Os trabalhadores dos serviços públicos essenciais realizaram em 2013 uma campanha salarial unificada que denunciou as privatizações, terceirizações e todos os ataques do governo do PSDB ao povo de São Paulo. Foram muitas paralisações nos locais de trabalho, distribuição de cartas abertas e outras formas de luta com o objetivo de armar a classe para a dura batalha em defesa dos serviços públicos essenciais.
No caso da Sabesp, companhia de Saneamento do Estado de São Paulo, os trabalhadores tiveram que enfrentar a intransigência de empresa que se negou a discutir dois temas fundamentais para a categoria: o fim do salário regional e a volta do Adicional por Tempo de Serviço – ATS.
Diante desse fato, os mais de 15 mil trabalhadores da empresa realizaram uma greve de dois dias que contou com adesão combativa de 90% da categoria. Mesmo com certos limites, a greve teve um papel muito importante, ainda mais considerando que nas duas últimas campanhas salariais não se realizou uma greve nessas proporções, e que a empresa obteve no ano passado um dos maiores lucros de sua história, da ordem 1,9 bilhão.
Os trabalhadores da Sabesp conquistaram um aumento de salarial de 8%, além de reajuste maiores do Vale Refeição, Cesta Básica, Auxílio Creche e gratificação de férias. A greve debateu com todos os trabalhadores a necessidade do salário igual para o trabalho igual, acabando com o salário regional recebido pelos companheiros do interior que é 20% inferior ao salário das regiões metropolitanas.
Não logramos o fim do salário regional e nem a volta do ATS, mas arrancamos o compromisso da empresa em redefinir o salário do interior até fevereiro de 2014. Os trabalhadores aprovaram em assembleia a antecipação da nossa campanha salarial para fevereiro do próximo ano, com o objetivo de pôr fim ao salário regional.
É necessário realizar a luta, a partir de agora, de maneira cotidiana com o objetivo de conquistar nossos direitos e defender a Sabesp pública e de qualidade.
A Turquia não é um país democrático. Os presos políticos são contados aos milhares. Os Curdos, povo do sul da Turquia e do norte do Iraque que tem língua e nacionalidade próprias são perseguidos ao ponto de lhes ser proibido falar sua própria língua em público. O mesmo acontece com outros povos que vivem na Turquia, como Armênios e Lars. Por veiculação de vídeos “rebeldes” o site Youtube é bloqueado em todo país.
A constituição implantada em 1981 através de um golpe militar é a mesma que vigora até hoje, tendo sofrido apenas algumas emendas.
O partido no poder (AKP – Partido da Justiça e do Desenvolvimento) governa com mão de ferro a partir de eleições com regras eleitorais draconianas. Apenas participa do parlamento o partido que obtêm, no mínimo, 10% dos votos. Os dois principais partidos de oposição, o BDP e a coalizão HDK (Congresso Democrático Popular) sofrem intensas perseguições, sendo obrigados a mudar de nome constantemente para manter uma representação parlamentar.
Todo esse caldo entornou no momento em que o governo do primeiro ministro Edorgan decidiu destruir um Centro Cultural Ataturk e um parque no centro da histórica capital Istambul para construir um Shopping Center. Desde então, protesto noturnos com barricadas e molotovs agitaram não só Istambul, mas também outras grandes cidades como Izmir, Ankara e Balikesir.
A repressão do governo teve a marca da ditadura turca. Centenas de militantes foram detidos, a internet foi cortada por vários dias e 3 pessoas foram mortas até o presente momento. Na cidade de Izmir, 25 jovens foram presos por organizarem protestos via rede social Twitter.
O Partido do Trabalho, membro da coalizão HDK, declarou em nota oficial (www.emep.org): “A política do AKP em relação à Síria gerou muita insatisfação entre o povo. O apoio financeiro e político por parte do governo aos grupos radicais islâmicos na fronteira causou muitos questionamentos. Na prática, o governo cedeu o controle financeiro e político das áreas de fronteira à facção islâmica. O desemprego e as falências de empresas vêm crescendo, enquanto o governo destina 5 milhões de dólares aos rebeldes sírios”.
Os protestos demonstram que a luta social se aprofunda na Turquia e é parte da luta dos povos árabes por democracia, soberania e justiça social.
Na última quinta (06) um protesto com quase 5 mil pessoas parou diversas ruas de São Paulo. Saindo do Theatro Municipal, próximo ao Anhangabaú, os estudantes percorreram diversas avenidas e calçadões na região central da cidade. Em seguida rumaram para a Avenida Nove de Julho onde formaram uma barricada e queimaram catracas de papel. Ali, foram recebidos à bala pela primeira vez.
