A economia alemã continua praticamente estagnada e à beira da recessão, de acordo com o Gabinete Oficial de Estatísticas, que divulga dados contrariando muito em baixa as previsões oficiais do governo de Angela Merkel.
A economia alemã cresceu apenas 0,7 por cento em 2012 e a atividade econômica sofreu mesmo uma contração de 0,5 por cento no último trimestre do ano. O governo previra um crescimento bastante superior, de 1,6 por cento, e o valor do ano passado fica muito aquém do crescimento oficial de 3,1 por cento em 2011, já corrigido por todos os ajustamentos.
Ainda antes de o governo anunciar as suas previsões para 2013 o Bundesbank, banco central, limitou para já as do crescimento econômico a 0,5 por cento. As quedas de 2012 foram as mais elevadas desde o período de recessão de 2009, admitindo-se que a Alemanha consiga escapar ao resto da recessão, ao contrário do resto da Zona Euro, devido aos últimos registos sobre a subida de confiança dos empresários. Essa tendência pode no entanto ser contrariada pelo efeito devastador dos projetos do governo Merkel de cortar mais seis mil milhões de euros no setor público em 2013, com novos aumentos de impostos, o que irá atingir em cheio o já debilitado consumo privado, salários e emprego. A chanceler afirma que o objetivo é atingir o “déficit zero” a todo o custo.
A quebra de atividade da economia alemã decorre, segundo os dados divulgados no país, da crise da Zona Euro, cuja existência foi negada pelo presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, nas suas mais recentes declarações em Portugal.
Devido à situação econômica na Eurozona, e sobretudo aos efeitos da austeridade, as exportações alemãs cresceram o ano passado apenas 4,1 por cento, contra 7,1 por cento em 2011; as importações cresceram ainda menos, não foram além de 2,3 por cento.
O consumo privado cresceu 0,8 por cento, menos de metade do que em 2011; o investimento recuou, sobretudo em bens de equipamento, cuja queda foi de 4,4 por cento.
Os governos nacionais serão obrigados a recapitalizar os bancos em dificuldades a par do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MES) de acordo com documentos do Eurogrupo em debate no processo de criação da união bancária.
O Conselho Europeu, nos termos de documentos divulgados pelo Wall Street Journal, defende que os bancos com problemas só poderão receber apoio direto no caso de os governos nacionais terem capacidade para cobrir esse apoio ou se as suas eventuais falências tiverem repercussões a nível interno ou em toda a Zona Euro.
Outra condição para que os bancos possam aceder a financiamento para recapitalização será a de terem capitais próprios equivalentes a pelo menos 4,5 por cento dos instrumentos financeiros inscritos nas suas contas.
Os documentos em discussão no Eurogrupo sugerem que no sentido de os governos nacionais assumirem as perdas dos bancos os Estados membros devem “fazer contribuições de capital ou dar garantias equivalentes a uma certa percentagem do Mecanismo de Estabilidade”.
Na sexta-feira, 11 de janeiro, morreu em Brasília, vítima de um quadro de infecção generalizada, o Padre José Haroldo Bezerra Coelho, de 77 anos, militante político e defensor das causas sociais. Padre Haroldo nasceu em Fortaleza, no dia 24 de março de 1935. Era o quinto filho de uma família de seis homens e duas mulheres. A mãe era dona de casa e o pai, funcionário dos Correios.
Padre Haroldo iniciou os estudos religiosos aos 14 anos, no Seminário Menor dos Padres Lazaristas. Ordenou-se diácono pela diocese de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, em 1963. No ano seguinte, na mesma diocese, recebeu ordenação presbiteral. Sua ordenação definitiva veio em novembro de 1964, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Fortaleza. Cursou a Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira, em São Paulo, e licenciou-se em Ciências Sociais. Fez pós-graduação na Universidade de Sorbonne, na França.
Em 1986, padre Haroldo se candidatou ao Governo do Estado do Ceará pelo PT (Partido dos Trabalhadores), mesmo contra a vontade dos setores conservadores da igreja católica, e disputou o governo com o coronel Adauto Bezerra e o empresário Tasso Jereissati. Sua campanha ganhou bastante simpatia dos trabalhadores, camponeses, donas de casa, estudantes e de todos os setores oprimidos da sociedade, tendo adotado o título de “O governador do Povo”. Insatisfeito com os rumos do PT, Padre Haroldo militava atualmente no PSOL (Partido Socialismo e Liberdade).
