UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 8 de agosto de 2025
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PM nas escolas? Mas estudante não é bandido!

PM nas escolasEm Pernambuco, no dia 26 de julho, foi publicada no Diário Oficial, a portaria conjunta da Secretaria de Defesa Social e da Secretaria de Educação do governo do estado que determina a intervenção da Polícia Militar (PM) dentro das escolas estaduais de ensino médio. As escolas que possuírem mais de mil estudantes serão vigiadas por um turno e as que possuírem quantidade maior de estudantes por dois turnos. Os PM’s atuarão armados e com fardamento completo, preparados para ações de combate. Além disso, estarão disponíveis três viaturas, cada uma com dois policiais.

Após uma onda de protestos, em que os estudantes tiveram uma grande participação, a postura do governador Eduardo Campos através de suas secretarias vai contra as vontades democráticas do povo pernambucano. Em um momento em que se debate a desmilitarização da polícia o governo do estado de Pernambuco põe PM’s armados em escolas. A presença do exército nas escolas traz de volta o espírito de que vivemos em um estado militarizado, onde as normas e a moral do exército é que devem ser seguidas pelos cidadãos. O pior, é que esta medida vai de encontro aos estudos mais avançados da construção pedagógica do ambiente escolar – que deve ser um ambiente educativo e não repressivo. Este tipo de atitude do governo atrasa o processo de democratização do país. Para quem não lembra o Brasil é um país que ainda está na transição da ordem ditatorial para a democracia, justamente por que possuímos resquícios da ditadura militar de 64 na estrutura estatal; isso inclui leis que não foram modificadas, arquivos não revelados do período militar e também a existência de uma polícia militarizada. Ano passado a Organização das Nações Unidas orientou o governo brasileiro a extinguir a polícia militar, por esta ser um perigo a garantia dos direitos humanos.

Segundo o professor de Direito Penal da UFMG, Dr Túlio Vianna “O treinamento da PM é absolutamente violento. Ele é feito para ser violento. (…) É claro que quando se dá um treinamento onde o próprio policial é violentado, como vou exigir que esse indivíduo não violente os direitos de um suspeito? (…) O policial aprende que o valor máximo não é o respeito aos direitos, à lei, e sim a hierarquia, a obediência. ‘Manda quem pode, obedece quem tem juízo’, é isso que ele aprende sempre”, completou. É isso que queremos para os nossos filhos? Que não respeitem mais os valores e apenas as armas? Questionemos, antes que seja tarde de mais.

Redação PE

Índios reocupam Aldeia Maracanã

aldeia maracanãNo último dia 5 de agosto, indígenas e apoiadores da Aldeia Maracanã, no Rio de Janeiro, reocuparam o espaço do antigo Museu do Índio, na Zona Norte carioca. A reivindicação é que o espaço seja devolvido ao Centro de Etnoconhecimento Sociocultural e Ambiental Cauieré (Cesac), entidade associativa de defesa de direitos e interesses indígenas.

Em março deste ano, o governador Sérgio Cabral ordenou que a Polícia Militar despejasse violentamente dezenas de indígenas que viviam na Aldeia Maracanã sob o argumento de que a derrubada do espaço seria uma das exigências da Fifa para as obras do entorno do Estádio do Maracanã, o que foi desmentido pela própria Fifa.

A Aldeia Resiste! Esta é a principal palavra de ordem dos indígenas e de todos os militantes que se solidarizam com o movimento. Depois de 513 anos de saque e massacre, é hora de lutarmos para que haja a reparação e a garantia dos direitos dos povos originários.

Rafael Coletto, Rio de Janeiro

MLB ocupa Prefeitura de Belém para reivindicar casas populares

MLB ParáOrganizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), as famílias da Ocupação Sá Pereira ocuparam, no dia 01 de agosto, a sede da Prefeitura Municipal de Belém, no Pará, para exigir agilidade em resolver o problema da falta de moradia.

A pauta central de reivindicação é a inclusão imediata das famílias no projeto Viver Bem, que pretende, nos quatro anos de mandato do atual prefeito, construir dez mil casas populares para famílias de zero a três salários mínimos. No final da conversa, foi marcada uma nova audiência, desta vez com o prefeito e o secretário de Habitação.

Em maio de 2012, 100 famílias ocuparam o prédio do INSS, na Capital, que, há anos, não cumpre nenhuma função social. As famílias foram violentamente despejadas do prédio por meio de uma ação da Guarda Municipal, que não tinha mandato de reintegração de posse e que não economizou em bombas, gás de pimenta e palavras ofensivas para assustar e humilhar as famílias.

Passado um ano e dois meses, o prédio continua sem cumprir nenhuma função social. E mais: apesar das inúmeras tentativas de diálogo, nenhuma resposta concreta foi dada por parte da Prefeitura e da Secretaria de Habitação a essas famílias, que continuam morando em condições subumanas.

Seguiremos nossa batalha, lutando organizadamente para garantir nossos direitos!

 

Fernanda Lopes – MLB

O verdadeiro problema da saúde pública no Brasil

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Saúde pública no BrasilUma das principais reivindicações das grandes manifestações que ocorreram em junho foi acesso a saúde pública de qualidade, um direito básico e que a população brasileira sofre todos os dias pela sua escassez.

Como resposta no inicio do mês de julho o governo federal anunciou o programa Mais Médicos para o Brasil, com o objetivo de resolver o problema do déficit de médicos na saúde pública principalmente nas regiões mais pobres e distantes do país.

O projeto já está sendo alterado no que dizia respeito a aumentar em 2 anos o curso de medicina com o intuito de criar um segundo ciclo de ensino, onde os estudantes teriam que fazer um estágio em atenção básica à saúde e em urgência e emergência no Sistema Único de Saúde – SUS. Esse estágio será substituído pela já conhecida residência médica, onde os estudantes terão essa vivência.

