UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sábado, 13 de setembro de 2025
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95% das mulheres encarceradas sofreram violências 

Marta Fontenele e Lucas Marcelino | São Paulo (SP)


O número de mulheres encarceradas no Brasil quadruplicou nos últimos 20 anos e, assim como entre os homens, a maioria (68%) das presidiárias são mulheres negras e pobres. Nos Estados do Ceará e da Bahia quase 100% das detentas são negras.

Abandonadas pelo Estado, pela família e pelos companheiros, a vida das mulheres presas se difere também da condição do homem. Ao contrário da preocupação das esposas e filhas quando seus companheiros e pais estão presos, as mulheres em situação de cárcere recebem poucas visitas e quase nenhum apoio dos familiares. Cerca de 41% das detentas não recebem visitas de familiares.

Para aprofundar este tema, o jornal A Verdade entrevistou a professora Cecília Minaio, da Fiocruz. Para ela, “a trajetória das mulheres presas praticamente se confunde com as histórias de violência que enfrentaram na vida”. As estatísticas revelam um ciclo de violência e abandono desde o nascimento. “Mais de 95% sofreram maus-tratos na família, na infância, na adolescência, no casamento ou nas mãos da polícia; 75% foram vitimadas pelo menos em duas dessas ocasiões; e muitas passaram por ameaças de morte por parte de policiais, pais alcoólatras ou maridos violentos. Muitas têm pais, maridos e irmãos assassinados ou estão na cadeia por acompanhar os companheiros em suas atividades ilegais”, informa Cecília.

Machismo conduz à criminalidade

O tráfico é a principal razão do encarceramento de mulheres no país, seguido por crimes contra o patrimônio, a administração pública e homicídios. No Brasil, enquanto 24% dos homens cumprem pena por tráfico de drogas, entre as mulheres, esse número chega a 39%. Nos últimos anos, tem crescido o número de mulheres detidas por essa causa, alerta Cecília Minaio: “A exploração das mulheres pelo tráfico de drogas não é um fato descontextualizado e não diz respeito apenas às experiências vinculadas à vida familiar e amorosa. Reflete, sim, a cultura de opressão e dominação patriarcal que se acirra com as exigências dos homens de que elas se envolvam”.

Abandonadas e doentes, física e mentalmente, as mulheres brasileiras encarceradas apontam um delito do Estado: a falta de investimentos para a criação de uma rede de serviços públicos, estruturada e efetiva, para acolher, atender e acompanhar as pessoas que precisam dos diferentes tipos de atenção, sobretudo nos bairros mais pobres. A perda de vínculos de parentescos e vínculos sociais, conforme a pesquisa de Minaio, se dá ainda pelo alto nível de adoecimento físico e mental, pela depressão, drogas e suicídios de familiares. 

“Um dos problemas das mulheres estudadas por nós é o uso de substâncias tóxicas: álcool (77%); tabaco (68,1%); maconha (50,6%); e tranquilizantes (50,8%). Mais de 50% das mulheres já tinham feito uso de medicamentos psicotrópicos ao longo da vida”, acrescenta a professora. Muitas vezes, uma família inteira vai parar na prisão. “O envolvimento de mulheres no comércio das drogas ocorre, na maioria das vezes, por meio dos filhos, namorados e parceiros. Há inúmeros casos em que a polícia entra na casa atrás dos homens e encontra apenas a mulher e as drogas. Nessas situações, é comum que mães e esposas sejam presas, embora o delito não tenha sido cometido por elas”, explicou. 

O machismo é apontado pela pesquisadora como um elemento que precisa ser considerado frente à submissão e dependência das mulheres que acabam na prisão por decorrência de relacionamentos. Outro dado que revela a exploração do povo pobre é a pouca instrução. Mais de 67% dos presos no Brasil não sabem ler e escrever ou são semialfabetizados, com ensino fundamental incompleto. Pouco mais de 20% têm o ensino médio.

As péssimas condições das prisões

Das cerca de 40 mil mulheres detidas no país, segundo dados da Secretaria Nacional de Políticas Penais (1º semestre de 2023), centenas estão grávidas ou são lactantes. 

O abandono na cadeia sem visitação ou suporte emocional, o ambiente com alto nível de estresse, o medo da morte violenta, celas sem ventilação, sem luz solar, falta de higiene e limpeza, prevalência de HIV, resumem o caos em que as mulheres presidiárias são submetidas. 

Segundo a pesquisa de Cecília Minaio, 31% das presas disseram sofrer anemia e hipertensão arterial (pressão alta); 54,5% têm doença respiratória (rinite, sinusite, bronquite crônica, tuberculose pulmonar); e problemas do coração atingem 36,5% dessas mulheres. Entre os fatores de risco mais conhecidos estão o tabagismo, a inatividade física, a hipertensão arterial, o sobrepeso, a obesidade e o estresse.

Um percentual de 57,6% das mulheres relatou problema do aparelho digestivo, como gastrite (15,9%), dificuldades digestivas (37,1%) e prisão de ventre (48,8%). Tais problemas, sem dúvida, estão fortemente vinculados à péssima alimentação, uma das principais queixas delas. A falta de água e as péssimas condições de higiene afetam também a saúde da pele.

Conforme Minaio, “as doenças de pele são muito temidas pelas mulheres. Elas estão associadas à falta de água, às condições precárias de higiene, contatos intensos e insalubres nas celas e chegam a atingir 43,4% delas. Em todos os estudos populacionais, a incidência é maior entre as presas e os presos. E 50,2% delas disseram ter problema urinário”.

A saúde do corpo é inteiramente afetada. Problemas osteomusculares, como artrite, reumatismo, dor ciática, bursite, dores no pescoço, costas e coluna, torções, luxações e fraturas ósseas são constantes. “Esse tipo de agravo à saúde está relacionado à falta de exercícios físicos, superlotação, pequeno espaço de locomoção e com noites mal dormidas. Mas se sabe que também tem um componente emocional que não deve ser descartado”, explicou a professora.

Como vemos, o sistema de segurança do país está encarcerando mulheres que são vítimas do próprio sistema de exclusão imposto pelo capitalismo e não oferece nenhuma oportunidade de recomeço, de reintegração social.

Violação de direitos como regra 

A população carcerária no Brasil passa das 800 mil pessoas, porém, boa parte delas está presa sem julgamento. Este dado mostra o quão grave é a questão do encarceramento em massa. Segundo Minaio, “a situação do crescente encarceramento de mulheres revela esse complexo modo de exploração. Há um círculo vicioso: suas famílias permanecem à deriva e são alvo fácil de cooptação pelo tráfico”.

