UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 11 de setembro de 2025
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Violência contra a mulher aumentou em 92% em dez anos no Brasil

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Segundo os dados realizados pelo Instituto de pesquisa Igarapé, de 2013 a 2023, no Brasil, as denúncias acerca da violência contra a mulher aumentou em 92%. Ainda não existem delegacias da mulher que sejam 24h nos estados do Mato Grosso, Amapá, Tocantins e Rondônia.

Kivia Moreira | Natal (RN)


MULHERES – Segundo os dados realizados pelo Instituto de pesquisa Igarapé, de 2013 a 2023, no Brasil, as denúncias acerca da violência contra a mulher não resultando em morte aumentou em 92%. Isto é, a cada hora, 16 brasileiras são espancadas no país.

Conforme o Ministério da Justiça e Segurança Pública, 554.473 ocorrências foram registradas nas delegacias em 2022, dessas 170.084 foram ameaças. Em sua maioria, os agressores são companheiros ou ex-companheiros que não aceitaram o término da relação. 

Dos tipos de violência às mulheres não letais, houve aumento em todos eles: sexual, psicológica, física, moral e patrimonial.

O que é violência contra a mulher?

A violência contra a mulher é todo ato lesivo que resulte em dano físico, psicológico, sexual, moral, patrimonial, que tenha por motivação principal o gênero, ou seja, é praticado contra mulheres expressamente pelo fato de serem mulheres. A violência contra a mulher pode ser praticada no âmbito da vida privada em ações individuais.

Violência sexual é quando o agressor força a vítima a realizar relações sexuais, não há consentimento. Isso se expressa desde manipulação psicológica à força física para realizar o ato – houveram 56.564 casos registrados dessa violência -. A violência patrimonial é quando o agressor retira da posse da vítima ou destrói documentos e bens pessoais da mulher, sem consentimento, aumentou em 144% – 6 mil casos registrados -.

Acerca da violência física, quando o agressor fere fisicamente a vítima, podendo ser tapas, chutes, empurrões, beliscões, puxões no cabelo ou em outras partes do corpo, houve registro de 141.914 casos. Esse tipo de violência foi que houve maior número de denúncias nos últimos 10 anos.

Sobre a violência psicológica, que envolve também a violência moral, quando o agressor manipula, rebaixa, humilha e ofende a mulher e sua integridade, houve aumento de 86,4% dos casos no país. Vale ressaltar que as violências não ocorrem de formas isoladas. Ou seja, a vítima pode ser agredida de diversas formas simultâneas.

Das vítimas que foram denunciar, as mulheres negras são principais, representando cerca de 56,5% das denunciantes.

As políticas de proteção às mulheres são insuficientes

Apesar do aumento dos casos de violência contra a mulher, o Ministério da justiça e segurança pública informou que apenas 18,66% das delegacias da mulher funcionam 24hrs no Brasil.

Isto é, das 492 delegacias da mulher que existem no país, apenas 60 funcionam em todos os horários. Nos estados do Mato Grosso, Amapá, Tocantins e Rondônia não existe nenhuma delegacia da mulher que seja 24h.

Nesse sentido, a organização das mulheres pelo fim da violência é fundamental para acabar com essa realidade de insuficiência, medo e insegurança na vida cotidiana da trabalhadora. Toda essa violência continuará enquanto o capitalismo continuar, por isso precisamos organizar as mulheres trabalhadores na luta pelo socialismo.

Como afirma Clara Zetkin, comunista bolchevique e precursora do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora 8 de março: apenas com as mulheres proletárias, o socialismo será vitorioso.

Com passagem de R$ 7,50, concessionária do RJ suspende “Metrô na Superfície”

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Na última semana, a concessionária MetrôRio, anunciou o fim do serviço de ônibus “Metrô na Superfície”, que permitia integração de ônibus entre o metrô e certas áreas que não possuíam cobertura deste modal. A medida passa valer já a partir do próximo dia 27 (sábado).

Igor Marques | Rio de Janeiro (RJ)


BRASIL – Na última semana, a empresa MetrôRio, concessionária responsável pelos serviços metroviários no Rio de Janeiro, anunciou o fim do serviço de ônibus “Metrô na Superfície”, que permitia maior integração entre o metrô e áreas que não possuíam cobertura deste modal. Essa decisão foi autorizada pelo governo do estado do Rio de Janeiro, a partir de sua secretaria de transportes.

A partir do dia 27 de julho (sábado), o serviço de Metrô na Superfície será descontinuado, dando lugar a uma integração entre o metrô e seis opções de linhas de ônibus convencionais. O absurdo dessa decisão fica ainda maior quando se constata que a concessionária anunciou esta decisão com apenas uma semana para o fim das operações, deixando muitos usuários surpresos.

A decisão de acabar com o serviço foi anunciada poucos meses após a tarifa de metrô ser aumentada para R$ 7,50, a mais cara do Brasil, e faz parte da busca da empresa privada por um lucro cada vez maior. Mesmo com o povo carioca gastando 15 reais por dia apenas no metrô para se deslocar, ainda sofre com um serviço precário oferecido pela MetrôRio, com a falta de integração com outros modais, longos intervalos entre trens e a descontinuação de serviços – como o Metrô na Superfície.

Metrô não atende toda a população

O Rio de Janeiro, mesmo sendo a segunda maior cidade do país, não possui um sistema de metrô que atende toda a cidade. Hoje em dia, áreas importantes do município, como toda a Zona Oeste e parte da Zona Norte, não possuem qualquer cobertura deste modal.

 Jacarepaguá, uma das regiões mais populosas da cidade, ainda hoje não é atendido pelo sistema metroviário, forçando a população a circular em ônibus sucateados e superlotados por longos trajetos. Mesmo tendo sua cobertura prevista no projeto inicial do metrô, da década de 1970, o bairro segue sem ser servido pelo metrô.

Além disso, a rede metroviária da cidade do Rio de Janeiro não sofre qualquer expansão há anos. O metrô do Rio de Janeiro, quando privatizado, em 1998, contava, com 24 estações. Hoje, após quase 30 anos, apenas 17 novas estações foram inauguradas, revelando que o governo do estado pouco fez para ampliar a rede e amenizar um grande problema da população fluminense: a mobilidade urbana.

