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sábado, 13 de setembro de 2025
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Israel quer expulsar palestinos para anexar Gaza

Igual a Hitler, os assassinos do povo palestino pensam que é possível exterminar um povo e destruir uma nação. O mesmo a Alemanha nazista achou que faria com a União Soviética. Não perdem por esperar. A violência que hoje cai sobre o povo palestino, a fome que mata crianças, as toneladas de bombas despejadas diariamente nas suas terras, tudo isso são os adubos de novas intifadas do povo palestino e de um amanhã sem opressão e exploração da burguesia israelense e mundial.

Luiz Falcão | Comitê Central do PCR e diretor de redação do JAV


EDITORIAL – Em cinco meses, o Exército de Israel lançou mais de 45 mil bombas, o equivalente a 65 mil toneladas de explosivos, sobre 2,3 milhões de palestinos que vivem na Faixa de Gaza, região com 41 km de comprimento e 10 km de largura. De acordo com especialistas ouvidos pela Agência Prensa Latina, essa quantidade de explosivos é quase a mesma das duas bombas nucleares lançadas pelos EUA sobre Hiroshina e Nagasaki, no Japão, em 1945. Em um único dia, 10 de março, véspera do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, Israel realizou 60 bombardeios noturnos sobre as tendas dos deslocados na cidade de Rafah, sul de Gaza, matando 85 pessoas. No total, 32 mil palestinos já foram mortos e mais de 70 mil estão mutilados e feridos. 

Esta barbárie está retratada nas imagens de crateras, na destruição de prédios, hospitais, escolas e até instalações da ONU. De fato, a Organização Mundial de Saúde (OMS) calculou que 80% de toda a infraestrutura civil de Gaza foi destruída e o jornal britânico The Guardian divulgou, no dia 04 de março, que apenas num raio de 10 km contabilizou mais de mil crateras. 

Vale salientar que a maior parte dos bombardeios são em áreas civis, pois mais da metade das bombas lançadas por Israel não são guiadas, o que significa que têm pouca precisão e produz uma destruição massiva. 

Esse horror promovido por Israel foi denunciado por Volker Turk, Alto Comissário do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU): “Pelo menos 17 mil crianças ficaram órfãs ou foram separadas de suas famílias e muitas outras carregarão cicatrizes do trauma físico ou emocional por toda a vida. Há dezenas de milhares de pessoas desaparecidas, muitas delas supostamente enterradas sob os escombros de suas casas. Isso é uma carnificina” (UOL, 29/02/2024).

Dois milhões ameaçados de morrer de fome 

Controlando mais de 2/3 do território e realizando ataques diários, Israel tem impedido o fornecimento de medicamentos, de combustível e a entrada de alimentos em Gaza. Sem comida, a ONU alertou que mais de dois milhões de pessoas estão ameaçadas de morrer de fome. Exames realizados por agências da ONU comprovaram que uma em cada seis crianças com menos de dois anos estava gravemente desnutrida. Apenas nos últimos dias, o Ministério da Saúde de Gaza comunicou a morte de 18 crianças em decorrência de desnutrição. No momento, nem leite ou qualquer fórmula para garantir alimento às crianças recém-nascidas é encontrado em Gaza, o que leva os bebês a rapidamente ficarem desidratados e desnutridos. 

A médica Samia Abdel Jalil, que trabalha na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Kamal Adwan, um dos poucos que ainda estão de pé, relatou em entrevista à Gaza Lifeline a morte de uma menina no hospital com poucos dias de diferença da irmã mais velha: “Ela morreu sem receber sua pequena dose de leite. Tivemos dificuldade de conseguir leite para todo o departamento”. 

Outro caso relatado foi o de Salah Samara, um bebê de quatro meses, que desidratado, sofre com retenção urinária e doença renal. Sua mãe chorou ao falar do filho à imprensa: “Meu coração sofre muito por causa do que está acontecendo com ele. É muito difícil você ver seu filho chorando todos os dias por não conseguir urinar e os médicos não serem capazes de ajudá-lo. Ele tem direito a receber tratamento e tem direito a todo o resto, em virtude de ser uma criança no início da vida”.

Já o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) informou que nove em cada dez crianças menores de cinco anos adoeceram nas últimas semanas e, caso a guerra continue, o número de crianças morrendo de fome ou por falta de medicamentos será desesperador. (BBC,7/03/24)

Não bastasse, 17 mil dos civis mortos pelas armas israelenses são crianças. Portanto, além de um genocídio, Israel promove na Palestina um verdadeiro infanticídio.

A falta de comida e de medicamentos em Gaza levou vários países a jogarem cargas com alimentos por aviões. Assim, durante o dia, os palestinos veem no céu paraquedas abrirem com cargas de alimentos. Quando a noite chega, é hora de procurar um abrigo, pois os aviões de Israel vão despejar centenas de bombas. 

Os EUA são o maior exemplo dessa hipocrisia. No dia 1º de março, enviaram aviões para lançar kits de água e comida, porém, desde outubro já entregou mais de 5.400 bombas MK-84 a Israel. Daí a indignação dos palestinos com a falsidade de Joe Biden, presidente dos EUA, como expressou Hassan Masha, um refugiado na cidade de Rafah: “Todas essas armas estadunidenses estão matando os nossos filhos. Não necessitamos da ajuda deles. Necessitamos que deixem de nos matar” (La Jornada, 8/3/24).

As mentiras de Israel para anexar Gaza

Para enganar a humanidade, o ditador Benjamin Netanyahu diz que a guerra contra o povo palestino é para exterminar o Hamas e libertar 130 reféns. Os grandes meios de comunicação da burguesia exibem suas reportagens na TV tentando esconder as atrocidades de Israel e repetindo incansavelmente que o Hamas é um grupo terrorista que matou 1.130 civis. Já Israel, que invadiu Gaza com tanques e escavadeiras, despejou 45 mil bombas e assassinou 32 mil palestinos, essa imprensa diz que age em legítima defesa. Lembram a perseguição de Hitler aos judeus e o êxodo no Egito. Ora, o holocausto não pode ser licença para exterminar um povo e roubar suas terras. Mais: se o Hamas detém injustamente 130 israelenses, Israel, com base no que chama de “detenção administrativa”, tem 7.000 palestinos em suas prisões. 

Nenhuma mentira se sustenta em pé. O insuspeito jornal norte-americano The New York Times (NYT), em 1º de dezembro de 2023, informou que as autoridades israelenses sabiam que o Hamas realizaria um ataque a Israel, mas preferiram esconder a informação da opinião pública e não fazer qualquer ação preventiva. Entretanto, dez dias após o ataque do Hamas, Israel começou a pôr em prática uma operação de limpeza étnica em Gaza baseada no relatório “Plano de reassentamento e reabilitação final de toda a população de Gaza no Egito: aspectos econômicos”.  Este relatório, escrito em hebraico e elaborado pelo Instituto de Segurança Nacional e Estratégia Sionista (MISGAV), foi coordenado pelo Ministério da Inteligência Israelense e veio a público pela primeira vez em 17 de outubro.

O “Plano de reassentamento e reabilitação final”, como o próprio nome indica, tem como objetivo forçar o êxodo dos palestinos para o Egito, e estabelece três etapas: “Transferir, Expulsar e Reassentar”, que estão em total correspondência com as ações implementadas pelo Governo de Israel na guerra contra o povo palestino.