Trabalhar para o SUS deve ser encarado pelos estudantes formados como um retorno social do investimento público em sua educação, afinal cerca de 4 milhões de estudantes ficam de fora das universidades todos os anos, criando o absurdo número de 85% da juventude estar hoje fora das universidades.

Segundo o site do projeto MAIS MÉDICOS PARA O BRASIL o governo federal também pretende criar cerca de 12 mil vagas no ensino em medicina até 2017. Das vagas previstas, 3,6 mil deverão ser criadas em instituições públicas e outras 7,8 mil em escolas privadas.

A expectativa, com essa medida, é melhor distribuir as oportunidades do ensino superior e, consequentemente, a atuação dos profissionais no Brasil, reforçando o compromisso do governo com o financiamento das universidades privadas e não com o ensino público.

Sabemos que enquanto o acesso a cursos como medicina for restrito e encarado como um dom para iluminados, enquanto os investimentos em saúde e educação não alcançarem números maiores, a visão elitizada e mercadológica da profissão de medicina irá fazer com que falte médicos no SUS e se formem cada dia mais especialistas em questões estéticas.

Em sua maioria, são os jovens que não conseguem ingressar nas universidades que precisam ter mais acesso aos serviços públicos como a saúde, o que acontece é que os impostos que essa juventude paga direta ou indiretamente financia uma educação excludente e elitista aos nossos futuros médicos.

Os compromissos econômicos do governo ficam muito claros. Não se pauta em nenhum momento as responsabilidades dos planos de saúde que lucram rios de dinheiro, muitas vezes encaminhando pacientes ao SUS e não dando nenhum retorno social por isso. Os investimentos em saúde e educação também são provas disso. Em 2012, 44% do Orçamento da União foi gasto com pagamento de divida pública a banqueiros e grandes empresários, enquanto os investimentos em saúde e educação ficaram com 4,17% e 3,34%.

Médicos estrangeiros

Outro ponto polêmico do projeto é a vinda de médicos estrangeiros para o Brasil, é fato que sem resolver os problemas de investimento e educação esse problema não será totalmente sanado. Porém, como não defender em um país onde o déficit de médicos chega a 54 mil postos de trabalho, que não tenhamos uma solução emergencial? A vinda de médicos estrangeiros com certeza será saudada pelas populações que não tem acesso aos serviços de saúde e deve ser tratada como uma medida emergencial para um problema que de fato tem muita pressa de ser resolvido, pois a falta de médicos no país tem matado pessoas todos os dias nas filas dos hospitais.

O compromisso com os direitos do povo deve continuar a ser cobrado cotidianamente, como o exemplo dado em junho pela população brasileira que se organizou nas ruas, pois só invertendo a lógica de prioridades do governo poderemos ter acesso a saúde e educação de qualidade. Enquanto o financiamento de banqueiros e grandes empresas forem tratadas como prioridade e as políticas sociais forem reféns disso nossa população continuará sem acesso pleno aos seus direitos.

Ana Gabriela Fontana

O estouro das manifestações

Estouro das  manifestaçõesO cenário de insatisfação em todo o país é consequência de uma política defeituosa que há anos permanece mergulhada no ralo da corrupção. E por conta disso, o mundo todo passou a assistir nos canais de televisão e internet, os confrontos de rua entre manifestantes e a polícia do Estado. No ideário das elites o povo brasileiro é pacífico e festivo, sem condições de questionar os desmandos provocados pela política nacional.

Em contrapartida, os vários governos ditos democráticos e seguidores de uma política de mercado competitivo, sempre atuaram a favor do fortalecimento da propriedade privada, em detrimento da estatal. Nesse contexto, muitas promessas foram feitas ao longo dos pleitos eleitorais. Nessas campanhas se debatiam sobre as diversas questões institucionais referentes à moradia, educação, saúde, lazer, reforma agrária, segurança, não pagamento da dívida externa, emprego e salário digno, preservação ambiental, combate à seca e qualidade de vida para todos os ditos cidadãos. Muitos governos passaram e nada foi realmente cumprido na íntegra, desgastando cotidianamente a chamada república democrática.

Nesse sentido o que pairou foi uma ação assistencialista por parte dos governantes sem solucionar verdadeiramente as diversas demandas que assolam a vida diária do trabalhador assalariado da cidade e do campo. Os fenômenos de rebeldia que marcam as páginas dos noticiários nacionais e internacionais são uma variante dos impactos críticos desencadeados pelo sistema decadente que insiste em permanecer com uma estrutura de governo de exclusão, descaso e muitas irregularidades sociais. É notória a crise econômica mundial que coloca em xeque a inconsequente economia de mercado internacional, onde essa mesma engrenagem através de seus mandantes passa a impor aos governantes do Brasil uma política cada vez mais rasteira e desumana, provocando os inúmeros descompassos na sociedade.

Nessa linha de acontecimentos, o maior sofredor é o trabalhador humilde e desempregado, sendo atingido pela fome, miséria e violência policial, quando ousa reivindicar seus direitos negados e que ao longo de sua história vem sentindo na pele a insalubridade de uma democracia que beneficia os ricaços, que permanecem lucrando sempre mais. Os assassinatos no campo são assustadores, vitimando lavradores que reivindicam um pedaço de chão para tirar o mísero sustento de sua família.

Nenhuma sociedade consegue permanecer na apatia permanentemente, sem que um dia se levante contra seus algozes. Portanto, não deve ser motivo de surpresa a eclosão de recorrentes reivindicações populares nesse período. No início da formação do capitalismo no país, os governantes não tiveram a preocupação de realmente garantir a distribuição de terras aos antigos escravos que se tornaram livres. Nessa medida, uma parte foi transformando-se em trabalhadores assalariados e outra parte ainda mais massacrada ficou totalmente à mercê das intempéries de uma política excludente, todos vítimas de uma profunda desigualdade entre classes.

