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sexta-feira, 12 de setembro de 2025
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Quarta Semana do Audiovisual Negro ocorre em Pernambuco

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Entre os dias 18 e 23 de março de 2024 ocorreu no Recife a primeira parte da IV Semana do Audiovisual Negro, homenageando Inaldete Pinheiro, escritora, pesquisadora e mestra em Serviço Social e uma das fundadoras do Movimento Negro em Pernambuco.

Clóvis Maia | Redação PE


CULTURA – A Semana do Audiovisual Negro articula vários coletivos e é formada por oficinas, palestras, rodas de debate e seminários, além de articular público, produtores, artistas de diversas áreas e linguagens e espaços culturais e regionais que vão da capital pernambucana, passando por Camaragibe, região metropolitana até o Sertão do Estado na cidade de Afogados da Ingazeira, cidade histórica de resistência cultural em Pernambuco, tendo em torno do tema da negritude.

O Jornal A Verdade conversou com Richard Soares, que é produtor cultural, músico e atua na área do Audiovisual no sertão do Pajeú e no Recife e foi um dos curadores da mostra deste ano.

Richard Soares, produtor cultural e curador da Quarta Semana do Audiovisual Negro.
Richard Soares, produtor cultural e curador da IV Semana do Audiovisual Negro. Foto: Reprodução.

A Verdade – Pode nos falar um pouco sobre a IV Semana do Audiovisual Negro?

Richard A quarta Semana do Audiovisual Negro ela iniciou agora dia 18 de março até o dia 23 com atividades aqui em Recife, com exibições e debates na UFPE e no Cinema do Porto com exibições de curtas, médias e longas lá no Porto Digital e com exibições de video-arts e clips lá no Cais do Sertão. O evento ficou dividido aqui no Recife nesses três lugares, de 18 a 23 de março, e uma sequência de exibições em Camaragibe, do dia 5 ao dia 8 de abril, e depois em Afogados da Ingazeira nos dias 9 e 10 de abril.

Como foi pensada a proposta de exibição, amostra e escolha dessas obras? 

Eu fiz parte da curadoria dos curtas. A gente tentou abranger diversos temas, aspectos e pensamentos da própria juventude negra mas também agregar as comunidades indígenas. A gente acredita que esses dois temas têm que estar juntos, sabe? A ideia foi trazer o cinema negro e também o indígena. E não só trazer o cinema em si, inclusive tem esse debate sobre a semana de audiovisual, que é abraçar muito mais. Tentamos trazer as diversas formas de produzir da comunidade negra, da juventude e além. Trazer os grandes nomes na produção, mas também os pequenos. A proposta é exatamente essa: exibir e democratizar o direito à exibição desses filmes.

É um evento grande, organizado em vários espaços e com três regiões. Quantos filmes vocês conseguiram receber? 

Conseguimos colocar 70 obras para serem exibidas em cada lugar de exibição. E fazer uma sessão totalmente diferente da outra. Também se pensou um pouco de poder diversificar mais, para que uma pessoa que fosse em duas sessões, ela não veria as mesmas obras. Essa proposta era para que até mesmo os debates pós-filme não ficassem presos de alguma forma. O plano era envolver também o público.

Essa é a quarta edição do evento. Qual a importância dele hoje para o cenário cultural no estado, sobretudo pela importância do tema? 

A importância, para mim, de se pensar sobre a Semana do Audiovisual Negro é que ela é a quarta acontecendo e a terceira sendo presencial, teve uma edição online. Sendo a quarta, já tem uma força de onde chega o potencial da semana em levantar mais nomes de produções. Primeiro que, se a gente for pensar, o evento é estadual. É grande. Agrega do litoral até o sertão. Filmes feitos por e para a comunidade negra e indígena. A gente já tá fazendo um caminho contrário fantástico, assim, de luta coletiva, sabe? Porque não é tão fácil desenvolver esses trabalhos. Outra coisa também que eu coloco como muito importante é de poder fazer com que a juventude acompanhe essas produções, tá entendendo? Porque a maioria dos filmes que vieram, no máximo, são de 2022, são produções quentes ainda, produções que não vão chegar a ser exibidas na Globo, SBT, Record, enfim.

Qualquer canal de televisão, e até mesmo na internet, não é tão fácil de se encontrar. Então eu acredito que a Semana Audiovisual Negra vem com esse olhar de democratização das produções e mostrar para o povo que existe uma luta de narrativa, uma contribuição e essa luta antirracista que está acontecendo, porém, a grande mídia, os grandes fazedores da internet não querem que isso chegue à juventude periférica, que seja uma juventude crítica, que seja uma juventude de pensamento, que seja uma juventude que se veja nas telas, não como os culpados, enfim, como as narrativas de sempre já querem colocar. Eu acredito que a importância da semana esteja nesse lugar de evocar que são pessoas negras, estudantes, fazedores de Cultura que estão juntos trabalhando para que o evento aconteça.

O encontro é organizado por diversos coletivos de várias áreas. Pode nos falar um pouco sobre essa articulação?

São muitos braços para organizar o evento, de diferentes lugares, diferentes pensamentos, diferentes construções, mas que estão juntos pela causa de fazer a Semana do Audiovisual Negro existir. A gente consegue um acesso muito grande, quando vai exibir no Cinema do Porto, por exemplo, de lotar a sessão com estudantes e de trazer debates, porque se tem só a sessão e não tem o debate, por exemplo, fica sem sentido. A gente aproveita o momento do debate, do diálogo para estreitar esses contatos, essa forma de conversa, tá entendendo? Para instigar, para continuar gerando uma formação de público, também. E cada coletivo entra nessa construção. O pessoal da música, do cinema, os ilustradores, comunicadores, os roteiristas. Articulado por esses movimentos que atuam no dia a dia com a pauta antirracista, cultural e dentro das comunidades.

A herança nefasta da ditadura militar na educação brasileira

Além de banir, matar, torturar e desaparecer com milhares de lideranças políticas, sindicalistas, camponeses/as, educadores/as e jovens estudantes, a ditadura militar, instalada pelo golpe de 1º de abril de 1964, produziu uma remodelagem no sistema educacional do país, deixando marcas profundas na educação brasileira.

Rosilene Corrêa | Professora e diretora da CNTE


OPINIÃO – Além de banir, matar, torturar e desaparecer com milhares de lideranças políticas, sindicalistas, camponeses/as, educadores/as e jovens estudantes, a ditadura militar, instalada pelo golpe de 1º de abril de 1964, produziu uma remodelagem no sistema educacional do país, deixando marcas profundas na educação brasileira.

Usando do aparato jurídico da ditadura, o regime implantou, por meio de leis, um modelo centralizador e autoritário centrado, sobretudo, em reformas voltadas para a mudança de uma educação tradicional para uma educação tecnicista, baseada nos ideais do racionalismo, objetivando, à moda militar, “organização e eficiência”.

Com base nessa política,que considerava o/a educador/a apenas um/a técnico/a que deveria ser treinado para cumprir instruções técnicas, além de construir prédio precários, a ditadura criou a modalidade de graduação conhecida como Licenciatura curta, teoricamente para formar mais educadores/as em menos tempo.

A Constituição militar de 1967 “desobrigou” a União e os estados a investirem um mínimo, alterando um dispositivo previsto na Lei de Diretrizes e Bases, aprovada em 1961, onde previa que a União tinha que investir ao menos 12% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação.

Essa mesma Constituição da ditadura desobrigou os estados e municípios de alocarem 20% se seus orçamentos na Educação. A nova Constituição também abriu o ensino para a iniciativa privada, abrindo as portas do ensino brasileiro para a precarização da escola pública, precarizado.

A partir daí, a oportunidade de jovens pobres entrarem na Universidade, que passou a ser reduto dos/as filhos/as de ricos, com condições de pagar as novas escolas privadas para preparar suas crias para ocupar as vagas nas universidades públicas, acentuando, assim, a dualidade entre o ensino público e o ensino privado.

Do ponto de vista da ideologia e dos costumes, a ditadura introduziu mudanças curriculares para “fazer a cabeça” de crianças e jovens. Uma delas foi a introdução da matéria Educação Moral e Cívica para os alunos/as do 1º e 2º grau. A Educação Moral e Cívica só deixou de ser obrigatória em 1992 e só foi abolida em 1993.

