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sexta-feira, 12 de setembro de 2025
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Governo de SP prende estudantes que protestavam na ALESP contra as escolas cívico-militares

Na última terça-feira (21), sete estudantes foram violentamente reprimidos e presos durante uma sessão na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP). Os estudantes protestavam contra o projeto de escolas cívico-militares, do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Na tarde desta quarta, os estudantes foram liberados após audiência de custódia.

Redação


BRASIL – O governo estadual, assumindo mais uma vez uma postura repressiva, colocou a Polícia Militar para enfrentar os manifestantes, que foram espancados com brutalidade. Durante mobilização estudantil, a militante Sofia, da União Juventude Rebelião, junto de mais outros 5 estudantes foram presos injustamente.

A prisão ocorreu nas dependências da ALESP e houve audiência de custódia nesta quarta-feira (22). Após a audiência, os estudantes foram liberados.

Lutar não é crime

A União da Juventude Rebelião, junto aos estudantes e diversos movimentos sociais se mobilizam exigindo a libertação imediata de Sofia e dos demais presos, além da retirada do projeto das escolas cívico-militares. Centenas de manifestantes se concentraram no 27º DP, na rua Demóstenes, 407.

Agora, a vigília está acontecendo no Fórum Criminal da Barra Funda, na Av. Dr. Abraão Ribeiro, 313. Os protestos continuam contra a tentativa do governador fascista Tarcísio de criminalizar o movimento estudantil.

Repressão na ALESP

Não é a primeira vez que o governo Tarcísio coloca a PM para prender lutadores populares na ALESP. Em 6 de dezembro de 2023, quando a Assembleia Legislativa discutiu a privatização da SABESP, a companhia estatal de água e esgoto do estado. Durante essa sessão, a polícia reprimiu violentamente os manifestantes, resultando em espancamentos e prisões arbitrárias. Vivian Mendes, presidente estadual da Unidade Popular (UP) em São Paulo, foi presa ao tentar proteger outros militantes da agressão policial. Junto com ela, Hendryll Luis e Lucas Carvente também foram detidos.

Esses episódios de repressão demonstram um padrão de violência contra os movimentos sociais por parte do governo fascista do Tarcísio de Freitas. As ações policiais são tentativas de conter a oposição às políticas de privatização e restrição de direitos do povo promovidas pelo governo estadual.

Convocação para vigília no Fórum da Barra Funda.
Convocação para vigília no Fórum da Barra Funda. Foto: UJR/Instagram

Diante desses atos de repressão, a União da Juventude Rebelião convoca toda a militância e movimentos sociais para a vigília que está acontecendo no Fórum Criminal da Barra Funda, na Av. Dr. Abraão Ribeiro, 313. A luta pela democracia e educação de qualidade continua.

Famílias sem-teto exigem da Prefeitura do Recife construção de moradia

Mais de 100 famílias da Ocupação Ranúsia Alves ocuparam a Prefeitura do Recife para cobrar do Prefeito João Campos o cumprimento da promessa de construção de moradias populares.

Redação Pernambuco


LUTA POPULAR – Nessa terça (21/05), mais de 100 famílias da Ocupação Ranúsia Alves, no Recife, ocuparam a Prefeitura da cidade para exigir do prefeito João Campos (PSB) que a promessa de destinação de um terreno para a construção de moradias populares saia do papel. Com muita combatividade, as famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) fecharam a Avenida Cais do Apolo, ocupando em seguida o prédio da Prefeitura.

Segundo Matheus Araújo, da coordenação nacional do MLB “nós estamos aqui para negociar com o prefeito João Campos, que prometeu desde o ano passado doar um terreno ao movimento. Esse terreno a gente apresentou no processo do Minha Casa, Minha Vida Entidades, conseguimos o financiamento junto à Caixa Econômica Federal para construir um novo habitacional com cento e vinte oito unidades. Porém, a prefeitura disse que não vai mais doar o terreno, a não ser que a gente destine 45 vagas para eles decidirem quem vai morar lá. Isso é um absurdo! Dezenas de famílias de Recife não tem onde morar, e o Prefeito do Recife, em pleno ano de eleição, vive de enganação.”

Déficit habitacional e violência marcam a vida dos recifenses

A verdade é que a capital pernambucana é governada pelo PSB desde 2013, e que o atual Prefeito, filho do ex-governador Eduardo Campos e de uma das famílias mais tradicionais da política local.

O Prefeito, gastou ao longo de 2023 R$1,34 milhões em sua propaganda da sua imagem pessoal nas redes. Conhecido como “o prefeito do TikTok”, ele esconde que os recifenses amargam com um déficit habitacional de mais de 70 mil moradias, além do Recife figurar entre as listas das cidades mais violentas do país, e com as maiores taxas de desemprego do Brasil.

Militância da UJR realiza trilhas em Pernambuco

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Na primeira semana de maio a militância da União da Juventude Rebelião em Pernambuco realizou trilhas como parte da campanha nacional da UJR que realizou atividades semelhantes em todo Brasil. Com o lema de José Martí “subir montanhas irmana os homens”, a militância foi a caminhadas em meio a natureza para reforçar a coesão e também incentivar a realização de exercícios físicos entre a juventude.

Cassiano Bezerra e Jesse Lisboa | Recife – PE


JUVENTUDE – Na Região Metropolitana do Recife, a trilha foi realizada na Mata de Brennand. A mata fica localizada em uma área de mata atlântica preservada que faz parte da reserva privada da família Brennand, uma família que veio para Pernambuco ainda no século XIX e se instalou no bairro da Várzea em Recife e fez parte do processo de industrialização na cidade com uma metalúrgica e uma fábrica de cerâmica.

