UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quarta-feira, 23 de abril de 2025
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Vanderley Caixe presente!

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No dia 13 de novembro, faleceu um grande lutador do povo brasileiro, o companheiro Vanderley Caixe. Sua história deverá sempre ser lembrada como um homem que dedicou toda sua vida para combater as injustiças existentes em nosso país. Poeta, advogado de trabalhadores e trabalhadoras, deixa companheiros e companheiras com muita saudade.Vanderley Caixe

Vanderley nasceu em 6 de outubro de 1944, na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo. Teve uma infância simples e, logo cedo, com 16 anos de idade, vivenciando um grande ascenso das lutas populares, já envolvido com o movimento estudantil, decide ingressar na Juventude Comunista. Após o golpe militar rompe com o PCB e, junto com Nanci Marietto e Aurea Moretti, fundam o jornal “O Berro”, que foi amplamente distribuído nas bancas, mas logo teve seu registro cassado pelos militares.

Diante da situação política, motivado pela necessidade de derrubar a Ditadura Militar, aos 22 anos, participa da fundação das Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN), organização guerrilheira que visava o combate ao regime e a construção do socialismo. Durante três anos, dedica-se a esse trabalho, porém, a repressão logo identifica a ação da organização e desencadeia uma série de prisões. Vanderley ficou preso durante cinco anos, sendo transferido diversas vezes de presídio. Esteve no Presídio Tiradentes, Presídio Wenceslau (onde, em 1972, liderou uma greve de fome dos presos políticos), Presídio Hipódromo, de onde foi solto em 1974. Nesse mesmo ano, retoma o curso de Direito para se dedicar à libertação de outros presos políticos. No cárcere, Caixe escreveu seus primeiros poemas, publicados somente 30 anos depois por iniciativa dos seus companheiros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Seccional de Ribeirão Preto.

Trabalhou no escritório de advocacia do professor Sobral Pinto e atuou como redator nos jornais Tribuna da Imprensa e Opinião. Em 1976, mudou-se para João Pessoa-PB, onde, juntamente com o arcebispo dom. José Maria Pires – Arcebispo da Paraíba – criou o primeiro Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Brasil (ainda na época da Ditadura Militar). Mais tarde, foi secretário-geral da Associação Nacional de Advogados de Trabalhadores Rurais, advogado de presos políticos em vários países na América Latina, atuou junto à Corte Interamericana e à Comissão de Direitos Humanos da ONU.) Foi membro-fundador do PT e primeiro candidato a prefeito pelo partido na Capital paraibana, em 1986.

Voltou a Ribeirão Preto em 1994, onde instalou o Centro de Defesa dos Direitos Humanos, Assessoria e Educação Popular, mantendo a luta ao lado dos camponeses. Torna-se assessor jurídico do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), e participa da Rede Nacional dos Advogados Populares (Renap). Era fundador e membro do Fórum dos Ex-presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo.

Vanderley morreu vítima de erro médico. Sofreu uma queda e fraturou o fêmur, por isso, foi submetido à cirurgia para colocar oito pinos, porém um dos pinos perfurou o intestino, e ele foi acometido por uma septicemia (infecção generalizada). Lutou durante 21 dias na UTI, mas não foi possível conter a infecção.

A morte de Vandeley Caixe deixa muita saudade nos companheiros e companheiras que conviveram com ele. Muitos depoimentos emocionados foram ouvidos em seu velório, que aconteceu na Câmara de Municipal de Ribeirão Preto, depoimentos que o qualificam como um incansável lutador, com uma sensibilidade gigantesca, um amigo, um revolucionário.

Aos que não o conheceram pessoalmente, principalmente à juventude, fica o exemplo de um grande lutador, que não se curvou diante do golpe militar, diante da prisão e das torturas.

Fernando Oliveira, São Paulo

Ames realiza Congresso em Teresina

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AMES - PINo dia 27 do mês de novembro, no auditório do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), realizou-se o 4º Congresso da Associação Municipal dos Estudantes Secundaristas de Teresina (Ames). Cerca de 60 estudantes se reuniram com o objetivo de discutir a atual situação da educação pública, a cultura, o esporte, a necessidade de um grêmio estudantil em cada escola, etc. Logo após as discussões, foi elaborado um plano de ação para a nova gestão da entidade, que vai até o ano 2014.

O Congresso contou com a presença da professora Adriana Rocha Silva, diretora de Ensino do campus Teresina, que falou sobre a importância de os estudantes estarem se organizando, não apenas por uma educação de qualidade, mas por uma sociedade mais justa. Também se fez presente Pedro Laurentino, ex-vereador da Capiral piauiense e atual diretor do Sindicato dos Servidores Federais do Poder Judiciário do Piauí, que, em sua fala, fez um resgate histórico do movimento estudantil.