Nas palestras e rodas de discussões, sempre quando abordado sobre religião, dizia: “Jesus foi um revolucionário, por enfrentar o Alto Clero judaico, que fez da religião um instrumento de exploração do povo”. As missas realizadas pelo Padre Haroldo fugiam dos padrões convencionais e eram espaços de muitas denúncias políticas, como o desemprego. “O que é que adianta mandar levantar a carteira de trabalho? Adiantaria dizer: ‘Vamos rezar e viver muito bem, mas vamos nos organizar, até mesmo porque emprego não cai do céu”’. Além do amor à luta, Padre Haroldo tinha outra paixão: o futebol. Era torcedor do Ferroviário Atlético Clube.
Padre Haroldo foi um exemplo de luta e dedicação às transformações sociais. Nunca se intimidou perante os interesses dos mais ricos, e realmente cumpriu os verdadeiros ensinamentos de Jesus Cristo e lutou pelos direitos roubados dos mais pobres. Homem de coerência, compromisso e resistência, seu corpo foi sepultado no cemitério Parque da Paz, em Fortaleza, no dia 13 de janeiro.
A empresa de call center AeC, instalada em Belo Horizonte, MG, encerrou seu contrato da central de atendimento 135 da Previdência Social no dia 21 de dezembro, após 2 anos de contrato, ação com a qual demonstrou a total falta de respeito com que trata seus trabalhadores.
A empresa confirmou o fim da operação com aproximadamente 25 dias de antecedência. A partir de então a AeC começou uma série de arbitrariedades. Coagiram os trabalhadores individualmente a assinar uma lista em sala fechada com coordenadores, onde foi informado a mudança para a operação de TV por assinatura SKY. Com isso, a escala de trabalho, que era 6 por 1 com folga aos domingos e em feriados nacionais, mudou para uma escala de 5 por 1 com uma folga no domingo por mês e trabalhando em todos os feriados nacionais. Além disso a lista não tem nenhum valor jurídico, sendo o objetivo da empresa simplesmente forçar os trabalhadores a se submeterem à sua vontade. Como se não bastasse, a AeC teve a coragem de dizer que os trabalhadores que não assinassem a lista estariam cometendo uma “fraude”. Houve ainda ameaças de transferência para operações de telefonia ou demissões (mas só se o operador pedisse conta), agindo com uma total falta de diálogo com os operadores.
Com tudo isso, no dia 21 de dezembro o sindicato da categoria – Sinttel-MG -, junto ao Movimento Luta de Classes (MLC) articularam uma paralisação em protesto a essa total falta de respeito. A paralisação contou com o apoio de 100% dos trabalhadores. Ninguém entrou para trabalhar mesmo com a reclamação dos gerentes da empresa. Por cerca de uma hora todos permaneceram na porta da AeC gritando palavras de ordem e lutando por seus direitos. Com a paralisação foi conquistado um bônus de 300 reais pago em duas vezes e um aumento real de 3% a todos trabalhadores.
Assim ficou clara a necessidade dos trabalhadores se organizarem para conquistarem seus direitos. Apenas com a mobilização e decisão de luta transformaremos nossa realidade, superando todas as dificuldades que um trabalhador do call center conhece muito bem.
A adesão à paralisação foi de 100%
O Movimento Luta de Classes articulou a paralisação junto ao Sinttel-MG
Dois anos atrás, após ganhar cerca de 150 euros num trabalho temporário, o aposentado Lazarishvili pagou cerca de 40 euros para restaurar a pintura e o bronze de uma estátua de Stalin que ficava em sua cidade natal, Telavi, na parte oriental da Geórgia. Não muito tempo depois, o governo de direita de Saakashvili confiscou a estátua sob a alegação de que ela representava “ideais soviéticos”.
Para Lazarishvili isso foi um tapa em seu rosto. “Stalin foi a pessoa mais humana”, disse Lazarishvili contemplando outra estátua de Stalin, esta na cidade de Zemo Alvani. “Ele amparava as pessoas pobres e nunca puniu nem 1% (um por cento) daqueles que mereciam punição. Deveríamos imita-lo no seu cuidado com as pessoas”.
Naquele dia a cidade de Zemo Alvani celebrava o aniversário de Stalin com o retorno da estátua, mas em 2011 a mesma campanha anti-soviética removeu também este monumento, além de vários outros em diversas cidades. Os cidadãos de Alvani esconderam a estátua em uma fábrica de sorvetes abandonada mas acabaram danificando-a no processo.
Após as eleições de outubro último, que varreram o partido direitista de Saakashvili do poder, os cidadãos de Zemo Alvani se sentiram livres para restaurar a estátua e retorna-la para o que consideravam seu devido lugar.