Os estudante caminharam até a Avenida paulista. Durante o trajeto fizeram diversas viaturas da polícia recuarem. Na mais famosa avenida de São Paulo, ocuparam os dois lados e depois seguiram em passeata – evitando o vandalismo, inclusive com manifestantes recolocando no lugar uma cabine da polícia que havia sido tombada – até a Praça Oswaldo Cruz, onde a Tropa de Choque da PM chegou por trás dos manifestantes atirando balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio.
A saída foi fugir para o shopping Paulista que acabou com as portas danificadas pelos tiros e com algumas ocasiões de vandalismos realizadas por pequenos grupos. Ali a polícia fechou as saídas por alguns instantes na tentativa de prendem os estudantes.
É possível reverter os aumentos das passagens!
Mais uma vez a ganância da burguesia agride os trabalhadores e estudantes do Brasil. O aumento das passagens, que já se tornou rotina anual, se repete mais uma vez. A Prefeitura de São Paulo, que deveria representar os trabalhadores, se alia mais uma vez aos donos das empresas de ônibus.
O aumento das passagens recai outra vez sobre os jovens e trabalhadores mais pobres que vivem em regiões mais afastadas da cidade e da região metropolitana de São Paulo. Serão no mínimo mais R$ 0,40 por dia que multiplicados por mais de 7 milhões de pessoas que utilizam o transporte público ajudarão a encher muitos ônibus de dinheiro para os donos das empresas de transporte coletivo.
E tudo isso retorna como?
Nos ônibus está escrito: “Transporte coletivo: um direito do cidadão. Um dever do estado.” Só que é o trabalhador que se sacrifica para cumprir com esse dever. Em todo o país a máfia do transporte pressiona governos para ampliar sues lucros apresentando planilhas de custos indecifráveis e muitas vezes mentirosas.
Enquanto isso o metrô está cada vez mais lotado, estações não saem do papel, ônibus circulam caindo aos pedaços, os trens sofrem panes todos os dias, os motoristas, cobradores e maquinistas recebem salários miseráveis e tem que exercer dupla função – como no ABC – para diminuir gastos das empresas.
É possível vencer!
Em Piracicaba a luta continua há meses. No ABC foram dezenas de protestos, e no nordeste e no Rio de Janeiro a juventude tomou as ruas.
Em Porto Alegre o aumento foi barrado por milhares de jovens e trabalhadores que ocuparam as ruas e a frente da prefeitura. Em João Pessoa os estudantes conquistaram o Passe-Livre estudantil em 11 de abril. Em Goiânia, desde semana passada, os jovens foram às ruas enfrentar as balas atiradas pela polícia e pelos ricos.
Precisamos compreender que é possível vencer e que o acumulo das lutas leva às conquistas. Os vários movimentos realizados contra os aumentos das passagens em todo o país servem de base e reforço para a luta em São Paulo e uma conquista em São Paulo fortalecerá e jogará ânimo sobre os estudantes do Brasil, assim como ocorreu com o exemplo de Porto Alegre.
Por isso devemos ter como palavra de ordem: Nenhum passo atrás! Pular catracas, ocupar as ruas, denunciar o aumento para a população e fortalecer a unidade popular. São os passos para conquistar mais uma vitória e reverter essa agressão à população de São Paulo!
Fotos de artefatos ‘Made in Brazil’ encontrados na Praça Taksim Gezi se espalham pela rede
Imagens circuladas nas redes sociais indicam que o gás lacrimogênio usado pela polícia turca na repressão a uma manifestação que ocorre há nove dias numa praça em Instambul é fabricado no Brasil. As fotos divulgadas por manifestantes mostram que artefatos recolhidos do chão trazem impressos a bandeira brasileira e a inscrição ‘Made in Brazil’.
A empresa brasileira Condor Tecnologias Não-Letais S.A., com sede no Centro do Rio de Janeiro, confirmou a informação. “A Turquia é um dos países para os quais a Condor exporta, mas a polícia turca compra esse tipo de equipamento também de outros fornecedores, entre eles americanos e coreanos”, afirmou em nota.
Sobre a escalada de violência, a compainha afirmou que “os produtos não letais são projetados especificamente para incapacitar temporariamente as pessoas, sem causar-lhes danos irreparáveis ou morte. A posição da Condor é que o material não pode ser empregado fora desse propósito.”