Assim nascem os primeiros focos de sem-terra, sem-teto, desempregados, excluídos e marginalizados por um punhado de ricaços dominantes. Em vários momentos, as camadas populares lutaram e protestaram contra os antigos opressores, porém essas lutas foram locais sem possuir uma reivindicação de proporção nacional e com pouca mobilidade de massa. Portanto, isso é uma maneira de comprovar historicamente que o brasileiro possui uma marca de luta em gerações anteriores, hora mais expressiva ou menos aguerrida, dependendo da ocasião do momento.

O estouro de manifestações que sacode o Brasil de ponta a ponta, eclodiu em São Paulo com as bandeiras de reivindicação do movimento popular pelo passe livre, que em seguida ganhou o recheio de antigas bandeiras esquecidas pelos chamados representantes políticos. Os eventos ocorridos nas ruas, praças e avenidas de todo o território nacional, significam uma ampla resposta do povo brasileiro contra as lacunas da irregular política dividida em classes.

A juventude e a população em geral não são inativas e demonstraram sua indignação no enfrentamento com a polícia do Estado nas ruas e avenidas. O chamado “vandalismo” resulta de um sistema político degradante e obsoleto. A rebeldia desses ativistas mais ousados faz parte do calor de qualquer luta em andamento por uma possível transformação social. Os bilhões de reais direcionados para a copa das confederações colocaram de forma clara que a política econômica do capital atua em benefício de um punhado de ricos, em prol de um evento futebolístico que foge ao atendimento das necessidades do povo.

Enquanto o Brasil ocupa a 85ª posição no ranking do IDH mundial e uma recente pesquisa revela que 15 milhões de pessoas passam fome em nosso país, uma dinheirama dos cofres públicos corre de maneira desenfreada atendendo aos caprichos de grandes empresários e da FIFA, apoiados pelos governantes. Os valorosos manifestantes que protestam estão protagonizando os rumos de uma nova era na política nacional.

Isso deixa às claras que a verdadeira democracia popular é decidida na base do debate popular sendo incrementada com as ações de rua para fazer valer o direito de um povo sofrido. Antes o que era impossível tornou-se possível, obrigando os ditos representantes do povo a fazer aquilo que as massas desejam alcançar. O povo organizado possui uma enorme força, mas nem sempre consegue perceber a dimensão do poder que possui.

A configuração de um novo quadro de justiça e uma política de agregação social e verdadeiramente democrática só se consolidará com as ações de rua para a derrubada do Estado capitalista opressor, fazendo valer o verdadeiro sentido democrático popular que deve ser construído pelo povo e para o povo, com o Estado socialista. Significa portanto que as contradições de ordem política e econômica do capitalismo financeiro necessitam ser superadas com a organização ativa das camadas populares.

Em suma, o arremedo democrático burguês que impera no país não consegue atender às demandas da população. O Estado burguês só ruirá com a força do povo, numa dinâmica de transformação social e inevitáveis perdas materiais, entre outras. Os fins poderão justificar os meios dependendo da ocasião e do calor do momento. O movimento deve arregimentar imediatamente operários, camponeses, estudantes, domésticas, desempregados, professores etc. Só a luta mudará a vida e a sociedade. É necessário que o movimento permaneça atuante até conseguir alcançar todas as reivindicações. Deve-se salientar que a mídia burguesa tenta desviar as atenções com a intenção de colocar povo contra povo. O Estado capitalista juntamente com toda a sua bandalheira deve ser derrubado e pagar pelos crimes cometidos contra os pobres, miseráveis, excluídos e desafortunados.

O combate à impunidade e à corrupção no Brasil deve ser tratado com rigor utilizando os clássicos tribunais do povo. Medidas governamentais da política vigente não solucionarão os problemas em questão. Está claro que a população não aguenta mais tanto desmando, sendo necessário sacudir o país e erradicar todas as necessidades do povo, por meio das assembleias populares e manifestações de rua. As arbitrariedades cometidas por um governismo atrelado a uma política de contradições só será modificado com a força e formação das lutas populares.

Na realidade a população não se sente representada politicamente e por esta razão tomou as ruas de todo o país, demonstrando a sua insatisfação. A política de pão e circo deve cair por terra e uma nova sociedade deve ser arquitetada. O rosto de ativistas encapuzados representa o rosto de um povo não visto em luta. É inegável que a pressão dos manifestantes fez o governo e empresários do transporte em São Paulo diminuir a tarifa de ônibus. Na seqüência foi barrada a PEC37. Enfim, estamos vivenciando momentos de possíveis mudanças na sistemática ordem do Estado capitalista financeiro. E por fim, os protestos tendem a se multiplicar no Brasil, pois as políticas públicas não garantirão benefícios concretos às camadas sofridas e exploradas de todo o território nacional. O povo na rua é que arrancará os objetivos populares. A meta do Estado é garantir a manutenção da política demagógica e degradante. Manter-se na luta e organizado é a única saída para mudar o Brasil.

Votar em um parlamentar não significa garantia de direitos. O verdadeiro direito é aquele decidido pela democracia direta em nome do povo.

Carlos Holanda, graduado em História e pós –graduando em Metodologia do Ensino de História pela UECE (Universidade Estadual do Ceará)

Polícia, cadê o Amarildo?

Depoimentos feitos no dia 22 de julho de 2013, no dia que o Papa chegou ao Brasil, durante a manifestação que concentrou no Largo do Machado e foi para o Palácio Guanabara. Após 6 dias sem notícias de Amarildo de Souza, 47 anos, sumido pela Polícia da UPP da Rocinha. Voz das Ruas, “Papa, cadê o Amarildo?”

Amarildo de Souza, 47 Anos, pai de 6 Filhos, pedreiro e morador da Favela da Rocinha: Desaparecido Político da Democracia Brasileira.
*A última vez que Amarildo foi visto estava sendo conduzido por PMs no domingo (14/07/2013) à noite para a Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP da Rocinha.

