UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 8 de agosto de 2025
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Encontro Sudeste do MLB: Queremos um outro modelo de cidade

Encontro Sudeste do MLB: Queremos um outro modelo de cidadeCom o tema “Pelo direito à cidade”, mais de 100 lideranças de ocupações e núcleos de moradia de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais se reuniram no 1º Encontro Sudeste do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), nos dias 17 e 18 de agosto. O encontro aconteceu no CEFET-MG, em Belo Horizonte, e teve como objetivo aprofundar o debate sobre a reforma urbana, além de discutir e elaborar as bandeiras de luta do MLB para o próximo período.

Já na mesa de abertura, ficou clara a importância da unidade na luta pela reforma urbana. Estiveram presentes na abertura o deputado federal Nilmário Miranda (PT), coordenador da frente parlamentar pela Reforma Urbana; Eduardo Cardoso, representante da Central de Movimentos Populares (CMP); Fernando Alves, do Partido Comunista Revolucionário (PCR); Reginaldo Silva, assessor do mandato do deputado federal Padre João (PT); Eulália Alvarenga, do Núcleo da Auditoria Cidadã da Dívida; Chiquinho Maciel, da direção do Partido dos Trabalhadores (PT); Marcos Landa, do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM); Bruno Cardoso, representando o gabinete do vereador de Belo Horizonte Adriano Ventura (PT); Joviano Mayer, das Brigadas Populares; Poliana Souza, do MLB-MG; Gonzaguinha, do Sindicato dos Eletricitários de Minas Gerais (Sindieletro-MG); Mariana Ferreira, presidente do Grêmio do CEFET-MG e diretora da AMES-BH; Guilherme Abjaudi, da Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB); Isaac, representante da Congregação dos Agostinianos da Igreja Católica; Alda Lúcia, presidente do Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais (Sindimetro MG); Maria da Consolação, da direção do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL); Paulo Henrique, representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Cláudia, representando o cineasta Anderson Lima (“A Rua é Pública”).

“Direitos Humanos: o crescimento da repressão aos movimentos de moradia” foi o tema da primeira mesa do encontro e contou com a exposição da Dra. Ana Cláudia Alexandre, defensora pública de direitos humanos de Minas Gerais, Élcio Pacheco, advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Ocupação Eliana Silva, e Joviano Mayer, das Brigadas Populares.

A tarde foi dedicada às discussões e críticas sobre o programa Minha Casa, Minha Vida com a mesa: “Minha Casa, Minha Vida: Avanços e Desafios” que contou com o representante da Caixa Econômica Federal, Sotter José Gouveia, a professora da Faculdade de Arquitetura da UFMG, Denise Morado, e Marcelo Edmundo, da coordenação da Central de Movimentos Populares (CMP).

No segundo dia, os participantes se dividiram em cinco grupos de discussão: alfabetização popular; megaeventos; saneamento, favelização e arquitetura popular; mulheres e mobilidade urbana. Cada grupo contou com palestrantes para introduzir a discussão e os debates rolaram por toda a manhã. Propostas de cada grupo se somaram ao plano de atuação do MLB.

“Nós, participantes do 1º Encontro Sudeste do MLB pelo Direito à Cidade, reafirmamos nosso compromisso de desenvolver a luta por uma reforma urbana que vá além do capitalismo, bem como a nossa decisão de fortalecer a luta pela construção de uma sociedade socialista em nosso país.”, essa é a convocação da resolução final do Encontro Sudeste do MLB. A resolução e o plano de atuação foram aprovados na plenária final com forte aclamação de todos os participantes. O encontro encerrou com a comemoração de um ano da Ocupação Eliana Silva, com um almoço e visita na comunidade.

Natália Alves, Belo Horizonte

Contra o roubo no metrô, juventude e movimentos sociais tomam as ruas em São Paulo

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Em São Paulo, juventude e movimentos sociais tomam às ruas contra roubo no metrôOs sucessivos governos do PSBD no Estado de São Paulo mantêm um esquema de corrupção com empresas prestadoras de serviço ao Metrô e à CPTM. A empresa Siemens, umas das envolvidas no caso, denunciou, apenas em troca de imunidade, o desvio de mais de R$ 400 milhões, que poderiam ter sido investidos em transporte público, gratuito e de qualidade.

Este roubo é uma das causas da precariedade dos ônibus, metrôs e trens que a população paulista é sujeitada todos os dias na ida e volta da escola, universidade e trabalho.

Mas enganou-se aquele que disse que a juventude não voltaria às ruas depois de junho.

A União da Juventude Rebelião compôs, no dia 14 de agosto, com diversos movimentos sociais e juventudes, um importante ato contra o roubo no metrô paulista e contra as políticas atrasadas de Geraldo Alckmin e do PSDB.

Na educação pública, a juventude é submetida à péssima qualidade das escolas e das universidades. Os estudantes e professores, que recebem baixos salários, sofrem com as perseguições quando reivindicam seus direitos, sendo reprimidos violentamente pela Polícia Militar que age na periferia assassinando jovens negros e pobres. Polícia que em junho serviu ao governo Alckmin, reprimindo violentamente as manifestações, e há 1 ano e 7 meses, a mando deste governo, atacou os moradores do Pinheirinho, mostrando que Alckmin e o PSBD servem à especulação e são um entrave ao desenvolvimento das políticas habitacionais populares.

Mais uma vez, a juventude mostrou sua combatividade e que está disposta a lutar e vencer. Nas ruas do centro de São Paulo, o ato marchou e aos gritos de “Alckmin vai cair!”, não deixou ninguém parado: convocou o povo às ruas, exigindo punição para todos que roubaram os cofres públicos, impedindo um transporte coletivo digno e de qualidade.

Nas ruas de junho, os jovens protagonizaram manifestações gigantescas que culminaram na revogação do aumento das tarifas em várias cidades. A UJR convoca a todos neste Agosto Rebelde a ocuparem as ruas pelo “Fora Alckmin” e afirma que “se o presente é de luta o futuro nos pertence”.

Matheus Nunes, militante da UJR – São Paulo

Com apoio dos EUA, Exército já matou mais de 700 pessoas no Egito

Ditadura no EgitoApós derrubar um ditador há 30 anos no poder, eleger um novo presidente, primeiro chefe de Estado egípcio a ser eleito democraticamente, e também o primeiro islamita e o primeiro civil a dirigir o país, os egípcios, um ano depois, voltam a viver o mesmo pesadelo anterior.

Destituído por um golpe militar, com ligações ao imperialismo americano, Mohamed Morsi não conseguiu governar com as forças que o elegeram, além de manter diversos membros do regime deposto pelo povo em órgãos governamentais, numa clara tentativa de conciliação com as forças de Hosni Mubarak. Bastou essa traição e as inúmeras atitudes contra as reivindicações políticas e sociais proclamadas nas ruas pelos que o elegeram para serem criadas condições dos conspiradores armarem um golpe e devolver o país à ditadura dos partidários de Mubarak.

