Resgatando, de forma criativa, a tradição da presença feminina nas rodas de samba carioca, um grupo de mulheres, ativistas do movimento popular e sindical, encontrou no toque do chocalho, sua entrada e permanência nesse espaço de hegemonia da presença masculina.
Fazendo alusão ao instrumento de percussão referente à cauda da cobra cascavel, o grupo se autodenominou “As Cascavéis” e, todo segundo sábado de cada mês, lá estão elas com seus instrumentos, seus gingados cadenciados e suas vozes em coro, na roda de samba do Bloco Carnavalesco Samba Brilha.
O evento acontece, há oito anos, no entorno da Cinelândia, palco dos principais acontecimentos políticos, no Centro do Rio de Janeiro, e sempre com uma motivação política de esquerda: o jornal A Verdade, representando a imprensa popular, já foi homenageado pelos sambistas e, está sempre presente nas rodas de sábado à tarde.
O grupo de chocalheiras começou com as quatro mulheres mais atuantes: Andréa Figueira, Márcia Leite, Irany Pinto e Carlinha. Hoje, já são dez ritmistas femininas garantindo seu espaço. Com exceção do componente Roberto, que é o único homem cascavel,
E esse número cresce a cada roda. Como diz Andréa Figueira: “nós percebemos que em vários momentos os companheiros eram convidados a tocarem na roda, e as mulheres ficavam um pouco destacadas. Então, surgiu a ideia de nos aglutinarmos com nossos chocalhos, até por ser um instrumento leve e fácil de tocar”.
Numa roda de samba que prima pela preservação da cultura popular, esse grupo de mulheres homenageia, também, as antigas cabrochas dos sambas cariocas, mas afirma sua condição de chocalheiras. Dessa maneira, chamam a atenção para a presença feminina no Samba Brilha. Os homens podem e devem participar. Mas, o toque especial fica por conta das cascavéis.
Desde 2008, passamos por uma profunda crise econômica que tem abalado todo o mundo. Em meio a toda essa crise, mais uma vez, podemos ver os Estados Unidos da América (EUA) preparar terreno para mais uma intervenção militar, agora na Síria, um país com grandes fontes de uma matéria-prima essencial para o capitalismo, o petróleo.
Nos últimos 30 anos, o mundo já passou por diversas crises econômicas, e, por diversas vezes, as medidas que os países imperialistas tomam para poder sair dessas crises mais fortalecidos têm sido as mesmas: arroxo salarial imposto aos seus trabalhadores, injeção monetária para salvar bancos falidos, corte de gastos do Governo com áreas sociais e aumento dos gastos governamental no setor bélico.
Desde o final dos anos 1970, a economia dos EUA se baseia em um modelo de crescimento econômico da corrente monetarista formulada por Friedman, resumindo-se em cinco pontos principais que mais se parecem com um pentagrama[1]: juros altos, inflação de demanda, desemprego, recessão e corte do investimento público. Formando, assim, um verdadeiro inferno para a classe trabalhadora.
Observando a taxa de variação do PIB[2] dos EUA de 1975 a 2005, notam-se três ciclos[3] distintos: 1) 1975 a 1983; 2) 1984 a 1992; 3) 1993 a 2002; em 1983, há a maior recessão da série, de 1,93%. Os outros anos de recessão foram: 1976 (0,19%), 1981 (0,22%), 1991 (0,16%) e a maior taxa de crescimento se dá em 1985 (7,18%). Observando sua média, o ritmo de crescimento do PIB norte-americano parece estancar-se em 3,5 e 4% ao ano. O que reforça a tese de Karl Marx que o crescimento econômico no sistema capitalista se dá após crises de superprodução, não conseguindo ser contínuo.
No primeiro ciclo encontramos os períodos da queda do sistema de Bretton Woods e a segunda crise do petróleo; já o segundo ciclo, coincide com o período da crise da dívida externa do terceiro mundo; e no terceiro ciclo temos o processo de abertura econômica especialmente nos países da América Latina, com a expansão do neoliberalismo.
Estes ciclos marcam a mudança de depressão-crescimento-depressão dessa economia, comprovando a falência desse sistema, que sustenta seu crescimento em gastos militares e espoliação de economias subdesenvolvidas. Todos os governos que passaram por esses ciclos, democratas e republicanos, adotaram as mesmas medidas anticíclicas do modelo de Friedman. Porém, os gastos públicos foram reduzidos principalmente nos setores de saúde e seguridade social, enquanto o Governo aumentava cada vez mais seus gastos militares em longas campanhas como a guerra Irã-Iraque, na guerra do golfo, a invasão da ilha Granada em 1983, e já nos anos 2000 nas campanhas “contra o terrorismo”.
Para entendermos esse processo de crise econômica e de intervenção militar é necessário saber quais são as principais características do imperialismo. Segundo Lenin, quando o capitalismo atinge o imperialismo ocorre a formação de grandes excedentes de capitais nos países industrializados, capitais esses que precisam ser exportados, tornando a exportação de capitais mais importante que a exportação de mercadorias. Além disso, outra característica do imperialismo é a necessidade de as grandes potências de garantir mercados e fontes de matéria-prima e a luta (por meio de guerra) pela repartição territorial das esferas de influência e das áreas coloniais e semicoloniais.
Para que possamos resolver o problema das crises econômicas, é necessário resolvermos o problema do que fazer com o excedente econômico, termos um Estado soberano que planifique a economia, garantindo que mais recursos serão destinados a saúde, educação e geração de empregos dignos e por fim nesse sistema anárquico de produção capitalista, que se sustenta com a miséria dos trabalhadores, gerando guerras e crises. Para tanto, é necessário a união da classe trabalhadora de todos os países para que possam enfrentar os ataques do imperialismo.
Emanuel Lucas de Barros, Maceió
Referências
Conferência Internacional de Partidos e Organizações Marxista-Leninistas (2013). A Situação Internacional. documentos 5º congresso PCR.
Sandroni, P. (1994). Novo Dicionário de Econmia.São Paulo: best seller.
Schincariol, V. E. (2009). Ensaios sobre a economia dos Estados Unidos. São Paulo: LCTE editora.
