UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sábado, 10 de maio de 2025
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“IBGE Paralelo” é desmonte e corte no serviço público

De forma sigilosa, o atual diretor do IBGE, Márcio Pochmann, criou uma fundação para captar recursos privados e contratar trabalhadores sem realizar concurso público, que está sendo chamada de “IBGE Paralelo”. Servidores prometem mobilização contra medida privatista e precarizadora

Raul Bittencourt* | Rio de Janeiro (RJ)


No último dia 26 de setembro, foi realizado um ato público de servidores efetivos e temporários do IBGE na porta de sua sede, no Centro do Rio de Janeiro, convocado pelo sindicato Associação dos Servidores do IBGE. Centenas de trabalhadores protestavam contra medidas impostas pelo atual presidente do órgão, Marcio Pochmann, que determinou o retorno ao trabalho presencial e planeja mudar diversas áreas técnicas para um prédio no Horto, Zona Sul da cidade, a fim de reduzir custos de locação. Mas o mais grave, feito sob total sigilo, foi a criação da Fundação IBGE+.

O “IBGE Paralelo” de Pochmann, como está sendo chamado, permite a captação de financiamentos para pesquisas com recursos público e privado, a venda de serviços para grupos privados, a contratação de trabalhadores via CLT e a criação de novas despesas, inclusive pagamentos a conselheiros, sem passar pelo orçamento federal. A criação da fundação se enquadra na Lei Federal n.º 8.958, de 20 de dezembro de 1994, que regulamenta as relações entre as instituições de ciência e tecnológica e as fundações de apoio.

A iniciativa é tida como mais um passo em uma escalada autoritária do atual presidente, que, nos últimos meses, vinha se recusado a debater com os servidores e seu sindicato, só recuando e aceitando reunir-se com a entidade após a repercussão externa da criação da fundação. Portais de extrema-direita têm, inclusive, se aproveitado para disseminar críticas com viés reacionário, sendo repelidos pelos trabalhadores, que seguem coesos, combatendo ataques da gestão e derrotando as tentativas de manipulação dos movimentos fascistas.

Por trás da criação da fundação apelidada de IBGE Paralelo, estariam as constantes dificuldades orçamentárias, fruto da política econômica que prioriza os interesses de agentes do mercado, em vez dos serviços públicos. Assim, o Governo Lula busca garantir o superávit fiscal para remunerar o esquema da dívida pública, conforme determina o Arcabouço Fiscal, proposto pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, que deu continuidade ao Teto de Gastos do ex-presidente golpista Michel Temer.

Os seguidos contingenciamentos têm prejudicado o funcionamento do IBGE. Em 2020, a redução foi de 32% no orçamento do Censo Demográfico, o que forçou seu adiamento. Em 2021, o orçamento foi reduzido novamente, para R$ 53 milhões, inviabilizando a realização da pesquisa, tendo estes cortes constantes impactado duramente as atividades do instituto durante o Governo Bolsonaro. Já no Governo Lula, em abril de 2024, o corte foi de R$ 9 milhões, o que representa cerca de 25% do valor bloqueado do Ministério do Planejamento, ao qual o IBGE está subordinado.

Política econômica

A preocupação com os constantes cortes orçamentários tem levado direções de outras instituições federais a buscar mudanças em seus regimes jurídicos para reduzir os impactos dos constantes contingenciamentos orçamentários e do Arcabouço Fiscal, além de perdas salariais decorrentes do congelamento após o golpe de 2016 e a posse de Temer. O Inmetro propõe a converter-se em Agência Reguladora; a Fiocruz busca uma mudança de status; o Inpi debate formas de utilizar a sua arrecadação, entre outros.

Tais propostas são paliativos que não atacam o problema central, o liberalismo econômico, que, por décadas, guia o orçamento federal e impõe o arrocho nas contas públicas, levado ao extremo pelo governo do fascista Bolsonaro. A política de Bolsonaro e Paulo Guedes impôs penúria aos serviços e servidores públicos, a qual, apesar das promessas eleitorais, não foi revertida por Lula, que segue submisso aos desmandos do mercado. Sem romper com o arcabouço fiscal, restam poucas alternativas para o serviço público.

Por isso, a única saída para os servidores públicos federais são as manifestações, paralisações e greves, como já demonstraram os servidores da educação federal, que, além das conquistas salariais, pautaram a recomposição do orçamento das universidades e impuseram uma derrota à política fiscal do atual governo.

Matéria publicada na edição nº 300 do jornal A Verdade

Congresso Nacional do Sinasefe tem vitória da oposição classista

Reunindo trabalhadores da educação federal de todo o país, congresso do Sinasefe marcou uma virada de rumo na orientação do sindicato. Eleição da nova direção da entidade foi marcada pela vitória da chapa de oposição classista, com a participação do Movimento Luta de Classes (MLC)

Ésio Melo | Maceió (AL)


Com o tema “Fortalecer o Sinasefe para Enfrentar a Precarização da Educação Pública e a Política Neoliberal”, o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) realizou seu 36º Congresso entre os dias 05 e 08 de setembro, em Brasília (DF).

O evento, que contou com a presença de mais de 700 participantes, elegeu a nova direção colegiada para o biênio 2024-2026, além do Conselho de Ética e do Conselho Fiscal. O Movimento Luta de Classes (MLC) compôs a chapa vitoriosa, intitulada “Sinasefe Classista, Independente, Democrático e de Luta”, que recebeu 151 votos.

“O Movimento Luta de Classes conquistou uma grande vitória. Compusemos a chapa mais votada do congresso e recebemos diversas manifestações de apoio e respeito ao nosso trabalho e à nossa luta, demonstrando a importância da nossa articulação em defesa educação pública. Saímos desse congresso com duas pastas muito importantes: de Formação Sindical e Secretaria Geral. Com toda certeza, vamos pautar a construção de um sindicato classista, independente e que consiga cobrar do governo federal o cumprimento dos acordos da greve, que, até agora, passados dois meses, ainda não foram entregues. Vamos continuar nas ruas e nas lutas para derrubar o arcabouço fiscal, para derrubar a reforma do Ensino Médio”, afirmou a docente do IFRJ, Roberta Cassiano, coordenadora-geral do Sintifrj.

Esse congresso do Sinasefe foi o primeiro realizado desde a aprovação da paridade de gênero dentro da entidade e se destacou pelo protagonismo das mulheres, que foram a maioria no evento, como também serão na gestão. Das 27 diretorias, 19 são ocupadas por mulheres.

“Conseguimos grande destaque no 36º ConSinasefe, elegendo duas mulheres indígenas para ocupar a Diretoria Nacional, além de um companheiro indígena e uma mulher negra para o Conselho de Ética. É muito importante destacar que isso só foi possível devido à forte aliança que o MLC tem construído com o movimento de mulheres e com os povos indígenas, apoiando todas as pautas, em todas as instâncias do sindicato. Estamos presentes no sindicato, lutando contra a opressão e contra o capitalismo”, afirmou a docente do IFMA, Katiúscia Tupinambá, eleita secretária-geral do Sinasefe pelo MLC.

Yuri Buarque, presidente do Sintietfal e membro da Coordenação Nacional do MLC, destacou o rápido crescimento e avanço da corrente sindical dentro do Sinasefe. “Em 2018, éramos apenas três companheiros do MLC, que nos conhecemos ali e, sequer, participamos de nenhuma das chapas inscritas. Esse trabalho combativo, essa linha política acertada, comprometida com as pautas da categoria e com as lutas da classe trabalhadora, fizeram com que o MLC fosse reconhecido pela categoria. Agora, junto com as companheiras e os companheiros do coletivo “Sinasefe para Lutar”, fomos a chapa mais votada do congresso.