Ao final, foi eleita a nova diretoria da entidade, a qual tem como presidente o estudante Eduardo Almeida, da Escola Joca Vieira, com a tarefa de levar aos estudantes secundaristas de Teresina à luta e à organização para defender seus direitos.

 Redação Piauí

SAE conquista vitória na Educação de Alagoas

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SAE-ALApós anos de espera, os auxiliares de administração escolar do Estado de Alagoas estão muito próximos de conquistar o Plano de Cargos, Carreira e Salários (PCCS). No último dia 20 de novembro, o secretário estadual de Educação, Adriano Soares, apresentou ao Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar da Rede Estadual de Educação de Alagoas (SAE-AL) a proposta definitiva do Plano, que será encaminhada para aprovação na Assembleia Legislativa.

No dia 28, o SAE-AL realizou uma assembleia da categoria, que aprovou um conjunto de mobilizações para que o PCCS seja aprovado o mais rápido possível. A efetivação do Plano representará a valorização da categoria, que sempre era relegada a um segundo pelo antigo sindicato que a representava.

Os primeiros passos desta conquista histórica foram dados. O SAE-AL permanecerá em mobilização pela conquista do PCCS e de uma educação pública e de qualidade para todo o povo alagoano.

Daniel Calisto, presidente do SAE-AL

Nova onda de protestos em Belo Monte

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Belo Monte em GreveA construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte foi novamente alvo de uma série de protestos dos trabalhadores no mês de novembro.

A obra é objeto de polêmica desde o seu início, em fevereiro de 2011, e já foi palco de manifestações de ambientalistas, movimentos sociais, indígenas e comunidades afetadas pela construção da usina e pelos próprios trabalhadores que se encontram em péssimas condições de trabalho.

Estima-se que, até o fim da obra, sejam utilizados R$ 30 bilhões financiados pelo BNDES sob a responsabilidade do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), formado por grandes empresas como a Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Vale, OAS, Light e Cemig, entre outras.

A recente onda de protestos teve início na noite do dia 9 de novembro e se estendeu até a noite do dia 12, obrigando o CCBM a suspender os trabalhos. Os protestos são uma resposta ao acordo proposto pelo consórcio.

Os trabalhadores reclamam que não há avanço na negociação das reivindicações trabalhistas, como aumento salarial acima dos 11% oferecidos, equiparação salarial entre os canteiros de obras e mudança de regras da baixada (folga para visitar as famílias). Desde o mês de abril os trabalhadores reivindicam melhores condições de trabalho.

A primeira ação agora em novembro ocorreu na noite do dia 9 de novembro, quando foram incendiados quatro galpões do almoxarifado, depois da informação de que o aumento proposto pela empresa seria de apenas 7%.

Já no sábado, os protestos tomaram conta do canteiro de Pimental, que, de acordo com uma liderança dos trabalhadores, teve instalações e alojamentos destruídos. “Por volta das 16h, o Sindicato da Construção Pesada do Pará (Sintrapav) foi ao Pimental e anunciou que havia fechado um acordo com o CCBM de aumento de 11%. Em nenhum momento, esta proposta foi discutida com as bases, foi um acordo a portas fechadas entre sindicato e empresa, e os operários se revoltaram. Aí houve um quebra geral”, explicou o trabalhador Emiliano de Oliveira ao movimento Xingu Vivo para Sempre.

Cinco operários foram presos no decorrer dos protestos, e as obras só tiveram reinício na quarta-feira seguinte, dia 14, após a reparação dos danos às instalações da empresa e com a presença da Força Nacional de Segurança para intimidar os trabalhadores.

A obra continua e, junto com ela, a luta dos trabalhadores que, apesar da repressão, continuam mobilizados e dispostos a conquistar melhores salários e condições dignas de trabalho enfrentando a ganância e a sede de lucros das grandes empresas que formam o CCBM.

Emerson Lira, Belém

Sindcalçados elege nova diretoria

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SINDCALÇADOSO Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Calçados, Luvas e Bolsas de Carpina e Região (Pernambuco) realizou no dia 5 de novembro eleição para sua diretoria. A chapa Luta de Classes foi eleita com 98,5% votos. Os trabalhadores nas indústrias de calçados reconheceram o esforço do sindicato nestes três anos com várias lutas realizadas e o apoio de Movimento Luta de Classes (MLC), como duas greves, diversos encontros e seminários e uma das melhores campanhas salariais do setor com reajuste salarial de 14,1% nos pisos dos operadores e auxiliares e cesta básica durante o ano todo.