Eliana Silva e Dandara ocupam Prefeitura de Belo Horizonte

Eliana Silva e Dandara ocupam prefeitura de Belo Horizonte“Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.” Artigo 7° da Declaração Universal dos Direitos Humanos

As ocupações Dandara e Eliana Silva reivindicam o direito constitucional de moradia digna. Exigimos da Prefeitura de Belo Horizonte que RECEBA AS OCUPAÇÕES e NEGOCIE UMA SOLUÇÃO JÁ!

A dignidade não alcança aqueles/as que se dobram as injustiças. Por isso hoje, 29 de julhode 2013, moradores das comunidades Dandara e Eliana Silva, ocupações dirigidas pelas Brigadas Populares e pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB, decidiram ocupar a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e exigir do Prefeito Márcio Lacerda o que ele se comprometeu: NEGOCIAR COM AS OCUPAÇÕES URBANAS DE BH!

Se somos “todos iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei” como diz a Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, porque as famílias das comunidades Dandara e Eliana Silva não possuem o direito à moradia? Qual é o motivo de discriminar estas comunidades?

Eliana Silva e Dandara ocupam prefeitura de Belo HorizonteA Prefeitura de Belo Horizonte tem o dever legal, moral e político de PROCURAR SOLUÇÕES. Por diversas vezes solicitamos à Prefeitura de BH que abrisse negociação com as comunidades, ouvisse suas demandas e procurassem resolver os problemas fundiários e sociais das localidades. NADA FOI FEITO. Em razão dos protestos ocorridos em junho o prefeito declarou que iria receber representantes das ocupações. Então, realizamos uma solicitação formal, protocolamos um pedido de reunião na Prefeitura de BH no dia 10 de julho. Até então não obtivemos retorno algum.

Diante da falta de compromisso do Prefeito para com sua palavra e a dignidade de milhares de famílias belorizontinas, que não estão tendo seus direitos fundamentais respeitados, decidimos OCUPAR A PREFEITURA DE BELO HORIZONTE e exigir que o Prefeito receba as ocupações e encaminhe uma solução para todas as ocupações da capital.

Solicitamos a todos e todas que contribuam com nossa luta, que divulguem nossa luta e ajudem a pressionar a Prefeitura de Belo Horizonte para que negocie com as ocupações!

EXIGIMOS:
NEGOCIAÇÃO JÁ! QUE O PREFEITO MÁRCIO LACERDA SUPERE SEU PRECONCEITO COM OS SEM-TETO E CUMPRA COM SEU PAPEL DE GOVERNANTE;
REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA JÁ PARA AS OCUPAÇÕES DE BELO HORIZONTE;
ÁGUA, ENERGIA, ESGOTO E ENDEREÇO PARA AS OCUPAÇÕES.

Brigadas Populares/MG
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB

Telefones para contato:
Comunicação dentro da Prefeitura:
Luara Colpa (Brigadas Populares):9181-0478
Natalia (MLB): 9189-7373

Comunicação externa:
MLB – 93314477
Brigadas Populares – 32740337

Evo Morales explica a verdadeira dívida externa

Evo Morales sobre a dívida externaCom linguagem simples, que era transmitida em tradução simultânea a mais de uma centena de Chefes de Estado e dignitários da Comunidade Européia, o Presidente Evo Morales conseguiu inquietar sua audiência quando disse:

Aqui eu, Evo Morales, vim encontrar aqueles que participam da reunião.

Aqui eu, descendente dos que povoaram a América há quarenta mil anos, vim encontrar os que a encontraram há somente quinhentos anos.

Aqui pois, nos encontramos todos. Sabemos o que somos, e é o bastante. Nunca pretendemos outra coisa.

O irmão aduaneiro europeu me pede papel escrito com visto para poder descobrir aos que me descobriram. O irmão usurário europeu me pede o pagamento de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei a vender-me.

O irmão rábula europeu me explica que toda dívida se paga com bens ainda que seja vendendo seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento. Eu os vou descobrindo. Também posso reclamar pagamentos e também posso reclamar juros. Consta no Archivo de Indias, papel sobre papel, recibo sobre recibo e assinatura sobre assinatura, que somente entre os anos 1503 e 1660 chegaram a San Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América.

Saque? Não acredito! Porque seria pensar que os irmãos cristãos pecaram em seu Sétimo Mandamento.

Expoliação? Guarde-me Tanatzin de que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue de seu irmão!

Genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomé de las Casas, que qualificam o encontro como de destruição das Indias, ou a radicais como Arturo Uslar Pietri, que afirma que o avanço do capitalismo e da atual civilização europeia se deve à inundação de metais preciosos!

Não! Esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata devem ser considerados como o primeiro de muitos outros empréstimos amigáveis da América, destinado ao desenvolvimento da Europa. O contrário seria presumir a existência de crimes de guerra, o que daria direito não só de exigir a devolução imediata, mas também a indenização pelas destruições e prejuízos. Não

Eu, Evo Morales, prefiro pensar na menos ofensiva destas hipóteses.

Tão fabulosa exportação de capitais não foram mais que o início de um plano ‘MARSHALLTESUMA’, para garantir a reconstrução da bárbara Europa, arruinada por suas deploráveis guerras contra os cultos muçulmanos, criadores da álgebra, da poligamia, do banho cotidiano e outras conquistas da civilização.

Por isso, ao celebrar o Quinto Centenário do Empréstimo, poderemos perguntar-nos: Os irmãos europeus fizeram uso racional, responsável ou pelo menos produtivo dos fundos tão generosamente adiantados pelo Fundo Indoamericano Internacional?Lastimamos dizer que não. Estrategicamente, o dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em armadas invencíveis, em terceiros reichs e outras formas de extermínio mútuo, sem outro destino que terminar ocupados pelas tropas gringas da OTAN, como no Panamá, mas sem canal. Financeiramente, têm sido incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de cancelar o capital e seus fundos, quanto de tornarem-se independentes das rendas líquidas, das matérias primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo. Este deplorável quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar e nos obriga a reclamar-lhes, para seu próprio bem, o pagamento do capital e os juros que, tão generosamente temos demorado todos estes séculos em cobrar. Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus as vis e sanguinárias taxas de 20 e até 30 por cento de juros, que os irmãos europeus cobram dos povos do Terceiro Mundo. Nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos adiantados, mais o módico juros fixo de 10 por cento, acumulado somente durante os últimos 300 anos, com 200 anos de graça.