Souza, L. E. (2009). A economia dos EUA, 1981-2005: uma visão agregada. São Paulo: LCTE editora.
[1] Chamado por Luiz Eduardo Simões de Souza de pentagrama de Friedman em seu livro “A economia dos EUA 1981-2005 Uma visão agregada” ed. LCTE.
[2] PIB: Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas no país.
[3] Ciclo Econômico: Flutuação periódica e alternada de expansão e contração de toda atividade econômica de um país ou de um conjunto de países.
Por meio de uma parceria público-privada, o Governo do Estado de São Paulo (Geraldo Alckmin/ PSDB), está preparando edital para disponibilizar terrenos para a construção de unidades prisionais que serão administradas por empresas privadas. Inicialmente, o Governo pretende abrir 3,3 mil vagas para regime semiaberto e 7,2 mil vagas para regime fechado. A parceria consiste no seguinte: as empresas constroem, administram e fiscalizam, e o Estado paga. Ou seja: mais um negócio que vai beneficiar o interesse privado à custa dos cofres públicos.
Mas esta não é a única experiência de privatização. Este ano foi inaugurado o Centro de Detenção de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, pelo governo de Antônio Anastasia (PSDB). Outros estados brasileiros também têm adotado esta política. O Estado do Paraná, por exemplo, chegou a ter seis unidades terceirizadas. A penitenciária de Guarapuava, inaugurada em 1999, a 300 km de Curitiba, era elogiada por oferecer trabalho, estudo, assistência jurídica e médica aos detentos. Em seguida, contrataram uma empresa de segurança terceirizada. Substituíram os carcereiros, que têm – ou deveria ter – um papel de ressocialização, por seguranças privados. O gasto público ficou muito superior e o sistema já não cumpria seu papel social. No início de 2006, o Estado do Paraná retoma a administração das unidades prisionais. Em 2013, o Cearátambém reassumiu três penitenciárias que haviam sido terceirizadas.
A privatização é muito defendida pelos capitalistas, pois é uma forma de obter um lucro altíssimo à custa do investimento público. Mas, nesse caso, há um agravante, pois é dever do Estado não só fazer as leis, mas também aplicá-las. Privatizar os presídios é transformar o poder da Polícia do Estado em mercadoria, aumentando, assim a corrupção policial e judiciária. Temos visto que a Polícia do Estado não defende os interesses da população, e sim de alguns poucos. Porém, esta privatização significa que estes alguns poucos tomarão de vez em suas mãos esta tarefa.
O objetivo do encarceramento, hoje, é tentar “ressocializar e educar o encarcerado”, fazendo com que ele estude e trabalhe no período em que fica recluso. Porém, a realidade de quem vive na cadeia é bem diferente. As cadeias são superlotadas, a alimentação é de péssima qualidade e não há condições mínimas de higiene. O Estado deve, portanto, prestar um serviço de qualidade e que cumpra seu dever social e não fazer um contrato no qual o alvo é o encarcerado, para uma empresa ter lucro.
A farsa do sistema prisional norte-americano
Na lógica de um presídio privado, quanto mais tempo uma pessoa ficar detida, mais dinheiro a empresa consegue sugar do Estado. E quanto mais gente presa, mais lucro e mão de obra barata ela terá. Nos EUA a população carcerária passa de dois milhões e um a cada 37 americanos já foi preso. De cada quatro cidadãos negros, um está encarcerado. Este é o melhor exemplo de sistema criminalizador e racista que pune os pobres por ser pobres. E é justamente este sistema que é tido por muitos como referência, mesmo sendo acusado de usar trabalho semiescravo dos detentos, que recebem US$ 0,28/hora enquanto o salário mínimo é de US$ 5,00/hora. Ao mesmo tempo, ocorre que, no Texas, por exemplo, um preso que, em 1980, custava para o Governo US$ 13/dia, hoje custa US$ 45/dia.
Por um sistema de inclusão eficiente e contra a militarização da Polícia
Todas as privatizações têm, até agora, se mostrado ineficientes, pois seu único objetivo é satisfazer a ganância da burguesia. O Estado, no lugar de cumprir o seu papel, investindo em educação pública de qualidade, cultura, saúde e gerar emprego descente para a juventude, opta por uma política fascista de militarizar a Polícia, aumentando a repressão, principalmente à juventude negra, movimentos sociais e todo aquele que é contrário ao sistema.
Com os usuários de drogas e moradores de rua o tratamento é semelhante ao da Ditadura Militar fascista. Até armas de choque elétrico são permitidas. Com os movimentos organizados e moradores das periferias não é diferente: acontecem despejos truculentos em defesa do capital privado, e a última novidade é chamar o Exército para garantir a privatização do nosso petróleo.
Como vemos, a luta pelos direitos humanos deve estar na nossa pauta, pois, nem o sistema capitalista nem o Estado, que é controlado pelos capitalistas, estão preocupados com a vida de nenhum ser humano.
Nossa sociedade está doente. Afirmamos isso com plena convicção. E quando falamos de doença não nos referimos “apenas” às patologias fisiológicas, falamos, sobretudo, do adoecimento psicológico e emocional que vivemos. E sabemos o que causou demasiado desajuste nas pessoas e nas suas relações: o sistema capitalista. Pode parecer que não, aos nossos olhos, pensamos que a sociedade está desse jeito porque as pessoas simplesmente foram sempre assim, mas, se lançarmos um olhar mais profundo sobre essa problemática, vamos compreender o porquê de estarmos tristes, deprimidos e insatisfeitos a todo o momento.
O homem da atualidade está sofrendo pela porosidade de sua alma, de sua existência. O seu ser está sufocado pelo ter. Em nossa cultura ocidental prevalece a estética sobre a ética, há um culto à forma, à beleza, ao poder. Vivemos a ditadura do seja sempre melhor, seja excelente, mesmo que, para que isso ocorra, você precise pisar, esmagar, ser cruel e danoso com outro semelhante. O modelo político social vigente nas sociedades são os grandes causadores desse problema. O capitalismo potencializa o sofrimento humano. O psicanalista Charles Melman tem a seguinte premissa: “A relação com o outro se sustenta em uma concorrência agressiva, autorizando os golpes ao estado de violência atual: homens devorando homens”. É isso que o capitalismo promove: antropofagia (comer carne humana) simbólica e real.