A primeira etapa é a transferência forçada de toda a população do norte de Gaza para o extremo sul em duas fases: a evacuação de um milhão de civis da região Norte de Gaza para Kham Younis, no sul. Em seguida, a transferência forçada de todos os palestinos que estavam em Khan Younis para o extremo sul da cidade de Rafah. No momento, mais de 2,3 milhões de palestinos estão vivendo em cidades-tendas que são designadas pelos jornalistas que lá estiveram de “abismo humanitário”. Pois bem, ambas as “transferências” já foram realizadas debaixo de bombardeios diários e avanços dos tanques israelenses.

A segunda etapa do plano é a expulsão dos palestinos de Gaza para o Egito. Esta segunda etapa já começou com os bombardeios no dia 10 de março sobre as cidades-tendas localizadas em Rafah, cidade que faz fronteira com o Egito.  No dia 15 de março, Netanyahu aprovou o plano do Exército de Israel para continuar com os bombardeios, invadir Rafah e manteve a proibição de qualquer ajuda humanitária aos palestinos, de forma a matá-los de fome e de sede. Com o nome de “corredor humanitário”, o plano estabelece que a transferência forçada de três milhões de palestinos para o Egito será feita sob a supervisão da ONU, a mesma que Israel diz ser um órgão a serviço do terrorismo. 

A terceira e última etapa do plano é a construção de “cidades-satélites” numa zona estéril localizada no norte do Egito. Este moderno campo de concentração seria cercado por um gigantesco muro para impedir que os palestinos retornem a sua pátria. Essa etapa seria financiada pelos Estados Unidos, Canadá, Israel e União Europeia.

Sem nenhum palestino na Faixa de Gaza e com as Forças de Defesa de Israel dominando inteiramente a região, Gaza seria anexada ao Estado de Israel, que ampliaria, mais uma vez, suas fronteiras. Pois bem, no dia 31 de outubro, o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, “o carniceiro de Gaza”, reconheceu que o relatório foi elaborado por um Ministério do seu governo e que prevê a transferência de milhões de habitantes de Gaza. Ora, se 2,3 milhões de palestinos serão transferidos de Gaza, para onde irão? Para Israel? Para o Egito? Ou serão exterminados?

De fato, até 2023, existiam 700 mil colonos israelenses vivendo em mais de 300 assentamentos no território palestino da Cisjordânia. Em 2024, o Governo de Israel aprovou a construção de 18.515 novas unidades habitacionais para novos colonos em terras roubadas dos palestinos, como comemorou o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich no Twitter: “Continuaremos a construir o país: 18.515 aprovações este ano!” (CNN, 6/03/2024).

Em entrevista ao jornal O Globo, Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os Direitos Humanos nos Territórios Palestinos Ocupados, denunciou assim o que está ocorrendo na Faixa de Gaza: “Agora essas pessoas (os palestinos) não têm nenhum lugar para onde ir, a não ser o Sinai. Por que Israel não permite que elas voltem para o norte, para suas casas? Por que elas têm que ser empurradas para a fronteira de Rafah? Está muito claro que Israel está empurrando os palestinos cada vez mais para o sul, para que eles possam se tornar refugiados no Egito, o que é um absurdo. A História dos palestinos é a de um povo deslocado à força desde 1947. Mas o fato de isso acontecer em 2023, sob vigilância de todos, é chocante” (O Globo, 10/12/2023).

A palestina derrotará a tirania

Mas se enganam os que pensam que a selvageria de Israel contra o povo palestino terá êxito ou ficará impune.  Embora haja uma enorme desproporção de forças, o avanço do Exército de Israel por terra tem encontrado dura resistência dos palestinos. Em Tel Aviv e em várias cidades israelenses, milhares de pessoas têm ido às ruas exigir o fim do massacre, a retirada das tropas de Gaza e a libertação dos reféns. Na manifestação do dia 02 de março, além das bandeiras do país, os manifestantes carregavam faixas com a frase “Acordo é a única solução”; “Judeus e Árabes se recusam a ser inimigos” e gritavam “Eleições já!” e “Que vergonha para o Governo”. 

Até agora, cerca de 50 nações se manifestaram contra o plano de Israel de anexar Gaza e expulsar os palestinos de suas terras. Também a Corte Internacional de Justiça (CIJ) e a Corte de Haia vêm realizando, há dois meses, audiências para apurar a denúncia feita pelo Governo da África do Sul e apoiada por vários países (Turquia, Brasil, Colômbia, Paquistão, Liga Árabe (bloco com 22 nações), de que Israel está descumprindo a Convenção Internacional contra o Genocídio e planeja colonizar as terras palestinas. 

Mas isso não é tudo. Os covardes e criminosos bombardeios e a invasão de Gaza pelas tropas de Israel, o assassinato de mais de 32 mil pessoas e, em particular, de 17 mil crianças, são mais uma comprovação de que o desenvolvimento do capitalismo e a dominação da economia mundial pelos monopólios e pelo capital financeiro não acabou com as guerras nem tornou o mundo menos violento. Tampouco pôs fim ao colonialismo, à opressão e à escravização de povos e nações. Muito pelo contrário, o que Israel realiza na Palestina é o que a França, o Reino Unido, a Espanha, Portugal, os Estados Unidos, o Japão, a China e a Rússia promoveram e implementaram na África, na América Latina e na Ásia: reprimir violentamente um povo para depois escravizá-lo e saquear suas riquezas. A guerra na Ucrânia, a invasão do Afeganistão, do Iraque, e, agora, a matança do povo palestino revelam que o objetivo dos países imperialistas continua sendo estabelecer governos títeres e fantoches nos países menos desenvolvidos para que as grandes companhias capitalistas obtenham lucros extraordinários à custa do sangue de inocentes.  

Igual a Hitler, os assassinos do povo palestino pensam que é possível exterminar um povo e destruir uma nação. O mesmo a Alemanha nazista achou que faria com a União Soviética. Não perdem por esperar. A violência que hoje cai sobre o povo palestino, a fome que mata crianças, as toneladas de bombas despejadas diariamente nas suas terras, tudo isso são os adubos de novas intifadas do povo palestino e de um amanhã sem opressão e exploração da burguesia israelense e mundial.

Editorial publicado na edição nº 288 do Jornal A Verdade.

A luta dos estudantes do Colégio Estadual André Maurois contra a Ditadura Militar

No combate à Ditadura Militar Fascista (1964-1985), o movimento estudantil cumpriu um papel fundamental. No Rio de Janeiro, junto do CAp UFRJ, o Colégio Pedro II e o CE Visconde de Cairu, o Colégio Estadual André Maurois foi um dos principais polos de resistência secundarista.

Gabriel Puga | Rio de Janeiro


LUTAS DO POVO – O Colégio Estadual André Maurois foi fundado em 1965 e, já no primeiro ano de sua fundação, os alunos se organizaram para formar um grêmio e realizar atividades culturais. 

Na primeira disputa para o grêmio estudantil, participaram duas chapas e, ainda durante a campanha, foi criado o cineclube Kanal. Após a eleição, a chapa perdedora se juntou à vencedora na construção do Movimento Estudantil na escola, em clima de unidade.

O cineclube Kanal, que tinha esse nome em homenagem ao canal que passa na frente da escola, foi presidido por Silvio Darin, que se tornaria depois um dos principais documentaristas brasileiros, e chegou a atrair o público externo, aparecendo na página de cinema dos jornais O Globo e Jornal do Brasil. Antes de Silvio, o presidente era o amigo dele Alan Albuquerque.