Sobre esta base, e aplicando a fórmula europeia de juros compostos, informamos aos descobridores que nos devem, como primeiro pagamento de sua dívida, uma massa de 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambos valores elevados à potência de 300. Isto é, um número para cuja expressão total, seriam necessários mais de 300 algarismos, e que supera amplamente o peso total do planeta Terra.

Muito pesados são esses blocos de ouro e prata. Quanto pesariam, calculados em sangue?

Alegar que a Europa, em meio milênio, não pode gerar riquezas suficientes para cancelar esse módico juro, seria tanto como admitir seu absoluto fracasso financeiro e/ou a demencial irracionalidade das bases do capitalismo.

Tais questões metafísicas, desde logo, não inquietam os indoamericanos. Mas exigimos sim a assinatura de uma Carta de Intenção que discipline os povos devedores do Velho Continente, e que os obrigue a cumprir seus compromissos mediante uma privatização ou reconversão da Europa, que permita que a nos entregue inteira, como primeiro pagamento da dívida histórica.

Fonte: Diálogos do Sul

Mobilizações populares no Brasil e na Turquia são tema de debate em São Paulo

Mobilizações populares no Brasil e na Turquia são tema de debate em São Paulo 3Aconteceu, no dia 22 de julho, na sede do sindicato dos jornalistas de São Paulo o debate Turquia e Brasil: Nas ruas os povos encontram o caminho.

Organizado pelo Jornal A Verdade e pela UJR (União Juventude Rebelião) o evento teve como principal objetivo a troca de experiências sobre as mobilizações populares ocorridas nos últimos tempos nos dois países.

A discussão contou a participação de duas representações de cada país. Representando a Turquia estvam Elif Görgü, do jornal Evrensel e Nray Sancar, do Partido do Trabalho da Turquia (EMEP). Por parte do Brasil estavam Marcelo Buzetto, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e Sandino Patriota, do Partido Comunista Revolucionário (PCR). A intermediação foi Aline Bailo, da UJR.

Cada um destacou em suas exposições detalhes e análises destes processos de mobilizações, que em pouco tempo mudaram os rumos históricos destes países.

“Mesmo com tal distância e com culturas tão diferentes, podemos perceber que a luta e as mobilizações nesses países tem grandes semelhanças”, afirmou Marcelo Buzetto.

Em seu relato, Nray Sancar enfatizou a importância da luta contra o capitalismo nesse processo de mobilizações e destacou este, como m problema internacional, e por isso tão importante a solidariedade internacionalista.

O debate se encerrou com todos os participantes puxando a palavra de ordem que expressa o espírito que permeou toda essa noite. “Brasil, Turquia, América Central, a luta por justiça é internacional”.

Ana Rosa Carrara, São Paulo

Por que defendo Stálin – reação a duas publicações burguesas

Por que defendo StálinStalin costumava perguntar, durante as sangrentas batalhas em Stalingrado e nos arredores de Moscou, capital que ele nunca pensou abandonar, os invasores nazistas já enfraquecidos, e seus aliados fascistas, as tropas italianas, já derrotados, o seguinte: “Quantas divisões tem o papa Pio 12?”, o grande admirador de Hitler.

No dia 7 de março último, a Folha de S. Paulo, na seção Mundo, publicou as duas fotos acima, uma delas de duas venezuelanas da classe alta, sem dúvida carregadas de joias e com roupas caríssimas, recebendo abrigo na Flórida, festejando histericamente a morte de Hugo Chávez. Tive vontade de perguntar: “Quantas divisões elas têm?” Centenas de divisões made in USA. E quantas divisões tem a mulher venezuelana da outra foto, vestida humildemente, chorando de todo coração a morte do Comandante? Resposta: milhões de patriotas que são a maioria absoluta da Venezuela.

Também vi a publicação Aventuras na História, da Editora Abril, que na sua capa escreve: “Stalin contra-ataca: o ditador nunca foi tão adorado. Por que o homem que exterminou 20 milhões de soviéticos volta a ser venerado sessenta anos depois de sua morte?”. E, se isso não bastasse, diz Patrícia Hargreaves, diretora da redação: “Poucos personagens da história foram mais perversos que o georgiano Josef Stalin, líder da União Soviética por trinta anos, de 1992 até sua morte em 1953. Ele sempre aparece em companhia de gente como Mao Tsé-Tung, Gêngis Khan, Átila, o Huno, e assemelhados. Não por acaso, um de seus ídolos era Ivan, o Terrível, um czar que fez valer o epíteto.

Nem menciona Hitler, que cometeu o maior genocídio da história, ampliado com a invasão da União Soviética em 1941, na chamada Operação Barbarossa. Os milhões de vítimas civis, entre eles poloneses, judeus, ciganos, iugoslavos. Os nazistas entraram nos colcozes, as fazendas coletivas soviéticas, enchendo os gigantescos celeiros de madeira com centenas de camponeses, homens, mulheres, velhos, crianças, cercando os celeiros com os Eisensatzgruppe, os Grupos Especiais, pondo fogo por dentro, atrás das portas fechadas, sem deixar ninguém sair e, se alguém tentava escapar, era metralhado no ato.

Será que a Patrícia Hargreaves esqueceu que os nazistas germânicos causaram todo esse inferno da Segunda Guerra Mundial? Será que ela achou que Hitler não deveria ser incluído na lista de, segundo ela, os maiores montros da humanidade?