Morsi toma posse em 30 de junho de 2012 e, em novembro do mesmo ano, abre uma crise política ao baixar um decreto em que estende seus poderes e os coloca acima de qualquer controle judicial. Em novembro, também, aprova um projeto de Constituição pela Comissão Constitucional, que foi boicotada pela oposição de esquerda e laica, assim como pelos círculos cristãos.

Inicia-se, assim, uma série de protestos, com violentos confrontos entre opositores e adeptos do regime. Os protestos, além de causarem as primeiras mortes sob o novo regime (7), não param mais e, ao contrário, vão se intensificando. Morsi estabelece alianças à direita, aprofunda contradições religiosas ao querer governar somente para seu grupo, os islâmicos, e se separa da esquerda, dos cristãos e demais forças que se opuseram organizadamente à ditadura de Hosni Mubarak e a todas as atrocidades cometidas pelo seu regime.

No entanto, enquanto as forças de esquerda e democráticas encontravam-se nas ruas, protestando e exigindo publicamente que Morsi voltasse a governar para o povo e não para os interesses daqueles que o traiu, as forças da reação se utilizavam dos mecanismos jurídicos e institucionais do antigo regime, que não foram desmontados, para encurralar e submeter o presidente recém eleito.

Assim, após seguidas operações parlamentares e judiciais bem sucedidas, promovidas pelos inimigos derrotados, inúmeras manifestações contrárias ao governo que resultaram em centenas de mortos pelo país, o Exército, demagogicamente, exigiu que as “demandas do povo fossem atendidas”, estabelecendo uma virtual e oportunista aliança com os opositores que já reivindicavam a saída de Morsi.

Não demorou a, em 3 de julho de 2013, o presidente ser deposto pelo Exército, preso em local secreto e os confrontos entre militantes islâmicos e forças de segurança passarem a ocorrer, deixando mortos e feridos em vários pontos do país ao longo dos meses seguintes.

As acusações contra Morsi, agora, são de ter cometido atrocidades de todo tipo enquanto defendia seu governo contra as mobilizações da oposição, incluindo a ajuda que teria recebido do Hamas para escapar de uma prisão, quando havia sido detido pelo governo de Mubarak no início de 2011.

A realidade é que o povo do Egito foi mais uma vez traído pelo Exército, que prometeu novas eleições e a revisão da Constituição, mas só fez aprofundar as contradições internas e banhou o país em sangue, para submetê-lo ao imperialismo americano e europeu. Mas, os mais de 700 mortos também são fruto da falta de uma organização revolucionária que unifique as forças democráticas, patrióticas e revolucionárias do país, criando condições para o desenvolvimento das relações políticas entre mulçumanos e demais grupos religiosos; e que aponte, também, os caminhos da revolução socialista para tornar o Egito independente e autossuficiente, política e economicamente, da influência do capital multinacional e dos governos a seu soldo, que vêem nessa região do Oriente Médio um verdadeiro caldeirão revolucionário, que pode levar seus enormes interesses a serem transformados em pó.

Redação Rio

Onde está Amarildo?

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Onde está Amarildo?Até o dia 22 de julho, 1.720 pessoas haviam sido presas nas manifestações em todo o País – número ainda maior após os protestos durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio de Janeiro, na última semana de julho. Desses 1.720 presos, 230 eram jovens.

São Paulo foi o local de maior repressão, com 212 detidos, seguida por Belo Horizonte, com 141, por Brasília, com 90, e pelo Rio de Janeiro, com 87. A grande maioria foi presa por suspeita de crimes como dano ao patrimônio público e formação de quadrilha. Mas esses crimes ocorreram?

O que aconteceu foi que a Polícia enquadrou qualquer manifestante preso no crime de formação de quadrilha. Logo, o País contou com uma quadrilha de alguns milhões de pessoas no dia da maior manifestação. Essa medida foi realizada porque o crime de dano ao patrimônio público é considerado leve, e a pena é trocada por medidas alternativas. Já para formação de quadrilha e outras acusações como furto e roubo, a pena pode ser a prisão imediata, como aconteceu com os manifestantes Caio Brasil (RJ) e Cris Maria (Recife), que foram levados para presídios como se fossem criminosos perigosos. Caio foi preso juntamente com um cadeirante acusado de fugir da Polícia e um morador de rua acusado de roubo.

Na última semana de julho, durante a Jornada Mundial Juventude (JMJ), a Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) deu uma aula de fascismo. Enquanto infiltrava policiais (os chamados P2) para estimular o confronto entre manifestantes e o Batalhão de Choque, a conta da PMERJ no Twitter (rede social na internet) lançava comentários atacando os manifestantes, criticando a mídia alternativa, dizendo que os advogados dos presos e a OAB atrapalhavam o trabalho da Polícia e divulgando fotos dos jornalistas presos (medida proibida pela Constituição do Estado do Rio de Janeiro).

Em um dos comentários, as fotos de dois repórteres da Mídia Ninja (que transmite as manifestações pela internet) na delegacia foram divulgadas, expondo-os mesmo sem comprovação de nenhum crime. Mas, minutos antes, a mesma PMERJ publicou comentário dizendo que proibir a mídia de trabalhar era vandalismo.

Ora, o que a PMERJ (e a PM de outros estados) demonstrou foi seu lado autoritário e fascista. Prendeu jornalistas – sendo que os mesmos têm permissão para atuar com autonomia até em zonas de guerra – só porque mostravam os abusos da própria Polícia; prendeu manifestantes sem prova alguma e plantou provas ao colocar drogas e bombas dentro das bolsas dos manifestantes presos; prendeu pessoas que nada tinham a ver com as manifestações e atirou livremente no rosto de manifestantes e repórteres.
Onde está Amarildo?

Entre todos os crimes cometidos, um deles parece ter saído do controle dos órgãos repressores. O pedreiro Amarildo Dias de Souza, de 42 anos, morador da Favela da Rocinha, onde vivia em um cômodo com a mulher e seis filhos, e que recebia R$ 300 para trabalhar em uma obra em Copacabana, está desaparecido desde o dia 14 de julho, quando foi levado da comunidade por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

Amarildo voltava de uma pescaria quando foi abordado e levado para “averiguação”. Desde então, a família e vizinhos já buscaram por ele em hospitais, delegacias e até mesmo no necrotério, sem obter resposta. Segundo testemunhas, a PM diz que ele foi liberado, mas que as câmeras tiveram uma pane e que não existem imagens da liberação. O Governo carioca e a Polícia se calam. Quando muito, lamentam e dizem que vão acompanhar o caso.

São quase 30 anos desde a redemocratização do País, mas a Polícia criada pela Ditadura Civil-Militar continua inserida na sociedade. Os crimes que vemos hoje não são mais do que a continuidade da repressão que existia naquele período horrível de nossa história.
Os desaparecimentos são os mesmos ocorridos com as centenas de militantes (estudantes e trabalhadores) assassinados na Ditadura, muitos desaparecidos até hoje. A agressão aos jornalistas é a mesma que vitimou o jornalista da TV Cultura, Vladimir Herzog, no Dops de São Paulo. A prisão de estudantes é a mesma que ocorreu, em 1968, no 30º Congresso da UNE, em Ibiúna-SP, quando cerca de 800 jovens foram presos por organizar o movimento estudantil. As mentiras da Polícia são as mesmas que justificavam as mortes por tortura como mortes em tiroteio. E o fascismo é o mesmo que sempre matou jovens negros e pobres nas periferias.