Eles coletaram dinheiro e reinauguraram o monumento no dia do aniversário de Stalin.
Entre o público presente havia pessoas que viveram durante os anos de Stalin. Alguns dedicaram poemas ao líder bolchevique, lembrando a educação gratuita no período soviético.
Havia também diversos jovens que nem chegaram a conhecer o governo soviético, menos ainda a liderança de Stalin, mas demonstrando enorme entusiasmo.
Tsiskarishvili contribuiu na restauração da estátua de Stalin
Visitante em Zemo Alvani celebra restauração do monumento
Levan Otiuridze, um estudante de direito de 22 anos da Universidade de Tbilisi, afirmou que a juventude foi a força motriz neste processo de restauração.
“Sabemos que toda essa informação negativa sobre Stalin é fabricada”, afirmou. “Esperamos que este novo governo respeite nossa posição, caso contrário os tiraremos de lá”.
“Eu vim aqui porque eu amo Stalin e amo o meu povo”, disse Phatima Patishvili, moradora de Zemo Alvani. “Eu me lembro quando tinha 12 anos o quanto minha avó chorou quando Stalin morreu”.
A vontade do povo
Enquanto a cidade de Zemo Alvani celebrava a restauração do monumento, a cidade de Gori, berço de Stalin, estava em meio à reconstrução de um parque que irá abrigar sua própria estátua do líder soviético – a mesma que foi removida da praça principal em 2010 sob protestos da população.
Esta estátua, erigida em 1952, um ano antes da morte de Stalin, foi movida então para o Museu Joseph Stalin, em Gori.
Soso Vakhtangishvili, parlamentar eleito no ano passado, afirma que se os moradores estão exigindo a restauração da estátua então isso deve ser uma prioridade para o governo local.
“Se as pessoas querem a estátua de Stalin de volta o governo local deve encaminhar essa questão”, disse.
O aposentado Lazarishvili retornou à sua cidade, Telavi, na noite seguinte à comemoração do aniversário de Stalin em Zemo Alvani.
“Olhando para aquela estátua eu sinto que Stalin e suas ideias estão vivas”, afirmou.
O governo francês decidiu intervir com suas tropas no Mali.
Depois da Costa do Marfim e Líbia, agora Mali. É uma decisão que põe a França em guerra contra uma de suas antigas colônias.
Desde que o norte do Mali se encontra em poder de grupos armados islamitas, esta foi a única opção adotada.
Desde o princípio, François Hollande vem se mobilizado junto à ONU por um sinal verde para uma intervenção militar, enquanto o Estado Maior e a diplomacia francesa organizavam as medidas concretas.
Personagens como Ouattara, empossado na Costa do Marfim por meio de uma intervenção militar em que a França desempenhou o papel principal, Campaoré, a frente da Burkina Fasso, que nunca deixou de servir aos interesses do imperialismo francês na região fosse qual fosse o governo empossado em Paris, e Yayi Bone, o autocrata beninês, servem de anteparo “africano” a essa intervenção militar. Quem pode acreditar que a Cedeao (Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental) está em condições de formar uma força independente do exército francês? Do contrário, o que está claro é que o efetivo militar francês a postos na África recentemente foi mobilizado para essa operação.
Utilizam para justificar essa intervenção militar francesa o pretexto de lutar contra os grupos armados islamitas que controlam uma parte do território malinês, ameaçam a integridade do Mali e impõem terror nas zonas que controlam. Entretanto, a presença e a facilidade com que se implantam as tropas francesas trazem à tona os profundos problemas sociais, econômicos e políticos, que os regimes que já passaram pelo poder no país foram não só incapazes de resolver, mas, muitas vezes, tornaram ainda piores. Uma intervenção militar, e pior, uma intervenção militar estrangeira, não resolverá nenhum desses problemas, pelo contrário, os agravará.
As forças malêsas denunciaram essa situação e rechaçaram desde o principio uma intervenção militar estrangeira; pronunciaram que a questão da integridade territorial de Mali é responsabilidade do exército malês. Eles não foram ouvidos.
A operação militar é complicada e necessitará de tempo e grandes investimentos. As vítimas são, antes de tudo, as populações civis presas entre o fogo cruzado.
A intensificação do plano “vigipirate” faz parte da estratégia de tensão e convencimento da população francesa de que ela pode ser alvo de atentados e de que os autores estão ligados de uma forma ou outra aos grupos islamitas que agem no Mali. A intenção do governo francês é criar um sentimento de unidade nacional, ao mesmo tempo em que implementa uma agressiva política de austeridade que golpeia as camadas populares.