O grupo percorreu cerca de 9km em uma trilha que passou pela estrada de acesso ao museu de cerâmicas, mas também passou a maior parte pela mata fechada que fica ao redor. Foram cerca de 4,5km de mata fechada, com caminhos obstruídos e muita ajuda entre camaradas para passar pelos percalços do caminho como troncos, descidas, subidas e lamaçais. O principal ponto da trilha foi a chegada a uma cachoeira em meio a mata onde foi possível tomar banho e se refrescar, uma recompensa depois do esforço coletivo. 

Em Caruaru, a militância realizou uma trilha na Serra dos Cavalos, um parque de preservação natural criado em 1983 preservando a fauna e flora do local que fica localizado no agreste pernambucano. O grupo percorreu cerca de 7km na trilha da Velha Joana que passou pelo bioma preservado do brejo de altitude que reúne características da caatinga e de floresta úmida de mata atlântica no interior do estado.

“Saímos de lá muito animados e planejamos voltar para realizar um roteiro maior. Ter feito essa atividade nos ajudou tanto fisicamente como mentalmente, e conseguimos entender melhor a necessidade da prática esportiva em nossas vidas. Como jovens não recebemos incentivos suficientes da sociedade capitalista, pelo contrário, o que encontramos com mais facilidade são bares, drogas, futilidades em vez de incentivo à cultura e ao esporte.” relatou Raiana Rodrigues da UJR em Caruaru.

Em Petrolina, os militantes realizaram uma caminhada na orla que fica no Rio São Francisco, uma das mais importantes bacias brasileiras. Os militantes realizaram um alongamento para se prepararem e caminharam pela orla por 2,5km.

“Caminhar pela orla do Rio São Francisco enquanto alongamos o corpo foi uma experiência revolucionária e de grande importância. O exercício físico não só nos fortaleceu mas também nos conectou com a natureza e nos permitiu apreciar a beleza do rio. Essa atividade não apenas melhorou nossa saúde física e mental como também proporcionou um momento de tranquilidade e comunhão com os nossos camaradas além da importância de cuidar tanto do corpo quanto da mente.” disse Alysson Monteiro da UJR em Petrolina.

As trilhas da UJR estão sendo realizadas nacionalmente como parte de uma orientação da direção nacional. Esse tipo de atividade reforça o espírito coletivo dentro da militância, além de uma prática de lazer. Todas as experiências relatadas pelos companheiros e companheiras foram positivas, reforçando a importância do exercício físico como parte da formação revolucionária.

Como diz a carta da camarada Gabrielle Batista, do Rio de Janeiro: “Cuidar de si é tarefa central dos militantes da UJR porque precisamos estar bem de corpo e mente, para que possamos construir ocupações, lutar por moradia digna, pela vida e segurança das mulheres.”

Hoje em dia, algumas atividades de lazer, como museus, cinemas, até mesmo parques urbanos têm seu acesso dificultado. Seja por questões de onde estão localizados, ou por serem privatizados, impedindo que a maioria do povo trabalhador ocupe esses espaços. Diante disso, a UJR coloca essa questão para debate, a fim de que transformemos a prática do exercício físico e do autocuidado num hábito.

Relato de um desabrigado de Porto Alegre

“Hoje, dia 10 de maio, sexta-feira. Estamos dentro da Ocupação Sepé Tiaraju, do MLB, no Centro de Porto Alegre, desde a última sexta-feira (03), isolados. Desde o primeiro momento, a força da solidariedade e da camaradagem, estimuladas e aprofundadas na ocupação, são perceptíveis.”

Bruno Ferreira | Porto Alegre (RS)


Hoje, dia 10 de maio, sexta-feira. Estamos dentro da Ocupação Sepé Tiaraju, do MLB, no Centro de Porto Alegre, desde a última sexta-feira (03), isolados, observando e acompanhando o volume da água do Guaíba subir dentro do prédio.

Desde o primeiro momento, a força da solidariedade e da camaradagem, estimuladas e aprofundadas na ocupação, são perceptíveis. A retomada das assembleias diárias vem proporcionando momentos incríveis de troca de experiências, como seguir em frente física e psicologicamente.

A retomada das alimentações coletivas, das comissões de limpeza, de momentos de exercícios, de leituras do jornal A Verdade, sarau com música e violão e até mesmo de seguir fazendo a denúncia da política contra o governador Eduardo Leite e do prefeito Sebastião Melo, que vêm devastando nossa capital e nosso Estado dia a dia, têm sido feitas, através do que passamos a chamar de “Rádio Sepé”, onde temos tentado, duas vezes por dia, utilizar nossos megafones para falar aos vizinhos ilhados que a culpa da enchente é do sistema capitalista e desta política neoliberal desenfreada.

Além disso, contamos com o apoio de diversos camaradas da Unidade Popular e da União da Juventude Rebelião, que, desde o início do caos, têm produzido marmitas e trazido para nós. Mas não só para nós. Através desta rede, além de nos mantermos alimentados, ainda conseguimos levar marmitas e água para pessoas dos prédios próximos, na região da Av. Farrapos.

Foto de campanha de doação de marmitas para desabrigados pelas enchentes.
Solidariedade garantiu alimentação para todos. Foto: UJR.