A assessoria de imprensa do Itamaraty confirmou ao Epoch Times que empresas brasileiras exportam produtos de defesa não-letais para a Turquia, como o gás lacrimogênio utilizado pelas forças policiais de Istambul contra civis. Quanto às violações dos direitos humanos, o Ministério das Relações Exteriores informou que não comenta assuntos internos de outros países. “Da mesma maneira que as autoridades turcas não se manifestam sobre a política interna do Brasil, o Itamaraty não se manifesta sobre os assuntos da Turquia.”
Entre os dias 8 e 10 de maio deste ano, empresas internacionais do setor incluindo as brasileiras Condor, BCA, CBC, Embraer, Emgepron e Nightlaser, expuseram seus produtos na 8ª Feira Internacional de Defesa e Segurança (LAAD Security & Defense), em Istambul, que contou com a visita do ministro da defesa turco Ismet Yilmaz.
Organizada também pela Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abinde), a feira reúne empresas especializadas no fornecimento de equipamentos, serviços e tecnologia para as Forças Armadas, polícias, forças especiais e segurança corporativa.
Imagens de cápsulas do gás ‘Made in Brazil’ usado na violenta repressão aos protestos por mais liberdade política na Praça da Pérola em Manama, em Bahrein, no Golfo Pérsico, também se difundiram pelas redes sociais em dezembro de 2011.
Escalada do autoritarismo
A manifestação em Istambul começou em 27 de maio de 2013, contra a derrrubada de árvores centenárias da Praça Taksim Gezi, no centro de Istambul, para a construção de mais um shopping center. Diante da severa repressão policial, o protesto ganhou aderência popular massiva, incluindo grupos de oposição ao governo, e se espalhou pelo país.
A resposta do governo desencadeou o que a mídia local definiu como a mais alarmante escalada de violência dos últimos 11 anos, resultando, segundo a BBC, em dezenas de milhares de feridos.
A socióloga e praticante de yoga Ece Temelkuran também denunciou em seu blog ‘İnsanlik Hali‘ (‘A Condição Humana’) a censura dos meios de comunicação do país sobre o masssacre. “A grande mídia continuou passando Miss Turquia e ‘O gato mais estranho do mundo’”, relatou.
Aconteceu nos dias 25 e 26 de abril na Câmara Municipal de Carpina, Pernambuco, o 5º Seminário de Saúde e Segurança dos Trabalhadores da Mata Norte, evento organizado pelo SindCalçados com o Movimento Luta de Classes e o Jornal A Verdade. O seminário teve a participação de trabalhadores de diversas categorias além de estudantes, sindicatos e associações de moradores.
As palestras da Fundacentro e do Ministério do Trabalho abordaram temas relacionados a Saúde e a Segurança no Trabalho, INSS, urgência e emergência pré-hospitalar e os direitos dos trabalhadores.
O mais recente relatório da ONG Cidadão para Segurança Pública e Justiça, do México, revelou que a capital cearense é a 13ª mais violenta do Mundo entre 50 metrópoles pesquisadas. A pesquisa detectou também que 15 das 27 capitais brasileiras estão na estatística. Das 15 capitais brasileiras, aparece em primeiro lugar como a cidade mais violenta, a cidade de Maceió, com quase 86 assassinatos por 100 mil habitantes, seguida por João Pessoa e Manaus, e em seguida Fortaleza. Fortaleza subiu 24 posições no ranking dos assassinatos de um ano para o outro. Alcançou mais uma marca preocupante no ano de 2012, que rendeu a Fortaleza o maior número de assassinatos (1628 homicídios) da história da capital cearense.
Segundo a pesquisa, os principais fatores para levar Fortaleza e demais capitais brasileiras a essa estatística da violência, é o aumento no número de homicídios, somado com o crescimento do tráfico e consumo de drogas e a morte de adolescentes.
A cidade campeã de violência no mundo, conforme esse estudo é San Pedro Sula, segunda cidade de Honduras, com 169 homicídios por cada 100 mil habitantes. Em seguida, vêm Acapulco, no México (143 por 100 mil habitantes) e Caracas (118 por 100 mil habitantes). Os EUA têm seis cidades na lista das mais perigosas, incluem-se: Detroit (17º lugar), New Orleans (21º), San Juan (33º), Saint-Louis (40º) Baltimore (41º) e Oakland (43º).