O último processo de expansão foi realizado há quase 10 anos, como parte das obras para as Olimpíadas. Porém, essa expansão buscou atender, principalmente, os bairros nobres da Zona Sul da cidade, com a inauguração das estações Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, Jardim de Alah e Antero de Quental, no Leblon, e São Conrado, além da estação Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca.

Ou seja, a política de expansão do metrô, além de lenta e insuficiente, também não é feita de forma a atender a população mais pobre da cidade do Rio de Janeiro, e, muito menos, busca a expansão para áreas da região metropolitana da cidade. O governo do estado, principal responsável pelas obras de expansão do metrô, não empreende uma verdadeira política de transportes para a população fluminense, deixando vários projetos engavetados – como o de expansão do metrô para Niterói e São Gonçalo, na região metropolitana, ou para Jacarepaguá, na Zona Oeste.

Metrô na Superfície revela falta de investimentos em expansão

A própria existência do Metrô na Superfície, no entanto, revela a insuficiência das políticas de expansão do serviço. Isso porque as áreas que eram cobertas por esse serviço deveriam, na realidade, ser atendidas pelo sistema de metrô regular, porém não foram feitos os investimentos necessários para a expansão.

Um importante exemplo disso é o bairro da Gávea. Ainda que, novamente, sejam parte de um processo de expansão voltado para a Zona Sul da cidade, as obras de construção da estação de metrô da Gávea se encontram paralisadas há anos, sem previsão de serem concluídas. A “solução” para a falta de expansão do metrô, portanto, foi o Metrô na Superfície.

O serviço de Metrô na Superfície, embora também sofresse de diversos problemas, especialmente nos finais de semana, possibilitava uma maior integração com o metrô. E essa mudança irá diminuir consideravelmente a qualidade do serviço, na medida em que muitos dos ônibus convencionais em que a integração será possível estão frequentemente superlotados, e com a demanda do Metrô na Superfície esta realidade tende a se agravar. 

Lutar contra a privatização e pela estatização dos serviços de transporte

Atualmente, os principais meios de transporte de massas do Rio de Janeiro, como metrô, trens e ônibus são privatizados. Essa realidade impõe um crescente sucateamento, com um serviço precário e falta de investimentos, com cobertura e integração insuficientes.

A luta contra as privatizações tem sido central em todo o país. São diversas tentativas de privatizar serviços públicos, como o de fornecimento de água e esgoto no Pará (Cosampa), em São Paulo (Sabesp) e no Rio de Janeiro (Cedae), o metrô de Belo Horizonte, e até mesmo escolas e praias. 

Essa luta revela, também, a forma com que o capitalismo opera para oprimir e retirar direitos do povo em nome do lucro dos grandes empresários e banqueiros, inclusive do exterior, como no caso MetrôRio, de propriedade de um fundo dos Emirados Árabes Unidos.

É preciso organizar a luta contra as privatizações e pela reestatização de todas as empresas privatizadas, além de construir uma política de transportes que realmente atenda os interesses do povo trabalhador.

Trabalhadores de TI sofrem com baixo auxílio-alimentação

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Por todo o país, valor do auxílio-alimentação oferecido pelas empresas de Tecnologia da Informação não cobre os gastos dos trabalhadores com refeições, aponta comparação com dados do DIEESE. Casos de estados como MT, SP e RJ são alguns dos mais graves. MLC convoca organização da categoria.

Rafael Simões* | Cuiabá (MT)


Por todo o Brasil, o auxílio-alimentação oferecido aos trabalhadores do setor de Tecnologia da Informação (TI) vem sendo considerado incompatível com os custos reais da alimentação pela categoria. No estado do Mato Grosso, uma diferença de R$231,86 foi constatada entre o valor da cesta básica e a média do benefício recebido pelos trabalhadores. Essa realidade também se faz presente em estados de todo o país.

O auxílio, que é um valor pago para garantir a alimentação dos trabalhadores durante o expediente, foi conquistado pelos trabalhadores tanto no setor privado quanto no serviço público como parte do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT).

Instituído pela Lei nº 6.321 de 14 de abril de 1976 e regulamentada pelo Decreto nº 10.854 de 10 de novembro de 2021, o PAT estabelece como objetivo a melhoria da situação nutricional dos trabalhadores, visando a promoção de saúde e a prevenção de doenças profissionais.

Auxílios baixos por todo o país

Definidos nas Convenções Coletivas de Trabalho, os valores do auxílio-alimentação são fechados em negociações que envolvem os sindicatos e as entidades patronais. No caso dos trabalhadores de tecnologia da informação, as entidades responsáveis por representar a categoria são os sindicatos de trabalhadores em processamentos de dados e tecnologia da informação, conhecidos na maioria dos estados pela sigla SINDPD ou SINPD.

Entretanto, os valores acordados nessas negociações têm sido extremamente baixos. Um exemplo dessa precarização do auxílio vem de São Paulo, estado em que o valor definido na mais recente Convenção Coletiva é de 28 reais por dia útil para 2024, e 30 reais para 2025.

Uma conta simples revela a insuficiência desses valores. Um mês de trabalho tem, em média, 22 dias. Multiplicando-se os valores-base pela quantidade de dias trabalhados, chegamos à soma de 616 reais para 2024 e 660 reais para 2025. Esses valores são inferiores ao custo da cesta básica na cidade de São Paulo, equivalente a R$822,84, segundo o DIEESE. O auxílio-alimentação pago aos trabalhadores de TI ficou R$206,84 abaixo do preço de uma cesta básica.

Essa realidade se repete no Rio de Janeiro. Na convenção coletiva mais recente desse estado, o valor base do auxílio-alimentação foi R$33,74 por dia, ou R$742,28 ao mês. No mesmo levantamento do DIEESE, o valor da cesta básica do Rio de Janeiro foi estipulado em R$801,15, superior em R$58,87 ao auxílio que os trabalhadores receberão.

Já em Mato Grosso, na convenção coletiva mais recente, o valor-base do auxílio alimentação ficou definido em R$24,83 por dia, isto é,  R$546,26 ao mês. Em Cuiabá, segundo o Instituto de Pesquisa e Análise da Fecomércio de Mato Grosso – IPF, o custo da cesta básica em maio de 2024 foi R$777,12, uma diferença de R$231,86 a mais em relação ao auxílio oferecido.