Por trás dessa intervenção está o objetivo de controlar uma área rica em matérias primas estratégicas, notadamente o urânio, que é explorado pela Areva no país vizinho, a Nigéria, e também se encontra no solo malês.
Por todos esses motivos, por que as guerras na Costa do Marfim, no Afeganistão e na Líbia já demonstraram amplamente que a justificativa de lutar contra o terrorismo e pela defesa da democracia não é mais que uma grande mentira, manifestamos nosso total desacordo com a intervenção militar da França no Mali.
Reafirmamos a necessidade de acabar de vez com a política conhecida pelo termo “françafrique”, uma política de dominação econômica e ingerência política e militar.
Afirmamos que cabe ao povo malês, às suas forças democráticas e patrióticas, encontrar a via para uma solução política à crise que atravessa seu país.
Paris, 12 de Janeiro de 2012 Partido Comunista dos Trabalhadores da França (PCOF)
Durante 20 dias, os trabalhadores contratados da empresa NORMATEL ENGENHARIA (terceirizados de uma das subsidiárias da Petrobras chamada LUBNOR – Lubrificantes Derivados do Nordeste) realizaram uma combativa paralisação para garantir o direito do reajuste nos salários de 8% previsto pelo Acordo Coletivo 2012. Desde junho do ano passado, o dono da empresa se nega a pagar o que o seu próprio sindicato (patronal) havia acertado com o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil. Exatamente por isso, este último encaminhou à Delegacia Regional do Trabalho uma denúncia e abriu processo na Justiça do Trabalho contra a NORMATEL, ainda em agosto, para garantir o pleno direito dos funcionários.
No período do processo, infelizmente, o Sindicato da Categoria sequer informou aos trabalhadores o que estava acontecendo, o que gerou imensa revolta de todos. No final de 2012, os membros da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) e outros companheiros procuraram o Movimento Luta de Classes após verem uma paralisação dos petroleiros organizada pelo Sindpetro. A partir de então o MLC, junto com uma comissão dos trabalhadores da empresa, encaminhou uma assembleia da categoria no dia 21 de dezembro e realizou uma paralisação de advertência de 1 dia para pressionar o patrão. Na ocasião, a direção da LUBNOR e da NORMATEL bloqueou os crachás de todos e os impediram de entrar após o feriado de NATAL. Vendo o desrespeito da empresa, os mesmos trabalhadores, profundamente indignados, decidiram parar as atividades até o dia 7 de janeiro. Esse era o fim do prazo dado pela Justiça do Trabalho para os patrões apresentarem uma proposta para pagar o aumento.
Mesmo assim, sem nenhuma preocupação com o processo, o patrão marcou a reunião somente para o dia 9 de janeiro. Todos decidiram, então, aguardar a notícia da negociação na porta da empresa. Numa demonstração de muita coragem e combatividade, os 94 funcionários realizaram uma assembleia na entrada do prédio com muita agitação e aguardaram durante 3 horas o resultado da reunião com os responsáveis da empresa. Na mesa de negociação, que contou com a participação de 5 trabalhadores democraticamente eleitos pela assembleia, num ato de cinismo e irresponsabilidade, os representantes da NORMATEL ENGENHARIA informaram que não pagariam o reajuste e esperariam a decisão da justiça. Em virtude da pressão, no entanto, informaram que não cortariam os salários nem a participação no lucro dos empregados e negociariam os dias parados, o que já representou uma vitória.
Fica clara a sede de lucro desse patrão MISERÁVEL! Embora o contrato com a LUBNOR seja de R$ 7 milhões, não se dispôs a pagar sequer o aumento salarial, o que não representa nem 2% do valor total desse mesmo contrato. Outra coisa muito importante: a própria LUBNOR sequer autuou ou penalizou essa empresa. Por que será? Mas, o dono da NORMATEL não perde por esperar! Os trabalhadores continuarão mobilizados para garantir seus direitos.
Por fim, é importante ressaltar que o mais importante foi a UNIÃO dos trabalhadores resultante dessa paralisação. A consciência de todos ficou ainda maior e puderam perceber que não é possível confiar em patrão e, portanto, o único caminho para a categoria, assim como para todas as outras, é muita LUTA.
Serley Leal (MLC) e Emanuel Oliveira (SINDPETRO), Fortaleza, Ceará
“Rubens Paiva foi assassinado no Exército”. A afirmação é do coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Claudio Fonteles, que, nos próximos meses, divulgará documento de sua autoria elucidando, com provas, que o deputado federal Rubens Paiva foi morto sob torturas por agentes da Ditadura Militar no interior do DOI-Codi do Rio de Janeiro, em janeiro de 1971, aos 41 anos de idade. A versão oficial que o Exército mantém até hoje é que Paiva fugiu das mãos dos militares.
