Reproduzimos abaixo um trecho até recentemente perdido de uma famosa estrevista de Stalin. A tradução do russo para o inglês foi feita pelo professor Grover Furr.
Trecho perdido da entevista de Stalin a Emil Ludwig
Em 13 de dezembro de 1931 aconteceu no Kremlin uma conversa de quase duas horas entre J.V.Stalin e o escritor alemão Emil Ludwig, o biógrafo de vários personagens históricos importantes de toda a Europa. Em abril de 1932 a transcrição dessa conversa foi publicada no jornal Bolshevik. Ela foi publicada em 1932 como um panfleto, e em 1951 foi reimpressa no 13º volume das Obras Escolhidas de Stalin. A Entrevista com o escritor alemão Emil Ludwig é um dos textos mais conhecidos de Stalin. Partes dele já se tornaram antológicas.
Uma busca na coleção dos documentos de Stalin no Centro Russo Para a Preservação e Estudo de Documentos de História Recente (RTsKhIDNI) me permitiu verificar que a versão publicada do texto dessa conversa não é a versão completa. Em 8 de fevereiro de 1932 a cópia datilografada deste documento foi distribuída a pedido de Stalin para os membros e candidatos a membro do Politburo do Comitê Central do Partido Comunista de Toda a União (Bolchevique). Este texto foi editado por Stalin, reimpresso com suas correções e então publicado.
O fragmento do texto original dessa conversa, desconhecido até hoje, não foi apenas editado por Stalin, mas também movido de seu lugar original para o final do transcrito, e então apagado da cópia enviada para impressão. Publicamos abaixo exatamente este fragmento. As frases em itálico no início e no final do texto marcam o local original em que estava.
Preparado para publicação por M.A.Leushin
STALIN:Sim, recentemente os alemães mudaram bastante… Mas agora me permita que eu lhe faça uma pergunta indiscreta. Isso é de fato uma pergunta, não uma proposta. Você pode escolher não responder. Mas se você responder na afirmativa, ninguém, sob nenhuma circunstância, jamais poderá saber que eu lhe perguntei isso.
LUDWIG: Estou de acordo.
STALIN: Espere um momento. Você publicará nossa conversa?
LUDWIG: Não como uma entrevista. Mas eu a utilizarei de alguma forma, quando for escrever sobre você.
STALIN: Você receberá algo por isso?
LUDWIG: Sim.
STALIN: Você doaria uma parte pequena do seu honorário para uma fundação que auxilia os filhos de trabalhadores alemães desempregados? Mas, claro, sem mencionar de maneira nenhuma que eu lhe pedi isso.
LUDWIG: Dentro de algumas semanas o Sr. Umanskii receberá de mim um cheque no valor de mil marcos. Farei isso com prazer. Mas você não gostaria de considerar a possibilidade de contar o que você me disse? Aos olhos de milhares de pessoas, daquelas que não lhe consideram ou um Tsar cruel ou um bandido nobre, isso causaria uma impressão muito positiva sobre você.
STALIN: Eu sei que os senhores no campo inimigo podem pensar de mim do jeito que acharem melhor. Eu considero abaixo de mim tentar mudar as mentes desses senhores. Eles pensariam que eu estou buscando popularidade. Não, eu não quero que essa minha proposta seja publicada. *
LUDWIG: Em todo caso eu agradeço sua proposta. Nada semelhante jamais ocorreu com nenhuma figura política entre as dezenas que eu já encontrei. Eu admiro sua proposta não só porque você tem pensado nas crianças alemãs, mas porque você acabou de provar que é um verdadeiro internacionalista.
Sob quais circustâncias a completa unidade da classe trabalhadora sob a liderança de um único partido é possível?…
NOTAS
* Antes da edição feita por Stalin esta passagem tinha a seguinte redação: “Eu sei que eles podem pensar de mim do jeito que quiserem. Eu considero abaixo de mim tentar mudar as mentes daqueles que me consideram ou um “Tsar cruel” ou um “bandido nobre”. Eles pensarão que estou buscando popularidade. Não, eu não quero que nada disso seja impresso.”
REFERÊNCIA
‘I CONSIDER IT BENEATH ME…’A fragment of a note on the conversation between J.V. Stalin and Emil Ludwig in 1931″. Istoricheskii Arkhiv 3 (1998), 216-218.
Tradução de Glauber Ataide para o Jornal A Verdade
Com o objetivo de ludibriar os trabalhadores de todo o mundo quanto às possibilidades de uma sociedade mais justa dentro dos marcos do capitalismo, o grande aparato mafioso midiático global, sob o domínio da burguesia, apresenta os países capitalistas mais desenvolvidos como modelo de uma aplicação ideal do reino da mercadoria, seja em seus aspectos econômicos, políticos, sociais ou culturais.
Não obstante toda sua virtuosidade e excelência nas artes da falsificação e da omissão, as máscaras foram ao chão mais uma vez.
Pesquisa realizada pela Universidade de Hamburgo identificou que há 7,5 milhões de analfabetos funcionais na Alemanha, entre os quais 4,3 milhões com o alemão como língua materna. Isso significa que mais de 14% das pessoas em idade ativa no país são consideradas analfabetas.
Segundo o insuspeito site do DW (Deutsche Welle), “pensar que há analfabetos apenas em países em desenvolvimento é mero clichê. Em nações industrializadas, como a Alemanha, o problema atinge, há muito, um número considerável de pessoas.”
Os analfabetos, para dar conta das atividades cotidianas, desenvolvem inúmeros truques e desculpas para não ter que ler ou escrever. Quando precisam preencher um formulário, por exemplo, dizem que esqueceram os óculos ou que machucaram a mão. Para não serem obrigados a ler, decoram textos relevantes para sua profissão. Dessa forma, com medo da exclusão social, passam anos a fio sem contar o problema a ninguém.
Tim-Thilo Fellmer, um analfabeto funcional ouvido pelo DW, acredita que o problema não está nas pessoas, mas sim no sistema de ensino. Uma feliz observação, considerando que para o individualismo burguês, que bombardeia a consciência das pessoas a todo momento, por todos os meios e de todas as formas, a responsabilidade por todos os problemas – sejam de que tipo forem – deve ser jogada nas costas do indivíduo, o que leva a maioria das pessoas a culpar a si próprias por problemas que na verdade são sociais, como o analfabetismo e o desemprego.
