UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 12 de setembro de 2025
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Em Brasília, 10 mil servidores e estudantes vão às ruas pela educação e recomposição salarial

Cerca de 10 mil pessoas participaram de uma grande marcha pela educação que encheu Brasília nesta quarta-feira (17). A jornada unificada pela recomposição orçamentária da educação teve presença de docentes, técnicos administrativos e estudantes de todo país.

Anna Matos e Pedro Gheventer | Brasília


EDUCAÇAO – Cerca de 10 mil pessoas participaram de uma grande marcha pela educação que encheu Brasília nesta quarta-feira (17). Pela manhã os manifestantes fizeram uma passeata na Esplanada dos Ministérios e uma aula pública em frente ao Ministério da Educação (MEC) pela tarde. A jornada unificada pela recomposição orçamentária da educação teve presença de docentes, técnicos administrativos e estudantes de todo país.

Os servidores federais registram perdas históricas desde 2010, que se intensificaram em 2016 com o Governo Michel Temer e do fascista Bolsonaro, visto que não houve qualquer reajuste salarial. 

“As perdas acumuladas apenas entre setembro de 2016 e dezembro de 2023, levando em conta as projeções da inflação para 2024 e 2025, chegam a 42,9%. Em outras palavras, nestes anos nós perderemos quase metade do nosso salário”. Relata o professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Aroldo Félix.

Neste sentido, o Sindicato Nacional de Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN) realizou no dia 10 de Abril, com representações docentes de 34 seções sindicais presentes na reunião, uma ampla plenária, quando foi deliberada a deflagração da greve nacional nas universidades federais, institutos federais e CEFETs a partir do dia 15 de abril.

Esta decisão segue em sintonia com a disposição dos professores em todo o Brasil, a exemplo da assembleia geral da Associação de Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), onde com auditório lotado, com mais de 600 pessoas, deflagraram greve. 

Os professores propõem que haja um reajuste de 22,71% dividido em 3 parcelas iguais de 7,06% em 2024, 2025 e 2026. “A greve é essencial. Não é por aumento, é por uma recomposição do que foi perdido pela inflação”, afirma Pedro Xavier do Movimento Luta de Classes (MLC) e do comando de greve nacional da Federação Nacional dos Técnicos Administrativos das Universidades Públicas (FASUBRA).

Em reunião da mesa de negociação no dia 10 de abril, o governo afirmou a proposta de reajuste salarial zero para o funcionalismo público federal em 2024 e apenas apresentou uma proposta de aumento nos benefícios. Ao mesmo tempo, extinguiu a mesa de negociação unificada, cabendo a partir de agora cada categoria abrir o diálogo individualmente. Se não bastasse, o governo também tentou restringir o movimento de greve, ameaçando que qualquer interrupção (parcial ou total) de serviços públicos resultaria na suspensão das negociações em curso com a categoria específica, mas após pressão recuou.

“Está bem nítido que esta manobra do governo tem como objetivo desmobilizar a construção coletiva dos servidores e garantir as metas do arcabouço fiscal para 2024, sendo uma delas, deixar os servidores com ZERO de recomposição para este ano”, denuncia Aroldo.

Cícero Lopes da Silva, 69 anos, professor aposentado de agronomia da UNB, desabafa, “participo de greves desde 1982, e a gente nunca teve uma reposição salarial sem uma movimentação, sem luta e sem greve, então acho necessária. Essa posição de 0% de 2024 é vergonhosa”.

Ato reuniu mais de 10 mil pessoas contra os cortes na educação e por recomposição salarial aos servidores. Foto: Donavan Sampaio/JAV-DF

Greve nacional unificada da educação ganha força

Apesar da falta de disposição do Governo em garantir recomposição salarial, a greve da educação vem crescendo, abarcando cada vez mais setores e assumindo um caráter nacional e unificado. Prova disso é que os servidores dos institutos federais (IFs) representados pelo Sindicato Nacional, o SINASEFE, decretaram greve no dia 03 de Abril e  os técnicos administrativos das universidades federais estão em greve desde o dia 11 de março. Ou seja, toda a Educação Federal está em greve.

A greve é instrumento fundamental da classe trabalhadora para defender e conquistar direitos. Como bem afirmou Luiz Carlos Galetti, professor aposentado pelo departamento de Sociologia da UNB,  “A greve é importantíssima, é o estopim, é a chama viva da mobilização, precisamos de povo na rua, de professores, técnicos, estudantes, juventude na rua, inclusive para barrar esse crescimento da extrema direita, do fascimo”.

Os trabalhadores da educação estão em luta pela recomposição salarial mas também em defesa da educação pública que tanto vem sendo sucateada e sofrendo corte de recursos. A falta de orçamento para educação é uma das pautas principais da greve nacional. Mesmo com a educação em crise há mais de uma década, no ano passado o Governo Federal anunciou corte de R$ 310 milhões.

Após pressão popular, o Ministério da Educação (MEC) anunciou uma recomposição de R$ 250 milhões, que não chega nem perto de solucionar os problemas que assolam a educação brasileira. A comunidade acadêmica precisa de estrutura física adequada, verba para assistência estudantil e valorização dos profissionais que trabalham nas universidades. Devido a isso os estudantes vem apoiando esta mobilização e em vários estados em assembleia aprovando greves estudantis. 

Afinal, com o sucateamento das universidades públicas, as universidades privadas fortalecem o monopólio da educação. É necessário defender a educação pública, gratuita e de qualidade, e o fim do lucro em cima dela. Enquanto o lucro for prioridade, o ensino será sempre secundarizado, por isso precisamos defender os serviços públicos, apoiar e fortalecer a luta pela educação. Sigamos firmes na construção e fortalecimento da Greve da Educação Federal e rumo à Greve de todos os Servidores Públicos Federais.

DCE do CEFET homenageia estudante assassinado na porta da instituição

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Diretório Central dos Estudantes do CEFET-RJ aprovou dar o nome do estudante Matheus Cardoso, de 21 anos, morto em ação da PMRJ, à entidade estudantil. Matheus foi baleado numa perseguição policial que ocorria em frente à instituição federal no final de fevereiro.

Mariana Nepomuceno | Rio de Janeiro


JUVENTUDE – No dia 22 de fevereiro, dois alunos foram baleados em uma perseguição policial próximo a estação de São Cristóvão, nas imediações do CEFET-RJ, enquanto voltavam para casa após a aula. Foram encaminhados ao hospital e um deles recebeu alta no mesmo dia, enquanto o segundo, Matheus Cardoso Martins Passos, precisou passar por uma cirurgia.

Sabendo disso, no dia 05/03, o Diretório Central dos Estudantes organizou um mutirão para doação de sangue, levando mais de 30 estudantes, a fim de prestar apoio à família do Matheus. No entanto, o esforço dos estudantes se deparou com a notícia do falecimento do estudante de apenas 21 anos.

Matheus foi um jovem estudante do curso técnico subsequente de Administração, que assim como qualquer outro estudante da instituição tinha desejo de se formar e se tornar um bom profissional e vislumbrava uma vida melhor para sua família. A diferença é que sua vida foi interrompida pela violência consolidada no estado do Rio de Janeiro, que mata jovens negros periféricos todos os dias com o pretexto de trazer mais segurança. Mais segurança para quem? Para o povo que não é.