Lenin, líder da Revolução Socialista Russa, escreveu no início do século passado, no livro O Estado e a Revolução, que o Estado é uma arma das classes opressoras (ricos) contra os explorados (pobres) e que se afasta cada vez mais da população, precisando para isso de uma força armada a fim de controlar e aterrorizar o povo, para que este tenha medo de se rebelar. O Estado não é nada mais do que uma ditadura disfarçada de democracia.

Essas palavras se mostram tanto mais certas quanto mais avança a crise do sistema capitalista e a vontade do povo de tomar o poder. Por isso, os trabalhadores não podem compactuar com a existência de uma PM que já foi denunciada pela ONU e que mata mais do que exércitos em guerra.

Lucas Marcelino, São Paulo

PCR lança programa para a Revolução no Brasil

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Programa do PCR para a a Revolução Socialist BrasileiraAs Edições Manoel Lisboa lançam, neste mês, em todo Brasil, o Programa do PCR para a Revolução Socialista Brasileira, um conjunto de teses do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário para seu 5º Congresso.

Dedicado à memória de Manoel Lisboa, Emmanuel Bezerra, Amaro Luiz de Carvalho, Amaro Félix e Manoel Aleixo, heróis do Partido assinados pela Ditadura Militar na década de 1970, o Programa é leitura obrigatória para todos e todas que desejam compreender, de um ponto de vista marxista-leninista, o processo de formação da Nação brasileira e lutar pela transformação revolucionária de nossa sociedade.

Já nas primeiras páginas, podemos encontrar um relato vibrante da resistência, primeiro indígena e, depois, negra, à dominação colonial, além de uma justa homenagem feita aos primeiros heróis do povo brasileiro: Sepé Tiaraju, líder da República Comunista Guarani, morto em combate em 1756, e Zumbi, comandante do Quilombo dos Palmares.

Ao analisar historicamente a formação do Estado capitalista no Brasil, o documento apresenta ao leitor, de maneira simples e direta, importantes informações sobre o passado e o presente da economia brasileira e da presença do imperialismo em nosso País, além de uma contundente denúncia da pobreza, do desemprego, do pagamento das dívidas interna e externa, das consequências do desenvolvimento do capitalismo no campo, das privatizações e da exploração dos trabalhadores brasileiros e afirma: “Na realidade, os trabalhadores, aqueles que produzem as riquezas, vivem para trabalhar e trabalham para viver, pois, como só possuem a força de trabalho, são obrigados a vendê-la aos donos dos meios de produção, os capitalistas. Pela venda de sua força de trabalho, recebem um salário que mal dá para pagar suas despesas com transporte e a alimentação de sua família e, em troca desse salário, realizam uma jornada de trabalho extenuante e repetitiva ao longo de sua vida.”

Ao tratar da luta pelo socialismo no Brasil, o Programa dá uma importante contribuição ao debate, caracterizando cada uma das classes sociais presentes em nossa sociedade, nomeando as classes exploradoras (a grande burguesia nacional e estrangeira e a burguesia média da cidade e do campo) e as classes exploradas e demais camadas sociais oprimidas (a classe operária, os camponeses pobres, a pequena burguesia e os povos indígenas). Esta, sem dúvida, não é uma questão secundária, visto que a caracterização exata das classes e de seus interesses é determinante para a definição do programa e da tática da luta de classe do proletariado pelo socialismo.

Na terceira parte do livro, as teses do Comitê Central do PCR abordam a questão do caráter socialista da Revolução Brasileira e o seu programa, enumerando e explicando cada uma das 22 propostas ali defendidas para transformar o Brasil, entre as quais, destacam-se: “socialização de todos os monopólios e consórcios capitalistas e dos meios de produção nos setores estratégicos da economia”; “nacionalização dos bancos e união de todos os bancos em um só banco”; “fim da espoliação imperialista sobre a economia nacional”; “expropriação da propriedade latifundiária e das grandes empresas agroindustriais”; “anulação dos impostos extorsivos cobrados do povo”; e “julgamento, prisão e confisco dos bens de todos os corruptos”, entre outros.

Ao tratar das tarefas que temos que cumprir para pôr em prática o programa, o texto aponta a “necessidade da conquista do poder para transformar a sociedade”, e adverte que “a burguesia, a atual classe dominante, sempre defendeu com violência a propriedade privada dos meios de produção e o seu ‘direito’ de continuar explorando o trabalhador” e que “em nenhum outro período da história, as classes dominantes foram tão reacionárias e usaram tanto a força e a violência contra os povos como hoje”.

O Programa também faz uma importante luta política sobre a necessidade da construção de um partido revolucionário para conscientizar, unir e organizar os trabalhadores e os demais setores oprimidos em sua luta contra a dominação capitalista, e desmascara as mentiras da burguesia contra o partido comunista, chamando todos os comunistas revolucionários a “trabalhar cada minutos de nossas vidas para construir o Partido e desenvolvê-lo, possibilitando que ele tenha cada vez mais capacidade e condições para pôr em prática sua política”.

Ler, debater e difundir o “Programa do PCR para a Revolução Socialista Brasileira”, no momento em que amplos setores da juventude e dos trabalhadores redescobrem o caminho das lutas de massa, certamente nos ajudará a compreender uma das mais importantes questões do momento, que é a do que fazer para dar consciência política revolucionária à indignação espontânea das ruas e que caminho seguir para fazer triunfar o socialismo no Brasil e o mundo.

Heron Barroso, Rio de Janeiro

Egito vive nova ditadura militar

Egito vive nova ditadura militarNo último dia 14 de agosto, a contra-revolução teve mais uma vitória no tortuoso caminho do povo Egípcio em busca de sua libertação. Com o argumento de reprimir os partidários do presidente deposto Mohamed Morsi que estão acampados em diversos pontos do país e em mobilização exigindo a volta do presidente ao poder, o governo dos militares assassinou milhares de pessoas e decretou estado de exceção com duração de pelo menos um mês. Neste momento, civis estão sendo presos e polícia secreta do exército trabalha livremente.

As mobilizações de rua que depuseram Mohamed Morsi em junho deste ano, abriram espaço para o fortalecimento da imagem do exército junto à população, imagem que estava desgastada desde a queda do ditador Hosni Mubarak fortemente apoiado pela cúpula da corporação. O atual ministro da defesa, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, é quem exerce o poder de fato, apoiado por uma junta civil que incluía o cientista Mohamed El Baradei como vice-presidente. Os eventos de 14 de agosto, no entanto, fizeram o próprio governo estremecer e El Baradei apresentou sua demissão.