Alan deixou o cargo quando foi eleito presidente da AMES Rio (Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas), em 1966. Na época, aquela era uma entidade estudantil forte e reconhecida pelos estudantes de todo o município. Uma das principais organizações estudantis no combate à Ditadura, a AMES passou os últimos anos no imobilismo, mas foi resgatada à luta em seu último congresso, realizado no final de 2022.

Além de Alan, Jaime Cardoso, um dos vice-presidentes da AMES também estudava na escola, o que mostra o protagonismo que desempenhava o CEAM nas lutas estudantis da cidade. Na gestão seguinte, o vice-presidente também era um estudante da escola.

O cotidiano do colégio

A primeira diretora do colégio foi Henriette Amado, que era professora de latim por formação e apaixonada por educação. O modelo que implantou na escola era muito menos rígido do que o modelo empresarial-militar da Ditadura, o que criou uma atmosfera de liberdade na escola.

Os alunos não tinham medo de se posicionar. Na escola, havia os militantes organizados na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e na Ação Popular (AP), que eram os mais engajados na construção da AMES Rio.  Vários desses militantes, inclusive, foram mais tarde para a luta armada contra a Ditadura Militar Fascista.

Apesar das disputas que existiam entre as duas organizações, conviviam no colégio as diferentes palavras de ordem, faixas e o ME era conhecido por todos os estudantes do CEAM.

Naquele tempo, mesmo sendo estadual, a escola era mais elitizada do que hoje e boa parte dos alunos era de classe média. No entanto, isso não impedia que participassem da luta junto aos estudantes pobres.

Foto de página do jornal Correio da Manhã em que mostra a mobilização dos estudantes do CE André Maurois em setembro de 1967. Foto: reprodução

A ditadura persegue o CEAM

O Decreto-Lei n. 477 de 1967 do governo militar obrigava os diretores de escolas e universidades a denunciar alunos que fumassem maconha ou participassem de movimentos subversivos. 

Em 1970, após perceber que alguns alunos estavam fumando maconha, a diretora resolveu fazer uma experiência, com apoio das equipes de ciência e biologia, em que aplicava drogas em ratos e mostrava os efeitos ao longo dos dias. O objetivo era o de gerar um debate sobre os malefícios da droga. A imprensa noticiou como se Henriette estivesse incentivando o uso de drogas na escola e a polícia partiu para cima.

Foi o pretexto que o governo fascista precisava para atacar o colégio. Em 1971, dezenas de policiais com camburões cercaram a escola e prenderam Henriette. 

Esse ataque não foi o primeiro que ela sofreu. Em 1967, a diretora foi alvo de uma grande campanha de difamação e mais de dois mil alunos da escola, que tinha 2500 matriculados, se manifestaram em apoio a Henriette, depois de forte mobilização do ME. Na escola, as manifestações eram uma forma comum de os alunos se expressarem.

Em 1968, a semana da chamada “Sexta-feira Sangrenta”, episódio de repressão policial aos estudantes que aconteceu pouco antes da Passeata dos Cem Mil, começou na segunda-feira. Naquele dia 17 de junho, os estudantes do CEAM organizaram uma grande manifestação, que repercutiu em todo o estado. Naquele dia, a Polícia Militar do Rio de Janeiro tentava invadir a escola para prender “alunos extremistas”.

A voz do CEAM não se cala!

Naquela época o Movimento Estudantil exercia um papel importantíssimo no desgaste da Ditadura Militar Fascista, e por isso era tão perseguido. Hoje, o ME ainda tem grandes enfrentamentos a fazer e continua formando centenas de lutadores sociais. No CE André Maurois não é diferente. 

Em setembro de 2022, foi reconstruído o Grêmio Estudantil Henriette Amado do CE André Maurois e eleita a chapa União Revolucionária Estudantil. No final de 2023, a gestão, construída por estudantes do Movimento Rebele-se e independentes, foi reeleita com mais de 70% dos votos.

Renan Hoche, 18 anos, fez parte da reorganização do grêmio e integra hoje a diretoria da AMES Rio. Ele conta que “A luta na escola nunca parou: só teve algumas pausas. O CEAM foi um dos principais colégios ocupados em 2016. Durante a pandemia o ME na escola ficou mais enfraquecido, mas depois voltou com bastante força. Reconstruímos o grêmio e desde então já conseguimos ter várias conquistas dentro da escola. No momento, nossa principal luta é pela revogação do Novo Ensino Médio.”

Mostra Coletiva de Arte Urbana é interrompida pela Polícia Militar no Recife

Na noite de quarta-feira (27), artistas e coletivos que realizavam a Mostra Coletiva de Arte Urbana no centro do Recife denunciaram a atuação desmedida da Polícia Militar de Pernambuco. Segundo denúncias, os policiais chegaram ao local com armamento pesado e apreendeu os materiais.

Jesse Lisboa | Redação PE


A Mostra Coletiva de Arte Urbana reuniu cerca de 100 pessoas e estava sendo realizada na Rua Ulhôa Cintra, no bairro de Santo Antônio. Cinco viaturas da PM chegaram ao local e interromperam o evento sem qualquer justificativa. A galeria e coletivo Cordalama que promovia o evento foi invadida pelos policiais, que não apresentaram mandado. Funcionários e clientes foram obrigados a deixar o estabelecimento e passaram pela abordagem policial na rua.

Segundo denúncias, a polícia foi acionada porque os artistas estavam “pixando” o local. Porém, os artistas alegam que os prédios, além de abandonados, já estavam pixados há muito tempo. 

Em nota de repúdio, os artistas destacam que “[os policiais] mostraram aquele despreparo típico da polícia quando se depara com a cultura negra, isso é histórico no nosso país, o funk, o brega, a capoeira, o maracatu, o afoxé já viveu e vive isso!”. A nota foi assinada por Cor da Lama, Coletivo Pão e Tinta, Pixe Girls, Point Bomb Recife, Px Produtora, Kalunga Project, ColetivaS, Cores Femininas, Kardume, Osmo Crew.

Ainda segundo a nota, publicada no Instagram, os artistas destacam que “os movimentos que assinam essa nota consideram isso violência patrimonial vinda direto do Estado! Queremos nosso material de trabalho de volta!”.

Mesmo após a interrupção do evento pelos policiais militares, o evento continuou com suas atividades que aconteciam antes da chegada da polícia. A mostra continua aberta para visitas no espaço da galeria, que fica localizada na Rua Ulhôa Cintra, nº 122, no bairro de Santo Antônio, em Recife.

“Com a experiência que tenho, o que posso dizer é que independente do momento que você for pego com uma lata é constrangedor, seja lá o que você for fazer com ela. Se você é artista é de uma ridicularização enorme. Porque é como se você não tivesse trabalho, não merecesse respeito. E você ainda corre o risco de ser pintado. Quando se é mulher você é ameaçada a ‘dar rolezinho’ com os policiais. Às vezes por ser a única mulher no meio de vários homens em um ‘rolê’ de graffiti.”, declara Aurea, grafiteira.

Descaso do governo

Sobre o ocorrido, percebe-se uma falta de interesse do Governo do Estado e da Prefeitura do Recife em apoiar a cultura e a juventude da periferia. A arte urbana, como o graffiti, é uma forma de expressão cultural e um meio pelo qual a juventude pode se expressar. No entanto, a interrupção deste evento e a aparente falta de apoio institucional para tais iniciativas sugerem que as autoridades não estão dando a devida importância à cultura popular de periferia. 