A ação da polícia que levou a morte do estudante foi feita numa região que é repleta de escolas e universidades, como o IFRJ campus Maracanã, Colégio Pedro II, UVA e Estácio, que sofrem diariamente, com o descaso da segurança pública nos arredores. O CEFET, por exemplo, no ano de 2022, teve um dia de aula suspenso por conta do grande número de assaltos em frente a instituição.

Nossa pergunta é: quantos mais estudantes precisam morrer para que nossa voz seja ouvida? Quantos Matheus, Àgathas ou João Pedros terão que ter suas vidas interrompidas em nome da manutenção de uma política de segurança pública disfuncional e genocida fomentada pelo governador Cláudio Castro?

Portanto, para fazer uma denúncia permanente e para que o nome de Matheus Cardoso nunca seja esquecido e que sua vida seja sempre lembrada, os estudantes votaram que a entidade carregasse seu nome. Além disso, o DCE seguirá com as mobilizações por mais segurança e lutando pelo direito de estudar sem o medo de morrer na esquina da faculdade.

A luta das mulheres trans contra a barbárie capitalista

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As mulheres trans no sistema capitalista tem seus corpos rejeitados no trabalho e jogados nas ruas e na miséria. Nos vendo como ameaça, o fascismo concentra a política de ódio para assegurar os interesses do patriarcado. Somente organizando o conjunto das mulheres trans da classe trabalhadora, que tem todas as condições para a luta é que conquistaremos verdadeira emancipação.

Gabrielly Almeida | Fortaleza


OPINIÃO – No dia 15 de fevereiro deste ano, completou-se sete anos de um dos mais horríveis assassinatos já registrados em gravações contra uma mulher trans. O caso ocorreu em Fortaleza (CE), onde Dandara Ketlyn dos Santos foi brutalmente assassinada.

Em ação planejada por 12 homens que tinham ódio o suficiente para chegar a espancá-la à pauladas, pedradas, chutes, enquanto recebia dos piores xingamentos durante agressões, sendo executada em seguida a sangue frio por tiros de arma de fogo na cabeça. O caso rondou mundialmente e surpreendeu até os setores mais misóginos que orgulham-se de seu nojo por mulheres trans. Afinal, tudo pode ser facilmente normalizado e esquecido em uma sociedade que se sustenta sobre a degradação feminina, ainda mais sendo uma pessoa trans, onde é ainda maior tal desumanização, ou seja, “era bom ter morrido mesmo” para o Estado burguês.

Para alguns grupos e movimentos que estão na luta popular, casos como o de Dandara e tantas outras vítimas são vistos muitas vezes simplesmente como vítimas mortas por preconceito. Além de ser uma posição rasa, é romantizada a resistência trans e não interligam contundentemente a questão trans ao patriarcado e a estrutura de classes do capitalismo.

É preciso, com isso, posicionar-se sobre a profundidade do que de fato materializa tanto ódio, violência e opressão às mulheres, sobretudo as trans, no capitalismo. Ora, por que o Ceará é o estado que mais mata mulheres trans no país pelo sexto ano consecutivo? Porque tais violências e assassinatos não diminuem, pelo contrário, além de aumentar vão tornando-se cada vez mais brutais nesta sociedade?

A estrutura familiar e o patriarcado

Se o patriarcado é uma das principais e mais violentas arma de controle do Estado sobre as mulheres trabalhadoras e um dos meios fundamentais para garantir à burguesia (em ampla maioria, homens) sua “sagrada” propriedade privada com seus incessantes lucros resultantes da exploração do povo, a misoginia específica a mulheres trans dizem centralmente à respeito da consolidação e princípios da família tradicional e o papel feminino na subordinação ao homem no sistema capitalista.

“A divisão do trabalho – diz K. Marx e F. Engels – assenta simultaneamente na divisão social do trabalho, na família, e na divisão da sociedade em famílias isoladas e opostas entre si. Implica, ao mesmo tempo, a distribuição desigual do trabalho e dos seus produtos, isto é, da propriedade, cuja forma inicial está consagrada na família, em que a mulher e os filhos são escravos do marido.” (A Ideologia Alemã, Marx e Engels, 1845)

Na origem do patriarcado, os detentores da propriedade privada necessitam da chamada família, palavra de origem do latim famulus, que significa escravo doméstico.  Ou seja, a família é, literalmente, o conjunto dos escravos pertencentes ao patriarca, ao chefe, ao senhor, como também coloca F. Engels na obra A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (1884).

Neste sentido, voltamos à questão transfeminina sobre a família: a mulher trans, contendo a especificidade de construir, seja no nascimento ou durante sua vida, o papel imposto ao patriarcado para atuar nos padrões do que seja o “homem”, em consequência, propositalmente ou não, quebram a corrente ideológica burguesa nos mais variados aspectos do gênero na sociedade capitalista (a posição social, o papel de gênero, o que configura o homem cultural e histórico, etc.).

O movimento trans atual e sua atuação

Se o feminismo burguês coopta de ‘corpo e alma’ a ideologia das mulheres trabalhadoras no último século, atualmente a classe dominante já não consegue esconder a crescente visibilidade da luta e resistência trans. Isso faz com que disputem, ininterruptamente, a consciência através de todos os meios que possui (instituições, telecomunicação, redes sociais, etc.) para impor goela abaixo seu discurso neoliberal e individualista.

Obviamente, a identidade no aspecto da construção pessoal para as mulheres trans é importantíssima sobre sua dignidade, autoconhecimento e autoestima. Porém, por mais duro que seja, isso está longe de ser o que nos constrói como trans enquanto pertencentes da classe trabalhadora em uma sociedade dividida em classes e patriarcal.

Explicando de outro modo: “A questão feminina – dizem as burguesas – é questão de direito e justiça. A questão feminina – respondem as proletárias – é questão de um pedaço de pão” (A Mulher Trabalhadora na Sociedade Contemporânea, A. Kollontai, 1908).

É preciso construir uma luta revolucionária de mulheres trans 

De fato, nós conquistamos inúmeras vitórias fruto da luta popular. Em 29 de janeiro de 2004, quando o Ministério da Saúde lançou no Congresso Nacional a campanha Travesti e Respeito, com apoio de líderes do movimento pelos direitos de pessoas trans, e tantos outros acontecimentos que foram importantes para que avançássemos por direitos básicos.

Ademais, podemos aumentar magnificamente nossa atuação de modo combativo, organizado e socialista. Coloca-se diante de nós a mais dura crise econômica do capitalismo imperialista e somos aquelas que são jogadas para a rua, na miséria e no desemprego. O fascismo se fortalece mundialmente e somos aquelas que são um dos primeiros alvos de ódio da extrema-direita e sua política de morte.

A social-democracia, que promete conciliar os interesses dos ricos e dos pobres, e a mulher trans fica a depender de migalhas e à mercê do sistema. Portanto, somente organizando a luta é que conseguimos conquistar vitórias e é preciso que seja a partir de um ponto de vista revolucionário.

Para não cair no fracassado individualismo burguês e para não separarmos a luta trans da luta feminista, é necessário entender os papéis de gênero, sociocultural e histórico no aspecto da mulher proletária. Partindo da mais acertada linha política libertadora, o marxismo-leninismo, pois somente ele continua sendo capaz de mobilizar o conjunto das mulheres de forma unitária e coletiva, para construir a organização de ferro que destruirá as estruturas da opressão e exploração capitalista, e construirá a sociedade efetivamente nova que não trata-se de um sonho idealista dos trabalhadores, mas a certeza através do socialismo científico, a partir da nossa realidade material enquanto mulheres brasileiras.