A efeito de comparação, nunca é demais lembrar que Cuba praticamente erradicou o analfabetismo do país com apenas dois anos de revolução: em 1961 praticamente já não havia analfabetos no país. O índice de alunos que concluem o primeiro grau na ilha é de 99,6%, e a retenção em sala de aula é de 99,9%. Além disso, Cuba possui uma pessoa com mestrado para cada 42 habitantes e para cada 13,6 alunos. Essas médias, no mundo inteiro, segundo a Unesco, são de 79 e 40, respectivamente.
A Alemanha reconhece seu problema com o analfabetismo desde o final da década de 1970, quando então estabeleceu cursos de alfabetização que, no entanto, foram cortados devido à crise no início dos anos 1990, e retomados só muitos anos depois.
Mas uma outra consequência do medo da exclusão social é afastar dessas escolas os adultos, os quais não querem ser identificados como analfabetos. Por isso, as escolas são atualmente frequentadas por um número ínfimo de 20 mil alunos. Uma outra explicação para seu insucesso, segundo Peter Hubertus, membro fundador e diretor da Confederação Nacional de Alfabetização e Formação Básica, é que elas não possuem um método de ensino apropriado às necessidades dos envolvidos.
No aniversário dos 75 anos, Clara Zetkin recebeu um presente singular. Uma saudação do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, que se dirigia “à intrépida porta-voz da revolução proletária, à amiga e companheira das massas trabalhadoras da URSS e lutadora pela libertação da mulher trabalhadora”, dizendo: “Companheira de armas de Engels, lutastes incansavelmente contra o oportunismo na Segunda Internacional e com toda a força da vossa grande inteligência e de vossa paixão revolucionária vós vos erguestes contra as opiniões de Bernstein, contra o revisionismo. Nos dias em que deflagrou a guerra mundial, quando os chefes da Segunda Internacional se deixaram vergonhosamente atrelar ao carro do imperialismo, vós, na companhia de Lênin, na companhia de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, levantastes bem alto a bandeira do internacionalismo proletário. Estivestes conosco também nos dias de Outubro e nos dias da guerra civil quando a contrarrevolução mundial tentava sufocar o primeiro Estado Proletário do Mundo. Abnegada amiga da URSS, encontrai-vos sempre no posto de combate quando o inimigo ameaça o país dos Sovietes. O Comitê Central do Partido Comunista (b) da URSS manifesta os seus votos de felicidade e a firme certeza de que lutareis ainda por muitos anos, nas primeiras fileiras da Internacional Comunista”.
Mestra da Revolução Proletária
A grande revolucionaria se emociona ao receber tamanha homenagem. Sua vida se desenrola como um filme na tela das lembranças. Ela nascera Clara Eissner no dia 5 de julho de 1857, num período de efervescência, na Alemanha. Apenas nove anos haviam se passado das jornadas de 1848.
Aderiu ao marxismo ao terminar o Magistério, quando se integrou a um círculo de estudos organizado por revolucionários russos. Ela se casou com um dos membros desse grupo, Ossip Zetkin, de quem herdou o sobrenome.
Priorizou, no movimento socialista, a organização do Movimento Feminino Internacional. Defendia a igualdade de direitos, mas se diferenciava do feminismo burguês, pois ligava a luta das mulheres com o combate do proletariado ao sistema capitalista.
Na década de 80, para escapar à repressão contra os socialistas, viveu 10 anos no exílio, sendo acolhida na Suiça e na França. Participou ativamente do Congresso da Segunda Internacional, em Paris, no ano de 1889, ocasião em que conheceu Engels (Leia A Verdade, nº). Voltando para a Alemanha após o Congresso, encontra o Partido Socialdemocrata (SPD) em crise, com a formação de três tendências: uma à direita, liderada por dirigentes como Eduardo Bernstein, George Vollmar e Eduardo Davi; uma, ao centro, com August Bebel e Karl Kaustki e a terceira, à esquerda, que tinha à frente Rosa Luxemburgo, Karl Liebchnet e Franz Mehring, aos quais se junta Clara.
Inspiradora do Dia Internacional da Mulher
Foi Clara Zetkin que propôs a celebração do Dia Internacional da Mulher, no 8 de março, aprovada no II Congresso das Mulheres Socialistas em 1910. No ano seguinte, um milhão de mulheres foram às ruas no seu Dia, na Europa e nos Estados Unidos.
Em 1915, já deflagrada a Primeira Guerra Mundial, organizou em Berna (Suíça), um congresso internacional de mulheres contra a guerra, contrariando o seu próprio partido, que traíra o Movimento Proletário Internacional, aprovando os créditos de guerra no Parlamento. No Congresso, Clara proclamou que “Não se concebe um Movimento de Massas pela Paz sem a participação das mulheres proletárias; a paz só estará assegurada quando uma esmagadora maioria das mulheres trabalhadoras de todo o mundo aderirem à luta pela causa da paz, pela causa da liberdade e da felicidade da Humanidade, sob a palavra de ordem de “Guerra à Guerra”.
Por sua combatividade em favor da paz, Clara foi presa até o término da guerra. Junto com Rosa Luxemburgo, Karl Liebchnet, Franz Mehring e demais companheiros da Esquerda, rompeu com o SPD e fundou a Liga Espartaquista, que depois se tornaria o Partido Comunista Alemão.
Foi eleita para o Parlamento Alemão (Reichstag), pelo PCA, e sua atuação parlamentar foi sempre vibrante, de denúncias da opressão, de apoio ao movimento comunista internacional. Em 1932, fez o discurso de abertura da sessão parlamentar e um veemente pronunciamento contra o nazismo em ascensão. Com a vitória de Hitler, em 1933, mudou-se para a Rússia, onde morreu pouco tempo depois.
Construindo e disseminando o Socialismo
Apoiava incondicionalmente a Revolução Bolchevique de 1917, destacando que “O exemplo da Grande Revolução Socialista de Outubro, a vitória sobre a intervenção estrangeira nos anos da guerra civil e a construção socialista que se desenvolve vitoriosamente, testemunham o fato de que o proletariado já se acha maduro para construir uma sociedade nova, socialista, livre da exploração do homem pelo homem”.
