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quarta-feira, 27 de novembro de 2024
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O guerreiro Mandu Ladino

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Corria a segunda metade do século 17. O estado do Piauí iniciava o seu povoamento a partir da penetração do gado oriundo da Bahia, de Pernambuco e um pouco do Ceará. O boi ia em busca de pasto; atrás do boi vinha o homem, abrindo picadas, erguendo currais, construindo palhoças, fazendo filhos… e invariavelmente matando os nativos que viviam na região.

Nas sociedades constituídas a partir da pecuária, a moeda corrente é o boi e a vida de uma rês, no mais das vezes, tem mais valor que vida de um homem.

Por essa época habitava o Piauí o maior assassino de índios e negros que o Brasil já conheceu: Domingos Jorge Velho. A coroa portuguesa lhe concedeu dezenas de léguas de terra às margens do rio Poti como reconhecimento pelos  serviços prestados aos senhores de escravos e de terras. Foi do Piauí, já em idade avançada, que Domingos Jorge Velho partiu, atendendo à convocação do governo de Pernambuco, para aniquilar os negros insurretos do Quilombo dos Palmares.

Jorge Velho não se cansava de afirmar: “Índio bom é índio morto, pois mais traiçoeiro impossível. Já as índias servem pros afazeres domésticos e pras necessidades sexuais”.

Bernardo Aguiar, oriundo do Maranhão, aprendeu fielmente a lição do coronel Jorge Velho. Atravessou o Rio Parnaíba – que os índios chamavam de punaré – estabeleceu-se na bacia do Rio Longá, mais ao nascente, e foi ampliando os seus domínios. Ao tempo em que reproduzia bois, aniquilava aldeias que ficassem até trinta léguas de distância de sua propriedade, chamada Bitorocara.

Foi o que se deu com a aldeia dos índios abelhas, assim chamados porque conviviam harmonicamente com as abelhas teúbas na região. Os homens de Bernardo chegaram pela madrugada na aldeia cuspindo fogo covardemente sobre os índios ainda sonolentos. Como prova do feito levaram ao chefe os dois filhos pequenos do cacique, únicos sobreviventes do massacre.

A mais velha, Aluhy, não se conformou e em poucos dias fugiu da fazenda e voltou à aldeia, onde se deparou com a horrível cena dos cadáveres de todos os seus entes queridos. Enterrou-os um a um em uma mesma cova, foi recapturada e não mais ofereceu resistência. Seu mundo tinha desabado. Acabou afeiçoando-se ao filho mais novo do fazendeiro, Miguel, que também se afeiçoou a ela e com ela casou-se e teve uma filha.

O índio bom

O irmão mais novo de Aluhy tinha o nome de Mandu. Foi entregue a um padre capuchinho de nome Lucé, que dirigia uma missão na aldeia Boqueirão do Cariri, no sertão da Paraíba, e encontrava-se em desobriga pelo alto Longá na oportunidade.

Padre Lucé tratava a todos, e em particular a Mandu, com atenção e cordialidade. Ensinou-lhe o português, rudimentos do espanhol, a reza, os costumes dos brancos e, devido à sua enorme esperteza, acrescentou-lhe a alcunha de ladino. Nascia ali Mandu Ladino.

Durante oito anos, Mandu Ladino, que chegara à missão aproximadamente com seis, viveu harmoniosamente com os índios cariris, com os escravos e os padres, mas o seu espírito de liderança já se fazia presente nas caçadas, no diálogo, nas brincadeiras. Não raro, Mandu voltava da caça com uma jaguatirica sobre os ombros.

Essa harmonia foi rompida com a substituição de padre Lucé por padre Martinho, que logo passou a maltratar e desrespeitar os nativos, tratando-os com rispidez e combatendo violentamente as suas crenças e valores. Padre Martinho cometeu o desatino de atear fogo em todas as imagens e símbolos sagrados cultivados pelos indígenas, obrigando todos a assistir tal violência, com armas apontadas para eles.

A resposta não tardou: numa madrugada padre Martinho acordou assustado e viu que a sua igreja católica, símbolo da sua fé, tinha se incendiado, com todos os seus santos. Ao redor da igreja, com tochas de fogo na mão, dezenas de índios gritavam e dançavam ensandecidos. À frente deles estava um menino de 14 anos: Mandu Ladino. Padre Martinho tentou impor-se perante os insurretos, mas foi abatido por uma borduna na cabeça, vindo a falecer ali mesmo.