Levantamento feito pela Sodexo Benefícios e Incentivos mostra que os auxílios-alimentação duram em média treze dias para os trabalhadores. Por sua vez, a Associação Brasileira das Empresas de Benefício ao Trabalhador (ABBT) estima que o custo de uma refeição em restaurantes seja em média R$40,64 em 2024.

O que os dados revelam é a completa insuficiência dos auxílios em relação ao custo da alimentação no país. Sempre defasado, ele obriga o trabalhador a comprometer uma parte significativa de sua renda com refeições. Programas como o PAT tornam-se sem sentido, servindo apenas para instrumentos de isenção fiscal para os patrões, como forma de aumentar seus lucros em detrimento da segurança alimentar e nutricional dos empregados.

Histórico de precarização

Com regimes de trabalhos mais precários, aumento das terceirizações e a explosão do fenômeno da “pejotização”, onde os trabalhadores são contratados como microempreendedores individuais para reduzir os custos trabalhistas para a burguesia, os direitos consagrados em diversas leis trabalhistas tem sido continuamente violados. Férias, décimo terceiro salário, direito à licença maternidade, e inclusive benefícios apontados nas convenções coletivas de trabalho, como o auxílio-alimentação, são sistematicamente retirados dos funcionários.

A Reforma Trabalhista sancionada pelo presidente golpista Michel Temer, é um marco desse desmonte das conquistas históricas da classe trabalhadora do Brasil.

Com a promessa de aumentar as contratações, a legislação cria o princípio do “acordado sobre o legislado”, em que as negociações entre trabalhadores e patrões valem mais que a lei. Dizia-se que essa orientação fortaleceria as convenções coletivas. Na prática, a vontade dos patrões está sendo imposta sobre os trabalhadores, contribuindo para um aumento na exploração do trabalho.

Entre outros retrocessos, a Reforma autoriza o trabalho de mulheres grávidas e lactantes em ambientes insalubres. Cria também o chamado regime intermitente de trabalho, em que o trabalhador fica “à disposição” do patrão quando houver necessidade de trabalho. O efeito dessa medida, até aqui, são contratações com alta ociosidade e baixa remuneração, muitas vezes abaixo do salário mínimo.

Não bastasse esse combo de precariedade já elencadas, a ampliação da terceirização dos serviços levou ao aumento das jornadas de trabalho e diminuição dos salários, com o mais alto grau de exploração dos trabalhadores, levando a deterioração do quadro de saúde física e mental. Nesse cenário de completa precarização das condições de trabalho, a segurança nutricional dos trabalhadores também se tornou um alvo da ganância empresarial.

Por isso, o Movimento Luta de Classes (MLC) ressalta a urgência da organização dos trabalhadores, inclusive os do setor de TI, para a reivindicação de melhores condições de trabalho, aumentos substanciais nos salários e auxílios, redução das jornadas de trabalho e enfrentamento ao assédio laboral, todas questões que retrocederam desde a Reforma Trabalhista.

Luta sindical é decisiva

Para o MLC, é imperiosa a organização dos trabalhadores nos sindicatos, para a melhoria das condições de trabalho e a emancipação da escrvidão assalariada.

O dirigente comunista búlgaro Georgi Dimitrov, uma das principais referências do MLC, menciona em seu texto A Necessidade de Sindicatos e a Sua Organização a importância da construção de “uniões sindicais socialistas”, como os sindicatos e centrais sindicais do Brasil, para a defesa e avanço das conquistas materiais dos trabalhadores e também para a libertação da classe operária.

No texto, Dimitrov afirma que “as uniões sindicais socialistas, diferentemente das burguesas, têm por dever especial de lutar pelo melhoramento da situação dos operários no quadro da exploração capitalista e dirigir ao mesmo tempo os seus esforço  à organização política comum a toda classe operária, com vista a chegar à própria supressão radical da própria exploração”.

Aos trabalhadores de Tecnologia da Informação, o MLC indica a urgência da organização para a construção de um sindicalismo classista e revolucionário, em constante contato com os trabalhadores e trabalhadoras.

Nesse processo, a luta por um auxílio alimentação digno para a categoria está se tornando um ponto de convergência da agitação, propaganda e denúncia das mazelas do sistema capitalista, além de base para o recrutamento para as fileiras do sindicalismo revolucionário.

*Rafael Simões é militante do MLC

Único museu histórico de Rondonopolis (MT) está abandonado pela gestão pública

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O Museu Rosa Bororo, localizado em Rondonópolis (MT), possui importante acervo referente aos indígenas Boe, encontra-se em estado de abandono, sofrendo com a falta de investimentos e de profissionais capacitados.

Ludmila de Oliveira Santos | Rondonópolis (MT)


O Museu Rosa Bororo, é, atualmente, o único museu histórico de Rondonópolis e abriga uma vasta coleção de artefatos e documentos importantes para a história da cidade e da população que a habita. Seu acervo, que também busca valorizar a história e a riqueza cultural indígena da região, é de interesse não apenas dos residentes de Rondonópolis, mas também para professores, pesquisadores, estudantes, turistas e outros cidadãos de diferentes comunidades, para além das fronteiras municipais.

O nome do museu homenageia uma mulher indígena da etnia Boe, mais conhecida como Bororo e possui exposição de artefatos que oferecem um vislumbre da grandiosa cultura desse povo que vive no Mato Grosso. Porém, esses objetos não serão tratados da maneira mais adequada. Logo na entrada do museu, são observadas algumas flechas armazenadas de maneira descuidada, mesmo sendo estes artefatos históricos de valor cultural inestimável.

Boa parte dos objetos musealizados estão no chão, criando a impressão de que os itens foram simplesmente amontoados naquela sala do museu e permanecem desprovidos de qualquer identificação, o que dificulta a compreensão da proposta museológica.

Para corrigir tais situações é crucial que o Museu conte com funcionários especializados em História e Museologia, além de outras especialidades, conforme as necessidades das coleções musealizadas. Porém, a prefeitura e a secretaria de cultura não atuam na contratação de profissionais capacitados para a manutenção do museu e seu acervo. 

Negligência com história local

Ao percorrer as diversas áreas do Museu Rosa Bororo, constatou-se a presença significativa de infiltrações e mofo. Este edifício abrigou a primeira prefeitura do município e a Câmara Municipal, sendo assim um marco significativo na história de Rondonópolis. 