Claudio Fonteles informa, no entanto, de que ainda não há pistas sobre a localização do corpo do ex-deputado. Em novembro, a Folha de São Paulo revelou que documentos entregues à Polícia Civil do Rio Grande do Sul pela família do coronel Júlio Miguel Molinas Dias, morto a tiros quando chegava a sua casa, em Porto Alegre, ajudariam a confirmar a morte de Paiva nas mãos da Ditadura Militar. Dias comandou o DOI-Codi do Rio de Janeiro no fim da década de 1970 e início dos anos 1980.
Nessa quarta-feira 9, o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela anunciou que é legal adiar a posse do presidente Hugo Chávez, prevista para hoje.
“O Poder Executivo, constituído por presidente, vice-presidente, ministros e demais órgãos e funcionários da administração, seguirá exercendo cabalmente suas funções com fundamento no princípio da continuidade administrativa”, afirmou a presidenta da principal Corte venezuelana, a juíza Luisa Estella Moraes. “Não é necessária nova cerimônia de posse de Chávez em virtude de não haver interrupção no exercício do cargo.”
Os antichavistas, lá e aqui, inclusive a mídia brasileira, continuam dizendo que é golpe à Constituição. A oposição venezuelana quer a convocação de novas eleições.
“Essa mesma imprensa brasileira que hoje acusa o chavismo de golpe na Venezuela saudou como grande vitória da democracia brasileira a posse do Sarney, após a morte do Tancredo”, põe o dedo na ferida o deputado estadual Adriano Diogo (PT-SP). “‘Esquece’ que os militares botaram o pé na porta e vetaram a posse do Doutor Ulisses e a convocação de novas eleições, que eram as saídas constitucionais.”
Em 25 de abril de 1984, a emenda das eleições diretas para presidente do Brasil foi rejeitada pela Câmara Deputados devido à manobra de políticos aliados do regime militar. Cento e doze deputados não compareceram ao plenário para votar, impedindo que se alcançasse o número mínimo de votos. Foram 298 votos a favor, 65 contra e 3 abstenções.
O caminho foi a eleição indireta no Colégio Eleitoral. Em 15 de janeiro de 1985, senadores e deputados federais decidiram entre dois candidatos: Tancredo Neves, pelo PMDB, tendo como vice o senador José Sarney. E Paulo Maluf, pelo PDS, cujo vice era Flávio Marcílio.
Tancredo ganhou, mas adoeceu e não tomou posse em 15 de março de 1985. A sua agonia durou 38 dias. Em 21 de abril de 1985, a sua morte foi comunicada oficialmente.
Sarney assumiu a presidência no dia seguinte. De 1964 até 1979, quando foi extinto o bipartidarismo, ele havia sido membro e presidente da Arena, o partido da ditadura militar. Em 1979, com o fim do bipartidarismo, ele se transferiu para o PDS, como a maioria dos arenistas, onde ficou até 1984. Aí, ele rompeu com o PDS e filiou-se ao PFL, de Marco Maciel. No mesmo ano, ele trocou o PFL pelo PMDB.
“O Sarney jamais poderia ter sido empossado como presidente, porque Tancredo morreu antes de assumir”, argumenta Adriano Diogo. “Por que essa mesma mídia que diz hoje que é golpe adiar a posse de Hugo Chávez não disse lá atrás que a solução Sarney era golpe? Chávez ainda está vivo, foi eleito em eleição direta pelo povo venezuelano, enquanto o Tancredo foi escolhido por um Colégio Eleitoral. O Sarney só assumiu por causa de um acordão com os militares.”
O sociólogo pernambucano Edival Nunes Cajá, 62 anos, testemunhou esse momento crítico da história política brasileira, pois tinha ido a Brasília para a posse de Tancredo.
Por isso, Adriano Diogo sugeriu-me que o entrevistasse também.
Cajá é ex-preso político, trabalhou com Dom Helder Câmara de 1975 a 1979, atualmente preside o Centro Cultural Manoel Lisboa e é membro do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário. Em 2010, foi um dos observadores internacionais de eleição na Venezuela.
Viomundo – Cajá, o que você exatamente testemunhou?