Clara esteve várias vezes e por longos períodos na União Soviética, onde participava de inúmeras atividades, colaborando com a construção do Estado Soviético, e pesquisava as mudanças no comportamento das mulheres após a Revolução, especialmente no interior, nas áreas de influência muçulmana, festejando a retirada dos véus, testemunhando a alegria das mulheres ao praticarem este ato simbólico de sua libertação.
Amiga de Lênin, tinha com ele longas e frutíferas conversas, que registrou na obra Recordações de Lênin.Nadjeda Krupskaia, militante bolchevique e esposa do líder maior do povo soviético, assim se referiu a Clara: “Uma revolucionária marxista convicta, ativa e inflamada que dedicou toda a sua vida à luta pela causa da classe operária, à luta pela vitória do socialismo em todo o mundo”.
Clara Zetkin faleceu em Moscou, no dia 20 de junho de 1933, perto de completar 76 anos de idade. Foi levada para o túmulo pelos dirigentes soviéticos Stalin, Molotov, Voroshilov e Ordjonikdzik, o que demonstra a importância do seu apoio à consolidação do socialismo na URSS e à sua disseminação por todo o planeta.
A urna com as cinzas desse exemplo de mulher e revolucionária foi colocada no mausoléu de Lênin, no Kremlin, honraria merecida e feita somente a dois estrangeiros: Clara Zetkin e John Reed, o jornalista estadunidense comunista, que fez a cobertura da Revolução Bolchevique para a imprensa ocidental e escreveu a famosa obra “Dez Dias que Abalaram o Mundo”.
A Companhia do Latãoé um grupo de teatro que baseia seu trabalho na reflexão crítica da sociedade. Fundado em 1996, a partir da produção do espetáculo Ensaio para Danton, uma livre adaptação do texto A morte de Danton, de Georg Büchner, durante esses 15 anos o grupo tem realizado uma reflexão sobre as formas ideológicas presentes no sistema capitalista. O trabalho atual a Ópera dos Vivos percorre o imaginário político e cultural brasileiro e traz uma reflexão sobre a questão da mercantilização do trabalho artístico nos dias atuais e sua relação com as ideologias.
Todas as peças do Latãosão textos autorais fruto de trabalho coletivo de todos seus integrantes. O grupo utiliza o teatro épico e o teatro desenvolvido por Bertolt Brecht. Além das experiências cênicas, desenvolve produções audiovisuais, publicações e produz e estimula a elaboração teórica do mundo das artes.
Sérgio de Carvalho, diretor da Companhia do Latão e professor do curso de Artes Cênicas da ECA-USP, conversou com A Verdade e falou da relação entre arte e política e de como o teatro pode ser um elemento crítico das atuais estruturas do capitalismo.
A Verdade – Para a Companhia do Latão, qual a função social da arte?
Sérgio de Carvalho– São muitas as funções sociais da arte. A primeira é assumir que a arte tem função, que ela não é neutra, apartidária. Ela é uma construção social, coletiva, especialmente o teatro, e, portanto, política, porque envolve tomada de posição de um grupo de pessoas que está trabalhando. Ao mesmo tempo, essa necessidade de reflexão sobre a própria função te obriga a criticar a própria estrutura da arte, ter que pensar o que a arte contém de ideologia. A ideia de arte não é ingênua, ela é socialmente construída. Faz parte da função da arte, também, criticar o próprio teatro, o aparelho teatral – principalmente no capitalismo, em que ele está extremamente mercantilizado. Uma outra função possível é tentar mostrar a possibilidade da ação coletiva. Isso o teatro tem como característica da sua estrutura. Ninguém faz teatro sozinho. Precisa-se de um público, de um outro ator; precisa-se de uma equipe de trabalho… O teatro ativa o sentido de uma ação coletiva, potencialmente diferente dos padrões dominantes da cultura que está aí.
Você considera Brecht atual, como autor e teatrólogo?
Totalmente. Ele é tão atual quanto se faz necessário atualizá-lo. Brecht não inventou nada, trabalhou o marxismo dentro do campo da estética e descobriu coisas novas. Ele é radicalmente marxista, na medida em que implementa o marxismo dentro do campo dele, o que até então não tinha sido formulado. Ninguém pensou para a dramaturgia uma perspectiva materialista tão radical quanto Brecht; uma aplicação da dialética tão radical quanto ele fez. Nisso, ele é notável. E, como dialético que é, exige que você repense o trabalho dele, à luz da atualidade. Essa é a exigência da obra brechtiana: não atualizá-la, mudando o conteúdo para os dias de hoje, mas pensar operações dialéticas dentro da situação do capital e da ideologia agora, dentro dos estragos atuais e da situação política atual também.
E a teoria marxista? Como o Latão se relaciona com ela?
O Latão é o grupo mais radicalmente marxista que há no teatro brasileiro, na medida em que este marxismo está aplicado na construção da dialética, na radicalidade dialética como método. Pode haver alguém, tanto quanto nós, interessado no marxismo, mas eu acho que a experiência de 15 anos do Latão foi de radicalização do uso da dialética o tempo todo, da dialética marxista, porque me parece a ferramenta crítica mais poderosa, viva e capaz de fazer com que você perceba os movimentos históricos da atualidade. Marx teorizou sobre movimentos muito amplos do trabalho, do capital, da luta de classes, do mundo da mercadoria, e no teatro você não lida só com movimentos de massa e de classe, você lida também com indivíduos, com subjetividade dentro do capitalismo, com situações humanas íntimas também. Isso exige outras ferramentas. Foi isso que Brecht procurou trabalhar nas obras dele. Ele estava interessado em descobrir em que medida certas ações individuais têm a ver com situações de classe ou estão em contradição com situações de classe. No trabalho do Latão, a subjetividade aparece pensada em contradição com a perspectiva de classe, o que é uma exigência do marxismo.
A Companhia lançou um manifesto pelo teatro materialista que diz que um dos interesses artísticos do Latão é a reativação da luta de classes. Comente.