O crescimento do Movimento Luta de Classes se deu, principalmente, a partir da grandiosa greve deste ano, que durou três meses, mas também pela atuação combativa do Movimento no próprio congresso. Bárbara de Almeida, servidora do IFMS, conheceu a Unidade Popular e o MLC durante o evento.

“Estive no 36º Congresso do Sinasefe e me senti muito representada no discurso de um rapaz que, até então, não conhecia. Minha colega que me disse: “Esse é o Léo Péricles, da UP”. Após o término da mesa, fiz questão de parabenizá-lo pela fala e, então, fui convidada para conhecer o MLC na reunião que teria à noite. Tudo muito inesperado, mas, quando cheguei lá, fiquei impressionada pela unidade e a coesão de todas as pessoas presentes. Muito alinhados com os princípios socialistas, que também acredito, para transformar a sociedade”, afirmou a servidora.

Ao final, o MLC sai fortalecido do congresso, passando a ter atuação em 11 diferentes seções sindicais e com muitos desafios pela frente. “A gente agradece o apoio e a construção coletiva e reforça nossa disposição em continuar nosso trabalho enquanto coletivo reconhecido pela combatividade e que não aceita posição de subserviência a patrão nenhum, seja ele qual for”, conclui Roberta Cassiano.

Matéria publicada na edição nº 300 do jornal A Verdade

Famílias da Ocupação Anita Garibaldi conquistam terreno em Santa Catarina

Após três anos de resistência, famílias da Ocupação Anita Garibaldi e dos núcleos de base do MLB tiveram uma importante vitória em sua luta por moradia, arrancando do governo de Santa Catarina a doação de um terreno para a construção de um projeto do Minha Casa Minha Vida – Entidades

Wilson Majé | Florianópolis (SC)


Há três anos, famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) resistem aos ataques e ao descaso do Governo de Santa Catarina na Ocupação Anita Garibaldi, na capital Florianópolis. As comunidades de Monte Cristo e Alto Pantanal, compostas por trabalhadores que impulsionam a economia da capital em empregos informais – já que a falta de oportunidades formais também afeta essas famílias –, enfrentam uma realidade difícil.

Elas estão à mercê de aluguéis abusivos, lidam com a ausência de escolas, com esgoto a céu aberto, violência policial e escassez de alimentos. Florianópolis está no ranking em 3º lugar entre as capitais com o aluguel mais caro do Brasil e ocupa também o 2º lugar entre as cestas básicas mais caras.

Após uma longa trajetória de luta e formação dos militantes, com reuniões nos bairros e avançando nas reivindicações contra os descasos em nossas comunidades, as famílias foram se unindo e acreditando que apenas com a luta poderíamos conquistar nossos direitos.

Ao longo desses três anos, denunciamos o Plano Diretor da cidade por desrespeitar os direitos urbanos e colaboramos com outras frentes, como a organização da Marcha da Consciência Negra, dos atos pelo Fora Bolsonaro e mobilizações em defesa da saúde pública e gratuita.

Denunciamos as violências policiais em diversas comunidades e expandimos nossas atividades para cidades como Palhoça, São José e Itajaí. Organizamos o Natal Sem Fome em nossa cidade com mais de 50 famílias, e nossa ocupação Anita Garibaldi tem se tornado uma referência na luta pelos direitos dos moradores de ocupações e comunidades.

Sem recuar, mantivemos nossa força e dedicação na organização e ampliamos nossos cadastros para mais de 300 famílias em todo o estado. Após um mês realizando ocupações semanais na Secretaria de Assistência Social, Mulher e Família (SAS), conquistamos uma importante vitória: a doação de um terreno do Estado de Santa Catarina, que será utilizado para acolher as famílias organizadas no MLB, permitindo nossa inscrição na próxima portaria do Programa Minha Casa, Minha Vida – Entidades.

Hoje, no Brasil, existem mais de 8 milhões de famílias sem teto, mesmo com a Constituição assegurando a moradia como um direito de todo cidadão brasileiro. Enquanto isso, há 11 milhões de imóveis vazios no país. Essa realidade é resultado de mais de 500 anos de exploração por parte das elites, sustentada pelo sistema capitalista.

Em nossa segunda reunião com a Secretária de Assistência Social, Seu Dinarte, morador da comunidade Monte Cristo há mais de 40 anos, tirou do bolso sua carteirinha de cadastramento na Companhia de Habitação (Cohab). Ele aguarda há mais de 30 anos para ser chamado e receber sua moradia. Revoltado com as promessas não cumpridas da Cohab, ele se uniu ao MLB e à luta popular para conquistar sua casa própria.

Dona Vera, por sua vez, chegou às reuniões do núcleo de bairro buscando uma saída para o aluguel. Com problemas de saúde, ela já não consegue arcar com o aluguel, as demais despesas e a compra de alimentos de qualidade. O alto custo dos medicamentos tornou essa realidade ainda mais difícil. Nas reuniões do MLB, encontrou força e esperança na luta pela moradia digna e contra a fome.

Luta e organização

MLB não descansará enquanto houver um só terreno abandonado e uma só mesa sem pão, enquanto nossa sociedade for movida pelos interesses dos grandes poderosos, gerando fome e miséria do povo pobre e trabalhador.

Em sua obra, Lenin já alertava: “Sem teoria revolucionária, não pode haver movimento revolucionário”. Por isso, continuamos nos reunindo e fortalecendo nossos núcleos de base, realizando estudos, promovendo brigadas do jornal A Verdade e apresentando nossa luta bairro a bairro, através da agitação, dos panfletos e das demais atividades, pois sabemos que só com a organização das massas será possível avançar.

Nossa luta é pelo direito à moradia digna, por uma alimentação saudável e, acima de tudo, pelo fim do sistema capitalista e pela construção da sociedade mais justa para o nosso povo, a sociedade socialista.

Matéria publicada na edição nº 300 do jornal A Verdade

A luta diária contra a competição no capitalismo

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Livros de autoajuda, jornais e, mais recentemente, com as redes sociais, somos condicionados a viver em competição, a enxergar o outro como concorrente e a medir nosso valor pessoal com base em resultados. Isso gera uma sensação contínua de fracasso ou insuficiência, já que o sucesso, nos moldes capitalistas, é para poucos.

João Pedro Souza | Redação PE


SAÚDE – A relação entre saúde mental e capitalismo é algo que nos dias atuais não pode mais ser ignorado. Desde cedo, com livros de autoajuda, jornais e, mais recentemente, com as redes sociais, somos condicionados a competir, a enxergar o outro como concorrente e a medir nosso valor pessoal com base em resultados. Isso gera uma sensação contínua de fracasso ou insuficiência, já que o sucesso, nos moldes capitalistas, é para poucos. Trabalhar cada vez mais, com menos garantias de estabilidade e sem uma rede de apoio adequada, tem levado cada vez mais pessoas ao esgotamento emocional.

O ambiente de trabalho reflete essa lógica, com metas inalcançáveis ​​e exigências excessivas, impactando profundamente o psiquismo dos trabalhadores. A ansiedade passa a estar na ordem do dia, e episódios de depressão, esgotamento e outros transtornos mentais afetam pessoas que muitas vezes nem têm tempo ou recursos para procurar tratamento, dado que o acesso à Rede de Atenção Psicossocial – RAPS, no SUS, ainda é limitada em várias cidades do país. 