Edival Cajá – Eu tinha ido a Brasília para assistir à posse do presidente eleito Tancredo Neves. Na época, eu era primeiro suplente de deputado federal por Pernambuco e estava hospedado no apartamento do então deputado federal Osvaldo Lima Filho, ex-ministro de Jango.
Nós estávamos jantando no dia 14, às 19h, quando o deputado federal José Maria (PMDB-MG), amigo de Tancredo, chama Osvaldo por telefone. Era para informar que Tancredo tinha passado mal na missa e havia sido levado às pressas para o Hospital da Base Aérea de Brasília. A missa realizada na Catedral pelo cardeal arcebispo de Brasília, José Freire Falcão, já fazia parte da programação do ritual de posse.
Imediatamente, Osvaldo Lima e eu fomos para a Câmara dos Deputados, palco das principais discussões sobre o que poderia acontecer nos dias seguintes. Enquanto Tancredo agonizava por longos 38 dias nos hospitais de Brasília e São Paulo, desenvolvia-se uma titânica luta política no Congresso Nacional e no Estado Maior das Forças Armadas em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo pela posse da presidência da República. Sentíamos no ar o clima de conspiração, de golpe de Estado.
Viomundo – Fale um pouco mais dessa luta titânica no Congresso Nacional.
Edival Cajá – Nós e todos os setores de esquerda interpretávamos, com base na Constituição vigente que, caso Tancredo morresse, deveria tomar posse como presidente o Doutor Ulisses Guimarães, presidente do Congresso Nacional, e jamais o Sarney, uma vez que Tancredo não havia sido empossado.
Entretanto, a grande imprensa falada e escrita, como verdadeiros porta-vozes dos quartéis, passou já nos dias seguintes à internação a estampar nas suas manchetes opiniões de ex-ministros da Justiça e juristas da ditadura, como Petrônio Portela, Ibrahim Abi Ackel, Leitão de Abreu, entre outros. Todos defendendo a posse do vice de Tancredo, José Sarney, mesmo sabendo tratar-se de uma afronta à Constituição, à consciência da nação e à saúde do presidente enfermo.
No final, acabou prevalecendo a posse do Sarney. Quem bateu o martelo não foi o Congresso Nacional e nem o Poder Judiciário, mas – pasme! – os setores mais reacionários das Forças Armadas através do general Leônidas Pires Gonçalves, ex-chefe do DOI-CODI e do I Exército no Rio de Janeiro, de 1974 a 1977.
No auge da crise, o general Lêonidas declarou a uma comissão de representantes do Congresso, entre os quais o senador Pedro Simon: “Quem assume é Sarney”.
Pior ainda. Como condição para o Sarney tomar posse, ele se impôs como ministro do Exército. Foi um duro golpe da direita nas forças de esquerda do Brasil.
Viomundo – Mas por que não o Ulisses, já que, pela Constituição, ele deveria assumir, uma vez que o Tancredo não havia tomado posse?
Edival Cajá – Porque as forças de esquerda ainda estavam fracas, sem condições de se impor pela mobilização das massas, pelo pouco desenvolvimento na organização do movimento popular e sindical.
E as forças conservadoras ainda detinham a hegemonia no processo de transição política, sobretudo nos quartéis. Por isso, se impuseram. Além disso, dentro do movimento democrático, predominavam os liberais que temiam a confrontação, tinham medo de enfrentar diretamente os estertores da ditadura e receavam também serem confundidos com a esquerda revolucionária.
Viomundo – Por que não se convocaram novas eleições?
Edival Cajá – A nossa proposta era que o Doutor Ulisses assumisse e a convocação de novas eleições. Os militares bateram na mesa: nem Ulisses nem novas eleições. Tinha de ser o Sarney.
Viomundo — O que foi feito para que o Sarney tomasse posse?
Edival Cajá – Com certeza, fizeram um grande acordo político do tipo ‘vocês não mexem com o passado, a lei da anistia, torturadores, desaparecidos políticos, etc, e nós, militares, nos comprometemos em não dificultar o funcionamento das instituições democráticas, as eleições, etc’.
Viomundo – O deputado Adriano Diogo diz que o desenlace de Tancredo só se deu após os militares terem vencido a queda de braço com o Congresso e imposto o Sarney.
Edival Cajá – Foi isso mesmo, foram 38 dias de negociações, de tensões. Cada lado teve tempo para sentir seus limites. Doutor Ulysses e Leônidas Pires pareciam ser os vértices, os pontos sensíveis opostos de toda a tensão.
Viomundo — O quadro brasileiro daquela época tem alguma semelhança com o da Venezuela neste momento?