Falar isso para o teatro tem algo de simbólico, não é real. No entanto, contribui politicamente. É uma ação política. Uma ação teatral, mesmo que pequena, pode influenciar outras pessoas que estão interessadas em outras imagens do mundo e que podem atuar em escala de massa também. A luta de classes é uma categoria que foi posta fora do debate, uma categoria desprestigiada no senso comum. Ela existe, continua sendo uma realidade, mas as formas dela são de difícil descrição hoje. Qualquer sociólogo tem dificuldade de lidar com o próprio conceito de classe hoje. Então, foi importante para nós, no meio teatral, dizer que se tem que olhar para as classes, que as personagens que estamos colocando no teatro pertencem ao mundo de classes, têm determinações ligadas a trabalho, a dinheiro, à necessidade de vender o próprio corpo no mercado. Teatro que não olha para isso vai ser um teatro idealista. Ele tem que olhar para as relações de trabalho. Não adianta fazer crítica antiburguesa só; tem que fazer crítica anticapitalista, a partir de relações materiais de trabalho, e compreender a dialética disso.
E como é a relação com o mercado?
O Latão trabalha marcando posições do ponto de vista teórico, do ponto de vista estético-político. Não temos ilusões de que parte de sua atuação importante se dá dentro do chamado mercado de arte. A gente tenta atuar também fora do mercado de arte. E uma parte complementa a outra. Fora do mercado de arte, a gente procura ter vínculos com alguns movimentos sociais, procura ações amadoras ou pedagógicas que não estejam pautadas pela lógica do produto cultural ou por expectativa de troca. O Latão é um grupo em que, por exemplo, numa temporada da Ópera dos vivos, a gente promove um círculo de debates e você tem um grande intelectual ali debatendo a peça com alguém que vem de um bairro de periferia da cidade. Tem oficinas do Latão que são muito diferentes e que não poderiam acontecer numa instituição cultural dessas que estão aí. Uma vez o Latão fez uma oficina em que o pré-requisito para você entrar seria ter lido o Manifesto Comunista. Provavelmente, nenhuma instituição cultural iria aceitar a divulgação de um pré-requisito desses.
Arte a serviço da conscientização e diversão como prazer da compreensão: essas duas ideias fazem parte da relação com o público?
O melhor do trabalho do Latão é a ideia de demolição ideológica; não exatamente desconstruir, mas no sentido de negação, como movimento crítico, e de partilhar ferramentas com os espectadores, para pensar problemas. É um trabalho de estímulo à dialética, no movimento negativo dela, sem nenhum negativismo ou sensação de que o jogo está ganho para o capital; mas tentamos ver, examinar os estragos de uma maneira inteligente, divertida, animada, lúdica, mas uma reflexão sobre estragos. Ao mesmo tempo, fala-se das dificuldades da política, mas pensando estratégias de superação dessas dificuldades. A Comédia do trabalho é uma peça sobre estrago, mas ela fala também de que quando se juntam pessoas em torno de alguma coisa, você consegue um movimento.
Como a mercantilização da arte influencia a consciência política da população?
Influencia totalmente, porque a mercantilização não é um problema moral, é um problema prático. Ninguém cultua mercadoria porque é idiota ou porque tem um senso religioso do capital, cultua porque está obrigado a ser mercadoria. A questão é que esse processo faz abstração da vida pessoal, uma abstração preparada para a troca; você passa a agir com esses padrões ideológicos do mundo da troca mercantil. Eu sinto que a influência cultural do capitalismo é secundária diante da prática concorrencial do trabalho precarizado. Apesar de secundária, ela é muito forte, tem falsos envolvimentos de desejo, vontade, decisão humana. Cria ilusões de livre arbítrio dentro do mundo da mercadoria. Na experiência do Latão, em determinadas situações em que a pessoa tem condições de olhar para aquilo isso pode ser transformador da experiência pessoal dela, ter contato com ações de outro tipo. Aí eu vou de novo com Marx. De fato, a crítica das armas é mais poderosa do que a arma da crítica. No entanto, a crítica pode se converter em ação material em determinado momento. Quando se dá essa passagem para uma práxis material, coletiva, você vê que isso tem conexões com um aprendizado e um olhar diferentes. Ela tem aí uma ferramenta de trabalho importante num mundo em que o capitalismo se culturalizou muito, sintetizou muito, trouxe isso como arremedo de subjetividade. Passa a ser importante uma realização cultural de contramão, de enfrentamento. Por isso, o Latão sempre procura marcar posições, enfrentar.
Vocês estão acompanhando atualmente as revoltas populares em vários países do mundo contra o capitalismo. Como observam isso?
Um professor amigo meu disse que a crise vai trazer o marxismo para a pauta dos debates europeus, e precisamos ver como esse movimento rebate aqui, no meio cultural. Está um tempo interessante, de aguçamento de percepção histórica. Talvez estimule as pessoas a pensarem sobre o campo onde o estrago acontece, que é nas relações de trabalho. Já está havendo um retorno de reflexão política que andou neutralizada, no campo artístico, porque houve uma espécie de acordo com o estado de bem-estar social projetado na era Lula, em que parte do movimento teatral freou o seu impulso crítico, porque passou a orientar a vontade política ou a vontade de reflexão para pegar verba pública. A partir da ocupação da Funarte, parece que vai mudar esse quadro, porque a partir dessa ocupação houve uma ação de alguns grupos de periferia que têm mais lucidez sobre isso que estava em curso há cinco ou dez anos atrás. Foi o mais parecido com o início do Arte contra a barbárie, que já tem quase 15 anos, o que está acontecendo com esses grupos que estão atuando na periferia de São Paulo. Então, dali, talvez saia alguma coisa. As pessoas têm que voltar a ter um horizonte mais radical. Aí, a palavra revolução volta à tona como referência para isso, um horizonte menos reformista.
Para o Latão, a revolução é uma palavra viva…
Sim, porque é uma palavra que traz a ideia, traz a necessidade de projetar algo além desse horizonte que temos, que é o horizonte do mundo do capital. Isso não é vida. Não é uma ideia só, é uma noção que envolve movimento. Não é um estado idealizado, mas um horizonte que você tem que ter de um outro lugar, e um outro lugar que não está pronto, que vai ser sempre construído. Marx tem uma frase que eu gosto e que diz: “Comunismo não é um estado, é um movimento”.