O avanço da violência em Fortaleza e nas demais capitais brasileiras é consequência do sistema econômico em que vivemos, que não prima por dar melhores condições de vida para a nossa população, nem em investir em educação e saúde de qualidade, segurança e programas de habitação. Para o capitalismo pouco importa se as pessoas estão morrendo, seja de fome ou assassinadas, pois esse sistema só visa o lucro obtido através da exploração das classes mais oprimidas e parasitar o Estado.
Waldiane Sampaio, Professora da Rede Pública do Estado do Ceará
Há décadas que as chuvas de verão enaltecida nos versos do maestro Tom Jobim “São as águas de março fechando o verão/É a promessa de vida no teu coração”, deixou o seu tom poético para se tornar uma dura realidade em que vive a população nesses tempos de mortes, desabrigo e desalento. A forma poética que relata um dos movimentos da natureza nessa época do ano deixou de encantar o mundo e passaram a retratar o descaso do Estado em relação à saúde e a vida do povo trabalhador.
Se por um lado as chuvas são fenômenos naturais, as enchentes são fenômenos sociais. Muito por conta da ausência das atitudes irresponsáveis dos governos com a ausência de políticas públicas para resolver e prevenir situações de calamidade.
A cidade cresceu de forma desordenada, só respeitando a ganância de lucro por parte das empreiteiras e dos governos corruptos. O impacto das enchentes se tornou mais evidente no cotidiano do povo.
Mas por que as chuvas de verão causam desmoronamento de casas, mortes e desespero para os sobreviventes?
Uma das causas seria a transferência dos recursos pagos pelos trabalhadores através de impostos, moradia, alimentação, dentre outros quesitos para o endereço dos empreiteiros e banqueiros.
Obras faraônicas são realizadas como no caso dos dois megaeventos esportivos que acontecerão, Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, que já deixaram um legado de R$ 7,5 bilhões de débito, até a presente data, equivalente a 18% do que o governo arrecada por ano.
Patrimônios públicos são dilapidados como o Maracanã, o Museu do Índio, para favorecer o mercado imobiliário e as empresas dos amigos políticos e seus aliados que bancam suas campanhas eleitorais.
A propriedade pública vira privada. As ruas, sobrados e pequenos comércios são adquiridos pelo sistema financeiro. O cidadão se torna refém dos interesses mesquinhos dos grandes empresários
Os barracos soterrados viram retórica nos discursos dos governantes. O povo não se encanta mais com os poemas das águas de março fechando o verão. A promessa de suas vidas está nas intensas lutas que terão que travar e vencer para reascender em seus corações a esperança de dias melhores.
Trocar um patrimônio que vale três trilhões de dólares por um bilhão de dólares é ou não é um negócio da China?
Segundo o dicionário inFormal, negócio da China quer dizer negócio que dá um lucro extraordinário. O 11º leilão da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível – ANP (14 e 15 de maio) vai oferecer 30 bilhões de barris de petróleo. Como o valor do barril no mercado internacional custa em média 100 dólares, são reservas estimadas em três trilhões de dólares. Mas a ANP espera arrecadar um bilhão de dólares com o 11º leilão. Trocar três trilhões por um bilhão é ou não é um negócio da China? Por isso comparamos o leilão à venda de um bilhete premiado.
Podemos discutir o teor do negócio, mas jamais questionar a transparência. Esse é o famoso estupro consentido. Serão oferecidos em 289 blocos, distribuídos em 11 Bacias Sedimentares: Barreirinhas, Ceará, Espírito Santo, Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Parnaíba, Pernambuco-Paraíba, Potiguar, Recôncavo, Sergipe-Alagoas e Tucano… Tudo isso é notícia oficial extraída da página da ANP.
Para quem não sabe, o petróleo não é uma energia renovável, ele se esgota. Não é como uma fruta que, no Brasil, pode chegar a várias safras por ano. É o caso da cidade de Petrolina, em Pernambuco, que produz até 2,5 safras ao ano de uvas, goiabas, mangas ou cocos, quase tudo para exportação. No caso do petróleo, são necessários milhões de anos para a formação dos hidrocarbonetos.
Pior são os argumentos utilizados para justificar o leilão. A ANP diz que os objetivos da 11ª Rodada são: 1) Promover o conhecimento das bacias sedimentares; 2) Desenvolver a pequena indústria petrolífera; 3)Fixar empresas nacionais e estrangeiras no país, dando continuidade à demanda por bens e serviços locais, à geração de empregos e à distribuição de renda”.