O modelo de sociedade que se alimenta da violência impõe a perda da liberdade das mulheres como um atrativo a mais para gerar mais pobreza, miséria e garantir o sistema de lucro por meio da corrupção e da exploração do povo pobre. “Na realidade, a grande maioria das famílias dos presos – não apenas as mulheres – permanece totalmente desamparada, principalmente quando uma mulher é presa. Muitas, mesmo já em liberdade, são aliciadas novamente pelo tráfico de drogas para participar em mercados ilegais, uma vez que precisam sobreviver e não têm a quem recorrer”. 

A pesquisadora destaca que as mulheres são as esquecidas no sistema. Acessam menos programas e serviços do que os presos do sexo masculino por considerarem mais insuportável o isolamento social da vida prisional e por terem mais dificuldades em aderir a subculturas e códigos prisionais.

As dores do aprisionamento feminino incluem estigma do encarceramento, claustrofobia, ansiedade por não estarem cuidando dos filhos, por apresentarem mais problemas físicos e emocionais que acompanham a abstinência de drogas em comparação aos homens.

No chamado “Mês da Mulher”, quando a luta das mulheres ganha mais destaque em meio às lutas coletivas, é essencial a denúncia sobre a situação das mulheres brasileiras nas prisões. Trata-se de um retrato fiel da falência do capitalismo e da necessidade urgente de a classe trabalhadora impor uma nova lógica, uma sociedade socialista, onde a liberdade seja o princípio essencial da vida de todas as mulheres e de todas as pessoas.

Candeia e a luta pela cultura nacional

Raphael Almeida | Rio de Janeiro (RJ)


Seu pai era operário gráfico e sua mãe, dona de casa. Antônio Candeia Filho, o Candeia, nasceu em 1935 no subúrbio do Rio de Janeiro. A casa que cresceu era frequentada por figuras que fundaram o samba carioca, como Paulo da Portela, Zé da Fome, João da Gente, Dona Esther, Pixinguinha e ganhou intimidade com a música assistindo às rodas de choro que aconteciam em sua sala. O Antônio Candeia (pai) participou da criação do Bloco Carnavalesco Vai Como Pode, que, mais tarde, se transformaria na Escola de Samba Portela. Foi ele o responsável por idealizar a primeira comissão de frente da história do Carnaval.

Candeia, o filho, também marcou seu nome na história do samba, sendo influência para todos os sambistas que vieram depois dele. Começou na Portela ainda muito cedo: com apenas 16 anos, venceu sua primeira disputa de samba de enredo na escola. A cereja do bolo veio na quarta-feira de cinzas: a Portela foi campeã do Carnaval com o samba escrito por ele, recebendo nota máxima do júri, fato inédito até então. Candeia venceu outras quatro disputas de samba na escola.

Mudanças no Carnaval carioca

Nos anos 1950, ocorre a entrada da indústria fonográfica no Brasil com o advento dos discos de vinil e das leis do direito autoral, que transformam as músicas em mercadorias a serem comercializadas. As escolas de samba não passaram ilesas: ao ter o samba no disco, o compositor ganhava muito dinheiro. Assim, as disputas que aconteciam entre os membros da ala de compositores passaram a serem feitas também por membros de fora das escolas.

Outra mudança promovida para valorizar a espetacularização do Carnaval e torná-lo “mais atrativo” foi a mudança na figura do carnavalesco, que, até hoje, é responsável pela concretização da ideia do espetáculo visual, que antes vinha do chão da escola, e então passou a ser feito por pesquisadores contratados nas universidades. Os primeiros carnavalescos eram integrantes das próprias escolas, que dispunham unicamente de alguma habilidade artística, não tendo nenhuma formação acadêmica para tal.

O ponto de virada na grande transformação do papel do carnavalesco se dá no desfile de 1959. A Acadêmicos do Salgueiro contrata o aderecista Dirceu Nery e a figurinista suíça Marie Louise para fazer o carnaval da escola. Um ano mais tarde, a chegada de Fernando Pamplona, professor da Escola Nacional de Belas Artes, consolida esta nova tendência.

Nova fase de vida

Candeia chegou a trabalhar como policial civil e, inclusive, era conhecido por abordagens truculentas. Mas, em 1965, ao se envolver numa briga de trânsito, o portelense foi alvejado por cinco tiros e uma bala se alojou em sua medula espinhal, deixando-o paraplégico. Passou, então, a refletir profundamente sobre sua vida e a importância da defesa da cultura nacional. Não aceitava as ações da indústria fonográfica estadunidense, que esmagavam a música brasileira, e denunciou os artistas brasileiros que submetiam suas músicas à proposta melódica e rítmica do estrangeiro.

 Nessa fase compôs “Preciso me encontrar”, onde os versos seriam eternizados na voz do mestre Cartola: “Deixe-me ir/ Preciso andar/ Vou por aí a procurar/ Sorrir pra não chorar/ Quero assistir ao sol nascer/ Ver as águas dos rios correr/ Ouvir os pássaros cantar/ Eu quero nascer/ Quero viver”. Candeia percebeu que as Escolas de Samba estavam mudando rapidamente sua forma de se relacionar e de se apresentar por influência do mercado, tanto do turismo quanto fonográfico.

Na cabeça das elites econômicas e governantes, o país que apresentava para o mundo o seu plano de milagre econômico “cinquenta anos em cinco” não poderia ser apresentado para o exterior com uma cultura construída por filhos de pessoas escravizadas. Não à toa, nessa época, surge a Bossa Nova (um samba embranquecido, sem tambor e desafricanizado), que era pintada internacionalmente como a expressão da cultura nacional.

Nasce um novo quilombo

Já na década de 1970, alguns sambistas se revoltaram com o desenrolar dessas bruscas mudanças e, assim, transformaram sua indignação em músicas, como Nelson Sargento, ao compor “Agoniza, mas não morre” (1978). Outros abandonaram suas agremiações e fizeram, segundo eles, um caminho de reencontro do samba consigo mesmo.

Em 1974, a Portela apresentou o enredo “O mundo melhor de Pixinguinha” e abriu a escola para compositores de fora, sendo escolhido a parceria de dois nomes vindos da MPB: Evaldo Gouveia e Jair Amorim. Essa mudança bateu de forma violenta na Ala de Compositores portelenses, uma das mais respeitadas da época, resultando no afastamento de Zé Ketti e de outros sambistas. Além disso, a presença da indústria fonográfica resultou diretamente no trabalho do compositor, que era obrigado a fazer um samba em até cinco minutos para caber no disco.

