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quinta-feira, 24 de abril de 2025
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Renato Russo: rebeldia contra as injustiças

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Renato RussoConsiderado um dos maiores poetas do rock brasileiro, Renato Manfredini Júnior, ou Renato Russo, nasceu em 27 de março de 1960, no Rio de Janeiro, onde veio a falecer no dia 11 de outubro de 1996, com apenas 36 anos de idade. Jornalista e professor de inglês, formou a banda Legião Urbana no início da década de 1980, em Brasília. Mais de 26 anos após o lançamento do primeiro disco, a banda ainda vende 250 mil cópias por ano, um recorde do gênero no País.

Renato Russo não cantou apenas os anseios, os medos e os conflitos da juventude, mas abordou em suas letras temas que vão desde a exploração do trabalhador, o desemprego, o machismo, a ditadura militar, a tortura, o racismo, a retirada dos direitos dos aposentados, passando por questões ambientais, até o cinema, o teatro, a pintura e a literatura.

Segundo Arthur Dapieve, biógrafo do cantor, uma das principais características das letras de Renato Russo, e que explica em parte o enorme sucesso da banda mais de 15 após seu término, é que Renato escrevia sobre temas atuais ao mesmo tempo em que retirava toda marca de temporalidade de suas letras, mantendo assim sua perenidade. Letras como Que país é esse continuam tão atuais agora quanto na época em que foram lançadas. Um exemplo mais sutil e que também carrega essa característica é a canção Metal contra as nuvens, do álbum V, a qual faz referências a algumas medidas antipopulares do governo Collor.

Se existe uma identificação tão grande da juventude brasileira com as músicas de Renato Russo é porque este público se vê espelhado, representado em suas letras. De fato, os jovens que povoam as letras de Renato são, em sua maioria, estudantes, trabalhadores, pais, precarizados e desempregados. São trabalhadores, por exemplo, os jovens namorados de O descobrimento do Brasil: “Ela me disse que trabalha no correio/ E que namora um menino eletricista”. São estudantes os jovens de Vamos fazer um filme: “A minha escola não tem personagem / A minha escola tem gente de verdade / … / O sistema é maus / Mas minha turma é legal”. E são desempregados numa época de crise os jovens de Teatro dos vampiros: “Vamos sair, mas não temos mais dinheiro/ Os meus amigos todos estão procurando emprego”.

“Eu quero trabalho honesto em vez de escravidão”

O tema do trabalho e de sua exploração aparece em canções tanto do início quanto do final da carreira de Renato, mostrando ocupar um lugar permanente nas preocupações do artista. A música Fábrica, do disco Dois (1986), por exemplo, inicia-se cantada na primeira pessoa do plural, como um hino: “Nosso dia vai chegar,/ Teremos nossa vez”. E compara o trabalho dos operários nas fábricas à escravidão: “Quero trabalhar em paz. / Não é muito o que lhe peço- / Eu quero trabalho honesto / Em vez de escravidão”. (1)

Segundo Angélica Castilho e Erica Schlude, autoras do livro Depois do fim – vida, amor e morte nas canções da Legião Urbana, a letra de Fábrica apresenta um questionamento do poder capitalista, assumindo uma postura marxista. Para as autoras, essa música “apresenta o capitalista explorando o trabalhador, uma vez que detém as ferramentas de domínio: o capital e os instrumentos de trabalho”.

Já no álbum A tempestade (último álbum lançado em vida), temos a Música de trabalho, na qual o eu-lírico, precarizado, mostra-se consciente de que não possui um trabalho, mas apenas um emprego: “Sem trabalho eu não sou nada/ Não tenho dignidade/ Não sinto meu valor/ Não tenho identidade/ Mas o que eu tenho é só um emprego/ E um salário miserável”. E descreve também a ditadura do capital sobre o trabalhador e sua inconformidade perante esse quadro: “Se você não segue as ordens/ Se você não obedece/ E não suporta o sofrimento/ Está destinado à miséria/ Mas isso eu não aceito”.

“Chega de opressão”

O protesto contra toda forma de opressão é uma constante nas letras de Renato Russo. A opressão sobre as mulheres, por exemplo, recebeu a atenção do compositor pela primeira vez na letra de A dança, do primeiro álbum, na qual o eu-lírico critica de forma veemente um interlocutor que insiste em tratar “… as meninas / Como se fossem lixo / Ou então espécie rara / Só a você pertence / Ou então espécie rara / Que você não respeita / Ou então espécie rara / Que é só um objeto / Pr’á usar e jogar fora / Depois de ter prazer”.

Renato RussoE no álbum póstumo Uma outra estação, na letra da melancólica canção Clarisse, o eu-lírico lamenta “a violência e a injustiça que existe / Contra todas as meninas e mulheres / Um mundo onde a verdade é o avesso / E a alegria já não tem mais endereço”.

Já o tema da invasão do Brasil e o saque histórico sobre os nativos desta terra, perpetrados por portugueses e outros europeus, são relembrados na letra de “Índios”, uma letra que, por um viés rousseauniano, toca em diversas questões importantes. O etnocídio (aculturação forçada), a violência, a ganância e a espoliação das riquezas naturais são algumas delas. (2)

Mas ao mesmo tempo em que fala do passado, “Índios” indica também o futuro. Os versos “Quem me dera, ao menos uma vez, / Explicar o que ninguém consegue entender: / Que o que aconteceu ainda está por vir / E o futuro não é mais como era antigamente” sugerem que a opressão de hoje é a mesma de ontem, apenas se revestindo de novas formas. Mas, ao mesmo tempo, o futuro, não reproduzindo a lógica de exploração do passado, será diferente. É a tese de Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista de que “a moderna sociedade burguesa […] não aboliu as oposições de classes. Apenas pôs novas classes, novas condições de opressão, novas configurações de luta, no lugar das antigas.”