Na atualidade, o prédio está deteriorado pela ação da chuva. O telhado está comprometido, com o forro caindo e as paredes dos banheiros e corredores estão totalmente infiltradas. É lamentável notar que a estrutura que abriga o museu, uma edificação importante e bem tombado para o Patrimônio Histórico e Cultural, está sendo negligenciado pelas autoridades municipais, incluindo a Prefeitura, sua Secretaria de Cultura e a própria Câmara Municipal. 

Em diálogo com um profissional do museu, foi revelado que, durante o período de fechamento para reformas, que coincidiu com a pandemia de Covid-19, a Prefeitura e os responsáveis pela obra, devolveram o museu em estado de desordem, sem realizar as melhorias planejadas.

Essa profunda negligência em relação ao estado do prédio e ao funcionamento do museu reflete o desinteresse da administração municipal quando se trata de valorizar a cultura patrimonial e o interesse pela história local.

O Museu Rosa Bororo é uam instituição cultural que desempenha papel fundamental na preservação e na divulgação da história de Rondonópolis. Assim, é essencial que as devidas providências sejam tomadas para garantir a restauração do prédio e a conservação e manutenção adequadas dos acervos. A Secretaria Municipal de Cultura de Rondonópolis precisa priorizar investimentos no Museu Rosa Bororo.

Apesar dos desafios enfrentados pelo Museu Rosa Bororo, é inegável o seu potencial de lazer para crianças, jovens e adultos. É preciso que o Museu Rosa Bororo seja recuperado e ofereça eventos, projetos interativos e exposições que complementem o entendimento da população a respeito da diversidade histórica e cultural de Rondonópolis.

Como enfrentei a repressão da PM de Tarcísio de Freitas em São Paulo

No dia 21 de maio, foi aprovado, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), um Projeto de Lei que prevê a implantação de escolas cívico-militares. Os estudantes que lutavam contra esse projeto fascista na “casa do povo” encontraram policiais militares que os reprimiram com spray de pimenta, cassetetes e prenderam, no total, oito deles. Eu sou uma dessas pessoas que foram presas. Neste relato, trago aquilo que vivi e senti nesse processo de repressão por parte da PM do governador Tarcísio de Freitas.

Sofia Biagioni | São Paulo (SP)


Durante a mobilização, eu e uma companheira saímos de perto dos outros estudantes para ir buscar marmitas. Enquanto estávamos esperando, ouvimos uma grande confusão vindo do plenário da Alesp. Ao nos aproximarmos, vi que tinham jogado spray de pimenta nos demais estudantes. No meio disso, fui abordada por um policial que pediu para eu o acompanhar.

Esse policial me levou para um canto dentro do plenário onde não havia câmeras e começou a me acusar de ter jogado spray de pimenta nos estudantes. Um completo absurdo! Afinal, parte desses estudantes eram meus camaradas de organização. Em nenhum momento foi apresentada uma prova que corroborasse essa narrativa, que, inclusive, foi rapidamente abandonada por outra: a que me colocava junto com os outros sete estudantes “invadindo” o plenário.

A realidade é que a Polícia Militar, sob a orientação do governador Tarcísio de Freitas, tinha como objetivo reprimir o movimento estudantil e, ao me verem com a camiseta da UJR, não hesitaram em me prender.

Meu primeiro pensamento foi de me manter firme. A luta que eu estava fazendo na Alesp era justa. Eu não tinha cometido nenhum crime e, acima de tudo, sabia que a formação no fogo da luta popular que a UJR me deu garantiria a minha firmeza o tempo inteiro. Sabia também que a minha primeira tarefa naquela situação era avisar aos meus companheiros. Afinal, a pressão popular, a mobilização, em frente à delegacia e ao fórum, são as melhores ferramentas para barrar esse tipo de repressão fascista.

Na delegacia, os companheiros não tardaram a chegar e começaram a denunciar o absurdo que estava acontecendo. A camaradagem e a disposição dos meus companheiros foram fundamentais para me dar forças. Durante o interrogatório, a delegada não apresentou as acusações que os policiais fizeram sobre mim. O verdadeiro interesse ali era arrancar informações úteis a quem persegue os movimentos sociais. Perguntas como: “O que é a UJR?” ou “Há quanto tempo tínhamos mobilizado?”. O motivo é evidente: utilizar tudo o que conseguissem para perseguir aqueles que lutam contra o fascismo. Além disso, todas essas perguntas já vinham com uma afirmação, como, por exemplo: “Vocês já tinham planejado fazer essa invasão e agressão aos policiais”. O que estava sendo feito era um interrogatório nos mesmos moldes da ditadura militar. A tática era me pressionar para fazer com que eu abandonasse a disciplina revolucionária e abrisse todas as informações da minha organização.

Na cela, comecei a sentir na pele aquilo que várias outras vítimas do sistema capitalista, da polícia racista, do Estado burguês, sentem. A prisão tenta constantemente quebrar a sua moral. Te coloca como subumano desde o primeiro momento. Fui colocada em uma cela escura, com chão, paredes e teto de concreto todas pichadas. Em alguns casos, as pichações eram feitas das próprias fezes daqueles que escreviam o seu nome, um pedido a Deus e, principalmente, frases de desespero. O cobertor que estava na minha cela fedia. E a minha era a única cela que tinha um. A “privada” era um buraco sujo no chão, e a luz do corredor nunca desligava, fazendo com que a noção de tempo fosse completamente perdida entre a noite, a madrugada e a manhã daqueles dias. Além disso, no Fórum Criminal da Barra Funda, a revista para acessar o local é completamente constrangedora. Um momento em que o detido fica completamente pelado e deve agachar três vezes para garantir que ele não está levando nada para dentro da cadeia. Ela serve, mais uma vez, para humilhar. Ela é feita no meio do salão que dá acesso às celas. Ou seja, dezenas ou até centenas de pessoas podem te ver em um dos momentos mais frágeis da sua vida.

A inexistência de qualquer coisa para fazer, além de ouvir os próprios pensamentos ansiosos e amedrontados faz parte da disputa de consciência para que o preso passe a se ver como menos do que um ser humano, sem direito ao mínimo de dignidade e respeito. Para o capitalismo, aqueles que o sistema julga como prejudiciais para a reprodução do capital, devem ser punidos até que seja extirpada da consciência deles qualquer resquício de dignidade.