Nossa luta é para que não se permita nossas mulheres serem assassinadas pelo Estado e o Capital e fazer com que todas as ferramentas do machismo e da misoginia não façam mais sentido sobre um governo revolucionário dos trabalhadores, tendo convicção que tanto podemos como devemos construir a sociedade socialista no Brasil e estabelecer o triunfo dos povos no mundo inteiro.

Visita de Macron ao Brasil escancara interesse imperialista na exploração da Amazônia

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Entre os dias 26 e 28 de março de 2024, o presidente Lula recebeu o atual presidente Francês, Emmanuel Macron, sob o pretexto de “estreitar relações entre a França e o Brasil”. O que resultou da visita foi, no entanto, uma reafirmação do interesse imperialista francês na exploração do patrimônio e dos recursos ambientais brasileiros. 

Thaís Steinmuller Farias | Paris, França


INTERNACIONAL – No total, 21 acordos foram assinados, dentre estes, um número significativo trata-se de cartas declarações burocráticas de intenções. Contudo, um deles merece atenção: o acordo de interesse francês para a exploração de reservas brasileiras de urânio. Hoje, a França tem o seu domínio sobre o Urânio do Níger ameaçado pelas rebeliões populares anticoloniais e antifrancesas.

A dinâmica predatória de exploração francesa gera contradições no território nigeriano: 15% do urânio “francês” vem do Níger enquanto cerca de 85% dos nigerianos não possuem acesso à eletricidade. Os lucros bilionários vão parar nos bolsos dos patrões da empresa criminosa “Orano“, ex-“Areva“. 

O Brasil detém a oitava maior reserva de urânio do mundo e a exploração massiva de jazidas na floresta amazônica teve início nas décadas de 1970 e 1980, durante a Ditadura Militar Fascista. Essa exploração nasceu de forma truculenta por meio de invasão e assassinato que culminaram no genocídio do povo indígena Waimiri-Atroari. Os trabalhadores sobreviventes denunciam diversos crimes como espancamentos, prisões ilegais e tortura. 

A ideia de permitir a exploração de empresas estrangeiras em reservas brasileiras de urânio foi interesse central dos governos de Jair Bolsonaro e de Michel Temer. Em 2022, Bolsonaro sancionou uma lei que autoriza o setor privado a explorar minérios nucleares nacionais. 

A energia nuclear e sua exploração sustenta o neo-colonialismo e a ideia de que a “transição ecológica” e de independência energética, perpetuada pela França e por outros países da Europa Ocidental, é uma farsa que se sustenta na exploração ferrenha dos países dependentes pelos países imperialistas.

Assim como os povos da região do Sahel, na África Ocidental, o povo brasileiro não tem nada a ganhar com a abertura para a exploração imperialista dos nossos recursos naturais. Enquanto não tivermos soberania de decisão sobre nossos próprios recursos naturais, eles continuarão a ser utilizados para enriquecer uma minoria parasitária e não para atender às necessidades ardentes das populações locais e de preservação e autonomia dos povos indígenas e ribeirinhos.

Para isso, somente a mobilização popular pode construir as bases de uma economia emancipada e independente do parasitismo imperialista, rumo ao socialismo.

Câmara de São Paulo dá golpe para votar a privatização da Sabesp

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Sob o interesse do capital internacional, processos para privatizar a SABESP atropelam os processos institucionais e ignoram manifestações populares.

Tiago Silva e Márcio Lopes


Em um golpe capitaneado pelo vereador Milton Leite (União), presidente da Câmara Municipal de São Paulo, a votação da privatização da Sabesp na capital foi marcada para hoje, quarta-feira (17), contrariando a vontade popular: a maioria dos paulistas é contra a venda da empresa, segundo pesquisa do instituto Quaest divulgada na última segunda (15).

A data da votação do Projeto de Lei 163/2024, que trata da privatização da Sabesp em São Paulo, foi divulgada no Colégio de Líderes desta terça-feira (16) e revoltou os vereadores da oposição e a população que acompanhava a reunião, uma vez que havia acordo para que fossem realizadas Audiências Públicas antes de pautar o tema em Plenário. Apesar disso, Leite atropelou o processo e acelerou a votação para beneficiar os interesses dos grandes acionistas da companhia e fugir dos protestos da população.

A primeira Audiência Pública sobre o processo de privatização da Sabesp, realizada na última segunda (15), foi marcada por uma forte mobilização popular, diversos movimentos sociais estavam presentes para apresentar suas críticas ao processo de privatização e denunciar a forma acelerada que visa atender aos interesses de lucro de empresários com a privatização desta empresa que presta serviços essenciais para a população do estado. 

Vivian Mendes, presidenta estadual da Unidade Popular, denunciou em sua intervenção como a atuação política nesse processo tem acontecido apesar da vontade do povo, ignorando o plebiscito onde quase 1 milhão de paulistas se pronunciaram contra a privatização, e também na ALESP, onde a mesma foi presa junto à outros manifestantes que protestavam. Vivian também ressaltou os interesses internacionais na privatização da SABESP, temos vivenciado um avanço do capital sob os recursos naturais do nosso país, o que prejudica a soberania e autodeterminação do nosso povo. Adiantar a audiência para hoje, quarta-feira (17) faz parte dessa tática de tentar silenciar a população e atender aos interesses do capital internacional.

Viola, trabalhador da SABESP e militante do MLC (Movimento Luta de Classes), destacou os exemplos das últimas privatizações que com as mesmas promessas de melhorar os serviços essenciais não foram comprovadas na prática, como a Enel e os transportes públicos, o que se comprovou foi o aumento do custo para a população por um serviço de menor qualidade, além da piora das condições dos trabalhadores. 

A importância da Sabesp para a população de São Paulo

Criada em 1973, a Sabesp é responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos de 375 municípios do Estado de São Paulo, prestando serviço para mais de 30 milhões de pessoas no Estado. Sua origem remonta aos problemas sanitários decorrentes da urbanização mal planejada durante a ditadura militar e a luta para se organizar uma empresa pública para garantir a saúde pública por meio do saneamento básico para toda população. Naquela época, não havia água tratada e nem coleta de esgoto para uma grande parte da população do Estado de São Paulo, gerando graves problemas de saúde para as famílias trabalhadoras.

Ao longo dos últimos anos, a empresa buscou aprofundar seus investimentos em infraestrutura, especialmente após a crise hídrica que ocorreu em 2014, gerada pela falta de investimento público e planejamento do governo de São Paulo, como indicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em um informe de setembro daquele ano.

Com a privatização, o aumento das tarifas de água e esgoto passa a atender os interesses privados de grandes acionistas sedentos pelo lucro, muitas vezes de outros países. Como vimos no Rio de Janeiro, a previsão é a de piora do serviço público, corte de investimentos e quebra da política de universalização que está em curso neste momento, prejudicando as famílias mais vulneráveis em nome do lucro.

Hoje a Sabesp é uma empresa controlada pelo poder público, o que fez ela levar São Paulo à liderança nacional na cobertura e qualidade do saneamento. O esforço e a dedicação de milhares de trabalhadores reflete a luta pela universalização do saneamento básico e por mais políticas públicas.