O capitalismo, na sua ótica mercadológica, transforma tudo em mercadoria, como já dizia Marx, onde o que importa é ter, e, nessa lógica, tudo é comprável, inclusive o carinho, o afeto, a amizade de outras pessoas. O ser fica de lado, não importando quem você é, mas sim o que você tem. E nessa desvalorização do ser e na valorização do ter, a maioria das pessoas que não podem ter ficam nessa angústia de viver em uma sociedade na qual o que é valorizado elas não possuem.
Várias são asfalsas saídas a esse modelo político-econômico, muitas delas trágicas para aqueles que estão na base desse sistema. O suicídio é infelizmente uma delas. O suicídio é um problema social e de saúde pública que tira a vida de um milhão de pessoas por ano, é uma vida a cada 40 segundos, em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Um dado interessante é que a terceira causa de morte entre os homens jovens de 15 a 44 anos de países desenvolvidos e em desenvolvimento é o suicídio.É o que mata 26 brasileiros por dia, um número surpreendente e que nos leva a pensar porque isso ocorre. Essa taxa não é alta só no Brasil, mas em vários países do mundo e, com o passar dos anos, só tem aumentado. Uma lista¹ dos 10 países que apresentam os maiores índices de suicídio do mundo aponta em primeiro lugar a Coreia do Sul, com 31,7 pessoas a cada cem mil habitantes, em segundo lugar, a Lituânia, com 31,6, e em terceiro a Guiana, com 26,4. A China está em sexto, com um índice de 22,23, o Japão, que é uma das maiores economias do mundo, está em sétimo lugar, com 21,9. O Brasil não aparece entre os dez, mas tem um índice elevadíssimo como vimos acima.
O modo de produção capitalista não proporciona as mínimas condições para a maioria da população do mundo e também do Brasil viverem. A maioria das pessoas não tem direito a moradia, a um trabalho digno e que traga satisfação e felicidade, a uma educação de qualidade, a saúde, a lazer, enfim, tantas coisas que deveriam estar presentes na vida das pessoas, mas não estão. É por essas carências que muitas pessoas desistem de viver. Sabemos que quando uma pessoa se suicida ela não quer acabar com sua vida, ela quer acabar com aquilo que lhe faz sofrer. O que faz uma pessoa sofrer no Brasil? Educação precária, saúde pública em estado deteriorado, pessoas que passam fome, patrões tirânicos, insatisfação e tristeza no trabalho, essas e muitas outras são a causa do sofrimento da classe trabalhadora brasileira.
Por esses e outros sofrimentos que o capitalismo causa nas pessoas, precisamos nos organizar e lutar para acabar com esse sistema caduco que não nos serve mais e colocar no seu lugar o socialismo, que vai nos proporcionar uma vida mais digna na medida em que prioriza o ser humano e suas necessidades, acabando com a exploração do homem pelo homem e mudando os valores egoístas que hoje em dia são pregados nessa sociedade em que vivemos.
Emanuela Nascimento e Tainan Amaral, estudantes de psicologia e militantes do MLC
O déficit habitacional brasileiro é de cerca de 5,4 milhões de moradias, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), estando as capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador, respectivamente no topo do ranking. A pesquisa leva em conta quatro indicadores: moradias precárias, onde três pessoas ou mais dividem o mesmo cômodo, moradias cujo valor do aluguel ultrapassa 30% da renda familiar e coabitação, nas quais mais de uma família moram temporariamente na mesma casa.
Este déficit é majoritariamente urbano, representando 81% do total. As famílias que recebem até três salários mínimos representam mais de 70% deste déficit. Pará e Maranhão são os primeiros quando olhamos apenas para o número de moradias precárias. Já em relação ao quesito aluguel, São Paulo permanece o primeiro, seguido do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. O adensamento excessivo, que ocorre quando mais de uma família mora na mesma casa, também ganha em São Paulo em numero três vezes maior que o segundo colocado, Rio de Janeiro. Cabe lembrar que a pesquisa não leva em conta toda a população que vive de aluguel, mas apenas aqueles cujo valor do aluguel ultrapassa os 30% da renda familiar, ultrapassando dois milhões de famílias vivendo nessa condição.
O Estado de São Paulo tem um déficit de mais de 1,3 milhão de moradias. São milhares de trabalhadores e trabalhadoras que moram precariamente. Comprar um imóvel está fora de cogitação. A maioria dessas famílias recebe até três salários mínimos, e em São Paulo o preço do solo aumentou 153% entre 2009 e 2012. No Rio, o aumento foi de 184%. Com esse aumento, os trabalhadores e a população mais pobre acabam tendo que ir morar cada vez mais longe dos centros.
Por outro lado, e como parte do mesmo problema, na capital de São Paulo, segundo um levantamento realizado pelo do ImovelBid, existem cerca de 20 mil imóveis novos parados. Segundo o IBGE (2010) a região metropolitana de São Paulo tem mais de 61 mil imóveis vazios e 290 mil na capital. No entanto, segundo os movimentos de moradia da capital, esse número ultrapassa 400 mil.
De um lado, temos milhares de trabalhadores e trabalhadoras sem casa, sofrendo com o alto custo do aluguel, morando de favor, dividindo um ou dois cômodos entre várias famílias. Do outro, temos os especuladores imobiliários, com centenas de prédios, casas e terrenos vazios e os empresários da construção civil. Para se ter uma ideia, o setor que mais tem crescido em São Paulo é o das empresas da construção civil. São estas as empresas campeãs em doações nas campanhas eleitorais. Nas eleições municipais de São Paulo em 2012, elas foram responsáveis por mais de 57% das doações feitas somente aos diretórios nacionais de partidos que elegeram os vereadores da cidade, segundo pesquisa realizada pela agência Repórter Brasil.