Ninguém conhece as bacias sedimentares brasileiras melhor do que a Petrobrás, o que desmente o primeiro argumento. Além disso, não é verdade que as empresas estrangeiras vão se fixar no Brasil dando continuidade à demanda de bens e serviços locais. As empresas estrangeiras jamais construíram sequer uma plataforma de petróleo, navio ou sonda no Brasil e são, radicalmente, contrárias a priorizar o conteúdo nacional na indústria de petróleo. Logo, também caem por terra os argumentos seguintes.
As desvantagens da atuação de petrolíferas estrangeiras no Brasil podem ser exemplificadas. Na rodada zero dos leilões (1998), a Odebrecht foi beneficiada com a exploração de campos de Bijupirá e Salema, na Bacia de Campos, a custo zero. Depois esses campos foram vendidos pela Odebrecht para a Shell. A petrolífera estrangeira extrai desses campos cerca de 50 mil barris de petróleo por dia que vão diretamente para o exterior, livres de impostos, já que os produtos exportados são beneficiados pela “Lei Kandir”, uma lei da época de FHC que se mantém em vigor e tem como finalidade estimular a exportação.
Os campos de Bijupirá e Salema produzem quantidade de petróleo superior ao consumo diário da Bolívia. Pergunto: que vantagem o Brasil e o povo brasileiro levaram ou estão levando nesse negócio?
Dizer que o leilão vai diminuir as desigualdades nacionais, como justifica a ANP, é uma piada de mau gosto. Argumentar que as empresas estrangeiras vão atuar para diminuir as nossas desigualdades sociais, é acreditar que o povo é idiota. Aliás, seria bom dizer onde e em que outro país do planeta essas anunciadas vantagens aconteceram. Muito pelo contrário, a presença dos estrangeiros em países com grandes reservas de petróleo como México, Angola, Nigéria só serviu para aprofundar a miséria. Até pode aumentar a qualidade de vida, mas isso em Paris, Nova York ou Londres!
A presidente Dilma parece só se preocupar com sua reeleição e esquece que, com o 11º leilão, ela pode entrar para o folclore popular mundial: ao invés dos negócios da China agora os negócios com lucros extraordinários, serão denominados de “Os Negócios da Dilma!”
Ao criar a personagem Jeca-Tatu, o genial escritor Monteiro Lobato quis denunciar a situação em que vivia o homem do campo no Brasil, abandonado à própria sorte. Mas a personagem foi interpretada com símbolo do trabalhador rural brasileiro, por sua simplicidade, ingenuidade, ignorância, desleixo, etc. Essa visão preconceituosa do camponês, disseminada pelos meios de comunicação e pela própria escola, corresponde à ideologia das classes dominantes, e atinge até setores de esquerda colonizados pela visão capitalista europeia do mundo. O grande Lenin já promoveu a devida retificação no início do século XX, deixando claro tanto na teoria como na prática da Revolução Russa, que o campesinato é aliado fundamental do proletariado urbano nos países da periferia, e que seria impossível tomar o poder político e construir o socialismo sem a consolidação de uma forte e indissolúvel aliança operário-camponesa.
Bravo como um Leão
A história do Brasil é rica em exemplos de que esse homem amável, cordial, e aparentemente acomodado à situação em que vive, se transforma num leão quando sente ameaçada sua família, o pedacinho de chão em que vive e planta, ou para conquistar o seu chão. Os latifundiários e a burguesia sabem muito bem disso, tanto que sempre reprimiram com extrema violência e crueldade as tentativas de libertação dos camponeses em todo o decorrer da nossa história, e não apenas nos períodos de ditadura.
Sem esquecer a Resistência Indígena e o hercúleo esforço dos Quilombolas, atendo-nos ao século passado, nos emocionaremos com lutas memoráveis por terra para trabalhar, viver com dignidade, todas combatidas sem dó nem piedade, resultando em milhares de mortos, sem diferença de gênero, idade ou raça. Muitas dessas lutas já foram relatadas nas páginas do jornal A Verdade nos seus onze anos de existência: Canudos, Contestado, Caldeirão, Trombas e Formoso, guerrilha do Porecatu, as Ligas Camponesas, etc.
Idosos, mulheres e crianças remanescentes da última expedição do Exército Brasileiro (depois de três vitórias em Canudos) foram impiedosamente degolados para que ninguém pudesse contar a história, cujo registro o povo brasileiro deve ao jornalista e escritor Euclides da Cunha. No Caldeirão, para pôr fim a uma pequena comunidade de camponeses desarmados em Juazeiro do Norte (CE), o governo de Vargas utilizou a Força Aérea (FAB).
