentes) e com a realização do primeiro e único Congresso do Ceeteps, convocado pelo Conselho Deliberativo da instituição e organizado pelas entidades representativas da comunidade. Plenárias, debates, seminários e o congresso propriamente dito contaram com representação paritária entre professores, funcionários e alunos das Etes e Fatecs, que discutiram, pela primeira e única vez na história da instituição, os rumos que queriam impulsionar ao ensino técnico e tecnológico público paulista.

Foi um momento rico, único e inspirado pelo processo de democratização no país.

Infelizmente, em 1995, o PSDB vence as eleições nacionais e no Estado de São Paulo, e o recente processo de democratização do país foi interrompido pelos compromissos da corrente com o Consenso de Washington e com o neoliberalismo.

No Ceeteps não foi diferente. A construção democrática iniciada em 1991 foi interrompida no início de 1995 com a criação de um “grupo de trabalho” para rever o papel da escola técnica.

Mas a clara demonstração que o neoliberalismo estava errado; que os mercados não são capazes de se autorregular; que é o povo que os socorre quando colapsam, como a recente crise norte-americana comprovou, aliada ao grande movimento de democratização do mundo árabe, com a queda de ditadores históricos, há décadas no poder sem qualquer participação do povo nas decisões do país e ainda, com a recentíssima crise na União Europeia, fizeram o mundo perceber que o bem-estar social deve ser reivindicado, e que o mundo está se transformando.

Como o Ceeteps fica no mundo, a coletividade deve perceber que é possível, é viável, é justo e é legal reivindicar a sua participação nos destinos do Ceeteps.

O Sinteps defende a ampla, geral e irrestrita democratização do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Queremos a eleição paritária de nossos dirigentes, seja na administração central, seja nas unidades.

Queremos a ampliação do Conselho Deliberativo, com a participação paritária de todos os segmentos da comunidade: professores, funcionários e alunos nas discussões e deliberações sobre os rumos da instituição, da educação profissional e tecnológica pública do nosso estado; a instalação de novos conselhos: o de Ensino, Pesquisa e Extensão de Serviços à Comunidade e o de Administração, ambos com a participação de todos os segmentos da comunidade; a realização de Congressos Institucionais, onde os temas centrais sejam discutidos e aprovados por delegados eleitos pela comunidade. Enfim. Queremos respeito! Queremos votar e ser votados!

Silvia Elena de Lima, São Paulo
(Secretária Geral do Sindicato Dos Trabalhadores Do Centro Paula Souza)