Sob a liderança do menino feito homem, Mandu Ladino, mais de uma dezena de índios cariris fugiram da missão. Nenhum deles tinha ideia de para onde ir, a não ser Mandu. Era chegada a hora de fazer o caminho de volta, ir em busca da sua história, retomar as pegadas do seu povo.

Após 29 dias – uma lua inteira – cinco guerreiros cariris chegaram ao pé da serra da Ibiapaba, divisa de Piauí e Ceará. Os demais se dispersaram, se agregaram a outras tribos ou morreram em combate com os homens e as feras. Poucos, fracos e cansados, foram presas fáceis de fazendeiros, que os capturaram como escravos.

Unir para lutar

Foi na condição de vaqueiro escravo da fazenda Alegrete que Mandu Ladino passou os primeiros anos de retorno ao Piauí. Incontáveis vezes o amarraram a um tronco de árvore para açoitá-lo com relho de couro cru até que a pele virasse carne viva. Para evitar gangrena, davam-lhe um banho de sal grosso que ele suportava silenciosamente.

Mandu Ladino logo percebeu que a quantidade de bois aumentava na mesma proporção em que se reduzia o número de aldeias indígenas. A conclusão era lógica: ou havia reação dos índios ou todos seriam dizimados, reduzidos a pó. Isoladamente era impossível vencer o poderio militar e logístico do branco, daí a necessidade de unir toda a nação indígena.

Foi pensando assim que estabeleceu contato, imitando o canto dos sabiás para não ser delatado, com a tribo dos aranis, cujo cacique, Xerém, teve uma filha assassinada pelo capataz da fazenda Alegrete. Tudo combinado por código, em uma noite sem lua os aranis chegaram à fazenda, mataram silenciosamente os cachorros, lançaram flechas incandescentes sobre as casas de palha e, já com o auxílio de Mandu, justiçaram um a um os moradores, exceto as mulheres, as crianças e o capataz, algoz de Mandu e assassino da filha do cacique Xerém, que foi levado vivo para que fosse servido em um solene banquete antropofágico.

A lenda de Mandu e a ação dos aranis se espalharam. Mandu em vão tentou convencer os aranis a abandonar a aldeia. Logo, logo, os brancos vieram com sede de vingança. Em inferioridade numérica e militar, Mandu demonstrou o porquê da sua alcunha. Ora orientava os índios a matarem os cavalos enquanto os brancos dormiam; ora mandava as índias tirarem caixas de marimbondos para lançá-las sobre os brancos; ora armava ciladas em desfiladeiros sem saída.

A aldeia aranis enfim foi vencida, com a morte do cacique Xerém e da maioria dos guerreiros, mas Mandu conseguiu resistir e fugir com cerca de 50 pessoas, vinte delas talhadas para a guerra. Mandu inicia a sua saga visando à união da grande nação indígena para uma guerra sem trégua ao branco invasor.

Na condição de novo cacique dos aranis, fato inédito para um índio de outra tribo, Mandu desce o rio Piracuruca, onde propõe à tribo do mesmo nome uma união de forças para combater o inimigo branco. Por essa época já tinha tomado por esposa a bela índia Korena, viúva de um guerreiro aranis, morto em combate.

Vitoriosos em mais uma ousada ação, os agora quase cem guerreiros subiram a serra Grande, divisa com o Ceará, onde tentariam convencer os índios acaraús, itapajés e pitiguaras a juntarem-se a eles. A missão foi parcialmente exitosa, com a recusa taxativa de apenas uma das tribos.

Já formavam uma pequena e aguerrida nação: aranis,  piracurucas, itapajés, alguns acaraús, Mandu dos Abelhas, dois índios da antiga cariri e alguns ex-escravos. Partiram para o litoral piauiense, no famoso delta do Parnaiba, onde resistia bravamente a tribo dos tremembés. Unir-se a eles era fundamental para conformar o exército imaginado por Mandu. Marcharam rumo ao rio Parnaíba – o velho Punaré – e por ele o trajeto era feito mais facilmente em balsas construídas com a madeira do buriti.