Durante seu governo, o presidente deposto Mohamed Mursi, membro da irmandade mulçumana, intentou aplicar um programa conservador inspirado nos escritos islâmicos que, entre outras medidas atrasadas, atacava os direitos das mulheres e outros direitos democráticos fundamentais. Foi um governo incapaz de realizar as medidas populares reclamadas pelo povo, realizando a reforma agrária e nacionalizando as reservas naturais. Como resultado, cresceu o desemprego e os problemas sociais do país se agravaram.

Os militares liderados por Al-Sisi, por outro lado, mantêm fortes relações com os EUA e uma posição dúbia frente ao estado de Israel. São uma casta estabelecida há anos no país e que trabalha pela manutenção de seus privilégios. No último período, os militares têm insuflado o sentimento nacionalista no povo do Egito, pregando a xenfóbia para com sírios, palestinos e iemênitas, sob o pretexto de combater o fundamentalismo da irmandade mulçumana.

A história recente do Egito é um grande ensinamento para a classe trabalhadora de todos os países e do Brasil, em particular. Sem organizações políticas da classe trabalhadora, fortes o suficiente para fazer a revolução e retirar da classe dos burgueses o poder político construindo um novo estado, as revoltas populares serão sempre cegas, inconsequentes e manipuláveis por setores da própria burguesia.

 Sandino Patriota

O Partido Socialista e o Revolucionarismo sem Cunho Partidário

LêninO movimento revolucionário da Rússia, ao abarcar rapidamente novos e novos setores da população, está criando toda uma série de organizações à margem dos partidos. A necessidade de união manifesta-se com força tanto maior quanto mais tempo foi contida e perseguida. As organizações, de uma ou de outra forma, se bem que frequentemente ainda não cristalizadas, surgem sem cessar, o seu caráter é extremamente original. Aqui não há limites nitidamente assinalados semelhantes aos das organizações europeias. Os sindicatos adquirem caráter político. A luta política funde-se com a econômica — por exemplo, sob a forma de greves —, criando tipos mistos de organizações temporárias ou mais ou menos permanentes.

Qual é o significado desse fenômeno? Qual deve ser a atitude da social-democracia diante dele?

O rigoroso espírito de partido é consequência e resultado de uma luta de classes altamente desenvolvida. E, ao contrário, no interesse de uma ampla e aberta luta de classes é necessário o desenvolvimento de um rigoroso espírito de partido. Por isso, o partido do proletariado consciente, a social-democracia, combate sempre com absoluta razão a ideia de se situar à margem dos partidos, esforçando-se invariavelmente para criar um Partido Operário Socialista coeso e fiel aos princípios. Esse trabalho tem êxito entre as massas à medida em que o desenvolvimento do capitalismo divide todo o povo, cada vez mais profundamente, em classes, aguçando as contradições entre elas.

É perfeitamente compreensível que a presente revolução na Rússia tenha engendrado e engendre tantas organizações situadas à margem dos partidos. Por seu conteúdo econômico-social, esta revolução é democrática ou, melhor, burguesa. Essa revolução derruba o regime autocrático-feudal, abrindo campo livre ao regime burguês, satisfazendo assim as reivindicações de todas as classes da sociedade burguesa, sendo, nesse sentido, uma revolução de todo o povo. Isso não significa, é claro, que nossa revolução não tenha caráter de classe; naturalmente que o tem. Mas esta revolução é dirigida contra as classes e castas que caducaram ou estão caducando do ponto de vista da sociedade burguesa, classes e castas estranhas a essa sociedade e que impedem o seu desenvolvimento. E como toda a vida econômica do país já é burguesa em todos os seus traços fundamentais, como a imensa maioria da população já vive de fato em condições burguesas de existência, os “contrarrevolucionários são, portanto, insignificantes em número, são na realidade “um punhado” em comparação com “o povo”. O caráter de classe da revolução burguesa manifesta-se, pois, inevitavelmente, no seu caráter “popular”. E por isso, à primeira vista, sem caráter de classe, mas como luta de todas as classes da sociedade burguesa contra a autocracia e a servidão.

A época da revolução burguesa distingue-se, tanto na Rússia como em outros países, por um desenvolvimento relativamente incompleto das contradições de classe da sociedade capitalista. É verdade que na Rússia o capitalismo está, hoje, muito mais desenvolvido do que na Alemanha de 1848, sem falar da França de 1789; mas não há dúvida de que as contradições puramente capitalistas ainda estão bastante encobertas em nosso país pelas contradições entre a “cultura” e o asiatismo, o europeísmo e o tartarismo, o capitalismo e o regime de servidão, isto é, no primeiro plano se apresentam reivindicações cuja satisfação impulsionará o desenvolvimento do capitalismo, o depurará da escória do feudalismo e melhorará as condições de vida e de luta, tanto do proletariado como da burguesia.

Com efeito, se examinarmos o número infinito de reivindicações, exigências e doléances (queixas) hoje formuladas na Rússia em cada fábrica ou escritório, em cada regimento, seção da guarda municipal, paróquia, centro de ensino, etc, etc, comprovaremos facilmente que a imensa maioria delas são, se é possível exprimir-se assim, reivindicações de caráter estritamente “cultural”. Quero dizer que não são, propriamente falando, reivindicações específicas de classe, mas exigências de sentido fundamentalmente jurídico, exigências que, longe de destruir o capitalismo, colocam-nos nos marcos do europeísmo e libertam-no da barbárie, da selvageria, do suborno e de outros restos “russos” do regime de servidão. Na realidade, também as reivindicações proletárias limitam-se, na maioria dos casos, a exigir transformações plenamente realizáveis nos limites do capitalismo. O proletariado da Rússia reclama, hoje, de maneira imediata, não o que mina o capitalismo, mas o que o purifica e o que acelera e impulsiona seu desenvolvimento.

Naturalmente, a situação especial do proletariado na sociedade capitalista faz com que a inclinação dos operários para o socialismo, a união dos operários com o partido socialista, abra caminho espontaneamente nas próprias fases iniciais do movimento. Mas as reivindicações nitidamente socialistas são ainda coisa do futuro, e na ordem-do-dia figuram as reivindicações democráticas dos operários na política; bem como as reivindicações econômicas dentro dos limites do capitalismo, no terreno da economia. Inclusive o proletariado faz a revolução, por assim dizer, dentro dos limites do programa mínimo e não do programa máximo. Não é nem mesmo preciso falar do campesinato, dessa gigantesca massa da população, esmagadora por seu número. Seu “programa máximo”, seus objetivos finais, não vão além das fronteiras do capitalismo, que se desenvolveria com mais amplitude e força se toda a terra passasse às mãos dos camponeses e de todo o povo. A revolução camponesa é atualmente uma revolução burguesa, por muito que essas palavras “ofendam” o ouvido sentimental dos cavalheiros sentimentais de nosso socialismo pequeno-burguês.

