No campus São Paulo do IFSP, falta de bandejão e incerteza no pagamento das bolsas levou a uma paralisação estudantil de 48 horas. Liderados pelo DCE, Grêmio Charlie Chaplin e FENET, estudantes conquistaram contrato emergencial para o bandejão, data para pagamento das bolsas e diversas outras vitórias
Júlia Cacho* | São Paulo (SP)
EDUCAÇÃO – Para os estudantes do campus São Paulo do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), a volta às aulas foi sem bandejão e com atraso no pagamento das bolsas de auxílio-permanência. Em um país onde 70 milhões vivem em insegurança alimentar, os estudantes passaram a ter que trazer marmitas todos os dias ou não comer durante o período das aulas.
Para enfrentar essa situação, as 18 entidades estudantis do campus, tendo como vanguarda o Diretório Central dos Estudantes do IFSP (DCE IFSP), o Grêmio Livre Estudantil Charlie Chaplin e a Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (FENET), organizaram uma assembleia geral no dia 29 de fevereiro. Nela, os estudantes aprovaram por unanimidade uma paralisação de 48 horas a partir do dia 13 de março, o Dia Nacional de Luta pela Assistência Estudantil convocado pela FENET.
Com a mobilização, diversas reivindicações foram conquistadas. Entre elas, a instalação de 4 novos micro-ondas para uso dos estudantes, o início de um contrato emergencial para o bandejão, um indicativo de data para o pagamento das bolsas, um plantão de inscrição para o auxílio-permanência, o abono das faltas durante os dias de paralisação e mais transparência na prestação de contas do campus.
“Construímos um ato no IF que mobilizou muitos estudantes e entregou uma carta de reivindicações ao diretor. Nenhum estudante passou fome durante os dois dias de paralisação, pois entregamos mais de 400 marmitas com a luta e o apoio das entidades”, disse Karla Albuquerque, presidente do DCE IFSP.
Apesar das diversas conquistas, os estudantes sabem que a luta não terminou. “Continuamos num campus sucateado, que todo semestre tem estudante na lista de espera da bolsa. Além disso, apesar de haver a volta do bandejão, a primeira refeição custa 5 reais e a segunda é 13 reais! A luta precisa continuar, por mais orçamento para a Educação e políticas de permanência para os estudantes”, afirmou Victoria Simões, membro da FENET e tesoureira do Grêmio Charlie Chaplin.
Neste dia 1° de Abril, ocorreu o marco de 60 anos do golpe militar fascista de 1964. Em decorrência dessa importante data na luta por Memória, Verdade, Justiça e Reparação, tiveram atos em diversas cidades e foi realizada a Marcha da Democracia, que buscava refazer – de forma inversa – o caminho dos generais golpistas e visitar importantes locais de memória do golpe.
Igor Marques | Redação RJ
Na última segunda-feira (01), em decorrência dos 60 anos do golpe militar fascista de 1964, foi realizada, a partir do Rio de Janeiro, a Marcha da Democracia, evento que contou com caravanas dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Essa marcha buscava resgatar a memória histórica da Ditadura e denunciar os crimes cometidos pelos militares, que têm impunidade até os dias de hoje.
A marcha teve como destino o município de Juiz de Fora, cidade na qual o General fascista Olímpio Mourão Filho iniciou o golpe. Com isso, a Marcha busca refazer – de maneira inversa – o trajeto realizado pelas tropas golpistas de 1964.
O evento contou com a participação de diversos partidos e movimentos sociais da luta por Memória, Verdade e Justiça, além de ex-presos políticos e familiares de desaparecidos.
Marcha visita importantes Lugares de Memória do Golpe
Nessa data fundamental da luta por Memória, Verdade, Justiça e Reparação, a Marcha da Democracia passou por importantes Lugares de Memória do Golpe. Esses locais são pontos simbólicos essenciais para a nossa história, em que a memória coletiva se expressa de diferentes formas.
A marcha teve como primeira parada a cidade de Petrópolis (RJ), local que contou com diversos centros de repressão do regime, como a notória Casa da Morte, onde dezenas de militantes foram torturados e mortos.
A caravana seguiu, então, para o município de Levy Gasparian, onde foi realizado um ato político. Foi próximo a essa cidade, localizada na divisa dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais – separados apenas por uma ponte –, que as tropas mineiras estacionaram esperando o apoio de outros estados para o golpe.
A ponte é um desses Lugares de Memória. Durante o avanço das tropas golpistas foi, inclusive, colocado dinamites em suas colunas, caso houvesse reação do exército do Rio de Janeiro. Pensando nisso, foi realizado na ponte um ato simbólico, com o encontro das delegações de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.
Após isso, a Marcha da Democracia seguiu para o destino final: Juiz de Fora. Nessa cidade, onde teve o início da movimentação golpista, foi realizado, com apoio da prefeitura local, um ato político em homenagem aos mortos e Desaparecidos durante a repressão e a necessidade da luta por Memória, Verdade, Justiça e Reparação.
Rio de Janeiro: Ato na frente do DOPS contou com 1000 pessoas
Na cidade do Rio de Janeiro, também foi realizado um importante ato. Com concentração em frente à antiga sede do DOPS, na Lapa, o ato contou com a participação de cerca de 1000 pessoas. A programação contou com falas dos movimentos sociais, partidos políticos e entidades sindicais e estudantis.
O ato percorreu trajeto até a Faculdade Nacional de Direito, no centro da cidade, importante local de resistência à Ditadura Militar fascista. A FND foi importante ponto da resistência estudantil e democrática à Ditadura e foi, em diversos momentos, alvo da repressão do regime.
Entre as denúncias realizadas, estava aquela feita pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que dizia: “A Ditadura matou quem lutava contra a fome”. Essa frase busca mostrar a perseguição às lideranças populares nesse regime fascista de repressão, mas também a exploração e a miséria do nosso povo no período. O movimento esteve presente com mais de 100 pessoas no ato.
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) denunciou a fome e a repressão a lideranças populares na Ditadura Militar. Foto: Marcela Werneck.
Por Memória, Verdade, Justiça e Reparação!
Neste 1° de abril, os atos de descomemoração da Ditadura rememoram as violências e a repressão sofridas durante o período da ditadura. Entre suas diversas pautas está a necessidade de reabertura da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos e o cumprimento das recomendações da Comissão Nacional da Verdade.
Além disso, a transformação do antigo DOPS do Rio de Janeiro, que foi sede de centros de repressão nas ditaduras do Estado Novo (1937-45) e dos militares (1964-1985), em um espaço de memória também foi pauta na manifestação da cidade.
Também, foi denunciado que, ainda hoje, houve revisão à Lei de Anistia, que perdoou os crimes de militares golpistas e torturadores. Os atos desse dia 1° são fundamentais para demonstrar que os reais inimigos da população se mantém, deixando claro a necessidade de punição aos generais fascistas que ameaçam a Democracia e o povo brasileiro até os dias de hoje.
Em Memória de todas as vítimas da Ditadura, seguimos na luta pela abertura dos arquivos, pela revisão da lei de anistia e pela punição de todos os golpistas e torturadores, de ontem e de hoje.
Mesmo com os ataques da extrema-direita, partidos e organizações políticas se mobilizaram contra o fascismo no Ceará.
Haroldo Neto e Gabrielly Almeida | Fortaleza
LUTA POPULAR – No dia 23 de março, a Unidade Popular (UP) esteve presente, junto com outros partidos, no ato nacional pela prisão de Bolsonaro e os generais golpistas, em defesa da democracia e contra o genocídio na Palestina. A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo foram as que organizaram e planejaram tais atividades no país.