Resolução de Normativa 017 na UFSC é um ataque à permanência estudantil

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Normativa que dispõe sobre o funcionamento de todos os cursos da Universidade Federal de Santa Catarina está em processo de resolução. As mudanças querem instituir critérios para expulsar os estudantes trabalhadores da universidade. 

João Rio e Mateus Pena | Florianópolis


EDUCAÇÃO – A Resolução Normativa nº 017/CUn/97 trata do regulamento de todos os cursos de graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) discorrendo sobre a renovação, cancelamento e trancamento de matrícula; frequência e aproveitamento; validação de disciplinas; proibição de ação de trote, dentre outras coisas. 

Essa resolução não é alterada desde 1997. Em 2018, foi instituída uma comissão de discussão para elaboração de uma série de mudanças na normativa. Em 2023, essas elaborações foram apresentadas para consulta pública pela comissão. O que se viu foram uma série de propostas absurdas, completamente descoladas da realidade dos estudantes. Com propostas que trazem, basicamente, critérios mais práticos para a expulsão de estudantes, hoje a 017 é para a UFSC umas das pautas mais urgentes do movimento estudantil.

Entre as mudanças aplicadas, a mais gritante é a retirada da sessão de jubilamento da resolução e a adição de seções de bloqueio temporário e recusa de matrícula. 

A proposta é instituir uma série de situações que tem como resultado final o cancelamento da matrícula. Isso significa, na verdade, aumentar o número de maneiras com que o estudante pode ser expulso. Esse método cancela a matrícula do estudante na universidade sem atacar o real problema que causa o mau desempenho dos alunos nas matérias: cargas horárias de trabalho somadas aos estudos, políticas de permanência insuficientes, cursos com cultura de reprovação e diversas questões estruturais que precarizam as condições de estudo. 

A principal situação a ser questionada é a recusa da matrícula por “desempenho insuficiente”. A proposta é que se possibilite a recusa da matrícula de estudantes que tenham reprovado em todas as disciplinas do semestre anterior; reprovado 4 vezes em uma mesma disciplina; ou reprovado mais de 20 vezes desde seu ingresso no curso. Além de também, acabar com o arredondamento do 0,75  para cima. O que é na verdade instituir a possibilidade de deixar de recuperação ou mesmo reprovar estudantes com uma nota de 5,9.

As propostas da comissão demonstram que: ou de fato ignoram ou desconhecem por completo a realidade em que vivem os estudantes da UFSC.

A verdade é que os estudantes pobres passam no vestibular e precisam lutar com unhas e dentes para continuar suas graduações. A UFSC, embora eleita em muitos rankings, como uma das melhores universidades do país, está caindo aos pedaços. As bolsas de auxílio e estágios, além de serem quantitativamente poucas, financeiramente não são suficientes para garantir o alto custo de vida encontrado no entorno da UFSC e em Florianópolis de modo geral. Esse fato acaba obrigando a grande maioria dos estudantes a buscarem um trabalho. Ainda, a universidade não presta apoio para lidar com a defasagem de ensino da juventude que chega das escolas públicas, não têm auxílio suficiente para estudantes mães, não têm vagas na moradia e a realidade, principalmente nos cursos de exatas, é de professores carrascos reprovarem turmas inteiras e perseguirem estudantes por questões políticas e pessoais.

Além do mais, durante a pandemia, os estudantes da UFSC foram forçados a estudar de maneira remota, o que para muitos significou condições horríveis para o aprendizado. Após o retorno às aulas presenciais, esses estudantes não receberam apoio para se reintegrar no ritmo da universidade, levando a um aumento significativo das reprovações. Esses fatos chamaram atenção para um problema existente há muito tempo na universidade: a falta de condições para permanência dos estudantes. 

As engenharias serão as principais afetadas pela resolução:

Os cursos de engenharia do Centro Tecnológico (CTC/UFSC) estão dentre os cursos com maior número de reprovações. No semestre de 2022.1 os alunos do curso de engenharia elétrica tiveram disciplinas com índices de reprovação absurdos: em uma das matérias foram 57 reprovados de 86 matriculados (66,3% de reprovação) e em outra matéria somente 8 estudantes aprovados de 64 matriculados (87,5% de reprovação). Isso mostra o efeito que a pandemia teve no ensino e como a universidade se abdicou de cumprir com o seu papel de auxiliar no estudo de seus estudantes. 

Porém, o problema de reprovação não é exclusivo do período pós-pandêmico. Em 2019.1 essas mesmas matérias citadas tiveram 51,8% e 42,3% de reprovação respectivamente¹. 

Agora, a resolução 017 vem com mudanças que impactam na vida de todos os estudantes, principalmente  entre os estudantes pobres, trabalhadores, mães, pais e em cursos com altas cargas de disciplinas de cálculo e forte cultura de reprovação. A mudança irá dificultar a permanência desses estudantes na universidade e irá elitizar ainda mais o ensino superior na UFSC.

É comum estudantes terem diversos aspectos de suas vidas prejudicados por uma estrutura acadêmica que não se preocupa de fato com a formação técnica e intelectual. As gestões de cursos lidam com as aprovações e reprovações de forma leviana, descolada da vivência estudantil, cultivando o adoecimento em diversos estudantes, que nas rotinas intensas de trabalho e demanda de grandes cargas horárias de estudo, acabam adoecendo física e emocionalmente, com muitos vindo a evadir da Universidade.

Quem sofre com isso não são somente os estudantes, mas toda a comunidade científica e universitária. Afinal, o que se propõe é que as muitas barreiras para a formatura se transformem não mais apenas em barreiras, mas na impossibilidade dela. É uma política de retirada dos direitos de estudantes pobres de terem a perspectiva de um diploma e de conseguirem um trabalho menos precarizado.

¹ Dados retirados de um documento de incidência de notas do Departamento de Administração Escolar da Pró-reitoria de graduação.

Austeridade: a inimiga declarada da classe trabalhadora

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Lutar contra as políticas de austeridade, que sacrificam milhares de vidas, é lutar a favor de uma sociedade socialista. A austeridade tira os poucos direitos que a classe trabalhadora possui para que os capitalistas se apoderem ainda mais das riquezas produzidas por essa mesma classe. 

Henrique Santos | Florianópolis


BRASIL – O conflito interimperialista da Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914-1918, revelou um fato que os capitalistas se esforçaram em esconder: a economia é também política. A pobreza, a miséria e a fome da classe trabalhadora não são reflexo de leis naturais da economia, mas sim de uma decisão política por parte dos capitalistas para aumentar seus lucros. No pós-guerra, com o avanço da organização da classe trabalhadora, os capitalistas precisaram redesenhar a nova ordem, a fim de garantir seus lucros: a ordem da austeridade, que viria a destruir a vida de milhões de trabalhadores.

Para retomar controle absoluto sobre a classe trabalhadora, os economistas burgueses propagaram o conceito da austeridade: “é preciso poupar, e depois gastar”; “é preciso crescer, estabilizar e somente depois distribuir”. As afirmativas são vistas em grandes mídias burguesas e em diversos debates sobre a política econômica brasileira. A austeridade fiscal, por exemplo, se realizou nos cortes orçamentários do Estado, principalmente dos programas de assistência social, além de uma forte taxação regressiva, que colocava o peso dos impostos sobre a classe trabalhadora. Essa política anti-povo foi implementada principalmente pelos governos fascistas de Michel Temer e Bolsonaro através, por exemplo, da proposta do ex-presidente Bolsonaro de reduzir em 94% o orçamento para políticas públicas dedicadas ao combate da violência contra a mulher. Ou, ainda, da recusa em reajustar o salário mínimo acima da inflação, acarretando na carestia da vida para a classe trabalhadora.