“Índios corsos” é como o branco invasor passou a chamar o exército de Mandu, numa alusão depreciativa aos piratas do mar. Os guerreiros indígenas, diferentemente  dos piratas, tinham origem e tinham causa: viver livremente em suas próprias terras.

No rastro de sangue que se formava em torno de Mandu, os cadáveres do cunhado do ouvidor-geral do governo do Maranhão e do irmão e herdeiro de Domingos Jorge Velho foram a senha para que os fazendeiros do Piauí fossem até São Luís, a que o Piauí era subordinado, para solicitar intervenção oficial e conter a marcha de Mandu Ladino.

A luta

Para formar o exército oficial dos brancos foram disponibilizados 80 homens, 100 índios flecheiros, montarias, armamentos para todos e víveres assegurados pelos fazendeiros, todos sob o comando do coronel Souto Maior. A tropa resolveu marchar rumo ao rio Parnaíba para surpreender os guerreiros de Mandu Ladino, que a essa altura subiam o rio de volta, vindo do litoral para o poente.

De fato, só ao chegar em pleno litoral, Mandu veio a saber que os índios tremembés haviam sido completamente aniquilados pela força de quatro navios que chegaram à costa piauiense propondo amizade e os surpreenderam, crédulos e desarmados. Foram todos mortos traiçoeiramente.

Com uma rede de informantes voluntários cada vez maior, formada principalmente por índios escravos – os chamados índios mansos que ele tanto odiava, mas que terminavam lhe prestando um grande serviço – Mandu soube da existência da tropa oficial e resolveu, ele sim, tomar a iniciativa do combate.  A seu favor contava o fator surpresa. Ninguém em sã consciência esperava que ele tomasse a iniciativa da luta. E ele assim o fez, ainda em terras maranhenses, do lado de lá do Parnaiba, quando o inimigo estava desprevenido.

Contando com a colaboração de aliados entre os índios flecheiros e com a ajuda da madrugada escura, Mandu Ladino comandou um combate com as poderosas e surpresas forças armadas do Maranhão, e venceu-as triunfalmente  à base de flechas, paus, facões e pedras. A data provável da batalha foi 12 de junho de 1712.

O massacre feriu de morte a autoridade do Estado e pôs em xeque o cargo do governador do Maranhão, que de pronto autorizou o recrutamento de 200 soldados brancos e – novidade – mandou adquirir a quantidade que fosse necessária de malhas de ferro para cobrir as fardas dos soldados, tornando-os praticamente imunes às flechas venenosas dos índios. Para comandar a guerra convocou o fazendeiro Bernardo Aguiar, que dividiu o exército em quatro pelotões de 50 homens, cada um comandado por um capitão da sua confiança. Por ironia do destino, Bernardo foi o mandante do massacre que redundou no assassinato de todos os índios abelhas.

Mandu Ladino, consciente da reação inimiga, resolveu esconder-se, sumir de circulação, para recuperar as forças, descansar seus guerreiros e amadurecer novas estratégias. Para tanto pediu guarida aos índios tabajaras, que habitavam o pé da Serra  da Ibiapaba, e acolheram Mandu e seu exército num socavão de morro. Os ibiapavas não eram de confiança, eram dóceis aliados do branco invasor, mas Mandu não tinha muitas opções.

A traição

O acordo durou alguns anos, até que Mandu começou a sentir cheiro de traição no ar, pelo jeito esquivo dos líderes tabajaras, e as ausências prolongadas do padre que dava assistência à aldeia. Não tardou a chegar notícia dando conta da aproximação do exército de Bernardo. Sem alternativa, Mandu comandou a retirada rumo ao nascente, mas apartou as mulheres, crianças e anciãos, que seguiram por itinerário diverso do dos seus guerreiros.

Fazer uma retirada estratégica com cerca de 100 guerreiros a pé com um exército montado e bem nutrido no seu encalço não é tarefa fácil. Em alguns dias Mandu foi alcançado e a batalha se verificou sangrenta em um vale descampado, na localidade onde hoje é o município piauiense de Batalha. Além da desvantagem militar e numérica, os índios não entendiam por que suas flechas não atingiam o inimigo, ficando presas na sua couraça de ferro, sem penetrar-lhes o corpo. Quando se deram conta de que deveriam mirar nas montarias e não nos cavaleiros, a batalha já estava perdida. Cerca de 80 guerreiros índios, a maioria dos cavalos e quase nenhum soldado estavam mortos. Mandu estava entre os 20 guerreiros que conseguiram se evadir.