Quanto à Grande Fome a que ela se refere, o historiador britânico Anthony Beevor, autor do famoso livro Stalingrado, baseado nos documentos liberados recentemente, dos arquivos do Exército Vermelho e do Exército do Reich alemão, mostra claramente que, se Stálin não tivesse conseguido derrotar nos anos de 1930 os grandes donos de terras ucranianos, e não tivesse transferido esses grandes proprietários para a Sibéria, se Stalin não tivesse feito a coletivização agrária, esses grandes donos de terra, se tivessem ficado na Ucrânia, eles se teriam aliado aos alemães – e o destino da guerra teria sido o triunfo arrasador dos nazistas. Será que Patrícia Hargreaves preferiria que o resultado final tivesse sido a vitória esmagadora dos autores do holocausto?

Ela critica Stalin, dizendo que nenhum país teve mais vítimas na Segunda Guerra do que a URSS, com 24 milhões de pessoas. Pergunto: pessoas ou soldados? As vítimas britânicas foram 450 mil, as vítimas americanas, 300 mil. Patrícia Hargreaves observa espantosamente que Stalin usou esses 24 milhões de soviéticos como… “bucha de canhão”!

Assim ela ignora os fatos de que nenhuma força aliada conseguiu frear a invasão sangrenta e bárbara e de que nem a França, com a famosa Linha Maginot, não levou nem dez dias para ser derrotada, e de que a Polônia caiu em seis dias, de que os austríacos e tchecoslovacos foram engolidos, de que a Iugoslávia se tornou uma resistência clandestina permanente, com seus famosos partisans não tendo parado de lutar nas florestas – mas apesar disso o caminho foi aberto para as tropas nazistas entrarem em 1941 na União Soviética. Pela tática de terra arrasada usada pelo Exército Vermelho em sua retirada, os soldados nazistas não puderam aproveitar os frutos da terra por eles recém-ocupada, enquanto aguardavam reforços de Berlim. Foi isso que causou a Grande Fome.

Baseado nos documentos soviéticos e nazistas, o historiador Beevor fez uma grande descoberta: não foi o “General Inverno” que venceu os alemães. O fator decisivo que ele menciona é que, bem escondidas nos confins do leste da Sibéria, foram instaladas centenas de colcozes, que produziram três mil tanques do famoso modelo T-50, com aço de espessura de 5 centímetros, o dobro da espessura do aço dos tanques alemães, britânicos e americanos.

Nem os agentes de espionagem, nem nazistas, nem britânicos, nem americanos, conseguiram descobrir essas colcozes. Nem previram a surpresa que o marechal Jukov preparou com esses três mil tanques, cercando as tropas de Von Paulus dentro de Stalingrado. Os sitiantes foram sitiados.

Imaginem se Stalin não tivesse conseguido fazer essa coletivização! De onde chegariam os tanques salvadores não só da União Soviética como do Ocidente? Do céu?

Essa grande vitória em Stalingrado enfraqueceu todos os frontes de batalha alemães, em Moscou, na África do Norte e impediu o cumprimento da estratégia de pinças dos nazistas, com as tropas de Von Paulus vindo de Baku (onde ele não conseguiu chegar, por causa da derrota em Stalingrado) e as tropas de Rommel vindo do Egito. O plano era que Von Paulus e Rommel iriam se encontrar na Jordânia. Rommel foi derrotado e restou o perigo da bomba atômica em preparação pelos os alemães de Von Braun (que com a derrota da Alemanha foi trabalhar para os Estados Unidos).

Stalin e seu Comitê Central conseguiram conduzir os milhões de soldados, chamados por Patrícia Hargreaves de “bucha de canhão”, que perseguiram os alemães em fuga, atravessando a Polônia, liberando os poucos sobreviventes dos campos de extermínio Auschwitz, Treblinka, Maidanek, virando a Blitzkrieg (“guerra-relâmpago”) contra os seus inventores alemães. Conquistaram o famoso bunker de Hitler, encontrando na entrada os esqueletos do Fuehrer e sua mulher recém-casada Eva Braun e os cadáveres do casal Goebbels.

Vou mencionar os motivos pelos quais, apesar do 20° Congresso do PCUS, nunca abandonei minha admiração por esse ser fenomenal que, apesar dos erros cometidos ao longo dos trinta anos em que encabeçou a União Soviética, conseguiu manter esse continente-colosso formado pela União Soviética e a China, enfrentando tantas intervenções durante décadas, e transformar um país atrasado em um país industrializado, que foi o único a conseguir enfrentar e derrotar esse perigo que nem foi mencionado por Patrícia Hargreaves.

Minhas visão pessoal

Milhões de judeus buscando abrigo, fugindo dos carrascos, das câmaras de gás, encontraram só portas fechadas em todos os países e continentes. Foram forçados a voltar para as câmaras de gás. Os únicos que abriam as portas, as fronteiras, para esses fugitivos, foram os membros do Comitê Central presidido por Stalin. Os soviéticos salvaram 3 milhões de judeus que procuravam escapar das tropas nazistas as quais estavam em progressão, até o ponto de a URSS fundar em seu território o Estado judaico de Birobidjan, longe do perigo, na protegida Sibéria.

Se Stalin tivesse cometido esses “crimes” mencionados por Patrícia Hargreaves, seriam contados, ao invés de 6 milhões de judeus assassinados, 9 milhões de judeus assassinados.

Em 1942 eu tinha dez anos e morava em Haifa, na Palestina. Já nos preparávamos para enfrentar o perigo bem real do cerco de Von Paulus pelo norte e Rommel pelo sul. Fui um dos milhares de jovens voluntários encarregados de limpar as enormes cavernas do vale de Roshmia, no monte Carmelo, para preparar os esconderijos em que se abrigariam os que iriam enfrentar as tropas nazistas dos Einsatzgruppen. Durante semanas, depois das aulas na escola, eu ajudava a transformar as cavernas em moradias. Depois da vitória do Exército Vermelho em Stalingrado esse plano alternativo de resgate foi cancelado. Podíamos respirar livremente.