O regime também alterou o conteúdo da disciplina Organização Social e Política do Brasil (OSPB), pensada por Anísio Teixeira, ex-ministro do presidente João Goulart, para que a juventude brasileira conhecesse melhor a legislação do país. Com a mudança, a OSPB passou a ser um instrumento de propaganda da ditadura. Em consequência de tantas mudanças absurdas, o país entrou em um redemoinho de revoltas estudantis, de prisões, torturas, mortes e desaparecimentos muitos/as jovens brasileiros/as.

Perdeu-se, com o golpe, a “Educação como Prática da Liberdade”, de Paulo Freire. Voltou-se a uma educação bancária, autoritária, repressora e domesticadora, social e culturalmente empobrecida, estruturada em uma ideologia da “pressão e repressão” sobre estudantes e professores/as.

O Ato Institucional número 5 (AI-5), editado em 1968, a peça jurídica mais repressora da ditadura, cuida, especialmente, da educação, no capítulo sobre funcionários públicos:

1° – sendo que tais infrações definidas neste artigo serão punidas/castigadas:

I – se fazer parte ou for membro do corpo docente, funcionários, ou empregados de estabelecimentos educacionais com pena de demissão ou dispensa, ou a proibição de ser nomeado, despedido ou contratando por qualquer outra da mesma situação, por tempo de cinco anos;

II – se for aluno, com a punição de desligamento, e sendo proibido de se matricular em qualquer outro estabelecimento educacional pelo prazo de três anos;

2° – se o infrator tiver a bolsa de estudos ou tiver qualquer ajuda do Poder Público, irá perdê-la, e não poderá utilizá-la por cinco anos; 3° – se tratando de bolsista estrangeiro, será solicitada a sua retirada do território Brasileiro.

Pra completar, entre os anos de 1964 e 1968, o regime fechou doze acordos com o governo norte-americano, os chamados Acordos MEC-USAID, permitindo a uma nação estrangeira influenciar e impactar na condução de todos os setores da educação brasileira, como as reformas do ensino superior e posteriormente de 1º e 2º graus, tendo por norte os pilares do “civismo” e “patriotismo”, essenciais na ideologia da “Educação e Segurança”.

Somente na década de 1980, com a ditadura já em frangalhos, com a comprovação do fracasso da implantação da reforma da Lei da LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e da Lei nº. 7.044/82, as escolas foram dispensadas obrigatoriedade da profissionalização.

O objetivo da educação não era formar consciência crítica, era formar mão de obra barata e silenciosa para os projetos do regime. Mais escolas técnicas, com cursos profissionalizantes de nível médio, as chamadas “escolas polivalentes”, menos jovens pensantes nas universidades. Mais violência nos protestos estudantis, chamados de “subversivos”.

Decretaram a intervenção nos sindicatos, inclusive no Sindicato dos Professores de Brasília, o SINPRO/DF. Colocaram na ilegalidade a UBES (União Brasileira de Estudantes Secundários), a UNE (União Nacional dos Estudantes), mataram centenas de jovens. Em Brasília, o jovem estudante da UnB, Honestino Guimarães, continua até hoje desaparecido.

É por tudo isso que, nos 60 anos do golpe militar, não nos resta outro caminho que dizer:
DITADURA NUNCA MAIS!

Reproduzido do site da CNTE.

Ataques de Elon Musk são parte do plano dos fascistas para dar um golpe no Brasil

Desde o início da semana, o bilionário fascista sul-africano Elon Musk, dono do X (antigo Twitter) está realizando uma operação para desestabilizar o Brasil. A ação conta com apoio de partidos e líderes fascistas de todo o mundo. 

Redação 


BRASIL – Desde o início da semana, o bilionário fascista Elon Musk vem realizando uma série de postagem na rede digital X (antigo Twitter) insuflando grupos fascistas a não cumprirem as determinações do ministro Alexandre de Moraes do STF. Moraes é o relator dos inquéritos que investigam a quadrilha criminosa que tentou dar um golpe no país no ano passado. 

Musk, que é dono do X e de várias outras empresas, vêm tentando pressionar o STF para abandonar as investigações. Ele ameaça não cumprir as decisões de Moraes que suspenderam contas de usuários golpistas na rede digital. Esse movimento foi seguido da convocação de uma nova manifestação fascista para o dia 21 de abril, desta vez no Rio de Janeiro. 

As ações do bilionário foram seguidas de manifestações de apoio dos apoiadores do fascista Bolsonaro no Brasil, mas também de outros países, como Espanha e Argentina. Nos EUA, o candidato independente à presidência daquele país Robert Kennedy também se somou ao movimento.

O presidente fascista da Argentina, Javier Millei, também se reuniu com Musk esta semana para se solidarizar com as ações dele e “se colocar a disposição” para ajudar na relação com o Brasil. Outro representante internacional do fascismo que se pronunciou a favor do dono do Twitter foi Israel Katz, ministro do governo sionista de Israel.

Em resposta, o STF determinou uma multa de 100 mil reais por dia por cada conta que for desbloqueada sem autorização da justiça. Neste dia 9, os representantes do Twitter no Brasil pediram ao ministro Moraes para não serem responsabilizados, afirmando que quem dá as cartas na rede digital são as matrizes da empresa na Irlanda e nos EUA. Moraes também colocou o bilionário no rol de investigados no inquérito das milícias digitais, a ideia é investigar o apoio internacional à indústria de fake news que domina as redes digitais no Brasil.

Os interesses de Musk no Brasil

Elon Musk não é apenas dono do Twitter, mas também de outras empresas, como a Tesla (que produz carros elétricos), Starlink (que realiza serviços de internet via satélite) e a SpaceX (de exploração espacial). As duas empresas dependem da exploração de dezenas de milhares de trabalhadores do mundo especialmente no setor da mineração de lítio, mineral essencial na produção de baterias e outros produtos tecnológicos usados nas empresas de Musk.

Apesar de pouco explorado no Brasil, o nosso país contém uma das maiores reservas de lítio do mundo. Este setor tem sua produção principalmente no Chile e na Austrália, no entanto, Musk não consegue ter acesso tranquilo e barato ao mineral devido à concorrência das empresas chinesas que, por exemplo, importam 95% de todo lítio produzido na Austrália, maior produtora mundial.

Com isso, um dos interesses do bilionário é garantir o controle da produção de lítio em países alternativos, como o Brasil ou Bolívia. Não é a toa que Musk afirmou no próprio X que havia apoiado o golpe fascista no país vizinho, em 2019, que depôs Evo Morales e colocou a assassina Jeanine Añez no lugar. Mas os interesses de Musk não param por aí.

Musk quer Bolsonaro de volta para controlar o governo do Brasil

Desde o governo do fascista Bolsonaro, Elon Musk iniciou uma parceria com a Fundação Lehman, do bilionário brasileiro Jorge Paulo Lehman. Em troca de garantir o controle dos serviços de internet nas escolas públicas, Lehman defenderia a contratação dos serviços da Starlink para as escolas no interior, principalmente na Amazônia.

A parceria entre os dois bilionários avançou quando o MEC, do Ministro Camilo Santana (PT), publicou uma portaria que indicava um edital para a prestação do serviço de internet nas escolas onde as regras, na prática, dariam o serviço para a Starlink. No entanto, a pressão de educadores e sindicatos da educação fez com que o MEC revogasse a portaria. 

Os interesses de Musk envolvendo a Starlink alcançam também o garimpo ilegal. Em março de 2023, foram encontradas ao menos duas antenas da Starlink junto com um grupo de garimpeiros ilegais na Terra Indígena Yanomami. Desde então em ao menos 20 operações do IBAMA foram encontrados aparelhos da Starlink em áreas de garimpo ilegal.

A empresa de internet de Elon Musk tem ampliado a cobertura no território amazônico e, com isso, se torna a favorita dos garimpeiros e assassinos dos povos indígenas, pois favorece a comunicação e dificulta o rastreio, dado que o provedor de internet não se encontra no território brasileiro. Além disso, ninguém no mundo, além do próprio bilionário, tem o controle dos dados transmitidos pela Starlink. 