Além desses, outro tema importante e recorrente na obra do cantor é a discriminação contra os homossexuais (sendo o próprio cantor homossexual). Letras como Soldados, Daniel na cova dos leões, Maurício, Meninos e meninas e Leila são algumas das que abordam a questão. Inclusive o título de um dos álbuns da carreira solo de Renato Russo, The Stonewall Celebration Concert, faz referência à chamada Batalha de Stonewall, quando em 28 de junho de 1969 uma batida policial em um bar gay de Nova York gerou um conflito de dois dias entre travestis, homossexuais e forças da repressão.

Política, ditadura e repressão

Menções à política perpassam toda a obra da Legião Urbana, embora Renato Russo quase sempre se esquivasse de perguntas mais diretas sobre o tema em suas entrevistas. (3) Logo no primeiro álbum, o grupo teve problemas com a censura brasileira pelo fato de o título da música Baader-Meinhof Blues ser uma referência direta ao grupo de guerrilha urbana alemão Baader-Meinhof.

E se no primeiro álbum o compositor menciona o grupo guerrilheiro no título de uma música, no segundo são discretamente aludidas a ditadura militar no Brasil e a tortura. Ouvimos em 1965 (Duas tribos): “Cortaram meus braços/ Cortaram minhas mãos/ Cortaram minhas pernas/ Num dia de verão”.

Já no álbum póstumo Uma outra estação esses temas são abordados abertamente. Em La Maison Dieu o eu-lírico promete a um provável perseguido político: “Se dez batalhões viessem à minha rua/ E vinte mil soldados batessem à minha porta à sua procura/ Eu não diria nada/ Porque lhe dei minha palavra”.

Alguns versos adiante, o eu-lírico vê, durante um devaneio, alguém entrar por sua janela e dizer: “Eu sou a tua morte/ Vim conversar contigo/ … / Eu sou a pátria que lhe esqueceu/ O carrasco que lhe torturou/ O general que lhe arrancou os olhos/ O sangue inocente de todos os desaparecidos/ O choque elétrico e os gritos/ … / Eu sou a lembrança do terror/ De uma revolução de merda/ De generais e de um exército de merda”.

E, ao final, deixa o seu alerta para o futuro: “Não, nunca poderemos esquecer/ Nem devemos perdoar/ Eu não anistiei ninguém…/ Abra os olhos e o coração/ Estejamos alertas/ Porque o terror continua/ Só mudou de cheiro e de uniforme”. (4)

João de Santo Cristo, um brasileiro

Mas uma das músicas de maior apelo popular da banda – talvez a mais popular – é Faroeste caboclo, que conta a saga de um jovem negro chamado João de Santo Cristo. Nascido de família humilde, João de Santo Cristo foi vítima desde pequeno do racismo e da discriminação por ser pobre. Mais tarde, saiu do interior e foi tentar a vida na capital do país, trabalhando inicialmente como aprendiz de carpinteiro. “O Santo Cristo até a morte trabalhava/ Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar”. A situação de pobreza o leva para a criminalidade, e esta, para a prisão.

Após conhecer Maria Lúcia, por quem se apaixona, decide tentar mais uma vez uma vida honesta, voltando a ser carpinteiro, decisão que ilustra a situação de milhares de ex-detentos no Brasil. Mas empurrado novamente para a margem da sociedade, Santo Cristo volta para a criminalidade e nela permanece até ser morto por outro traficante. No momento de sua morte, lembra-se de sua infância e de tudo que vivera até aquele momento, resumindo sua vida como uma via crucis, isto é, um caminho para a crucificação.

João de Santo Cristo é, segundo Angélica Castilho e Erica Schlude, um arquétipo. O herói – ou anti-herói – de Faroeste caboclo é “um entre os muitos cristos crucificados em nossa sociedade diariamente”.

Música e protesto

Embora afirmasse em entrevistas que separava música e política, na prática Renato Russo nunca fez isso. Em todos os seus discos encontramos críticas sociais e protestos contra um mundo que considerava injusto. “Este é o nosso mundo: o que é demais nunca é o bastante/ E a primeira vez é sempre a última chance/ Ninguém vê onde chegamos/ Os assassinos estão livres, nós não estamos” (Teatro dos vampiros, disco V).

Se a intenção de João de Santo Cristo, ao ir para Brasília, era chamar a atenção do presidente “para essa gente que só faz sofrer”, a obra de Renato Russo não deixa dúvidas de que a rebeldia, o protesto e a inconformidade social presentes em suas letras tem semelhante propósito: denunciar toda forma de opressão, a exploração e o sofrimento do povo brasileiro.

Glauber Ataide, Belo Horizonte

NOTAS

(1) Uma curiosidade sobre este álbum é que os ruídos quase indecifráveis que podem ser ouvidos antes do início da primeira música são nada menos que trechos de A Internacional, hino dos trabalhadores de todo o mundo. Daí a música Fábrica, do mesmo disco, tratar deste tema e se iniciar também cantada no plural, como um hino.

(2) Os versos “Nos deram espelhos / E vimos um mundo doente” se referem à prática dos europeus de trocarem objetos de baixo valor, como espelhos, por ouro e pedras preciosas dos nativos.

(3) Perguntado em quem votaria nas eleições presidenciais de 1989, Renato Russo declarou seu voto no candidato do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Roberto Freire, na época. E em 1994, afirmou que votaria em Lula, candidato do Partido dos Trabalhadores (PT).

(4) O motivo desta música ter sido lançada apenas postumamente foi o desejo do compositor de evitar conflito com os militares.

Onde está Rubens Paiva?

Rubens Paiva e família1971 – Uma nuvem escura cobria os céus de todo o Brasil. Apesar disso, o sol brilhava naquele dia 20 de janeiro, no Rio. Feriado. Dia do padroeiro da cidade, São Sebastião. Por volta de meio dia, uma família voltava da praia. Rubens Beirodt Paiva, sua mulher Maria Eunice Facciola Paiva e duas filhas: Vera e Eliane. Ao chegar a casa, são abordados por seis homens, que detêm Rubens e dizem que vão levá-lo para a delegacia, para um depoimento, “coisa de rotina”. Ele foi, escoltado, dirigindo o próprio carro. Nunca mais voltou.