Outro que rompeu com essa lógica foi Candeia, que percebeu que a espetacularização do Carnaval era favorável apenas às grandes empresas de turismo, que submetiam a festa popular aos seus próprios interesses financeiros. Com isso, promoveu, dentro da Portela, a maior crise interna na escola desde a morte de Paulo Benjamin de Oliveira, seu fundador.

Candeia era, naquele momento, a grande estrela da agremiação, mas decidiu sair da escola e criar, em 1975, o Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo, um espaço onde os sambistas poderiam se reunir para fazer sua festa sem o assédio da indústria fonográfica, da indústria do turismo, das imposições estadunidenses à cultura nacional. 

A escolha do nome não foi à toa: para Candeia, as Escolas de Samba serviam como quilombos urbanos, espaços de reunião, socialização e luta das pessoas pobres. O Quilombo nasce com um manifesto de fundação denunciando a submissão da cultura nacional aos ditames da cultura norte-americana, contra a homogeneização, pasteurização e industrialização da música nacional. Diz um trecho do manifesto:

“A posição do Quilombo é principalmente contrária à importação de produtos culturais prontos e acabados, produzidos no exterior. (…) Quilombo não pretende chamar atenção do consumo, violentador da cultura tradicional, mas sim denunciar sua participação. (…) Os sambistas estão sendo anestesiados, controlados e roubados. (…) Quilombo é um núcleo de resistência contra as deformações que vêm afetando a arte popular brasileira. Quilombo é uma greve de sambistas contra a populução no meio.”

O manifesto de Candeia, apresentado acima, entregue à direção da Portela, trazia sugestões divididas em tópicos: introdução; críticas que julgamos construtivas; nossas sugestões (direção, gigantismo, fantasias, alegorias, samba de enredo, destaque, participação de componentes, posição externa) e conclusão. Tratado como letra morta, suas ponderações não foram nem mesmo discutidas no seio da diretoria da Portela, sendo a gota d’água para compositores como Nei Lopes, Wilson Moreira e Paulinho da Viola, que também foram para o Quilombo. Mais tarde, incorporam-se outros, como Martinho da Vila, Waldir 59, Elton Medeiros, Monarco. O Grêmio era ainda frequentado por Paulo César Pinheiro e Clara Nunes, entre outros expoentes do samba carioca.

O Quilombo era um grito de insurreição e Candeia se tornou uma liderança da cultura nacional, dos direitos civis da população negra, dos sambistas vítimas da degeneração das escolas de samba (cada vez mais comerciais) e um ferrenho opositor da ideia que existia, e ainda existe, de que “o que fosse bom para os EUA, era bom também para o Brasil”. 

Raquel Trindade foi responsável pelo primeiro enredo do Quilombo. Inspirada na frase de seu pai, o pintor, ator, teatrólogo e militante do Partido Comunista, Solano Trindade, que dizia: “pesquisar na fonte e devolver ao povo em forma de arte”. Nei Lopes e Wilson Moreira foram responsáveis por fazer a letra, conhecida como “Ao povo em forma de arte”.

Candeia cantou a vida dos trabalhadores em “O Invocado”, que denuncia a falta de oportunidade de emprego para os pobres, escreveu “Dia de Graça”, que buscava levantar a autoestima dos negros brasileiros: “Não negue a raça/ Torne toda manhã dia de graça/ Negro, não se humilhe nem humilhe a ninguém/ Todas as raças já foram escravas também”.

FONTE: “Escola de samba: árvore que esqueceu a raiz”, de Antônio Candeia Filho e Isnard Araújo

Matéria publicada na edição nº 288 do Jornal A Verdade

A autossustentação da organização revolucionária da juventude

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Coordenação Nacional da UJR


A cada dia que passa, a luta de classes se torna mais encarniçada no nosso país e no mundo. Temos acompanhado o massacre do povo palestino promovido por Israel e os EUA, a constante retirada de direitos da classe trabalhadora, as tentativas de golpe fascista, etc. Por outro lado, aumentam as lutas da classe trabalhadora contra a opressão e a exploração em todo o mundo. Neste cenário, torna-se ainda mais necessária a construção de uma organização revolucionária da classe trabalhadora e da juventude, capaz de derrubar o apodrecido sistema capitalista.

Uma organização revolucionária e independente

A história prova que, só com uma organização própria, experimentada e temperada no fogo da luta de classes, é que a classe trabalhadora será capaz de se fortalecer em sua luta para realizar uma revolução que ponha fim à exploração capitalista. Estamos, dia a dia, forjando esta organização. Porém, há sempre uma barreira que atrasa o ritmo de nosso desenvolvimento: a falta de recursos financeiros. Cabe então nos questionarmos: como deve ser a arrecadação financeira?

Nas campanhas eleitorais, por exemplo, os ricos investem rios de dinheiro para eleger seus candidatos. Afinal, depois de eleitos, os políticos burgueses lutam com todas as suas forças pela manutenção da propriedade privada dos meios de produção e para aprovar políticas que favoreçam aqueles que os financiaram. Na política do “toma lá, dá cá”, quem perde é o povo.

Assim, para uma organização revolucionária que defenda o fim da propriedade privada dos meios de produção e da exploração capitalista, a independência política só pode ser conquistada com a independência financeira. Por isso, a classe trabalhadora deve financiar seu próprio partido.

Não são poucas as iniciativas que podemos ter nesse sentido: venda de produtos, o apoio de aliados, as rifas, almoços, jantares, cursos de teoria marxista, etc., são exemplos de atividades rentáveis, que ampliam a ligação da organização revolucionária com as massas trabalhadoras e permitem um financiamento independente.

A contribuição individual 

De todas as iniciativas de arrecadação financeira que podemos ter, a mais importante, a “pedra angular”, por assim dizer, deve ser a contribuição financeira individual do militante. Lênin, fundador do Partido Bolchevique e principal dirigente da Revolução Russa, definiu que uma das condições fundamentais para ser membro de uma organização revolucionária é o pagamento de uma cota financeira regular.

Seguindo esta política, a União da Juventude Rebelião (UJR), organização revolucionária da juventude brasileira, definiu, desde sua fundação, que é papel de cada militante apoiar o financiamento de sua organização através do pagamento de uma contribuição financeira mensal.