Na ditadura e na “democracia”
Nos anos que antecederam ao golpe de estado de 1964, as Ligas Camponesas e os sindicatos relacionaram e denunciaram um sem-número de casos de violência praticados pelos capangas, milícias e pistoleiros de aluguel pagos pelos latifundiários, não raro com a participação de policiais. São métodos cruéis. Mergulhavam, por exemplo, a pessoa num tanque de mel e a levavam para ser lambida por vacas até o corpo ficar coberto de chagas ou a punham amarrada sobre um formigueiro. Muitas usinas e fazendas tinham um cubículo para trancar o camponês que reclamava algum direito e o deixavam por tempo indeterminado em completa escuridão, apenas com um buraquinho para tomar fôlego.
Em seu livro Que São as Ligas Camponesas? , Francisco Julião relata: “camponeses são arrastados por jipes; com um ferro em brasa, marcam-lhes o peito e as nádegas; um é posto lambuzado de mel sobre um formigueiro; outro é metido numa cuba cheia d’água, mantido noite e dia a pão seco, servindo-se daquela água contaminada por urina e fezes onde fica mergulhado até a boca; tem havido camponeses mutilados na presença de outros, sendo pedaços de sua carne oferecidos aos cães, para servir de exemplo….” . Assassinato de lideranças e chacinas coletivas também são uma constante.
O que muda com a ditadura civil-militar implantada no dia 1º de abril de 1964 é que o Estado assumiu a repressão, oficial ou extra-oficialmente, imbricando-se com a repressão privada, que de modo algum foi extinta. Os métodos de tortura adotados nos porões da ditadura não foram tão diferentes, alguns mais sofisticados e até piores, como os choques elétricos na boca e nos órgãos genitais, introdução de objetos nas vaginas e ânus dos (as) torturados (as), a tortura de crianças diante de mães ou pais, sem contar o exílio, que é o assassinato da nacionalidade.
As Ligas Camponesas, postas de imediato na ilegalidade, foram as primeiras vítimas do golpe. “…Quase todos os dirigentes foram presos ou mortos. Começaram a perseguir camponeses e assassinaram vários: enforcaram, queimaram …” (Francisco Julião, entrevista ao Pasquim, 1979). Homens, mulheres, crianças, eram presos e tangidos como animais. O líder comunista Gregório Bezerra foi torturado de forma bárbara, publicamente, pelas ruas do Recife, numa repetição da via-sacra de Jesus Cristo.
Dirigentes das ligas e dos sindicatos, ativistas de base, não importava a filiação político-ideológica: comunistas, cristãos, teve qualquer grau de militância, podais ser preso, torturado, morto, desaparecido. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) registra o número de 1.586 assassinatos em razão da luta pela terra no período de 1964 a 1986.
O Nordeste foi a região mais visada, pois as ligas e os sindicatos eram mais fortes e combativos, mas a repressão atingiu todos os recantos do país. Do Norte ao Sul. Aliás, no Rio Grande do Sul, nascera em 1950 o Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), desmantelado pela ditadura (1964). Ele foi precursor do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra, fundado em 1984 em Encruzilhada Natalino (RS).
A redemocratização ocorrida em 1964 não pôs fim à repressão, como se poderia pensar. Ela continua vitimando todos os que ousam desafiar a estrutura agrária e lutar por terra para quem nela trabalha. E se faz das duas formas: pelo Estado, a exemplo de Eldorado dos Carajás (1996), ou por pistoleiros, capangas e milícias privadas. Nem sequer houve redução. A tendência tem sido de crescimento. De acordo com os dados levantados pela CPT, em 2012 houve um crescimento de 24% no número de assassinatos e de 102% nas tentativas de assassinatos no campo.
Apoiadores na Mira
A repressão no campo não atinge apenas os camponeses. Mas também aqueles que os apóiam, especialmente sacerdotes e advogados. Casos mais conhecidos de assassinato: padres e freiras João Bosco Penido Burnier (Mato Grosso, 1976), Josimo Morais Tavares (Maranhão,1986), Irmã Dorothy Stang (Goiás,2005). Advogados: Djalma Raposo (Pernambuco, 1972), Gabriel Sales Pimenta (Pará, 1972), Evandro Cavalcanti da Silva (Pernambuco, 1987).
Na lei ou na marra?