Além de que, a maior parte dessas ações de arte e cultura são promovidas por coletivos independentes, formados pelo próprio povo das comunidades. O incentivo da prefeitura, quando acontece, ainda é muito superficial. É preciso valorizar a cultura popular, uma cultura que dá voz para a classe trabalhadora.

Estrutura de opressão

Diante dessa situação, é possível observar a estrutura racista da Polícia Militar, quando 40 homens negros, artistas de rua, foram coagidos pela PM, por estarem comprando seu material de trabalho. Na cidade do Recife, as estatísticas mostram que a polícia é orientada por um viés racista. O estudo “Pele Alvo” da Rede de Observatórios de Segurança, projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), mostrou que todos os mortos pela polícia no Recife em 2021 eram pessoas negras, assim como observado no ano seguinte. 

Este episódio não foi um incidente isolado, mas sim um reflexo da estrutura policial, que tem como objetivo fundamental o controle do povo e a proteção do estado burguês. A violência policial contra os artistas negros não é apenas uma questão de segurança pública, mas também uma manifestação do capitalismo que busca censurar as expressões culturais que vão contra o  seu sistema.

A Escola de Belas Artes da UFBA e a luta contra a especulação imobiliária

Há mais de 40 anos, a atual sede da EBA – UFBA, conquistada através de uma ocupação estudantil, se mantém firme e forte resistindo às tentativas de desapropriação do terreno.

Rafael Moreno* | Salvador


CULTURA – Escola centenária e segunda Escola de Artes do Brasil, a Escola de Belas Artes (EBA) tem sido terreno de lutas muito importantes no âmbito estudantil, político e artístico da cidade de Salvador.

Localizada no Canela, um bairro de classe média-alta do centro da capital baiana, muitos talvez não saibam que a atual sede da escola é fruto de uma ocupação estudantil. Por mais de 40 anos luta para se manter num dos m² mais caros de Salvador, a centenária Escola já resistiu a diversas tentativas de desapropriação da mesma.

Tal resistência se faz notável numa região onde já tombaram o Colégio Estadual Odorico Tavares, vendido em 2020 pelo então governador Rui Costa (PT). Onde a escola vizinha da EBA, a Escola de Teatro da UFBA (ETUFBA), está há anos tentando recuperar sua sede no bairro, a qual desde 2017 está em uma interminável reforma. Onde o prédio da antiga residência estudantil feminina da UFBA (R3) está a 15 anos abandonada e hoje é sede da Ocupação dos Estudantes da UFBA – Sarah Domingues, bravamente fundada pelo Movimento Correnteza em novembro de 2023.

Para falar um pouco mais de todo o processo histórico envolvendo a EBA e sua luta de resistência entrevistamos Luiz Freire, professor de História da Arte da EBA há 30 anos.  Doutorou-se em História da Arte pela Universidade do Porto, Portugal, especialista em cultura e arte barroca pela universidade Federal de Ouro Preto, Bacharel em Museologia pela UFBA e Licenciado em Letras com Francês pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL). Foi coordenador do colegiado do curso de Licenciatura em Desenho e Plástica; do colegiado da pós-graduação e vice-diretor da EBA.

A VERDADE – Como chegamos, enquanto EBA, a ocupar esse lugar privilegiado no centro de Salvador?

Luiz Freire – Com a venda da sede localizada na Rua 28 de Setembro no Centro Histórico de Salvador, a EBA passou a funcionar parte nas dependências do Museu de Arte Sacra (Convento de Santa Tereza), parte na casa da Rua Araújo Pinho, onde localiza-se a Galeria Cañizares. Consta, através do registro da memória oral, que o casarão neoclássico datado de 1870 estava ocupado pelo Instituto de Geologia, prestes a se mudar para a nova sede, construída com o dinheiro da venda da sede da EBA.

Essa casa do século XIX estava prometida à EBA, mas surgiu rumores de que ela seria destinada à Escola de Dança, daí o alunado resolveu ocupar a casa, e, graças a essa ação, a EBA pode ter um espaço privilegiado, nem tanto pela infra-estrutura, mas pelo imenso espaço físico, um amplo terreno atrás do casarão, uma considerável área verde, repleta de mangueiras e outras árvores frutíferas, possantes e muitos galpões. Os galpões construídos pelo Instituto de Geologia, a maioria de compensado, passaram a servir de salas de aulas e ateliês.

A VERDADE – Há interesse externo nesse local?

Luiz Freire – As empreiteiras da construção civil se interessam por todos esses remanescentes arquitetônicos de localização privilegiada e amplos terrenos para neles construírem torres, cada vez mais altas. O que sabemos pela oralidade é que esse casarão e seu terreno quase foi negociado ao Supermercado Paes Mendonça na década de 1970. Episódio recente demonstra o quanto os interesses das empreiteiras determinam a gerência desse patrimônio.

O episódio que testemunhamos foi a tentativa de ocupação do terreno do fundo da EBA por uma empresa em um certo dia dos anos 2005-2012. O dia começou com as máquinas limpando o terreno, o diretor à época acionou a prefeitura de Campus da UFBA para provar e convencer aos representantes da empresa, que o terreno era da UFBA, por fim, se retiraram, mas se mantiveram no terreno ao fundo do Edíficio Mansão do Canela.

Houve então, um interesse da administração da UFBA em rever a documentação de posse e solicitar o Plano Diretor da EBA com projeto da sede para o amplo  terreno localizado no fundo do casarão. O projeto arquitetônico do prédio que deveria ser construído para a Escola foi elaborado em 2010 pelo concluinte da Faculdade de Arquitetura, Masayochi Noguchi, orientado pela professora Esterzilda Berenstein de Azevedo. Esse projeto foi amplamente discutido com a comunidade da EBA, na gestão de Roaleno Costa, na qual, eu ocupava o cargo de vice-diretor.

O projeto não saiu do papel, não foi detalhado, o terreno continua desocupado e a EBA asfixiada por falta de espaços construídos, apesar de se ter conseguido a construção do modesto prédio da pós-graduação e a ampliação do Pavilhão Mendonça Filho.

A VERDADE – Desde quando começou o interesse especulativo na EBA?

Luiz Freire – Pelo que se tem apurado, desde a quase venda do imóvel à rede de Supermercado Paes Mendonça em cerca de 1976.

A VERDADE – Como se dá o processo de especulação, quais os impactos?

Luiz Freire – Qualquer terreno com boa localização, em terreno plano, nas cumeadas, defronte ou com o mar nas traseiras, em bairros dotados de infra-estrutura e ocupado por classe-média, média alta e alta, atrai o desejo das empreiteiras adquirirem para neles construírem condomínios de luxo, ou edifícios altos, dotados, de muitos apartamentos com espaços exíguos e amplas e especializadas áreas de lazer e serviços.

Houve um tempo que o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) de Salvador era bastante restritivo, mas desde que ele foi flexibilizado (2016), praticamente possibilitou a construção de prédios altos em áreas antes interditadas, a exemplo do Edifício Mansão Wildberger.

É um mercado que movimenta muito dinheiro e que garante representações políticas em todas as esferas de poder. Salvador está em um processo de asfixia urbana, sem volta. Como consequência nós temos o aquecimento do clima da cidade, provocada pelas barreiras prediais, aumento de fluxo de automóveis, supressão de áreas verdes, corte de árvores centenárias, “requalificações”, que concretam canteiros centrais, excesso de pavimentação asfáltica, tamponamento de rios e córregos, há muito transformados em esgotos e construção excessiva de viadutos. Tudo isso contribui para uma diminuição e impedimento de deslocamentos a pé, facilitam os alagamentos e aumento da temperatura. Um movimento que contraria os princípios do urbanismo contemporâneo.