O ambiente corrosivo do capitalismo afeta diretamente a classe trabalhadora, que sofre com a precarização das condições de trabalho. Com a flexibilização das leis trabalhistas, aceleradas pela Reforma Trabalhista de 2017, no qual os trabalhadores estão sofrendo com jornadas exaustivas, salários baixos e a constante ameaça de demissão. Ademais, o clima de insegurança financeira todos os meses, não afeta apenas a sobrevivência material, mas também abala profundamente o psicológico, criando um clima na classe trabalhadora de incerteza e medo constante. A falsa promessa de “sucesso financeiro” e “ascensão social” é um elemento-chave na manutenção desse ciclo, pois as pessoas são levadas a acreditar que o esforço individual é suficiente para alcançar uma vida melhor, ignorando as barreiras estruturais impostas pelo próprio sistema.

Na verdade, o culto ao sucesso pessoal é uma forma de manter as pessoas insatisfeitas com suas vidas. As metas são sempre inatingíveis, e a comparação constante com outras pessoas — agora amplificada pelas redes sociais — reforça a ideia de que nunca seremos suficientes. Essa frustração contínua afeta a autoestima e os sentimentos de valor pessoal e sentimento coletivo, exacerbando o surgimento de fobias sociais no desenrolar das telas dos celulares. 

É fato que as redes sociais, por sua vez, poderiam ser espaços de ligação e apoio entre as pessoas. Contudo, são moldadas por algoritmos que promovem a alienação e a comparação constante. Cada curtida e comentário oferecem um breve momento de validação, que rapidamente se esgota, criando um ciclo vicioso de solidão e baixa autoestima. A solução oferecida? Mais consumo, medicamentos, livros e programas de autoajuda, vendidos como a saída mágica para males que, na verdade, têm raízes muito mais profundas e complexas. O fato é que sem uma mudança estrutural, essas opções se limitam muitas vezes a paliativos, incapazes de resolver a verdadeira causa do problema.

É importante destacar que o individualismo que rege o capitalismo impede a construção de laços fortes e saudáveis. O outro é visto como um meio para atingir objetivos pessoais, seja no trabalho, nos relacionamentos amorosos ou até nas amizades. Isso desumaniza as interações e nos impede de sentir e fornecer apoio emocional verdadeiro uns aos outros. Com isso, a saúde mental piora à medida que o isolamento emocional e a desconexão social se tornam mais frequentes.

Ainda no mundo do trabalho, a ideia de que o trabalhador precisa estar disponível a qualquer momento, seja através de e-mails, mensagens ou até redes sociais, cria um ambiente de vigilância constante por parte dos patrões, onde nunca se está realmente desconectado do trabalho. Esse estresse prolongado também deteriora a saúde mental e leva muitos à exaustão completa. E, mais uma vez, a responsabilidade recai sobre o indivíduo, que é encorajado a “cuidar de sua saúde mental” mas sem os incentivos e as condições necessários para que isso ocorra de fato, dado que suas próprias limitações socioeconômicas e problemas estruturais das cidades caóticas não permitem que os trabalhadores tenham direito ao lazer e ao seu autocuidado.

O capitalismo nos coloca enquanto produtos do próprio sistema. Números e metas a bater para enriquecer os grandes ricos. A saída desse ciclo passa por uma compreensão mais ampla de que o problema não está nas pessoas, mas no sistema. Somente através da coletividade e da solidariedade é possível enfrentar essas questões e criar um ambiente onde a saúde mental seja uma prioridade de saúde pública, e não uma preocupação secundária ou um luxo acessível a poucos. Somente no governo revolucionário dos trabalhadores, no governo socialista, numa produção socializada, esse ambiente é possível.

O imperialismo, fase particular do capitalismo

Extratos do capítulo VII da obra “O imperialismo, fase superior do capitalismo” (1916)

V. I. Lenine


[…] O imperialismo surgiu como desenvolvimento e continuação direta das características fundamentais do capitalismo em geral. Mas o capitalismo só se transformou em imperialismo capitalista quando chegou a um determinado grau, muito elevado, do seu desenvolvimento, quando algumas das características fundamentais do capitalismo começaram a transformar-se na sua antítese, quando ganharam corpo e se manifestaram em toda a linha os traços da época de transição do capitalismo para uma estrutura econômica e social mais elevada. O que há de fundamental neste processo- do ponto de vista econômico, é a substituição da livre concorrência capitalista pelos monopólios capitalistas. A livre concorrência é a característica fundamental do capitalismo e da produção mercantil em geral; o monopólio é precisamente o contrário da livre concorrência, mas esta começou a transformar-se diante dos nossos olhos em monopólio, criando a grande produção, eliminando a pequena, substituindo a grande produção por outra ainda maior, e concentrando a produção e o capital a tal ponto que do seu seio surgiu e surge o monopólio: os cartéis, os sindicatos, os trustes e, fundindo-se com eles, o capital de uma escassa dezena de bancos que manipulam milhares de milhões. Ao mesmo tempo, os monopólios, que derivam da livre concorrência, não a eliminam, mas existem acima e ao lado dela, engendrando assim contradições, fricções e conflitos particularmente agudos e intensos. O monopólio é a transição do capitalismo para um regime superior.

Se fosse necessário dar uma definição o mais breve possível do imperialismo, dever-se-ia dizer que o imperialismo é a fase monopolista do capitalismo. Essa definição compreenderia o principal, pois, por um lado, o capital financeiro é o capital bancário de alguns grandes bancos monopolistas fundido com o capital das associações monopolistas de industriais, e, por outro lado, a partilha do mundo é a transição da política colonial que se estende sem obstáculos às regiões ainda não apropriadas por nenhuma potência capitalista para a política colonial de posse monopolista dos territórios do globo já inteiramente repartido.

Mas as definições excessivamente breves, se bem que cômodas, pois contêm o principal, são insuficientes, já que é necessário extrair delas especialmente traços muito importantes do que é preciso definir. Por isso, sem esquecer o caráter condicional e relativo de todas as definições em geral, que nunca podem abranger, em todos os seus aspectos, as múltiplas relações de um fenômeno no seu completo desenvolvimento, convém dar uma definição do imperialismo que inclua os cinco traços fundamentais seguintes: 1) a concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado de desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham um papel decisivo na vida econômica; 2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação, baseada nesse “capital financeiro” da oligarquia financeira; 3) a exportação de capitais, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire uma importância particularmente grande; 4) a formação de associações internacionais monopolistas de capitalistas, que partilham o mundo entre si; 5) o termo da partilha territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes. O imperialismo é o capitalismo na fase de desenvolvimento em que ganhou corpo a dominação dos monopólios e do capital financeiro, adquiriu marcada importância a exportação de capitais, começou a partilha do mundo pelos trustes internacionais e terminou a partilha de toda a terra entre os países capitalistas mais importantes.

[…]

Mas sobre a definição do imperialismo vemo-nos obrigados a discutir sobretudo com K. Kautsky, o principal teórico marxista da época da chamada II Internacional, isto é, dos vinte e cinco anos compreendidos entre 1889 e 1914. Kautsky pronunciou-se decididamente em 1915, e mesmo em Novembro de 1914, contra as ideias fundamentais expressas na nossa definição do imperialismo, declarando que por imperialismo se deve entender não uma “fase” ou um grau da economia, mas uma política, e uma política determinada, a política “preferida” pelo capital financeiro; que não se pode identificar o imperialismo com o capitalismo contemporâneo , que, se a noção de imperialismo abarca “todos os fenômenos do capitalismo contemporâneo” – cartéis, protecionismo, dominação dos financeiros, política colonial –, então o problema da necessidade do imperialismo, para o capitalismo, transforma-se na “tautologia mais trivial”, pois nesse caso, “naturalmente, o imperialismo é uma necessidade vital para o capitalismo”, etc. Expressaremos com a máxima exatidão o pensamento de Kautsky se reproduzirmos a sua definição do imperialismo, diametralmente oposta à essência das ideias que nós expomos (pois as objeções procedentes do campo dos marxistas alemães que defenderam ideias semelhantes durante longos anos, são já conhecidas desde há muito por Kautsky como objeções de uma corrente determinada do marxismo).