Movimento do bilionário é a continuidade da quadrilha golpista

Mesmo com todo o discurso de pacificação defendido pelo atual governo e setores da imprensa, as ações recentes de Elon Musk mostram que a organização internacional do fascismo se aprofundou. As ameaças do bilionário ao Brasil tem como objetivo emparedar o Estado e o governo e fortalecer o controle das multinacionais estrangeiras sobre nossa economia.

Na prática, é como se não valesse para ele e seus amigos fascistas a lei brasileira. Isso tudo, somado às tentativas do fascismo de Bolsonaro em retomar as ações de rua.

Isso tudo mostra que apenas com a mobilização popular antifascista e a prisão de Bolsonaro e seus comparsas poderemos virar definitivamente este jogo. Não é mais hora para a política de apaziguamento e conciliação com os fascistas. O enfrentamento ao fascista Musk e sua tentativa de intervir no nosso país é também necessário para derrotar Bolsonaro e seus aliados.

Assassinos de Marielle e Anderson tiveram proteção da Polícia e do Governo

Vereadora de esquerda, Marielle Franco foi assassinada brutalmente pelas estruturas apodrecidas de um Estado guiado pelos interesses capitalistas, governado por corruptos. Enquanto ela defendia o direito à moradia digna para o povo pobre, agentes da burguesia defendiam seus lucros na especulação imobiliária.

O ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro que arquitetou o plano de morte de Marielle foi indicado por generais das Forças Armadas, o que reforça que a impunidade do Alto Comando militar que impôs uma ditadura ao Brasil por 21 anos (1964-1985) continua gerando novos crimes em nosso país.

Rafael Freire e Redação


BRASIL – Relatório da Polícia Federal (PF) apontou os irmãos Chiquinho Brazão (deputado federal pelo União Brasil) e Domingos Brazão (conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro) como mandantes dos assassinatos de Marielle Franco e de Anderson Gomes (seu motorista). Já o planejamento da emboscada coube a Rivaldo Barbosa (ex-chefe da Polícia Civil do RJ), que recebeu propina, de forma antecipada, pelo serviço macabro.

As prisões preventivas dos três mentores do crime aconteceram no último dia 24 de março, determinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Acredita-se ainda que, com as apreensões de celulares, computadores e documentos dos criminosos, novos elementos vão surgir para embasar a denúncia na esfera jurídica.

A motivação para o crime brutal foi a posição de Marielle em defesa da moradia popular para o povo trabalhador do Rio. A vereadora se opunha ao controle das milícias do mercado imobiliário da Zona Oeste e Norte da cidade e lutava contra projetos de lei que aumentavam a especulação imobiliária. Os irmãos Brazão lucram, há décadas, milhões de reais com esse esquema e, por isso, decidiram eliminar a parlamentar.

Marielle e Anderson foram executados com vários disparos de submetralhadora (arma desviada do Bope) quando se deslocavam de carro, após saírem de uma atividade do mandato da vereadora, por volta das 21h00 do dia 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, região central da capital fluminense. A assessora parlamentar Fernanda Chaves também estava no carro, mas sobreviveu. Ronnie Lessa, Élcio Queiroz (ambos ex-policiais militares) e Maxwell Corrêa (ex-bombeiro militar), presos desde 2019, foram os executores. Após delação premiada de Lessa, a PF avançou nas investigações e prendeu os mandantes.

Foram exatos seis anos de impunidade, de desinformação, de sabotagens das investigações. Neste tempo, o nome de Marielle se transformou em sinônimo de resistência popular e de luta por justiça social, rebatizando ruas e praças pelo Brasil. Seu rosto está estampado nas camisas da militância de esquerda, em quadros, bandeiras, cartazes, murais. Virou até tema de samba enredo: “Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, Malês” (“História para Ninar Gente Grande”, Mangueira, campeã do Carnaval de 2019 no Rio).

FAVELA DA MARÉ. Marielle conhecia a realidade do povo do Rio. Foto: Arquivo

Quem foi Marielle Franco?

“As rosas da resistência nascem do asfalto. A gente recebe rosas, mas vamos estar com o punho cerrado falando do nosso lugar de existência contra os mandos e desmandos que afetam nossas vidas”, disse Marielle em um de seus últimos discursos no Plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, no dia 08 de março de 2018, Dia Internacional das Mulheres.

Marielle Francisco da Silva tinha 38 anos quando levou três tiros na cabeça e um no pescoço. Era filha de Marinete Francisco e Antônio da Silva Neto, nascida e criada no Complexo da Maré, um conjunto de favelas na Zona Norte carioca. Era mãe de Luyara Franco, com 19 anos à época, e casada com a também militante Mônica Benício.

Graduada em Ciências Sociais pela PUC do Rio, tinha mestrado em administração pública pela Universidade Federal Fluminense, com tese crítica às Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs).

Militava contra a violência policial, pelos direitos humanos, pela moradia popular, em defesa da comunidade LGBTIA+, pelo aborto legal e contra a discriminação racial. Foi, por dez anos, assessora do então deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que impulsionou a CPI das Milícias, em 2008. Era vereadora do Rio desde 1º de janeiro de 2017, cumprindo seu primeiro mandato, após ser eleita pelo PSOL com 46.502 votos nas eleições 2016.

Anderson Gomes

Anderson Pedro Mathias Gomes tinha 39 anos quando levou três tiros nas costas. Estava desempregado e trabalhava para Marielle há apenas um mês, substituindo temporariamente o motorista titular. Era casado com Ágatha Arnaus e pai de um menino, que tinha um ano e dez meses.

Durante sessão em homenagem às vítimas, ocorrida na Câmara Federal, no dia 26 de março, Ágatha declarou que “a luta por verdade não pode ser esquecida. Temos que nos manter firmes. É uma dor tão profunda, é uma dor que não consigo nem colocar em palavras. É uma ferida que não vai cicatrizar. Me faltam palavras para descrever a raiva que eu sinto hoje. Não sinto nenhum alívio, nenhuma paz. Espero muito mais. Espero uma Justiça forte”.

Crime de Estado

Para defender a ideia de que existe “ordem e progresso” no Brasil, é comum ouvirmos a expressão “as instituições estão funcionando”. Sim, estão. Resta dizer a favor e contra quem.

Em entrevista ao jornal A Verdade (nº 277, agosto de 2023), o jornalista e pesquisador Bruno Paes Manso afirmou: “Alguém queria Marielle morta. Foi uma questão política”. E mais: “O Brasil nunca esteve tão próximo a uma máfia, a um Estado influenciado e tomado pela máfia, como no Rio de Janeiro. O Estado hoje, no Rio, depende muito do voto dos territórios onde grupos paramilitares milicianos controlam. Eles acabam sendo muito influentes nas votações e no dia a dia dos territórios, agenciando os seus próprios negócios e não sendo fiscalizados”.

O chamado “crime organizado” só existe na medida em que opera por dentro do Estado burguês (governos, parlamentos, Judiciário, polícias, etc.), e não na forma de um “Estado paralelo”. No caso Marielle, os agentes estatais trabalharam de maneira articulada como nunca. Dentre os envolvidos diretamente no crime, cujas participações já foram elucidadas, um era deputado federal, outro conselheiro do TCE-RJ, o terceiro delegado-chefe; os outros, militares da PM e do Corpo de Bombeiros.

Segundo relatório da Polícia Federal, o então chefe da Polícia Civil fluminense, Rivaldo Barbosa, além de ter arquitetado os detalhes do crime, já tinha agido, antes mesmo do assassinato, para que a investigação não alcançasse os reais mandantes. Segundo a PF, a equipe da Polícia Civil responsável pelo caso “não somente se absteve de promover diligências frutíferas para a investigação, mas também concorreu para a sabotagem do trabalho de apuração”. Quem chefiou a investigação foi o delegado Giniton Lages, indicado por Rivaldo.

Já após a divulgação do relatório da PF, o criminoso Maxwell Corrêa (Suel) – ao saber das prisões dos mandantes – falou o nome do também delegado Daniel Rosa, responsável pela Divisão de Homicídios, como mais um envolvido nas mortes. Quantos mais ainda teremos? Outros delegados ou deputados? Ou será que algum “ex-colega” vereador? Quem sabe um governador ou ex-presidente da República?