A militância da UP e demais movimentos\entidades que a constroem estiveram presentes compondo mais da metade das pessoas na Praça do Ferreira, no centro de Fortaleza. Houve uma grande roda de leitura do editorial da edição nº 288 do Jornal A Verdade, dando desdobramentos cada vez mais terríveis sobre a verdadeira política de extermínio situada na Faixa de Gaza contra o povo palestino, tudo por conta do imperialismo estadunidense e o governo sionista de Israel que despejaram cerca de 45 mil bombas contra centenas de civis.
Infelizmente, o ato também foi marcado por ataques de fascistas e pela repressão policial. Militantes da extrema-direita invadiram o ato, gravando nossa manifestação enquanto expressava diversas ofensas e provocações, no intuito de desmoralizar nossa luta. Até que houve vários momentos de confusão entre os dois lados e a Polícia Militar do Ceará tentou dispersar o ato, ameaçando com diversos PM’s altamente armados, enquanto havia dezenas de militantes trabalhadores, mulheres e jovens se manifestando pacificamente, atuando no direito construir mobilização.
Os fascistas e policiais foram rechaçados pela unidade da militância gritando a palavra de ordem “o povo tem direito de se manifestar!” e “recua, fascista, recua! É o poder popular que tá na rua!” mostrando novamente que apenas a união do conjunto das forças antifascistas pode fazer frente aos ataques aos movimentos sociais e criando vanguarda diante da extrema direita no nosso país.
Ainda durante a fala da companheira Bia, militante do Movimento Rebele-se e representante da União dos Estudantes Secundaristas da Região Metropolitana de Fortaleza (UESM), um dos fascistas foram para cima da multidão atrapalhar as intervenções, e claro, a polícia nada fez para o detê-lo. Pelo contrário, atuou com simpatia e favoreceu o que planejavam: acabar com o ato que pede para o fascista, genocida e miliciano Jair Bolsonaro seja punido junto com os generais, por todos os crimes contra a classe trabalhadora antes e durante seu governo, além de ainda estar ameaçando a já tão débil democracia no país. Apesar disso, a secundarista de luta no estado mandou o recado para aqueles que propagam a ideologia de morte, dos que oprimem e exploram a juventude e o povo pobre.
“Essa impunidade que a gente tanto fala hoje nesse ato, que marca os 60 anos de ditadura militar no nosso país, permite que a polícia militar vá às periferias e massacre nosso povo!” diz Nathan, militante da UJR, representando o DCE da UFC. A gente só vai garantir a democracia nas ruas com grandes atos pela prisão dos golpistas, de Bolsonaro e dos generais. E a luta pelo fim dessa instituição podre que é a polícia militar, que já não deveria mais existir.
Reconhecer as necessidades de pessoas neurodiversas em espaços de militância é fundamental para a luta da classe trabalhadora e pela neurodiversidade.
Fausto André e Lenilda Luna | Maceió
OPINIÃO – É manhã de um domingo quente, ensolarado e abafado. A umidade do ar é percebida como pesada e envolve todo o corpo como um cobertor invisível. O corredor formado pelas barracas da feira é estreito, coisa de meio metro de largura, e a claustrofobia causada mesmo por poucos transeuntes enchem todos os sentidos. As cores das roupas, das frutas, do chão, do céu, mesmo as mais apagadas, ardem aos olhos. O barulho da feira se alterna entre um rumorejo alto porém disforme para cerca de 200 vozes falando claramente e ao mesmo tempo, junto com todos os outros ruídos de suas atividades. A mesma coisa com os cheiros da banana, da laranja, da alface, dos temperos, da lã e dos tecidos sintéticos. Ignorar é impossível. A “atitude blasé” de George Simmel não se aplica aqui. Todos os estímulos presentes não se embotam por serem muitos, pelo contrário; se somam e se contrastam, e gritam juntos com hostilidade.
O termo neurodiversidade, criado pela socióloga Judy Singer em 1998, se refere às variações naturais no cérebro humano de cada pessoa em relação às funções cognitivas como sociabilidade, aprendizagem, atenção, humor e outras. A situação descrita acima é uma mera descrição de uma feira de domingo percebida por alguém dentro do espectro do autismo, e portanto pode variar de intensidade dependendo de pessoa para pessoa. Dispráxicos e disléxicos possuirão percepções diferentes da mesma situação, porém a sensação que fica é a mesma: angústia, desvantagem, alienação. E, como esta, assim também são a maioria de outras situações tal como são experienciadas por pessoas neurodivergentes dentro de um sistema capitalista que ou as ignora ou as força em regimes sociais que não são pensados por e para elas.
Vale a pena, portanto, a discussão de como a lógica capitalista de produção aliada à ideologia dominante entranhada em todas as relações humanas é hostil a pessoas neurodivergentes, para que se possa pensar em como essas lógicas podem acabar surgindo em espaços amplos de militância e em como podem ser construídas novas lógicas que sejam seguras e tenham participação ativa e saudável dessas pessoas.
A opressão capitalista à neurodiversidade
No capitalismo, a lógica da propriedade privada aliada à capacidade produtiva orientada ao lucro e, portanto, limitada e antidemocrática, alienam e marginalizam pessoas neurodivergentes de várias formas. A organização rígida do trabalho que visa uma produtividade uniforme, bem como a falta de controle sobre os processos de trabalho, não funciona para quem trabalha em ritmo diferente ou percebe o mundo de forma diferente. A intensificação de estímulos sensoriais presentes em espaços urbanos ou espaços de trabalho podem afetar mais pessoas autistas ou com dispraxia, que podem levar a episódios de sobrecarga. A valoração excessiva de interações sociais típicas como parâmetro de “sucesso” na ideologia dominante ignora pessoas que têm dificuldade ou que se estressam facilmente com este tipo de interação, ou que preferem se comunicar de formas mais atípicas.
Estas formas de opressão sistêmica e sistemática encontram eco também na tendência capitalista de mercantilizar tudo, incluindo a própria neurodiversidade. Não apenas são vendidos produtos como softwares, brinquedos, dispositivos de ajuda sensorial e tratamentos caros de maneira acrítica e apenas voltada ao lucro, como também são realizadas pesquisas que ou são voltadas exclusivamente para o desenvolvimento desses produtos, ou têm o caráter higienista de estigmatizar a neurodiversidade como doenças trágicas que precisam ser eliminadas.
A luta pelas nossas necessidades
Por mais que as discussões acerca dessas opressões e seus efeitos estejam ocorrendo, pela natureza pervasiva da ideologia dominante de influir a lógica capitalista em todas as áreas humanas, é esperado que essas opressões também apareçam em espaços de militância que lutam pela superação do capitalismo e pela emancipação da classe trabalhadora. Portanto, o primeiro passo para tornar esses espaços seguros para pessoas neurodivergentes é justamente o reconhecimento dessas opressões quando estas ocorrem, bem como o reconhecimento da sua natureza sistêmica e ideológica.
Dessa mesma maneira, sistemas de suporte e pluralismo nos métodos de comunicação também devem ser pensados tendo em vista as opressões sistêmicas, já que estes mesmos sistemas de suporte tendem a ser chamados de “necessidades especiais”, que reforçam a ideia alienante do neurodivergente como alguém “especial” e diferente do “normal”. Este princípio também deve guiar as pautas e as lutas de e para pessoas neurdivergentes, já que a luta pelo reconhecimento das necessidades também diz respeito a pessoas que não se consideram neurodivergentes e que não reconhecem as suas próprias necessidades de comunidade, conexão humana e de suporte mútuo.