Conforme apontam o Estatuto da Cidade e a Constituição, os imóveis urbanos devem cumprir sua função social e ao não cumprir podem ser desapropriados. Os números mostram que o problema, portanto, não é a falta de moradia, mas de concentração destas em algumas mãos, disponíveis apenas para a especulação. As cidades têm sido mais e mais privatizadas e elitizadas e quem não pode pagar pelo alto preço de nelas viver, que se mude. Em busca do crescimento das cidades, incendeiam-se favelas, matam-se jovens, internam-se e prendem-se usuários de crack, realizam-se despejos e fecham-se cortiços.
O Programa Minha Casa, Minha Vida não tem resolvido o problema. Enquanto, construtoras e empresas receberam incentivos fiscais e crédito do Governo Federal, podendo aumentar consideravelmente seus lucros, somente uma parcela da população pobre tem sido atendida com moradias em regiões distantes, mal localizadas e sem infraestrutura adequada.
O problema da moradia no Brasil não é a falta de terrenos. Também não é a falta de moradias já prontas, muito menos falta de dinheiro, já que para financiar a Copa do Mundo o governo gasta uma fortuna de mais de R$ 86 bilhões.
O fato é que os interesses dos ricos, dos empresários da construção civil, dos especuladores e dos donos de terras são inconciliáveis com os interesses de milhares e milhares de trabalhadores sem teto. Não há como atender um sem mexer no interesse do outro. E até agora, os governos não têm atendidos a outros interesses que não os dos ricos. Por isso, o problema da moradia não será resolvido sem uma profunda reforma urbana e uma mudança profunda no sistema econômico.
No dia 14 de outubro, foi deflagrada a Jornada Nacional Unitária de Lutas Pela Reforma Agrária e a Soberania Alimentar. A jornada, que teve a duração de uma semana, foi organizada pela Via Campesina, articulação internacional que, no Brasil, reúne o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) e o Movimento dos Quilombolas. Em 20 estados foram realizadas marchas, fechamento de rodovias, ocupações de prédios públicos, refinarias, portos, etc., denunciando que a Reforma Agrária está completamente paralisada no Brasil. O movimento reivindica o assentamento das mais de 160 mil famílias acampadas no País.
Na Paraíba, pode-se dizer que a jornada começou antes e se prolongou até o dia 24. É que no dia 05 de outubro, após várias ameaças durante a semana, três policiais militares entraram armados no Acampamento Wanderley Caixe, localizado às margens da BR-101, na cidade de Caaporã (divisa entre Paraíba e Pernambuco), buscando as lideranças locais sem qualquer mandato judicial. Foram, então, rendidos pelos trabalhadores sem terra e só liberados com a presença da Polícia Rodoviária Federal.
No dia 14, já com este clima de tensão, mais de 2.500 pessoas saíram em marcha do Acampamento em direção a João Pessoa, Capital do Estado. Após dois dias de marcha, percorrendo 70 km para chegar ao objetivo, os camponeses se dirigiram a sede do Incra, onde montaram acampamento. A jornada produziu uma agenda de mobilizações diárias em João Pessoa, como ocupação de bancos e fechamento de vias públicas, gerando grande repercussão na cidade e no Estado. O movimento cobrava, além das reivindicações da pauta nacional, o cumprimento de promessas feitas pelo governador Ricardo Coutinho (PSB) para acelerar a Reforma Agrária na Paraíba. Uma audiência agendada para o dia 17 com o governador foi frustrada, pois o mesmo exigiu a formação de uma comissão de apenas quatro pessoas para serem recebidas. Exigência que foi rejeitada pelo movimento, gerando assim um impasse que só foi resolvido uma semana depois.
Sem a audiência com o Governo, 2.500 pessoas que se encontravam na sede do Incra decidiram ocupar o Centro Administrativo do Estado no dia 21.
Após o êxito da ocupação, a Polícia Militar logo cercou o complexo administrativo, cortando a energia e impedindo a entrada de água e alimentos aos manifestantes. Balas de borracha e spray de pimenta foram utilizados pela PM contra os manifestantes, causando pânico aos funcionários do Estado que se encontravam no local. A PM, no entanto, não conseguiu intimidar o movimento, que, embora estivesse, com um saldo de seis pessoas feridas pelas balas de borracha, conseguiu construir rapidamente uma rede de solidariedade formada por sindicatos, organizações juvenis, parlamentares e movimentos ligados aos direitos humanos, que se fizeram presentes no local, impedindo a continuação dos abusos praticados pela ação policial.
A imprensa, porém, comprometida com os interesses do Governo e dos latifundiários, repercutiu a ocupação como um ato de vandalismo, onde os funcionários presentes foram tomados como reféns pelos manifestantes.
Após horas de tensão, numa reunião com secretários de Estado, ficou firmada uma nova audiência com o governador, sem a restrição do número de componentes da comissão, a se realizar três dias depois para dar fim ao impasse criado. Um clima de terror foi explorado pelo Governo nos dias seguintes, afirmando, pelos meios de comunicação, haver a possibilidade de novas ocupações em prédios públicos, justificando, o forte aparato policial deslocado para a frente de alguns prédios públicos e da residência oficial do governador.
No dia marcado, uma nova marcha pela cidade foi realizada pelo movimento em direção ao Palácio do Governo, onde uma comissão de 15 pessoas foi recebida. Antes, porém, a mesma Polícia das balas de borracha entregou rosas brancas aos manifestantes, que, representados pela comissão, responderam ao governador em audiência: “Não queremos rosas, queremos terra”. A audiência terminou após compromisso do governador em acatar os 20 pontos da pauta apresentada pelo movimento.
A luta, porém, continuará para que os compromissos firmados sejam efetivados. A todos ficou o aprendizado da luta política contra o poder do Estado, que, por meio da Polícia, dos meios de comunicação e de seu alto escalão de secretários, tentou a todo custo criminalizar o movimento social.
Há uma infinidade de obras sobre a Revolução Russa e seus grandes líderes. Porém, sobre a participação das mulheres não há um número significativo de publicações, à exceção das obras de Alexandra Kollontai, que foi a única ministra do primeiro governo bolchevique. A libertação da mulher foi o eixo fundamental da sua vida, como escritora e como militante. Num artigo raro, publicado no Diário Feminino de Moscou, edição de 11 de novembro de 1927, é a própria Kollontai que fala sobre essa temática. Segue um extrato do seu artigo.