Perseguição aos pobres

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, quase 6.500 pessoas foram mortas por forças policiais em todo o território nacional, sendo que 83% eram negras. Houve cidades em que as polícias mataram exclusivamente negros. As cinco primeiras: Santarém (PA) – 13 vítimas; Macaé (RJ) e Vigia (PA) – 12; Recife (PE) – 11; Maceió (AL) – 10.

Como Marielle era preta, pobre e oriunda da Favela da Maré, também era enxergada como “mais uma para a estatística”. Aliás, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz, menos de um terço dos casos de homicídio no Brasil são solucionados, de um total aproximado de 40 mil assassinatos por ano.

Portanto, mesmo sendo um crime político, que contou com grande repercussão internacional, havia uma certeza de impunidade por parte dos mandantes. Eles contavam com toda uma rede de proteção amparada por um Estado apodrecido, ao ponto de, cinicamente, lamentarem em público a morte de Marielle e até de posarem para fotos ao lado de sua mãe e de seu pai.

MEMÓRIA. ‘‘Lute como Marielle Franco’’ se transformou em palavra de ordem nas lutas sociais. Foto: Arquivo

A família Brazão e suas relações políticas

A revelação dos mandantes dos assassinatos de Marielle e Anderson é mais uma prova do envolvimento dos fascistas e do Centrão com as milícias do Rio de Janeiro. As suspeitas contra os irmãos Brazão já circulavam em alguns meios da imprensa desde pelo menos 2019. Mas foi no fim de 2023, quando a PF entrou no caso, que a relação deles com o assassinato ficou mais evidente.

A família Brazão é muito conhecida no Estado do Rio de Janeiro. Composta por vários políticos, tem força eleitoral em bairros da Zona Oeste e Zona Norte da capital fluminense, principalmente a região de Jacarepaguá, desde os anos 1990. Ligada ao setor de postos de combustíveis, as relações destes políticos de direita com a milícia são conhecidas há pelo menos 16 anos, quando os dois irmãos foram citados na CPI das Milícias, feita pela Assembleia Legislativa (Alerj).

Desde então, Domingos foi eleito deputado estadual, em 2014, e depois foi escolhido pela Alerj para o Tribunal de Contas do Estado, em 2017. Já Chiquinho ficou durante todo este tempo na Câmara de Vereadores do Rio e, em 2018, foi eleito deputado federal.

Para o sociólogo José Cláudio Souza Alves, professor da UFRRJ que se dedica à pesquisa sobre as milícias brasileiras, “o que a CPI das Milícias atingiu, em 2008, não eram os Brazão que dez anos depois mandaram assassinar Marielle. Dez anos depois, eles já tinham muito mais poder, muito mais dinheiro. Dominavam territórios com vários mecanismos de ganhos e muito mais apoio. Começaram a comprar estrutura policial, estão dentro da estrutura política”.

Por que mataram Marielle?

Os Brazão também sempre tiveram muito interesse no setor imobiliário da Zona Oeste. As empresas que atuam nesta área da cidade são completamente controladas ou precisam do aval das milícias para atuar. Todas as construções são feitas de acordo com os interesses dos chefes das milícias e de seus aliados políticos.

É este o pano de fundo que motivou o assassinato de Marielle, de acordo com as investigações. A vereadora enfrentava os interesses desses grupos criminosos que queriam lucrar com a destinação de verba pública para os empreendimentos imobiliários da milícia. Ela defendia que a Zona Oeste tivesse moradias populares para o povo pobre e que o processo de ocupação fosse acompanhado pela Defensoria Pública e demais órgãos.

A especulação imobiliária se tornou um dos principais pilares financeiros do “crime organizado” na cidade. De acordo com a Prefeitura do Rio, mais de 1.300 edificações irregulares associadas a grupos milicianos foram demolidas. Estima-se que o prejuízo para essas organizações foi de cerca de R$ 650 milhões.

Nesse sentido, o relatório da PF afirma: “Este posicionamento a colocava, assim como os demais vereadores posicionados à esquerda do espectro político, em contraposição frontal às políticas de ocupação de solo urbano encampadas por Chiquinho Brazão, com destaque para o PLC n.º 174/2016, […] idealizado para flexibilizar regras de regularização sem considerar questões sociais, urbanísticas e ambientais, favorecendo especialmente loteamentos e condomínios de classe média e alta em áreas controladas pela milícia”.

Parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) ao STF vai na mesma direção: “A vereadora não escondia o seu entendimento de que as iniciativas de regularização fundiária pela caracterização de Áreas de Especial Interesse Social (AEIS) seriam adequadas para atender aos interesses dos segmentos sociais que mais sofrem com o déficit habitacional existente no Rio de Janeiro. No entanto, tais instrumentos teriam sido empregados de forma distorcida pelos irmãos Brazão, apenas para viabilizar a exploração econômica de espaços territoriais que, não raro, eram dominados por milicianos”.

A ligação entre os Brazão e os Bolsonaro

A família Brazão também é antiga aliada da família Bolsonaro. São conhecidos os negócios imobiliários de Flávio Bolsonaro na Zona Oeste do Rio. Ronnie Lessa, o executor, era amigo em comum das duas famílias e morava no mesmo condomínio de luxo em que moram Jair e Carlos Bolsonaro, na Barra da Tijuca.

Carlos, aliás – também conhecido como Carluxo ou Filho 02 –, é vereador do Rio, conviveu diariamente com Marielle nas dependências da Câmara Municipal e é o responsável pela máquina de propaganda reacionária da qual os fascistas sempre se utilizaram para espalhar notícias falsas, inclusive sobre Marielle, minutos após seu assassinato.

No sistema político imposto pela milícia e políticos fascistas e de direita no Rio, os Bolsonaro e os Brazão sempre foram aliados. Afinal, eles deviam suas eleições ao apoio das milícias. Em troca, aprovavam projetos para favorecer os milicianos e os protegiam contra investigações. Em 2022, Chiquinho Brazão apoiou a reeleição do então presidente da República Jair Bolsonaro e fez campanha ao lado de Flávio em vários bairros da Zona Oeste.

Sete dias antes do assassinato, o então interventor federal no Governo Estadual do Rio de Janeiro, general do Exército Walter Braga Netto, nomeou Rivaldo Barbosa para a chefia da Polícia Civil. Durante todo o ano de 2018, o Estado do Rio de Janeiro se encontrou sob intervenção militar ordenada pelo então presidente golpista Michel Temer (MDB). Portanto, tratou-se de uma indicação do Alto Comando fascista das Forças Armadas. 

Este mesmo general seria posteriormente ministro da Casa Civil e da Defesa no Governo Bolsonaro, e ainda candidato a vice-presidente da República, na chapa com o ex-capitão, derrotada nas eleições de 2022. Tivessem os fascistas sido reeleitos, nunca saberíamos quem mandou matar Marielle e o Brasil estaria ainda amargando uma política antipovo debaixo das botas dos militares.

Importante lembrar ainda que, no dia 03 de maio de 2023, foi revelado que o ex-major do Exército (e candidato a deputado estadual pelo PL nas eleições de 2022), Ailton Barros, conhecido como “01 do Bolsonaro”, afirmou saber quem seria o responsável pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. Disse ele em mensagem de texto enviada no dia 30 de novembro de 2021: “Eu sei dessa história da Marielle toda, irmão, sei quem mandou. Sei a porra toda”.

A informação foi obtida após quebra de sigilo em mensagens interceptadas pela Polícia Federal sobre o envolvimento de Ailton num grande esquema de fraudes em cartões de vacina contra a Covid-19. Esse daí estudou na mesma escola do Jair…

Anos de luta por justiça

A revelação de quem mandou matar Marielle e a motivação só foi possível por conta dos seis anos de luta de familiares, companheiros de militância e de várias organizações políticas e sociais, que nunca deixaram de cobrar justiça para o brutal assassinato. Mesmo com toda ação de agentes do Estado para sabotar as investigações e a ofensiva da milícia, que ganhou força com o governo do fascista Bolsonaro, a insistência na perguntar “Quem mandou matar Marielle e Anderson?” garantiu agora a prisão dos mandates.