Citando o próprio Karl Marx: “De cada qual segundo suas habilidades, a cada qual segundo suas necessidades”. Pessoas diferentes possuem habilidades e necessidades diferentes, e a ideologia dominante não se interessa em satisfazer nossas necessidades ou a nos ensinar a reconhecê-las. Rumo ao socialismo, o reconhecimento dessas necessidades é uma luta de toda a classe trabalhadora.
Há alguma pessoa neurodivergente no seu espaço de militância? Veja algumas dicas de como como tornar esse espaço mais acolhedor e seguro:
Em reuniões, caso você seja responsável pela condução, procure organizar as pautas de modo que estas sejam padronizadas e previsíveis. Caso não seja possível seguir o padrão por qualquer motivo, informe sobre o não seguimento e seus motivos, deixando claro que se trata de uma exceção;
Caso o espaço da reunião tenha muitos estímulos sensoriais, a pessoa pode precisar se ausentar por alguns momentos da reunião. Caso isso ocorra, procure não chamar a atenção ou causar constrangimento;
Em atividades de várias horas de duração ou que requeiram bastante atenção ou foco, pergunte gentilmente para o camarada se está com sede ou precisa ir ao banheiro;
NUNCA deixe a pessoa sozinha durante atividades entre pessoas e/ou espaços desconhecidos;
Em atos e passeatas, lembre a pessoa neurodivergente de levar alguma proteção para sons altos e/ou para luz forte. Caso não seja possível, e a pessoa demonstre desconforto, acompanhe-a para um lugar onde esses tipos de estímulo estejam reduzidos.
A Jornal A Verdade montou uma linha do tempo com as reportagens sobre as investigações acerca do crime covarde que assassinou Marielle Franco, acompanhe a luta por justiça e contra a impunidade.
Redação
No dia 14 de março de 2018, Marielle Franco, vereadora (PSOL-RJ), militante pelos direitos humanos, e seu motorista, Anderson Gomes, foram executados brutalmente. Desde então o povo brasileiro cobra da justiça a efetiva punição dos mandantes da morte. Depois de muitas reviravoltas, no último domingo (24/03/2024), ao completar seis anos de impunidade, numa operação conjunta da Polícia Militar e Procuradoria-Geral da República (PGR) foi anunciada a prisão de três suspeitos de terem mandado matar Marielle Franco, assassinada com três tiros na cabeça e um no pescoço e Anderson, alvejado com três disparos nas costas.
Os suspeitos são Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado; o ex-vereador e atual deputado federal, Chiquinho Brazão, (União-RJ) e Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio, que durante um período comandou as investigações do crime. Os três acusados foram presos e enviados à penitenciária federal em Brasília, onde cumprirão a prisão preventiva. No caso de Chiquinho Brazão (União-RJ), por se tratar de deputado federal, como a prisão não foi em flagrante, a prisão poderá ser analisada pela Câmara dos Deputados e ele poderá ser solto, mas é preciso maioria absoluta (257 votos a favor), em votação aberta.
Apesar de todos os esforços de poderosos para esconder e enterrar a memória de Marielle Franco, arrastando um processo por longos seis anos, as recentes prisões reafirmam as evidências de envolvimento direto do Estado brasileiro no crime.
Desde 2018, o Jornal A Verdade tem denunciado e cobrado o fim da impunidade acerca do crime covarde e brutal que assassinou Marielle Franco, por meio de reportagens que registram o avanço das investigações. Na edição 289, da segunda quinzena de março, produzimos uma matéria especial sobre o caso. Para relembrar nossos leitores de tudo que aconteceu nesses seis anos, organizamos aqui a linha do tempo de nossa cobertura ao caso.
Leia as principais notícias publicadas por A Verdade, desde 2018, sobre o caso Marielle:
Março de 2018: O crime e o início das investigações
(Foto: Reprodução)
Marielle Franco lutava pela paz e contra a violência
Na semana do assassinato de Marielle, publicamos uma matéria denunciando o crime e falando sobre sua vida e luta.
“Como mulher, mãe, negra, LGBT, socióloga, de periferia e vereadora do PSOL na capital do Rio de Janeiro, nascida em 27 de julho de 1979, Marielle Franco, 38 anos, deixa um legado de luta por direitos humanos e de compromisso com a classe trabalhadora injustiçada, na construção de uma sociedade justa e solidária. Nascida na favela da Maré, no Rio de Janeiro (RJ), Marielle Franco fez nos últimos dias, denúncias de mortes de jovens em operações policiais e chefiaria a comissão legislativa que apuraria as ações da intervenção militar federal no estado do Rio de janeiro.”
Além da breve biografia de Marielle, Frei Gilvander, com muita sensibilidade, indicou que a morte da vereadora seria semente para a luta por justiça.
“Marielle Franco e Anderson Gomes foram vítimas de um crime hediondo, mas o sangue de Marielle Franco e de todas/os as/os que tombam na luta continuará circulando nas nossas artérias, nos inspirando, dando coragem e perseverança na luta em prol da construção de uma sociedade justa e solidária, sem opressores e sem violência.”
Março de 2019: A prisão dos atiradores no condomínio de Bolsonaro
(Foto: Reprodução)
Confirmado: Estado brasileiro está envolvido no assassinato de Marielle e Anderson
Na manhã da terça-feira dia 12 de março de 2019, dois policiais militares foram presos, acusados pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.
“O sargento reformado da Polícia Militar do Rio de Janeiro Ronnie Lessa, de 48 anos teve sua prisão preventiva decretada por ter sido quem efetuou os disparos que alvejaram as vítimas, o atirador foi preso em sua casa, que fica no mesmo condomínio do presidente Jair Bolsonaro (PSL). O ex-PM Élcio Queiroz também foi preso hoje pela manhã, acusado de dirigir o carro que perseguiu Marielle.”
A prisão dos policiais já deixava claro o envolvimento de poderosos agentes do Estado capitalista no assassinato da vereadora. Com a prisão de Ronnie Lessa e Elcio Queiroz, a cobrança pela prisão dos mandantes era o próximo passo na luta por justiça por Marielle e Anderson. Na cobertura da prisão, denunciamos este envolvimento e cobramos a prisão dos mandantes.
“A prisão dos dois policiais deixa evidente o envolvimento do Estado brasileiro nesse assassinato, que tinha o objetivo de pôr fim à luta de Marielle contra as milícias e sua tentativa de demonstrar a ligação profunda que essa tem com os governantes do estado do Rio de Janeiro. […] A prisões da manhã de hoje são um passo importante, conquistado pela pressão popular e pela atuação dos movimentos sociais pela justiça a Marielle. Nossa luta precisa seguir, Lessa e Queiróz puxaram o gatilho, agora precisam ser indiciados os mandantes, aqueles que encomendaram a calada da voz.”
Mulheres batizam ponte no DF com o nome de Marielle Franco
No dia que marcou um ano da morte da vereadora, cobrimos intervenções de movimentos sociais cobrando justiça para o crime. Militantes renomearam uma ponte no DF em homenagem a Marielle.