Outra medida anti-povo é a austeridade monetária. Para manter o “custo do dinheiro” elevado, os governos aumentam a taxa de juros, expandindo a remuneração de rentistas e capitalistas que vivem apenas de sugar os recursos do povo. Um dos principais efeitos negativos é a dificuldade do governo para tomar empréstimos, limitando os gastos com hospitais, escolas, ruas, transporte, programas sociais etc., atacando diretamente o povo, enquanto o lucro dos capitalistas não para de subir. Da mesma forma que os juros altos aumentam a remuneração de rentistas que não trabalham um minuto sequer ao dia, aumentam a exploração dos trabalhadores, que passam a pagar juros abusivos no cartão de crédito e no financiamento de suas casas, por exemplo.

Relação entre austeridade e Estado 

Engana-se quem pensa que a austeridade é sinônimo de “Estado pequeno”. Como a história demonstrou, o projeto da austeridade foi, historicamente, tarefa de ditadores fascistas. Benito Mussolini, por exemplo, subiu ao poder através da promessa de perseguir violentamente os operários revolucionários da Itália, numa aliança com os grandes e médios industriais, com os latifundiários e com os grandes investidores contra o povo organizado.

A primeira grande experiência neoliberal, que foi quem levou o projeto da austeridade até às últimas consequências, foi a experiência chilena, encabeçada pelo ditador fascista Augusto Pinochet. Essa experiência contou com a repressão militar, a tortura e até o sequestro e venda de crianças para garantir a privatização dos recursos públicos chilenos e a implantação de uma política assassina e anti-povo. Assim como ocorre com a perseguição sistemática de lideranças indígenas e camponesas que resistem à essa política no Brasil.

O Estado também serve como um meio importante de intensificar o trabalho dos operários, reduzir os salários e atacar a organização política dos trabalhadores. A austeridade empurra novas relações de trabalho: a jornada passa a ser mais intensiva, menos remunerada e os direitos trabalhistas são suprimidos. 

A guerra do povo trabalhador contra a austeridade 

Diante da violência intensificada pelas políticas de austeridade, é tarefa da classe trabalhadora organizada lutar contra essa política econômica e ideológica verdadeiramente assassina e se manifestar de maneira contundente e intransigente contra seus representantes intelectuais, como os economistas e a mídia burguesa, que defendem a austeridade do ponto de vista ideológico e filosófico, assim como contra seus representantes práticos, como os senadores, deputados, vereadores, ministros e presidentes, que executam-na de maneira prática através da política burguesa, das leis etc.

É preciso educarmo-nos com a teoria revolucionária e armar politicamente o nosso povo com a luta prática, permitindo que conquistemos uma vida melhor para a nossa classe. Nenhuma política de austeridade resiste às greves e às revoltas organizadas da classe trabalhadora, quando ela está determinada em extirpar a sociedade burguesa do mundo e substituí-la por uma nova sociedade mais justa e fraterna: o socialismo.

Lutar contra as políticas de austeridade, que sacrificam milhares de vidas, é lutar a favor de uma sociedade socialista. A austeridade tira os poucos direitos que a classe trabalhadora possui para que os capitalistas se apoderem ainda mais das riquezas produzidas por essa mesma classe. Apenas o socialismo é capaz de subverter esse esquema assassino e anti-povo por uma organização político-econômica verdadeiramente popular e justa para com todos.

 

“A união faz a força”: a importância de um Grêmio Estudantil Organizado

No contexto escolar, existe um grupo de estudantes cujo compromisso com a comunidade é essencial: o Grêmio Estudantil. Apesar de ser frequentemente reduzido apenas como um órgão responsável pela organização de eventos e atividades extracurriculares, a verdadeira relevância de um Grêmio Estudantil organizado é o de cumprir um papel político na vida dos estudantes.

Lucas Jagiello | Florianópolis



JUVENTUDE –
 A representação estudantil serve como um canal direto entre os estudantes e a administração escolar. Ao eleger democraticamente uma chapa ativa, os estudantes ganham uma voz unificada para expressar preocupações, propor melhorias e participar do processo de tomada de decisões dentro da escola. Além disso, essa atuação política desempenha um papel crucial na promoção do engajamento dos estudantes ao organizar eventos, atividades e iniciativas que estimulam os seus colegas a se envolverem com a vida escolar de forma significativa.

Um exemplo a ser dado é a Escola de Educação Básica Professora Lilia Ayroso Oechsler, na cidade de Jaraguá do Sul–SC, que foi palco de uma atuação estudantil combativa. Há quatro anos, através da organização de estudantes, foi possível resgatar a essência do movimento estudantil secundarista nesse espaço. Isso só foi possível a partir de uma gestão de Grêmio estudantil, que proporcionou melhorias estruturais na unidade escolar por meio de eventos como o “Baile de primavera” e a adoção de projetos sociais como o “Galera Curtição Liayo”. Além disso, o Grêmio também cumpriu um papel fundamental no auxílio de estudantes e funcionários com problemas de convivência, encontrados depois de um longo período de isolamento causado pela pandemia do Covid-19.

“Mediante todo apoio dado não apenas pelo administrativo escolar, mas sim pela comunidade, conseguimos ao longo da gestão cumprir metas impressionantes, como o desenvolvimento de projetos voltados tanto para o ensino fundamental, quanto para o ensino médio, a criação e revitalização de novos espaços para os alunos e o resgate de um pedaço da história de nossa cidade, homenageando a patronesse, Prof. Lilia Ayroso Oechsler com um memorial em comemoração aos 90 anos da escola”, afirma Amanda Klebowski, Presidente do Grêmio Estudantil da E.E.B Prof. Lilia Ayroso Oeschler.

Essas ações não apenas fortaleceram os laços entre os estudantes, mas também criaram um senso de pertencimento e responsabilidade dentro da comunidade escolar.

O primeiro contato com a democracia

Para muitos jovens, o primeiro contato com os princípios da democracia não ocorre nos bancos das universidades ou nas urnas eleitorais, mas sim nos corredores das escolas, através do envolvimento no grêmio estudantil. Essa experiência oferece aos estudantes uma oportunidade única de aprender sobre participação cidadã, representação e tomada de decisões coletivas.

Em muitos casos, o processo de eleição para o grêmio representa o primeiro contato com a vida política. A campanha eleitoral, os debates políticos e a votação para o Grêmio são momentos em que os estudantes aprendem sobre a importância do diálogo, da persuasão e do respeito às diferentes opiniões.

Os estudantes que participam têm a oportunidade de compreender que são agentes ativos na política desde cedo. Ao se envolverem nas atividades do grêmio, eles percebem que têm o poder de influenciar as decisões que afetam suas vidas e as de seus colegas. Essa experiência permite entender a importância do engajamento cívico e perceber que suas vozes têm peso e relevância no cenário político, mesmo que em âmbito escolar.