O caráter bem delimitado da revolução em desenvolvimento origina organizações à margem dos partidos, em um processo inteiramente natural. Todo o movimento, em seu conjunto, adquire inevitavelmente o selo da independência externa em relação aos partidos, a aparência da falta de filiação política; mas, está claro, somente a aparência. A necessidade de uma vida “humana” e culta, da união, da defesa da própria dignidade e dos direitos do homem e do cidadão abarca tudo e todos, agrupa todas as classes, diminui com gigantesco ímpeto qualquer limite partidário, perturba as pessoas que ainda estão muito longe de ser capazes de se elevar até às posições partidárias. A urgência da conquista dos direitos e reformas imediatas, fundamentalmente necessárias, relega, por assim dizer, a segundo plano, qualquer ideia e pensamento sobre o que virá mais tarde. A paixão pela luta atual, necessária e legítima, sem o que não seria possível o êxito, obriga a idealizar esses objetivos imediatos e elementares, pinta-os de cor-de-rosa e inclusive envolve-os às vezes em roupagem fantástica; o simples democratismo, o vulgar democratismo burguês, é confundido com o socialismo e classificado como socialismo. Tudo é, ao que parece, “independente dos partidos”; tudo se funde, por assim dizer, em um só movimento “libertador” (que, na realidade, liberta toda a sociedade burguesa); tudo adquire um leve verniz superficial de “socialismo”, principalmente graças ao papel de vanguarda do proletariado socialista na luta democrática.

A ideia da posição independente na luta dos partidos não pode deixar de, pelo menos, alcançar, em tais condições, determinadas vitórias passageiras. A independência em relação aos partidos não pode, pelo menos, deixar de passar a ser uma palavra de ordem da moda, pois a moda se agarra impotente ao reboque dos acontecimentos, e uma organização sem cunho partidário aparece precisamente como o fenômeno mais “comum” da superfície política; democratismo à margem dos partidos, movimento grevista à margem dos partidos, revolucionarismo à margem dos partidos.

Pergunta-se agora: qual tem que ser, diante desse fato, a posição independente com respeito aos partidos, e diante dessa ideia da independência com respeito aos partidos, a atitude dos partidários e representantes das diferentes classes? Não no sentido subjetivo, mas objetivo, isto é, não no sentido de qual deva ser a atitude diante desse fato, e sim no sentido de que atitude se impõe inevitavelmente subordinada aos interesses e aos pontos de vista das diferentes classes.

II

Como já indicamos, a independência a respeito dos partidos é um produto ou, se quereis, uma expressão do caráter burguês de nossa revolução. A burguesia não pode deixar de, pelo menos, tender para essa independência, pois a ausência de partidos entre os que lutam pela liberdade da sociedade burguesa significa a ausência de uma nova luta contra esta mesma sociedade burguesa. Quem desenvolve uma luta “independente dos partidos” pela liberdade, ou não compreende o caráter burguês da liberdade, ou consagra esse regime burguês, ou adia para as calendas gregas(1) a luta contra ele, o “aperfeiçoamento” do referido regime. E, pelo contrário, quem consciente ou inconscientemente se mantém ao lado da ordem de coisas burguesas, não pode deixar de, pelo menos, sentir inclinação pela ideia de se situar à margem dos partidos.

Numa sociedade baseada em classes, a luta entre as classes hostis converte-se de maneira infalível, numa determinada fase de seu desenvolvimento, em luta política. A luta entre os partidos é a expressão mais perfeita, completa e acabada da luta política entre as classes. A falta de cunho político significa indiferença diante da luta dos partidos. Mas essa indiferença não equivale à neutralidade, à omissão na luta, pois na luta de classes não pode haver neutros, na sociedade capitalista não é possível “abster-se” de participar da troca de produtos ou da força de trabalho. E essa troca engendra infalivelmente a luta econômica e, a seguir, a luta política. Por isso, a indiferença diante da luta não é, na realidade, inibição diante da luta, abstenção dela ou neutralidade. A indiferença é o apoio tácito ao forte, ao que domina. Quem era indiferente na Rússia diante da autocracia antes de sua queda durante a Revolução de Outubro(2) apoiava tacitamente a autocracia. Quem é indiferente na Europa contemporânea diante do domínio da burguesia, apoia, tacitamente, a burguesia. Quem mantém uma atitude de indiferença diante da ideia do caráter burguês da luta pela liberdade, apoia, tacitamente, o domínio da burguesia nesta luta, o domínio da burguesia na nascente Rússia livre. A indiferença política não é outra coisa senão a saciedade política. Aquele que está farto é “indiferente” e “insensível” diante do problema do pão de cada dia; porém o faminto será sempre um homem “de partido” nessa questão. A “indiferença e insensibilidade” de uma pessoa diante do problema do pão de cada dia não significa que não necessite de pão, mas que o tem sempre garantido, que nunca precisa dele, que se acomodou bem no “partido” dos que estão saciados. A posição negativa diante dos partidos na sociedade burguesa não é senão uma expressão hipócrita, velada e passiva de quem pertence ao partido dos que estão empanturrados, o partido dos que dominam, o partido dos exploradores.

A posição negativa diante dos partidos é uma ideia burguesa. O espírito de partido é uma ideia socialista. Essa tese, em geral, é aplicável a toda a sociedade burguesa. Naturalmente, é preciso saber aplicar esta verdade geral às diferentes questões e casos particulares. Mas esquecer essa verdade em certos momentos em que a sociedade burguesa em seu conjunto se lança contra a servidão e a autocracia, significa renunciar de fato e por completo à crítica socialista da sociedade burguesa.

A revolução russa, apesar de encontrar-se ainda em sua fase inicial, já proporciona material suficiente para comprovar as considerações acima expostas. O rigoroso espírito de partido foi e é defendido, exclusivamente, pela social-democracia, pelo partido do proletariado consciente. Nossos liberais, representantes dos pontos de vista da burguesia, não podem transigir com o espírito socialista de partido, nem querem ouvir falar da luta de classes: recordem-se, pelo menos, os discursos recentes do senhor Roditchev, que repetiu pela enésima vez o que já havia sido dito e repetido, tanto por Osvobojdenie, editado no estrangeiro, como pelos inúmeros e submissos órgãos do liberalismo russo. Por último, a ideologia da classe média, da pequena burguesia, foi claramente expressa nos pontos de vista dos “radicais” russos de diferentes matizes, começando por Nasha Jizn, os “radical-democratas”, e terminando pelos “socialistas revolucionários”. Onde esses últimos confirmaram com maior clareza sua mescla de socialismo e democratismo foi na questão agrária, e precisamente na palavra de ordem de “socialização” (da terra, sem socialização do capital). É sabido também que são transigentes com o radicalismo burguês e intransigentes com a ideia do espírito social-democrático de partido.

Em nosso tema não entra como se refletem os interesses das diferentes classes no programa e a tática dos liberais e radicais russos de todos os matizes. Abordamos, aqui, somente de passagem, esse interessante problema, e devemos passar agora às conclusões políticas práticas sobre a atitude de nosso Partido diante das organizações sem cunho partidário.

É admissível a participação dos socialistas nas organizações situadas à margem dos partidos? Se é, em que condições? Que tática é preciso seguir nessas organizações?