As mulheres que participaram da Grande Revolução de Outubro – quem eram elas? Indivíduos isolados? Não, havia multidões delas; dezenas, centenas e milhares de heroínas anônimas que, marchando lado a lado com os operários e camponeses sob a Bandeira Vermelha e a palavra-de-ordem dos Sovietes, passou por cima das ruínas do czarismo rumo a um novo futuro…
Se alguém olhar para o passado, poderá vê-las, essa massa de heroínas anônimas que outubro encontrou vivendo nas cidades famintas, em aldeias empobrecidas e saqueadas pela guerra… O lenço em sua cabeça, uma saia gasta, uma jaqueta de inverno remendada… Jovens e velhas, mulheres trabalhadoras e esposas de soldados camponesas e donas-de-casa das cidades pobres. Mais raramente, muito mais raramente, secretárias e mulheres profissionais, mulheres cultas e educadas. Mas havia também mulheres da intelligentsia entre aqueles que carregavam a Bandeira Vermelha à vitória de Outubro – professoras, empregadas de escritório, jovens estudantes nas escolas e universidades, médicas. Elas marchavam alegremente, generosamente, cheias de determinação. Elas iam a qualquer parte que fossem enviadas. Para a Guerra? Elas colocavam o quepe de soldado e tornavam-se combatentes no Exército Vermelho. Se elas portassem fitas vermelhas no braço, então corriam para as estações de primeiros-socorros para ajudar o Front Vermelho contra Kerenski na Gatchina. Trabalhavam nas comunicações do exército. Trabalhavam felizes, convictas de que alguma coisa significativa estava acontecendo. Nas aldeias, a mulher camponesa (seus maridos tinham sido enviados para a Guerra) tomava a terra dos proprietários e arrancava a aristocracia dos postos onde ela se alojou por séculos.
Ainda não tinham certeza do que exatamente queriam, pelo que lutavam, mas sabiam uma coisa: não iriam continuar suportando a guerra. No ano de 1917, o grande oceano de humanidade se levanta e se agita, e a maior parte desde oceano feita de mulheres…Algum dia a historia escreverá sobre as proezas dessas heroínas anônimas da revolução, que morreram na Guerra e amargaram incontáveis privações nos primeiros anos seguintes à revolução, mas que continuaram a carregar nas costas o Estandarte Vermelho do Poder Soviético e do comunismo.
Entretanto, fora deste mar de mulheres de lenços e toucas surradas inevitavelmente emergem as figuras daquelas a quem os historiadores devotarão atenção particular, quando, muitos anos depois, eles escreverem sobre a Grande Revolução de Outubro e seu líder, Lênin.
A primeira figura que emerge é a da fiel companheira de Lênin, NadezhdaKonstantinovnaKrupskaya, vestindo seu vestido cinza liso e sempre se esforçando para permanecer em segundo plano. Via e ouvia tudo, observando tudo o que acontecia; então ela poderia mais tarde fornecer um relato completo para Vladimir Ilich, adicionar seus próprios hábeis comentários e expor uma ideia sensata, apropriada e conveniente.
Ela trabalhou incansavelmente como braço direito de Vladimir Ilich, ocasionalmente dando depoimentos e relatando críticas nas reuniões do partido. Em momentos de grande dificuldade e perigo, quando muitos camaradas firmes perderam o ânimo e sucumbiram às dúvidas, NadezhdaKonstantinovna permaneceu sempre a mesma, totalmente convencida da justiça da causa e de sua vitória certa. Ela transmitia inabalável confiança, e sua firmeza de espírito, escondia uma rara modéstia, sempre contaminava com seu ânimo todos aqueles que entravam em contato com a companheira do grande líder da Revolução de Outubro.
Outra figura que se destaca – outra leal parceira de Vladimir Ilich, uma camarada-em-armas durante os anos difíceis do trabalho clandestino, secretária do Comitê Central do Partido, YelenaDmitriyevnaStassova. Inteligente, com uma rara precisão, e uma excepcional capacidade para o trabalho, uma rara habilidade para “apontar” as pessoas certas para o trabalho. Em suas mãos, segurava um caderno de anotações, enquanto ao seu redor multidões de camaradas do front, trabalhadores, guardas vermelhos, membros do partido e dos Sovietes, buscavam respostas claras ou ordens.
Stassova carregou a responsabilidade por muitos negócios importantes, mas se um camarada demonstrava necessidade ou angústia nesses dias tempestuosos, ela sempre podia auxiliar, fornecendo explicações, ela fazia o que estava ao seu alcance. Ela não gostava de ser o centro das atenções. Sua preocupação não era com ela mesma, mas com a causa.
Pela nobre e estimada causa do comunismo, YelenaStassova experimentou o exílio e a detenção nas penitenciárias do regime czarista, deixando-a com a saúde prejudicada… Em nome da causa ela era firme como aço. Mas em relação ao sofrimento de seus camaradas, ela demonstrava a sensibilidade e a receptividade que só se encontram em uma mulher com um coração afetuoso e nobre.
KlavdiaNikolayeva era uma mulher trabalhadora de origem muito humilde. Ela uniu-se aos bolcheviques já em 1908, nos anos da reação, e suportou o exílio e a prisão… Em1917, ela retornou a Leningrado e se tornou a organizadora da primeira revista para as mulheres trabahadoras, Kommunistka. Ela ainda era jovem, cheia de ânimo e ansiedade. Então ela segurava firmemente o estandarte, e corajosamente declarava que as trabalhadoras, esposas de soldados e camponesas precisavam ingressar no partido. Ao trabalho, mulheres! Vamos defender os Sovietes e o Comunismo! Ela era uma daquelas que lutou em duas frentes – pelos Sovietes e o comunismo, e ao mesmo tempo para a emancipação das mulheres.