A VERDADE – Quem tem esse tipo de interesse na EBA?

Luiz Freire – Atualmente não temos muito claro o posicionamento da comunidade da EBA sobre a questão. Quando o assunto é retornado, há sempre uns poucos que advogam a favor da construção de uma sede no campus de Ondina, conforme foi pensado nos anos 2003-2006 no esboço de Plano Diretor da UFBA, rejeitado por toda a comunidade da EBA e muitos outros da UFBA. Eu e Alejandra Muñoz provocamos a imprensa, fizemos carta aberta e a grita foi geral. Felizmente reformularam o plano e continuamos no Canela.

A VERDADE – O prédio da EBA é tombado?

Luiz Freire – Sim. O prédio da EBA tem tombamento Estadual pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia – IPAC.

A VERDADE – Quais as estratégias para seguir resistindo?

Luiz Freire – É preciso fazer gestões, pressionar a reitoria para a construção do prédio nos fundos do casarão, com espaços suficientes e adequados às aulas, ateliês, laboratórios, biblioteca, espaços expositivos, cantina, administração, etc. O Plano Diretor da EBA destinou o casarão para o Memorial da EBA, que se encontra em processo de institucionalização, com seu acervo artístico e documental. É preciso retomar o projeto, fazer as plantas baixas, os detalhamentos e incluir sua edificação nos Planos Orçamentários da UFBA.

A VERDADE – Qual o nosso papel enquanto comunidade EBA e sociedade civil na preservação da EBA?

Luiz Freire – A comunidade da EBA e a sociedade civil devem se sentir responsáveis pelo bem-estar urbano, cuidar para a manutenção dos espaços verdes e conservação do patrimônio cultural, como condição indispensável à vida saudável. Ela deve estar permanentemente mobilizada para protestar frente às ameaças, reivindicar a conservação do patrimônio e impedir as agressões individuais e governamentais.

*Rafael Moreno é militante da União da Juventude Rebelião (UJR) e do Movimento Correnteza. É coordenador-geral do Centro Acadêmico da Escola de Belas Artes da UFBA (CAUEBA) com a gestão Manuel Querino. 

Guarda Municipal agride trabalhador ambulante e apreende mercadoria em Salvador

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Com a pior taxa de desemprego do país há anos, o prefeito de Salvador Bruno Reis (União Brasil) oprime os trabalhadores ambulantes da cidade enquanto incentiva o empreendedorismo como solução individual para o resultado de sua péssima gestão.

Caio Mago | Salvador


TRABALHADOR UNIDO – Raul Neto, rapper conhecido como CaS, montou uma barraca para vender drinks alcoólicos no Santo Antônio Além do Carmo, bairro turístico no Centro Histórico da cidade de Salvador. Trabalhando honestamente, foi abordado pela Guarda Municipal, que quebrou sua mesa, jogou as frutas no chão, confiscou o material que usava para preparar as bebidas, o agrediu com mais de três tapas na cara e o ameaçou com a arma de choque sem medo das câmeras que filmavam a ação. Na filmagem, é possível ver Raul desesperado: “Minha mercadoria, véi, minha mercadoria! Eu sou trabalhador, eu não sou ladrão não, véi!” 

“No momento da abordagem, eles já vieram retirando tudo, jogaram as frutas no chão, pisaram, danificaram minha mesa que eu tinha comprado há um dia, disseram que eu estava armado porque estava com a faca que uso para cortar as frutas, eu ia cortar fruta no dente? Não tem como”, relatou o artista em entrevista à TV Bahia.

Prática comum 

O caso de Raul não é isolado. No dia 13 de março, a Guarda Municipal confiscou a mercadoria de outro trabalhador que vendia água na Praça Maria Felipa, próxima ao Elevador Lacerda, ponto turístico da cidade. Na ocasião, o trabalhador pediu socorro a uma viatura da Polícia Militar, que como de costume ignorou o crime cometido pelos guardas, que torturaram o rapaz durante três horas com arma de choque, agressões físicas e sexuais:

“Os guardas já chegaram alterando tudo, xingando, dando palavrão, ameaçando. Aí, eu fui gravar com o celular, eles pegaram e ficaram com mais raiva porque eu gravei. E aí começaram a me agredir, me torturaram, me espancaram. Me levaram lá para a Ladeira da Montanha também, me mandaram pegar [nas partes íntimas deles]. Me bateu, me agrediu muito. Foi tiro de choque, foi murro. Foi tapa, foi cacetada”, relatou.

Diante da pior taxa de desemprego do país inteiro, a cidade de Salvador proíbe e tortura aqueles que buscam um sustento sem passar pelo burocratismo imenso que a prefeitura impõe aos que querem se regularizar enquanto trabalhadores ambulantes. Por outro lado, os grandes empresários, que financiam as campanhas eleitorais, manipulam a opinião pública e exploram os trabalhadores para aumentar suas fortunas, são tratados com todo o respeito possível pela gestão do município, que facilita o acesso aos terrenos imóveis, licitações e usa do dinheiro arrecadado do povo para perdoar suas dívidas.

Prefeitura humilha e destrata povo trabalhador da cidade

O exemplo mais gritante dessa contradição é o Carnaval, festa popular da qual a prefeitura se aproveita para transformar a cidade em um grande empreendimento para os capitalistas. Os donos dos camarotes, blocos e trios elétricos conseguem fácil regulamentação de suas atividades, enquanto os trabalhadores ambulantes precisam dormir na rua durante semanas para garantir a realização do cadastro e uma boa localização no circuito. Quando se levantam diante de tamanha injustiça, esses trabalhadores são reprimidos com toda a violência possível, a exemplo da bomba atirada pela Guarda Municipal durante as manifestações em fevereiro de 2023, nas quais o Movimento Luta de Classes (MLC) esteve presente.

As reincidentes agressões da prefeitura de Salvador à trabalhadores ambulantes da cidade, em sua maioria pessoas negras, reforça uma herança maldita da escravidão, falsamente abolida pela caneta para impedir que as repetidas revoltas do nosso povo resultassem na queda do sistema de opressão vigente na época.

Ao mesmo tempo, nossa população é empurrada para as periferias e para o transporte público sucateado, para que o centro seja exclusividade dos hotéis de luxo e do capital turístico.

Para derrotar de uma vez por todas essa minoria de famílias parasitas que nos oprime e nos faz questionar se devemos continuar vivos, precisamos nos organizar. Construir núcleos de luta, novas ocupações, denunciar os crimes que o Estado e os ricos cometem todos os dias e construir uma nova sociedade, um novo mundo.

Somente com a derrubada do sistema capitalista teremos uma sociedade moldada aos interesses de quem nela produz, uma sociedade onde o trabalho funcione não para o lucro de uma minoria, mas para a nossa vida e o avanço da humanidade.

Salvador para o povo trabalhador! Chega de opressão!

Mulheres ocupam casa abandonada no Centro de Curitiba para criar Centro de Referência

A ocupação foi organizada em um espaço abandonado há quase dez anos e que não cumpria função social, e é a 22ª casa construída pelo movimento no país.

Redação


O Movimento de Mulheres Olga Benario realizou uma nova ocupação na capital paranaense, fundando a Casa de Referência da Mulher Rose Nunes. Localizada no Centro de Curitiba, o objetivo do movimento é construir um centro de referência para atender mulheres em situação de violência.