O exército de Bernardo saiu em seu encalço, não permitindo que ele atravessasse o Parnaíba, rumo ao Maranhão. Mandu, seus 20 guerreiros, mais sua mulher Korena, seu filho e as demais mulheres e crianças que haviam se reagrupados tiveram como alternativa descer o rio rumo ao litoral, com o exército à margem, atirando sempre. Terminou sendo abatido quando atravessava a nado o Rio Igaraçu, provavelmente em 1717, em Parnaíba.

A morte de Mandu Ladino foi o fim da saga dos índios em território piauiense. Hoje existem apenas raros vestígios, enterrados, da passagem dos nativos por este solo. Todas as 150 tribos do Piauí foram dizimadas, sendo este, o Rio Grande do Norte (mais o Distrito Federal) os únicos Estados brasileiros onde não mais se registra a presença de nenhum dos primeiros habitantes do Brasil. Mas a lenda do seu guerreiro maior não se apagou, e algum dia será contada nas escolas do nosso país como parte integrante da história oficial do Brasil.

Fonte: Livro Mandu Ladino de Anfrisio Neto Lobão Castelo Branco.

Pedro Laurentino Reis Pereira, funcionário público no Piauí, escritor e poeta

Justiça manda patrão reintegrar dirigente sindical

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Presidente do SINDLIMP-PAElizeu Magalhães Trigueiro começou a trabalhar na limpeza urbana em 1999. Consciente de que só com a organização e conscientização é possível combater os grandes problemas que vivem os trabalhadores, decidiu ingressar no Movimento Luta de Classes (MLC) e, em seguida, juntamente com outros companheiros, fundou, em setembro de 2010, o Sindicato dos Trabalhadores da Limpeza Urbana (Sindlimp-PA), que, imediatamente, iniciou a mobilização da categoria em defesa do pagamento dos 40% de insalubridade para todos e por um salário digno.

Desesperada com o crescimento da influência do Sindlimp na categoria, a empresa Metrópole Construções e Serviços de Limpeza iniciou uma perseguição aos diretores do sindicato, demitindo os companheiros Éder Rodrigo, Rosinaldo Silva e, em seguida, Eliseu. Perseguiu José Alberto, secretário geral do sindicato, afastando-o de suas funções, e, depois, o demitindo.

Além disso, o Sinelpa, sindicato pelego, entrou na Justiça questionando a fundação do Sindlimp. Mas o tiro saiu pela culatra, pois a Justiça reconheceu o direito de os trabalhadores da limpeza urbana terem seu sindicato. A juíza do Trabalho substituta Amanda Cristhian Mendonça determinou a reintegração de Eliseu na mesma função, garantindo sua estabilidade até 2014.

No início de agosto veio mais uma conquista: a Justiça ordenou a readmissão do companheiro Alberto nas mesmas funções anteriormente ocupadas. E, ainda em agosto, a juíza do Trabalho substituta Elinay de Melo negou pedido de cassação do Sindlimp, entendendo ser perfeitamente aceitável a criação de sindicato através do desmembramento.

Para falar sobre sua luta e essas vitórias, A Verdade entrevistou Elizeu Magalhães Trigueiro, presidente do Sindlimp e militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR).

A Verdade – Como você viu sua reintegração à empresa e qual foi a reação dos trabalhadores?

Eliseu – Minha reintegração na empresa foi uma vitória da nossa luta. Eu tinha certeza que a resposta da Justiça seria favorável à categoria. A reação dos trabalhadores também foi positiva, todos ficaram animados e acreditando no trabalho do Sindlimp.

Por que você foi demitido?

Fui demitido por organizar os trabalhadores em um sindicato de luta, para reivindicar os direitos de toda a categoria que, há décadas, é explorada em Belém.

Quais as principais reivindicações e quais os principais problemas dos trabalhadores da limpeza urbana de Belém?

Conquistamos 20% de insalubridade, mas isso não é suficiente; ainda falta muita coisa: equipamentos de IPIs; benefícios como os 40% de insalubridade dos quais estamos correndo atrás; o pagamento das horas extras dos domingos e das horas extras do sábado, que representa 50% da hora extra diurna… em resumo, melhores salários e melhores condições de trabalho.