Os nomes KlavdiaNikolayeva e KonkordiaSamoilova, que morreram exercendo funções revolucionárias em 1921 (vítimas da cólera), são indissoluvelmente ligados aos primeiros e mais difíceis passos do movimento das trabalhadoras, particularmente em Leningrado. KonkordiaSamoilova foi uma militante do partido de incomparável abnegação, excelência, uma oradora metódica que sabia ganhar os corações dos trabalhadores. Aqueles que trabalhavam ao seu lado lembrarão por muito tempo de KonkordiaSamoilova. Ela era simples nos costumes, simples na aparência, exigente na execução das decisões, severa com ela mesma e com os outros.
Particularmente notável é a gentil e encantadora figura de Inessa Armand, que foi incumbida de um trabalho partidário muito importante na preparação da Revolução de Outubro, e que depois contribuiu com muitas ideias criativas para o trabalho entre as mulheres. Com toda sua feminilidade e bondade nas maneiras, Inessa Armand era inabalável em suas convicções e capaz de defender aquilo que ela acreditava correto, mesmo quando deparada com temíveis oponentes. Depois da revolução, Inessa Armand se dedicou à organização do amplo movimento das trabalhadoras.
Um imenso trabalho foi feito por VarvaraNikolayevnaYakovleva durante os difíceis e decisivos da Revolução de Outubro em Moscou. No terreno de batalha das barricadas, ela mostrou a determinação meritória de uma líder do quartel-general do partido. Muitos camaradas disseram na ocasião que sua determinação e coragem inabaláveis foi o que deu ânimo aos vacilantes e inspirou aqueles que haviam perdido suas forças.
Ao recordar das mulheres que tomaram parte na Grande Revolução de Outubro, mais e mais nomes e faces surgem como mágica da memória. Poderíamos deixar de honrar a memória de Vera Slutskaya, que trabalhou de modo abnegado na preparação para a revolução e que foi morta pelos Cossacos no primeiro front Vermelho próximo a Petrogrado? Podemos nos esquecer de YevgeniaBosh, com seu temperamento inflamado, sempre pronta para a batalha? Ela também morreu no trabalho revolu-cionário. Podemos nos omitir de mencionar aqui dois nomes intimamente ligados com a vida e a atividade de V. I. Lênin – suas duas irmãs e companheiras em armas, Anna IlyinichnaYelizarova e Maria IlyinichnaUlyanova?
…E a camarada Varya, das oficinas de linhas de trem em Moscou, sempre animada, sempre inquieta? E Fyodorova, trabalhadora têxtil de Leningrado, com seu rosto amável e sorridente e seu destemor quando estava lutando nas barricadas?
É impossível listar todas elas, e quantas delas permanecem desconhecidas? As heroínas da Revolução de Outubro formavam todo um exército, e embora seus nomes estejam esquecidos, sua abnegação vive em cada vitória daquela revolução, em todos os ganhos e façanhas desfrutadas pelos trabalhadores da União Soviética.
É lógico e incontestável que, sem a participação das mulheres, a Revolução de Outubro não traria a Bandeira Vermelha da vitória.
Glória às trabalhadoras que marcharam sob a bandeira vermelha durante a Revolução de Outubro. Glória à Revolução de Outubro que libertou as mulheres!
Um filme ao mesmo tempo vibrante e reflexivo: assim podemos definir La Commune, do diretor inglês Peter Watkins. A obra retrata a Comuna de Paris pelo lado de dentro, vista em meio à classe trabalhadora, que, por poucas semanas em 1871, “tomou o céu de assalto”.
Com duração de 5 horas e 45 minutos e todo em preto e branco, La Commune pretende ser uma cobertura popular e documental da Comuna de Paris, mostrando o seu dia a dia por meio de uma TV fictícia criada pelos communards. Ao mesmo tempo em que faz a dramatização da cobertura dos eventos, o filme também os contextualiza, exibindo informações históricas em formato de documentário – um gênero chamado docudrama, em inglês. Também trata do papel da mídia de massas, tanto no passado quanto no presente.
Logo nos primeiros dias da Comuna, ao perceberem que a mídia burguesa mentia, omitia e distorcia os fatos, os communards viram a necessidade de ter seu próprio veículo de comunicação. Assim, criaram a TV Comuna, que com seus dois repórteres acompanhará toda a revolução em seus aspectos mais particulares.
Um filme militante
O calor transmitido pela obra é contagiante. O povo se reúne e debate a organização da nova sociedade a todo o momento. As novas cooperativas de trabalhadores reativando oficinas abandonadas, a nova organização das mulheres, a nova administração e a nova educação desvinculada da Igreja, enfim, não há um só minuto de silêncio no decorrer do filme, com exceção das cenas que mostram como o canal de televisão da burguesia noticiava esses mesmos fatos.
Mas a característica mais marcante da obra é que, por diversos momentos, perde-se a barreira que separa o que é ficção e o que é realidade, o que é passado e o que é presente: durante o filme, os próprios atores são questionados sobre determinadas cenas da Comuna que estão representando. É assim, por exemplo, quando durante a defesa em uma barricada contra o avanço do exército de Versalhes, o repórter da TV Comuna se aproxima para entrevistar uma trabalhadora que ali lutava. No entanto, ele ultrapassa a linha do ficcional e entrevista não a personagem, mas a própria atriz, que lhe responde sob a emoção da cena que continua em andamento com os outros atores.
La Commune é também um filme para reflexão. A obra registra debates políticos entre os atores, ainda trajando seus figurinos dentro do cenário, sem que se avise antes ao telespectador que foi interrompido o fluxo dos eventos e que entramos em uma discussão sobre o mundo atual. Somente no decorrer do diálogo é que se percebe que ocorreu tal transição.
Meses antes das filmagens, cada ator estudou sobre a Comuna de Paris e sobre o que considerou necessário para compreender o tema. Suas opiniões registradas nos debates, portanto, resultaram do confronto entre suas leituras, a recriação dos eventos da Comuna e os debates com outros atores. E foi o resultado de todas essas experiências o que levou uma atriz a revelar durante um debate: “Quando eu ouvi falar desse filme eu reli Valles, Louise Michel, Lissagaray. Eu terminei os três livros e pensei: eu entendi Lênin!”. Para ela, foi somente pela experiência de recriação da Comuna de Paris que foi possível perceber a necessidade de uma organização centralizada como proposta por Lênin para dirigir a revolução – o Partido Comunista –, o que, em sua opinião, faltou na Comuna. Quando outro ator discorda de sua posição devido à repressão ao levante de Kronstadt (um levante que colocava em perigo o novo poder soviético), ela ainda replica: “Sim, mas eles [os bolcheviques] venceram a revolução”.