A ocupação foi organizada em um espaço abandonado há quase dez anos e que não cumpria função social, e é a 22ª casa construída pelo movimento no país. Inaugurada no dia 27 de março, a atividade abre a agenda de lutas do movimento em abril, em memória às mulheres assassinadas pela ditadura militar fascista, que completa 60 anos de sua consolidação em 2024.

O estado do Paraná, segundo dados do Laboratório de Estudos de Feminicídio da UEL (Lesfem) é o terceiro estado em números de feminicídios no país. Essa realidade de opressão não é combatida de forma eficaz através de políticas públicas. Para Emily Kaiser, coordenadora nacional do movimento, os serviços existentes ficam disponíveis apenas em horário comercial, em alguns dias menos. A Delegacia de Curitiba, única no estado com atendimento 24 horas, funciona com serviços reduzidos, a depender do horário em que a vítima for. O atendimento da CMB se restringe aos residentes da cidade de Curitiba, e só existe acolhimento em risco de morte iminente.”

Roseli Celeste Nunes da Silva; ou Rose, como era conhecida; foi uma dirigente do Movimento Sem Terra (MST). Defensora do direito das mulheres, trabalhadora da agricultura e mãe de três filhos, Rose organizou a ocupação da Fazenda Annoni, consolidada por mais de 7 mil famílias sem terra no norte do Rio Grande do Sul, a maior ocupação da história do estado. 

Originária de Rondinha, um pequeno município gaúcho, se organizou e se tornou uma militante pela vida dura que viveu desde cedo: “Ela dizia que na cidade passava fome e que na luta pela terra, ao menos, teria onde plantar alimentos para sobreviver. Na hora de fazer a segurança ela sempre estava lá, nunca arredava o pé do acampamento. Sempre sorrindo, era positiva e para frente, nada a puxava para trás. Rose defendia os direitos das mulheres, falava que não podíamos nos acomodar e que tínhamos que lutar ao lado dos homens” relata Juraci Lima, assentada do MST que conheceu a revolucionária.

O Movimento de Mulheres Olga Benario atua nacionalmente organizando as mulheres no enfrentamento à violência e pela construção do socialismo. O Brasil é o 5º país que mais assassina mulheres no mundo, por isso o movimento realiza ocupações e realiza o acolhimento às vítimas de violência através de uma rede de profissionais voluntárias; advogadas, psicólogas, assistentes sociais, etc., com o objetivo de apresentar uma alternativa à realidade de violência e miséria que hoje as mulheres se encontram.

A Ocupação Rose Nunes nasce para denunciar a insuficiência das políticas públicas de enfrentamento à violência de gênero, atender as vítimas e organizar as mulheres por um mundo novo livre de opressão!
Rose Nunes vive!

MLB inicia jornada contra a fome em 2024

Ato nacional do MLB, em conjunto com o Movimento Olga Benario, também marcou Mês de Luta das Mulheres

Coordenação Nacional do MLB


LUTA POPULAR – O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) realizou, em conjunto com o Movimento de Mulheres Olga Benario, uma agenda combativa de lutas para marcar o Mês Internacional da Mulher Trabalhadora. No último dia 05 de março, realizou-se a Marcha das Mulheres Contra a Fome, dando início à Jornada de Luta Contra a Fome do MLB em 2024. Sem-teto ocuparam sedes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 11 estados do país, denunciando a fome e a insegurança alimentar que assolam os lares do povo pobre, principalmente os lares chefiados pelas mulheres trabalhadoras.

A Conab hoje atende comunidades quilombolas, tradicionais e de camponeses. O MLB buscou, através dessas ocupações, abrir o debate com a Companhia para que essa política também se estenda às famílias sem-teto das ocupações urbanas. Fruto da pressão das famílias, foi marcada uma reunião nacional entre o MLB e a superintendência da Conab, em Brasília, para discutir mais profundamente o programa de combate à fome no Brasil.

Elza Maria, da Coordenação Nacional do MLB e moradora do Rio de Janeiro, afirma que apenas as cestas são insuficientes e que essa grande luta contra a fome também precisa se estender para outros itens de feira: “Claro que a cesta básica tira um pouco do sufoco, mas, ainda assim, não temos a segurança de alimentação, porque precisamos de frutas, legumes e as coisas estão muito caras”.

Neste sentido, o MLB na Paraíba deu um bom exemplo para nossa militância. Na capital, o ato foi realizado na Secretaria de Desenvolvimento Social de João Pessoa, e as mulheres do MLB conquistaram 250 cestas básicas, o cadastro no programa “Pão e leite”, no banco de alimentos e o início do diálogo para implementação de cozinhas solidárias nas comunidades e ocupações do Movimento.

Realidade da mulher trabalhadora

Dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, de 2022, mostram que seis em cada dez casas chefiadas pelas mulheres sofrem algum nível de insegurança alimentar. Isso porque é a mulher quem precisa dar conta da educação dos filhos, do cuidado com a casa, com a família, e garantir o sustento todos os dias com um salário de miséria e em empregos precários.

“A gente sabe que a maioria das mulheres que mora em comunidades, favelas e vilas estão mais prejudicadas por terem tripla jornada de trabalho ou ainda por não conseguirem trabalhar porque têm que cuidar dos seus filhos por falta de creche e várias outras coisas”, afirma Marta de Lara, coordenadora da Ocupação Anita Garibaldi, em Florianópolis (SC).

Nos últimos anos, vimos toda essa realidade das mulheres trabalhadoras brasileiras, principalmente das mulheres negras, tornando-se ainda mais difícil porque, no sistema capitalista, em tempos de crise, as mulheres trabalhadoras são as primeiras a perderem direitos para continuar garantindo a riqueza nas mãos de poucos capitalistas.

Segundo dados recentes do Ministério Desenvolvimento e Assistência Social, houve uma redução de 30% na insegurança alimentar grave e moderada no Brasil, mas o fato é que nosso país é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e, mesmo assim, mais de 20 milhões de brasileiros passam fome diariamente, além de outros milhões que não sabem o que vão comer no dia seguinte.

Isso porque, mesmo tendo conquistado uma vitória nas eleições 2022, derrotando um governo fascista, o atual governo do PT mantém uma política econômica que não contraria os interesses dos ricos. Esses mesmos ricos empresários sonegam milhões em impostos e, com seus representantes dentro do próprio Governo Federal e no Congresso Nacional, desviam milhões de reais dos cofres públicos para suas contas bancários no Brasil e no exterior.

Matéria publicada na edição nº288 do Jornal A Verdade.

Operação Escudo é chacina contra a periferia

Matheus Luna | Santos (SP)


Após matar 28 pessoas na Baixada Santista, em 2023, o Governo do Estado de São Paulo retomou a Operação Escudo como resposta à morte do policial Samuel Cosmo da Rota, tropa de elite da Polícia Militar paulista. 

Desde o dia 02 de fevereiro, Governo do Estado de São Paulo retomou a Operação Escudo que já causou a morte de pelo menos 43 pessoas na periferia das cidades da região.

A operação, marcada pela violência e truculência nas abordagens registradas em vídeos que circulam pelas redes digitais, já assassinou jovens e pais de família, sob a justificativa de combate ao crime organizado. Vídeos como o que flagra o servidor público Ruan Ribeiro de Araújo, 27 anos, ser alvejado de maneira covarde por um policial militar, em plena luz do dia, em frente da família e vizinhos.