A elucidação de parte da trama desses assassinatos não põe fim ao caso e ainda nos coloca a necessidade de lutarmos ainda mais contra a burguesia, em especial seu setor mais reacionário – os fascistas, que se valem de cargos políticos para defender seus interesses particulares e aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora.

As relações entre polícias, governos, parlamentares e milícias são conhecidas. No entanto, o Estado burguês nada faz para acabar com elas. Pelo contrário. Como diz o Manifesto do Partido Comunista (1848), “o Estado é o comitê gestor dos negócios da burguesia”.

Este Estado apodrecido não se acabará por si só. É necessária a união revolucionária das classes trabalhadoras para fazer frente à burguesia e aos latifundiários no processo diário da luta de classes, mas também na disputa política pelos rumos da sociedade.

Em memória de Marielle e de todos os nossos que tombaram de pé, venceremos!

Editorial publicado na edição nº289 do Jornal A Verdade.

Lançamento do livro ‘As Ideias Políticas na História’ é realizado no Recife

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No dia 10 de abril, foi lançado o livro As Ideias Políticas na História: das cavernas às redes digitais. Livro escrito por Natanael Sarmento, membro do diretório nacional da Unidade Popular (UP), aborda as estruturas sociais de diversas sociedades ao longo da história, sob a ótica materialista-histórica dialética.

Jesse Lisboa | Redação PE


A obra ‘Ideias Políticas na História’ é um guia indispensável para compreender as correntes ideológicas que têm orientado a trajetória da humanidade ao longo dos séculos. Este livro transcende a mera análise histórica das ideias políticas; é um trabalho de uma vida de estudos e militância política, que instiga o leitor a perceber o ser humano enquanto quem desenvolve as ideias políticas, e não o contrário.

Desde as primeiras ferramentas de pedra até a complexidade das redes sociais e a ameaça da bomba atômica, o autor passa por uma jornada que explora a evolução das ideias políticas em paralelo com as transformações materiais e sociais. 

O livro nos lembra que as tecnologias da era digital, embora tenham o potencial de melhorar a vida e democratizar a política, também podem ser apropriadas por forças fascistas para atacar a democracia. Nos alerta que a direção política e o uso dessas tecnologias são cruciais para determinar se elas servirão ao progresso ou à opressão.

Evento de lançamento da obra

Lançamento do livro As Ideias Políticas na História no Centro Cultural Manoel Lisboa, em Recife.
Lançamento do livro no Centro Cultural Manoel Lisboa, em Recife. Foto: Davi Queiroz.

O lançamento do livro aconteceu no Centro Cultural Manoel Lisboa, um lugar marcado pela resistência, debates políticos e eventos culturais. O Centro Cultural fica localizado no bairro da Encruzilhada, na zona norte do Recife.

O evento foi marcado por discursos dos camaradas Antônio Carlos, Ludmila Outtes, Edival Nunes Cajá, Professora Socorro Abreu, e ainda um momento cultural com a poesia revolucionária de MC Demo e Vitória Ohara.

Entrevista com Natanael Sarmento

Natanael Sarmento apresentando a sua mais recente obra, As Ideias Políticas na História
Natanael Sarmento apresentando a sua mais recente obra. Foto: Davi Queiroz

A Verdade – De que se trata o teu novo livro?

Natanael: Durante milhares de anos, do Oriente ao Ocidente, das cavernas aos tempos atuais, surgem ideias políticas, religiões, filosofias, o que Marx chamou de “formas de consciências”. Os pensadores idealistas procuram explicar o mundo do Céu para a Terra. O marxismo deu a bússola para a humanidade sair das trevas, dos mistérios, explicarmos o Céu a partir da Terra, homens e mulheres no processo de produção e reprodução material, produzem as ideias, as subjetividades, as formas de consciências.

O livro trata da “Ideias políticas na história” e como o título diz, a história humana cria as ideias e portanto não é uma “história das ideias políticas”, que as subjetividades da consciência, a rigor do marxismo, não possuem a própria história, antes integram a explicação de totalidade de Marx da correspondência da superestrutura ideológica à infraestrutura que ela corresponde.

Assim fazemos um percurso das principais ideias e pensadores, desde das cavernas do modo de produção comunal primitivo, teocracias tiranas orientais e ocidentais do escravismo; feudalismo e absolutismo monárquico do medievalismo do direito divino; ataques ao absolutismo do liberalismo burguês das revoluções liberais da desintegração do feudalismo e surgimento do capitalismo; críticas ao liberalismo do anarquismo, desobediência civil e socialismo com a degradação do capitalismo e surgimento do socialismo; analisamos o imperialismo e a luta de classes nos dias correntes da era digital. Numa frase trata do machado de pedra à bomba atômica e redes sociais.

Nós estamos vivendo um momento de enfrentamento ideológico contra o fascismo no Brasil e no mundo. Nesse contexto, qual a importância de contribuir para o Marxismo e para a formação da militância?

O livro foi escrito para servir de instrumento da luta ideológica do proletariado na luta pelo socialismo, significa luta contra a burguesia capitalista e imperialista que se mantém no poder pelo controle da base econômica da sociedade e da ideologia e aparatos ideológicos formadores das ideias dominantes nessa sociedade, que tem duas versões: o liberalismo democrático e o nazifascismo.

O primeiro, cada vez mais difícil na fase imperialista que vivemos, dos monopólios e guerras por áreas de exploração. Analisamos o surgimento nas fontes primárias do pensamento de Mussolini e Hitler, suas obras e fazem um recorte do fascismo no Brasil. Acreditamos que isso ajuda a compreender com bastante clareza o que é o fascismo e porque devemos combatê-lo como principal inimigo dos trabalhadores – ideologia da burguesia mais reacionária e imperialista belicista – revolução socialista. 

Para adquirir o livro, basta ir ao Centro Cultural Manoel Lisboa, localizado na Rua Carneiro Vilela, 138, no bairro da Encruzilhada. O livro está custando R$45,00, contendo mais de 400 páginas de uma profunda análise das ideias políticas, sob a ótica do materialismo histórico dialético.

Cine Baú leva cinema e literatura para mais de 5 mil alunos da Rede Municipal de Ipatinga

Ipatinga foi palco, nesse mês de abril, do Cine Baú, projeto social que aproxima cinema e literatura no ensino. Quatro escolas da cidade receberam estruturas com sistema de som e projeção, além de acervos com mais de 100 títulos literários. 


EDUCAÇÃO – Mais de cinco mil alunos da Rede Municipal de Educação de Ipatinga (MG) já podem contar com as novas ferramentas de aprendizagem oferecidas pelo projeto social Cine Baú.

No início de abril, quatro escolas municipais foram presenteadas com estruturas completas de projeção (projetor e equipamento de som), além de um acervo com 100 títulos da literatura nacional e internacional de variados autores, contendo as mais diversas obras infantis e infantojuvenis, incluindo três livros em braile para usuários com baixa visão ou cegos.

Além dos livros, também foram disponibilizados mais de 30 títulos em audiobook que podem ser acessados através do tablet. Para proporcionar aos alunos a oportunidade de mergulhar no mundo do cinema, o Cine Baú trouxe ainda 75 títulos em DVD incluindo clássicos como “O Pequeno Príncipe”, “Moana”, “Mulan”, “Toy Story”, entre outros.

Realizado pelo Instituto Eco Ambiental e Social (IEAS), com patrocínio da Usiminas, o projeto também incluiu a capacitação de educadores para o aperfeiçoamento das técnicas de contação de histórias e para a correta utilização dos materiais e recursos do Cine Baú.

O objetivo é permitir que as equipes escolares e assistenciais possam aproveitar ao máximo as estruturas, utilizando-as como ferramenta pedagógica na realização de atividades educativas. A coordenadora pedagógica da Escola Municipal Everson Magalhães Lage, Valquíria Ferreira dos Santos Cardoso, agradeceu a Usiminas e o Instituto Eco Ambiental e Social pela iniciativa. “Somos muito gratos pelo privilégio que tivemos de receber o Cine Baú. Os materiais e a estrutura estão sendo muito importantes no nosso dia a dia, auxiliando com as atividades de ludicidade, as oficinas de teatro, de arte e de literatura”, afirmou.