A importância de um grêmio estudantil organizado

 “A união faz a força”, o famoso ditado popular, não poderia descrever melhor a luta estudantil. O movimento estudantil brasileiro, moldado por contextos sociais, políticos e culturais, desempenhou um papel crucial durante o período da ditadura militar, em defesa da democracia, dos direitos civis e do retorno ao Estado Democrático de Direitos.

Desde o início do regime militar, os estudantes foram alvo de perseguição e repressão por parte do governo golpista. Muitos líderes estudantis foram presos, torturados e até mesmo mortos por se oporem ao regime. Entre eles, heróis como Manoel Lisboa, Emmanuel Bezerra, entre outros.

Lutadores memoráveis, que ao longo dos anos, influenciaram uma nova juventude combativa e organizada, como a UFES (União Florianopolitana dos Estudantes Secundaristas). Essa entidade, que representa todos os estudantes das escolas públicas e privadas dos ensinos fundamental, médio, técnico, supletivos e cursos pré-universitários de Florianópolis, ao longo de 2023, foi responsável por realizar diversas atividades na região metropolitana de Florianópolis. 

Não abrindo mão de pautas como, a revogação do Novo Ensino Médio, o combate ao fascismo e às opressões nas escolas e a luta pelo passe livre para toda a juventude, a UFES provou que os movimentos estudantis organizados desempenham um papel vital na construção de sociedades mais justas, inclusivas e democráticas. Em um mundo marcado por desigualdades e injustiças, o movimento estudantil continua sendo uma voz poderosa em defesa dos direitos humanos, da justiça social e da democracia, inspirando esperança e transformação em todas as esferas da sociedade.

Especulação imobiliária poderá jogar Praia do Buracão às sombras

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Além do encarecimento dos imóveis, do aumento dos congestionamentos pelo adensamento populacional e da perda da identidade cultural do bairro, esse processo ganhou um desdobramento ainda mais agudo, a partir do projeto imobiliário previsto para ser erguido na Praia do Buracão, uma das praias mais frequentadas da orla do Rio Vermelho.

Gustavo Rebelo e Gabriel Reis


Há décadas, o desenvolvimento urbano da cidade de Salvador foi capturado pelos interesses das incorporadoras, das construtoras e do capital imobiliário. Os sintomas desse quadro são perceptíveis na paisagem da cidade. Muito rapidamente as residuais áreas verdes foram devastadas para dar espaço a empreendimentos privados, como condomínios ou supermercados. Imóveis históricos são demolidos e substituídos por construções modernas. De maneira feroz, bairros inteiros são verticalizados, alterando radicalmente a lógica social a qual os seus moradores e visitantes estão habituados.

Essa tendência ganhou um novo impulso a partir da aprovação do novo PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano) e da LOUOS (Lei de Ordenamento do Uso do Solo) em 2016, quando Salvador era governada pelo oligarca ACM Neto, padrinho político do atual prefeito Bruno Reis (União Brasil). Com esta nova legislação, foi permitida a construção de espigões na orla marítima da cidade de até 25 andares, além da devastação de áreas verdes, particularmente no bairro de Patamares.

Uma das regiões mais sensíveis a essas transformações é o bairro do Rio Vermelho. Famoso por ser palco da celebração ao Dia de Iemanjá, pela atividade da pesca artesanal e por sua efervescência cultural, suas tradicionais residências de um a dois pavimentos estão sendo paulatinamente compradas e demolidas, dando lugar a condomínios verticais de alto padrão. Além do encarecimento dos imóveis, do aumento dos congestionamentos pelo adensamento populacional e da perda da identidade cultural do bairro, esse processo ganhou um desdobramento ainda mais agudo, a partir do projeto imobiliário previsto para ser erguido na Praia do Buracão, uma das praias mais frequentadas da orla do Rio Vermelho.

O empreendimento residencial de luxo é tocado pela antiga Odebrecht (atual Novonor) e prevê a construção de duas torres de 15 a 16 pavimentos, a serem erguidas a poucos metros da faixa de areia. Com isso, se tornou concreto o risco de que o sombreamento gerado pelas construções afete profunda e permanentemente o espaço de lazer e sociabilidade dos banhistas.

O Jornal A Verdade entrevistou o arquiteto e urbanista Daniel Passos, representante do Movimento S.O.S Buracão, que vem levando à frente a luta pela preservação da praia e pelo banimento da construção das torres.

 

A VerdadeO que é o projeto imobiliário que está previsto para acontecer na Praia do Buracão? Quais suas possíveis consequências para os frequentadores da praia?

Daniel Passos – Não tenho como responder essa pergunta porque não sabemos como é o projeto. Até onde a gente sabe, a notícia veio através de matérias de jornais que demonstraram uma parcialidade forte com o assunto, e o que a gente sabe são palavras do CEO da OR (incorporadora da Novonor) e ele comenta que o projeto são duas torres, uma de 15 e outra de 16 andares, somando 47 unidades habitacionais apenas. Além disso, ele propõe a utilização de um recurso chamado CAM, que prevê a requalificação de uma área  que não sabemos qual, que prevê o uso de 4 milhões de reais para fazer essas obras.

O que a gente sabe é que os prédios vão sobrepor um lugar onde existem três casas, onde tem a junção de duas residências e a incorporação de uma outra. No caso uma das casas, a nº 218, é interessante porque foi comprada por 1,5 milhão de reais em 2016, uma casa uniresidencial, e foi vendida cinco anos depois para a Odebrecht por 5 milhões de reais. Uma casa que não cumpriu sua função social ao longo desses cinco anos. 

O comprador de uma das casas disse que tinha interesse em construir a sua própria casa. Cinco anos se passaram e a notícia que a gente teve é que ele vendeu para a Odebrecht para subir um prédio de 15 andares por 5,5 milhões de reais.

Assim, o empreendimento mesmo sem existir já perturba o bairro do ponto de vista econômico, porque vale mais a pena você comprar um imóvel e não usá-lo, deixá-lo apodrecendo para que possa vendê-lo muito mais caro depois.

Terminando de responder a sua pergunta, sobre o que que isso tem de consequência para os frequentadores. Primeiro de tudo, um medo social em relação ao sombreamento das praias. É óbvio que não se trata apenas de dois prédios. Não serão apenas esses que vão sombrear a totalidade da praia. A segunda coisa que acaba assombrando os frequentadores da praia tem a ver com a execução do projeto. 4 milhões serão utilizados para obras de requalificação inclusive das ruas. Toda obra exige interdição de um espaço. Como esse espaço vai ser parado no sentido das atividades? A praia que é visitada mensalmente por 6.000 frequentadores segundo estimativa da Associação, fora os residentes. Como essas 6.000 pessoas e os trabalhadores do local vão ficar? É realmente um estado de medo e assombramento.

Simulação do empreendimento imobiliário e do sombreamento causado pelo mesmo/Fonte: Daniel Passos

 

Qual a estratégia que o movimento SOS Buracão vem adotando para fazer frente e derrotar o projeto da construção das torres em frente à praia?

Essa é uma pergunta bem interessante. O primeiro ponto é sempre buscando difundir a nossa causa e nossos argumentos para outras pessoas porque a gente acredita que estamos topando com um problema em que nitidamente o senso civil prevalece, então as pessoas acabam aderindo a nossa causa, seja de forma tímida ou até mesmo ativa e voluntária, a ponto de chegar e contribuir com alguma coisa. Basicamente é isso: divulgar a causa por todas as formas possíveis.