“No dia em que se completam 365 dias do assassinato da vereadora Marielle Franco, o povo ainda não conseguiu a resposta da pergunta: ‘quais foram os mandantes do crime?’. Desde essa atrocidade, em que também foi morto Anderson Gomes, Marielle se tornou um símbolo ainda maior de luta e resistência de mulheres em todo o Brasil e no mundo.”
Governador de Brasília veta praça de ser batizada com o nome de Marielle
Movimentos sociais continuam lutando pela memória de Marielle. Na capital do Brasil, o Governador Ibaneis Rocha (MDB) vetou projeto que homenagearia Marielle. Apesar do linguajar técnico, a razão do governador aliado de Bolsonaro foi política.
“Em várias cidades do Brasil e pelo mundo, monumentos, praças, ruas e avenidas foram batizadas com o nome de Marielle Franco, ex-vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL, assassinada em 14 de março de 2018 junto com o motorista Anderson Gomes. Isso se deve pelo fato de Marielle representar um símbolo na luta contra as milícias do estado do Rio de Janeiro além de representar risco a políticos e empresários poderosos.”
Julho de 2023: Marielle segue lutando contra a violência no Rio de Janeiro
(Foto: Arquivo JAV)
Avanço nas investigações do assassinato de Marielle mostra indústria da morte
A delação do ex-PM Élcio Queiroz, o motorista de Lessa na noite do crime, deu detalhes do passo a passo para assassinar Marielle e trouxe à tona a atuação do “Escritório do Crime” e outros grupos de pistoleiros. O avanço das investigações do crime que vitimou Marielle, desvendou uma cadeia de assassinatos envolvendo bicheiros e milicianos no Rio de Janeiro.
“Uma submetralhadora desviada do BOPE da PMRJ, um desmanche de carros controlado por máfias criminosas, responsáveis por dirigir o carro do assassino, sumir com provas do crime são alguns dos elementos revelados pela Polícia Federal, ontem (24), que surgiram na investigação do brutal assassinato da vereadora socialista Marielle Franco, ocorrido em 2018.”
A delação também escancarou domínio político das milícias no RJ, dando indícios claros de quem seriam os maiores interessados no silenciamento de Marielle.
“Mais do um estado paralelo ou simples criminosos, os milicianos são hoje o próprio poder político no estado. Toda a política de segurança, que no RJ é um negócio de bilhões, está nas mãos destes personagens. Hoje, existe uma indústria da morte no Rio, responsável pela morte de milhares de pessoas todos os anos e que viu em Marielle um alvo que ameaçava seu poder político no estado. […] A delação de Élcio deixa claro que não foi ódio pessoal que levou ao assassinato, mas um projeto político que hoje governo o RJ. Ainda falta a PF responder às duas perguntas que não querem calar: Quem mandou matar Marielle e por que estamos há mais de 5 anos sem resposta?”
Julho de 2023: Edição nº 277 do jornal A Verdade cobra justiça por Marielle e Anderson
(Foto: Reprodução)
Justiça por Marielle e Anderson!
A edição impressa que sucedeu a confirmação das milícias e políticos do Rio de Janeiro no assassinato de Marielle realizou uma cobertura especial ao caso. Mais uma vez relembramos a vida e luta de Marielle e cobramos justiça.
“A trajetória pessoal e política de Marielle sempre foi marcada pela luta contra as desigualdades, o racismo e a violência de gênero. O feminicídio político da vereadora expôs uma rede miliciana de característica racista e misógina, que possui relação com os poderes do Estado e marcou a história política nacional e internacional.”
Na matéria, ressaltamos a necessidade de lutar por justiça e a força de Marielle como semente para a luta popular.
“Em um dos seus últimos discursos no Plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, Marielle Franco disse: “Não serei interrompida”.
Apesar de seu assassinato ter sido uma tentativa de calar tudo o que Marielle representava, seu legado e sua luta política permanecem vivos. Quem achou que, matando Marielle, calaria os que lutam, perdeu! Sua memória, assim como a de várias outras lutadoras, serve de combustível para todas as pessoas que lutam contra o fascismo, a violência política e as injustiças sociais.
Nossa resposta deve ser espalhar pelo Brasil um chamado para resistirmos à brutalidade, para ocuparmos e transformarmos os espaços de poder. Um chamado coletivo para falar de Marielle, que é também falar sobre um projeto de sociedade que ela representava. Um chamado coletivo para denunciar sua execução, pois falar disso é denunciar o sistema que a matou.
Vamos seguir lutando pela punição dos fascistas mandantes desse crime e de todos os fascistas que atentam contra a democracia! Não permitiremos que as vozes do nosso povo sejam interrompidas!”
Julho de 2023: Olhando para o caso ainda mais profundamente
(Foto: Reprodução)
Bruno Paes Manso: “Alguém queria Marielle morta. Foi uma questão política.”
Depois da delação de Élcio Queiroz, fomos olhar para o caso ainda mais profundamente, para isso conversamos com Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, autor do livro “A República das Milícias”. Quando perguntado se teriam interesses do Estado no assassinato da Marielle e na falta de avanço nas investigações, Bruno denunciou o interesse de poderosos e do próprio Domingos Brasão no assassinato de Marielle. Os fatos seriam confirmados posteriormente.
“Segundo, tem uma história de convivência de corporações com os grupos que mataram Marielle. Com o caso Marielle, a gente fica sabendo de um grupo que matava há dez anos impunemente, responsável por uma série de mortes que aconteceram e que nunca foram investigadas e só começaram a ser por causa da investigação sobre Marielle. Então, você tem uma máquina muito comprometida. Imagino que até os investigadores compromissados tenham dificuldade de trabalhar em um lugar onde você não sabe quem é amigo e quem é inimigo. Isso em um contexto do Rio de Janeiro, que envolve autoridades ligadas a grandes capos (chefes) do jogo do bicho, pessoas muito influentes na polícia e com ligações com as milícias.”
E continua.
“Tem vários grupos dentro do Estado que dificultam [as investigações]. O Cláudio Castro, por exemplo, fez lobby para tirar o superintendente do Rio de Janeiro que tinha feito o inquérito da Raquel Dodge e denunciado Domingos Brazão. Ele vai assumir a superintendência do Rio, na Polícia Federal, e o Cláudio Castro tenta tirá-lo. Então você tem grupos que acabam sempre trabalhando.”
Bruno ainda detalhou a linha de investigação que levava a Domingos Brasão, que naquele momento havia sido abandonada e que posteriormente seria retomada pela Polícia Federal e a os irmãos Brasão presos como mandantes do crime.
“No caso do Élcio Queiroz, ele rompe esse pacto de silêncio, assume o caso e dá detalhes de como foi o crime, o que já é um grande avanço. Isso já é bem importante porque o caso não foi a júri ainda e temia-se que eles próprios fossem inocentados. Então, você já tem uma confissão e um detalhamento do crime. O tal do Macalé, que surge no depoimento do Élcio Queiroz, era um miliciano de Oswaldo Cruz, na região da Zona Norte do Rio, que foi citado na CPI das Milícias como chefe das desta que é uma região de domínio do Domingos Brazão [foi deputado estadual no RJ e hoje é conselheiro do TCE] e do Chiquinho Brazão. Isso é uma hipótese que já tinha sido levantada. O Marcelo Freixo já suspeitava que a morte da Marielle poderia ter sido uma represália por causa de duas operações da Polícia Federal, que aconteceram ainda nos desdobramentos da Lava Jato, em 2017.”
Em outro momento, Bruno se aprofundou ainda mais no caso.