A definição de Kautsky é a seguinte:

“O imperialismo é um, produto do capitalismo industrial altamente desenvolvido. Consiste na tendência de toda a nação capitalista industrial para submeter ou anexar cada vez mais regiões agrárias (o sublinhado é de Kautsky), quaisquer que sejam as nações que as povoam.”

Esta definição não serve absolutamente para nada, visto que destaca de um modo unilateral, isto é, arbitrário, apenas o problema nacional (se bem que seja da maior importância, tanto em si como na sua relação com o imperialismo), relacionando-o arbitrária e erradamente só com o capital industrial dos países que anexam outras nações, e colocando em primeiro plano, da mesma forma arbitrária e errada, a anexação das regiões agrárias.

O imperialismo é uma tendência para as anexações; eis a que se reduz a parte política da definição de Kautsky. É justa, mas extremamente incompleta, pois, no aspecto político, o imperialismo é, em geral, uma tendência para a violência e para a reação. Mas o que neste caso nos interessa é o aspecto econômico que o próprio Kautsky introduziu na sua definição. As inexatidões da definição de Kautsky saltam à vista. O que é característico do imperialismo não é precisamente o capital industrial, mas o capital financeiro. Não é um fenômeno casual o fato de, na França, precisamente o desenvolvimento particularmente rápido, do capital financeiro, que coincidiu com um enfraquecimento do capital industrial, ter provocado, a partir da década de 80 do século passado, uma intensificação extrema da política anexionista (colonial). O que é característico do imperialismo é precisamente a tendência para a anexação não só das regiões agrárias, mas também das mais industriais (apetites alemães a respeito da Bélgica, dos franceses quanto à Lorena), pois, em primeiro lugar, estando já concluída a divisão do globo, isso obriga, para fazer uma nova partilha, a estender a mão sobre todo o tipo de territórios; em segundo lugar, faz parte da própria essência do imperialismo a rivalidade de várias grandes potências nas suas aspirações à hegemonia, isto é, a apoderarem-se de territórios não tanto diretamente para si, como para enfraquecer o adversário e minar a sua hegemonia […].

Kautsky remete-se particularmente – e repetidas vezes – aos ingleses, que, diz ele, formularam a significação puramente política da palavra “imperialismo”, no sentido em que ele a entende. Tomamos o inglês Hobson e lemos no seu livro O Imperialismo, publicado em 1902:

“O novo imperialismo distingue-se do velho, primeiro porque, em vez da aspiração de um só império crescente, segue a teoria e a prática de impérios rivais, cada um deles guiando-se por idênticos apetites de expansão política e de lucro comercial; segundo, porque os interesses financeiros, ou relativos ao investimento de capital, predominam sobre os interesses comerciais.”

[…]

A definição de Kautsky, além de ser errada e de não ser marxista, serve de base a todo um sistema de concepções que rompem em toda a linha com a teoria marxista e com a atuação prática marxista de que falaremos mais adiante. Carece absolutamente de seriedade a discussão de palavras promovida por Kautsky: como se deve qualificar a- fase atual do capitalismo: de imperialismo ou de fase do capital financeiro? Chame-se-lhe como se queira, isso é indiferente. 0 essencial é que Kautsky separa a política do imperialismo da sua economia, falando das anexações como da política preferida pelo capital financeiro, e opondo a ela outra política burguesa possível, segundo ele, sobre a mesma base do capital financeiro. Conclui-se que os monopólios, na economia, são compatíveis com o modo de atuar não monopolista, não violento, não anexionista, em política. Conclui-se que a partilha territorial do mundo, terminada precisamente na época do capital financeiro, e que é a base da peculiaridade das formas atuais de rivalidade entre os maiores Estados capitalistas, é compatível com uma política não imperialista. Daqui resulta que, deste modo, se dissimulam, se ocultam as contradições mais fundamentais da fase atual do capitalismo, em vez de as pôr a descoberto em toda a sua profundidade; daqui resulta reformismo burguês em vez de marxismo.

Povo de Mossoró (RN) sofre com sistema de transporte coletivo

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Mossoró enfrenta uma grave crise no transporte coletivo, com apenas 12 linhas de ônibus para atender 278 mil habitantes, resultando em superlotação e exclusão de diversos bairros, especialmente os periféricos e rurais.

Clarice Oliveira | Redação RN


BRASIL – Sendo a segunda maior cidade do Rio Grande do Norte, com 278 mil habitantes, Mossoró sofre com um dos piores sistemas de ônibus de todo o estado. Com ônibus superlotados, baixa frota de veículos em circulação e diversos bairros que são privados do acesso à cidade, a população sofre uma verdadeira calamidade no transporte coletivo.

Atualmente, existem apenas 12 linhas de ônibus para abarcar toda a cidade, deixando muitos bairros periféricos de fora. A população da zona rural é ainda mais excluída, precisando pagar mais de R$ 30,00 para se locomover até o centro da cidade, pois não existe ônibus.

Não bastasse isso, os bairros que hoje são englobados pelas linhas de ônibus possuem uma baixa frota de veículos, fazendo com que, em determinados horários, os ônibus fiquem extremamente superlotados.

Todo esse sucateamento ocorre pelo fato de o transporte coletivo da cidade de Mossoró está nas mãos do setor privado, sendo gerido apenas pela empresa Cidade do Sol, que deixa o povo trabalhador no sufoco enquanto lucra, ano após ano, recebendo financiamento público da Prefeitura e arrecadando as tarifas pagas pelos usuários.

Segundo Bruna Morais, assistente social e presidente do Diretório Municipal da Unidade Popular, o sucateamento é extremamente sentido: “Quando a gente vê os horários, percebe que a maioria é em horário de pico. Não são ônibus para a população usar, apenas para ir e voltar do trabalho. Às vezes, nem isso”. Bruna também comenta como vários bairros não possuem rotas: “Se você mora no Odete Rosado, no Planalto ou no Santo Antônio, você praticamente não vai ver ônibus”.

Os capitalistas e sua grande mídia privada defendem que a solução para esse grave problema é colocar mais empresas para gerir o sistema de transporte, pois, segundo essa lógica, mais empresas significa mais concorrência e, portanto, mais linhas. Só que, no sistema capitalista, existe sempre a tendência ao monopólio na mão de uma empresa ou de uma associação de empresas.

Por exemplo, na capital do estado, Natal, a lógica de “mais empresas” foi aplicada e isso apenas fortaleceu as empresas de transporte através do Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos do Rio Grande do Norte (Seturn), que sucateou o serviço ainda mais: hoje, a tarifa de ônibus é de R$ 4,50 e diversas linhas foram cortadas desde a pandemia.

A única solução para o problema do transporte coletivo é a criação de uma empresa pública de ônibus, sob total controle do povo. Dessa forma, o próprio povo poderá dizer quantos ônibus devem passar em quais bairros e quais rotas devem ser realizadas para abarcar toda a cidade, de fato. Se o povo vive a cidade, é o povo que deveria dizer os rumos dela, e não um punhado de engravatados que nunca pegaram um ônibus.