Baseado no livro escrito em 1994 por Julia Álvarez, o filme No tempo das borboletas retrata o período de ditadura militar (1930-1961) na República Dominicana, onde por 31 anos o povo esteve refém das atrocidades cometidas pelo general Rafael Leónidas Trujillo. Sob seu lema ouestás comigo ou contra mim, e com o beneplácito da Igreja, Trujillo mandava matar todos os que se opunham ao seu regime. Foi responsável direto pelo assassinato de mais de 30 mil pessoas.
O filme conta a saga das irmãs Mirabal, Minerva, Patria, María Teresa e Dede Mirabal, filhas de um pequeno proprietário de terras que vivia na cidade de Ojo de Agua, don Enrique Mirabal, e da dona de casa Mercedes Mirabal, que desafiaram a sangrenta ditadura do general Trujillo.
Desde cedo Minerva quis estudar, pois sonhava em ser advogada, mesmo sabendo que as mulheres não podiam frequentar as faculdades de Direito no seu país. Convenceu seus pais a deixar que ela e suas irmãs fossem estudar em Santo Domingo, a capital da República Dominicana.
Ao regressar do colégio de freiras, conhece um membro do Partido Socialista Popular e professor universitário e com ele tem o primeiro contato sobre as lutas que se desenvolviam contra a ditadura.
Em 1949, ela e sua família são convidadas de “El Jefe”, como Trujillo gostava de ser chamado, para um baile. Minerva é assediada pelo ditador e revida com uma tapa na cara; a partir daí, inicia sua luta contra o ele e, posteriormente, suas irmãs María Teresa e Patria também ingressam na luta.
Por ordem de Trujillo, as irmãs Minerva, Patria e María Tereza Mirabal foram covardemente assassinadas em 25 de novembro de 1960. Em homenagem à luta das irmãs Mirabal, o 1º Encontro de Mulheres da América Latina e Caribe, realizado em 1981, em Bogotá, decidiu criar o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher na data de 25 de novembro de cada ano.
Com direção de Mariano Barroso e as atrizes Salma Hayek, Mía Maestro, Pilar Padilla, Lumi Cavazos e Ana Martín, o filme é uma contundente denúncia da violência do sistema contra a mulher, e sua exibição nas escolas e bairros possibilita um importante debate sobre a luta da mulher por uma nova sociedade e por sua emancipação.
Neusa Santana Alves é a presidenta do Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paulo Sousa do Estado de São Paulo (Sinteps). Em junho deste ano, Neusa e a diretoria do Sinteps dirigiram uma greve de 30 dias por melhores salários e melhores condições de ensino.
O Sinteps representa aproximadamente 17 mil trabalhadores e trabalhadoras das escolas técnicas do Estado de São Paulo e tem combatido firmemente a truculência do Governo do Estado de São Paulo e a crescente precarização do ensino profissional no estado. A seguir, entrevista de Neuza Alves ao jornal A Verdade.
A Verdade – Qual a situação das escolas técnicas, as Etecs, no Estado de São Paulo?
Neusa Santana Alvess –A situação das Etecs infelizmente não é boa. Os problemas vão desde a falta de infraestrutura, passando pela própria realidade dos cursos. Estes, muitas vezes, não têm relação com a região na qual estão, oferecendo uma formação desvinculada da realidade local, fazendo com que, depois de formado, o jovem tenha que se mudar ou trabalhar em outra cidade. Falta também a participação política dos estudantes na maioria das unidades. Falta ainda bandejão, e isso é uma necessidade, porque pela manhã, na maioria das unidades, existe o ensino médio e, à tarde, o profissional, e não há uma estrutura básica para o estudante permanecer na escola.
E as condições de trabalho?
Não são boas. Temos um sério problema de infraestrutura. Por exemplo: não temos, praticamente, laboratórios. Durante a greve alguns professores tomaram coragem em fazer denúncias, de que, por exemplo, eles trazem o material para poder trabalhar, para a aula na oficina ou no laboratório funcionarem. Tem professor que coloca até parte do que ganha para fazer determinada aula andar. Isso mostra que falta, para esses trabalhadores, condições de trabalho. Já tivemos melhores dias. Com a realidade dos cursos mudando para cursos de serviços, isso piorou. A tecnologia tão sonhada e o conhecimento tecnológico passam longe daqui e do Governo do Estado.
Para os professores e funcionários não existe um plano de carreira que atenda às nossas necessidades Tivemos um reajuste muito baixo, um valor da hora-aula pequeno: 12 reais (antes do reajuste eram 10). Nossa realidade é diferente daquela da rede básica. Nós não somos contratados por jornada de trabalho, e sim por hora-aula. Então, para ter um salário digno, conseguir manter sua vida, o professor tem que compor sua jornada em várias unidades, se desgastando com o transporte e a locomoção entre um local e outro.
E a jornada de trabalho? É possível viver apenas com o salário pago pelo governo?
Não é possível. A maioria trabalha em mais de um local. Entre aqueles que dão aula à noite, grande parte tem emprego na indústria. Os que dão aula pela manhã ou à tarde não conseguem e acabam compondo o seu salário indo para várias unidades escolares. Esse professor não tem uma carga total de horas-aula em uma única unidade, já que geralmente a carga total é de 37 horas. Ninguém consegue mais isso, por conta da pulverização de cursos; são vários cursos com poucas disciplinas; então você tem que se dividir e ir para várias unidades todas as semanas para completar a jornada de trabalho. O professor fica nos turnos da manhã, tarde e noite girando nas regiões para dar aula. A nossa luta quanto à carreira era pela jornada de 40 horas, dividindo essas horas entre sala de aula, planejamento, trabalho na comunidade, enfim, onde você pudesse de fato ser professor, ser educador, se dedicar a isso, ter contato com os estudantes, ter contato com a instituição, coisa que hoje não tem.
Como é a situação nas Etecs da cidade de Mauá?