Camaradas, não devemos subestimar o fascismo. Em um período de menos de seis meses, apenas em São Paulo, tivemos seis prisões de militantes da Unidade Popular, de forma claramente política. Isso é uma prova de que a burguesia vê em nós um inimigo, uma ameaça, e irá fazer de tudo para nos reprimir. Não podemos enxergar a minha prisão como a última. Todos aqueles que lutam contra esse sistema de miséria poderão estar sujeitos a isso. Neste sentido, devemos nos fortalecer ideologicamente, nos formar melhor como militantes e, principalmente, devemos estar preparados para acampar na frente de DP, de Fórum e de CDP quantas vezes forem necessárias. Também devemos nos guiar pelo exemplo dos nossos heróis, como Manoel Lisboa, Emmanuel Bezerra, Manoel Aleixo, Amaro Luiz e Amaro Félix, militantes do Partido Comunista Revolucionário que se mantiveram firmes frente às torturas brutais na ditadura militar e que foram assassinados.

Olhando para a minha militância, sei que seria muito mais difícil manter a firmeza que eu mantive se eu não tivesse participado das atividades propostas pelo meu coletivo. Elas me convencem, cada dia mais, da necessidade da Revolução, da disciplina revolucionária e da moral comunista. Ainda mais fundamental foi quando os companheiros foram até a minha cela, ainda no 27° DP, e me disseram que o Partido, o Partido de Manoel Lisboa de Moura, estava ao meu lado e estava se mobilizando para estar acampando onde for necessário até a minha soltura. Daquele momento em diante, a única coisa que eu conseguia sentir era um imenso orgulho de construir a Revolução, uma imensa honra por dar continuidade à luta que companheiros heroicos iniciaram e, acima de tudo, sentir a força inquebrável do povo me mantendo de pé.

Publicado na edição nº 294 do Jornal A Verdade

O impacto da alimentação na saúde mental

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É comum afirmarmos que uma dieta adequada influencia diretamente na qualidade de vida, fornecendo os nutrientes necessários para o melhor funcionamento do corpo. No entanto, pouco se fala sobre a importância de uma alimentação saudável e como isso impacta o nosso corpo e a saúde mental do nosso povo.

Pedro Noah | Cabo de Santo Agostinho – PE


SAÚDE – É comum falarmos que manter uma alimentação adequada influencia diretamente na nossa qualidade de vida, em virtude de proporcionar os nutrientes necessários para o melhor funcionamento do nosso corpo. Há quem se preocupe com a alimentação para fins de perda de peso, redução do índice glicêmico, da hipertensão arterial ou do colesterol considerado ruim.

No entanto, pouco falamos da importância de uma alimentação saudável para o eixo cérebro-intestino: uma conexão bilateral entre o sistema nervoso central e o trato gastrointestinal, cujos respectivos órgãos consistem no primeiro e no segundo centro de controle do corpo humano que acabam por atuar conjuntamente em nossa saúde mental. 

Alimentação e saúde mental no capitalismo 

Enquanto 64,2 milhões de brasileiros passam fome (A Verdade, n° 292), a outra parcela da classe trabalhadora deste país sofre com nutrição inadequada causada pela produção capitalista. Nesse sistema, a alimentação reflete a dialética social das diferenças de classes: ao invés do alimento ser distribuído pela necessidade nutricional de quem o produz, ele é transformado em uma mercadoria para o lucro das classes dominantes.

Sendo assim, a indústria alimentícia, por meio de grandes tecnologias, gera excessivamente produtos baseados em todo tipo de ingredientes de baixo custo e insumos químicos de fácil acesso, ainda que reconhecidamente sejam tóxicos e cancerígenos para a nossa saúde. É isso que comemos, quando conseguimos pagar.

As questões alimentares são complexas, vão desde a produção desenfreada e o desperdício de alimentos até o acesso ao saneamento básico e a água tratada. Esses fatores garantem o preparo de qualquer refeição, é verdade, mas antes de tudo, eles próprios também estão relacionados à garantia da qualidade dos alimentos.

Na mesma medida, os transtornos mentais também possuem variadas causas. Entretanto, uma dieta de qualidade tem sido apontada como ferramenta na prevenção e no combate aos problemas da mente. Em 2020, durante a pandemia de Covid-19, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relatou um aumento em 17% do mercado brasileiro de fast foods e um decréscimo no consumo de arroz e feijão, sendo representados por 72,9% e 59,7% cada.

O alto consumo desses ultraprocessados, alimentos gordurosos e altos em açúcares industriais estão relacionados à maior probabilidade de desenvolvermos transtornos ansiosos, depressivos e Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), distúrbio neurológico de ocorrência comum no Brasil. 

Hoje, o Brasil é um dos países que alimenta o planeta (A Verdade, n° 276), ao passo que possuímos a população mais deprimida e ansiosa da América Latina, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), que realizou, em 2022, a maior revisão sobre a saúde mental global desde a virada do século. 

São estimados 11 milhões de brasileiros deprimidos (5,8%) e 18,6 milhões de ansiosos (9,3%). No mesmo ano, segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), 209.124 pessoas precisaram se afastar do trabalho devido aos transtornos mentais. 

Como a alimentação atua em nosso corpo?

O cérebro humano consome em torno de 20% de toda a nossa energia e tem como tarefa emitir comandos para o restante do corpo. Fica a cargo do trato gastrointestinal metabolizar e também produzir muitos neurotransmissores, isto é, as substâncias químicas liberadas pelos neurônios que carregam informações necessárias para que as células dos demais órgãos recebam os comandos dados pelo cérebro. 

Uma alimentação inflamatória com ingestão excessiva de ultraprocessados, açúcar adicionado, gordura saturada e com baixo consumo de cereais, frutas e vegetais, leva a deficiências de vitaminas e minerais, causando uma duplicação descontrolada na quantidade desses microrganismos. Com isso, a saúde intestinal se desregula e a transmissão de sinais entre o eixo cérebro-intestino é comprometida. 

Ou seja, os neurotransmissores que são sintetizados no intestino são alterados, aumentando os riscos de desenvolvermos distúrbios de humor, tais como ansiedade e depressão. O principal caso é o da serotonina, que regula os níveis bem-estar, apetite e padrões de sono: cerca de 95% da produção desse neurotransmissor provém do trato gastrointestinal, uma vez que o aminoácido necessário para metabolizá-la vem de fontes alimentares. 