A primeira pergunta não pode ser respondida com um não absoluto, baseado nas considerações de princípios. Seria erro afirmar-se não ser admissível, em nenhum caso e em nenhuma circunstância, a participação dos socialistas nas organizações situadas à margem dos partidos (quer dizer, burguesas, mais ou menos consciente ou inconscientemente). Na época da revolução democrática, a renúncia a participar em organizações independentes dos partidos equivaleria, em certos casos, a renunciar em participar na revolução democrática. Mas, sem dúvida, os socialistas devem circunscrever estreitamente esses “certos casos”, só admitindo essa participação em condições determinadas e limitadas de modo rigoroso. Pois se as organizações independentes dos partidos são engendradas, como já dissemos, por um nível relativamente baixo de desenvolvimento da luta de classes, de outro lado, o rigoroso espírito de partido é uma das condições que transformam a luta de classes numa luta consciente, clara, precisa e fiel aos princípios.

A salvaguarda da independência ideológica e política do partido do proletariado é obrigação constante, invariável e incondicional dos socialistas. Quem não cumpre esta obrigação, deixa de fato de ser socialista, por mais sinceras que sejam suas convicções “socialistas” (socialistas de palavras). Para um socialista, a participação nas organizações sem cunho partidário é permissível só como exceção. E os próprios fins desta participação e seu caráter, as condições que ela exige, etc, devem estar inteiramente subordinados à tarefa fundamental preparar e organizar o proletariado socialista para a direção consciente da revolução socialista.

As circunstâncias podem obrigar-nos a participar em organizações independentes dos partidos, sobretudo na época da revolução democrática, e, em particular, de uma revolução democrática em que o proletariado desempenhe papel relevante. Tal participação pode ser necessária, por exemplo, para propagar o socialismo entre um auditório democrático não definido, ou em benefício da luta conjunta de socialistas e democratas revolucionários diante da contrarrevolução. No primeiro caso, a participação será um meio de tornar os nossos pontos de vista conhecidos; no segundo, um pacto de luta visando à realização de determinados objetivos revolucionários. Em ambos os casos, a participação só pode ser temporária. Em ambos os casos, a participação só é admissível com a condição de se resguardar inteiramente a independência do partido operário e sob a condição de que todo o Partido, em seu conjunto, controle e dirija obrigatoriamente os seus membros e grupos “delegados” às associações ou conselhos situados à margem dos partidos.

Quando a atividade de nosso Partido era secreta, a realização desse controle e dessa direção ofereciam enormes dificuldades, às vezes quase insuperáveis. Agora, quando a atividade do Partido é cada vez mais aberta, esse controle e essa direção podem e devem ser efetuados com a maior amplitude, e indiscutivelmente não apenas pela “cúpula”, mas também pela “base” do Partido, por todos os operários organizados que integram o Partido. Os informes sobre a atuação dos social-democratas nas associações ou conselhos independentes dos partidos e sobre as condições e os objetivos dela, bem como as resoluções de qualquer tipo de organizações do Partido a propósito da referida atuação devem, imediatamente, começar a fazer parte do trabalho prático do partido operário. Só uma tal participação real do Partido em seu conjunto, uma participação na orientação de todas as atividades desse caráter, pode contrapor de fato o trabalho verdadeiramente socialista ao trabalho democrático geral.

Que tática devemos aplicar nas associações independentes dos partidos? Em primeiro lugar, aproveitar toda possibilidade para estabelecer nossos próprios vínculos e para propagar nosso programa socialista na íntegra. Em segundo lugar, determinar as tarefas políticas imediatas do momento, do ponto de vista da realização mais completa e decidida da revolução democrática, colocar palavras de ordem políticas na revolução democrática, formular o “programa” das transformações que a democracia revolucionária em luta deve levar a cabo, de modo diverso da tratante democracia liberal.

Só colocando o problema dessa maneira pode ser admissível e fecunda a participação dos membros de nosso Partido nas organizações revolucionárias independentes dos partidos, hoje criadas pelos operários, amanhã pelos camponeses, depois de amanhã pelos soldados, etc. Só colocando dessa maneira o problema estaremos em condições de cumprir a dupla tarefa do partido operário na revolução burguesa: levar até o fim a revolução democrática, ampliar e reforçar os quadros do proletariado socialista, que necessita de liberdade para desencadear uma luta impiedosa pela derrubada do domínio do capital.

V. I. Lênin
2 de Dezembro de 1905

Caso Trayvon Martin: negros protestam contra julgamento racista nos EUA

Foto TrayvonNo início de julho foi realizado o julgamento do vigilante George Zimmerman, acusado de matar o jovem negro Trayvon Martin, em 2012, na Flórida, EUA . A decisão causou bastante revolta pelas características racistas do julgamento.

O juri, composto por seis mulheres, chegou ao veredicto de inocente. Ao aceitar a tese da defesa de legítima defesa, admite-se na realidade que um jovem negro que trajava uma blusa com capus representava uma ameaça, mesmo a vítima se encontrando desarmada.

Outro fato comprovado é que não foi Martin que atacou ou realizou qualquer ação, foi o vigilante que o perseguiu por acreditar que se tratava de um bandido. O jovem foi perseguido e quando alcançado lutou contra o agressor que disparou tirando-lhe a vida. Este e outro fatos fizeram o promotor Bernie de la Riondaia concluir, depois de longas investigações, que Zimmerman era alguém que “se achava um policial” e que “fez justiça com as próprias mãos”.

Em seu próprio depoimento o vigilante declarou que quando viu Martin caminhando na chuva presumiu que o rapaz “não era nada bom”. Mas Bernie descreve assim o jovem assassinado: “rapaz inocente de 17 anos que Zimmerman identificou como um criminoso, brigou com ele e o matou com um tiro a queima-roupa porque quis”. Trayvon era estudante de bacharelado em um colégio da cidade de Miami Gardens, próxima a Miami, Estado da Flórida.

Na mesma noite do julgamento ocorreram manifestações nas cidades de Nova Iorque, São Francisco, Chicago, Washington, Atlanta e Filadélfia, onde as pessoal foram as ruas para demonstrar sua indignação e pedir justiça. Na maioria das cidades os manifestantes foram seguidos por forte aparato policial e em alguns casos houve violência contra os manifestantes.

Os pais de Martin tem participados dos protestos e em seus depoimentos, além de denunciarem a violência contra os negros, citam o grande líder negro Martin Luther King, que dedicou a vida a luta pela igualdade e justiça social nos EUA.

Em Chicago gritavam-se palavras de ordem de “Nenhum policial racista!” e “Não há justiça, não há paz!”. Uma grande manifestação foi realizada no centro da cidade. A Times Square, em Nova Iorque, também foi palco de uma concentração. Várias pessoas carregavam cartazes com os dizeres: “O povo diz: Culpado.”

Em um parque de um histórico bairro negro de Los Angeles foi realizada uma concentração com centenas de pessoas, em sua maioria afro-americanos, que denunciavam o racismo e clamavam por justiça.

Wanderson Pinheiro, São Paulo

Todd Gitlin: O que fazer com a classe política trancada em seu universo?