A contribuição é um termômetro do compromisso de cada companheiro e companheira com a revolução […]” (A contribuição individual e a construção material da UJR, 2015). O problema do pagamento das contribuições individuais reside na baixa consciência dos militantes sobre a importância dessa política financeira. Para solucionar essa questão, é preciso haver discussão e luta política com cada militante e em cada coletivo da UJR. Os dirigentes e secretários de finanças precisam assumir sua responsabilidade e fazer discussões e cobranças sistemáticas para identificar as debilidades, os motivos da falta de pagamento e garantir que cada camarada esteja em dia com a sua contribuição financeira para a revolução.

É com a contribuição de cada camarada que conseguimos produzir panfletos, cartazes, livros, bandeiras, camisas, realizar cursos, reuniões, etc. É esse o recurso que garante o funcionamento da UJR no dia a dia, auxilia no desenvolvimento das nossas lutas e torna mais próxima a revolução que dará fim à exploração capitalista. Desta forma, está nas mãos de cada militante da UJR a construção de uma organização mais sólida, organizada e presente em cada canto do Brasil nas lutas da juventude.

A Coordenação Nacional da UJR faz um chamado a todos os militantes: fique em dia com a juventude e contribua para a revolução!

Matéria publicada na edição nº 288 do Jornal A Verdade

Militância do Pará triplica venda do livro Lênin, vida e obra

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Welfesom Alves | Belém (PA)


O que pode desenvolver mais uma organização do que o investimento nas lutas cotidianas e na formação política? Mikail Kalinin, durante seu informe pronunciado no Ativo do Partido Comunista Bolchevique, de outubro de 1940, em Moscou, destacou a diferenciação entre o ensino e a educação com a seguinte caracterização: “A educação consiste em exercer uma ação determinada, sistemática e com um objetivo definido sobre a psicologia do educando, com o fim de inculcar-lhe as qualidades desejadas pelo educador”. Ora, se desejamos aplicar uma rotina diária, sistemática e contínua em nosso trabalho, o investimento na formação política deve ser robusto. Com essa consciência, a militância do Estado do Pará triplicou a sua meta de pré-venda para a biografia de Lênin, recém-lançada pelas Edições Manoel Lisboa.

Alguns elementos auxiliaram na superação da meta: homenagem ao centenário de imortalidade de Lênin; autocrítica sobre a formação coletiva; acompanhamento sistemático por parte da assistência; e, por fim, a compreensão sobre o papel de nossa organização na divulgação e difusão do marxismo-leninismo no Brasil.

Cotidianamente, temos ocupado as ruas com a divulgação do jornal A Verdade e a realização de atos e panfletagens. Nossas organizações também têm travado lutas e, com isso, mais e mais pessoas se somam à luta geral pelo socialismo e, assim, buscam aprimorar seu conhecimento sobre o marxismo. Portanto, cumpre a nós, marxistas-leninistas, o papel histórico de mostrar que há uma outra forma de viver, uma vez que grande parte das organizações da chamada “esquerda brasileira” abriu mão da luta pelo socialismo e se contenta com as migalhas destinadas pelo capitalismo ao povo pobre, enquanto um punhado de ricos aumenta suas fortunas a cada dia.

Se compreendermos que essa é a nossa missão histórica, nossa parcela de contribuição para o desenvolvimento da humanidade, saberemos rapidamente como agir frente àquele professor que nos encontra vendendo jornal e adquire o seu, o que fazer quando aquela dirigente sindical passa por nós na assembleia e nos parabeniza pela participação, pois a nossa presença contagia a classe. Nos portaremos diferente com aquele vizinho que nos vê chegar cansados e nos recebe com um sorriso de quem espera uma boa nova.

No fim de tudo, nos interessa saber se queremos cumprir esse papel, e a militância do Estado do Pará tomou para si essa missão e decidiu declarar guerra ao formalismo, à apatia, ao individualismo e ao sentimento espontaneísta. Durante muitos anos, a classe trabalhadora viu seus direitos serem corroídos e sugados por uma máquina de moer gente, enquanto se esforçava para resistir, mas com a luta de rua e a formação político-ideológica marxista-leninista, nossa classe se prepara para avançar mais rápido rumo ao socialismo.

Operários da construção civil de Caruaru elegem chapa do MLC

Iany Morais | Caruaru (PE)


O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Caruaru (Sintracon) é referência por defender firmemente os direitos e interesses da categoria que representa, bem como do conjunto da classe trabalhadora caruaruense. No dia 14 de março, aconteceu a eleição para a nova diretoria e o resultado confirmou a importância do trabalho desta entidade: a Chapa Luta de Classes foi reeleita com 96% dos votos.

O fato de o processo eleitoral ter sido com chapa única não interferiu na dedicação dos companheiros e companheiras do MLC. Pelo contrário. Eles construíram uma grande campanha, visitando todos os canteiros de obra do município, entregando o jornal da entidade, recolhendo assinaturas para o abaixo-assinado pela revogação das reformas trabalhista e previdenciária, e convocando a categoria para fortalecer o seu sindicato. Ao total, foram registrados 1.350 votos, sendo 45 brancos, 9 nulos e 1.296 votos para a Chapa 1. Uma grande representatividade!

Foi com o MLC à frente desse sindicato que os operários conseguiram importantes conquistas, como café da manhã regional e almoço gratuitos nos canteiros de obra, expediente nos sábados e feriados somente com o acordo coletivo com os trabalhadores e o aval do sindicato, pagamento de 100% das horas-extras trabalhadas, atendimento jurídico diário, atendimento clínico e odontológico semanal, construção do clube de campo do sindicato.

Para José Henrique Ramos, da Coordenação Nacional do MLC e presidente reeleito do Sintracon, o expressivo resultado é o “reconhecimento do trabalho coletivo encabeçado pelo MLC e de um partido comprometido com a libertação dos trabalhadores”. Ele ainda destacou o papel da entidade na politização da categoria, afirmando que “o sindicato é uma faculdade para os operários, que aprendem como acabar com a exploração e as desigualdades. Estudando e se formando, principalmente levando o jornal A Verdade para os canteiros de obra, vamos mostrando a importância da gente se organizar”.

Matéria publicada na edição nº 288 do Jornal A Verdade

PL dos Aplicativos mantém superexploração dos trabalhadores

Coordenação Nacional do MLC


O Projeto de Lei que trata da regularização dos aplicativos no Brasil, enviado ao Congresso Nacional pelo presidente Lula, piora em inúmeros aspectos a vida do trabalhador por aplicativos.