“A operação chamava “Quinto de Ouro”, que começou depois que um funcionário da Andrade Gutierrez contou que o Tribunal de Contas do Rio recebia até 20% de propina para julgar favorável a esquemas. São presos cinco conselheiros, entre eles o Domingos Brazão. […] Iriam entrar três funcionários de carreira, só que eles não entram. Na “Hora H”, o Pezão indica Edson Albertassi, um deputado da base do Cabral, do velho esquema da Assembleia Legislativa do Rio e Freixo fala “Não é possível, de novo?”, e vai fazer um depoimento na Tribuna da Assembleia. […] Logo em seguida vem uma segunda fase, que é a Operação Cadeia Velha, que prende toda essa galera da Assembleia Legislativa: Paulo Melo, Picciani, Edson Albertassi, o filho do Picciani, prende geral. [A denuncia] foi importante porque se ele assumisse o cargo de conselheiro, teria uma questão de foro privilegiado e a Procuradoria Geral não conseguiria fazer essa operação. A suspeita do Freixo é que, por causa disso, mataram a Marielle, que inclusive foi com ele na reunião com a Procuradoria Geral, como retaliação política. Mas com o passar do tempo essa hipótese acabou ficando de lado, o Claudio Castro ganha, as promotoras saem e a coisa morre. Agora, com esse depoimento, essa hipótese volta à tona.”
PF prende 3 acusados de serem os mandantes do assassinato de Marielle Franco
Seis anos após assassinato de Marielle e Anderson, após seis anos de luta por justiça por Marielle e Anderson, na última semana a Polícia Federal Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do RJ, Chiquinho Brazão, deputado federal (União Brasil – RJ), e o ex-chefe de Polícia na época do assassinato, Rivaldo Barbosa. As prisões confirmaram as relações entre o Estado e as milícias no Rio de Janeiro para explorar o povo trabalhador.
“A motivação para o crime brutal foi a oposição e a luta de Marielle em defesa da moradia popular para o povo trabalhador do Rio. A vereadora se opunha ao controle das milícias do mercado imobiliário da Zona Oeste e Norte do Rio e lutava contra projetos de lei que aumentavam o poder da milícia na especulação imobiliária. A revelação dos mandantes é mais uma prova do envolvimento dos fascistas e do centrão com as milícias do Rio de Janeiro. Um chefe de Polícia, um deputado e um conselheiro do TCE serem presos por mandarem milicianos assassinarem uma vereadora que lutava pelo povo trabalhador é uma demonstração de como o chamado “crime organizado” é na realidade parte do poder político do Estado hoje no RJ.”
No dia 16 de dezembro de 1976, o aparelho repressor da Ditadura Militar Fascista realizou uma cruel devastação contra o movimento de resistência do nosso país, prendendo, torturando e assassinando três dirigentes do então clandestino PCdoB na Chacina da Lapa, entre eles o meu parente João Batista Franco Drummond.
Bluma Drummond | Redação Goiás
HERÓIS DO POVO – Em 2024, completam-se 60 anos do golpe militar que colocou as Forças Armadas Fascistas diretamente no controle político do Brasil, guiadas pela CIA e servindo aos interesses imperialistas dos Estados Unidos da América. Vários foram os movimentos, partidos e organizações que lutaram contra o regime autoritário, tanto na legalidade quanto na ilegalidade, e a luta por Memória, Verdade e Justiça continua extremamente atual considerando o permanente golpismo do Exército e de setores da burguesia nacional.
Um dos episódios trágicos que acometeu o movimento de resistência contra a Ditadura Militar ficou conhecido como “Chacina da Lapa”, no qual três dirigentes do PCdoB foram presos, torturados e mortos pela repressão em São Paulo nos dias 15 e 16 de dezembro de 1976: Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e o meu parente, João Batista Franco Drummond.
Breve biografia e ancestralidade
Nascido no dia 28 de maio de 1942, em Varginha (MG), João Batista vinha de família da classe alta. Estudou no Ginásio Dom Bosco e no Colégio Loyola, em Minas Gerais.
A família mineira Drummond/Drumond descende do clã aristocrata da Escócia, cujo integrante John Drummond decidiu “se aventurar” pela Europa no século XV e acabou se estabelecendo na Ilha da Madeira, domínio português, e casou-se com a aristocracia burguesa de Portugal.
No século XVIII, Antônio João de Freitas Carvalho Drummond trouxe a família para o Brasil. Era um “homem de posse”, ou seja, um escravista senhor de engenho que também se ocupava da mineração. Foi promovido a guarda-mor na década de 1770 e documentos indicam que explorava dezenas de escravizados, além de participar de expedições para a limpeza étnica de povos indígenas para a extração de ouro.
Militância e clandestinidade
João Batista Drummond ingressou no curso de Ciências Econômicas na então Universidade de Minas Gerais (atual UFMG) em 1961, se tornando presidente do Diretório Acadêmico de 1964 a 1965. Foi ativo na construção do 27° e 28° Congressos da UNE e, desde 1963, também participou do movimento camponês no sul de Minas.
Das suas primeiras organizações políticas, participou da Ação Popular (AP), e depois a Ação Popular Marxista-Leninista (APML), sendo responsável pela Secretaria de Organização e membro do Comitê Político.
No final da década de 1960, foi julgado pela Justiça Militar, teve seus direitos políticos cassados por dez anos e foi condenado a 14 anos de prisão, passando a viver na clandestinidade. Entra para o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em 1972, passando a integrar seu Comitê Central em 1974.
A Chacina da Lapa
Em dezembro de 1976, a direção do PCdoB tinha reuniões marcadas em São Paulo. Mesmo após os anos de chumbo do ditador Garrastazu Médici, a repressão contra comunistas, revolucionários e lutadores da democracia continuava brutal, com perseguições, torturas, desaparecimentos e assassinatos. Após a delação do traidor Manoel Jover Telles, os agentes passaram a vigiar a casa 767 na rua Pio XI, aparelho utilizado para reuniões na Lapa.
Noite de 15 de dezembro, reunião encerrada. A saída era feita em duplas, João Batista Drummond e Wladimir Pomar são levados para a Avenida Nove de Julho. O primeiro deveria seguir para Goiás, estado que acompanhou como dirigente da AP. São seguidos pelos militares e capturados pelo II Exército. Foram presos no Departamento de Operações de Informações (DOI). São torturados durante a madrugada do dia 16 e, às quatro horas da manhã, Wladimir ouve uma barulheira e alguém chamando pelo médico com urgência. Seja em uma tentativa de fuga (hipótese pouco plausível, de acordo com relato de seus companheiros), seja por conta da brutalidade da tortura, João Batista morre nas mãos dos agentes fascistas.
Na casa da Pio XI, pelo menos 10 viaturas do Exército e 40 agentes armados com revólveres, carabinas e metralhadoras realizaram a incursão. Foram mortos Pedro Pomar e Ângelo Arroyo. Cinco outros militantes foram presos e torturados: Elza Monnerat, Maria Trindade, Haroldo Lima, Aldo Arantes e Joaquim Celso de Lima.
Repercussão e atualidade
A mídia e os documentos de atestado de óbito foram completamente manipulados para falsificar todos os eventos da Chacina da Lapa. Os jornais anunciaram que os militantes da casa na Pio XI foram mortos em um tiroteio, sendo que as testemunhas afirmaram que apenas um dos lados disparou.