Acredito que é importante ressaltar que o Rio Grande do Sul, há pouco mais de uma década, foi transformado em um laboratório do neoliberalismo e do “Estado mínimo”, com diversas empresas públicas sendo privatizadas e com o estímulo de concessões através das Parcerias Público-Privadas (PPPs), como, inclusive, a rede do Sistema Único de Saúde, que, mesmo antes do que estamos passando, já vinha totalmente colapsada.

Como já mencionado em matéria escrita ao jornal A Verdade no ano passado, 97% das Unidades Básicas de Saúde de Porto Alegre estão entregues nas mãos de quatro empresas privadas para fazerem a gestão, o que, obviamente, destruiu o trabalho da Atenção Primária em Saúde, onde deveria ser realizado o trabalho de promoção e prevenção em saúde. Isso refletiu diretamente na superlotação em hospitais e UPAs que também são geridas por estas mesmas empresas privadas.

Ainda por cima, pensando um pouco pra frente, quando iremos reconstruir nosso Estado, mesmo não sabendo quando, certamente estaremos submetidos a esses governos que pensam apenas no lucro e com uma dívida pública estadual que consome uma gigantesca parte do orçamento e que, infelizmente, dificulta nesta reconstrução.

Teremos dias duros pela frente, mas estar aqui, na ocupação com pessoas e momentos incríveis, nos dá esperança de que teremos um caminho a seguir e este é o caminho da construção coletiva, da construção do poder popular e do socialismo! Viva o MLB e a Unidade Popular!

Matéria publicada na edição nº 292 do Jornal A Verdade

Mobilização conquista religamento da água da Casa de Referência Almerinda Gama, no RJ

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Após 6 meses sem água na ocupação de mulheres Casa Almerinda Gama, no centro do Rio de Janeiro, a concessionária Águas do Rio forneceu um caminhão pipa para abastecer a Casa e se comprometeu a restabelecer o fornecimento de água na ocupação. A mobilização foi organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benario e diversos movimentos sociais.

Gabrielle Batista e Monique Zuma | Rio de Janeiro


MULHERES – Em ato organizado pelo Movimento de Mulheres Olga Benario, pelo Movimento Unido dos Camelôs (MUCA) e pelo Movimento de Luta nos Bairros Vilas e Favelas (MLB), com apoio da UJR e da UP, as mulheres da Casa de Referência Almerinda Gama conquistaram o religamento da água no prédio ocupado no Centro do Rio.

A vitória foi conquistada com luta, através de um ato realizado na manhã da última quarta-feira, 15 de maio. A ação ocorreu dentro da sede da Águas do Rio, que se localiza no bairro da Cidade Nova, região central da capital fluminense.  

A Casa Almerinda Gama existe há mais de 2 anos graças a muito trabalho e esforço coletivo, dando função social a um imóvel que estava abandonado há mais de 8 anos antes de ser ocupado pelo Movimento de Mulheres Olga Benario. Essa ocupação realiza um importante trabalho de enfrentamento à violência de gênero conta com núcleos profissionais de psicólogas e advogadas voluntárias para atender as mulheres acolhidas na Casa. 

Nesse sentido, durante os 6 meses sem água, nós do Movimento de Mulheres Olga Benario nos mantivemos firmes, com o pé no caminho da luta, fazendo muitas atividades de mobilização e de arrecadação financeira para manter a Casa funcionando e, principalmente, para conseguir a compra de caminhões-pipa no valor de R$500 reais por semana. 

Não podemos esquecer que a falta de água representa não só um ataque direto à vida das mulheres e de seus filhos que moram na Ocupação, mas também escancara a precarização dos serviços públicos quando passam a ser privatizados! 

O ato garantiu a água, mas continuaremos em luta pela garantia da segurança e da vida das mulheres. 

Enchentes no Rio Grande do Sul causam mortes e destruição, mas poderiam ser evitadas

O povo do Rio Grande do Sul enfrenta a maior enchente das últimas décadas. A tragédia atinge 467 municípios gaúchos e de acordo com a Defesa Civil, 161 pessoas morreram, 85 estão desaparecidas e mais de 800 feridas.

Redação RS


O povo do Rio Grande do Sul enfrenta a maior enchente das últimas décadas. A tragédia atinge 467 municípios gaúchos. Porto Alegre e cidades da Região Metropolitana, como Eldorado e Canoas, estão entre as mais atingidas e continuam ainda submersas. De acordo com a Defesa Civil, 161 pessoas morreram, 85 estão desaparecidas e mais de 800 feridas, muitas em estado grave. No total, 1,5 milhão de pessoas foram afetadas diretamente pelas inundações e 581 mil estão fora de casa; muitas delas viram suas casas serem arrastadas pelas águas.

“Em novembro passado, saí com minha mãe de madrugada, carregando-a nas costas. Agora foi com minha irmã e meu cunhado. Moramos no Bairro Sarandi, um dos mais afetados, porque já foi área de plantação de arroz, depois passou por aterramentos para se transformar em área urbana, mas é uma região de expansão dos rios quando chove. Antes, era a cada dois anos, agora, foi com seis meses de diferença pra última enchente”, relata Luciano Schafer, da Coordenação do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e um dos milhares de atingidos. Luciano e outros militantes do MLB estão abrigados no prédio da Ocupação Sepé Tiaraju, organizada pelo Movimento. “Estou esperando o momento para ver o que sobrou dos móveis, mas acredito que ropeiro, sofá e cama não temos mais”, completa.