Mas o que é importante de fato é se manter ativo semanalmente, quinzenalmente  e mensalmente. Porque o que a gente sabia no início do movimento é que a cada momento que a gente parasse de protestar provavelmente a Odebrecht colocaria o alvará de construção e daria início a demolição das três casas e subir as duas torres.

Quando a gente começou o movimento, começamos apenas em desespero e mobilização social. Não tínhamos o projeto, e seguimos sem acesso a ele, mas a gente não tinha o conhecimento de como eles poderiam ter feito para ter esse projeto aprovado. Passamos a estudar, a procurar quais instâncias são as competentes para que a gente pudesse atuar e fomos entendendo o poder de fato das instituições. Aprendemos uma coisa e passa para a sociedade, como estamos fazendo aqui com essa matéria do A Verdade, para poder engajar mais pessoas a participarem.

Democracia na minha visão, depois de nove meses de manifestações e protestos, é conflito de agendas. A gente tem que entender como essas agendas se conflitam e onde elas convergem a nosso favor. E eu acredito que foi isso inclusive que levou a gente a conseguir o PL (projeto de lei) nº 318/2023, a qual tenta pedir um uso público dos três terrenos por parte da Prefeitura. Ela compraria na mão da Odebrecht utilizando um argumento de que há um clamor público.

Sabe dizer o momento em que o PL se encontra no trâmite legislativo?

Essa é a parte complicada que aí entra a resiliência que a gente precisa ter diariamente. Conseguimos um PL. Poxa que massa! Aí descobrimos que a PL tem que ser supervisionada por alguém, aprovada para entrar no calendário da Câmara (de vereadores), e aí quando vê, você tem que colocar de certa forma um lembrete pro vereador para que ele se lembre de como que faz a movimentação de vários processos que não param de rolar. Várias PLs são criadas o tempo inteiro.

Mas respondendo a sua pergunta, está nas mãos dos vereadores. O que estamos nesse momento é tentando conseguir mais um espaço novamente na tribuna popular da Câmara de Vereadores para relembrar a importância desse projeto. O que o S.O.S. Buracão precisa fazer é converter o maior número de respostas para esse ensejo. Precisamos de 22 vereadores a nosso favor e a principal ferramenta que a gente tem para isso é o público, é a gente, é a nossa sociedade e não ter medo de se expressar.

Como a prefeitura vem se posicionando frente aos movimentos do S.O.S. Buracão?

A prefeitura ignora o S.O.S. Buracão de todas as formas e isso é uma coisa que precisa ser dita nesse tom. É ridículo. Não é possível que um poder executivo vendo todos os diários oficiais que a gente sai, duas audiências públicas, mais uma participação em uma tribuna popular, mais aparição em diversos meios de mídia, mais diversas marcações, mais de 100 comunicados diretos enviados à SEDUR e a SEMOB. A gente é totalmente ignorado. Não somos os únicos ignorados: há também o STELLA4PRAIAS, o S.O.S. Vale Encantado, o Centro Pulsa,  o Pipoco Salvador e todos os outros movimentos. Que tipo de prefeitura é essa? Que tipo de democracia é essa? Uma democracia unilateral onde ele atua apenas para aquele bloco de vereadores e secretários que estão com ele? Não é assim que se faz uma cidade especialmente uma tão complexa como Salvador.

Uma vitória contra as construtoras que querem erguer as torres em frente à Praia do Buracão pode contribuir para uma mudança na lógica da cidade?

Eu acho que tem partes nessa vitória. Mas precisamos ser humildes e entender que estamos enfrentando a Odebrecht e o poder municipal. Não são entidades pequenas. Diante da importância que elas têm, provocam de fato os reboliços urbanos e as coisas que apontam para o desenvolvimentos ou prejuízos urbanos.

Acredito que são várias vitórias. A primeira é relacionada à causa: queremos o projeto (de lei nº 318/2023) . Aí a gente consegue entrar numa nova vitória que já ocorreu: a sociedade tá muito mais organizada e preparada para debater o PDDU. Não à toa Bruno Reis está com medo porque tem a obrigatoriedade de fazer essa revisão que até agora não conseguiu fazer. Ele nitidamente parece que quer sucatear a informação, o investimento em cima de um documento que é muito importante. É o plano diretor que indica os próximos oito anos da cidade para além da gestão pública. Ou seja, é ele que norteia os dois próximos prefeitos. Uma outra vitória que o movimento traz de fato é que iremos passar esse conhecimento para outros grupos e essa comunicação já começou a ser feita com outras localidades. É uma vitória coletiva que vai além do S.O.S Buracão.

Cinema levanta pauta da representatividade no Sertão Pernambucano

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O Sertão Pernambucano, tem sido um espaço de produção cultural e de uma enorme efervescência na música, teatro, cinema e literatura. A jornada de Leonam no Sertão Pernambucano é um testemunho da resistência e paixão pela arte. Em meio a uma paisagem muitas vezes pintada com as cores da seca e do conservadorismo, Leonam e outros artistas transformam o cenário cultural com diversidade.  

Clóvis Maia | Redação PE


CULTURA – Para falar um pouco sobre essa cena e seu trabalho o Jornal A Verdade entrevistou Leonam, multiartista e militante da causa LGBTIA+ no sertão e acaba de lançar o curta metragem Rosa dos Ventos, produção feita no sertão e que aborda questões como liberdade e representatividade.

Leonam, artista e produtor cultural. Foto: Reprodução.

A Verdade – Pode nos falar um pouco sobre você e de seu trabalho. Como se deu esse trabalho com Cinema, Música, Teatro?

Leonan Eu me chamo Mannoel Lima (Leonam) sou artista e professor de linguagens. Atualmente trabalho em uma escola estadual e sigo fazendo arte de forma independente, principalmente música e cinema. Iniciei minha vida artística em 2009 no teatro em Bodocó junto ao SESC e me profissionalizei nos palcos de Serra Talhada junto ao Centro Dramático Pajeú (CDP) também no teatro. Desde então, tenho passeado pelas diversas linguagens artísticas com muita curiosidade. Minha última peça foi “A flor da pele” e meus trabalhos mais recentes são os EPs “Nezin” (parte 1 e 2) e curta-metragem Rosa dos ventos. Todos disponíveis no meu canal LEONAM no YouTube e em outras plataformas.

Existe uma cena cultural muito forte hoje no sertão pernambucano. Festivais de música, o espetáculo sobre a morte de Lampião, mostras de cinema, dança… Como se deu esse fortalecimento e criação dessa cena? E como você se encaixou nela, visto que teu trabalho dialoga com várias linhas artísticas?

Para entender um pouquinho dessa nossa cena cultural aqui em Serra Talhada e região eu indico o documentário “Pra derrubar a Serra” (disponível no YouTube) que produzi junto ao Coletivo Berro e fala um pouco de como a chegada da universidade pública foi importante para cultura independente por aqui. Em 2006 a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) inaugurou uma unidade sua em Serra Talhada, tornando-se um divisor de águas para a região e um impulso econômico e cultural para toda a região.

Em A Rosa dos Ventos nós vemos uma mensagem contra às opressões e também de muita resistência. Como é levantar essa pauta LGBTIA+ no sertão pernambucano, lugar infelizmente ainda muito conservador?