Para Mônica Andrade, coordenadora pedagógica da Escola Municipal Jaime Morais Quintão, o Cine Baú traz novas possibilidades educativas. “Nos sentimos privilegiados por receber o Cine Baú em nossa escola. A estrutura será, sem dúvida, muito bem aproveitada. Trata-se de um trabalho muito bem elaborado, que nos ajuda no processo de incentivo à leitura, o que precisamos fazer a todo tempo. A literatura, o mundo da imaginação, da criatividade, tudo isso é fundamental para o desenvolvimento acadêmico dos nossos alunos. Quero agradecer imensamente a Usiminas, que está sempre envolvida neste tipo de projeto de incentivo à cultura para as nossas crianças”, declarou.

Capacitação e entregas

A capacitação de professores foi realizada no Centro Cultural Usiminas. Já as estruturas foram entregues nas seguintes unidades escolares: Escola do Futuro – Núcleo de Educação Integral; Escola Municipal Professor Mário Casassanta (Ipaneminha); Escola Municipal Everson Magalhães Lage e Escola Municipal Jaime Morais Quintão.

O projeto

O Cine Baú é um projeto inovador que incentiva a leitura, promove a magia do cinema, desenvolve atividades de teatro e educação por meio da doação de acervos literários, filmes, materiais lúdicos e oficinas de capacitação de contação de histórias. O projeto tem como objetivo promover o hábito da leitura, democratizar o acesso ao cinema e promover atividades lúdicas.

Realização

O Cine Baú é realizado por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Rouanet) pelo Instituto Eco Ambiental e Social (IEAS), com patrocínio da Usiminas. A ação conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Ipatinga (MG), por meio das Secretaria Municipal de Educação, do Ministério da Cultura e Governo Federal.

Para mais informações sobre o projeto acesse www.cinebau.com.br.

Sobre o Instituto Eco Ambiental e Social
O Instituto Eco Ambiental e Social (IEAS) é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) sem fins lucrativos, que tem como foco a preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável. Saiba mais sobre o Instituto acessando o site www.institutoeco.com.br.

Ato no Recife repudia os 60 anos do golpe militar

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Para marcar o repúdio da sociedade aos 60 anos do golpe militar e se somando aos diversos atos que ocorreram em todo o país, centenas de militantes se reuniram em um ato no Recife na tarde do dia 1 de abril.

Clóvis Maia | Redação PE


BRASIL – Na convocação para o ato, que contou com a assinatura de mais de 30 entidades, partidos políticos, movimentos sociais e representantes do legislativo, exigiam a reinstalação da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos (extinta por Jair Bolsonaro como último ato de seu governo, após fugir para os EUA onde articulou o fracassado golpe de 08 de janeiro de 2023), a aplicação das 29 recomendações da Comissão Nacional da Verdade e punição para os torturadores e golpistas de ontem e de hoje. 

Denúncia e repúdio ao golpe de 1964

Monumento Tortura Nunca Mais, localizado no Recife. O local foi a concentração do ato em memória dos 60 anos do golpe militar.
Concentração do ato no Monumento Tortura Nunca Mais. Foto: Davi Queiroz

A concentração se deu no Monumento Tortura Nunca Mais, na praça Padre Henrique, Rua da Aurora, Recife, saindo em seguida na Caminhada do Silêncio. Os manifestantes seguiram até a frente do antigo Destacamento de Operações de Informações-Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), na Rua do Hospício, centro do Recife, onde hoje funciona um edifício garagem, a sede de uma associação de diplomatas da escola superior de guerra e uma organização financeira para militares, todos construídos com o intuito de encobrir os crimes daquele lugar e que a sociedade civil não tenha acesso a esses espaços, verdadeiras oficinas de torturas e mortes de militantes durante os anos 60 e 70. 

As pesquisas da Comissão Nacional da Verdade chegaram a apontar pelo menos 6 mortos e 10 desaparecidos políticos envolvidos diretamente com essas instalações do regime no Recife. Nessa lista estão nomes como Manoel Lisboa e Manoel Aleixo, assassinados em 1973. 

Thiago Santos, presidente do Diretório Estadual da Unidade Popular e membro da Comissão de Diretos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) conduziu um jogral diante das instalações do exército citando os nomes de vários torturados, mortos e desaparecidos políticos que passaram pelas mãos do exército naqueles dias, como José Nivaldo Júnior, hoje membro da Academia Pernambucana de Letras, preso e torturado; José Carlos da Mara Machado, entre outros, sendo seguido por várias falas das entidades presentes relembrando o significado daquele ato em frente aquele local de tortura e violência que até hoje segue impune. 

Nossos heróis não morreram

Militantes concentrados na Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE). Na foto, há muitas pessoas segurando cartazes e bandeiras no ato do 1 de abril, em Recife, em memória dos 60 anos do golpe militar.
MANIFESTAÇÃO. Militantes de diversos coletivos no ato do 1° de abril, no Recife. Foto: Davi Queiroz

A Caminhada do Silêncio continuou, seguindo até a entrada da Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), onde se seguiram as falas, havendo, depois, duas sessões solenes, na ALEPE, homenageando os mortos e desaparecidos políticos, e em seguida no auditório da Câmara de Vereadores, encerrando o dia com uma homenagem à Mércia de Albuquerque, advogada recifense que defendeu mais de 500 presos políticos no nordeste.

Na solenidade da Câmara de Vereadores Amparo Araújo, que militou contra a ditadura militar e foi fundadora do movimento Tortura Nunca Mais ressaltou a falha do Governo Federal em não querer sequer falar sobre os 60 anos do golpe. Para ela, nós temos que enterrar nossos mortos. É da nossa natureza. É um dever sagrado e um direito que ninguém pode nos tirar. A gente precisa que os arquivos da ditadura sejam abertos. Eles estão aí, inclusive guardados nos espaços públicos estatais”.

As atividades em memória e denunciando os 60 anos do golpe militar de 1964 seguem em todo o estado de Pernambuco durante todo o mês de abril, tendo o Comitê de Memória, Verdade, Justiça e Reparação e o Centro Cultural Manoel Lisboa como principais articuladores desse tema no estado. 

Filme “Marte Um” expõe a luta das famílias pobres na realidade brasileira

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Ao longo do filme Marte Um, somos confrontados com a realidade cruel da desigualdade social e do racismo estrutural que permeiam a vida da família Martins e que representa a vida de muitos brasileiros. A falta de oportunidades, as mudanças no cenário político brasileiro, a violência urbana e a falta de perspectiva são retratadas de forma crua e realista, sem rodeios ou romantização.

João Pedro Souza | Redação – PE


CULTURA – “Marte Um” é uma obra cinematográfica que mergulha na experiência humana, apresentando-nos à família Martins, que representa as famílias da classe trabalhadora brasileira, na qual enfrenta os desafios sociais e econômicos todos os dias em um país marcado por uma eleição vencida pelo candidato Jair Bolsonaro da extrema-direita no ano de 2018. 

O filme, dirigido por Gabriel Martins, foi produzido e gravado em boa parte na periferia de Contagem, que fica localizado na região metropolitana de Belo Horizonte. Considerado como o melhor longa-metragem brasileiro de 2022 pela Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), a obra destaca a jornada de Deivinho, o filho mais novo da família, que sonha em se tornar um astrofísico e participar de uma missão para colonizar Marte. Enquanto Deivinho nutre seu sonho, seus pais, Wellington e Tércia, enfrentam desafios como desemprego, racismo e dificuldades financeiras. Sua irmã mais velha, Eunice, como estudante de direito, busca desenvolver formas de como contar a sua relação amorosa com outra mulher para seus pais, além de alimentar sonhos em viver um padrão de vida fora da sua realidade econômica no momento.

Ao longo do filme, somos confrontados com a realidade cruel da desigualdade social e do racismo estrutural que permeiam a vida da família Martins e que representa a vida de muitos brasileiros. A falta de oportunidades, as mudanças no cenário político brasileiro, a violência urbana e a falta de perspectiva são retratadas de forma crua e realista, sem rodeios ou romantização. No entanto, apesar das adversidades, “Marte Um” também nos mostra a esperança e a humanidade da família Martins, que encontra força e apoio uns nos outros para enfrentar os desafios que surgem no decorrer do filme.