O caso de Drummond é ainda mais absurdo, com imensa divergência nos documentos. O Ministério da Aeronáutica afirmou que morreu em confronto com os agentes de segurança, o Ministério da Marinha relatou que foi um dos mortos na casa 767, mas o IML-SP descreveu sua morte como fruto de um atropelamento no cruzamento da Nove de Julho com a rua Paim, no bairro Bela Vista. Tudo isso, a farsa da ditadura e a brutal perseguição, levou a uma batalha heroica travada por sua viúva, Maria Esther, e pela família enlutada. O atestado de óbito de Drummond foi um dos primeiros a ser retificado, denunciando sua morte como resultado das torturas do Exército.
O corpo de João Batista foi enterrado no Cemitério do Parque da Colina, em Belo Horizonte. Como homenagem, uma rua do bairro Braúna foi batizada com seu nome na capital mineira, e, em 2021, o Diretório Acadêmico da Faculdade de Ciências Econômicas recebeu seu nome para lembrar sua luta.
Em janeiro de 1977, o camarada Enver Hoxha, primeiro-secretário do Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia, envia um telegrama comovente para o PCdoB. Destaco o trecho final:
“Estamos convencidos que não há violência fascista, terror ou repressão capaz de destruir suas forças ou cortar seus laços com a classe trabalhadora e as profundas raízes que possui entre seu povo. Os camaradas que caíram serão certamente substituídos por centenas e milhares de outros que se levantarão e erguerão para sempre a bandeira da luta revolucionária contra o fascismo interno, contra o imperialismo e o social-imperialismo, contra o revisionismo moderno e a favor da vitória do marxismo-leninismo.
Glória aos heróis caídos na luta por liberdade, independência e socialismo!”
Nos dias 23 e 24 de Março a União da Juventude Rebelião reuniu em Goiânia seus principais quadros do movimento estudantil para debater a importância dos comunistas na luta dos estudantes secundaristas e universitários no estado de Goiás.
Rafaela Corrêa | Goiânia (GO)
JUVENTUDE – Nos dias 23 e 24 de Março a União da Juventude Rebelião reuniu em Goiânia seus principais quadros do movimento estudantil para debater a importância dos comunistas na luta dos estudantes secundaristas e universitários no estado de Goiás.
Ana Cris, diretora da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas e do Grêmio do IFG Campus Goiânia, relata que “a Conferência nos fez enxergar que é possível ter vitórias no movimento estudantil e apresentar aos estudantes uma perspectiva que resolva de uma vez por todas o problema do sucateamento da educação, essa solução é o Socialismo!”
Foram debatidos textos do livro Sobre o Movimento Estudantil, das edições Manoel Lisboa, para embasar a discussão sobre as tarefas da juventude no próximo período.
A programação contou também com uma Brigada do Jornal A Verdade. Letícia, diretora da União Nacional dos Estudantes, reafirmou a importância do jornal para politizar e dar mais voz ao movimento estudantil. “O Jornal A Verdade está cada vez mais presente no cotidiano das escolas e universidades. Cada jovem precisa organizar brigada em suas escolas, porque isso faz com que possamos ler sobre outros exemplos de luta do país inteiro, além de fortalecer a imprensa popular que ao contrário da grande mídia não criminaliza o Movimento Estudantil, e sim o apoia!” diz Letícia.
A atividade foi encerrada com o lançamento da campanha de recrutamento Sarah Domingues, para crescer ainda mais a atuação de jovens revolucionários na luta pelo socialismo, seguindo a luta de nossa camarada brutalmente assassinada.
A UFRJ hoje não tem orçamento para pagar as contas sequer do primeiro semestre. As assembleias puxadas pelo DCE em quatro campi aprovaram a construção de comitês locais de luta pela recomposição orçamentária.
Thiago Braile | Rio de Janeiro (RJ)*
Na última quarta-feira (27) o Diretório Central dos Estudantes Mario Prata da UFRJ realizou assembleias em quatro campi para pautar a situação orçamentária, as lutas locais e a greve na UFRJ. Nas quatro assembleias, acontecendo nos campi Fundão, Praia Vermelha, IFCS-IH e em Macaé, centenas de estudantes, mesmo em locais diferentes da universidade, posicionaram-se em apoio da greve dos trabalhadores técnicos administrativos em educação e a favor da construção de uma jornada de lutas pela recomposição orçamentária, através de comitês locais.
Ainda estão para acontecer as assembleias do campus de Duque de Caxias na segunda-feira (01/04), que será realizada online – devido à falta de aulas no campus em apoio ao pagamento dos salários atrasados dos trabalhadores terceirizados – e da Faculdade Nacional de Direito na terça-feira.
Situação orçamentária
A UFRJ, maior universidade federal do país, tem problemas orçamentários que não são de hoje. Os problemas estruturais que hoje mais se fazem sentir na universidade são, na verdade, precariedades antigas e nunca resolvidas. Com o passar das décadas sem reformas, o que era ruim e arriscado se tornou terrível e perigoso, como mostram o caso do Pamplonão da Escola de Belas Artes – hoje interditado por problemas estruturais – e a situação do prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais e do Instituto de História que necessita de reforma elétrica e estrutural – onde, no ano passado, um ventilador caiu no meio de uma aula e um princípio de incêndio aconteceu em outra aula.
Não bastasse o descaso histórico dos governos do nosso país com a educação pública, os últimos dez anos, principalmente os anos dos governos de Temer e do fascista Bolsonaro, foram de muito sofrimento para a UFRJ. No entanto, mesmo no governo de Lula, que se elegeu com a promessa de que a educação seria prioridade, seguimos sem qualquer perspectiva de uma real recomposição orçamentária.
A reitoria da UFRJ já apresentou que com o orçamento do ano de 2024, não conseguirá pagar sequer todas as contas de funcionamento do primeiro semestre. Informa, também, que para fechar o ano com todas as contas pagas necessitaria de um suplemento de 176 milhões de reais e para custear as muitas obras emergenciais da universidade seria necessário o valor de 567 milhões de reais. Isto é, faltam 743 milhões de reais no orçamento da universidade para que ela funcione com água corrente nos banheiros e bebedouros, com luzes e ventiladores funcionando e com todos seus funcionários sendo pagos por seu trabalho. Falta essa verba, também, para que ninguém do corpo universitário, dos estudantes aos trabalhadores, corra risco de vida dentro dos campi, exercendo suas funções.
A mobilização avança
Diante desse cenário, é natural que surjam lutas para mudar essa situação. Além da greve dos técnicos administrativos pela recomposição salarial, os estudantes também vêm tocando lutas importantes nesse sentido.
Seja os estudantes dos cursos de Letras ou do campus de Duque de Caxias que tocaram diversos atos e mobilizações pressionando pelo pagamento do salário dos trabalhadores terceirizados e a volta de suas aulas, ou mesmo os estudantes da Escola de Belas Artes que decidiram em assembleia pela ocupação do antigo salão nobre da reitoria para substituir as atividades que tinham no Pamplonão, hoje interditado sem previsão de obras e retorno de atividades. Essas lutas refletem a elevação da consciência política dos estudantes da UFRJ com a compreensão de que só a luta muda a vida.
No entanto, com a situação atual da universidade, essas lutas são só o primeiro passo. Para alçar mobilizações cada vez mais amplas e participativas, as quatro assembleias ocorridas pela UFRJ na última semana decidiram pela adesão à construção de comitês locais. Esses comitês, organizados em cada prédio e instituto da universidade, irão pautar em suas reuniões as mobilizações específicas do local para denunciar a precariedade que vivemos e lutar pela recomposição do orçamento público da educação.