Ao mesmo tempo, a propaganda capitalista nos arrasta para um ciclo vicioso de preocupação superficial com a estética. São horas na academia, inúmeros procedimentos cirúrgicos e intervenções na pele. A alimentação passa para o primeiro plano apenas quando se busca pelo shape perfeito, à medida que observamos um adoecimento psicológico em massa da classe trabalhadora e o crescimento do lucro de uma elite financeira que come do bom e do melhor. 

Falta de energia na Ilha do Governador (RJ) revela descaso das privatizações

Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio de Janeiro, ficou por mais 3 dias sem energia. A situação é fruto do sucateamento do serviço da empresa privada Light na cidade.

Igor Marques | Redação RJ


BRASIL – Moradores da Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio de Janeiro, ficaram sem energia elétrica durante todo o último final de semana. A falta de energia durou cerca de 4 dias, entre quinta-feira e domingo e afetou cerca de 200 mil pessoas.

A falta de energia afetou áreas como Bancários, Barão, Cocotá, Dendê, Freguesia, Praia da Bandeira, Tauá e Tijolinho, além da Ilha de Paquetá. Diversos serviços públicos, como postos de saúde, foram afetados e precisaram do fornecimento de geradores pela prefeitura.

De acordo com a Light, empresa privada que possui a concessão do fornecimento de energia na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, a falha no serviço teria sido causada pelo rompimento de um cabo na rede subterrânea de alta tensão, sendo necessária uma parada temporária no fornecimento para realização de reparos.

A recorrência dessa situação revela o sucateamento do serviço de energia na cidade, fruto de anos de falat de investimentos pela empresa responsável pelo serviço.

Privatização da Light: ataque ao povo fluminense

A Light foi uma das primeiras fornecedoras de energia elétrica da cidade do Rio de Janeiro. Embora tenha sido fundada pelos monopólios estrangeiros para exploração do mercado de bondes e de energia no Brasil, a empresa foi estatizada na década de 1970.

A empresa não duraria muito enquanto estatal. Na década de 1990, durante os governos neoliberais de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, diferentes partes da empresa seriam privatizadas. Inclusive, importante percentual seria vendido para uma empresa estatal francesa do setor de energia.

Hoje, a Light é propriedade de fundos da Faria Lima, como o WNT, que sofre com processos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Samambaia, de propriedade do ex-deputado federal Ronaldo Cezar Coelho (PSDB-RJ), e do banco espanhol Santander.

A empresa atende mais de 11 milhões de pessoas em 31 municípios do estado do Rio de Janeiro, oferecendo um serviço de falhas constantes e tarifas caras. Por exemplo, no início do ano de 2024, a Ilha do Governador ficou sem o fornecimento de energia elétrica por diversos dias, também por questões relacionadas ao rompimento de cabos.

A realidade é que, em nome do lucro de banqueiros estrangeiros e de milionários da Faria Lima, a Light oferece péssimo serviço à população fluminense, que frequentemente se vê sem o fornecimento de energia e com cobranças abusivas nas contas de luz.

Contra as privatizações e pela estatização dos serviços públicos

Como apontado no editorial da edição n° 294 do Jornal A Verdade, as privatizações são um fenômeno típico do sistema capitalista e da busca dos ricos pelo aumento de seus lucros.

Nos últimos meses, diversas lutas em defesa do serviço público foram travadas em todo o Brasil, por exemplo na luta contra a privatização da Sabesp, do sistema de metrô de Belo Horizonte (MG) e das escolas estaduais do Paraná. Além disso no Rio de Janeiro também ocorreu grande mobilização popular contra a privatização da Cedae, companhia de água e esgoto privatizada em 2021.

A situação da falta de energia na Ilha do Governador motivou que a prefeitura de Eduardo Paes – a mesma que defende a privatização de parques públicos e postos de saúde – pedisse ajuda ao Ministério de Minas e Energia. Ora, com a falta de ação da empresa privada, o povo pagará pelos prejuízos.

A reestatização dos serviços públicos e de todas as empresas privatizadas é uma luta fundamental para a cidade do Rio de Janeiro e para todo o país. É preciso construir ampla luta popular pela estatização da Light, e para que toda a população carioca tenha pleno acesso a esse serviço básico, que é o fornecimento de luz.

São Luís terá plebiscito pelo passe livre estudantil

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Campanha de abaixo-assinado com participação da Unidade Popular e do Movimento Correnteza conquistou histórica consulta, que será realizada ao mesmo tempo que as eleições municipais. Estudantes de São Luís poderão conquistar o passe livre 45 anos depois da luta que implementou a meia-passagem na cidade

Afonso Sodré | São Luís (MA)


No próximo dia 6/10, além de eleger seu futuro prefeito e vereadores, o povo de São Luís decidirá em plebiscito sobre a implementação do passe livre estudantil no transporte público local. A consulta municipal poderá ser um ato histórico onde os 750 mil eleitores da capital maranhense terão a chance de ampliar os direitos da juventude por meio da gratuidade nos transportes.

Essa possibilidade é fruto da Emenda Constitucional 111, que permitiu às cidades realizar consultas populares durante as eleições municipais, desde que a solicitação seja aprovada pela Câmara de Vereadores. Os instrumentos de democracia direta, como os referendos e plebiscitos, constam na Constituição Federal desde 1988, mas pouco foram utilizados pelos políticos burgueses do país, pouco interessados em ouvir a população.

Sob a gestão do prefeito Eduardo Braide (PSD), São Luís tem vivido inúmeros retrocessos nos direitos do povo. Porém, um abaixo-assinado organizado por professores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e por militantes da Unidade Popular (UP), Movimento Correnteza, PSOL e PCB criou um clima de pressão pela discussão urgente dessa pauta histórica do movimento estudantil.

Após a coleta de assinaturas em defesa do passe livre, doze vereadores apresentaram uma solicitação de organização de um plebiscito, que foi assinada pelo presidente da Câmara Municipal e São Luís e encaminhada ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Em sessão plenária, no dia 8 de julho, o TRE aprovou a proposta de consulta por unanimidade, um marco na luta dos partidos e movimentos sociais que defendem os direitos dos estudantes e trabalhadores em São Luís.

A luta dos estudantes em São Luís

O plebiscito do passe livre será realizado no 45º aniversário da conquista da meia passagem na capital do Maranhão. De 14 a 22 de setembro de 1979, nos anos finais da ditadura militar fascista, uma greve mobilizou dezenas de milhares de estudantes universitários e secundaristas em defesa da implementação do meio passe no transporte público ludovicense. Apesar da brutalidade da repressão policial à paralisação estudantil, ela só teve fim quando o governador João Castelo (ARENA) sancionou a leia da meia passagem, em vigor até hoje.