O crescimento da violência das classes dominantes contra os camponeses em luta por terra é resultado da permanência do mesmo modelo agrário concentrador da propriedade da terra. Não houve avanço algum nesse sentido após o fim da ditadura, exceto algumas desapropriações pontuais que em nada abalaram o latifúndio brasileiro, hoje chamado de agronegócio. A esperança de que assumindo a Presidência da República, o PT promoveria a reforma agrária, se transformou em ilusão.
Está claro que não é com recuo da mobilização e da organização dos camponeses que se conseguirá terra para quem nela trabalha. A negociação não conseguirá jamais desmanchar o casamento desastroso, como dizia Marx, entre o senhor Capital e a senhora Terra.
As Ligas Camponesas tinham um lema: “Reforma Agrária na lei ou na marra”. O legalismo já se mostrou ineficaz. Que caminho resta? O caminho da luta é, pois, inevitável.
Ao término do 53° Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), ocorrido entre os dias 29 de maio a 02 de junho, os mais de sete mil estudantes presentes no encontro saíram com a certeza da vitoriosa e importante unidade estabelecida entre os setores de esquerda da entidade na luta por uma universidade democrática e popular, por uma UNE independente e comprometida com a soberania nacional e com o povo brasileiro.
Em praticamente todos os debates, a Oposição de Esquerda polarizou a disputa com a diretoria majoritária da entidade, criticando abertamente as posições de conciliação que tem tomado a UNE, seja na omissão contra os leilões do petróleo, nos absurdos gastos com a Copa do Mundo de Futebol e ainda na restrição do direito à meia-entrada em espetáculos culturais e esportivos.
Durante a realização da marcha por 10% do PIB para educação, o bloco organizado pela Oposição de Esquerda expressou a combatividade dos que lutaram ao lado dos estudantes na greve de 2012, no apoio à luta dos estudantes goianos contra o aumento das passagens e a repressão promovida pela PM, na defesa do petróleo brasileiro dizendo não aos seus leilões da ANP, combatendo os absurdos gastos com a Copa e apoiando a apuração e punição de todos os crimes cometidos pela Ditadura Militar.
No ambiente da plenária final era visível o crescimento da oposição à majoritária diretoria da UNE, e as críticas ao comportamento da entidade com relação à luta contra os leilões do petróleo e à limitação da destinação dos royalties para a educação, repercutiu até mesmo dentro da chapa majoritária, a ponto de que, a partir de uma proposta da Oposição de Esquerda, fosse incluída a bandeira de luta contra os criminosos leilões do petróleo brasileiro na Jornada de Lutas de agosto deste ano.
A chapa da Oposição de Esquerda, formada a partir da unidade dos movimentos REBELE-SE, JUNTOS, ROMPENDO AMARRAS, DOMÍNIO PÚBLICO, LEVANTE, JSOL, VAMOS À LUTA e CONSTRUÇÃO, e que recebeu ainda o apoio da Juventude Marxista, reuniu mais de dois mil estudantes durante suas plenárias e atividades, conseguindo estabelecer uma grande agitação contra a diretoria majoritária da UNE.
Ao término da votação para escolha da nova diretoria, a chapa da Oposição de Esquerda recebeu 618 votos, ficando em segundo lugar, e elegendo a 1ª vice-presidência da entidade, e ainda mais dois cargos na sua executiva, tendo a chapa majoritária obtido 2.607 votos. Completando a votação, a chapa Campo Popular recebeu 539 votos e indicará dois representantes na executiva.
Dentro de alguns dias, a chapa da Oposição de Esquerda se reunirá para indicar seus representantes para a próxima gestão e, assim, dar início a uma nova jornada de lutas em defesa de uma UNE rebelde e combativa, por um Brasil soberano e socialista!
As medidas que Cuba e Venezuela lançaram em 2004 possibilitaram que 2 milhões de pobres recuperassem a visão
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), há atualmente cerca de 285 milhões de pessoas vítimas de deficiência visual no mundo – entre elas, 39 milhões de cegos e 246 milhões que apresentam uma diminuição da acuidade visual. Quase 90% delas vivem em países do Terceiro Mundo. As principais causas de deficiência visual são os defeitos de refração não corrigidos (miopia, hipermetropia e astigmatismo, com 43%), a catarata (33%) e o glaucoma (2%). Cerca de 80% das deficiências visuais são curáveis, observa a organização, e acrescenta que “a catarata continua sendo a primeira causa de cegueira”. Essas enfermidades oculares afetam, em primeiro lugar (65%), pessoas de mais de 50 anos (20% da população mundial), uma porcentagem que crescerá com o envelhecimento da população, mas também 19 milhões de crianças.