Que mensagem você deixa para os trabalhadores?

Que acreditem no nosso sindicato, na diretoria, e na certeza de que a vitória vai ser nossa e de que precisamos de apoio deles para que a vitória seja de todos.

Altenir Santos, militante do PCR em Belém

Falta de manutenção em equipamento mata nove operários em Salvador

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Mais nove operários da construção de civil morreram trabalhando. Desta vezas mortes se deram no canteiro de obras do edifício Empresarial Paulo VI, em Salvador.  O acidente ocorreu no dia 9 de agosto, quando um elevador despencou do 20º andar da obra, na Avenida ACM, na capital baiana.

Os corpos de Antônio Reis do Carmo, Antônio Elias da Silva, Antônio Luiz Alves dos Reis, Hélio Sampaio, José Roque dos Santos, Jairo de Almeida Correia, Lourival Ferreira, Martinho Fernandes dos Santos e Manuel Bispo Pereira foram encaminhados à perícia da Polícia Técnica.  A altura da queda corresponde a cerca de 70 metros, distribuídos ao longo da estrutura, que conta ainda com oito pavimentos de estacionamento.

“Eu já estava lá em cima, junto com mais de dez pessoas. Vi os cabos desenrolando, o pessoal dizia que ele tinha defeito”, conta Damião, operário da obra. Funcionários do canteiro de obras e representantes de sindicatos acreditam que o acidente foi ocasionado por defeito elétrico no elevador. A construtora Segura, responsável pela obra, alegou que “o equipamento estava funcionando dentro dos parâmetros de segurança e em perfeito estado de conservação”. Mas o fato é que, se estivesse em perfeito estado, os nove trabalhadores hoje ainda estariam vivos.

Para a maioria dos operários, o acidente foi decorrente de falta de manutenção. O dispositivo que tem a função de parar o elevador, quando acionado, não o parou; bateu na torre e explodiu. Isso demonstra muita negligência.

Foi um dos piores acidentes ocorridos nos últimos anos na construção civil baiana. O acidente que matou nove operários fez que o setor da construção civil já registrasse um aumento do número de mortes por acidente de trabalho, este ano, na Bahia, com relação ao ano anterior. De janeiro a agosto, foram 70 acidentes, com 15 mortes, ante 108 acidentes, com seis mortes, verificados em 2010.

Em Salvador, em maio, mais dois operários morreram e um teve a perna decepada por vigas metálicas que despencaram de um guindaste na obra de um conjunto residencial. Um trabalhador também morreu em janeiro deste ano quando despencou durante a reforma de pastilhas de um edifício residencial.

Para evitar tantas mortes e acidentes, seria necessário que as empreiteiras investissem mais em segurança; mas, preocupadas em aumentar seus lucros, elas economizam em tudo.

Restam a luta e a organização dos trabalhadores para colocar fim a essa exploração.

Claudiane Lopes, Salvador

Aos 73 anos, Brás da Cruz, comunista torturado na ditadura, continua militância

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Brás Teixeira da Cruz é um dos combatentes revolucionários que enfrentaram as baionetas da ditadura militar que se instalou no Brasil de 1964 a 1985. Iniciou cedo sua militância política em Belo Horizonte, à qual dá continuidade até os dias atuais. Durante os anos de luta sob a ditadura, Camarada Brás sofreu inúmeras torturas, que lhe ocasionaram várias doenças, forçando-o a tomar muitos remédios para aguentar a dor das lembranças. Ainda hoje, Brás luta para que o Estado brasileiro reconheça os crimes que cometeu contra ele; seu processo chegou a Brasília em 31 de março deste ano, data do início do tempo das trevas dos militares e, ao mesmo tempo, de muita resistência do povo brasileiro.

Contudo, Brás nunca baixou a cabeça para a opressão que o capitalismo exerce sobre os trabalhadores, o que o faz hoje, aos 73 anos, ser membro do Partido Comunista Revolucionário. A seguir, a entrevista de Brás da Cruz ao jornal A Verdade, na qual nos conta um pouco de sua história.

A Verdade – Como e quando você iniciou sua militância política?