É hora de reerguer a UFRJ!
*Estudante de História e diretor do DCE Mario Prata da UFRJ
Com uma presença massiva da classe trabalhadora nas diversas manifestações do 8 de março espalhadas por todo o país. Apesar das importantes lutas nacionais, o apoio às diversas lutas internacionais ocupava enormes proporções nos cortejos. Contamos com movimentos e coletivos de apoio às mulheres palestinas, afegãs, curdas, iranianas, turcas e latino-americanas.
Diogo Pereira | Paris, França
MULHERES – No dia 8 de março, centenas de milhares de trabalhadores protestaram por toda França na ocasião do dia internacional dos direitos da mulher. Um conjunto composto de várias dezenas de organizações, coletivos, sindicatos e partidos de esquerda convocaram manifestações em toda a França sob o nome “Greve feminista”.
A chamada do movimento contava com lutas:
Solidariedade com as mulheres do mundo todo principalmente com aquelas que se encontram em contexto de guerra;
Oposição às políticas reacionárias e à extrema-direita como um todo, seguido da palavra de ordem: Revogação da lei de imigração (lei aprovada no final do ano de 2023 que precariza como nunca a situação de vários imigrantes) e regularização de todos os não-documentados;
Aumento de salários e de todos os auxílios sociais e construção massiva de moradias sociais;
Revogação da reforma da previdência que estende a idade mínima de aposentadoria e penaliza desempregados;
Criação de serviços públicos dedicados à pequena infância e à perda de autonomia;
Um real financiamento às lutas contra violências sexistas, sexuais e contra a discriminação da população LGBTQIA+ e PCD.
Esse 8 de março se realiza durante um contexto político altamente turbulento na França. O presidente Emmanuel Macron anunciou no começo do ano que, diante da baixa natalidade do país nos últimos anos, era necessário preparar um pacote de medidas para um “rearmamento demográfico”.A escolha de um vocabulário bélico não foi à toa, pois, desde então, a França anunciou um aumento de engajamento no conflito ucraniano, incluindo a possibilidade de enviar tropas francesas no terreno e continua com um posicionamento tímido diante do massacre da população em Gaza pelo Estado Sionista de Israel.
Alguns dias antes do 8 de março, o governo decretou uma emenda constitucional que foi midiatizada como “Aborto, um direito constitucional francês”, uma estratégia visando uma certa conciliação com a esquerda. Porém, é importante relembrar a mídia burguesa que a tal emenda não garante direito algum, ela somente reafirma que o aborto não é criminalizado na França. As únicas ações que o governo tomou nos últimos anos em relação ao aborto foi o fechamento de clinicas[1] e garantir a ausência de financiamento para a formação de profissionais da saúde na questão.
Como resultado tivemos uma presença massiva da classe trabalhadora nas diversas manifestações do 8 de março espalhadas por todo o país. Apesar das importantes lutas nacionais, o apoio às diversas lutas internacionais ocupava enormes proporções nos cortejos. Contamos com movimentos e coletivos de apoio às mulheres palestinas, afegãs, curdas, iranianas, turcas e latino-americanas.
O caráter internacional dessas lutas demonstra que, apesar das diferenças políticas, culturais e geográficas, o capitalismo segue agindo da mesma maneira mundo afora e somente a união e combate da classe trabalhadora pode por um fim a esse regime avassalador.
No último dia 27, a Unirio realizou mais uma sessão de seu Conselho Universitário, aprovou, após manifestação do Diretório Central dos Estudantes, em conjunto com o Diretório Acadêmico Wilma Mello e diversos estudantes, exigindo memória, verdade, justiça e reparação, realizou a diplomação póstuma de Lúcia Maria de Souza, Elmo Corrêa e Luiz Renê Silveira e Silva, da antiga Escola de Medicina e Cirurgia, que tombaram lutando na Guerrilha do Araguaia e não puderam concluir seu curso.
Lunna Normande e Matheus Travassos | Rio de Janeiro
BRASIL – No último dia 27, a Universidade Federal do estado do Rio de Janeiro realizou mais uma sessão de seu Conselho Universitário. Após o ínicio do conselho o DCE Lúcia Maria de Souza em conjunto ao Diretório Acadêmico Wilma Mello e diversos estudantes estavam em ato exigindo memória, verdade, justiça e reparação, punição exemplar a todos os torturadores e envolvidos com o golpe fascista de 1964, em descomemoração aos seus 60 anos, que acontecem no dia 1° de abril.
Após uma performance organizada pelos estudantes, na qual tinham como personagens os 3 estudantes da Unirio assinados pela ditadura militar Elmo Correa, Luiz René Silveira e Silva e Lucia Maria de Souza, na qual comoveu todo o conjunto de conselheiros, o ato seguiu com a leitura de uma carta pelos diretores do DCE. Além de denunciar a colaboração da instituição com o regime (através de seus reitores, docentes e técnicos e discentes), exigiu a Diplomação Póstuma de Lúcia Maria de Souza, Elmo Corrêa e Luiz Renê Silveira e Silva, da antiga escola de medicina e cirurgia, que tombaram lutando na Guerrilha do Araguaia e não puderam concluir seu curso.
A carta exigia também a concessão de título de Doutor Honoris Causa a Edival Nunes da Silva, o “Cajá”, estudante de Ciências Sociais da UFPE, um dos últimos presos políticos da Ditadura Militar Fascista. Cajá foi solto graças a mobilização do Movimento Estudantil, conseguindo na época deflagrar uma greve geral, que começou em seu curso e comoveu todo o Brasil, chegando até o sul e denunciando as violações de direitos humanos internacionalmente.
Ao fim da leitura da carta, os conselheiros estudantis solicitaram que a pauta fosse aprovada e aclamada pelo Conselho Universitário, que aprovou todos os 3 itens por unanimidade, com aplausos de pé.
Manifestação no Conselho Universitário da Unirio no último dia 27 de março. Foto: DCE-UNIRIO
Uma comoção tomou conta do espaço. É a primeira vez em toda a sua história que a Unirio se levanta para apurar esses casos, logo após uma era sombria de intervenção na universidade articulada pelo antigo governo do fascista Bolsonaro.
“A gente não pode se iludir achando que o fascismo acabou. [….] O que aconteceu há 4 anos atrás não foi mera coincidência com o fato de que até hoje os torturadores, os que corroboraram e corroboram hoje com discursos fascistas permanecerem impunes. Hoje, por exemplo, a Polícia Militar utiliza técnicas de tortura que foram aprendidas durante a Ditadura Militar, a luta do movimento estudantil é para que aas universidades tenham sua autonomia universitária e o fim da lista tríplice para que não se ocorra o obscurantismo que ocorreu nos últimos 4 anos dentro da UNIRIO com interventor aliado de Bolsonaro” relatou um dos diretores do DCE ao fim da aprovação da pauta.
Hoje a universidade faz uma demarcação política contra o avanço dos discursos de ódio no Brasil e no mundo. A luta contra esses agentes em nossos espaços e a disputa política com os setores da sociedade são partes importantes da luta para varrer o fascismo dos espaços que ele ainda permanece.
A UNIRIO a partir da pressão estudantil poderá se tornar uma referência na luta por memória verdade, justiça e reparação mostrando o verdadeiro caráter de todas as homenagens feitas em placas, faixas e salas que nomeiam torturadores e suas famílias, urge a necessidade da troca do nome da praça em frente da universidade que leva o nome do irmão do último ditador e fundador da UNIRIO Guilherme Figueiredo.