Diante dessa constatação, no marco da Alba, Cuba e Venezuela decidiram lançar em julho de 2004 uma ampla campanha continental sob o nome Operação Milagre. Consiste em operar gratuitamente os latino-americanos pobres que têm cataratas ou outras enfermidades oculares, mas estão impossibilitados de pagar uma operação que custa entre 5 e 10 mil dólares, segundo os países. Essa missão humanitária se estendeu a outras latitudes (África, Ásia). A Operação Milagre inclui a participação de 165 instituições cubanas. Dispõe de 49 centros oftalmológicos em 15 países da América Latina e do Caribe (Cuba, Venezuela, Equador, Haiti, Honduras, Panamá, Guatemala, São Vicente e Granatinas, Guiana, Paraguai, Granada, Nicarágua e Uruguai).
Em janeiro de 2008, foi alcançada a cifra de um milhão de pessoas operadas. Em 2011, mais de dois milhões de pessoas oriundas de 35 países haviam recuperado a visão. No marco dos acordos da Alba, a população venezuelana foi a primeira a se beneficiar da missão, com mais de 178.000 operações realizadas. A Bolívia também se beneficiou amplamente da cooperação médica cubana, com 600.105 pessoas operadas. O presidente boliviano, Evo Morales, saudou a presença dos médicos cubanos, assim como o papel integrador e solidário da Alba.
Outros países também se beneficiaram do internacionalismo humanitário da Operação Milagre. Dessa forma, 100.000 equatorianos, 61.000 nicaraguenses, 61.000 jamaicanos, 50.000 panamenhos, 48.255 brasileiros, 35.245 argentinos, 22.280 peruanos e 312 paraguaios recuperaram a visão. Inclusive cidadãos norte-americanos oriundos dos setores menos privilegiados se beneficiaram da Operação Milagre.
O caso mais emblemático, sem dúvida, é o de Mario Terán, ex-suboficial boliviano aposentado, que assassinou Ernesto Che Guevara em 9 de outubro de 1967 na escola de La Higuera, na Bolívia. Vivia então no anonimato, em Santa Cruz. Sobrevivia graças a sua pequena aposentadoria de ex-soldado e havia perdido a visão por conta de uma catarata que não pôde tratar por falta de recursos.
Graças à Operação Milagre, Terán pôde se libertar se seu problema. Pablo Ortiz, jornalista boliviano que trabalha para o jornal El Deber de Santa Cruz, retratou a história: “Terán tinha problemas de catarata e operou graças à Missão Milagre, a médicos cubanos, de modo totalmente gratuito”. Deu mais detalhes: Esse sujeito é um total desconhecido. Ninguém sabe quem é. Está completamente arruinado e se apresentou no hospital da Operação Milagre. Ninguém o reconheceu e o operaram. Foi seu próprio filho quem nos contou, e veio ao jornal para fazer esse agradecimento público”.
Em 2009, por ocasião da intervenção cirúrgica número 10.000, realizada no Centro Oftalmológico José Martí, a Operação Milagre recebeu o Prêmio de Excelência Cidadã, no Uruguai, do Centro Latino-americano de Desenvolvimento (CELADE), que patrocina a Organização dos Estados Americanos (OEA), por seus valores solidários e humanos.
A imprensa canadense relatou, inclusive, que alguns súditos da Coroa britânica carentes de recursos econômicos preferiram ir se curar e serem operados em Cuba, famosa pela excelência de seu sistema de saúde e por seus preços atrativos para os ocidentais.
A Operação Milagre é um exemplo concreto de uma política social eficaz levada a cabo por nações do Terceiro Mundo a favor dos mais pobres. É também uma lição para os países ricos e um chamado a mais solidariedade para com aqueles que Víctor Hugo chamava de a “cariátide”.
Operação Milagre no Paraguai
Operação Milagre no México
Hospital na cidade cubana de Jaguey: Grande formação constante de médicos
Operação Milagre no Haiti
Operação Milagre em El Salvador
Operação Milagre no Equador
Salim Lamrani*
Fonte: Paris Opera Mundi – Brasil
* Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro é intitulado The economic war against Cuba. A historical and legal perspective on the U.S. Blockade (A guerra econômica contra Cuba. Uma perspectiva histórica e legal sobre o bloqueio norte-americano), Nova York, Monthly Review Press, 2013, com um prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade.
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