As ações da PM transformaram a vida dos moradores da periferia da Baixada Santista em um cotidiano de medo, como mostram os relatos que moradores concederam, em anonimato, ao jornal A Verdade. Os nomes dos moradores foram alterados para evitar perseguições.

“Moro aqui no Rádio Clube (bairro da Zona Noroeste, periferia de Santos) há 30 anos. Aqui sempre tem operações policiais, mas violentas como essa, eu nunca vi. Essa operação alterou a forma de viver aqui do território”, relata Maria Luísa, assistente social aposentada. Ela conta que o medo tomou conta do dia a dia, em especial das mães da juventude periférica e negra, principal alvo da Polícia. “A primeira coisa afetada é nossa saúde emocional, pois se não matou alguém da minha família, é alguém próximo, alguém conhecido, um jovem”, desabafa. “E a gente, como mãe de jovem, só tenho paz quando eu ouço a chave no portão com meu filho entrando”.

Pedro, que trabalha como motociclista de aplicativo e é morador do Morro São Bento, relata: “Há um tempo atrás, eu tava trabalhando de madrugada porque tava rendendo mais viagens e um dinheiro a mais, mas eu tive que mudar todo meu horário porque eu simplesmente estava com medo da Polícia me estranhar enquanto eu trabalhava”. Pedro destaca o aumento da insegurança no trabalho e também onde mora: “Qualquer corrida que acontecia na periferia, eu comecei a ser parado, sendo abordado de forma extremamente brusca e violenta. Mataram dois moradores na rua paralela a da minha casa, uma das regiões mais tranquilas e que nos sentíamos mais seguros de transitar, tudo isso depois que a Polícia começou a invadir o morro”.

Nas quebradas, a morte passou a ser rotina e a estar cada vez mais próxima. Carla teve a vida de sua família diretamente atingida pela violência da policial. “Meu medo aumentou ainda mais depois que mataram o pai do meu filho. Eu já estava separada dele há sete anos e meu filho quase não tinha contato com ele, apenas por mensagens. Ele era usuário de drogas e já vivia em função dela praticamente. Com isso, ele vivia pela rua onde ele foi parado e alvejado. Não estava armado nem nada. Ele merecia morrer desse jeito? O que significa de verdade essa operação? Para mim, isso é uma chacina, e não justiça”. Revoltada, não vê a operação como algo que vá resolver o problema da violência. “Eu quero muito a paz de volta e que essa operação acabe. Justiça é prender quem esteja fazendo algo errado, ir atrás dos caras certos, os grandes. Mas o que está acontecendo é que inocentes estão morrendo, como os dependentes químicos que ficam pelas ruas”.

Giovanni, morador da Zona Noroeste de Santos, e militante da Unidade Popular, destaca a importância de nos organizarmos para combater o fascismo do Governo de Tarcísio: “Precisamos entender qual o interesse econômico por trás dessa violência da Polícia e do Estado. Nossa região abriga o maior porto da América Latina, de interesse do Tarcísio e de toda a burguesia. Vivemos num sistema que coloca o dinheiro acima da vida do nosso povo. Nós, da UP, queremos destruir esse sistema de morte que é o capitalismo e construir o socialismo, a verdadeira solução para nossos problemas!”.

Dona Margarida, de 69 anos, lutadora pela moradia há mais de 30 e moradora de Santos, crava: “Isso não é Operação Escudo! É Operação Assassinato! Porque muitos jovens, pais de família que não têm nenhuma relação com o tráfico estão sendo assassinados”. Reforçando o terror que é um pai de família sair de casa e não saber se volta, recorda sua vida de luta na região: “Quando eu cheguei aqui em Santos, em junho de 1973, eu morei no Morro São Bento, no Mercado, no Ilhéu Baixo, 20 anos na Zona Noroeste. Mas olha, eu nunca vi a Baixada Santista dessa maneira como nesse último ano, nunca vi um governo tão violento quanto esse do Tarcísio, mas vamos resistir!”.

Matéria publicada na edição nº 288 do Jornal A Verdade

Ocupação João Pedro Teixeira conquista moradia popular

JC Moretti | João Pessoa (PB)


O dia 05 de abril, aniversário de dois anos da Ocupação João Pedro Teixeira, organizada pelo MLB no Centro de João Pessoa (PB), será especial. A portaria n° 1.482 do Ministério das Cidades incluiu o prédio da ocupação no Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) para empreendimento de uso social e habitacional. A Câmara Municipal de João Pessoa já havia aprovado a doação do Edifício Nações Unidas ao Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) para a construção de unidades habitacionais.

Serão 41 famílias contempladas, vindas do Bairro das Indústrias, do Centro e das comunidades Citex e São Rafael, que, sem aguentar pagar aluguel ou morando de favor, começaram um processo de organização, ainda em 2021. Foram cadastradas e ingressaram nos núcleos do MLB, estudando o jornal A Verdade e os materiais do Movimento. Em abril de 2022, ocuparam o prédio, recém-desapropriado pela Prefeitura, e decidiram homenagear João Pedro Teixeira, mártir das Ligas Camponesas de Sapé.

Durante esses dois anos, as famílias não se limitaram a manter o espaço ocupado. Pelo contrário, mergulharam nas lutas da cidade por segurança alimentar e fornecimento de cestas básicas, engajaram-se na luta contra o Plano Diretor elitista proposto pela gestão do prefeito Cícero Lucena, mobilizaram-se contra o projeto “João Pessoa Sustentável”, também da Prefeitura, com financiamento do BID, e contra o aumento das passagens de ônibus.

Foi nesse clima de lutas e vitórias que A Verdade conversou com Josiane Soares e Valdemir Peixoto, lideranças da Ocupação.

A Verdade – O que vocês consideram que foi o mais importante nessa luta até agora?

Josiane – Foi a consciência de que ocupar é um direito. O prédio estava abandonado há oito anos. Nós chegamos, limpamos tudo, organizamos a cozinha comunitária, instalamos água, dividimos os cômodos.

Valdemir – O principal é a emancipação das pessoas. A consciência de que estamos lutando por reforma urbana e pela valorização do Centro da cidade. As famílias não aceitaram a primeira proposta da Prefeitura, que pretendia nos remover para o bairro do Alto do Mateus. Resistimos e estamos vencendo. Foi importante também o trabalho de formação política com o jornal A Verdade, pois esse trabalho permite que as famílias que foram chegando compreendessem que o desenvolvimento e o crescimento da luta devem ser coletivos e contra o capitalismo.

Quais são os próximos passos da luta do movimento?

Josiane – Primeiramente, assegurar que todas as famílias da Ocupação recebam o auxílio-moradia, enquanto a Prefeitura execute a reforma do prédio e depois garantir o retorno das famílias ocupantes.

Valdemir – Em função dessa vitória, conquistada com muito suor, e do aniversário de dois anos da Ocupação, o MLB vai organizar um seminário sobre reforma urbana e direito à cidade no mês de abril.

Pessoalmente, como tem sido participar dessa luta?

Josiane – Posso dizer que a ocupação contribuiu também para a minha própria emancipação. Saí de um relacionamento abusivo, me eduquei politicamente, aprendi a importância de compartilhar a luta por um mundo melhor. Cheguei sem acreditar muito, mas vi que o Movimento é sério e hoje… [se emociona] vejo que minha vida melhorou em todos os aspectos. Vou realizar meu sonho da casa própria, não importa o tempo que possa demorar. Ah, e ainda ajudei minha filha, minha mãe e um vizinho idoso que estavam sem ter onde morar também.