Rubens Paiva tinha então 41 anos, era industrial, engenheiro civil formado em 1954 na Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie, São Paulo, seu Estado natal (nasceu em Santos, no ano de 1929). Foi engenheiro construtor de Brasília, depois deputado eleito pelo povo, cassado e exilado em 1964. Foi Vice-Presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE-SP) e deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB-SP). Na Câmara, destacou-se pela defesa de bandeiras nacionalistas. Quando sobreveio o golpe civil-militar de 1964, ele era Vice-Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurava o recebimento de dólares pelo Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad), fachada utilizada pela CIA estadunidense para financiar atividades de desestabilização do Governo de João Goulart.

Cassado pelo Ato Institucional nº 1 (AI-1), Rubens Paiva esteve algum tempo no exílio e, retornando ao Brasil, passou a atuar na resistência à ditadura, escondendo militantes perseguidos e ajudando-os a sair para o exterior, enviando denúncias de tortura para organismos internacionais de defesa dos direitos humanos. Não era comunista, não pertencia a nenhuma organização revolucionária. Desenvolvia atividades, podemos definir, humanitárias.

Torturas e Mentiras

No dia seguinte, os policiais levaram para o quartel da Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita, onde operava o DOI-CODI, Maria Eunice e a filha do casal, Eliane, de 15 anos. A adolescente foi libertada 24 horas depois e Eunice ficou presa, incomunicável, durante 15 dias.

Ao sair, não teve mais notícia do esposo. Tomou conhecimento de uma versão divulgada pelos jornais e pela televisão, segundo a qual ao ser transferido para outra unidade militar, um grupo “terrorista” teria resgatado o prisioneiro. Era mentira, como tantas outras farsas montadas para encobrir o assassinato dos militantes oposicionistas, por meio de bárbaras torturas, nos porões das Forças Armadas.

Maria Eunice não acreditou. Buscava informações nas unidades do Exército e a resposta é que o prisioneiro nunca havia estado lá. Conseguiu falar com o então Ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, que admitiu a possibilidade de Rubens ter sofrido arranhões durante o interrogatório, mas prometia sua libertação em 15 dias.

O advogado Lino Machado, por sua vez, ingressou com três pedidos de habeas-corpus, visando a, pelo menos, identificar os responsáveis pela prisão, mas nada conseguiu. Eunice enviou carta ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, mais uma farsa da ditadura, em que afirmava entre outras coisas: “Rubens é um homem de bem, pai de família exemplar, engenheiro competente, cidadão probo e honrado, empresário responsável e capaz… Não viu contra si, no entanto, instaurar-se nenhum inquérito policial-militar ou processo penal. Não lhe foi feita jamais, acusação de nenhuma natureza. De que hoje o acusam? Onde está? Para onde o conduziram?…Onde estão, afinal, os compromissos do país, assumidos solenemente em suas constituições desde o alvorecer da República e no âmbito internacional, como nação cristã e civilizada, através da adesão às Declarações Universais dos Direitos do Homem da ONU e da OEA? Como admitir a insegurança terrível dos seqüestros ou raptos tornados oficiais?”. O Conselho, presidido pelo próprio Alfredo Buzaid, nada respondeu e simplesmente arquivou o pedido.

Testemunhos da morte bárbara

Da Barão de Mesquita, a “Casa da Morte”, Rubens Paiva foi conduzido para a III Zona Aérea, onde foi torturado junto com as prisioneiras Cecília Viveiros de Castro e Marilena Corona. Por ter amparado uma delas, que desmaiou, Rubens foi atingido por um soco e reagiu com palavrões, o suficiente para todo o grupo de torturadores cair sobre ele, desferindo-lhe pauladas e pontapés, até transformá-lo numa poça de sangue. Em 1986, o oficial-médico do Exército, Amílcar Lobo, que dava “assistência” aos torturados, reanimando-os para que pudessem ser submetidos a mais violência, declarou à revista Veja que viu Rubens Paiva “arrebentado e ensangüentado” no DOI-CODI do Rio de Janeiro, para onde retornou, depois de ser torturado na III Zona Aérea.

A partir desse depoimento e apoiado também no testemunho das prisioneiras citadas, em 1987, o Procurador-Geral da Justiça Militar, Francisco Leite Chaves, instaurou processo penal na Primeira Auditoria Militar do Rio. Chegou aos culpados, mas os autos foram destruídos e o processo arquivado. Como culpados, o processo apontou o coronel Ronald José da Motta Batista Leão, que era chefe da II Seção do I Exército; o Capitão de Cavalaria, João Câmara Gomes Carneiro (João Coco); o subtenente Ariedisse Barbosa Torres, o major PM-RJ, Riscala Corbage e o segundo-sargento Eduardo Ribeiro Nunes.

A Luta pela Reparação

Em 1991, a família ingressou com ação ordinária de indenização contra a União, por danos morais e patrimoniais. A ação nunca foi julgada.

Em 1988, o então suplente de senador, Fernando Henrique Cardoso, afirmou em artigo intitulado “Sem esquecimento”: “O riso franco de Rubens Paiva, sua bonomia, seu modo de ser generoso e de ajudar na mudança das coisas vivem, hoje, apenas na memória dos que o conheceram. Mas viverão enquanto vivermos. E ajudarão a impedir que haja esquecimentos”.

Presidente da República, em seu primeiro mandato, FHC conversou com o Secretário-Geral da Anistia Internacional, Pierre Saué, sobre a situação das famílias de 144 desaparecidos e lhe disse “É um passado complicado de remexer, que incomoda muitos setores”.

Marcelo Rubens Paiva, filho do herói, escritor, reagiu em artigo publicado pela revista Veja, edição de Maio/95: “Como filho de um desaparecido, tenho mil motivos para ficar indignado com o silêncio das autoridades brasileiras. Como cidadão, eu me pergunto se já não chegou o dia de os militares brasileiros… imitarem seus colegas argentinos, abrirem os arquivos, excluírem os antigos torturadores e apontarem aqueles que sujam o nome da corporação. Eu me pergunto como a nova geração de oficiais consegue conviver com a mancha de um passado tão sombrio.”