O Aeroporto de Porto Alegre fica na região entre os bairros Sarandi e Umaitá e foi tomado pelas águas. A rodoviária estadual também está debaixo d’água, além de rodovias interditadas, dificultando ainda mais o deslocamento de pessoas e a chegada das doações. Enquanto isso, populações inteiras tiveram que ser evacuadas, como no caso do Município de Eldorado do Sul, onde mais de 40 mil tiveram que abandonar tudo que tinham para buscar abrigos e casas de familiares e amigos.

O Município de Canoas também foi muito castigado. “Minha cidade está 60% inundada, em 24 horas de chuvas. Um valão (canal) no meu bairro se rompeu em apenas duas horas e inundou todas as casas. Tive que sair às pressas, não tive tempo de levar muitas coisas, somente uma mochila com poucas roupas. Eu e minha família perdemos nossa casa, pois está totalmente debaixo d’água”, conta Bernardo Stadtlober, 23 anos, desempregado.

Já Caxias do Sul, apesar de estar situado a mais de 800 metros acima do nível do mar, não foi poupado pelos alagamentos. A população permaneceu em alerta máximo com o risco iminente de rompimento das barragens de duas represas – Samuara e Dal Bó –, o que poderia levar a um desastre ainda maior e obrigou os moradores da vizinhança a buscarem refúgio em abrigos improvisados.

Histórico de enchentes

No entanto, esta não é a primeira vez que uma tragédia dessa magnitude ocorre no extremo sul do Brasil. Antes da atual inundação, a pior enchente registrada em Porto Alegre ocorreu em 1941. A cidade recebeu 24 dias consecutivos de chuvas torrenciais, elevando os níveis dos rios Caí, Gravataí, Jacuí e Sinos, que deságuam no lago Guaíba, inundando vários bairros da Capital.

Essa calamidade era até então a pior inundação já registrada na história da cidade. O nível do lago atingiu a marca de 4,76 metros, afetando severamente toda a área central. Após a devastação causada pela inundação de 1941 na capital gaúcha, surgiu a discussão sobre a urgência de construir uma barreira para proteger a cidade contra futuras enchentes. Um pouco mais de 30 anos depois, em 1974, foi concluída a construção do Muro da Mauá, que tem a estrutura, com três metros de altura e extensão de 2,6 km, está localizado entre o cais Mauá e a Av. Mauá, no coração do Centro Histórico de Porto Alegre. Porém, até os dias de hoje, o muro não teve nenhum reparo para futuras enchentes, o que fez com que o muro não conseguisse segurar as águas do Guaíba.

Quem são os culpados?

A situação é grave, mas é, de fato, uma tragédia anunciada. Há pelo menos dez anos, um amplo estudo da Presidência da República já apontava chuvas acentuadas no Sul do Brasil em decorrência das mudanças climáticas. O projeto “Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima”, encomendado em 2014, composto por vários relatórios, apresentava resultados dramáticos. Elevação do nível do mar, mortes por onda de calor, falta d’água no Sudeste, piora das secas no Nordeste e o aumento das chuvas no Sul. Além disso, chama atenção para a necessidade de sistemas de alerta e de planos de contingência.

Mesmo assim, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), não investiu um centavo sequer na preservação de enchentes em 2023, mesmo após a cidade sofrer com as enchentes duas vezes no segundo semestre e com um caixa de R$ 428 milhões no Departamento Municipal de Águas e Esgotos.

Outro que sabia dessa informação foi o governador Eduardo Leite (PSDB), que negligenciou todas as recomendações dos técnicos, cientistas e da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan). Em 2020, o mesmo governador e sua maioria de parlamentares na Assembleia Legislativa aprovaram a Lei 15.434, flexibilizando 500 artigos do Código Estadual de Meio Ambiente a respeito da proteção dos biomas Pampa e Mata Atlântica.

Os governos de Eduardo Leite e de Sebastião Melo são os principais culpados pela destruição que eles chamam de “desastre natural”. Eles têm reforçado diariamente seu compromisso com os grandes empresários para garantir as privatizações em prol do agronegócio, e quem paga por toda essa tragédia social é o povo gaúcho, que sofre a cada enchente, perde o pouco que tem e se vê abandonado pelo Estado.

Mas a responsabilidade não é apenas dos governos estaduais e federal, mas também do Congresso Nacional. “A maioria conservadora tem aprovado diversos projetos considerados nocivos ao meio ambiente. Nunca tivemos um Congresso tão dedicado a desmontar a legislação, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede de entidades que monitora a questão climática no Brasil.

É importante lembrar que as tragédias ambientais são mais uma expressão das crises do capitalismo. A burguesia, movida pela ganância e o desejo de lucro, busca produzir sempre mais, sem se importar com a emissão desenfreada de gases poluentes, usando de forma inconsequente os recursos hídricos, derrubando e queimando florestas para expandir seus latifúndios para cultivar soja ou criar gado.

Se os verdadeiros culpados por esse desastre são os irresponsáveis governantes e a classe rica que só pensa no lucro e vive destruindo a natureza, os mais afetados são os pobres, a maioria da população. Afinal, burguesia sai do estado nos seus helicópteros e jatos particulares, e, se perdem algo, sacam o dinheiro e compram tudo novo. Já o trabalhador nem sabe se terá emprego e como será seu futuro.