Apesar dessa vitória, os estudantes e a população de São Luís sofrem com um sistema de transporte coletivo que, ano após ano, aumenta o preço de suas passagens, precariza sua frota de ônibus e piora a qualidade do serviço oferecido.

Por isso, o Movimento Correnteza e os movimentos sociais que se mobilizaram pela construção do abaixo-assinado agora convocam o povo e os estudantes de São Luís a fazer história mais uma vez, pedindo votos para o “Sim” no plebiscito do passe livre. A transformação do transporte público da capital maranhense só virá através da luta dos estudantes e trabalhadores, eles apontam.

Paraná é o 3º estado com mais casos de racismo no Brasil

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O estado do Paraná alcançou o posto de terceiro estado com mais casos de racismo registrados em 2023. Os boletins de ocorrência totalizam 1.610, com um crescimento de 212% em comparação a 2022.

Gabriela Torres | Paraná


BRASIL – Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados na última quinta-feira (18/7), o Paraná alcançou o posto de terceiro estado brasileiro com mais casos de racismo registrados em 2023. Em comparação com o ano anterior, houve um crescimento de 212% no registro de boletins de ocorrência ligados a esse crime, que chegaram a 1.610 no estado sulista.

Entre os estados que compõem o país, o Paraná ficou atrás apenas do Rio Grande do Sul, que registrou 2.857 notificações de racismo, e de São Paulo, onde 2.304 queixas foram realizadas. O aumento nos boletins de ocorrência que denunciaram essa conduta criminosa foi um fenômeno nacional: eles chegaram a 11.610 casos formalizados só no último ano, um aumento de 77,9%.

Estima-se que os números oficiais compilados por pesquisas como o Anuário ainda não representem com veracidade a quantidade de violências raciais que ocorrem no estado. Casos em que o racismo ou a injúria racial são praticados por autoridades ou forças policiais ainda são pouco formalizados. Além disso, a prática do racismo ainda é normalizada em diversos contextos da sociedade, devido a seu caráter estrutural. No entanto, o aumento dos registros demonstra a influência da luta histórica dos movimentos negros nas ideias da sociedade, que estão em constante disputa.

O aumento dos casos de violência registrados também possui uma relação direta com o perfil do povo paranaense. O Paraná é o estado com maior percentual de negros da região Sul do país: 30% de seus habitantes se autodeclaram pretos e pardos, chegando a quase um terço da população.

De acordo com uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2022, 72% dos homicídios no país foram cometidos contra pessoas negras. Além disso, a população preta e parda representa 67,5% dos encarcerados nos presídios do país.

Estudantes denunciam falta de infraestrutura e Novo Ensino Médio em escolas de Parnamirim (RN)

Acompanhe relatos de estudantes de Parnamirim (RN) que denunciam escolas cada vez mais precarizadas pela falta de infraestrutura e verba, assim como o aprendizado prejudicado pelo Novo Ensino Médio.

Josue Nascimento | Parnamirim (RN)


EDUCAÇÃO – Sabemos que não é de hoje que as escolas brasileiras sofrem com a precarização do Novo Ensino Médio (NEM). Desde as reformas de 2016, após o golpe político que resultou no impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o Estado passou a focar cada vez mais no controle fiscal com um Pagamento da Dívida Pública e não focar nas necessidades do povo, como a educação. Isso trava os investimentos no ensino nas Escolas Estaduais. Com a aprovação às pressas na Câmara dos Deputados, retirando algumas diretrizes, aprovando a retirada da obrigação da matéria de Espanhol dos currículos. 

m Parnamirim, município da Região Metropolitana de Natal, estudantes relatam alguns exemplos de precarização que duram anos, e que o Governo do Estado, responsável pelas escolas, não propõe um novo modelo há décadas.

Anak, estudante da Escola Estadual Presidente Roosevelt fala de como a própria estrutura de sua escola é precarizada, possuindo problemas fáceis de solucionar, mas que muitas vezes são negligenciados pelo estado: “Na minha sala, a porta e o ar condicionado estão em situação insalubre, fazendo o ambiente ficar desconfortável e uma parte da sala inutilizada, visto que há um vazamento no climatizado há 2 meses. Além disso, basta estar presente na escola para perceber que a biblioteca está inativa, que os sanitários estão quebrados, e se sua visita for em um dia chuvoso, perceberá que a escola, assim como outras de Parnamirim, não está equipada para resistir às chuvas, sofrendo constantemente com o alagamento.”

Desde que foi imposto, o NEM, só vem se mostrando ineficaz e inimigo dos estudantes. Na prática, é totalmente inadequado e acaba sendo implementado de qualquer forma, prejudicando ainda mais o ensino. Pela falta de estrutura das escolas secundárias, mas também na falta de professores e professoras para encaminhar as disciplinas da base técnica, acabam os turnos com bem menos tempo de aula. Essa realidade não é diferente para os estudantes de Parnamirim.

Não há sequer a aplicação do “sexto horário” e as chamadas “Trilhas”, os itinerários de formação que permitem aos estudantes “escolherem” áreas de interesse específicas dentro do currículo, na realidade são totalmente dispersas e superficiais que tomam espaço de matérias essenciais da base comum como português, matemática, física e biologia. Essas unidades curriculares ocupam 6 das 25 aulas ofertadas por semana, e além de retirar espaço das matérias essenciais, ainda apresenta conteúdo raso e que não permite uma formação técnica e crítica de qualidade. 

Neste contexto de juntar a base técnica e a base comum sem capacidade operacional – sem ter infraestrutura e trabalhadores suficientes – os professores optam por substituir os seus conteúdos habituais, o que é ruim, pois fica cansativo e atrasa os alunos em outras matérias.