Mauá é o 10º município no ranking dos mais pobres do Estado. É um município com 50% de jovens, na faixa etária de 12 a 16 anos e com uma carência absurda na educação. Nós estamos com uma campanha de abaixo-assinado, porque a Etec na verdade praticamente não existe. Essa Etec foi a primeira extensão que aconteceu na região do ABC: a extensão da Etec Júlio de Mesquita em Mauá. Era um curso de química, um curso bom, justamente pelo fato de aquela região ter um polo petroquímico muito grande. Começou bem. Mas por questões políticas fecharam a extensão. Com muita luta do município, veio a Etec de Mauá; um prédio da educação especial foi desalojado para abrigá-la. Essa Etec não tem ensino médio, não tem mais o curso de química; começou com um curso de informática e abriram mais um de administração. Depois veio a Fatec, no mesmo prédio; logo constataram que não cabiam os dois. Optaram então por espremer um para manter o outro. A Etec tem apenas dois cursos até hoje – isso já dura uns quatro anos. Pressionamos para que a Etec seja ampliada, mas, por questões políticas entre os governos do município e do Estado, isso ainda não ocorreu. Existe uma extensão da Etec de Mauá em Santo André, num bairro afastado, que impossibilita que os estudantes de Mauá cheguem. Com tantas escolas em Mauá, por que esse governo não fez uma na própria cidade?
Recentemente, os trabalhadores realizaram uma greve por melhores condições de trabalho e de ensino; o governo atendeu às reivindicações?
Tivemos uma greve de 30 dias muito qualificada, na qual os trabalhadores participaram mesmo. Mas o próprio governo fez a quebra da isonomia, dando um reajuste para 53% que eram os chamados “progressão automática”, e o restante vai ter que amargar aguardando alguns critérios que nem o próprio governo consegue entender. Por enquanto, ninguém conseguiu passar. Ele tentou resolver os problemas de quem estava entrando na instituição, porque 10 reais por hora-aula não estavam atrativos para esses profissionais, que muitas vezes acabavam por optar pela indústria. Estava acontecendo uma grande evasão e, então, o governo propôs um reajuste de 10% e, depois, de 12%, mas apenas para estes profissionais, cerca de 50% da categoria. Fizemos a luta para que fosse para todos, sem discriminação. Estamos processando o governo, para que todos os trabalhadores sejam atendidos, mas infelizmente esse é um governo truculento. A greve saiu justamente porque não havia acordo de reajuste, não havia nenhuma possibilidade de se fazer a discussão de plano de carreira, nem nada. Com a greve é que conseguimos abrir um canal de negociação para discutir a carreira, para discutir o reajuste, enfim, os direitos dos trabalhadores. Mas nossa luta continua, e já temos uma nova greve para o início do próximo ano, praticamente anunciada. Só tivemos os reajustes que tivemos em greve. Tem que ser assim. Para negociarmos as perdas salariais, só com greve e com luta dos trabalhadores. Para o ano que vem, além dessa luta, temos a democratização do Centro Paula Souza para construir, porque temos uma superintendência colocada pelo governo. Queremos de fato alguém que represente os trabalhadores. No ano que vem a luta será pela carreira, tentando que estas perdas salariais entrem no nosso plano de carreira, por uma carreira decente, pela democratização do Centro e pela manutenção do vínculo com a Unesp.
Ao contrário do que ocorre na maior parte dos sindicatos, as figuras principais do Sinteps são mulheres. Como você avalia este fato?
É isso mesmo. Vemos que os bancários, depois de 100 anos, colocam uma mulher na sua presidência. Nosso caso é incrível, porque nossa categoria é predominantemente masculina. Sempre foi assim na educação profissional. Procuramos mesclar nossa diretoria, compor os cargos com homens e mulheres. Entendemos que o trabalho deve ser realizado por todos, independentemente do sexo. Em conjunto. Acredito que é uma forma de as mulheres perceberem que possuem essa possibilidade em qualquer outra categoria. Engraçado é que, na educação básica estadual, há essa dificuldade de colocar mulheres na sua diretoria. Tem uma mulher como presidente, mas a maioria de sua direção é de homens. Precisamos continuar lutando, mostrando para as mulheres que elas também têm esse poder, que precisam ocupar o espaço político, o espaço público. É difícil, porque sabemos que muitos homens se colocam para nos intimidar. Mas estamos mudando isso; nós mulheres precisamos continuar lutando, para que tenhamos de fato igualdade de direitos. Nós, no sindicato, procuramos sempre trazer as mulheres, levantar essa discussão com elas, estimulando-as a que se inscrevam para as instâncias de representação. Nossa proposta é que todos e todas venham para a luta, porque somos trabalhadores.
“De nossas concepções ideológicas se desprendem pôr conseqüência medidas de organização. Nada de organizações especiais de mulheres comunistas! A comunista é tão militante do Partido como é o comunista, com as mesmas obrigações e direitos. Nisto não pode haver nenhuma divergência. Entretanto não devemos fechar os olhos perante os fatos. O Partido deve contar com os órgãos – grupos de trabalho, comissões, seções, ou como se decida denominá-los -cuja tarefa principal consista em despertar as amplas massas femininas, vinculadas ao Partido, sobre a sua influência. Para isto é necessário, sem dúvida, que desenvolvamos plenamente, um trabalho sistemático entre essas massas femininas. Devemos educar as mulheres que tenhamos conseguido tirar da passividade, devemos recrutá-las e armá-las para a luta de classes proletária sob a direção do Partido Comunista. Não só me refiro às proletárias que trabalham na fábrica ou se afanam no lar, como também às camponesas e às mulheres das distintas camadas da pequena burguesia. Elas também são vítimas do capitalismo e desde a guerra são mais que nunca. Psicologia apolítica não social, atrasada dessas massas femininas; estreiteza de seu campo de atividade, todo seu modo de vida: estes são os fatos. Não prestar atenção a isto seria inconcebível, completamente inconcebível. Necessitamos métodos especiais de agitação e formas especiais de organização. Não se trata de uma defesa burguesa dos “direitos da mulher”, e sim, dos interesses práticos da revolução”.