“O povo está indignado com os prefeitos e o governador, que demoraram a se pronunciar e a agir, além de não terem feito nada para prevenir. O MLB defende a suspenção do pagamento da dívida pública do Estado do Rio Grande do Sul e a extensão dos prazos para a contratação dos projetos do Minha Casa, Minha Vida, incluindo a requalificação do prédio da Ocupação Sepé Tiaraju, que está contemplada”, aponta Luciano Schafer.

Brigadas de solidariedade

Diante de tamanha devastação em todo o estado, milhares de pessoas se voluntariaram para ajudar em abrigos, salvamentos, distribuição de água e de comida pelas cidades. A Unidade Popular (UP) organizou as brigadas de solidariedade em atuação em mais de dez bairros de Porto Alegre, além das cidades de Canoas, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Caxias do Sul e Passo Fundo. Atuando em abrigos, comunidades isoladas e construindo novos abrigos. A UP também enviou militantes das cidades de Rio de Janeiro, Curitiba e Belo Horizonte para ajudar no salvamento. 

Um abrigo foi montado pelo Movimento de Mulheres Olga Benario, na Zona Leste da Capital, para o acolhimento de mulheres e crianças vítimas de violência. “Como chegaram várias denúncias de ocorrência de estupros em abrigos públicos, era necessário um abrigo especial para as desabrigadas”, afirmou Nana Sanchez, coordenadora do Movimento. O Diretório Central dos Estudantes da UFRGS e o Movimento Correnteza organizaram uma cozinha solidária que entregou mais de oito mil marmitas e dois caminhões lotados de alimentos não perecíveis e água para as cidades de Canoas e São Leopoldo.

Nesse momento, em que a incompetência e a irresponsabilidade dos governantes estão escancaradas, encontramos milhares de voluntários prontos em ajudar qualquer pessoa, mostrando, na prática, a força do coletivo, da solidariedade e a necessidade de construirmos o poder popular em nosso país. Com essa tragédia, aprendemos, mais uma vez, que só povo salva o povo!

Faça uma doação para as famílias atingidas através do MLB: pixdomlbrs@gmail.com

Matéria publicada na edição nº 292 do Jornal A Verdade

Movimento Olga Benario constrói abrigo para mulheres vítimas das inundações no RS

Abrigo para mulheres criado pelo Movimento de Mulheres Olga Benario em Porto Alegre (RS) completa uma semana. Mulheres abrigadas encontram acolhimento, solidariedade e apoio na reconstrução da vida após as inundações.

Nana Sanchez | Porto Alegre


MULHERES – Desde o dia 9 de maio, a população do estado do Rio Grande do Sul tem enfrentado grandes desafios decorrentes da exploração capitalista da natureza. As inundações já levaram a morte de 161  gaúchos e 85 estão desaparecidos. Ao todo, mais de 2,2 milhões de pessoas foram afetadas pelas enchentes e mais de 617 mil pessoas estão fora de suas casas e 77.199 estão em abrigos, segundo a Defesa Civil do RS. 

Em meio ao caos e destruição, diversos relatos de violência contra mulheres e crianças ficaram evidenciadas nos abrigos. Referência no RS e no Brasil em combate à violência contra as mulheres, o Movimento de Mulheres Olga Benario foi acionado para o acolhimento e abrigo deste público específico. Contudo, a Casa de Referência Mulheres Mirabal, local construído pelo citado Movimento, foi uma das inúmeras residências da Zona Norte de Porto Alegre que ficaram embaixo d’água, tendo que ser evacuada. 

A partir da demanda e da perda temporária de nossa Casa, construímos um abrigo na Zona Leste da Capital, na Escola Estadual Ibá Ilha Moreira. Na instituição, atuam companheiras das Associações de Moradores da CEFER 1 e 2 que produzem alimentação para dezenas de famílias que perderam tudo nas enchentes. Foi a união dessas mulheres, junto com a comunidade escolar, que possibilitou a criação deste abrigo.

Shirley, que está abrigada e era moradora do bairro Rio Branco em Canoas, cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre, conta que saiu de casa no dia 3 de maio. Cuidadora de uma idosa, ela chegou ao nosso abrigo de mulheres apenas com uma muda de roupas, um tênis e documentos, após ficar uma semana morando de favor na casa de desconhecidos.

Na sua chegada, no dia 13 de maio relatou: “serei sempre grata por vocês terem me acolhido. Nunca vou esquecer. Quero reconstruir minha vida e não sei por onde começar, mas vocês estão me apoiando e eu agradeço muito.”

Assim como Shirley, milhares de mulheres buscam perspectiva mesmo após perder tudo que tinham, fruto de anos de trabalho. 

Ketlin Bastos, que também está no abrigo de mulheres, vem do bairro Arquipélago, da Ilha das Flores em Porto Alegre. Ela estava com sua filha no abrigo da Brigada Militar e pediram para vir para um abrigo só com mulheres. Ao ser entrevistada, Ketlin revelou que no abrigo de mulheres “as pessoas não estão apenas doando coisas materiais, mas sim, doando energia e muito carinho.” 

No último dia 18, foi realizada a primeira plenária no abrigo para apresentar o Movimento de Mulheres Olga Benario. A plenária contou com 30 mulheres. São psicólogas, professoras, cozinheiras, estudantes, enfermeiras, mulheres que atuaram em outros abrigos, mas que, ao saber que a Casa de Referência Mulheres Mirabal havia organizado um abrigo, resolveram se organizar em um movimento combativo e consequente. Neste mesmo dia, recebemos uma trupe de palhaçaria que fez com que pudéssemos sorrir e lembrar que a vida e a luta não param.