Por ser um filme engajado, militante, não se poderia esperar, obviamente, que fosse facilmente financiado. E a própria obra denuncia isto, quando, após um debate entre os atores, escreve: “A participação do elenco na produção deste filme é exatamente o que a mídia global teme, e uma das principais razões dos canais de televisão, aos quais foram solicitados recursos para este filme, terem se recusado a financiá-lo. O que a mídia teme, mais especificamente, é ver o homem no pequeno retângulo [televisão] ser substituído por uma multidão de pessoas, pelo público”.
Apesar de lançado no ano 2000, as dificuldades de financiamento e distribuição impediram sua ampla divulgação, somando-se o fato de que suas únicas legendas originais são em inglês (com áudio em francês). No entanto, graças à livre colaboração na internet, já é possível encontrar legendas não oficiais também em português. La Commune é um filme obrigatório.
Formado por alunos, ex-alunos, funcionários e professores da Universidade Católica de Pernambuco, o grupo musical MPB Unicap existe há três décadas e foi fundado pelo professor Armando da Costa Carvalho, em 1983. Com sete discos gravados, o grupo musical não só toca e canta como conta a história da Música Popular Brasileira. Com Censura é o nome do espetáculo que apresenta várias canções censuradas pela Ditadura Militar. A seguir, entrevista que Percy Marques Batista, do MPB Unicap, concedeu ao jornal A Verdade.
A Verdade – Conte um pouco da história da formação do grupo, a origem dos componentes e o porquê da escolha pela MPB?
Percy Marques Batista – O grupo foi criado pelo professor Armando da Costa Carvalho, em 1983, inspirado num trabalho do cantor Sílvio Caldas (uma das maiores vozes da Era de Ouro do rádio brasileiro), quando ele excursionou pelo País inteiro com um espetáculo onde cantava e contava a história das mais conhecidas canções da nossa MPB, contextualizando sempre o cenário político e econômico do Brasil. Para Sílvio Caldas, todo brasileiro deveria conhecer a história do seu país para ser um cidadão de verdade. Certa vez, os dois se encontraram no Recife, e o professor Armando lhe disse que era fã do seu trabalho. Sílvio então lhe perguntou: “Por que o senhor não cria uma ‘cadeira’ sobre música popular brasileira na Unicap?”. Como não era possível a criação da disciplina, o reitor da época, padre Amaral Rosa, autorizou o professor Armando a criar um grupo de música popular brasileira formado pela comunidade da universidade.
Como o grupo é mantido?
O MPB Unicap é mantido pela Universidade. Fazemos parte da missão jesuítica de educação, onde buscamos a qualidade acadêmica numa visão de excelência humana, e essa excelência passa também pela oferta de cultura de qualidade a toda a comunidade, interna e externa de nossa universidade. As pessoas buscam a arte por várias razões, principalmente para atingirem o equilíbrio mental necessário a todo ser humano, equilibrando o seu lado produtivo com o seu lado criativo, artístico e lúdico. O lúdico diz respeito ao lazer e o lazer é necessário ao bem-estar humano.
Levantar a bandeira da arte com qualidade, sem apoio da grande mídia, é um grande desafio?
Acreditamos naquela máxima que diz “se tocar, o povo canta!”, ou seja, se os grandes meios midiáticos derem espaço à música de qualidade, com conteúdo poético, as pessoas irão gostar e até consumir essa música. Há muita gente fazendo música de qualidade, só que na surdina, sem espaço e oportunidade de mostrar seu trabalho nos grande meios de comunicação, como TVs, jornais, etc. Os temas abordados pelo MPB Unicap são os mais variados possíveis, pois somos um grupo institucionalizado por uma universidade que forma opiniões e discute sobre tudo. Assim, qualquer tema político, sociológico, histórico, cultural ou econômico poderá ser abordado por nós, sempre através da ajuda preciosa do cancioneiro popular.
Fale um pouco da ideia do show Com censura, qual sua inspiração?
Estive conversando com alguns amigos sobre como as músicas das décadas de 70 e 80 tinham uma poesia forte e crítica. Daí chegamos à conclusão de que elas foram fruto de todo um momento histórico vivido. Então pedi a um amigo que pesquisasse as músicas que foram censuradas e que depois se tornaram grandes sucessos. Descobrimos vários autores e várias canções, além de todos os pareceres correlatos feitos pelos censores, tudo digitalizado. Depois, selecionei o repertório, montei o roteiro e fizemos o show…
Qual é a principal mensagem desse show?
Dizer às pessoas que fiquem atentas a tudo e a todos; que prestem atenção ao que vão fazer com a sua liberdade; que escolham um país melhor para todos. Para nós, tudo começa com educação. Se nossa cultura está manchada, é por falta de educação. Nós devemos lutar para uma melhoria significativa na educação, porque a revolução começaria de baixo para cima, ou seja, da base, da consciência política do valor do voto, nossa grande arma.
Qual são os próximos projetos do grupo?
O grupo está com o show Nossa Nova MPB, no qual traz canções de qualidade de compositores da nova geração, mostrando que ainda se faz boa música, apesar de não haver muito espaço na mídia. No próximo ano, contaremos como foram as décadas de 70, 80 e 90 à luz das músicas das principais novelas que refletiram a história social do nosso País…
O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) iniciou uma grande campanha, apoiada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário, pela ampliação da Creche Tia Carminha, localizada dentro da Ocupação Eliana Silva. Dezenas de voluntários e diversas famílias da comunidade se uniram pela construção do sonho que libertará economicamente muitas mulheres. Elas, que vivem escravizadas por programas governamentais, que pagam valores muito baixos, terão a oportunidade de trabalhar, estudar e participar ativamente da vida política da própria ocupação.
É indissociável a luta pela liberdade econômica da luta por mais unidades de ensino infantil. É melhor para as mães, é melhor para as crianças, é melhor para as comunidades. É sabido que o dever de garantir educação de qualidade, gratuita e universal é do Estado. Entretanto, a necessidade é muito grande, e o povo organizado não pode esperar.