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Todd GitlinNão foi a partir dos atentados de setembro de 2001 que o governo norte-americano passou a investigar seus próprios cidadãos, desrespeitando a Constituição do país.

Invasão de privacidade nos Estados Unidos, por parte do Estado, é prática antiga, conta o professor de jornalismo e sociologia da Universidade de Columbia, Todd Gitlin.

No fim dos anos 60, ele participou do movimento contra a guerra do Vietnã. Na época, morava em São Francisco. Ressalta: “Eu não era uma liderança do movimento”.

Ainda assim, anos depois, através de um amigo advogado que tinha contato com o serviço de espionagem das Forças Armadas, Gitlin passou uma manhã inteira conversando com um agente que fora encarregado de seguir de perto os passos dele.

Na conversa, o professor ficou espantado. O ex-espião ainda sabia todos os endereços nos quais Gitlin morou, para quem trabalhava, onde ía…

Os métodos se sofisticaram e a espionagem se tornou ampla, geral e irrestrita, como as recentes denúncias de Edward Snowden sobre a National Security Agency (NSA) estão deixando cada vez mais claro.

Todd Gitlin analisou o aparato de espionagem, o crescimento da indústria de arapongagem e sua conhecida incompetência em recente artigo publicado no site TomDispatch.

Em entrevista, disse ao Viomundo que desde a publicação do artigo passou a receber novas denúncias sobre o trabalho dos agentes secretos. No texto, conta que enquanto o FBI recebia dicas a respeito dos irmãos Tsarnaev, aqueles que colocaram bombas caseiras na maratona de Boston, os agentes estavam mais preocupados em vasculhar a vida dos ativistas do Occupy.

Essa indústria de vigilância permanente, que trabalha de mãos dadas com as grandes corporações, está mais preocupada com o controle da população que com os terroristas? “Provavelmente”, diz Gitlin.

“Eles podem até achar que estão preocupados com os terroristas, mas o que sabemos a respeito das ações deles mostra que não entendem quase nada de terroristas. Qualquer pessoa que pensou em encontrar terroristas no Occupy é uma besta. Não tem nem graça”, diz.

Todd Gitlin é autor do livro “Occupy Nation”, publicado no ano passado, uma análise dos movimentos que por um período chacoalharam a política dos Estados Unidos.

Uma observação dele nos chamou especialmente a atenção, considerando eventos estranhos que aconteceram recentemente nas ruas brasileiras, especialmente em São Paulo.

Todd conta que na véspera do primeiro de Maio de 2012, um grupo associado ao Occupy de São Francisco seguiu, em passeata, até um bairro chamado Mission — onde não moram ricos, nem representantes do 1% mais rico dos Estados Unidos. Lá, o grupo destruiu lojas e carros. Um médico, que fazia parte do movimento Occupy e testemunhou a cena, garantiu que um grupo de rapazes atléticos, bem barbeados e movidos à testosterona, liderou o quebra-quebra. Acrescentou: “Não sou um desses fanáticos por teorias de conspiração. Mas já li a respeito de agentes provocadores e tenho que dizer que, sem dúvida, acredito 100% que as pessoas que começaram os eventos de hoje à noite eram exatamente isso”.

Gitlin também conta que a vigilância do aparato de segurança já existia quando o movimento Occupy nasceu. No dia 17 de setembro de 2011, um grupo de ativistas de Nova York decidiu seguir em passeata até a sede do banco JPMorgan Chase.

Chegando lá, os ativistas encontraram o quarteirão todo cercado. Muitos deram como certo que a polícia soube, de antemão, através do monitoramento da troca de e-mails do grupo, para onde pretendiam ir. Por isso, decidiram mudar de rumo na última hora. Seguiram para o Parque Zuccotti, no baixo Manhattan, e ali ficaram — dando início ao que se tornou, depois, o Occupy Wall Street.

Todd Gitlin acredita que os métodos policiais foram empregados por mais de um ano para enfraquecer, com sucesso, o movimento. Mas não atribui o desaparecimento do Occupy a essa interferência.

Ele enxerga na gênese do Occupy a origem da dispersão, mais tarde: ausência de uma agenda política mais ampla e desinteresse e/ou a falta de capacidade organizacional para participar do processo político.

A seguir, a entrevista que nos foi concedida pelo autor:

Viomundo – Quais foram os resultados concretos do movimento Occupy?

Todd Gitlin – O Occupy teve efeito considerável na condução das eleições [legislativas] e mudou o centro de gravidade da política norte-americana. A classe política teve que tratar da questão da desigualdade. Isso roubou a vitória do Tea Party e reorientou o eixo da política norte-americana. Eles [integrantes do Occupy] tornaram mais concretos os desafios da democracia estadunidense diante da desigualdade, mas não conseguiram se sustentar. O movimento enfrentou problemas quando ainda estava nos acampamentos. Quando foram fechados, as forças centrífugas foram fortíssimas. Na superfície, ao menos, tenho que dizer que o Occupy, como movimento, foi bem sucedido enquanto fracassava. Não sei como demonstrar isso, mas muito da energia gerada pelo Occupy foi redirecionada para outros movimentos. É o que ainda está acontecendo com lutas em defesa do meio ambiente, liberdades civis e outras. Mas a habilidade de influenciar a classe política foi muito limitada.

Viomundo – No fim, vimos o Presidente Barack Obama usar a retórica do movimento, falar na defesa dos 99% [contra o 1% no topo da pirâmide], sugerir aumento de impostos para quem ganha mais de US$ 250 mil por ano. Mas foram tomadas medidas concretas para atender as demandas que o movimento trouxe à tona?

Todd Gitlin – Não! É o problema de movimentos como esse, de energia difusa. O problema é como fazer a classe política se mexer. Se o movimento acreditasse nisso, teria se juntado ao Partido Democrata — como o Tea Party fez com o Partido Republicano — e tomado controle de várias áreas do partido, o que não seria difícil.

Viomundo – Para promover mudanças efetivas, eles teriam que entrar no jogo político? Não seria suficiente ter reivindicações mais específicas?

Todd Gitlin — Eu faço uma distinção entre o núcleo do movimento, mais anarquista, que começou com os acampamentos, e a parte de fora, mais convencional, organizada, os sindicalistas, os progressistas, a classe média. Essa parte era bem maior. Mas o núcleo dirigia o processo. E não dava para esperar que eles buscassem isso porque não são assim. Na minha visão, a parte de fora do movimento, se houvesse chance para alguma continuação e canalização da energia em prol de reformas, teria que vir de acordos dos grupos de fora do movimento em torno de um programa mínimo. Mas isso nunca aconteceu. O impulso gerado pelo Occupy se dissipou. Esses grupos organizados teriam de ter formado uma grande coalizão, de sindicatos e movimentos sociais, para ter um acordo coletivo.

Viomundo – Por que não aconteceu?