Valdemir – Eu estava prestes a ser despejado e me tornar um morador de rua quando conheci o MLB. Não conhecia os processos internos do Movimento, não tinha experiência nenhuma de como ocupar, mas tinha a consciência de que seria uma luta militante. Todo esse processo fez com que minha motivação aumentasse muito e voltasse a acreditar nos movimentos sociais.

Olho: “Eu estava prestes a ser despejado e me tornar um morador de rua quando conheci o MLB. Não tinha experiência nenhuma, mas tinha a consciência de que seria uma luta militante.”

Matéria publicada na edição nº 288 do Jornal A Verdade

Famílias do MLB conquistam 110 moradias no Rio

No dia 29 de fevereiro, bandeiras vermelhas foram erguidas em frente à Faculdade Nacional de Direito da UFRJ, no Centro do Rio de Janeiro. Com os olhos cheios de lágrimas, anunciou-se para a cidade a alegria da vitória e as mais duras lembranças da luta encarniçada por moradia e dignidade. O Rio, ao mesmo tempo que é o cartão postal do Brasil para o mundo, esconde uma dura realidade de opressão e exclusão de direitos da maior parte do seu povo.

Coordenação do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas


LUTA POPULAR – As bandeiras hasteadas eram do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e as famílias que as carregavam passaram por uma jornada de lutas desde 2021, construindo a Ocupação João Cândido, e, em 2022, a Ocupação Luiz Gama. Ambas passaram por processos de despejo extremamente violentos e autoritários por parte da Polícia Militar.

O ato, intitulado “Quem luta, conquista”, teve um tom de felicidade pela conquista de 110 moradias populares no Centro da cidade, mas também de denúncia de toda a opressão que o povo passa diariamente. Como destacou Elza Maria, da Coordenação Nacional do MLB, “hoje é um dia de celebração, pois graças a nossa luta coletiva, conquistamos nossas moradias e viver no Centro nos possibilita ter acesso mais fácil ao emprego, transporte de qualidade, mas também aos espaços de cultura da cidade, pois também temos direito a eles”.

Durante o ato, diversas famílias falaram no microfone celebrando a vitória, mas, acima de tudo, assumindo o compromisso de continuar a luta não só pela sua moradia, mas por um mundo em que casa não seja mercadoria, reafirmando o lema do movimento: “lutar pela reforma urbana e pelo socialismo”.

Para Juliete Pantoja, coordenadora nacional do MLB e presidente estadual do partido Unidade Popular no Rio de Janeiro, “a conquista dessas moradias mostra o caminho que temos que seguir pra construção de um mundo novo, pois o povo trabalhador organizado quebra as correntes, resiste a qualquer tipo de repressão, e dá o recado através da sua luta! É possível sim vencer os poderosos especuladores”.

Três anos de muita luta

A Ocupação João Cândido, realizada em 2021, no auge da pandemia de Covid-19, reacendeu o debate de que o povo organizado tem condições de se colocar em movimento e lutar por moradia digna. Ocupando um prédio histórico na Rua da Alfândega, ao lado da Igreja da Candelária, as famílias do MLB descobriram, na prática, o que é ressignificar e retomar o espaço da cidade.

A região, antes marcada pela sanguinária e desumana chacina da Candelária, em que dezenas de crianças em situação de vulnerabilidade foram assassinadas de forma bárbara pela PMRJ no ano de 1993, amanheceu naquele 29 de junho com uma grande chama de poder popular. Por quatro dias, a ocupação se ergueu e resistiu a todos os tipos de violência do Estado e do fascismo. Após uma intensa negociação, as famílias do movimento desocuparam o prédio com a promessa da construção de 150 moradias na região central do Rio.

Após um ano deste processo, a promessa da Prefeitura e do Governo do Estado não foi cumprida, e o movimento construiu então a Ocupação Luiz Gama, em novembro de 2022, como forma de fazer valer o direito do povo na prática. Mais uma vez, o palco do embate foi o Centro do Rio de Janeiro.

Foram 30 dias de luta, resistência e repressão, sofrendo a brutalidade da Polícia. Às vésperas do Natal, uma decisão judicial arbitrária expulsou famílias para garantir o sagrado direito à propriedade privada de um imóvel que há dez anos não cumpria sua função social.

Graças à luta dessas duas ocupações, o Movimento conseguiu retomar as mesas de negociação com a Secretaria de Habitação de Interesse Social do Estado do Rio de Janeiro. Foram inúmeras rodadas de conversa, atos políticos, assembleias, brigadas do jornal A Verdade. Fruto de toda essa pressão e organização, no final de 2023, o MLB conquistou a destinação de dois terrenos, um na região Central da cidade, a apenas 10 minutos da Central do Brasil, e outro em São Cristóvão, Zona Norte da cidade e próximo à estação de metrô, os dois com aprovação de verba por parte da Caixa Econômica Federal para a construção das 110 moradias.

Matéria publicada na edição nº 288 do Jornal A Verdade.

Mataram um estudante! Podia ser seu filho!

Em memória dos 56 anos de imortalidade de Edson Luís de Lima Souto, estudante secundarista assassinado durante a Ditadura Militar (1964-1985).

Amanda Moura | UJR Petrolina


LUTA E HERÓIS DO POVO – No dia 28 de março de 1968, assassinaram o estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto. Nascido em família pobre na cidade de Belém do Pará, o jovem fazia parte do movimento estudantil e cursava o ensino médio no Instituto Cooperativo de Ensino. Assassinado por policiais militares durante a Ditadura Militar (1964-1985) no Rio de Janeiro, o estudante participava de um ato por melhorias no restaurante Calabouço, este que pretendia aumentar o preço da comida. Vários estudantes foram feridos durante a passeata, entre eles, Edson Luís atingido com um tiro em seu peito. 

A morte do estudante secundarista comoveu a todos, com manifestações gigantescas sendo organizadas em todo o Brasil, além de paralisações e filmes em cartazes nos cinemas com os nomes de: bala mata fome?”, os velhos no poder, os jovens no caixão” e mataram um estudante, podia ser seu filho”. Esta série de atos deu início ao retorno da democracia no Brasil, tendo como acontecimento histórico a Passeata dos Cem Mil, o ato ocorrido no centro do Rio de Janeiro contra a violência policial sobre os estudantes, e o ato do dia 21 de junho conhecido como Sexta-feira Sangrenta, o maior enfrentamento de estudantes e policiais já ocorrido, contendo dezenas de feridos, presos e assassinados. Até hoje é incerto o número de mortos, tornando as mobilizações mais intensas também em Brasília, São Paulo e Belo Horizonte naqueles dias que se seguiram. 

Exemplo de luta

Hoje, a memória de Edson luís segue viva na rotina do Movimento Estudantil, relembrando sua luta em cada passagem em sala, cada Grêmio Estudantil, em cada ato por melhoria nas nossas instituições, por isso, fazemos um chamado a todos os estudantes do Brasil para ocupar as ruas no mês de março nas jornadas Edson Luís reivindicando o que é nosso por direito: educação pública, gratuita e de qualidade, mostrando que a luta continua e que sua morte não foi em vão.

“Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”, como relembra os versos da canção “Menino”, do Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, feita em homenagem ao estudante: 

Quem cala sobre teu corpo

Consente na tua morte

Quem cala morre contigo

Quem grita vive contigo”…

VIVA O MOVIMENTO ESTUDANTIL COMBATIVO!