A Comissão Nacional de Familiares de Mortos e Desaparecidos e os Movimentos de Defesa dos Direitos Humanos e contra a tortura conseguiram mobilizar setores da sociedade, obter apoio no Congresso e em 4 de dezembro de 1995, o Presidente FHC sancionava a Lei nº 9.140, reconhecendo como mortas as pessoas desaparecidas em razão da participação em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1974 e estabelecendo uma indenização para suas famílias a título reparatório.

Foi criada uma comissão especial para analisar os processos. As famílias ficaram com o ônus da prova. Foi muita luta para conseguir desmontar as versões oficiais, mas a grande maioria conseguiu comprovar a responsabilidade do Estado no desaparecimento de seus parentes. Entre eles, Rubens Paiva, herói do povo brasileiro.

A Hora da Verdade

A Lei 12528/2011 criou a Comissão Nacional da Verdade (CNV), instituída em maio de 2012, com a finalidade de apurar graves violações de Direitos Humanos, praticadas por agentes públicos, ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988.

Segundo o ex-Procurador Geral da República, Cláudio Fonteles, que coordena a CNV, documentos encontrados no Arquivo Nacional em Brasília e na residência do coronel Júlio Molinas, chefe do DOI-Codi do Primeiro Exército, assassinado em Porto Alegre, comprovam que Rubens Paiva foi realmente executado pela repressão militar.

Em depoimento à imprensa, Vera Paiva, filha do ex-deputado Rubens Paiva, professora de psicologia na USP, afirma que “…depois que estiver concluído o relatório da comissão, cabe ao Brasil decidir o que quer para o país. Nós vamos esquecer e dizer tudo bem? E vamos perdoar quem fez? Ou vamos dizer que isso é inaceitável hoje, ontem e no futuro? Será um segundo debate político e democrático para traçar o futuro do Brasil.

Não falo apenas do cotidiano das famílias marcadas pelo período de exceção. Incontáveis famílias ainda hoje, em 2011, sofrem em todo o Brasil com prisões arbitrárias, sequestros, humilhação e a tortura. Sem advogado de defesa, sem fiança. Inúmeros dados indicam que especialmente brasileiros mais pobres e mais pretos, ou interpretados como homossexuais, ainda são cotidianamente agredidos sem defesa nas ruas, ou são presos arbitrariamente, sem direito ao respeito, sem garantia de seus direitos mais básicos à não discriminação e à integridade física e moral que a Declaração dos Direitos Humanos consagrou na ONU depois dos horrores do nazismo em 1948. Isso tudo continua acontecendo”.

Se ficarmos omissos, alerta Vera Paiva, “ …seremos cúmplices do sofrimento de milhares de famílias ainda afetadas por essa herança de horror que agora não está apoiada em leis de exceção, mas segue inquestionada nos fatos”.

Luiz Alves é advogado e escritor

Obras Consultadas
– Mortos e Desaparecidos Políticos: Reparação ou Impunidade? Organizado por Janaína Teles, São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2000.
– Dos filhos deste solo, Nilmário Mranda e Carlos Tibúrcio. Editora Fundação Perseu Abramo e Boitempo Editorial, São Paulo, 1999.

Vá em frente, Latuff!

Carlos LatuffCarlos Latuff, 44, cartunista renomado que afirmou sua arte denunciando os crimes contra a humanidade, especialmente os praticados contra o povo palestino e o seu legítimo direito a organizar um Estado soberano e autônomo, vem sendo perseguido sistematicamente pelos nazi-sionistas de plantão. Em novembro de 2012, o rabino Marvin Hiers, fundador do Centro Simon Wiesenthal, acusou-o publicamente na internet de ser “pior que antissemita” por fazer críticas, através de charges, ao governo de Benjamin Nethanyahu e sua política de bombardear os territórios palestinos. Latuff foi considerado o terceiro maior antissemita da atualidade, atrás somente do líder Mohammed Badie (guia espiritual do partido islâmicoegípcio Irmandade Muçulmana), e do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad.  Depois dele vem um clube inglês que, num bairro judeu de Londres, louva as câmeras de gás; partidos antissemitas na Grécia e na Ucrânia também vêm depois do nome do cartunista brasileiro. Latuff há 13 anos colabora com A Verdade. Dedica seus traços a desenvolver a consciência do povo, dos trabalhadores, e a fortalecer uma imprensa socialista comprometida com as mesmas causas defendidas por ele. Destemido e corajoso, nunca compactuou com as injustiças promovidas pelos seguidos governos de Israel contra uma população praticamente indefesa que se utilizou de pedras para impedir que um dos países mais bem-armados do mundo dizimasse toda uma nação por considerar que as terras palestinas são solo sagrado judeu.

O cineasta Sílvio Tendler, em sua carta de agradecimento à solidariedade manifestada por Latuff quando do seu indiciamento por processo movido contra ele pelo presidente do Clube Militar, diz: “Antissionista, sim; antissemita, não. Até porque, de descendência árabe, você também é semita…”. Fica claro que o rabino que o acusa quer criar confusão a fim de defender o indefensável: o governo terrorista e assassino de Israel.

Até a desmoralizada Organização das Nações Unidas, a ONU, se rendeu às pressões internacionais e, numa decisão inédita, em 29 de novembro do ano passado, reconheceu os territórios palestinos como um Estado Não Membro da organização, com status político de observador, tal como o Vaticano. Desta forma, os palestinos terão direito a participar de agências das Nações Unidas. Ao mesmo tempo, a Palestina poderá recorrer aos organismos da ONU e à Corte Penal Internacional para protestar, pedir sanções internacionais ou mesmo solicitar uma intervenção militar contra a ocupação do seu território por Israel, por exemplo. Os neonazistas travestidos de defensores do antissemitismo estão com seus dias contados, assim como os governos sionistas de Israel que pregam a guerra fratricida entre os povos árabes, para facilitar e justificar as intervenções militares e o roubo das riquezas minerais estratégicas do Oriente Médio pelo imperialismo.

Vá em frente, Latuff, porque os verdadeiros democratas, amantes da paz e defensores dos direitos dos povos à sua autodeterminação, independência e soberania sempre estarão ao seu lado e de todos aqueles que agem sem medo dos poderosos e exploradores dos povos.