Todd Gitlin – Pelo lado dos sindicatos, porque eles estão se sentindo vencidos, estão envolvidos em divisões internas, chegaram ao movimento com outra mentalidade. Sabem o que fazer quando tem eleição: eleger democratas. Mas só conseguem acordo para isso. Entram com mentalidade defensiva. Não têm uma mentalidade rebelde. Sentem-se fracassados. As outras organizações progressistas estão envolvidas em suas próprias causas – ação afirmativa, aborto, etc. Não têm ideia coerente a respeito da transformação de forma geral.

Viomundo – O Occupy acabou?

Todd Gitlin – Da forma que vimos em 2011 acho que sim. Mas existe um repositório mais ou menos permanente e subterrâneo, um poço de dissidentes, de anarquistas, de contracultura. E de tempos em tempos ele emerge com preocupações que tocam muitas outras pessoas. De certa forma, o Occupy foi o ressurgimento de um espírito que apareceu primeiro em 1999, durante as demonstrações antiglobalização em Seattle. Agora, esse espírito, que é horizontalista e anarquista, voltou para o subsolo e não sabemos quando virá à tona novamente.

Viomundo – O senhor vê uma correlação entre os movimentos populares recentes no Egito, na Turquia e no Brasil?

Todd Gitlin – Existem muitas distinções entre Tunísia e Egito, depois Espanha e Grécia, Estados Unidos, depois Turquia e Brasil. Mas o elemento comum, ou um deles, é o sentimento de boa parte da população de que a classe política está indisponível para eles. Que vive trancada em um universo que está aquém da influência deles.

Essa é a mensagem que veio da Espanha, da Grécia, dos EUA, da Turquia e parece vir do Brasil. E não é por razões desconectadas que sentem a necessidade de ir às ruas. É porque a politica oficial não é adequada para os problemas que enfrentam.

Mas esses movimentos têm um problema em comum. Eles nasceram entendendo que a classe política falhou com eles. E têm neles mesmos a força para gerar um novo segmento ou substituto para a classe política? Em outras palavras, você não pode governar sendo apenas oposição. A pergunta para todos esses movimentos é: eles podem se transformar, ao menos em parte, em uma máquina, uma espécie de força instituída que dure, que possa alcançar vitórias?

Heloisa Villela, de Nova York
Fonte: Viomundo

Governador do Rio quer a volta da ditadura

Governador do Rio quer a volta da ditaduraDesesperado com a continuidade das manifestações que exigem sua renúncia, e tentando intimidar e criminalizar os protestos, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, publicou no Diário Oficial do Estado, no último dia 23 de julho, decreto criando a Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas (CEIV).

Entre as muitas ilegalidades do decreto há uma que determina que as operadoras de telefonia e provedores de internet “terão prazo máximo de 24 horas para atendimento dos pedidos de informações” feitos pelo Governo. Ao mesmo tempo em que o decreto incita as operadoras à ilegalidade, ao quebrar o sigilo de comunicação sem a exigência de uma ordem judicial, também viola a Constituição Federal, pois estabelece a quebra de sigilo fora de estado de sítio ou de defesa, premissas exclusivas do Presidente da República.

Tal medida causou protesto por parte de órgãos ligados aos direitos humanos. De acordo com o advogado Técio Lins e Silva, o decreto “está entre o delírio e o abuso de poder”. “É caso de impeachment; há uma violação clara de direitos constitucionais”, afirmou Lins e Silva.

Temendo isso, poucas horas após a publicação do decreto, o Governo recuou e, por meio da assessoria do procurador-geral de Justiça, Marfan Martins Vieira, afirmou que “não haverá quebra de sigilo sem decisão judicial”. O Ministério Público Estadual, um dos órgãos que compõem a CEIV junto com a Secretaria de Segurança e as Polícias Civil e Militar, também tentou dar suas explicações. No entanto, dois dias após a publicação do decreto, a Polícia Militar foi acusada de infiltrar P2 (policiais disfarçados) entre os manifestantes para criminalizar os protestos, lançando coquetéis molotov sobre seus próprios companheiros de farda. Apesar da negativa do Comando da Polícia, toda a ação do policial disfarçado foi filmada e colocada na internet, tornando-se, hoje, de conhecimento público, desmoralizando ainda mais os órgãos de repressão do Estado e o decreto do governador.

Esta atitude antidemocrática e policialesca de Cabral, que busca instaurar um estado de exceção no Rio de Janeiro, foi mais um dos ingredientes que engrossou as manifestações e só fez confirmar que o governador, além de não ouvir as reclamações da população, está ligado às forças mais reacionárias do Estado e que faz tudo para servi-las contra os interesses do povo e a favor das oligarquias. Que o digam Cavendish e Delta, Odebrecht, OGX e Eike Baptista, entre tantas empresas e megaempresários favorecidos pelos cofres públicos através de licitações viciadas, dispensas ilegais de licitações, isenções e demais facilidades que lhes são garantidas.

Enquanto isso, os servidores públicos sofrem com salários congelados, escolas não são reformadas, médicos e enfermeiras trabalham em péssimas condições, municípios são abandonados à sorte após sofrerem com enchentes e soterramentos e, principalmente, os trabalhadores, a juventude e o povo fluminense são tratados como meros depositantes de votos nas urnas. As consequências dessa arrogância e prepotência, no entanto, estão sendo respondidas nas ruas pelos mesmos que sofrem com elas.

Redação RJ

A Verdade promove debate sobre mobilizações populares na Turquia

A Verdade promove debate sobre mobilizações populares na Turquia O jornal A Verdade realizou no último dia 24 de julho, no auditório do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal, o debate “Brasil e Turquia: uma revolta popular”, que contou com a participação de Nuray Sancar, do Partido do Trabalho da Turquia (EMEP), e Elif Görgü, jornalista do diário Evrensel. Também participaram Emanuel Cancella, do SindiPetro-RJ, Rodrigo Otávio, do coletivo Comunicadores Populares, e Esteban Crescente, da UJR. Na coordenação do debate estava Heron Barroso, representando o jornal A Verdade.

O evento, que contou com expressiva presença de estudantes, sindicalistas e militantes dos movimentos sociais, aconteceu num clima de otimismo em relação às mobilizações que tomam conta do Rio, do Brasil e do mundo, e reflete a vontade do povo de discutir os problemas da sociedade.

Em sua fala, Nuray Sancar destacou a grande participação dos jovens nos protestos turcos, apesar do silêncio e das manipulações dos grandes meios de comunicação ligados ao governo. “A população turca tem percebido de que lado estão os grandes jornais e redes de televisão; isso tem fortalecido o sentimento de que é preciso construir alternativas de comunicação que estejam ao lado do povo que luta”, disse.

Já Esteban Crescente destacou a semelhança entre os protestos nos dois países, especialmente no que diz resepito à violência policial. Para ele, “a repressão tem sido um fator a mais que leva ao crescimento das manifestações”.

Outros temas, como a luta contra os leilões do petróleo e pela democratização da mídia também foram abordados, mostrando que muita luta ainda temos pela frente. A impressão com que todos saíram do debate é de que a vitória da luta hoje travada pelos trabalhadores e a juventude em vários países depende, entre outras coisas, da colaboração e da solidariedade internacional entre os povos.

Gabriela Gonçalves, Rio de Janeiro