O governo criou uma comissão para debater o tema, nela estavam presentes as plataformas digitais, sindicatos e o governo para elaborar uma “proposta de consenso”. No entanto, consenso entre trabalhadores e patrões não existe. Para os patrões continuarem aumentando seus lucros, precisam aumentar a exploração dos trabalhadores. Assim, o governo não ouviu os trabalhadores que lutam pela melhoria nas condições de trabalho, que organizam greves desde o período da pandemia, denunciando as situações de exploração que passam diariamente.

Aplicativos roubam trabalhador

A regulamentação dos aplicativos garante um valor de R$ 32,00 por hora, destes, R$ 24,00 ficam com a plataforma e o trabalhador fica com apenas R$ 8,00. Levando em consideração uma jornada de trabalho de oito horas diárias, o trabalhador do aplicativo receberia R$ 64,00 por dia de trabalho, enquanto a plataforma embolsará R$ 192,00. Vale lembrar que os gastos com manutenção e combustível são de responsabilidade do motorista. É importante salientar que os R$ 8,00 só serão pagos se o trabalhador estiver com passageiro. Não está contabilizado o tempo para conseguir a corrida, seu trajeto casa/trabalho/casa, lanche e banheiro. Com essa decisão, o governo reafirma a Reforma Trabalhista que rasgou e jogou no lixo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Atualmente, os motoristas ganham mais que a proposta apresentada pelo governo e as plataformas. Com esse novo PL, as empresas terão a faca e o queijo na mão para pagar apenas o mínimo necessário, para garantir que seus lucros sejam cada vez maiores. Outro elemento importante é que tudo isso é calculado se o trabalhador estiver logado a apenas uma plataforma. Hoje os motoristas de aplicativos estão logados em diferentes plataformas, aumentando a possibilidade de conseguir corrida. Com a nova lei, isso acabará.

Como se não bastasse, a lei diz que não há vínculo empregatício entre trabalhador e plataforma, regulamentando uma nova espécie de regime de trabalho como “autônomo assalariado”, criando uma aberração, que, como todas as outras oriundas das reformas, tendem a se alastrar por diversos setores da sociedade.

Já o Governo Lula se distancia ainda mais das propostas que foram apresentadas pelo conjunto dos trabalhadores durante a campanha eleitoral (que exigiam a revogação das reformas trabalhistas e previdenciárias), aprofundando sua relação com os patrões, sejam os do agronegócio, da indústria, ou, como agora, com as plataformas virtuais que lucram milhões com os aplicativos.

Organizar e lutar

Infelizmente, parte significativa dos motoristas de aplicativos são induzidos pelo canto da sereia a se verem como empreendedores e, assim, criam de forma inconsciente uma aversão à organização para lutar por seus direitos.

É preciso desenvolver um trabalho sistemático, obstinado e de conscientização entre os motoristas e trabalhadores de aplicativos para romper com o discurso de que é possível “vencer” apenas com base no esforço individual, uma vez que na sociedade capitalista as relações de produção impõem uma realidade desigual e só é possível avançarmos nos nossos direitos a partir de uma luta coletiva pelos nossos interesses enquanto trabalhadores.

Matéria publicada na edição nº 288 do Jornal A Verdade

Greve na educação pública federal marca luta sindical no país

Jaqueline Silinske | Movimento Luta de Classes (MLC)


O jornal A Verdade entrevistou membros da Coordenação Nacional do Movimento Luta de Classes (MLC) que estão construindo a greve dos trabalhadores da educação pública federal. Os servidores técnico-administrativos em educação (TAEs) das universidades já entraram em greve e os trabalhadores dos Institutos Federais (IFs) decidiram também paralisar suas atividades a partir do dia 03 de abril. Foram entrevistados Helena Nara, diretora da Fasubra; Aroldo Félix, do Andes-SN; e Camila Félix, do Sinasefe-IFBA.

Mesmo após diversas reuniões com o movimento sindical, o Governo Lula apresentou o projeto de Orçamento para 2024 com reajuste zero para as categorias do setor, com previsão de 4,5% de reajuste para 2025 e 2026. Ainda cortou o orçamento, já escasso, das universidades, IFs e Cefets e da Capes. E, até o momento, não apresentou uma proposta de reestruturação das carreiras dos TAEs e dos docentes.

Por que os TAEs iniciaram uma greve nacional?

Helena Nara – Os TAEs são trabalhadores fundamentais para o funcionamento das instituições federais de ensino, mas temos a pior remuneração do serviço público federal. As perdas salariais da categoria, ano após ano, já acumulam mais de 50%, sendo que só tivemos um reajuste emergencial de 9% no ano passado. O Governo Federal ofereceu uma proposta que não chega nem perto de cobrir nosso déficit, além de condicionar a reestruturação da carreira a que não haja impacto financeiro.

Como está a construção da greve entre os docentes da base do Andes-SN?

Aroldo Félix – Os docentes, junto com os TAEs e demais servidores públicos federais, estão em negociação com o Governo Federal desde o início do ano passado. Apresentamos nossa pauta de reivindicações e uma proposta de recomposição salarial com base nas perdas salariais dos últimos sete anos. Após algumas rodadas da “Mesa de Enrolação”, a proposta apresentada no final do ano foi de reajuste zero para 2024. Essa falta de respeito foi reafirmada nas reuniões da Mesa com o governo nos dias 22 e 28 de fevereiro. Em meio a essa conjuntura, aconteceu o Congresso Nacional do Andes-SN em Fortaleza (CE), com a participação de mais de 600 docentes. Dentre os inúmeros debates realizados no Congresso, o que mais agitou o plenário foi o da construção da greve. Após calorosos debates e sobre a palavra de ordem “GREVE JÁ!” foi aprovada.

Qual a importância da greve para o serviço público federal?

Camila Félix – A educação pública federal tem sofrido com os constantes cortes orçamentários, fazendo com que não haja recomposição salarial aos trabalhadores, garantia de políticas de permanência aos estudantes, incentivo para pesquisa e extensão e garantia de condições para uma educação que seja, de fato, pública, gratuita e de qualidade. Nesse sentido, a greve é um mecanismo essencial dos trabalhadores para obter melhorias nas condições de trabalho, como em questões de segurança, benefícios e salariais. O Movimento Luta de Classes se coloca na vanguarda no processo de luta junto à base para, assim, fortalecer e garantir o direito da classe trabalhadora do nosso país. Fortaleça essa luta! Venha construir com o MLC!