A escolha de Deivinho como protagonista, com seu fascínio pelo espaço e pelas obras de ficção científica, é significativa, pois representa como uma fuga temporária da dura realidade que vive, mas também como uma fonte de inspiração e motivação para perseverar diante das dificuldades. A força e determinação de Deivinho o ajuda a perseguir seus objetivos, mesmo diante das dificuldades econômicas e inspira não apenas os membros de sua família, mas também o espectador, que é levado a refletir sobre a importância de manter viva a chama da esperança e da luta por melhores condições de vida, mesmo nos momentos mais difíceis.

No entanto, “Marte Um” não se limita a retratar os problemas da sociedade brasileira; ele também apresenta uma crítica contundente ao sistema político e econômico que perpetua as desigualdades sociais e joga nas costas dos pobres todos os problemas que acontecem no país. 

A eleição de Jair Bolsonaro no ano de 2018, serve como pano de fundo para a narrativa, destacando o contexto político em que a história se desenrola e as consequências que as decisões políticas errôneas têm sobre a vida da classe trabalhadora. Além do que, a obra nos evoca que, apesar das promessas de mudança e progresso prometidas pela direita no poder, muitos brasileiros continuam marginalizados e esquecidos. 

Além disso, é importante destacar que no filme, mesmo diante das adversidades e injustiças sociais, “Marte Um” não sucumbe ao pessimismo ou à resignação, mas busca uma narrativa de esperança e de força para buscar os seus sonhos. 

Evidentemente que a obra nos deixa com uma mensagem final poderosa e inspiradora: a necessidade de resistir ao ódio, à injustiça e ao cinismo que permeiam nossa sociedade, e de lutar por um futuro mais justo e igualitário para todos. O filme nos lembra que, apesar dos desafios que enfrentamos, ainda há esperança, desde que estejamos dispostos a lutar por ela. Ao final, “Marte Um” é um chamado para a organização, convidando-nos a nos unir em solidariedade e empatia, e a trabalhar juntos para construir um mundo melhor para as gerações futuras.

Mogi das Cruzes: servidores intensificam mobilização

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Proposta inaceitável de reajuste salarial levou a categoria a se manifestar contra a gestão do prefeito Caio Cunha. Com o apoio do Movimento Luta de Classes, trabalhadores da cidade preparam novos passos da luta contra a precarização do trabalho e em defesa dos serviços públicos de Mogi das Cruzes

Caio da Silva Costa* | Mogi das Cruzes (SP)


TRABALHADOR UNIDO – No último dia 14 de março, os trabalhadores e trabalhadoras do funcionalismo público se manifestaram nas ruas de Mogi das Cruzes (SP) após o atual prefeito da cidade, Caio Cunha (Podemos), afirmar que as reivindicações da categoria iriam “estourar o orçamento da cidade”.

O Movimento Luta de Classes (MLC) esteve presente nas mobilizações realizadas pelos servidores, reforçando a denúncia das péssimas condições de trabalho e reivindicando uma nova assembleia do sindicato dos servidores municipais para que os profissionais pudessem votar pelo estado de greve.

Em depoimento anônimo ao Jornal A Verdade sobre o motivo da mobilização, uma servidora explicou que “o motivo que fez a gente aderir à assembleia foi a sobrecarga” de trabalho. Outra das pautas defendidas pelos servidores é a ampliação do direito a vale-alimentação e vale-refeição, visto que mais de 850 trabalhadores da prefeitura não têm acesso a esses benefícios.

Além disso, outra reivindicação urgente é o reajuste salarial em 5,64%, de acordo com a inflação. A proposta foi recusada pela prefeitura, que ofereceu um reajuste de apenas 3,15% em sua contraproposta. A ação comprova que a intenção de Caio Cunha é precarizar as condições de trabalho dos servidores e sucatear os serviços públicos da cidade, prejudicando não só os funcionários da prefeitura, mas também a própria população mogiense.

Em votação realizada pelo Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública de Mogi das Cruzes e Guararema (SINTAP) no dia 21 de março, 84% dos trabalhadores foram contrários à proposta de reajuste da prefeitura. Dessa forma, as mobilizações para uma possível greve se intensificaram.

Nesse ponto, a servidora afirma que há uma grande importância na construção de um movimento forte. “Nós apoiamos, pois é um ato legítimo. Só com a greve vamos ser escutados por essa gestão que nada fez pelo servidor”, ela avalia.

A unidade construída entre os movimentos sociais e os trabalhadores e trabalhadoras das áreas afetadas pelas políticas neoliberais nos municípios é extremamente importante para denunciar as ações dos governantes que não representam os interesses do povo. A aproximação desses setores com os trabalhadores do município também é fundamental para construir cada vez mais lutas em favor da classe trabalhadora.

O Movimento de Luta de Classes segue apoiando as greves do funcionalismo público em todo o país e organizando trabalhadores e trabalhadoras para a luta em defesa dos serviços essenciais para a população e pelo socialismo.

*Militante do MLC Alto Tietê

Povo de Natal vai às ruas repudiar os crimes dos golpistas de 1964 e de 2023

No dia 1 de Abril, diversos movimentos sociais, sindicatos e entidades estudantis de Natal (RN) foram às ruas denunciar os crimes dos fascistas da Ditadura Militar e do dia 8 de janeiro de 2023. 

Redação RN


LUTA POPULAR – Na segunda-feira, 1 de abril de 2024, marcou-se 60 anos desde que aconteceu o golpe empresarial-militar contra o povo brasileiro, estabelecendo um regime que prendeu, torturou e assassinou diversas pessoas que acreditavam na democracia e repudiavam a censura e a perseguição. 

Em Natal, terra de Emmanuel Bezerra, Anatália Melo Alves, Luiz Inácio Maranhão e Djalma Maranhão, a população realizou um ato na Praça Pedro Velho – no centro da cidade – denunciando os crimes da Ditadura Militar e relembrando a luta pela Memória, Verdade e Justiça e contra o fascismo no país.

Segundo Mateus Freitas, presidente do diretório municipal da Unidade Popular (UP) em Natal, “É tarefa de toda a esquerda e toda ala progressista no Brasil defender a reabertura da comissão da verdade. A impunidade sobre os crimes ocorridos pelo militares durante a Ditadura é uma ameaça a nossa frágil democracia. Não punir os generais de 64 é facilitar ainda mais para os imperialistas saudosos do regime militar e que sonham com um período de maior arrocho salarial e exploração com o aval de um estado fascista. Não é atoa que tentaram organizar novos golpes de Estado, como tentaram fazer em 08 de janeiro.

Os horrores da Ditadura não ficaram no passado. Se ainda existem milhares de famílias que até hoje aguardam para enterrar seus entes queridos, se até hoje lideranças indígenas como o Cacique Merong seguem sendo assassinadas e se a Polícia Militar segue perseguindo e matando o povo preto dentro de nossas periferias como fez com Claudia, Geovanni Gabriel, João Pedro e tantos outros. É preciso preservar a memória dos erros do passado para que nunca mais voltem a acontecer no presente e no futuro.”.

Os trabalhadores potiguares não se esqueceram e jamais esquecerão do que aconteceu durante a ditadura empresarial-militar, e manterão a pressão pelo reativamento das comissões da verdade, e pelo fim dos benefícios pensionarios aos familiares de torturadores. Anistiar torturadores jamais será aceito por aqueles que defendem a democracia popular, e muito menos por familiares e entes queridos de torturados e torturadas durante este período sangrento da história brasileira.

De acordo com Jana Sá, jornalista e integrante do grupo de filhos e netos dos desaparecidos políticos, “A Memória é um espaço de disputa de poder e sempre foi instrumentalizada como projeto de silenciamento por parte do Estado. Por isso, tratar das violências do passado é o caminho para a transformação da realidade presente. Não permitiremos a perpetuação do esquecimento como política de Estado.