Para a semana, receberemos ainda a Orquestra Villa-Lobos de Porto Alegre, além de realizar a reunião de núcleo do abrigo do Movimento de Mulheres Olga Benario.

Construir um abrigo não é tarefa fácil. Receber mulheres que sofreram a violência machista e/ou a violência do Estado, do frio, da fome e da enchente exige um preparo profissional que a equipe de mulheres da Mirabal tem. Estamos trabalhando para que as mulheres sintam-se participantes na construção do abrigo, tenham atividades lúdicas, físicas e intelectuais e fortaleçam o sentimento comunitário. 

A verdade é que os abrigos organizados por trabalhadores e trabalhadoras, movimentos sociais e sindicatos são mais organizados e acolhedores que os organizados pelos governos. O motivo? As atuais gestões neoliberais do governador Eduardo Leite (PSDB) e do prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo (MDB) defendem o fim da assistência social e a privatização dos serviços públicos, diminuindo a quantidade de pessoas e recursos destinados a estas áreas, tão essenciais para o povo trabalhador. Os servidores públicos destas áreas estão esgotados, trabalhando dia e noite para atender, arrecadar doações, distribuí-las, cadastrar pessoas e mapear as principais necessidades, que são muitas.

O que este recente episódio de enchente evidencia é que a organização popular é muito importante para nossa sobrevivência no sistema capitalista. Evidencia também que este sistema não tem mais nada para nos oferecer. O liberalismo falhou. O neoliberalismo também. O socialismo é a única alternativa para aqueles e aquelas que constroem uma sociedade justa, boa e melhor para o mundo.

Kanak: o povo que luta pelo fim colonização francesa na Nova Caledônia

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Povo indígena Kanak, do arquipélago da Nova Caledônia, no Oceano Pacífico, está a uma semana bloqueando a entrada da capital do país, Numéa. Protestos ocorrem em defesa da independência do país, que está há 170 anos sob a opressão colonial da França.

Redação


INTERNACIONAL – Riquezas naturais roubadas, direitos a autodeterminação suprimidos e colonização por imigração de uma população estrangeira que oprime o povo indígena local. Esta descrição já foi feita por vários países oprimidos por um regime colonial no passado. Hoje, associamos esta realidade ao povo palestino, perseguido por Israel. Esta é também a situação do povo Kanak, que vive no arquipélago da Nova Caledônia, no sul do Oceano Pacífico.

Desde o dia 13 de maio, milhares de pessoas estão nas ruas protestando e pedindo independência em relação à França. Barricadas foram erguidas na rodovia que liga a capital, Numéa, ao aeroporto da ilha principal. A polícia e o exército francês reprimem com força o povo Kanak, causando ao menos 6 mortos durante as manifestações, sendo 3 indígenas. O estopim dos protestos foi a tentativa do governo francês de alterar a Constituição para dar direito de voto nas eleições locais para a população europeia que emigrou para o país nos últimos 30 anos.

Carros do monopólio francêS Renault queimados em pátio de fábrica na Nova Caledônia. Foto: Reprodução

170 anos de luta contra colonização francesa

Os franceses controlam as ilhas da Nova Caledônia desde 1853, onde estabeleceram um regime colonial e tentaram por todos os meios expulsar os Kanak de suas terras. As ilhas ficam numa área estratégica do Pacífico, próximas a Austrália se sempre serviram de posto avançado do imperialismo francês na região.

Além disso, a Nova Caledônia é a 4ª maior produtora de níquel do mundo, ficando atrás apenas das Filipinas, Indonésia e da Rússia. O níquel é um minério fundamental na criação de ligas metálicas usada na produção de baterias e aço inoxidável.

Os Kanak, por sua vez, ocupam as ilhas por mais de 3 mil anos. Lá desenvolveram suas línguas e culturas. Desde a chegada dos franceses, vem sofrendo uma tentativa de ver apagada sua história. Este processo se intensificou nos últimos anos.

Durante toda década de 1980, o povo Kanak pegou em armas contra o colonialismo francês. A luta levou ao chamado Acordo de Numéa, assinado em 1998 entre os indígenas e o governo colonial. O acordo previa a realização de referendos sobre a independência do país.

Durante o período seguinte dezenas de milhares de europeus emigraram para as ilhas, mudando fortemente a demografia do país, colocando em risco a maioria indígena Kanak.

Para piorar, os franceses impuseram que o último referendo sobre a independência fosse realizado em 2021, durante a pandemia da COVID-19, levando uma ampla abstenção da população nativa. Agora, o governo de Emmanuel Macron quer mudar a Constituição Francesa para dar direito a voto aos franceses que foram morar no arquipélago após o acordo de 1998.

O arquipélago da Nova Caledônia (em vermelho) fica próximo à Austrália, no sul do Oceano Pacífico, apesar de pequeno, o país é o 4º produtor de níquel do mundo. Imagem: Reprodução

Se aprovada a emenda constitucional, o povo Kanak perderá a maioria política que tem hoje no parlamento e no governo das ilhas e, consequentemente, os franceses passarão a exercer mais controle sobre a Nova Caledônia. Ou seja, não só foi negado aos Kanak o direito de decidir sobre seu futuro, como se continua o processo de ocupação de franceses do território para acabar com o poder político dos indígenas em seu próprio país.