Matéria publicada na edição impressa nº 300 do jornal A Verdade

Queimadas provocadas pelo agronegócio destroem a natureza e prejudicam a população

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95% das terras agricultáveis no DF pertencem a grandes propriedades do agronegócio, cujas práticas predatórias, como as recentes queimadas, ameaçam não apenas a flora e fauna locais, mas também a saúde das comunidades.

Pedro Gheventer | Brasília (DF)


BRASIL – Em entrevista ao Correio Braziliense, publicada no dia 22 de setembro, o juiz Carlos Maroja afirmou que “o maior causador do problema ambiental no DF é a grilagem”. Sem dúvidas, quando uma grande parte de nossas florestas vira cinzas, o roubo de terras para uso privado se torna fácil.

Em artigo publicado na revista Territorial neste ano, Fernando Carlos Alves da Silva fez uma análise da territorialização do agronegócio no Distrito Federal. Usando dados do IBGE, ele mostra que, em 2017, 95% das terras agricultáveis no DF eram de médias e grandes propriedades, que utilizavam do modelo do agronegócio. Além disso, praticamente metade da produção no DF é de soja e de milho, e uma grande parte é destinada ao mercado externo, como China e União Europeia.

Nesse cenário, a principal forma de expansão do agronegócio é pela destruição de florestas. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação de Biodiversidade (ICMBio), quase metade da Floresta Nacional de Brasília (Flona) foi destruída pelas chamas nos recentes incêndios, além das queimadas que ocorreram em outras reservas, como o Parque Nacional e a Reserva da Contagem. O objetivo dos latifundiários é se apropriar ilegalmente das áreas queimadas através do processo da grilagem.

As consequências de tal modelo de destruição são imensas. A Flona abriga diversas nascentes de água, que agora foram contaminadas por fuligem. Em poucos dias, o DF bateu recorde de dia mais quente do ano, com umidades relativas chegando à casa dos 11%. Além disso, diversos animais foram expulsos de seus habitats, sofreram ferimentos e morreram devido às queimadas e à fumaça. As populações indígenas e ribeirinhas tradicionais também são afetadas, perdendo suas casas e seus territórios.

A fumaça tóxica trazida pelas queimadas também prejudica a população que mora na cidade, e quem mais sofre é a população pobre. Com um sistema de saúde público que já está sucateado pelas ações do governador Ibaneis Rocha (MDB), sobrecarregando os servidores públicos.

Vale ressaltar que, no ano passado, o Cerrado foi o bioma com maior área desmatada no Brasil, de acordo com o MapBiomas Alerta. O maior responsável por isso foi a expansão da agropecuária. O bioma é considerado o berço das águas brasileiras por abrigar os três principais aquíferos da América do Sul e as principais nascentes que abastecem grandes rios no Brasil. Ainda assim, segundo estudo da USP, enfrentamos no bioma a pior seca em 700 anos, em grande parte causada pela ação humana.

Nosso futuro está em risco devido a um modelo que busca ao máximo expandir seus lucros e que, ao mesmo tempo, nunca conseguiu solucionar o problema da fome em nosso país. A ganância dos capitalistas nunca será saciada e, portanto, devemos lutar pela expropriação da propriedade latifundiária e das grandes empresas agroindustriais, com controle social sobre esses importantes meios de produção. Somente assim, poderemos interromper a destruição do meio ambiente e garantirmos um futuro para nós e nossos filhos.

Israel ataca Líbano e Iêmen para consolidar seu projeto de expansão no Oriente Médio

Israel intensificou seu projeto de expansão no Oriente Médio contra os povos árabes, iniciando uma série de ataques devastadores no Líbano que resultaram em mais de mil mortos e milhares de feridos. 

Jesse Lisboa | Redação


INTERNACIONAL – O Governo de Israel resolveu abrir novas frentes de ataques contra os povos árabes para consolidar seu projeto de expansão no Oriente Médio. A nova campanha terrorista se iniciou com ataques em 18 de setembro com “pagers explosivos”, que são dispositivos utilizados em hospitais libaneses para comunicação. Detonados em várias localidades, incluindo a capital, Beirute, esses dispositivos, infiltrados por meio da agência de espionagem sionista Mossad, causaram explosões que deixaram centenas de feridos, muitos com membros amputados e cegueira permanente. No dia seguinte, mais ataques, agora com “walkie talkies explosivos”, repetindo a mesma tática terrorista.

Até o fechamento desta edição, Israel já tinha assassinado mais de 1 mil pessoas e ferido outras 6 mil, de acordo com o Ministério da Saúde do Líbano. O governo libanês afirma ainda que 1 milhão de pessoas (um quinto da população) já deixaram suas casas.

Só no dia 23/09, quando lançou uma série de ataques aéreos no Sul do Líbano, foram cerca de 550 mortes. Na noite do domingo, dia 29/09, foram mais de 100 mortos, com quase 400 feriados, em diversas cidades, incluindo Beirute, em uma de suas áreas centrais mais movimentadas, atingindo prédios residenciais e comercias. Bombas também atingiram hospitais, e o sistema de saúde entrou colapso.

Dois adolescentes brasileiros, que residiam no Líbano, foram assassinados pelos bombardeios israelenses: Mirna Raef Nasser, de 16 anos, e Ali Kamal Abdallah, de 15 anos, que foi morto junto de seu pai, Haj Kamal Abdallah, de nacionalidade paraguaia. A maior comunidade de brasileiros vivendo no Oriente Médio está no Líbano. Ao todo, 21 mil brasileiros vivem no país. A imigração libanesa no Brasil também é forte. Estima-se que mais 3 milhões de libaneses ou descendentes de libaneses vivam no nosso país.

Por sua vez, o governo brasileiro ainda se posiciona de maneira branda e não rompeu suas relações diplomáticas e econômicas com Israel.

Histórico

Entre 1982 e 2000, Israel ocupou uma grande parcela do território libanês. Naquela época, o objetivo dos militares sionistas era tentar expandir seu território, no entanto, foram expulsos após uma aguerrida resistência da população libanesa, que, de armas na mão, expulsaram os soldados imperialistas.

Depois disso, Israel atacou o Líbano por terra em três ocasiões, 2006, 2009 e 2011. Em todas, não conseguiu estabelecer uma ocupação permanente, mas na campanha militar de 2006 matou mais de 10 mil libaneses. O motivo de Israel atacar tantas vezes o Líbano é garantir uma expansão de seu território rumo às riquezas naturais do país árabe e quebrar a disposição de luta e solidariedade dos libaneses com o povo palestino.

Israel usa o Hamas como desculpa para seus ataques na Faixa de Gaza e faz o mesmo com o Hezbollah (partido político libanês que também atua como resistência armada no Sul e no Leste do Líbano) para disfarçar seus interesses imperialistas. O objetivo não é “combater o terrorismo”, nunca foi.

Agora, com o objetivo de promover uma ampla escalada armamentista no Oriente Médio, uma nova guerra contra o Líbano está cada vez mais perto. Enquanto isso, o governo do sanguinário Benjamin Netanyahu recebeu, só em agosto, mais de US$ 20 bilhões em armas dos EUA. Os outros países ricos continuam a se omitir diante desses novos massacres.

Ataques ao Iêmen

Também no dia 29/09, o Governo de Israel bombardeou as cidades portuárias de Ras Issa e Hodeidah, matando pessoas e destruindo infraestruturas dos portos e uma usina de energia elétrica, deixando milhares de habitantes sem luz. O país fica a mais de 2 mil km da fronteira de Israel e foi atacado porque seu povo defende a causa palestina e também possui grupos de resistência armada às ações de anexação dos sionistas no Oriente Médio.