(Subscreva o abaixo-assinado em solidariedade a Latuff: jakobskind@hotmail.com)


Redação Rio

Cuba realiza 3ª Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo

conferência CubaA 3ª Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo, em homenagem ao 160º aniversário do nascimento de José Martí, realizada no Palácio das Convenções, em Havana, Cuba, contou com a participação de delegados de 44 países. O evento aconteceu entre os dias 27 e 30 de janeiro e contou com a presença de cerca de 740 delegados estrangeiros, mais 250 delegados cubanos.

A Conferência foi convocada por 32 entidades de Cuba, entre ministérios, Centro de Estudos Martianos, sindicatos, movimentos, institutos e organizações políticas. Colaboraram com a organização algumas instituições internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), entre outras.

Durante os três dias de debates, painéis e intervenções especiais, foram expostos ao público 187 trabalhos de todos os países. Na cerimônia de abertura, no dia 28 de janeiro, o ponto alto foi a entrega do Prêmio Internacional da Unesco “José Martí” a Frei Betto, religioso e escritor brasileiro ligado à Teologia da Libertação. Em sua intervenção, Frei Betto arrancou risos da plateia quando disse: “para se manter o equilíbrio do mundo em um país governado por um Partido Comunista, colocaram alguns cristãos na Conferência dos quais um sou eu. Assim se mantém o equilíbrio”.

E mais: “Martí foi o maior dos pensadores, o maior dos homens que lutaram pela libertação dos povos da América Latina, que contribuiu para o equilíbrio do mundo”, e que “em uma sociedade contraditória, em que o sistema esforça-se por construir um padrão de homem consumista, enquanto os povos lutam contra a opressão, devemos seguir o exemplo dos cinco heróis cubanos presos injustamente nos EUA”. E terminou dizendo: “O socialismo é a expressão política do amor!”.

Na manhã do dia 28, foi exposto num painel o trabalho A imprensa e o processo da formação social da juventude pelas estudantes de Pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Thays de Oliveira Santos e Tássia Maria Barbosa da Silva. O jornal A Verdade foi o órgão de imprensa que serviu de objeto para a pesquisa das estudantes, que concluíram seu trabalho dizendo: “instrumentos de formação intelectual alternativos, como órgãos de imprensa, redes sociais, ONGs, sindicatos, associações estudantis, cumprem o papel significativo na formação intelectual e ideológica dos que a esses têm acesso”. Além do eixo A juventude como setor dinâmico da sociedade: necessidade de um diálogo de gerações, foram debatidos os eixos José Martí e sua dimensão política e social; Desenvolvimento sustentável, equidade e justiça social; A educação e o mundo atual; Sociedade e meio-ambiente: condicionantes humanísticas; A arte e a literatura: um rol social?.

Liberdade para os cinco

No dia 29, terça-feira, o presidente da Assembleia Nacional do Poder Popular de Cuba, Ricardo Alarcón de Quesada, fez uma intervenção especial sobre os cinco patriotas cubanos, presos injustamente nos EUA. Ele lembrou que “não há uma só prova de que os cinco tenham atentado contra o Governo americano”, e que por isso não se justifica o aprisionamento e a consequente dor causada aos seus familiares. Em seguida, na presença de algumas esposas e mães dos cinco heróis, foi lançado oficialmente o livro Los últimos soldados de la Guerra Fría (Os últimos soldados da Guerra Fria), do escritor e intelectual brasileiro Fernando Morais. Eixos como José Martí, a educação e a cultura; Os meios e as novas tecnologias da informação; A humanidade ante aos dilemas globais; O diálogo de civilizações e a cultura de paz, também foram debatidos nesse dia.

Durante todo o dia 30 de janeiro, foram expostos trabalhos sobre os eixos O terrorismo, o narcotráfico, a pobreza, a violência e a discriminação; A crise econômica mundial; América Latina e o Caribe: a integração sonhada; Simón Bolívar e José Martí e o equilíbrio do mundo.

A mesa de encerramento foi composta por várias autoridades e personalidades internacionais, incluindo o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que pediu um minuto de silêncio em homenagem as vítimas do incêndio em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. A Conferência foi encerrada com um jantar servido ao som de música caribenha.

Bruno Melo e Thays Santos, Havana

Cresce o número de russos que preferem o sistema soviético

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Cresce o número de russos que preferem o sistema soviéticoEm pesquisa conduzida entre os dias 18 e 21 de janeiro de 2013 pelo Instituto Levada Center (antiga VCIOM, na União Soviética), o número de russos que preferem o sistema soviético ao capitalismo cresceu consideravelmente em comparação com o ano anterior.

Cerca de 36% dos pesquisados consideram o sistema soviético o melhor para o país, comparados com 29% em 2012. Já o número dos que preferem a “democracia ocidental” caiu de 29% para 22%.

Apenas 17% afirmaram que permanecem leais ao sistema político existente, o que também apresenta uma queda, já que eram 20% em 2012.

A pesquisa também perguntou sobre o sistema econômico, e os resultados agora mostram que mais da metade da população (51%) prefere um modelo econômico baseado no planejamento central (eram 49% em 2012). Apenas 29% preferem um sistema de propriedade privada e livre mercado, uma queda brusca em relação ao ano anterior, quando eram 36%.

Mário Lopes

Comissão da Verdade precisa ter ‘mais atitude’, afirma Marcelo Rubens Paiva

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Marcelo Rubens Paiva“A Comissão Nacional da Verdade é muito tímida”, disse o escritor Marcelo Rubens Paiva, 53, em entrevista à Folha, em seu apartamento em São Paulo. O filho do deputado cassado Rubens Paiva, um dos principais desaparecidos políticos da ditadura militar (1964-1985), afirmou que esperava um “pouco mais de atitude” do grupo que investiga os crimes do Estado.

Um exemplo, afirma, é o recente episódio da morte do coronel Júlio Miguel Molinas (ex-chefe do DOI-Codi do Rio), em novembro, no Rio Grande do Sul. A família de Paiva recebeu a informação de que, tão logo Molinas morreu, o Exército recolheu em sua casa caixas que conteriam documentos sobre crimes da ditadura.