Lançando campanha nacional pela internet, o MLB e o Olga Benário buscam apoio e parcerias de madrinhas e padrinhos que entendam que a causa é justa e que se faz necessário o apoio ao povo de luta.
O ator e diretor Fábio Porchat, famoso por suas atuações cômicas e por seu canal no YouTube “Porta dos Fundos”, que já conta mais de quinhentos milhões de acessos em todo o mundo, se solidarizou e apadrinhou o projeto da creche, afirmando, em encontro com o Movimento de Mulheres Olga Benário, em Belo Horizonte: “Eu fui um que colaborei com a Creche Eliana Silva. Colaborem com esta causa muito bacana, investiguem, entendam que causa é essa. Eu acho que vale a pena sempre colaborar com bons projetos e este é um projeto que vale a pena”. Incentivados pelo exemplo de Porchat, outros artistas, como o ator Gregório Duvivier, também se somaram à causa da creche.
O estudo Violência contra mulher: feminicídios no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado recentemente, concluiu que a Lei Maria da Penha não alterou substancialmente a quantidade de assassinatos de mulheres em decorrência da violência de gênero, o chamado feminicídio.
Feminicídios são os crimes “geralmente perpetrados por homens, principalmente parceiros ou ex-parceiros, e decorrem de situações de abusos no domicílio, ameaças ou intimidação, violência sexual, ou situações nas quais a mulher tem menos poder ou menos recursos do que o homem”.
Assim, o estudo esclarece que os principais assassinos de mulheres são seus parceiros íntimos, maridos, namorados, etc., chegando a 40% do total de crimes contra a mulher os assassinatos cometidos por esses parceiros.
Tal situação ocorre principalmente devido ao machismo existente em nossa sociedade e à relação de poder existente nela, na qual o mais forte oprime o mais fraco por meio da violência, e isso se transporta para a esfera das relações íntimas, sofrendo as mulheres todo tipo de subjugação e violência, como a física, moral, patrimonial, sexual e psicológica.
A expressão máxima da violência contra a mulher é a morte, daí a necessidade da análise do efeito da Lei Maria da Penha nessa questão. Essa lei foi promulgada com o intuito de coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, mas, após sete anos de vigência, os dados demonstram que esse objetivo está longe de ser alcançado.
O Ipea constatou que, entre 2001 e 2006 – portanto antes da promulgação da lei – as taxas de mortalidade foram de 5,28 por 100 mil mulheres e, de 2007 a 2011, após a vigência da lei, esse índice foi de 5,22, tendo um sutil decréscimo apenas no ano de 2007, logo após a promulgação da lei, depois voltando a crescer. Esta taxa ficou em 5,82 mortes por 100 mil mulheres de 2009 a 2011. Assim, as taxas de homicídios de mulheres praticamente permaneceram estáveis, antes e depois da promulgação da lei.
O estudo mostrou ainda que, a cada ano, ocorreram 5.664 mortes de mulheres por causas violentas: 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia.
Quanto à ocorrência de mortes, por cada região do País, Nordeste (6,90), Centro-Oeste (6,86) e Norte (6,42) apresentaram as taxas mais elevadas de mortes de mulheres por cada grupo de 100 mil. Não por acaso, são também essas regiões as mais pobres da Nação e as que mais problemas têm em termos de estrutura, falta de saneamento básico, saúde, educação, etc.
Outro dado demonstra que as mulheres jovens foram as principais vítimas da violência fatal. Mais da metade dos óbitos (54%) foram de mulheres entre 20 e 39 anos.
Outro dado alarmante mostra que 61% das mulheres assassinadas eram negras, as principais vítimas em todas as regiões, exceto no Sul. No Nordeste essa taxa foi de 87%, no Norte, 83% e no Centro-Oeste, 68%.
Foi verificado também que a maior parte das vítimas tinha baixa escolaridade: 48% das mulheres tinham até oito anos de estudo.
A Lei Maria da Penha foi e é um importante instrumento no combate à violência contra a mulher, fruto da luta histórica de milhares de mulheres, e tem que ser incentivada, divulgada e devidamente aplicada, pois visa, além da punição do agente, a formas de prevenir a ocorrência da violência. Está provado, porém, que a aprovação de uma lei não é capaz de acabar com as mazelas de que sofre nosso povo, tampouco com a violência que, infelizmente, a cada dia mais, toma conta da rotina das mulheres, em especial das mulheres pobres e trabalhadoras.
É necessário que as políticas públicas estejam voltadas para a concretização do que está previsto na lei e que as delegacias, o Ministério Público, juízes, defensores públicos e advogados estejam efetivamente preparados para atuar nessas demandas, e possibilitem o acesso à Justiça das mulheres que sofrem violência. É necessário que o sistema as proteja e não as trate como as criminosas, como não raramente observamos na atuação diária.
É preciso também que existam casas-abrigos, que as delegacias da mulher funcionem durante as 24 horas do dia, pois a violência não tem hora marcada para acontecer. Também que tais delegacias invistam em um tratamento humanizado. Necessitamos de mecanismos que garantam a integridade e a segurança física da mulher quando o juiz decreta alguma medida protetiva, como afastamento do agressor do lar, determinação para que o agressor não frequente determinados lugares ou se mantenha à distância da vítima – enfim, que os mecanismos previstos na legislação tenham como ser efetivados na prática.
Mas é imprescindível também que as mulheres tenham acesso à educação, saúde, emprego digno, creches para os filhos e a todas as condições exigidas para que possam se afastar das situações de risco.
Contudo, para a efetiva erradicação da violência contra a mulher, é preciso que a luta seja mais profunda, que se ataquem as raízes da violência, que coincidem com as próprias raízes da opressão da humanidade. Apenas uma sociedade na qual não exista nenhum tipo de exploração, e em que não haja a exploração do homem pelo homem, é capaz de garantir as condições de uma vida de plena igualdade entre homens e mulheres e, assim, acabar com a violência de gênero que ainda perdura no Brasil e no mundo.
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