A bandeira LGBTIA+ é sempre desafiadora, mas precisamos falar de nós já que a cena tradicional, inclusive no cinema não vai abordar. A gente resiste… no teatro, na música, no cinema…  

Há uma produção muito excelente em A Rosa dos Ventos. Os programas de incentivo e fomento à cultura, mesmo apesar de toda perseguição nos últimos anos a tudo que é popular, atrai o olhar para aquilo produzido por mais e mais artistas. Como tu enxerga essa questão da produção e difusão da arte desde os últimos anos do golpista Michel Temer, passando pelo governo Bolsonaro? Como você enxerga essa movimentação hoje com o novo governo? 

Dentro do epicentro pandêmico a Lei Aldir Blanc foi um respiro para gente. Proposto e aprovado com a força da esquerda. Que agora no poder precisa brigar pela desburocratização que infelizmente ainda impede muitas pessoas de pleitear recursos públicos. É muito difícil fazer arte no Sertão. Trata-se de uma arte pouco valorizada pela falta de visibilidade e investimento, mas hoje tô cansado de reclamar e acho massa que a pressão da indústria não paire sobre minha cabeça.

Quais teus projetos futuros e a perspectivas para essa cena tão efervescente do sertão pernambucano?

Pretendo organizar os EPs “Nezin” em um único álbum. Para tanto estou produzindo uma nova música e lançar junto as que já estão disponíveis nas plataformas digitais. Confesso que meu sonho seria não fazer mais nada relacionado a artes, por conta do esforço que exige e não ter retorno material. Mas nem tudo está à venda. E arte é uma necessidade vital para mim.

Veja por que professores e servidores das universidades públicas estão em greve

O reajuste salarial é uma demanda central da greve atual, visto que há anos os servidores federais encontram-se com um salário defasado. Entretanto, não se trata de um aumento, mas sim da recomposição do poder de compra dos salários frente à inflação e ao custo de vida. As pautas defendidas pelas Entidades do Setor da Educação vão muito além do aspecto salarial, abarcando uma verdadeira luta em defesa da educação pública.

João Montenegro | Recife 


TRABALHADORES – Servidores das universidades públicas em todo o país estão em greve, lutando por reajuste salarial, reestruturação dos planos de carreiras, recomposição orçamentária entre outras pautas. As reivindicações são lideradas por três entidades: a FASUBRA, que representa os trabalhadores técnicos administrativos em educação, em greve desde 11/03; o SINASEFE, sindicato nacional dos servidores (docentes e técnicos) da Rede Federal de Educação Básica, Técnica e Tecnológica (Institutos Federais e Colégio Pedro II), em greve desde 03/04; e o ANDES-SN, sindicato que representa os docentes de ensino superior, básico, técnico e tecnológico, que deflagrarão greve em 15/04.

O reajuste salarial é uma demanda central, visto que há anos os servidores federais encontram-se com um salário defasado. Entretanto, não se trata de um aumento, mas sim da recomposição do poder de compra dos salários frente à inflação e ao custo de vida. Além disso, as pautas defendidas pelas Entidades do Setor da Educação vão muito além do aspecto salarial, abarcando os seguintes pontos:

– Reestruturação das carreiras dos docentes e técnicos administrativos;

– Recomposição salarial e definição de data-base;

– Restauração do orçamento das Instituições Federais de Ensino;

– Ampliação dos programas de assistência estudantil;

– Revogação do novo ensino médio;

– Melhoria das condições de trabalho;

– Fim de assédios moral e sexual nas Instituições Federais de Ensino;

– Criação de condições efetivas para a integração entre ensino, pesquisa e extensão;

– Revogação da Portaria MEC 983/2020;

– Recomposição da força de trabalho por meio de concursos públicos;

– Oposição à PEC 32/2020 e qualquer outra contrarreforma administrativa seguindo suas diretrizes;

– Autonomia e democracia universitária;

– Fim da contribuição previdenciária de aposentados e pensionistas.

Tentativas de negociação frustradas com o governo

Não é de hoje que os servidores federais tentam dialogar com o governo Lula. Ao longo de 2023 e do início deste ano, a ANDES-SN protocolou mais de 16 pedidos para dialogar sobre pautas específicas da educação com o Ministério da Educação (MEC), que não apresentou propostas para as reivindicações. O SINASEFE, por sua vez, demorou mais de 140 dias para ter os encontros da mesa de negociação marcados com o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI). 

Após a deflagração das greves e forte pressão por parte das entidades da educação, o MEC finalmente decidiu abrir as mesas de negociações. Na rodada da Mesa Nacional de Negociação Permanente com a ANDES-SN, ocorrida na última quarta-feira (10), o governo apresentou uma proposta que mantém o congelamento salarial para 2024 e vincula os possíveis reajustes dos próximos dois anos à aceitação de um acordo repleto de restrições aos direitos dos trabalhadores.

Durante a reunião, o secretário de Relações de Trabalho do Ministério da Gestão e Inovação, José Lopez Feijóo, propôs uma minuta que visava coibir movimentos grevistas, estabelecendo que interrupções nos serviços públicos levariam à suspensão das negociações em andamento, um grave ataque ao direito de greve. No entanto, protestos sindicais forçaram o governo a recuar e retirar essa cláusula do documento final, enviado às entidades no mesmo dia.

Mobilizações em defesa da educação não são de hoje

As mobilizações em defesa da educação pública têm crescido nos últimos anos em todo o país. Durante o governo Temer, houve uma grande onda de ocupações em universidades públicas, institutos federais e escolas, além de uma greve geral com forte adesão dos setores educacionais. Essas mobilizações foram uma resposta ao Teto de Gastos, que congelava os investimentos públicos em áreas como educação e saúde, e às contrarreformas trabalhistas e da previdência.

No governo Bolsonaro, apesar da pandemia de covid-19, foram registrados grandes atos de rua contra a intervenção do governo nas universidades e institutos federais, cortes no orçamento da educação e pela retomada dos concursos públicos e recomposição orçamentária.

Esvaziamento do orçamento da educação continua sob governo Lula

As mobilizações grevistas atuais visam combater o desmonte neoliberal da educação promovido nos últimos anos e que continua no governo atual. Embora durante a campanha tenha prometido retomar os investimentos nas áreas, o governo Lula apresentou uma previsão orçamentária para 2024 menor do que no ano anterior, dando continuidade ao esvaziamento dos investimentos em ciência e tecnologia. Além disso, o orçamento federal para ensino superior e tecnologia diminuiu em R$ 117 bilhões nos últimos 10 anos, representando hoje aproximadamente metade do que foi investido em 2014.

Na quarta-feira (10), o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou a possibilidade de fornecer um reajuste salarial aos servidores públicos, citando restrições orçamentárias. A limitação orçamentária, entretanto, não resulta da falta de dinheiro, mas da implementação do Arcabouço Fiscal, política neoliberal proposta pela equipe econômica de Haddad e que atravanca intencionalmente o investimento público. Apesar disso, a Câmara dos Deputados aprovou na terça-feira (9) a liberação de um valor extra de R$ 15,7 bilhões, que pode ser utilizado livremente pelo governo Lula, sem a necessidade de aprovação do Congresso. Esse valor é suficiente para atender às demandas dos servidores públicos em greve, a questão é se há vontade política para tanto.