“Vivo numa realidade onde observo o número crescente  de pessoas que veem a escola no formato do NEM como perda de tempo, e ilegítima, visto a falta de diálogo com alunos e professores na sua proposição e implementação. O NEM rouba cada dia mais os nossos sonhos de ingressar em uma universidade e mudar a qualidade de vida de trabalhadores e trabalhadoras. Arrancaram-me o lazer, a cultura, o conhecimento e as decisões sobre como a escola deveria ser. Eu conheço muito bem os meus direitos como aluna, e nenhuma tentativa de reformar do governo em relação ao NEM será capaz de reparar os impactos causados pelo modelo de ensino até agora.”, afirma Anak, que milita no movimento estudantil pela União da Juventude Rebelião

Já Kauã, estudante da Escola Eliah do Rêgo, conta sua experiência e reforça como o NEM prejudicou o ensino das escolas públicas. “As unidades curriculares mais conhecidas como “trilha” tomam um grande espaço de aprendizado dentro das escolas. Não temos mais aulas para ir à biblioteca, a leitura não faz mais parte do nosso ensino. Não temos mais acesso à quadra, lugar segurado por cordas que a qualquer momento pode desabar, assim as aulas práticas de educação física, são realizadas dentro das salas.”

Dayvi, da Escola Estadual de Emaús complementa o que foi dito por Kauã e tantos outros estudantes. “Eu passo por quase tudo que foi dito [até agora], só tem uma diferença, as aulas duram muito pouco tempo, por isso eu acabo ficando somente 2 horas e meia na escola.”

Essa é a realidade de praticamente todos os estudantes secundaristas do país. No tempo em que o fascismo tenta impor seu projeto de destruição, a educação não cumpre um papel educador e crítico, pois ainda vivemos no sistema capitalista que privatiza o que deveria ser de todos. Por isso, devemos estar cada vez mais organizados nos grêmios para tocar a luta em cada escola, de cada estado e cidade do Brasil.

A importância da brigada para a militância coletiva

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Em uma rotina que mistura panfletagens, visitas a fábricas e feiras, e organização de brigadas, a militância de Carpina demonstra seu compromisso com o trabalho do jornal A Verdade.

Paulo Fernando | Carpina – PE


JORNAL – “Quem põe a mão no arado, não pode mais voltar atrás. Essa é uma passagem bíblica musicada no ano de 1985 e trata justamente da relação do homem com a terra. O arado, instrumento utilizado para preparar o solo para receber as sementes para o plantio, foi uma tecnologia fundamental para a subsistência da humanidade enquanto espécie. Arar a terra, aliás, é um trabalho estreitamente coletivo e precisa ser feito com muita atenção. Enquanto um controla a ferramenta, outro coloca as sementes na terra, que recebe por outras mãos a água para se desenvolver, a terra, o adubo…

É com essa ilustração que a militância de Carpina, cidade da Zona da Mata Norte de Pernambuco, conduz dedicadamente o trabalho com o Jornal A Verdade, especialmente as brigadas, o auge das atividades dos companheiros que dirigem o sindicato dos calçados na cidade e militam no Movimento Luta de Classes. O jornal A Verdade acompanhou e registrou a atividade desses companheiros.

“A brigada é o melhor dia da semana” 

Wilmar Fidelis trabalha e milita no Recife, onde passa a sua semana, geralmente acordando sempre nas madrugadas para garantir as panfletagens nas portas das fábricas, a visita aos trabalhadores nas garagens da limpeza urbana do Recife e região metropolitana, além de garantir a participação e organização dos militantes junto ao Movimento Luta de Classes, onde ele atua há mais de 15 anos. No sábado pela manhã Wilmar também acorda cedo, mas para outra atividade, que ele nos conta a seguir:

“Eu saio do Recife na sexta-feira, fim de tarde. Às vezes sou eu quem leva os jornais para Carpina. Eu moro no Bairro Novo e vou andando até a feira, que é onde a gente faz as brigadas, que a gente aqui chama de Sábado Vermelho. Fazer a brigada na feira é sempre bom, pois é um momento onde a gente encontra as pessoas, muitas de outras cidades do entorno como Glória do Goitá, Nazaré, Lagoa do Carro, várias que já conhecem o trabalho da gente, da UP, e vamos conversando com os trabalhadores. Pra mim é o melhor da semana quando tem a brigada com o jornal”. 

Já Paulo, responsável pelo trabalho com o jornal no município conta o quanto esse trabalho é importante para ele:

“Eu pego o jornal, levo para o sindicato, e já começo o trabalho de separar as cotas para cada brigadista, as cotas individuais e já vou reforçando e confirmando todo mundo para as brigadas. Quando algum companheiro não pode participar da brigada eu levo na fábrica pra eles ou vou na casa. A gente faz a brigada na porta da fábrica, com um carro de som, na feira pública, no comércio do centro e na praça central da cidade. A gente se divide em equipes e sai fazendo a brigada. Também fazemos na entrada da Falub, a faculdade aqui do município. Nós também colocamos o Jornal em duas bancas em Limoeiro, cidade vizinha daqui, que inclusive tem vendido nosso jornal. Enquanto os outros jornais físicos estão deixando de ser publicados o nosso tem sido bem recebido por aqui”. 

Manoel Pedro, trabalha na Alpargatas, fábrica de calçados de Carpina, e é um militante atuante no MLC e no sindicato. Ele conta para o Jornal A Verdade sua experiência com as brigadas e sua importância:

“Para a brigada a gente se encontra na Praça Joaquim Nabuco. A gente centraliza Alguns informes do jornal, lê uma matéria da edição atual, faz umas fotos para registrar a atividade e em seguida se divide, em dupla ou trio e sai ofertando o jornal entre os feirantes, as pessoas que estão na feira, falando individualmente, no boca a boca, fazendo a agitação. Quando tem o carro de som ou uma caixinha a gente se reveza fazendo as falas, enquanto os outros companheiros seguem vendendo duas cotas. Tem companheiro com muita timidez, mas esse é uma hora onde a gente vai treinando, até pra falar na frente da fábrica, com os trabalhadores. Essa hora da brigada ajuda bastante nisso. Pra gente perder o medo. Esse é o bom da brigada: a gente aprende junto”.

Entre os compradores do Jornal A Verdade na região está o senhor Manoel Barbosa da Silva, de 63 anos, vendedor no Mercado Público de Carpina, que há 15 anos compra o jornal aos brigadistas. Carpina trabalha com 150 jornais por quinzena e é uma referência quando se trata da prestação de contas, as cotas individuais e as brigadas coletivas, mantendo o ritmo e a disciplina esses anos todos com a agitação e a propaganda, mesmo com a maioria dos companheiros tendo que cumprir expediente na fábrica e as questões pessoais como famílias e filhos.