Há dez anos, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) apresentou 29 recomendações, que deveriam se constituir como políticas públicas para assegurar o direito por memória e verdade em relação às vítimas da Ditadura. O atual governo do PT, no entanto, mesmo após um ano e três meses de ter tomado posse, ainda não reorganizou a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, criada em 1995 e extinta por Bolsonaro alguns dias antes de Lula tomar posse.
Redação
BRASIL – No dia 1º de abril de 1964, generais fascistas, apoiados por uma esquadra de navios de guerra estadunidenses, destituíram o presidente João Goulart e tomaram o poder. Após isso, impuseram ao país 21 anos de torturas, assassinatos, genocídio e ataque aos direitos dos trabalhadores.
Ninguém podia votar para presidente, governador ou prefeito. Partidos políticos foram fechados, jornais censurados, trabalhadores demitidos ou presos simplesmente por fazerem greve por melhores salários. Comunistas, revolucionários e patriotas foram presos, torturados e assassinados.
Ainda assim, com tantos crimes, até hoje o Estado brasileiro não adotou nenhuma atitude concreta para punir os criminosos fascistas, fossem militares ou civis.
Há dez anos, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) apresentou 29 recomendações, que deveriam se constituir como políticas públicas para assegurar o direito por memória e verdade em relação às vítimas da Ditadura. O atual governo do PT, no entanto, mesmo após um ano e três meses de ter tomado posse, ainda não reorganizou a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, criada em 1995 e extinta por Bolsonaro alguns dias antes de Lula tomar posse.
Pior foi a postura do presidente Lula em dois momentos recentes. Primeiro, em entrevista à RedeTV, ele afirmou que “não podemos remoer o passado” e que está preocupado com o futuro do Brasil, lavando as mãos em relação à impunidade dos crimes da Ditadura. Depois, ele ordenou que os órgãos do Governo Federal se abstenham de realizar qualquer ato que critique a Ditadura no contexto dos 60 anos do Golpe de 1964. Esta medida foi combinada com o Alto Comando das Forças Armadas e o ministro da Defesa, o reacionário José Múcio, amigo de Bolsonaro.
Ora, o povo brasileiro foi submetido a 21 anos de tirania, que inspirou e orientou o governo do fascista Bolsonaro por quatro anos e que levou à tentativa de golpe de 08 de janeiro de 2023. Fica, então, a pergunta: por que tanta covardia e conciliação com os generais fascistas?
Revolta entre vítimas da Ditadura e familiares
A Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia – que reúne dezenas de entidades e militantes dos direitos humanos – lançou uma nota sobre a declaração de Lula na TV: “Repudiar veementemente o golpe é uma forma de reafirmar o compromisso de punir os golpes também do presente e eventuais tentativas futuras. (…) Falar sobre 1964 é falar sobre os projetos autoritários e elitistas da sociedade, que continuam ameaçando a possibilidade de o Brasil se afirmar como um país soberano, capaz de produzir desenvolvimento econômico e socioambiental com inclusão e democracia. É, portanto, falar sobre o futuro”, diz nota divulgada pela entidade.
Leo Alves, que é neto de um desaparecido político – Mário Alves de Souza Vieira, que foi dirigente do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), afirmou que os parentes insistirão com o Governo pela volta da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, e que recebeu com profunda indignação a declaração. “Estamos organizados em dezenas de entidades de direitos humanos para seguir nessa luta. (…) Não podemos negociar com direitos conquistados. Lula está diminuindo a relevância histórica do que representou o Golpe de 64, na véspera de completar 60 anos”.
Em entrevista ao ICL Notícias, Suzana Lisboa, ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) e vítima da Ditadura, chamou de “vergonhosa” a posição do governo. “Queremos justiça quanto àqueles que torturaram, que vazaram os olhos, que arrancaram cabeças, que esconderam os corpos e que nos torturam até hoje com essa dúvida. Eu sou uma das pouquíssimas que teve a sorte de achar o seu desaparecido, eu tenho um túmulo para prantear. Centenas de familiares não têm. Ele (Lula) não sabe o que é isso. Eu estou engasgada com essa decisão”.
Para Paulo César Ribeiro, membro do Coletivo Memória, Verdade, Justiça e Reparação – RJ e da TV Resistência Contemporânea, “o governo atual é uma frente ampla, amplíssima, que tem um ministro da Defesa que é representante das direções das Forças Armadas, e não um representante das forças progressistas e democráticas frente às Forças Armadas”. E afirma: “Durante os Governos Lula e Dilma, conseguimos alguns avanços nas lutas por Memória, Verdade, Justiça e Reparação, mas ainda restam muitas reivindicações não atendidas: abertura dos arquivos da ditadura, apuração dos crimes cometidos, com responsabilização e punição dos culpados pelas graves violações dos Direitos Humanos cometidos durante a ditadura”. Ele lembra ainda que o Poder Judiciário e o Parlamento, até hoje, também empurram para debaixo do tapete a pauta de justiça e reparação às vítimas dos crimes da Ditadura.
“Demorar ou não assumir compromisso de reabrir a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos, por exemplo, é um sintoma de que essa frente ampla exige do presidente Lula muita conciliação. No Parlamento, no Executivo e no Judiciário, assim como na mídia das grandes empresas, as forças conservadoras, reacionárias e mesmo de extrema-direita conseguem ameaçar constantemente o governo. O STF não fez a reinterpretação da Lei da Anistia para considerar que tortura e desaparecimento forçado são crimes inafiançáveis e imprescritíveis”, afirma Paulo César.
Mobilização popular
Apesar da decisão do Governo Lula em não realizar atos de repúdio ao Golpe de 1964, movimentos sociais, partidos políticos de esquerda e sindicatos mantiveram a convocação de manifestações em repúdio à Ditadura Militar Fascista. São mobilizações como estas a única alternativa que dará condições para que a pauta de Memória, Verdade, Justiça e Reparação seja, de fato, efetivada no país.
O maior exemplo é a própria revogação da Lei de Segurança Nacional. O fim desta lei, que era uma das recomendações da Comissão Nacional da Verdade, só foi cumprida enquanto o país vivia mobilizações que levavam milhões de pessoas às ruas contra o fascista Bolsonaro, em 2021.
Essa avaliação também é reforçada por Paulo Cesar Ribeiro. Para ele, é necessário que os movimentos populares e organizações de esquerda retomem as mobilizações sobre a pauta. Ele relembra ainda que o país não passou por uma Justiça de Transição, como na Argentina, onde os militares foram presos e condenados pelos crimes cometidos na ditadura argentina.
“Colocaria uma questão: ‘Como se conseguir uma Justiça de Transição’? Mudando a correlação de forças. As forças populares precisam ir além, muito além das lutas institucionais que os partidos com representação parlamentar fazem atualmente. As eleições são importantes, mas precisamos de um movimento popular mais forte nos campos e nas cidades. Precisamos de um poder popular que, além de eleger representantes para os espaços de poder institucionais, consigam, de fato, conquistar a hegemonia”, afirma Paulo César.
A luta por justiça, pela abertura dos arquivos da Ditadura, mais que uma pauta sobre o passado, é um enfrentamento do presente e do futuro. O fato de o país não ter acertado contas com o passado ditatorial é um dos fatores que dá condições a fascistas como Bolsonaro surgirem e tentarem novos golpes militares no país.
Matéria publicada na edição nº 288 do Jornal A Verdade.
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