A Comissão da Verdade recebeu da família do coronel documentos desse arquivo referentes aos casos Rubens Paiva e Riocentro, mas Marcelo diz acreditar que a maior parte foi escondida pelo Exército.

Ora sarcástico, ora angustiado pelos 42 anos de espera pela verdade, o escritor comentou a divulgação pela Folha, na última segunda-feira (4), de um documento inédito que indica que Rubens Paiva morreu nas dependências do DOI-Codi, em janeiro de 1971.

O autor de “Feliz Ano Velho” disse ainda que a grande personagem da família é sua mãe, Eunice, que sofre do mal de Alzheimer. Ela se tornou uma pioneira da luta pelos direitos humanos no país logo após sair da prisão, dias depois da morte do marido.

Folha – O caso do desaparecimento do seu pai está solucionado para a família?
Marcelo Rubens Paiva – Não. Até agora, o que foi revelado a gente já sabia, só não tinha o documento, o timbre. A novidade é a prova de que ele foi morto nas dependências do DOI-Codi. Mas a gente já sabia que ele morreu ali dentro.

O que falta ser descoberto?
Primeiro, quando ele realmente foi morto. Segundo, o que fizeram com o corpo, onde está, como foi essa operação. São os mesmos torturadores que torturaram todos os caras no DOI-Codi do Rio no mesmo período. Tenho muita curiosidade de ver esses caras prestando depoimento, o que parece que é um próximo passo.

A Comissão da Verdade está bem amparada em termos de informação?
A comissão é muito tímida. Vou ser bem fantasioso, como escritor eu gosto de fazer comparações absurdas, mas eu esperava um Kevin Costner, do filme “Os Intocáveis”, uma forma de caçar os verdadeiros gângsteres com um pouco mais de atitude. A comissão tinha que bater na porta dos caras que ela quer que sejam ouvidos. Contrasta um pouco com o que foi a repressão política, como as Forças Armadas se comportaram e como a comissão ataca esses objetivos de esconder a verdade.

Quando ela foi tímida?
No caso do coronel Júlio Miguel Molinas, ex-chefe do DOI-Codi do Rio, lá no RS. A gente ouviu falar que, um dia depois da morte dele [1º de novembro], houve uma operação do Exército que cercou a casa e levou caixas e caixas de documentos. A Comissão da Verdade é que deveria ter chutado a porta do cara com um grupo de investigadores de alto nível, porque afinal é uma comissão oficial do governo brasileiro. Devia ter pegado essas caixas. Se por um lado o Exército vai lá e chuta a porta, a comissão pede um ofício. É tudo muito lento.

A comissão avisa a família antes de divulgar?
Não. Foi uma queixa da família. A gente não quer mais ficar lendo as coisas pela imprensa, é muito chato. A gente prefere ser avisado antes.

Por que o seu pai incomodava a ditadura militar?
Meu pai tinha 32 anos quando foi deputado federal e se descobriu que estava um clima de pré-golpe, através do Ibad (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), para criar um clima de que o Brasil tinha possibilidade grande de se tornar um satélite soviético. E meu pai fez essa CPI, chegou a inquirir generais que tinham recebido cheques.

Houve o golpe, foi até mais rápido do que se imaginava. Meu pai foi exilado, voltou escondido e ele manteve contatos com o pessoal da esquerda, do Partido Comunista Brasileiro, com os jovens que tinham votado nele. Junto com outras centenas de brasileiros, ajudava essas pessoas. Ajudava a esconder pessoas, por exemplo. Vira e mexe, dormia uma pessoa na minha casa que eu não sabia quem era, acho que era do Partido Comunista Brasileiro.

Seus pais lhe contavam sobre o que era essa movimentação política que tinha na sua casa?
A gente sabia. A Eliana Silveira, uma grande jornalista, é uma que eventualmente dormia na minha casa, no meu quarto. Eu ficava pê da vida porque eu quem tinha que sair do meu quarto. A gente não perguntava, mas a gente sabia que era uma coisa que não se podia perguntar, não era coisa para criança. Mas não tinha dinamite, metralhadoras, nem eram guerrilheiros. Geralmente era mais o pessoal do partidão que se escondia na minha casa.

Qual é a sua lembrança do dia em que seu pai foi preso?
Eu tinha 11 anos. A casa toda cheia de militares com metralhadoras. Era patético porque eles achavam que era um “aparelho”. E era feriado, Dia de São Sebastião. Deu praia. Em frente à minha casa, tinha uma rede de vôlei famosa, que era a do Chico Buarque e da Marieta [Severo].

Ali era um point, as pessoas iam para a praia e deixavam as coisas lá em casa. Então iam chegando. Chegou o namorado da minha irmã, de 16 anos, e prenderam o cara. Chegou o neto do Caio Prado Jr., coincidentemente ideólogo comunista no Brasil, que ia para a praia, e prenderam. Era contrastante com o que aquela casa representava.

Existem algumas hipóteses para qual pode ter sido o destino do corpo do seu pai. Qual versão, na visão da família, é a mais provável?
Esse corpo eu acho que ele não foi para um lugar e está até hoje, eu acho que ele deu uma passeada. A primeira hipótese é a de que ele tenha ido para a Barra da Tijuca, que na época era um lugar ermo.

Existe a possibilidade de ele ter sido enterrado também no Corpo de Bombeiros do Alto da Tijuca, chegou até a ser aventada a possibilidade de uma grande varredura, que começou a ser operada pelo “Fantástico”, pelo Pedro Bial, dirigindo um trator, mas nunca se achou um corpo.

Você quer que os responsáveis pela morte do seu pai sejam punidos?
Tem ditador na Argentina preso, o Alberto Fujimori está preso, tem cara no Chile preso. Se isso poderia acontecer no Brasil? Seria o ideal, mas é difícil.

Será que a sociedade quer isso? As sociedades argentina, chilena e uruguaia quiseram. Eu acho que, se fôssemos realmente até o fim, o ideal seria uma punição mesmo.