Disse a Lênin que suas reflexões constituíam para mim um apoio valioso. Muitos camaradas, muitos bons camaradas se opunham de maneira mais decidida a que o Partido criasse órgãos especiais para um trabalho metódico entre as amplas massas femininas. Chamavam a isto retorno às tradições social-democratas, à célebre “emancipação da mulher”. Tratavam de demonstrar que os Partidos Comunistas ao reconhecer pôr princípio e plenamente a igualdade de direitos da mulher, devem desenvolver seu trabalho entre as massas de trabalhadores sem diferença de qualquer espécie. A maneira de trabalhar entre as mulheres deve ser a mesma que entre os homens. Todo intento de considerar na agitação e na organização as circunstâncias indicadas pôr Lênin é considerada pêlos defensores da opinião oposta oportunismo, traição e uma renúncia aos princípios.”
O Movimento Gayones surgiu na Venezuela em 1991. Ao longo desses 20 anos, consolidou-se como um dos principais movimento de massa organizando operário, camponeses e indígenas. A Verdade entrevistou José Pinto, membro da direção da corrente sindical do Movimento Gayones e um dos fundadores do movimento.
A Verdade – Fale um pouco da história do movimento Gayones. Quanto tempo tem de existência, como surgiu e porque Gayones?
José Pinto – O movimento Gayones surgiu há 20 anos, com o motivo da crise da esquerda no mundo com a queda das URSS, o Partido Comunista de Venezuela (PCV) fez uma profunda revisão em sua teoria e muitos comunistas não se sentiam representados pelo PCV e alguns companheiros se reuniram para discutir política, baseado nos clássicos do marxismo e na luta de classes, também atuava nas atividades práticas dos trabalhadores.
A ação revolucionária nos levou a fazer uma luta pela preservação de um cemitério indígena da etnia aborígenes Gayon em uma zona chamada Algarí. Isto fez com que os companheiros estudassem a história dos Gayones e lograram a luta dos Gayones contra a colonização espanhola, onde eles utilizavam táticas de guerra de guerrilha, como atacar e dispersar, não ficar em um só lugar e outras. Também se conheceu o sadismo com que atuava os colonizadores espanhóis de baixo da política da coroa espanhola da espada e da cruz. Entre os atos más abomináveis estava o empalamento em praça pública para intimidar os Gayones, para servir de exemplo para quem se levantava contra os espanhóis.
O estudo serviu para conhecer os atos de heroísmo dos Gayones. Com a morte do cacique, a cacica (mulher do cacique) Ana Soli (que é conhecida hoje como Ana Soto) liderou a tribo chegando a dirigir mais de 2.000 guerreiros que fizeram férrea resistência à colonização espanhola a ponto que os extinguiram (toda a etnia). Resistiram até a morte.
Conhecido tudo isto se mudou o nome de um jornal artesanal, rudimentar que o grupo de companheiros o tirava, para GAYONES, com a simbologia de cacto. Depois da mudança do nome do jornal (em 1991) as pessoas começaram a chamá-lo de Gayones.
Quais foram as principais lutas e conquistas do Movimento Gayones?
A principal foi a luta para não colocar o incinerador de lixo no cemitério Gayon e que se repartisse a terra para os que lutavam, para um projeto agropecuário, terra que se transformou em um assentamento campesino chamado San José de los Camaguos.
Temos lutado pelos direitos políticos, pela participação popular, e fizemos nos bairros e nos sindicatos, entretanto, nos sindicatos em princípio era muito pouco e eleitoralmente não participavam do governo. Houve um momento em que decidimos abordar a luta sindical com força e temos desenvolvido um movimento sindical majoritariamente em Lara.
Temos desenvolvido nos estados de Carabobo, Portuguesa, Yaracuy, Caracas, Cojedes Barrinas, Falcón, Miranda, Aragua entre outros com mais ou menos desenvolvimento do movimento e da corrente sindical.
Em 1997 participamos da primeira greve que foi na CANTV em Lara que durou 22 dias, em 2001 fizemos uma greve em uma empresa chamada de Embutidos Arichura que durou 45 dias, depois realizamos várias greves entre elas fizemos duas greves na Universidade Fermi Toro em Lara, na empresa Taelinca de tabuleiros elétricos que dorou más de 100 dias, na Snack em 160 dias, na Alentuy de bases de alumínio que durou 45 dias e na General Motors de Venezuela (GMV) que durou 48 dias.
Mais uma vez fica clara a ligação da Rede Globo com a CIA, a agência de inteligência norte-americana. O blog Brasil citou documentos trazidos a público pelo site Wikileaks há pouco mais de dois meses indicando que William Waack, repórter e apresentador do Jornal da Globo, foi indicado por membros do governo dos EUA como alguém próximo capaz de “sustentar posições na mídia brasileira afinadas com as grandes linhas da política externa americana”. O site também informa que as severas críticas feitas por ele ao governos brasileiro, boliviano e venezuelano indicam que existem razões claras para essa afirmação.
O blog informa também que a política externa brasileira tem “novas orientações” que “não mais se coadunam nem com os interesses americanos, nem com os do Estado de Israel, influente no establishment norte-americano”. Por isso, o Departamento de Estado dos EUA “buscou fincar estacas nos meios de comunicação especializados em política internacional do Brasil” – no que seria um caso de “infiltração da CIA [a agência norte-americana de inteligência] nas instituições do país”.
São citados ainda documentos divulgados pelo Wikileaks de encontros regulares de Waack com o embaixador do EUA no Brasil e com autoridades do Departamento de Estado e da Embaixada de Israel.
Infelizmente, por perseguição do governo dos EUA e outros países, as empresas Visanet e Citibank suspenderam a forma de depósitos online, meio utilizado pelo site Wikileaks para arrecadar contribuições de ativistas políticos e outras pessoas para manter as atividades. Há algumas semanas o organizador do site Julian Assange afirmou que encerrará as atividades do site.
No dia 27 de outubro, em Buenos Aires, Argentina, doze ex-oficiais da Marinha foram condenados à prisão perpétua por crimes cometidos durante a ditadura, entre eles Alfredo Astiz, um dos símbolos da repressão militar, que se fez passar por militante de esquerda para sequestrar, torturar e assassinar. Em sua lista de acusações estão os assassinatos de Azucena Villaflor, fundadora das Mães da Praça de Maio, e das monjas francesas Alice Domon e Leonie Duquet, torturadas na Esma e jogadas no mar. A sentença de Astiz foi a mais aplaudida e comemorada pelos familiares dos mortos e desaparecidos políticos.