O papel da UJR na construção da Casa de Referência Inês Etienne Romeu

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A UJR na Região dos Lagos foi peça fundamental para a conquista da ocupação Inês Etienne Romeu, no centro de Cabo Frio. Para pensar em como manter e expandir essa empreitada é necessário, também, um constante trabalho da juventude.

Ruy Vanzan | Cabo Frio (RJ)


No dia 25 de novembro de 2023, na cidade de Cabo Frio (RJ), ocorreu uma ocupação de mulheres em um imóvel que estava abandonado há mais de 10 anos. O Movimento de Mulheres Olga Benário tomou a acertada decisão de organizar um espaço que possa ser referência na luta pela em defesas das mulheres da Região dos Lagos, uma das regiões mais perigosas para as mulheres no estado do Rio de Janeiro.

Nesse processo a União da Juventude Rebelião (UJR), organizou seus militantes e, principalmente, suas militantes para participarem da construção da ocupação.

Como ocorreu?

Na madrugada do dia 25 de novembro de 2023, o Movimento de Mulheres Olga Benário ocupou a casa abandonada a mais de 10 anos. O local, que se encontrava bastante degradado, foi limpo em poucas horas pelo conjunto da militância. Depois de horas de resistência ao cerco policial que se formou em volta da ocupação, diversas negociações com a Prefeitura de Cabo Frio e contando com o apoio dos moradores ao redor, a Prefeitura cedeu o espaço ao movimento.

Assim se consolidou a Casa de Referência Inês Etienne Romeu, que acolhe, abriga e emancipa mulheres em situação de vulnerabilidade e que precisam de ajuda.

A Necessidade deste espaço

Na Região dos Lagos, números do Centro Especializado de Atendimento à Mulher (CEAM) de Cabo Frio mostram que, entre janeiro de 2021 e maio de 2022, mais de 800 mulheres foram atendidas por diversos tipos de agressões (física, moral, sexual e outras). Muitas dessas mulheres sofrem estes diversos tipos de agressão dentro de suas casas e não possuem local para acolhimento.

É para esse acolhimento que surge Casa de Referência Inês Etienne Romeu, uma casa de cuidado, encaminhamento e organização das mulheres que é essencial para que essas agressões não se convertam em mais feminicídios. Por tudo isso, é papel dos militantes da UJR construir e apoiar a Casa. Seja na organização, participando das atividades, contribuindo financeiramente ou  participando da escala. Tendo como horizonte mais atividades como o mutirão organizado pela UJR no dia 23 de janeiro. Não podemos nos afastar do que disse nosso patrono Che Guevara: “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”.

Prefeitura de Salvador despreza população pobre

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Gregorio Motta Gould | Salvador (BA)

Salvador foi a primeira capital do Brasil e, segundo o censo de 2022 do IBGE, tem 2.418.005 habitantes. É a capital com maior população negra fora do continente africano, com 83% da população se declarando negra (pretos e pardos).

É também uma cidade marcada pela desigualdade social e violência contra o povo pobre. A taxa de desemprego no último trimestre de 2023 foi de 16,7%, a maior taxa de desemprego entre as capitais brasileiras. Sobre a violência, temos denunciado em diversas edições do jornal A Verdade o fato de a polícia baiana ser a que mais mata no país, segundo levantamento do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Mas não é com os problemas do povo que o atual prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM) está preocupado, mas sim em lotear a cidade entre os seus amigos ricos. Bruno Reis é sucessor de ACM Neto (DEM), que governou a prefeitura pelos dois mandatos anteriores. Além de sucessor, Bruno Reis é amigo e fiel escudeiro político de ACM Neto há mais de 20 anos, quando ambos compunham a Juventude do então PFL. 

ACM Neto, Antônio Carlos Magalhães Neto, é herdeiro do velho ACM, ou Toninho Malvadeza, médico que se tornou político da ditadura militar fascista, sendo governador biônico (imposto pelos militares). Corrupto e autoritário, era conhecido por perseguir seus adversários políticos e o povo pobre de Salvador através das forças de segurança. Chegou a entregar, quando ministro das Comunicações, a concessão da Rede Bahia (afiliada da TV Globo) para sua própria família. Por essas e outras, a família Magalhães, antes uma família de classe média, figura hoje entre as mais ricas do estado e comanda os principais meios de comunicação da Bahia.

Vendendo a cidade para beneficiar os ricos

No fim do ano passado, dia 20 de dezembro, já na véspera das festas, a Prefeitura mandou para a Câmara Municipal um projeto de lei que previa a desafetação (desligamento do bem da estrutura organizacional do Estado, ou seja, passa a ser passível de venda) de 44 áreas da cidade, entre elas 17 áreas verdes, áreas de ilhas, de preservação ambiental ou cultural. A Câmara Municipal aprovou o PL, diminuindo para 40 áreas, o que, ainda assim, é um absurdo.

Uma decisão desse tipo deveria ser debatida na construção do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, que é o instrumento da política de desenvolvimento e expansão urbana capaz de organizar o crescimento urbano e apresentar alternativas para o desenvolvimento socioeconômico da cidade, obrigatório para todo município acima de 20 mil habitantes, conforme o Estatuto da Cidade, Lei Federal nº 10.257/2001.

A entrega dessas áreas para os interesses da especulação imobiliária coloca em risco a preservação de áreas verdes e ameaça o clima da cidade por permitir a construção de grandes prédios perto da orla.

A votação foi tumultuada, já que lideranças populares e defensores do meio ambiente se mobilizaram. A presidência da Câmara se utilizou de muita truculência para manter a votação.

Também no Carnaval, o prefeito mostrou o seu lado. Enquanto os ricos ficavam em luxuosos camarotes, os ambulantes tiveram que ficar vários dias debaixo de sol e de chuva para conseguir se cadastrar para trabalhar. Além disso, os trabalhadores ambulantes precisam dormir mais de 15 dias na rua para ter garantido um local para realizar sua venda, sem contar com estrutura de banho, alimentação, tomada para carregar as maquininhas de cartão, etc. Esse ano, para piorar aquilo que já é difícil para nosso povo, o prefeito Bruno Reis impôs, apesar do protesto dos trabalhadores e trabalhadoras, uma passarela de madeira, montada em cima da areia da praia, ou seja, totalmente insegura, para que os ambulantes realizassem a venda.