Mais uma população submetido a colonização se levanta contra o imperialismo. Seja na Nova Caledônia, na Palestina ou nas ex-colônias europeias africanas, o povo não aceita o controle das antigas potências coloniais que sempre saquearam as riquezas e impuseram um regime de miséria e exploração a estes povos. Mesmo num arquipélago tão distante de nós, no meio do oceano, está presente a luta contra o capital imperialista. Lá também apenas a luta poderá levar a libertação definitiva do povo Kanak.

RJ: Domínio das milícias na Baixada leva à morte da juventude

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A Baixada Fluminense vive um grande cenário de insegurança fruto da violência das milícias e do narcotráfico na região. Frente a isso, estão sendo realizadas uma série de audiências públicas e mobilizações denunciando o genocídio negro nas periferias e a violência que ameaça a população.

Redação RJ


BRASIL – No mês passado, os estudantes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a população de Seropédica presenciaram na pele o cenário de insegurança que vive a Baixada Fluminense. Em 8 de abril, um confronto armado entre milícias ocorreu a luz do dia no centro da cidade de Seropédica, assassinando um aluno de nossa Universidade e deixando feridas e internadas 2 crianças. (Confira a nota de pesar do Movimento Correnteza na UFRRJ denunciando a violência na Baixada)

É com muita indignação, que dia após dia, os moradores da Baixada, presenciam o cenário da violência das milícias e do narcotráfico na região. Cada vez mais presentes nos holofotes da grande mídia, a violência nas periferias vem se intensificando e assassinando a juventude preta e pobre do país.

A frequência dessas ações criminosas acaba por intimidar a população, que se sente incapaz de reagir frente as forças paramilitares, e também um constante sentimento de normalização dessa violência, uma vez que, embora com medo, a população precisa trabalhar e voltar a “normalidade”.

Mobilizar a juventude periférica contra a violência

Essa política de violência, incentivada pelo governo fascista de Cláudio Castro, coloca em evidência o que é fruto desse sistema falido que é o capitalismo. Sistema que massacra, assassina e encarcera a juventude e que, a cada dia mais, segue sente sendo violentada, cerceada de uma vida de qualidade, impedida de um horizonte real de prosperidade. A fim de isolar a juventude, impedem o acesso à educação, cultura, qualidade de vida e empregos em nome do lucro de uma minoria que ganha com o nosso sofrimento.

Hoje, infelizmente, falar de permanência na Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) é falar também sobre manter os estudantes vivos. A Rural é a única universidade no estado do Rio de Janeiro que tem todos os seus campi, inclusive seu campus sede, fora de um centro econômico do estado. A violência que ocorre aqui é efeito direito da insegurança que vive a periferia. Faz-se assim a necessidade fundamental da mobilização da juventude frente às injustiças e inseguranças que sofrem as periferias, construindo uma agenda de lutas e mobilizando os estudantes.

Denúncia da violência na Baixada Fluminense

No dia 12 de abril, os estudantes do Movimento Correnteza, junto a diversas entidades e representações da UFRRJ foram à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), para cobrar e denunciar aos deputados o cenário de insegurança pública que não só estudantes da rural, mas toda a população de Seropédica vive. A audiência pública ficou marcada pela intervenção dos estudantes, denunciando o genocídio negro nas periferias e a violência que ameaça a população de seu direito a qualidade de vida.

Além disso, os estudantes propuseram que fosse realizada outra audiência pública, mas em Seropédica, para que a população – que é quem vive na pele a violência das milícias – pudesse falar e ser ouvida pelos mandatos estaduais e federais. O movimento construiu também um ato junto à população de Seropédica, para pedir paz para o município e para a Baixada Fluminense, cobrando do poder executivo do estado do Rio, que é quem tem responsabilidade sobre a segurança do povo trabalhador e dos estudantes, que algo seja feito.

Apenas com a mobilização do povo, pela construção do poder popular que transformaremos essa realidade. Gabriel GB, diretor da União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro, afirmou na audiência: “Não vai ser na ALERJ, na Câmara dos Vereadores ou na Câmara Federal que vamos resolver o problema das milícias. Vai ser dialogando com o povo, porque se tem alguém que eles têm medo é do povo. O que nós temos do nosso lado é o poder popular, e é isso que devemos investir”.

Especulação imobiliária deixa Itajaí (SC) entre os metros quadrados mais caros do Brasil

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Itajaí (SC) atingiu o 5° lugar no preço de metro quadrado mais caro do Brasil, superando a cidade de São Paulo, e a cidade sofre com os efeitos e a violência da especulação imobiliária.

Davi Sperzel | Itajaí (SC)


LUTA POPULAR – Pelos últimos dados liberados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Itajaí atingiu o 5° lugar no preço de metro quadrado mais caro do Brasil (R$ 10.814/m²), superando a cidade de São Paulo (R$ 10.794/m²), que desceu de posição. As cidades da região próximas à Itajaí, Balneário Camboriú e Itapema são ranqueadas em primeiro e segundo lugar, respectivamente.

Porém, historicamente, esse aumento do preço, fruto da especulação imobiliária, não acompanha outros dados socioeconômicos importantes, tal como a renda média do trabalhador.  Entre os anos de 2002 e 2012, em São Paulo, houve uma valorização de quase 200% no preço do m² e, entretanto, a renda média do trabalhador assalariado nesse mesmo período teve uma variação de 84,3%.