Neste 1º de abril, data que marca os 60 anos do início da ditadura civil militar no Brasil, Natal se somou às manifestações em todo país para afirmar sonoramente: Ditadura Nunca Mais! 

Pela reinstalação da Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos e pela reinterpretação da Lei de Anistia de 1979! Sem anistia para os de hoje e de ontem!”.

Natal é a cidade com maiores taxas de depressão do nordeste

No estado cuja taxa de desemprego é a 5° maior do Brasil, alta especulação imobiliária e fome crescente, estudo recente aponta Natal como a capital nordestina com maior porcentagem de pessoas diagnosticadas com depressão. 

Núcleo UP Zona Sul | Natal (RN)


BRASIL — Em um estudo realizado pelo Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis no final de 2023, Natal foi a capital nordestina com maiores diagnósticos de depressão entre seus cidadãos, com uma média de 13,2% (cerca de 117 mil casos) entre maiores de 18 anos. Os dados também revelam um crescimento de 1,4% nos diagnósticos na capital desde o último levantamento feito pelo Ministério da Saúde em 2021.

A capital do Rio Grande do Norte também foi a quinta capital do país com maior índice de desemprego (10,1%) no último semestre de 2023, acompanhada por uma média salarial significativamente inferior à do restante do país. Essas condições exercem uma influência direta na saúde mental dos trabalhadores potiguares. 

A ‘Cidade do Sol’ apresenta um alto número de trabalhadores autônomos e um aumento no processo de “uberização”, que surge, na guinada neoliberal, com uma proposta de “inovação” por permitir ao trabalhador (o qual se denomina de “empreendedor”) a flexibilidade de definir “seus próprios horários para ganhar dinheiro”. No entanto, a lógica por trás é nefasta: tem-se um trabalhador que está dispondo de seus próprios recursos (veículo e gasolina), para ganhar valores irrisórios, haja vista a lucratividade descontada pela empresa, caindo por terra o discurso de que pode fazer seu próprio horário, afinal, precisará trabalhar por horas a fio para conseguir ganhar o mínimo, sem segurança nenhuma caso se acidente ou adoeça, e que só se submete a esse regime por não ter escolha. Trata-se, assim, de um modelo que tem em sua base a precarização do trabalho, submetendo os trabalhadores à fragilização física e psicológica.

Além disso, o custo de vida na cidade de Natal é incompatível com a realidade do trabalhador comum. Em dezembro de 2023, o custo de vida para 1 pessoa em Natal era de R$4.182, contrastando com o salário mínimo de R$1.320 na época e que sofreu reajuste de apenas 6,9% este ano. Em contrapartida, os 10% mais ricos da cidade ganham cerca de 47 vezes a renda dos 40% mais pobres, colocando Natal no primeiro lugar de capitais mais desiguais do nordeste. Entre as preocupações da maioria da população, há a insegurança financeira, o desemprego e o medo de não conseguir se alimentar.

“Minha avó tem 80 anos e é diagnosticada com depressão, transtorno bipolar, entre outras coisas. Ela não teve uma vida fácil. Chegou a passar fome por causa do descuido dos pais, cuidava dos irmãos mais novos e passou por muita coisa, trabalhou muito desde muito nova. Claro que deve ter o fator genético, mas com certeza os traumas e pelejas de uma vida toda e sem acesso à tratamento até a velhice influenciaram e muito. Se ela tivesse tido acesso à tratamento e uma vida minimamente digna desde cedo, tenho certeza que a condição dela seria mais leve hoje. Acredito que sempre houve gente doente por conta das dificuldades que passou durante a vida, mas nossa juventude está adoecendo cada vez mais rápido, porque esse sistema nos adoece, mata nossos sonhos e ainda tira tudo que deveria ser direito básico, e tudo cada vez mais escancarado e mais rápido. Como não adoecer vivendo no mundo do jeito que está?” relata Alice Morais, estudante e militante da Unidade Popular pelo socialismo.

O capitalismo destrói a saúde mental da classe trabalhadora 

No sistema capitalista, a classe trabalhadora não tem a possibilidade de viver uma vida culta e plena, assim, tampouco tem acesso à saúde, esta que no capitalismo é transformada em produto e mercadoria. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a previsão é de que até 2030 a depressão seja a doença mais comum do mundo, entre os diversos fatores isso contribuirá para o aumento do número de pessoas que sofrerão dessa condição; essa realidade está relacionada a um sistema que oprime e produz sofrimento. O excesso de trabalho; cobranças e exigências altas atreladas à lógica da competição entre as pessoas e menos qualidade de vida têm gerado transtornos como depressão e ansiedade.

Em Natal, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do município (SME-Natal), em 2023, o número de procura por atendimento voltado à saúde mental aumentou mais de 40% após a pandemia de COVID-19. E, aqui é importante mencionar, embora muitas pessoas tenham sidas afetadas no período da pandemia com o desenvolvimento de transtornos, especialistas informam que já haviam indícios de que as pessoas iriam adoecer e desenvolver algum tipo de transtorno mental, diante de uma lógica de trabalho que causa sobrecarga e sofrimento psíquico.

No Brasil, quase metade das vítimas sofrem de ansiedade ou depressão. É o que demonstra o relatório, esgotadas: o empobrecimento, a sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico das mulheres“, realizado em 2023 pela ONG Think Olga, onde constatou-se que 45% das mulheres brasileiras possuem diagnóstico de ansiedade, depressão ou outro transtorno mental em um cenário pós-pandemia. O relatório para produção dessa pesquisa contou com mais de 1000 mulheres entrevistadas com idade entre 18 e 65 anos, contemplando todos os estados do país.

Os resultados dessas pesquisas refletem os impactos de uma sociedade adoecida pelo capitalismo que não preza pelo bem-estar do ser humano e como consequência há um adoecimento de forma acentuada na população.

Ainda de acordo com o relatório, outro item que merece destaque é insatisfação e o descontentamento da sobrecarga de trabalho doméstico como também as jornadas excessivas de trabalho. As mulheres são submetidas a mais horas de trabalhos domésticos e nas tarefas de cuidados; submetidas a duplas ou triplas jornadas de trabalho.

Portanto, não se trata de fazer uma responsabilização do indivíduo e tratar o transtorno mental como algo individual; mas sim toda uma estrutura que visa atender as demandas e os interesses da classe dominante deste país. Os problemas de saúde mental possuem influências de aspectos políticos e econômicos sob o capitalismo nas nossas relações com o trabalho e o convívio em sociedade.

O fato é que o capitalismo está destruindo nossa saúde mental. A violência desse sistema impõe ao esgotamento físico e mental da classe trabalhadora, enquanto ricos cada vez mais aumentam suas riquezas. Os dados, fatos e evidências demonstram que cada vez mais os números de pessoas diagnosticadas e afastadas dos postos de trabalhos por causa de transtornos mentais são preocupantes. Por isso, é urgente o enfrentamento deste sistema que é uma “máquina de moer gente” que nos adoece e mata. A contínua construção da consciência de classe e o trabalho coletivo são fundamentais. É necessário lutar por uma nova sociedade: uma sociedade socialista, em que o povo esteja no poder.

Pelo poder popular e pelo socialismo! Filie-se à Unidade Popular!

Fontes:

https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2023/04/considerada-mal-do-seculo-depressao-ganha-semana-de-conscientizacao

https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/saude/audio/2023-08/quase-metade-das-mulheres-brasileiras-sofrem-de-ansiedade-ou-depressao#:~:text=45%25%20das%20mulheres%20brasileiras%20t%C3%AAm,p%C3%B3s%20pandemia%20de%20Covid%2D19.

https://www.brasildefato.com.br/2023/08/30/levantamento-mostra-que-45-das-mulheres-brasileiras-apresentam-algum-tipo-de-transtorno-mental-no-pos-pandemia

https://lab.thinkolga.com/esgotadas/

https://saibamais.jor.br/2023/07/procura-por-atendimento-relacionado-a-saude-mental-aumentou-mais-de-40-em-natal-depois-da-pandemia/

https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9173-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-trimestral.html?t=resultados

https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/svsa/vigitel/vigitel-brasil-2023-vigilancia-de-fatores-de-risco-e-protecao-para-doencas-cronicas-por-inquerito-telefonico