Você, nesses 42 anos, já fez algum tipo de investigação pessoal dessa história?
Não. Já recebi um telefonema de um cara que participou da tortura na Aeronáutica e não tive coragem de ir atrás. Ele morava no vale do Paraíba, e eu mandei o Pedro Bial. Coitado do Pedro Bial [risos]. Ele estava no “Fantástico” na época e falou: “Deixa que eu vou”. Chegou lá e o cara tinha sofrido um derrame, olha só! Não conseguia falar.

Eu nunca fui muito atrás. Eu sei onde esses caras estão, mas o que é que eu vou fazer? Vou lá e olhar para a cara dele e dizer: “Oi, tudo bem? Por que você fez isso?”. Não, não dá.

O único livro em que você escreveu sobre o caso do seu pai foi “Feliz Ano Velho”?
Foi. Na verdade, nem nesse livro eu tinha escrito. É tão engraçado isso, porque já tinha saído tanta coisa sobre o caso, e eu queria escrever sobre o meu acidente, sobre os problemas da minha geração.

Foi o Luís Travassos, ex-presidente da UNE, que estava voltando do exílio e falou: “Poxa, não vai falar do seu pai?”. Eu falei: “Nossa, é mesmo, esqueci”, e retomei. Porque eu sempre achei que minha mãe que iria escrever o livro sobre o meu pai.

No restante da sua obra, tem algum livro que se aproxima deste tema?
Tem um que escrevi sobre a Guerrilha do Vale do Ribeira, que é chamado “Não És Tu Brasil”. Minha família tinha fazenda no vale do Ribeira, exatamente onde ocorreram alguns confrontos. Eu conhecia detalhes daquela história que eu poderia revelar e que a imprensa não conseguia porque eles tinham muito medo de falar. Eu conseguia falar com os caras, eram meus amigos de infância.

As pessoas que eu estava pesquisando foram presas e torturadas pelos mesmos repressores por quem meu pai foi preso e torturado. Só no final disso que eu percebi como eu estava fazendo esse caminho, como escritor-historiador, em busca do que aconteceu de fato com o meu pai. Através de um livro de ficção eu soube mais sobre o que aconteceu com o meu pai do que pesquisando exatamente o que aconteceu com ele.

“Feliz Ano Velho” se integra a uma série de outros livros daquele pós-ditadura, que é uma época de revolução de costumes culturais…

O projeto era mais focado na renovação da literatura brasileira, da linguagem mais coloquial, mais brasileira, com o cotidiano de personagens mais ligados em cultura de massa, renovando não só a literatura, mas também uma forma de combater a ditadura, uma forma de se engajar politicamente.

Uma geração posterior à de 1968, que não participou da luta armada e que tinha uma ligação forte com o rock’n’roll, a experiência com drogas, a sexualidade sendo descoberta.

O ex-deputado Fernando Gabeira foi o nosso grande mentor, o primeiro a falar em drogas na literatura brasileira, o primeiro a falar em bissexualismo, falando das suas experiências no exílio e relatando o período da luta contra a ditadura de uma forma menos engajada e mais crítica. Eu acho que foi dessa retomada literária que eu fiz parte.

Você tem intenção de escrever sobre seu pai?
Tenho um projeto que é falar da luta da minha mãe. Descobri que a minha mãe foi muito mais importante que meu pai. Meu pai foi uma vítima da ditadura, escondeu pessoas, foi um deputado importante, foi cassado, foi para o exílio, voltou escondido, foi torturado violentamente.

Mas a grande personagem da família é minha mãe, fundadora da Comissão Brasileira pela Anistia, organizadora do movimento das Diretas-Já. Foi presa no dia seguinte ao meu pai, no DOI-Codi, saiu três dias depois. Desse dia em diante, o papel que ela teve foi o de uma verdadeira combatente contra a ditadura.

Você está parecido com seu pai com esse bigode. Foi de propósito?

Não, não, foi charme. Na verdade, estava tendo o Movember, um movimento para usarmos bigode pela prevenção contra o câncer de próstata. Tem essa coisa machista do homem que não faz exame de toque, né? Que é até gostosinho. E aí eu falei, “Ah, vou deixar meu bigode mesmo para protestar”.

Patrícia Britto
Fonte: FSP

Sobre o antisemitismo, por Joseph Stalin

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Judeus na URSS

Em resposta a uma pergunta da Agência Judaica de Notícias nos EUA, Joseph Stalin deu a seguinte declaração em relação ao antisemitismo:

O chauvinismo nacional e racial é um vestígio de costumes misantrópicos característicos do período do canibalismo. O antisemitismo, como uma forma extrema do chauvinismo racial, é o vestígio mais perigoso do canibalismo.

O antisemitismo é vantajoso para os exploradores como um para-raios, pois desvia os golpes destinados pelos trabalhadores ao capitalismo. O antisemitismo é perigoso para os trabalhadores como sendo um falso caminho que os tira do caminho correto e os leva para a selva. Os comunistas, portanto, como internacionalistas consequentes, só podem ser inimigos jurados e irreconciliáveis do antisemitismo.

Na União Soviética o antisemitismo é punível com a maior severidade da lei como um fenômeno profundamente hostil ao sistema soviético. Sob a lei da URSS antisemitas ativos são passíveis de pena de morte.

Joseph Stalin
Fonte: Obras Completas de J. Stalin, vol. XIII

Casos de trabalho escravo aumentam em 20 estados do Brasil

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Trabalho escravo no BrasilDe acordo com pesquisa da Comissão Pastoral da Terra (CPT), com dados ainda incompletos de 2012, já se constataram 189 ocorrências de trabalho escravo no País, com a libertação de 2.723 trabalhadores. O número de trabalhadores resgatados aumentou 11% em relação ao ano anterior e ainda pode ser alterado para mais, já que os resultados definitivos só serão divulgados em fevereiro, pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Ficam à frente na lista das atividades com trabalho escravo as lavouras e canaviais: foram 646 trabalhadores libertados em 36 ocorrências, mas continuam aumentando as ocorrências de trabalho escravo em atividades não agrícolas: 25 casos em 2012, dos quais 16 apenas na construção civil, em nove Estados, com 627 trabalhadores resgatados.