A grande mídia noticia esse feito com muito orgulho e até mesmo funcionários do governo demonstram felicidade ao falar sobre. Essas foram as palavras de Thiago Morastoni, secretário de Desenvolvimento Econômico e também filho do atual prefeito de Itajaí: “Essa valorização nos deixa muito felizes e cientes de que estamos no caminho do desenvolvimento […] uma vez que as pessoas buscam uma cidade com economia sólida para investir”. Essa declaração absurda apenas reafirma que a burguesia pensa a cidade como uma grande mercadoria e como uma oportunidade de explorar ainda mais a classe trabalhadora.

Não só Itajaí, mas toda a região, sofre com um processo de higienização e gentrificação brutal, em que os preços dos aluguéis e imóveis encontram-se extremamente caros. Essa realidade de especulação imobiliária vista em Itajaí torna praticamente impossível a vida de famílias que recebem um salário de miséria, sendo reservado para elas a expulsão dos centros das cidades em moradias muito precárias e afastadas. Um processo muito comum que ocorre em todo país. 

O papel da polícia no processo de gentrificação da cidade

A maior prova disso foi uma operação clandestina que ocorreu no dia 29 de outubro de 2023, em que policiais da Polícia Militar de Santa Catarina levaram mais de 30 moradores de rua com o objetivo de levá-los para a cidade vizinha Balneário Camboriú, sendo escoltados por ao menos 7 viaturas. As vítimas contam que foram abordados sem motivo nenhum e quem desobedecesse as ordens sofria agressões físicas, além de diversas ameaças. A secretária de Assistência Social de Balneário Camboriú relata que os moradores de rua chegaram com sede, fome e machucados.

Dados mostram que em São Paulo, por exemplo, existem mais imóveis/terrenos vazios do que pessoas sem moradia. Isso é reflexo de uma democracia burguesa que é cúmplice de empresas como a FG Empreendimentos, que transformou Balneário Camboriú em um mar de prédios para que a elite brasileira pudesse fazer seu playground particular, enquanto os trabalhadores que constroem e sustentam toda essa cidade são jogados para longe dela.

Enquanto tivermos governantes que comemoram lucros em detrimento da exploração da vida e um prefeito negacionista que está mais preocupado em distribuir remédios sem comprovação científica do que com políticas de habitação, teremos que nos organizar enquanto classe trabalhadora para exigir nossos direitos até nos apropriarmos de tudo aquilo que é construído por nós, ou seja, os meios de produção.

Quem era o presidente iraniano que morreu em queda de helicóptero

Os corpos do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, e dos membros da comitiva que morreram em um acidente de helicóptero serão enterrados na quinta-feira em Qom. Raisi era conhecido por fazer parte dos setores mais reacionários da república teocrática iraniana.

Seção estrangeira do jornal Evrensel (Turquia)

Tradução adaptada do turco para o português por Yuri Fidelis, Rio de Janeiro.


INTERNACIONAL – Após a morte do presidente iraniano Ebrahim Raisi, do Ministro das Relações Exteriores Hossein Amir Abdollahian e de sua comitiva em um acidente de helicóptero no dia 19 de maio, foi decretado um luto de cinco dias no país. O Diretor Geral de Propaganda Islâmica da província de Azerbaijão Oriental, no Irã, anunciou que o corpo de Raisi será enterrado na quinta-feira na província de Mashhad.

Ontem (19/05), o presidente Raisi participou de uma cerimônia de inauguração de uma barragem na fronteira entre Irã e Azerbaijão. No retorno ao país, ele estava acompanhado pelo Ministro das Relações Exteriores Hossein Amir Abdollahian e por alguns outros funcionários quando o helicóptero caiu. Após horas de busca, as equipes de resgate chegaram ao local do acidente e foi confirmado que não houve sobreviventes.

Após a confirmação da morte de Raisi, o vice-presidente Mohammad Mokhber foi designado como presidente interino. O vice-ministro das Relações Exteriores, Ali Bagheri Kani, foi nomeado como ministro interino das Relações Exteriores, substituindo o falecido Abdollahian. De acordo com a Constituição iraniana, um novo presidente deve ser eleito no máximo em 50 dias.

Quem era Raisi, presidente reacionário do Irã?

Ebrahim Reisi era o oitavo presidente da República Islâmica do Irã e era membro de uma das facções mais reacionárias da República Islâmica. Raisi nasceu em 14 de dezembro de 1960 no bairro de Noqan, em Mashhad. Aos 20 anos, começou a trabalhar no sistema judiciário da República Islâmica sem ter qualquer formação jurídica, e posteriormente estudou teologia e ciências religiosas em Mashhad e Qom.

Ebrahim Raisi era próximo dos radicais islâmicos Hossein Nouri Hamedani, Abolqasem Khazali e do líder da República Islâmica do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. Ele também era genro do Imam de Mashhad e autoridade religiosa de Alamolhoda.

Desde os anos 1980, Raisi esteve envolvido na execução de opositores da República Islâmica do Irã e foi um dos responsáveis pelas execuções em massa de 30 mil prisioneiros políticos no verão de 1988.

Defensores dos direitos humanos no Irã referem-se a Hossein Ali Nayeri (juiz religioso), Morteza Eshraghi (promotor), Ebrahim Reisi (vice-promotor) e Mostafa Pourmohammadi (representante de inteligência na prisão de Evin) como a “Comissão da Morte” devido à sua responsabilidade nas execuções em massa de 1988.

No verão de 1988, milhares de prisioneiros políticos foram executados após breves interrogatórios. Alguns já haviam cumprido suas penas e esperavam ser libertados, mas nunca alcançaram a liberdade.