A solidariedade com o povo palestino e o povo libanês são uma das principais questões da luta anti-imperialista no mundo hoje. O regime sionista e autoritário de Israel nada tem a oferecer ao seu povo e aos demais povos da região, a não ser a submissão ao imperialismo norte-americano e europeu. A luta pela libertação da Palestina, contra a guerra no Líbano e no Iêmen é uma necessidade dos povos do mundo.

Matéria publicada na edição impressa nº300 do jornal A Verdade

“A questão Palestina não acaba somente com o fim desse conflito”

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Em entrevista ao jornal A Verdade, Ana Maria Pimenta e Muhammad Tawfik, que se conheceram enquanto estudavam na antiga União Soviética, discutem a relação entre Palestina e Brasil e denunciam o genocídio na Faixa de Gaza.

Clóvis Maia | Redação PE e JC Moretti | Redação PB


O jornal A Verdade entrevistou Ana Maria Pimenta, brasileira, e seu esposo, Muhammad Tawfik, palestino, que se conheceram quando estudavam na antiga União Soviética (URSS). Na entrevista, falam sobre a relação Palestina/Brasil e sobre o genocídio que ocorre na Faixa de Gaza.

A Verdade – Falem um pouco de vocês e de como se conheceram.

Ana Maria Pimenta: Eu sou de Natal, Rio Grande do Norte. Estudei na Antiga União Soviética e lá conheci meu esposo, que é palestino. Nossa filha mais velha nasceu lá em Moscou. De lá, quando terminamos os estudos, fomos para a Palestina. Ficamos mais quatro anos lá, onde nasceu o meu filho mais novo. E depois viemos para o Brasil, morar em Natal. Estamos já há uns 25 anos morando lá. Só que a família da gente toda continua na Palestina. Muhammad, meu esposo, é o único filho que saiu da Palestina.

Muhammad: Eu nasci em 1965, na cidade de Nazaré, que naquela época já estava sob domínio de Israel. Meus pais nasceram na Palestina. Porque nasceram antes de 1948, quando era só Palestina. Então, eu sou palestino-israelense, filho de palestinos. Esta cidadania israelense não foi nossa escolha, foi imposta. E naquela época, 1948, ficaram na Palestina, em Israel, somente 150 mil palestinos. Hoje tem um milhão e meio.

Como foi crescer na Palestina com toda essa pressão colonial do sionismo?

Muhammad: Eu cresci como qualquer adolescente palestino. Sob o domínio sionista. Tortura psicológica. Quando você ia trabalhar numa cidade judaica, porque infelizmente só tinha emprego nessas cidades, pois nas cidades palestinas não há nada para trabalhar. Não por incapacidade. Mas pela política de Israel, de não deixar indústrias nas cidades palestinas. Por quê? Para deixar os palestinos dependentes de Israel em qualquer coisa. Então, na adolescência, quando ia trabalhar nessas cidades judias, durante as férias escolares, era humilhação enorme nos centros, nos parques, nas rodoviárias. Você chegava, descia na rodoviária e todos sabem pela sua fisionomia que você é árabe. Então, começa: “O que você está fazendo aqui nessa cidade?” “Para que você chegou?” “Mostre sua identidade”, “abra sua bolsa” … Humilhação na frente de todo mundo. Aquela humilhação psicológica para intimidar e, infelizmente, conseguiam em grande parte. Agora, adultos, já sabemos que era só uma tortura.

Quando se fala em Palestina, no povo Palestino, a questão da resistência é algo que logo vem à mente. A questão do enfrentamento ao sionismo e da ocupação de Israel é algo quase inevitável. Fale um pouco sobre o tema da resistência Palestina.

Muhammad: Não havia outra saída. Por isso, nós nos organizamos naquela época em partidos da esquerda. Partidos comunistas, Frente Popular, Frente Democrática. Até as Irmandades Muçulmanas, que existiam na nossa cidade. Todos com ideias diferentes, mas juntos, trabalharam para combater o sionismo. Como não temos armas, pois se tiver é preso, organizamos manifestações, cobranças. E por isso, nós conseguimos muita coisa, não tudo o que a gente queria, mas muita coisa. Conseguimos via pressão, manifestação e cobrança nas ruas. Como palestinos.

Nessa nova etapa do genocídio promovido pelo sionismo, surge infelizmente até na esquerda quem acuse a União Soviética de ter apoiado o sionismo. Qual a opinião de vocês sobre o papel da URSS nesse processo? O que a experiência de vocês diz sobre isso?

Ana: Não dá pra negar que a União Soviética prestou um grande favor para o chamado Terceiro Mundo. E para a população carente. Porque eles deram muitos, milhares, talvez milhões de diplomas para o Terceiro Mundo. Pouca gente conseguiu estudar, porque custa muito dinheiro em Israel. Então, prestamos uma espécie de Enem pelo Partido Comunista e tinham bolsas de estudo no mundo socialista. Então conseguimos estudar. Na nossa época lá ainda era socialismo. Então, todos os países da Europa Oriental (Alemanha, Tchecoslováquia, Bulgária, Hungria), tinham acesso a bolsas de estudos para estudar na URSS. E uma boa formação, tá?

Muhammad: Aqui no Brasil, nas Universidades Federais, se estuda de graça. Lá em Israel é difícil para se estudar, pois é tudo pago e caro. Além de uma espécie de Enem que você presta para entrar na universidade, tem o formulário para você preencher: “Você serviu no Exército?” “Você mora em que cidade?” E manda cópia da sua identidade, que em Israel está escrito se você é árabe ou judeu. Imagine em que lugar no mundo se discrimina seu cidadão. Lá está escrito na identidade se você é árabe, muçulmano, cristão, judeu…

Fale um pouco mais como eram essas bolsas de estudos para estudar lá na URSS.

Ana: Eram bolsas gratuitas, ofertadas para os jovens, sem discriminação de cor, crença, país… Eu por exemplo fui pelo Centro da Mulher Brasileira. Ele foi pelo Partido Comunista. Quando eu fui, existiam bolsas para o Partido Comunista e outras instituições. Estudei como se fosse na Federal da URSS. E ele foi de lá também com bolsa. Não pagávamos nada. Tínhamos estadia, alimentação, livros. O básico para tudo. Se você quisesse uma condição melhor, tinha que se virar. Era suficiente: moradia com bolsa em dinheiro para todos. E não era só para os estrangeiros. Os estudantes soviéticos também tinham esses mesmos direitos. Eles tinham moradia também. Moradia de estudantes como a gente. Morávamos juntos com eles, inclusive.

E como se deu a vinda de vocês para o Brasil, já como uma família?

Muhammad: Terminamos os estudos em 1993. Voltamos para a Palestina ocupada e começamos a trabalhar. Ficamos três anos e meio, quatro anos. Depois viemos visitar a família dela no Brasil, acabamos gostando e ficando. Pelo menos aqui não tem aquela discriminação por ser palestino, árabe. Porque a discriminação é tão grande que, mesmo eu tendo cidadania e passaporte israelense, sou discriminado por ser árabe. Aqui você não tem discriminação contra outro povo. Aliás, não tinha, agora tem. Contra povos indígenas, imigrantes refugiados, mas na minha época, quando eu cheguei em 1996, não tinha, não.

Nós acabamos de sair de um governo fascista no Brasil. Vocês sentem que essa guinada xenofóbica se deu agora, depois dessa nova campanha da mídia hegemônica burguesa contra o povo Palestino ou com a ascensão de Bolsonaro ao governo isso já se mostrava abertamente?