Passaram-se seis anos. Em 1948, fui recrutado para participar do início da defesa das fronteiras marcadas pela ONU para o Estado judeu, contra a invasão armada dos países vizinhos, colonizados pelos ingleses. Não havia armas suficientes. O mundo ocidental declarou um embargo. Estávamos quase em colapso. Com surpresa chegou a ajuda da Tchecoslováquia, por ordem do Comitê Central presidido por Stalin. Os tchecos mandaram milhares de fuzis, centenas de metralhadoras, que nos ajudaram, a nós jovens, a frear os invasores. Nosso destino de conseguir a libertação do Mandato britânico estava de acordo com o que preconizava a ideologia soviética. Viramos, por curto prazo, parceiros dos soviéticos. Graças ao Comitê Central da União Soviética de Stalin, foi possível estabelecer o Estado judeu no Oriente Médio.

O prestígio de Stalin

Dá para entender o fato de que, sessenta anos depois de sua morte, a popularidade de Stalin volta a ser venerada na Rússia. Não é difícil de entender: a maioria dos habitantes da ex-União Soviética tornaram-se de novo uma maioria de classe baixa, de falta de liberdades econômicas, das desigualdades crescentes, do desamparo com a falta de planos de saúde, enquanto a educação e a moradia comem quase tudo do salário, e o desemprego está crescendo enormemente. Só uma minoria pequena dos 200 milhões de russos gozam de um nível de vida bem alto. O maior número de donos de carros Jaguar, Bentley e Rolls-Royce, em todo o mundo, são integrantes da Máfia russa, que domina o país. Por que estranhar o fato de que a maioria da população está coletando dinheiro, como foi mencionado no arquivo de Patrícia Hargreaves, para reconstruir as estátuas de Stalin que foram destruídas, e exigindo do nome de Staligrado para a cidade hoje chamada de Volgogrado?

Raras vezes se encontra um povo nessa situação de revolta geral, numa situação tão dura, tão trágica, de se jogar de peito aberto contra as metralhadoras dos nazistas. Não são “bucha de canhão”. Sua luta foi igual à nossa para nos libertar dos colonialistas ingleses, com nossos peitos expostos às metralhadoras britânicas. E agora nos encontramos com os venezuelanos na mesma situação em que a grande maioria pega nas mãos o seu destino. Será isso que, sessenta depois da morte, leva à veneração de Stalin? Exatamente sessenta anos depois da morte de Stalin morreu Chávez.

Gershon Knispel, artista plástico
Fonte: Caros Amigos

João Saldanha, o militante comunista que comandou a Seleção Brasileira

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João SaldanhaEstamos numa época em que o futebol, esporte tão amado pelo povo, foi transformado em mercadoria.Em que o povo brasileiro vai às ruas, em plena Copa das Confederações, protestar pela redução das passagens de ônibus, contra os superfaturados gastos bilionários com os estádios, contra a interferência da Fifa na soberania nacional, contra as remoções dos pobres que moravam nas áreas onde os estádios foram construídos.Numa época em que o futebol tem sido instrumento de corrupção, lavagem de dinheiro, enriquecimento de uma minoria, refúgio para agentes da Ditadura Militar.

Pois bem, nada mais oportuno então do que resgatar o nome de um cidadão consciente, engajado, militante, amante do futebol e profissional bem sucedido como técnico e comentarista esportivo. É preciso que a juventude rebelde conheça e se mire no exemplo de João Saldanha.

João Alves Jobim Saldanha já nasceu lutando, no dia 3 de julho de 1917, ano abençoado, em que os bolcheviques tomavam o poder na Rússia, instalando o primeiro governo popular da História, que construiria a primeira experiência de socialismo científico na vida humana. Não. Não quero dizer que o menino já nasceu comunista. É que o casal que o gerou – Gaspar Saldanha e Jenny Jobim Saldanha –estava refugiado no Uruguai por conta de sua participação no enfrentamento dos maragatos contra os chimangos, no Rio Grande do Sul. Voltou pouco tempo depois às terras gaúchas, e, aos seis anos de idade, ajudava os irmãos mais velhos – Aristides e Maria – a carregar armas e munições por baixo da roupa.

Maragatos x Chimangos

Um breve intervalo para compreendermos melhor essa luta. Começou em 1893, com os maragatos defendendo uma Federação com maior autonomia para os Estados, considerando que o governo central exercia um controle quase absoluto, negando, na prática, a República Federativa proclamada em 1889. O apelido tem origem no fato de que os líderes da Revolução Federalista estiveram exilados no Uruguai, numa região chamada de Maragateria.  Defendendo o Governo Central, estavam os Pica-Paus, assim denominados por conta de um chapéu branco que deixava suas cabeças parecidas com a do pássaro. O conflito terminou em 1895 com a derrota dos maragatos. Mas estes não desapareceram. Retomaram o combate em 1923, contra o governo de Borges de Medeiros. Este era acusado de fraude eleitoral, corrupção e repressão, agindo como verdadeiro ditador. A luta durou 11 meses, terminando em dezembro com uma negociação intermediada pelo Governo Federal. Borges permaneceu no Governo, mas foram abolidas a reeleição e a indicação de intendentes prefeitos. Os defensores do Governo do Estado foram denominados chimangos, uma ave de rapina parecida com o carcará.

Futebol e Militância

A família mudou-se para o Paraná, onde morou em várias cidades do interior, fixando-se finalmente em Curitiba, a dois quarteirões do Atlético Paranaense. O gosto pelo futebol começou ali, jogando com os meninos da vizinhança e assistindo aos treinos atleticanos. Uma curiosidade: no curso primário, teve como colega de escola um garoto que se tornaria personagem marcante na História do Brasil: Jânio da Silva Quadros.Nova mudança, agorapara o Rio de Janeiro, em 1931;João Saldanha tinha 14 anos. Aos 18, conseguiu mudar seu registro de nascimento,oficializando-se como natural de Alegrete (RS), onde a família vivia antes de deixar os pampas. No Rio, continuou seus estudos, cursou a Faculdade de Direito, ingressou no PCB, então denominado Partido Comunista do Brasil, e jogou profissionalmente pelo Botafogo, pouco tempo, parando após fraturar uma perna.