Edival Cajá –Em certo sentido sim. Uso da calúnia, luta ideológica, da força, busca de apoio dos EUA…Porém, o grau de organização das massas populares, do povo trabalhador em Comitês Bolivarianos nos bairros pobres, da coesão da direção política e das lideranças do Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV) é muito superior na Venezuela de hoje do que no Brasil de 1985.
Lá, como os dois lados não escamoteiam a confrontação política, resultou também num maior grau de politização e participação da população, o que é muito bom para o Movimento Chavista, para o PSUV, para a democracia popular.
Viomundo — E o comportamento da nossa mídia na época do Tancredo e agora com Chávez?
Edival Cajá — Acho que a grande mídia brasileira de hoje está muito mais centralizada, monopolizada e à direita do que no período do Tancredo, em 1985. E também lá na Venezuela.
Acho que a grave crise que o sistema capitalista mundial está vivendo levou ao agravamento desta situação. Assim como os bancos e as indústrias passaram por um processo de centralização, ficando em poucas mãos, os meios de comunicações de massa também em todo o mundo. No Brasil, apenas quatro famílias decidem qual acontecimento ou fato político vai virar notícia nacional e qual versão será propagada.
Assim também é na Venezuela. Lá, os políticos de oposição e a grande imprensa se parecem e se confundem nos interesses, dá a impressão de serem jornais e TV do partido da oposição, tamanho o alinhamento político, numa dosagem ainda pior do que no Brasil, devido ao grau de aguçamento da luta política e ideológica.
Viomundo – Você esteve na Venezuela como observador internacional.
Edival Cajá — Fui convidado, oficialmente, como observador internacional das eleições de 2010. Junto com representantes de cerca 40 países, eu tive a oportunidade de conhecer o sistema eleitoral de lá.
A minha surpresa foi encontrar um sistema eleitoral muito mais seguro que o nosso. Lá, já adotavam a fórmula biométrica de votar, urna eletrônica e, ainda no final da seção, urna e cédula convencional, porém, com uma tinta especial para marcar o dedo usado na cédula de votação, de modo que você não poderá mais votar em outra seção. De maneira que é praticamente impossível acontecer uma fraude da vontade do eleitor.
Entretanto, antecipadamente, a oposição já propagandeava que haveria fraude, tentando tirar a legitimidade do pleito. Nunca vi uma oposição política tão sem credibilidade na população trabalhadora e tão identificada com a linha editorial do sistema de TV CNN e assemelhados, com os interesses dos EUA.
Viomundo – Trabalhou com Dom Helder Câmara por quanto tempo?
Edival Cajá — Durante quatro anos (1975-1979). Era assessor da Arquidiocese de Olinda e Recife e da CNBB-Nordeste – II, cujo presidente era Dom Helder Câmara. Também fui membro da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Olinda e Recife quando ele foi seu arcebispo. Dom Helder encantava todos aqueles que trabalhavam com ele devido à sua forma profética, transformadora de ver os homens e a sociedade.
Viomundo – Particularmente, o que te agradava em Dom Helder?
Edival Cajá – A sua grande generosidade quando se tratava de acolher os perseguidos políticos, os sem-teto, os sem-terra e os sem-nada, desempregados. Ele não se preocupava com a cor ou ideologia dos militantes ou da organização política onde militavam. O seu compromisso sincero era com a libertação dos explorados e oprimidos, com a construção do novo homem e da nova sociedade.
Em 1978, fui sequestrado, torturado, preso, fiquei incomunicável com a minha família e advogados. Fui ainda atacado pela imprensa da ditadura como um homem perigoso à segurança da sociedade. Pois bem, Dom Helder declarou aos jornais que “Cajá está preso por amor à justiça e aos pobres”.
As suas declarações e a greve dos estudantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que se espalhou até a Universidade do Paraná, impediram a continuidade das torturas e ameaças de morte.
Em 1973, no auge dos sequestros políticos e das torturas no Recife, Dom Helder procurou manter a esperança acesa dos que militavam por meio de uma das suas crônicas, na qual afirmava “quanto maior a escuridão, mais clara será a madrugada”.
Viomundo – Agora, qual a sua expectativa em relação à Venezuela?
Edival Cajá – Não acredito no êxito de mais esta ofensiva golpista da oposição venezuelana. Não acredito nesta nova tentativa de impor um novo calendário eleitoral ao povo venezuelano.