Também receberam a mesma pena Julio César Coronel, Jorge Rádice, Adolfo Donda, Antonio Pernías, Raúl Scheller, Alberto González, Ernesto Weber, Jorge Tigre Acosta, Ricardo Miguel Cavallo, Néstor Savio e Antonio Montes. Manuel García Tallada e Juan Carlos Fotea receberam uma pena de 25 anos; Carlos Octavio Capdevila, 20 anos, e Juan Antonio Azic, 18 anos.
Durante todo o julgamento, familiares de mortos e desaparecidos políticos gritavam os nomes de vítimas da ditadura argentina como forma de fazê-los presentes num momento histórico para a luta pela verdade e a justiça no país. A Praça dos Tribunais, no centro de Buenos Aires, ficou lotada de pessoas que acompanharam atentas a leitura das sentenças. A cada condenação, uma onda de aplausos tomava conta da praça. A justiça estava sendo feita. Os crimes cometidos até então impunemente por agentes da ditadura militar mais sanguinária da América Latina.
Argumentando que crimes contra a humanidade não podem ser prescritos, o Congresso do Uruguai aprovou no dia 27 de outubro a lei que vai permitir o julgamento de militares pelos crimes contra os direitos humanos cometidos durante a ditadura. Estima que aproximadamente duzentas pessoas morreram e milhares foram torturadas entre os anos de 1973 e 1985. A aprovação tornou sem efeito a Lei da Caducidade, que garantia a anistia aos militares e, na prática, a medida autoriza a abertura de processos contra militares que estão na reserva.
Com a aprovação da lei, o Estado uruguaio poderá punir os crimes cometidos pela ditadura, eliminar a prescrição para os processos referentes ao período e declarar os crimes cometidos no período da ditatura como crimes contra a humanidade.
As decisões do parlamento uruguaio e da justiça argentina são um marco na luta pela verdade, pela justiça e pela punição dos autores dos crimes cometidos durante as ditaduras que assolaram o continente entre as décadas de 1960 e 1980, e esperamos que se tornem uma referência do que a Comissão da Verdade, aprovada recentemente pelo Congresso brasileiro, deva fazer também aqui no Brasil. Para que não se esqueça, para que não mais aconteça.
“Eu acho que a primeira coisa que deve caracterizar um jovem comunista é a honra que sente por ser jovem comunista. Esta honra que o leva a mostrar para todo o mundo sua condição de jovem comunista, que não se submete à clandestinidade, que não o reduz a fórmulas, mas que ele manifesta a cada momento, que lhe sai do espírito, que tem interesse em demonstrar porque é o seu símbolo de orgulho.
Junto com isso, um grande sentido do dever para com a sociedade que estamos construindo, com nossos semelhantes como seres humanos e com todos os homens do mundo.
Isso é algo que deve caracterizar o jovem comunista. Ao lado disso, uma grande sensibilidade para com todos os problemas, grande sensibilidade diante da injustiça; espírito inconformado sempre que surja algo que esteja errado seja quem for que o tenha dito. Colocar tudo o que não se compreender; discutir e pedir que deixem claro o que não estiver; declarar guerra ao formalismo, a todos tipos de formalismo. Estar sempre aberto para receber as novas experiências, para se ajustar à grande experiência da humanidade, que leva muitos anos avançando pela senda do socialismo, às condições concretas de nosso país, as realidades que existem em Cuba: e pensar – todos e cada um – como ir mudando a realidade, como torná-la melhor.
O jovem comunista deve propor-se a ser sempre o primeiro em tudo, lutar para ser o primeiro e sentir-se incomodado quando em alguma coisa ocupa outro lugar. Lutar para melhorar, para ser o primeiro. Claro que nem todos podem ser o primeiro, mas podem estar entre os primeiros, no grupo de vanguarda. Ser um exemplo vivo, ser o espelho onde mirem seus companheiros que não pertençam às juventudes comunistas, ser o exemplo onde possam mirar-se os homens e as mulheres de idade mais avançada que perderam certo entusiasmo juvenil, que perderam a fé na vida e que diante do estímulo do exemplo sempre reagem bem. Essa é outra tarefa dos jovens comunistas.
Junto com isso, um grande espírito de sacrifício, um espírito de sacrifício não somente para as jornadas heróicas, mas para todo o momento. Sacrificar-se para ajudar os companheiros nas pequenas tarefas, para que possa assim cumprir seu trabalho, para que possa cumprir com seu dever no colégio, no estudo, para que, de qualquer maneira, possa melhorar. Estar sempre atento a toda a massa humana que o rodeia.
Ou seja: o que se propõe a todo o jovem comunista é que seja essencialmente humano, ser tão humano que se aproxime daquilo que há de melhor no ser humano, que purifique o melhor do homem por meio do trabalho, do estudo, do exercício da solidariedade permanente com o povo e com todos os povos do mundo, desenvolver ao máximo a sensibilidade até se sentir angustiado quando se assassina um homem em qualquer lugar do mundo e se sentir entusiasmado quando em algum lugar do mundo se levanta uma nova bandeira de liberdade (aplausos).
O jovem comunista não pode estar limitado pelas fronteiras de um território; o jovem comunista deve praticar o intercionacionalismo proletário e senti-lo como coisa própria. Aperceber-se, como devemos nos aperceber todos nós, aspirantes a comunistas aqui em Cuba, que somos um exemplo real e palpável para toda a nossa América e mais que isto, para outros países do mundo que lutam também em outros continentes por sua liberdade, contra o colonialismo, contra o neoliberalismo, contra o imperialismo, contra todas as formas de opressão dos sistemas injustos; aperceber-se sempre que somos uma tocha acesa, que somos o mesmo espelho que cada um de nós é individualmente para o povo de Cuba, e somos esse espelho para que se olhem os povos da América, os povos do mundo oprimido que lutam por sua liberdade. E devemos ser dignos desse exemplo. A todo o momento e a toda hora devemos ser dignos deste exemplo.”
(Extraído do texto O que deve ser um jovem comunista, Ernesto Che Guevara, Edições Manoel Lisboa)