Brás da Cruz – Eu iniciei minha militância política em 1959, ainda estudante secundário da Escola Visconde de Cairu, que hoje não existe mais, e comecei participando da Ação Popular, a AP. Lá enfrentei muitos problemas pela linha religiosa que a AP tinha; então saí e conheci a Polop através de um amigo. No entanto, logo fui convidado a participar de uma reunião do “Partidão”, como o PCB era conhecido na época pela massa, e ajudar no jornal Novos Rumos. Nessa época, comecei a participar de cursos básicos de marxismo.

Mas aconteceu o XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética [PCUS], e vieram as acusações mentirosas de Kruchev a Stálin, o que causou um racha internacional. No ano de 1962, as coisas estavam mais claras e o PCUS se diferenciou da linha política do Partido Comunista Chinês; todos esses acontecimentos fizeram com que nove companheiros, entre eles eu, saíssem do PCB e ingressassem no PCdoB, ainda em formação em Belo Horizonte, a partir do convite de um médico camarada nosso. Nessa época, o PCdoB tinha uma linha revolucionária, muito debate ideológico e formação política. Minhas tarefas no PCdoB eram cuidar da biblioteca do partido e ir até o Rio de Janeiro buscar o periódico Classe Operária. Tudo isso antes do golpe. Participávamos ativamente da luta, e já sentíamos que os tempos estavam ficando mais difíceis. Por exemplo, uma vez fizemos uma manifestação e usamos machados e escudos, inspirados pelo Exército Popular da China, e no meio do ato um grupo da Tradição, Família e Propriedade, a TFP, foi nos agredir; começamos uma batalha campal no centro de Belo Horizonte.

Nesse mesmo ano de 1962, o então ministro Armando Falcão mandou os tanques de guerra pra cima dos estudantes na cidade do Rio de Janeiro, e a sede da UNE foi metralhada. O resultado foi uma greve geral puxada pela UNE, que contou com a participação dos estudantes universitários e secundários. Como disse, começamos a sentir o que poderia vir pela frente.

A Verdade – Onde você estava quando aconteceu o golpe militar?

Brás – Exercia uma militância ativa no PCdoB em Belo Horizonte, fui para a clandestinidade. Começamos a fazer reuniões clandestinas. Nos reuníamos em praças públicas, restaurantes e no Parque Municipal, no centro de BH; eram poucos os companheiros que participavam de cada reunião – assim não chamávamos a atenção. Até que em 1967 fomos convidados para uma reunião que aconteceu num convento, com os frades dominicanos. Nos passamos por seminaristas e lá ficamos dois dias de intenso debate político. Nessa reunião estavam Maurício Grabois, Lincoln West e outros camaradas da direção nacional do PCdoB.

Decidimos por criar a Corrente Revolucionária, que era o nome que assinava os panfletos e aparecia para a massa. Começamos a organizar greves, paralisações em várias fábricas, principalmente na Cidade Industrial, bairro do município de Contagem, e no Bairro das Indústrias, na região do Barreiro, em BH. Alugamos aparelhos nesses locais, camaradas cederam suas casas e partimos para uma luta mais efetiva. Deliberamos também, nesse encontro, o caminho da luta armada.

Debatemos táticas e decidimos seguir a linha do Marighella, da guerrilha urbana, debatemos a Guerra de Guerrilhas, de Che Guevara, mas entendemos que não era o melhor para as condições geográficas do Brasil.

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A Verdade – Como aconteceu a sua prisão?

Brás – Fui preso duas vezes – a primeira no início de 1968, quando panfletava na porta da Vallourec & Mannesmann, uma importante fábrica de Minas Gerais. Estava no ato da panfletagem quando a polícia chegou; fui enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Fiquei preso no Dops durante três semanas, e me libertaram. Depois sumi, mudei de setor e fui fazer um trabalho no município de Divinópolis; era um dos responsáveis pela “PC Indústria e Comércio de Conserva”; este PC significava “produto camponês, fizemos uma brincadeira com o nome. Essa pequena fábrica arrecadava fundos para o partido, era importante para nosso trabalho de finanças. Até que chegaram dois caras na fábrica com carteira da Fiesp, se dizendo industriais de São Paulo interessados na nossa marca de conserva. Mas, na verdade, eram policiais e me levaram preso. Durante o tempo em que estava preso, foram até minha casa e bateram em minha esposa, que estava grávida, o que a fez perder o nosso filho. Essas coisas revoltam a gente. Fiquei pulando de prisão em prisão; de Divinópolis, fui para o presídio de Dutra Ladeira, que fica em Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Depois, me levaram para Juiz de Fora. Fui barbaramente torturado em todas as prisões por que passei. Além da tortura psicológica, num desses caminhos de uma prisão a outra, o policial me disse: “Tá vendo este matagal? Este lugar é que é bom pra fuzilar comunista”. Era um terror psicológico muito grande. Cinco meses depois, fui libertado.