Há alguns anos, a Prefeitura tem adotado um modelo de patrocínio no Carnaval que é, na verdade, a venda da cidade a uma marca de cerveja. Assim, a patrocinadora tem o monopólio da venda de cerveja durante os dias de festa e conta com todo o aparato da Prefeitura para garantir que esse monopólio se realize.

A verdade é que as cidades são construídas e sustentadas pelo povo pobre, mas é o interesse dos ricos que impera. Precisamos inverter essa lógica e fazer com que a cidade, seus terrenos, suas festas e toda sua vida sirva aos interesses de quem a constrói, do povo trabalhador.

“Meu filho sofreu uma emboscada!”, afirma mãe de Cacique Merong

A Verdade tem realizado a cobertura da morte do Cacique Merong Kamakã Mongoió, encontrado morto em sua casa, na manhã do último dia 04 de março, no território onde está situada a retomada indígena do povo Mongoió. Pressão e disputa judicial por parte da mineradora Vale S/A, além de muitas lacunas na explicação do caso, marcam a morte do Cacique.

Indira Xavier | Redação


MEMÓRIA – O território, situado no Córrego de Areias, povoado de Casa Branca, Município de Brumadinho (Região Metropolitana de Belo Horizonte), está retomado desde outubro de 2021. A mineradora reivindica a posse da terra e sua imediata desocupação. Com isso, povos originários de diversas etnias se mantêm na retomada para auxiliar e fortalecer a luta pela permanência do povo Kamakã Mongoió.

As ameaças têm se intensificado como forma de intimidação diante da repercussão do caso e da força que tem tomado o povo Kamakã para defender seu território. No último dia 15 de março, inclusive, durante uma reunião de apoiadores para construir a solidariedade e as lutas na região, pelo menos 12 tiros foram disparados nas proximidades da cachoeira.

Cerimônia de semeadura

No dia 09 de março, ou seja, cinco dias após a morte, é que os parentes indígenas, familiares, amigos e apoiadores puderam finalmente realizar um ato de despedida do Cacique Merong, resgatando sua memória, luta de resistência e ancestralidade. 

Ao final da cerimônia de semeadura, a Cacica Katorã, mãe de Merong, afirmou: “Quero justiça! Justiça! Justiça pelo tombo que deram no meu filho. Ele foi vítima de uma emboscada! Não foi ele que tirou a própria vida! Quero justiça!”.

Falando em nome da Unidade Popular (UP) – partido ao qual Merong era filiado e pelo qual foi candidato à Câmara Municipal de Porto Alegre, no período em que viveu no Rio Grande do Sul e foi uma das lideranças da Ocupação Lanceiros Negros, organizada pelo MLB –, o presidente nacional da UP, Leonardo Péricles, afirmou: “Cacique Merong se aqui estivesse agora, falaria que a luta tem que continuar. E é isso que estamos fazendo aqui”.

Circunstâncias da morte

Conversando com a Cacica Katorã, A Verdade levantou elementos que explicam como se deram os fatos na manhã do dia 05. Por volta das 06h, como de costume, Merong levantou e dirigiu-se à Casa da Fazenda – construção de alvenaria que existe dentro do território, onde está em andamento a implementação de um Museu dos Povos Kamakã Mongoió. Lá fez a barba, tomou café com a família e combinou com o irmão os preparativos para o início da agrofloresta – projeto em desenvolvimento no território e que seria iniciado naquele mesmo dia. 

Por volta das 08h, falou com sua mãe que iria em casa buscar algo e, passados cerca de vinte minutos, ele não voltou. Katorã, então, foi até a residência dele e o encontrou com uma corda no pescoço, supostamente enforcado. No entanto, chamou atenção o fato de que Merong, pesando mais de 90 kg, estivesse em pé, preso por uma fina corda, atada a uma fina ripa de madeira, que não suportaria tal peso. Havia também sangue no chão próximo ao corpo. Um cenário construído para induzir familiares e parentes a pensarem que se tratava de suicídio.

Desconsiderando o fato de que, em territórios indígenas, é competência da Polícia Federal atuar, a Polícia Civil de Minas Gerais recolheu o corpo e começou a trabalhar com a tese de suicídio, mesmo sob contestação de familiares e aliados. O laudo pericial ainda não foi finalizado e a retomada está sendo ameaçada pela mineradora Vale S/A.

Fato é que, mesmo depois de morto, Merong foi intimado por um oficial de justiça, assim como uma criança de nove anos e outros parentes, para depor na audiência de reintegração, que foi marcada para o dia 19 de março, quase três anos depois da retomada.

Resgate da identidade do Povo Kamakã Mongoió

Merong era a sexta geração do povo Kamakã Mongoió. Sendo que quase todo o seu povo, assim como a maioria dos povos originários do Brasil, foi exterminado pelas balas do Império Português, da Ditadura Militar e dos ricos donos de terra.

Ao relatar sua história durante a 7ª Semana de Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Minas Gerais, em novembro de 2022, ele afirmou: “A nossa história é marcada por sangue. Nós somos raiz dessa terra, nós não somos invasores nessa terra, nós somos daqui e a nossa luta é pelo direito de existir. As pessoas estudam e trabalham pra ter dinheiro, mas ninguém come papel, nós comemos o que vem da terra”.

Com a retomada, ele podia também dizer: “Nós retomamos um pouco da nossa dignidade porque levantamos todo dia de cabeça erguida, respirando um ar puro e tudo isso lutando muito. E quero falar pra vocês que a luta dos povos indígenas não é só dos povos indígenas, ela é de vocês também”.

O Cacique explicou que a última aldeia do Povo Kamakã existiu até 1932, no território de Catulezinho, em Vitória da Conquista (BA). Foi ali onde sua avó materna nasceu. Com a intensificação da guerra promovida pelos coronéis contra os povos originários, e após terem sido expulsos deste último território remanescente, restou ao povo Mongoió e outros indígenas também expulsos de suas aldeias, a migração forçada para um território destinado pelo Governo Federal, que, supostamente, era protegido.

O local para o qual seus parentes tiveram que migrar era o Posto Indígena Caramuru Paraguaçu. Ali, em pouco mais 54 mil hectares, o povo Mongoió se juntou aos Baenã, Kiriri Sapuyá, Tupinambá, Guerém e Pataxó e a esta junção se dá o nome de Pataxó Hã Hã Hãe.

Marco temporal e a luta contra o agronegócio

Nesta mesma palestra, o Cacique deixa claro que não se pode deixar a mineração e o agronegócio avançar, que estes são os principais inimigos da terra e dos povos.