Ana: É um negócio que não tinha antes. Você vinha de fora, não recebia nenhum tipo de olhar estranho ou de reprovação. Hoje em dia tem essa… Bolsonaro nunca escondeu quem era. Tem até um vídeo aqui na Paraíba, ele defendendo que aqui era um estado judaico-cristão. Que os outros não tinham lugar aqui. Ou seja, ele ressuscitou fascistas que estavam mortos ou escondidos. Tirou todos do armário. Ele mostrou o seu racismo, discriminação contra as minorias. Por causa disso, no Rio Grande do Norte, nós formamos um fórum inter-religioso. Porque as matrizes africanas também são ‘minorias’ e também estão sendo atacadas. E até hoje estamos sofrendo. O governo agora mudou, mas estamos sofrendo ainda.

Na reunião entre comitês Pró-palestina vocês falaram sobre ‘trazer novas pessoas para essa causa’. Como vocês enxergam essas manifestações hoje no Brasil, e a criação desses comitês?

Muhammad: Somos gratos por essas ações e iniciativas. Somos sempre de esquerda, fazemos manifestações, participamos de atos e articulações. Mas sempre falamos que nas manifestações pró-Palestina não devemos levar nossas bandeiras partidárias. Levar a bandeira da Palestina, o cartaz da Palestina, a camisa da Palestina. Disso que precisamos. Enquanto continuarmos nas nossas manifestações apenas com bandeiras partidárias um número maior de pessoas deixa de participar, pois fica parecendo coisa apenas de partidos. Mas quando as pessoas passam na frente do ato e vê nas nossas manifestações as nossas bandeiras, mas vê também um cartaz falando do sofrimento dos palestinos, a situação das crianças morrendo, das mães e mulheres sendo assassinadas, isso sim toca de fato as pessoas. Devemos ser inteligentes como eles têm sido. Precisamos encontrar uma maneira de sair disso, pois estamos empacados, entendeu? não vai para frente nem para trás. Caímos na armadilha deles. Essa pauta é muito importante, e não vai acabar mesmo com o fim do atual conflito. É preciso deixar de lado as nossas diferenças e partir para uma unidade verdadeira. Só assim a gente consegue crescer e ficar mais forte. Essa é a nossa preocupação e nosso objetivo.

Um ano do genocídio em Gaza: bombas de Israel já mataram mais de 52 mil palestinos

Mesmo debaixo de bombas e sob a constante mira das metralhadoras das tropas invasoras, o povo palestino mantém sua resistência ao genocídio e a disposição para defender sua vida e seu território.

Redação 


EDITORIAL – O dia 07 de outubro marca um ano de mais um episódio do genocídio organizado pelo Estado de Israel contra o povo palestino, com apoio do governo dos EUA e das grandes potências europeias. São oito décadas de ocupação ilegal do território da Palestina, com a criação de assentamentos de colonos israelenses e expulsão da população local e o assassinato indiscriminado de homens, mulheres, crianças e idosos.

Durante este último ano, o jornal A Verdade buscou fazer uma cobertura que trouxesse a realidade à qual o povo palestino está submetido, especialmente na Faixa de Gaza, onde o massacre se concentra atualmente.

Denunciamos as táticas usadas pelo Exército de Israel para executar o genocídio definido pela política imperialista dos governos norte-americano e israelense. Mas também falamos das grandes mobilizações mundiais em defesa da Palestina livre e da resistência inquebrantável do povo palestino. Povo que, mesmo submetido aos piores crimes contra a humanidade, não abandonou seu território e continua a se opor à invasão e ao terrorismo de Estado, ao extermínio das bombas e balas do regime sionista do sanguinário Benjamin Netanyahu.

Genocídio em Gaza

O regime sionista de Israel já matou, em números oficiais, mais de 42 mil palestinos. Ainda existem cerca de 10 mil desaparecidos, há meses soterrados sob os escombros das cidades destruídas. Portanto, podemos falar em mais de 52 mil mortos. Aproximadamente 70% dessas vítimas diretas são mulheres e crianças. Os feridos passam de 100 mil, com um número ainda desconhecido de pessoas que ficaram amputadas ou cegas.

“Este é o maior genocídio de todos os tempos, e televisionado. Estudos apontam que, para cada morte oficial, decorrente diretamente das ações bélicas, haveria mais quatro mortes. Esse total daria quase 10% da população de Gaza um ano atrás, mais de 200 mil pessoas. Este não é um genocídio promovido por tresloucados de Israel. É um genocídio promovido pelas grandes metrópoles, pelos EUA, pela Inglaterra, pela França, pela Alemanha”, afirma Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal).

Tirando as vítimas diretas dos bombardeios de soldados sionistas, mais de 2 milhões de palestinos foram expulsos de suas casas e forçados a perambular pela Faixa de Gaza (que possui apenas 365 km2) para fugir das bombas. É desconhecido ainda o número de pessoas vítimas de doenças psicológicas, fruto dos traumas gerados pela violência dos ataques.

No dia 21 de setembro, o jovem Fadi Alwhidi (que aparenta ter menos de 15 anos), deu um depoimento em vídeo, desesperado, logo após sobreviver a um bombardeio que matou toda a sua família no Norte de Gaza: “Estávamos assando pão. Quando, de repente, veio um míssil e destruiu nossa casa. Queremos comer, queremos viver. Como isso pode ser certo?! Não temos mísseis nem aviões, nem produzimos nada. Martirizaram minha avó, meu avô e meu tio. As pernas do meu pai foram amputadas [logo depois, ele também faleceu]. Oh, Deus! Oh Deus! Mataram minha família!”.

Todos os hospitais foram bombardeados, a principal universidade de Gaza foi destruída, assim como mais de 85% das escolas. O cerco militar de Israel proibiu o acesso dos palestinos às plantações que ficam próximas à fronteira. No mar, a marinha israelense atira e mata pescadores, tudo com a intenção de não deixar os palestinos comerem.

Todas as fontes de água potável estão controladas por Israel, que deixa entrar água a conta gotas. As ajudas humanitárias entram apenas com autorização dos sionistas e correm o risco de sofrerem bombardeios. Em fevereiro, Israel atirou contra um comboio humanitário e matou mais de 110 palestinos e deixou mais de 700 feridos. 

Desde o início da guerra, Israel usou essas e outras táticas para aplicar a política de genocídio contra os palestinos. Na edição nº 292 de A Verdade, denunciamos que o regime sionista criou programas de computador para orientar drones e mísseis a matar o máximo de palestinos possíveis.

A notícia foi resultado de uma apuração de dois jornais israelenses, que mostrava que o verdadeiro objetivo do fascista Netanyahu é expulsar e assassinar os palestinos para anexar a Faixa de Gaza. Esta é uma das características do imperialismo capitalista, como demonstrou o líder comunista russo V. I. Lênin.

Até agora nenhuma organização internacional, como a ONU, tomou uma medida efetiva para enfrentar Israel. Tirando notas públicas de governos e discursos bonitos de presidentes, a maioria dos países continuam fazendo comércio com Israel e “apostando no diálogo”.

Cinismo da mídia burguesa

No entanto, nenhuma dessas atrocidades seria possível se não fosse o cinismo e a cumplicidade da grande mídia burguesa. Pintando o regime do fascista Netanyahu como a liderança mundial da “luta contra o terrorismo islâmico”, os monopólios de mídia norte-americanos e europeus (seguidos fielmente pela imprensa brasileira) omitem informações sobre o genocídio e apresentam os ataques de Israel “como direito de defesa”.

Ora, que direito de defesa é esse que deixa dois milhões de vítimas?! A Palestina ainda sequer é um país independente, é, na verdade, a maior vítima da política colonial contemporânea em escala mundial. Então, como pode uma das forças militares mais poderosas do mundo ter “direito de defesa” contra um território que ela própria ocupa?