A Verdade – Depois da prisão, como foi continuar a militância?

Brás – Quando saí, fui para o Morro das Pedras, uma comunidade de BH, e retomei o contato com o partido. Continuei minha militância política clandestina. Mas fiquei com várias seqüelas. Não podia ouvir fogos de artifício que me lembrava das torturas. Tive de tomar vários remédios pesados, tarja preta. Fui internado várias vezes. Só no Hospital Galba Veloso dei mais de 160 entradas para internação, de 1974 a 1978. Desmaiava na rua e acordava no hospital, tudo na base dos remédios. As lembranças sempre me vinham à cabeça. Em 78, entrei no INSS, mas ainda me sentia muito mal. Só fui ficar melhor em 1995, quando comecei a trabalhar no Colégio Magnum, na varrição. Lá eu me sentia bem, até ajudava os alunos com mais dificuldade, falava da revolução russa e de outros acontecimentos, fiz amizades. Mais tarde me tornei coordenador dos alunos; agora estou afastado pelo auxílio-doença.

A Verdade – Para você, qual será a grande importância da abertura dos arquivos da ditadura?

Brás – Bem, os arquivos devem ser abertos, para conhecimento dos fatos que ocorreram durante a ditadura militar, principalmente os documentos sobre os companheiros desaparecidos, de que os familiares não sabem, até hoje, onde os corpos estão enterrados. Mas tem pessoas ligadas ao imperialismo internacional, EUA, que estão ligados a esses processos. Nós, comunistas revolucionários, devemos lutar para que sejam completamente abertos os arquivos, levar as informações às universidades, escolas, e fazer debates para mostrar que esse famigerado braço armado do Estado foi muito violento, não respeitava ninguém; em nome de uma democracia de que “eles” falavam, assassinaram e torturaram. Nós queremos os arquivos totalmente abertos, para todos saberem. Pois nós lutamos por uma verdadeira democracia, a ditadura do proletariado.

A Verdade – Mesmo depois de todos esses anos, você continua militante comunista. Qual é o recado que você dá aos seus companheiros de combate?

Brás – Gostaria com imenso prazer elogiar os companheiros que foram torturados, perderam seus empregos e continuam na militância revolucionária, como dizia Che Guevara, “O dever do revolucionário é fazer a revolução”, e a revolução está nos nossos corações, que é lutar por uma pátria livre, por um mundo novo.

Renato Campos e Jonatas Henrique, Minas Gerais

Flagrante de Violência Policial em MG

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Durante evento organizado pela FIFA chamado “Festa do 1000 dias” para a Copa de 2014, dezenas de manifestantes ficaram feridos após serem dispersados pela polícia militar. O sindicalista Renato Amaral, do Movimento Luta de Classes, foi atingido na cabeça pela polícia, levando 5 pontos. Os manifestantes reclamavam das condições a que foram submetidos, os mineiros, à construção da Copa. Veja os vídeos.

Corrupção na liberação de Belo Monte

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Corrupção na liberação de Belo Monte, no Pará

É pra rir ou pra chorar? É pra lutar!

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É pra rir ou pra chorar com esse Brasil? É pra lutar!

Entrevista Histórica com Gregório Bezerra

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Manifestação contra a “visita” de Obama ao Brasil

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Manifestação contra a “visita” de Barack Obama ao Brasil

PCOT realiza congresso na Tunísia

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PCOT (Partido Comunista dos Operários da Tunísia) realiza congresso depois de anos na clandestinidade.

Crianças líbias mortas pela OTAN

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Imagens fortes de crianças líbias assassinadas pela OTAN, registradas pelo canal russo RT (Russia Today).