João SaldanhaO cronista Rubem Braga assim o descrevia: “Um cara que não perdeu aquele topete gaúcho e incorporou muito da malícia carioca”. E Nelson Rodrigues, escritor e teatrólogo, deu-lhe uma alcunha: João Sem Medo.

Na fase mais dedicada à militância política no PCB, João Saldanha foi assistente político do grupo que conduziu a guerrilha camponesa do Porecatu, no Paraná (1947-1951); ele era o “Professor Siqueira”, lembra JeaneteGouvea, que o conheceu na época e escreveu sobre esta revolta para o jornal A Verdade,nº 67.

Com larga experiência na redação dos jornais e boletins clandestinos do PCB, Saldanha estreou como comentarista esportivo no Rádio Nacional, tendo se tornado muito popular e festejado pelo modo enfático e simples de comentar e pela criação de frases inesquecíveis, que se tornaram bordões populares, a exemplo de “Se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária seria campeão” e “Se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria empatado”.Em 1957, o Botafogo o convidou para técnico. Ele não tinha experiência, mas o clube ganhou o campeonato estadual. Mais um êxito profissional.

Na Copa do Mundo de 1966, o Brasil teve um fraco desempenho. A imprensa, o povo todo, criticava. Era geral o descrédito para a Copa de 1970. João Saldanha também criticava, mas de forma construtiva, dava sugestões. A direção da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) pensou uma cartada. Ele era super-respeitado como comentarista, tinha levado o Botafogo à vitória como técnico. Então, que venha comandar a Seleção Brasileira.

João Sem Medo aceitou o desafio. E disse: “Só vou convocar feras”. Por isso, a imprensa batizou a seleção como “As Feras do Saldanha”. E eram.  Pelé, Tostão, Gérson, Rivelino, Carlos Alberto Torres, Jairzinho… “Tive a sorte de contar com um celeiro de craques; lamentei não convocar Ademir da Guia, por exemplo…”1 (Ademir era um grande jogador, ídolo da torcida palmeirense).

“Na seleção, mando eu”

O Brasil vivia sob ditadura militar. Quando Saldanha foi convocado, o ditador de plantão era o general Artur da Costa e Silva, que mantinha uma fachada “democrática”. Mas 1968 foi um ano de grandes mobilizações de massa, especialmente do movimento estudantil, e, em dezembro, veio o AI-5, o golpe dentro do golpe.A dita, que alguns consideravam branda, endurece de vez.Uma polêmica, aliás, inócua, porque como bem definiu o poeta “dita é sempre dita, tanto faz dita mole ou dita dura, tanto faz”, pois, “cala a voz, mata a canção, joga o direito no chão…”2

Em agosto de 1969, Costa e Silva, considerado da ala moderada das Forças Armadas, adoece. Assume uma Junta Militar e, a seguir, é nomeado para a chefia da Ditadura o general Emílio Garrastazu Médici. Este não simpatizava com um comunista dirigindo a Seleção,especialmente quando convocou a CBD para uma reunião, e João Saldanha não compareceu. Ele justificou: “…Eu não teria prazer em apertar a mão de um homem que tinha matado vários amigos meus. Não sei se foi ele quem mandou ou deixou. O caso é que, coincidentemente, trezentos e tantos morreram naquele Governo, o mais assassino da História do Brasil”.

As eliminatórias foram um sucesso, mas, uma semana antes da Copa de 1970, João Saldanha é demitido. A versão corrente, assumida pelo próprio Saldanha, é que Médici queria mandar em tudo e começou a pressionar em favor da convocação de jogadores de sua preferência, especialmente Dario Maravilha (Atlético Mineiro), pois queria agradar Minas Gerais. Segundo Saldanha, Dario era “…um bom jogador. Era de alto nível, mas não de tão alto nível como os jogadores de que a Seleção Brasileira precisava”.

Médici pressionava a diretoria da CBD, e esta transmitia a pressão para João Saldanha, até chegar ao ponto de João Havelange dizer: “João, não podemos aguentar mais. Pelo amor de Deus, convoque Dario”.  “Se convoco Dario, eu ia me avacalhar. Não me avacalhei”.

Há um boato, não comprovado, de que a cúpula do regime se reunira para debater o tema João Saldanha. Houvera uma divisão. Parte considerava que não ficava bem a taça ser levantada por um comunista. Outra parte afirmava que o Partido teria decidido que a Seleção não poderia ser vitoriosa, pois isto serviria de propaganda para o Governo. A minoria confiava em Saldanha e acreditava que ele não se submeteria a pressão de ninguém. Por via das dúvidas, foi decidido demiti-lo. A ordem de convocar Dario teria sido apenas um pretexto.

O fato é que veio a demissão. Assume Zagallo às vésperas da Copa. Manteve o mesmo time. Só teve o trabalho de levantar a taça. Um desempenho fenomenal “As Feras de Saldanha” tiveram no México, levando o Brasil ao tricampeonato mundial.

João Saldanha voltou à sua função de comentarista renomado e continuou militando no PCB até o fim da vida, que aconteceu em 12 de julho de 1990, em Roma, onde fora cobrir a Copa do Mundo, por conta de um enfisema pulmonar. O Brasil caiu nas oitavas de final.

José Levino,
historiador

Notas:

  1. As citações de João Saldanha foram extraídas da entrevista concedida a Geneton Moraes Neto, em Globo.com.
  2. Trecho da canção VIOLA, VIOLAÇÃO, letra de Joaquim Alencar e Camilo de Lélis, que driblou a censura e foi campeã, aplaudida de pé, no Festival de Música de Cajazeiras (PB), ano de 1973.

Fontes de Consulta:

  • Crônica de Gustavo Grohmann em terceiro tempo.bol.com.br e wikipedia.org.