E não para por aí: a grande mídia chama de “guerra” entre Israel e Hamas. Como se os palestinos, submetidos a mais 75 anos de ocupação militar, limitação de direitos, prisões e assassinatos arbitrários, não pudessem resistir.

Na edição nº 282 de A Verdade (novembro de 2023), quando os ataques não tinham completado nem dois meses, entrevistamos a jornalista Heloísa Villela, que esteve na Cisjordânia como correspondente do ICL Notícias. Na ocasião, ela nos explicou porque é mentira a história de “direito de defesa” apresentada pela mídia burguesa.

“A gente tem que deixar muito claro que esse negócio de direito de defesa é uma aberração. É uma ocupação colonial mesmo. Não há dúvidas. Porque uma guerra supõe duas forças. Não adianta querer comparar as duas coisas [Israel e palestinos]. Você tem um país que tem bomba atômica, tem um exército armado até os dentes, com dinheiro dos Estados Unidos, com as armas mais modernas. E, do outro lado, uma população faminta, que está tentando brigar pela sua liberdade. Basta você olhar as imagens de como está Gaza”, afirmou a jornalista na ocasião.

Agora, Israel quer ampliar ainda mais sua política de expansão, aprofundando o cerco às cidades e aldeias palestinas na Cisjordânia, que é a maior região do território da Palestina, iniciando uma campanha terrorista no Norte, contra o povo do Líbano, aliado histórico da causa palestina.

No fim das contas, para a grande mídia burguesa é como se o povo palestino não pudesse resistir e precisasse aceitar de bom grado a dominação sionista. No entanto, a vida mostra exatamente o contrário: o que mais os palestinos aprenderam a fazer ao longo de sua milenar existência na região foi resistir. E hoje, contam com o apoio e a solidariedade dos povos do mundo inteiro.

Resistência palestina

O extermínio que Israel impõe aos palestinos deixou descoberta a rede de mentiras que o sionismo conta ao mundo há 80 anos. Esta realidade se impôs de uma forma que nem Israel esperava. Isso porque, desde o início dos crimes de guerra, milhões de trabalhadores em todo o mundo se levantam em defesa da Palestina. Em grandes capitais do mundo ocorreram manifestações com centenas de milhares de pessoas, como Londres, Paris, Berlim, Tóquio, Nova Yorque e Bogotá. No Oriente Médio, a classe trabalhadora questiona cada vez mais os governos pelo imobilismo diante do genocídio palestino e continua promovendo gigantescas manifestações de rua pedindo cessar-fogo imediato e a criação de um Estado Palestino.

As monarquias absolutistas reacionárias, como Arábia Saudita e Marrocos, e mesmo repúblicas autoritárias, como Egito e Turquia, sofrem forte contestação de seus povos, pois, enquanto os EUA mandam bilhões de dólares em armas para Israel, seus governos continuam a ser capachos do imperialismo.

Centenas de universidades pelo mundo foram ocupadas por estudantes, que interromperam aulas e formaturas para exigir o rompimento de todas as cooperações científicas com universidades sionistas. Em muitas instituições, principalmente nos EUA e na Europa, esse objetivo foi alcançado.

Durante as Olimpíadas e as Paralimpíadas de Paris, o público demonstrou seu rechaço à delegação israelense, enquanto que a delegação palestina foi a mais aplaudida em todas as cerimônias. Nos tribunais internacionais, a pressão dos países amigos da Palestina, como a África do Sul, Colômbia e Cuba, tem conseguido alguns poucos avanços para responsabilizar Netanyahu e seus comparsas pelos crimes contra a humanidade.

Mas o mais impressionante de tudo é a resistência e a disposição do povo palestino para defender sua vida e seu território. Mesmo debaixo de bombas, mesmo sob a constante mira das metralhadoras das tropas invasoras, mesmo com o assassinato em massa das famílias, os palestinos continuam a resistir. Preservam sua cultura, sua língua e não saem dos territórios que ocupam há muitos séculos. O povo palestino demonstra ao mundo que não há outra saída contra o imperialismo do que a luta de um povo por sua própria libertação.

Publicado na edição nº 300 do Jornal A Verdade.

Ação de estudantes da UFPI busca denunciar crise climática capitalista

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Organizado por movimentos sociais e entidades estudantis, ação de plantio de mudas de árvores na UFPI denuncia aquecimento global e suas consequências para os trabalhadores.

Celine Oliver Albuquerque e Giovana Soares | Teresina (PI)


EDUCAÇÃO – Em 18 de setembro, o Movimento de Mulheres Olga Benário e o Movimento Correnteza, em conjunto com os Centros Acadêmicos de Agroecologia, Jornalismo, Pedagogia, Moda e Ciências Sociais da Universidade Federal do Piauí realizaram o plantio de 19 mudas de árvores nativas ou frutíferas ao lado da Residência Universitária de Teresina. A ação teve o intuito de engajar os alunos na luta contra a crise climática global, refletindo criticamente a respeito da origem desse problema e tornando o campus da universidade um espaço mais verde e termicamente confortável para os estudantes.

Ações como essa não podem ser reduzidas a uma perspectiva liberal que prega que se “cada um fizer sua parte, podemos mudar o mundo”, a intenção dessa ação é questionar e denunciar a falta de engajamento dos governos no combate à crise climática capitalista que tem no aquecimento global uma de seus principais problemas. Num dia, estudantes apenas com poucos recursos da universidade conseguiram realizar o plantio de 19 mudas, coisa que o Estado poderia fazer numa escala muito maior.

Enquanto a classe trabalhadora é a principal afetada pela destruição causada pelo agronegócio, a indústria do petróleo e a indústria da mineração, essas indústrias e o governo que trabalha a seu favor para o suposto bem da economia, estão, na verdade, apenas interessados em como eles podem aumentar seus lucros. Com os desastres ambientais causados por eles, apenas a classe trabalhadora e a natureza são atingidas. Se nós não agirmos rápido para combater esses parasitas que estão destruindo nosso planeta, quem vai?

As árvores que crescerão da atividade farão uma diferença para os estudantes residentes desse espaço. Porém, não se pode perder de vista que, por mais que mais ações como essa ajudem um pouco, enquanto a raiz do problema do aquecimento global, o capitalismo, continuar o avanço das mudanças climáticas, vai continuar transformando cada vez mais famílias em refugiados climáticos.

O capitalismo é um sistema que preza pela produção e exploração sem limites dos recursos limitados do nosso planeta em nome do enriquecimento e concentração de poder da burguesia, sem se importar com a opressão da classe trabalhadora ou com como a crise climática destrói suas vidas e os obriga a sair de seus lares por conta de desastres perfeitamente evitáveis, como o acontecido no Rio Grande do Sul. Não é nenhuma surpresa a constatação de que esse sistema capitalista é, sem dúvidas, o principal responsável pela crise climática global e pela miséria da classe trabalhadora, a principal afetada pelas mudanças climáticas.

Retomar os recursos naturais roubados da classe trabalhadora pelas elites e instaurar um regime socialista de economia cíclica e sustentável, é a única forma de garantir a preservação adequada do meio ambiente, cessando e revertendo os efeitos desastrosos sofridos por conta dos abusos do modelo capitalista de exploração desenfreada dos recursos naturais.

Ações como a que foi realizada devem servir como um espaço de agitação, propaganda e conscientização das massas a respeito da necessidade da revolução socialista para a construção de um mundo em que exista uma verdadeira qualidade de vida para toda a classe trabalhadora e no qual se respeite os limites da natureza, sem os extrapolar a fim de produzir além do necessário.