2001/2002 ficará marcado como o período em que o Brasil mergulhou no racionamento de energia devido ao desabastecimento ocorrido. Regiões do país não puderam ser atendidas nas suas necessidades de energia elétrica, pela “barbeiragem” do governo federal da época, que não planejou bem, não fez os investimentos necessários, além de implantar um modelo mercantil no setor elétrico, que contribuiu de maneira decisiva ao colapso energético. Quem afinal “pagou o pato”, digo a conta de energia mais cara, foi o consumidor final.
2011/2012 ficará marcado com os anos das tarifas astronômicas (mesmo a geração sendo mais de 70% de hidrelétricas), e dos “apagões”, denominação das interrupções temporárias no fornecimento de energia elétrica, resultando na baixa qualidade do serviço oferecido. Responsabilidade do governo federal, cujos gestores do setor elétrico aprofundaram o modelo mercantil, e cometeram erros crassos na política energética, optando por ofertar energia, com a construção de usinas termelétricas a combustíveis fósseis, usinas nucleares e mega hidrelétricas na região Amazônica. E não priorizaram a diversificação da matriz energética com as novas fontes renováveis, e nem a eficientização no uso da energia.
2013 inicia-se diante de declarações e ameaças sobre a possibilidade de um risco iminente de um novo desabastecimento de energia elétrica, principalmente pela situação de estiagem prolongada, resultando no baixo nível dos reservatórios, e com chuvas previstas insuficientes para recompor os estoques.
É necessário que se diga, alto e em bom som, que a curto prazo não existe possibilidade de risco de faltar energia para atender a demanda atual. O pífio desempenho da economia nacional, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), favoreceu a que o país não sofresse uma nova crise energética nos moldes da ocorrida em 2001/2002. Se o PIB tivesse sido de 4,5%, como previsto inicialmente para o ano de 2012, o consumo da indústria estaria bem maior, e ai sim haveria risco iminente de faltar energia. E em 2013, as previsões do crescimento econômico já estão abaixo das previsões sempre otimistas e super dimensionadas do governo federal. E são nestes previsões governamentais que se baseia o planejamento energético na oferta de energia.
O que ocorrerá sem dúvida será um aumento nas tarifas devido ao repasse dos custos da energia elétrica bem mais cara das usinas termelétricas, que estão funcionando desde o final do ano passado a todo vapor (literalmente). Logo, os aumentos que ocorrerão nos próximos anos vão absorver toda a redução da tarifa obtida com a medida provisória – MP 579. Dá-se ao consumidor com uma mão, e retira com a outra.
Já a médio prazo, a situação não é tranqüila para o setor elétrico, desde que continuem os erros serem cometidos. E a situação somente mudará se houver uma guinada de 180º na política energética em nosso país.
O que se pode extrair da conjuntura atual, com declarações e ameaças de um novo racionamento de energia, é que a sucessão presidencial começou. Não se deve politizar uma coisa tão séria para o país, como a questão da energia. Com risco de criar o descrédito da população em um setor estratégico, que vai além dos governos de plantão, e mesmo levar o pânico com a possibilidade de faltar energia.
A irresponsabilidade é tanta, que pouco importa o país. O principal é a desconstrução de quem esta no poder. E ai vale tudo. Já vimos esta estória em anos recentes.
Por sua vez o “deus mercado” começa a responder ao jogo político. As bolsas de valores começam a impor o sobe e desce dos papeis das companhias elétricas. Onde vai parar esta histeria provocada?
É hora da sociedade civil se apropriar deste setor até então “monocraticamente” dominado por alguns “especialistas” iluminados, e apadrinhados políticos ungidos a cargos decisórios; e fazer valer sua força quando organizada. Já que tanto o governo, como setores da oposição não têm mais credibilidade junto à sociedade, vale o que disse o poeta “Quem sabe faz a hora. Não espera acontecer”.
Heitor Scalambrini Costa Professor da Universidade Federal de Pernambuco
Um juiz no Chile ordenou a prisão de oito oficiais pelo assassinato do cantor popular Victor Jara em 1973.
A ordem de prisão internacional envolve o tenente Pedro Barrientos Nunez, que vive no exterior, o coronel Hugo Sanchez Marmonti e seis outros homens.
Victor Jara foi um dos fundadores do movimento “Nova canção”, que ajudou a eleger o governo democrático popular de Salvador Allende em 1970.
Poucos dias após o golpe de Pinochet no dia 11 de setembro de 1973, o cantor, que era membro do Partido Comunista Chileno, foi preso e levado para um estádio em Santiago, onde foi torturado, eletrocutado e teve os pulsos e os ossos das mãos quebrados, sendo metralhado logo em seguida. Seu corpo foi encontrado mais tarde nas ruas da capital chilena com 44 tiros.
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