O marco temporal é uma inversão da História, como se os indígenas tivessem chegado e invadido terras, sendo que os verdadeiros invasores ficaram como donos legítimos desses territórios para fins de exploração. A aprovação desta tese implicaria em um retrocesso que nega a cultura e a ciência produzidas pelos povos originários, além de desconsiderar que são os indígenas que fazem o maior trabalho de conservação dos biomas brasileiros. 

Enquanto milhões de brasileiros passam fome, a bancada ruralista no Congresso Nacional quer acabar com todas as riquezas naturais do país, seja devastando florestas para cultivar soja e criar gado, seja cavando buracos e soterrando pessoas vivas, como ocorreu nos desastres de Brumadinho e Mariana, ambas de responsabilidade da empresa Vale S/A, a mesma que está investindo contra o povo Kamakã Mongoió e os Xucuru Kariri, povo que também tem uma retomada na mesma região.

Matéria publicada na edição nº 288 do Jornal A Verdade.

Modo de produção capitalista é a causa dos desastres climáticos

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Enchentes, desabamentos, secas, tempestades e tantos outros problemas não podem ser encarados como naturais ou “vontade divina”, pois são frutos diretos do modo de produção capitalista.

Raul Bittencourt Pedreira | Rio de Janeiro

OPINIÃO – O alerta de fortes chuvas no Sudeste, dado pelos três níveis de governo, federal, estadual e municipal, acarretando a suspensão de atividades em órgãos públicos e empresas privadas, tem como pano de fundo uma situação muito grave e que não pode ser considerada secundária, mas sim um problema central para toda a classe trabalhadora: a crise climática.

Dias antes das chuvas deste final de semana, o Brasil passava por uma onda de calor, cuja sensação térmica alcançou, em vários pontos do Rio de Janeiro, por exemplo, atingiu absurdos 60ºC. Secas e alagamentos se alternam por todo o país, espalhando dor e sofrimento, especialmente para os mais pobres. A Região Serrana fluminense é submetida a alagamentos, quedas de barreiras, desabamentos e mortes a cada chuva forte. Dezenas de milhares ficam sem luz e isolados, enquanto o poder público é incapaz (ou sem vontade) de atuar nas causas do problema.

Ora, estas chuvas e ondas de calor são sintomas da crise climática, provocada pelo uso indiscriminado de recursos naturais e liberação descontrolada de gazes estufa, que a despeito de uma série de protocolos que visavam a controlar as emissões, seguem crescendo.

A região do semiárido está em acelerado processo de desertificação, como publicado em nota técnica conjunta do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, Cemaden, e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe, indicando o índice de aridez em patamares inéditos, aumentando áreas em desertificação, sob aspectos climáticos e atmosféricos, atingindo áreas degradadas, que enfrentaram uma redução nas chuvas ao longo dos últimos ano e subsequente redução da oferta de água, degradando as condições de vida.

A crise climática não significa o fim do mundo ou da vida humana em um instante catastrófico bem definido, como nos filmes de Hollywood, mas é um processo gradual de destruição das condições ambientais propicias à vida, cruzando os “pontos de não retorno”, onde a degradação de um sistema se retroalimento em acelerada degeneração.

O descongelamento do “permafrost”, de solos permanentemente congelados no hemisfério norte do planeta, libera gases estufa pelo apodrecimento da matéria orgânica que nele estava aprisionada, além da redução da reflexão de raios solares aumentando a acumulação de calor, retroalimentando o degelo do solo.

No Brasil, as secas, queimadas e o desflorestamento reduzem a umidade da floresta Amazônica, reduzindo sua biomassa e capacidade de reciclar a água, o que acelera a redução da cobertura vegetal e ameaça substituir a floresta úmida por um clima de savana, conforme aponta recente estudo da UFSC.

Como se não bastasse, as temperaturas da superfície dos oceanos acendem alertas por tudo o mundo, com recordes diários de calor em meados de 2023, como alerta a NOAA. No ano de 2023 a temperatura média global dos oceanos foi 0,25° C maior do que ano anterior e as projeções são que isso se repita em 2024, acelerando a acidificação dos mares, potencializando eventos climáticos extremos como furacões e tufões, provocando a morte de corais e desequilibrando toda a cadeia alimentar global.

A sustentabilidade, no capitalismo, é apenas uma expressão de propaganda que visa a ampliar os lucros da grande burguesia, sem modificar as bases da acumulação de riqueza. Investem na venda de água mineral em lata, ao invés do uso de filtros. Plantam mudas de árvores que não irão crescer, como alívio de consciência, tal qual era o pagamento em ouro das indulgências à igreja, pela remissão dos pecados. Um perdão comprado e sem qualquer arrependimento.

Os muito ricos, que controlam os meios de produção, podem até sofrer eventuais desconfortos, dentro de suas mansões climatizadas, de seus “bunkers” de alta tecnologia, mas o impacto da crise climática é duramente sentido nas costas daqueles que produzem toda a riqueza e que terão suas casas, sonhos e vidas esmigalhados.

Imagine a sua casa, o lixo produzido é levado para fora… mas e se você não pudesse descartá-lo e ele se acumulasse na sala, na cozinha, no banheiro, no quarto, em todos os espaços, abarrotando-os um de cada vez e esmagando sua família! Bem, é isso que acontece com o nosso mundo, o lixo produzido em um cômodo é despejado no outro, mas ele não deixa de existir, ele segue contaminado o ar que respiramos, a água que bebemos e os solos dos quais dependemos para produzir alimentos.

A conscientização da classe trabalhadora, especialmente daqueles que residem nas gigantescas periferias, sem serviços públicos, saneamento, água potável e condições de habitação seguras, é uma tarefa urgente da militância comunista e a greve geral climática, cruzando os braços e parando a produção, é um processo de construção indispensável no combate a condições de trabalho e vida insalubres, pressionando os patrões e seus governos comprados a tomarem medidas efetivas contra a crise climática, além de elevar a consciência de classe dos trabalhadores.

Finalmente, o papel dos comunistas é o combate e derrota do modo de produção capitalista e da indústria de consumo de massa, com produtos cada vez mais descartáveis e cuja obsolescência é programada, consumindo energia e recursos finitos, enquanto polui o ambiente. A superação do capitalismo e a implementação do socialismo é condição essencial para a racionalização do uso de recursos naturais, a garantia de acesso à água e comida saudáveis, a sobrevivência da humanidade e da própria vida na Terra, como nós a conhecemos.