Em 2012, o Pará voltou ao topo do ranking em todos os critérios: número de casos (50), número de trabalhadores envolvidos (1.244) e número de libertados (519). O Tocantins vem logo em seguida com 22 casos, 360 envolvidos e 321 libertados; vêm depois Minas Gerais (287 trabalhadores resgatados), Paraná (246), Goiás (201), Amazonas (171), Alagoas (110), Piauí (97), Rondônia (46), Santa Catarina (45), além de outros. No conjunto, verifica-se o resgate de trabalhadores em 20 Estados do País, o que demonstra que essa prática criminosa persiste de Norte a Sul, mesmo diante das ações de órgãos do governo e de organizações sociais que lutam pelo seu fim.

Alguns casos merecem destaque, por terem ocorrido em locais ligados à família da senadora Kátia Abreu (PSD-TO), onde o irmão, André Luiz de Castro Abreu, foi apontado pela Superintendência Regional de Trabalho e Emprego do Tocantins como coproprietário da fazenda Água Amarela (plantio de eucalipto e produção de carvão). Aí foram resgatados 56 trabalhadores. Em São Félix do Xingu (PA), foram libertados quatro trabalhadores na fazenda de parentes do banqueiro Daniel Dantas, cuja irmã, Verônica Dantas, e o ex-cunhado, Carlos Bernardo Torres Rodenburg, são proprietários da Agropecuária Santa Bárbara.

Por fim, vale relembrar a ação realizada em agosto de 2012 na fazenda de gado Alô Brasil, em Marabá (PA), que foi acompanhada por quatro deputados da CPI do Trabalho Escravo e resultou na libertação de oito trabalhadores. Na ocasião, o insuspeito deputado federal Giovanni Queiroz (PDT/PA), integrante da bancada ruralista (que costuma contestar a existência de trabalho escravo no País) considerou a situação “vergonhosa e constrangedora”.

Ato em Brasília denuncia Acordo Coletivo Especial

Ato em Brasília denuncia Acordo Coletivo EspecialRepresentantes do Movimento Luta de Classes (MLC) marcaram presença no ato realizado em Brasília contra a flexibilização dos direitos trabalhistas.

Numa grande tenda armada na Esplanada dos Ministérios, cerca de 800 trabalhadores e entidades vindas de 17 estados do Brasil participaram do ato contra o chamado ACE – Acordo Coletivo Especial e contra os ataques a aposentadoria. Várias lideranças sindicais fizeram críticas a possibilidade de adoção do ACE e suas consequencias para os trabalhadores. Na parte da tarde um grupo foi até a Câmara dos Deputados, acompanhada de diversas entidades, cobrar dos deputados o fim do fator previdenciário e defender as reivindicações históricas do movimento sindical.

O ACE é um projeto construído e defendido pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC/SP, filiado a CUT, e pelas grandes empresas multinacionais como a Volksvagen e a Mercedes Benz, por exemplo.

Na verdade o ACE é uma proposta de conciliação de classes, retirada e flexibilização dos direitos, a proposta pretende que o negociado prevaleça sobre o legislado, ou seja, que os sindicatos possam fecharf acordos com as empresas que valham sobre os direitos contidos na Convenção Coletiva do Trabalho (CLT). Dessa forma, se aprovado este projeto, estariam legalizados acordos que, por exemplo, permitem a divisão das férias em mais de dois períodos; o pagamento parcelado do 13º salário, até mesmo em parcelas mensais; a ampliação do banco de horas sem limites; contratação temporária; a terceirização dentro das empresas sem nenhum limite, além de outras manobras. Assim, os sindicatos e os patrões negociariam com os direitos dos trabalhadores e não para melhorarem os mesmos.
“…infelizmente essa posição é defendida por um sindicato com uma historia de luta tão grande como o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista.

Principalmente numa conjuntura de crise do sistema capitalista no qual a metalurgía é um dos setores mais afetados, com ameaças e demissões em massa como, por exemplo, na GM, na Mercedes Benz e na ArceloMittal, com uma política de terceirização do trabalho, de péssimas condições de trabalho, segurança, arrocho salárial e mortes de trabalhadores. Quem está mais feliz com essa proposta são os patrões. É necessário e união de todos os sindicatos para barrar qualquer tentaiva de sacrifício aos trabalhadores”, declarou Leonardo Zegarra, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Mário Campos, Brumadinho e Região.

Com a ofensiva patronal sobre os trabalhadores é dever de todo sindicato lutar pela regulamentação da Convenção 158, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que proíbe a dispensa imotivada, que seria garantia de emprego. Apresentadas como se fosse proposta dos trabalhadores, tanto o ACE quanto a proposta de substituição do Fator Previdenciário, em trâmite no Congresso, o Fator 85/95, são formas de retirada de direitos dos trabalhadores. Em 2013 é preciso unir forças e combater mais esse ataque do capital contra os trabalhadores. Não podemos permitir que isso seja aprovado.

Entre as iniciativas indicadas em Brasília durante as disucssões sobre o ACE está a de realização de uma marcha nacional que deverá ser convocada para a primeira quinzena de abril.

Movimento Luta de Classes – MG

Senhores da mentira

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Mixagem intercalando as condenações dos EUA contra outros países (Síria, Líbia, Iran), e as cenas de guerra campal entre a polícia americana e o movimento Occupy Wall Street.

Mostrando que o governo dos EUA viola todas as coisas que eles cobram dos outros países, e fazem muito pior, são o país que mais faz guerra e que mais violam os direitos humanos no mundo.

Há sempre propaganda para manter o povo americano com medo de ataque.

Como todos os velhos filmes e jogos, vemos que os EUA estão sob ataque.

Foi o mesmo tipo de propaganda sionista feita para estabelecer o novo estado de Israel.

Eles sempre afirmam que estão sob ataque e opressão.

Então eles usam isso para legitimar tudo o que fazem de errado.

Homenagem a Victor Jara

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Trechos do DVD “Homenaje a Víctor Jara”, do grupo Quilapayún. O repertório deste concerto foi totalmente dedicado ao ex-integrante do grupo Victor Jara.