A posse da nova diretoria aconteceu no dia 9 de novembro na sede do Comdica, em Carpina, com vários trabalhadores e representantes de movimentos sociais, do Partido Comunista Revolucionário (PCR) e da União da Juventude Rebelião (UJR).  Foi apresentada a nova diretoria e cada um falou desse momento tão importante firmando seu compromisso com os trabalhadores.

Para o presidente reeleito da entidade, Antonio Manoel Teobaldo, trabalhador da empresa Alpargatas, “a nossa meta é trazer mais conquistas para a categoria e isso se faz com as novas lutas que virão e, com isso, fortalece os trabalhadores e o sindicato”.

Marcelo Pessoa, Carpina

Sintrasef-RJ conclama servidores à luta em 2013

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SintrasefDe 8 a 11 de novembro, na sede do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, realizou-se o XI Congresso do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal do Estado do Rio de Janeiro (Sintrasef-RJ), com a presença de 220 delegados eleitos nas assembleias de base, e sob o lema “Liberdade a gente conquista: todo servidor tem direito à greve”.

O Congresso teve a apresentação de seis teses das forças políticas que atuam nas bases do sindicato. As avaliações sobre a vitoriosa greve dos servidores públicos federais deste ano deram a tônica dos debates. Cabe ressaltar a mesa de debates no segundo dia, que teve como expositores o diretor da Condsef, do Grupo dos Independentes, Sérgio Ronaldo, e Vanieverton Anselmo, do Movimento Luta de Classes (MLC).

O diretor da confederação enfocou a importância da greve dos servidores, da unidade conquistada no Fórum Nacional de Entidades e as ameaças e retaliações do Governo Dilma depois do movimento grevista, que mobilizou cerca de 350 mil servidores em todo o Brasil. Sérgio Ronaldo também denunciou a tentativa do Governo de aprovar projetos de lei que acabam com o direito de greve dos servidores, e conclamou os delegados a darem continuidade às lutas para a construção de uma possível e necessária greve da categoria, em 2013.

Por sua vez, Vanieverton Anselmo fez uma exposição sobre a conjuntura internacional na qual denunciou as iniciativas do imperialismo norte-americano que, diante da crise mundial do capitalismo e para manter seu poder nos quatro cantos do planeta, ameaça com a deflagração de uma guerra mundial. Também falou, com emoção, do 95º aniversário da Revolução Soviética como fonte eterna de inspiração para a classe trabalhadora mundial e reafirmou o socialismo como única saída para os trabalhadores e os povos do mundo inteiro viverem com dignidade, paz, justiça e fraternidade.

Todas as teses avaliaram como positiva e vitoriosa a greve dos federais de 2012, que quebrou a disposição do Governo de não dar nenhum aumento aos servidores neste ano, e construiu uma unidade nos diversos setores da administração pública federal que será fundamental na condução das próximas lutas e na formulação de políticas de mobilização da categoria.

Exemplo disso foi o seminário que aconteceu no dia 7 de novembro sobre Direito de Greve e Contrato Coletivo de Trabalho, organizado pelo Fórum Nacional (que reúne 28 entidades representativas dos servidores), que aprovou o seguinte calendário de luta: Reunião do Fórum Nacional; dias 25 e 26/1/2013 – Seminário sobre Negociação Coletiva e Direito de Greve; primeira quinzena de janeiro – protocolo da pauta de reivindicações das entidades nacionais; segunda quinzena – lançamento da Campanha Salarial 2013; e, na segunda quinzena de março – Marcha a Brasília. Os aplausos da plenária do Congresso se sucederam quando cada orador afirmava que “temos que nos preparar, desde já, para construirmos, em 2013, uma greve maior do que a de 2012, para conquistar nossos direitos”.

Todas as bandeiras históricas da categoria – como paridade entre ativos, aposentados e pensionistas, a luta contra o assédio moral, contra as privatizações e a luta pela regulamentação da Convenção 151 da OIT e pela defesa da Previdência Pública, Solidária e por Repartição – foram aprovadas, assim como as bandeiras mais gerais: a luta contra os leilões do petróleo e em defesa da soberania de todos os povos e pelo socialismo.

Fim do interstício

O ponto que suscitou mais polêmica foi a votação sobre o interstício, instrumento estatutário que impedia que diretores com dois mandatos consecutivos fossem reeleitos. O MLC, em todos os congressos e plenárias estatutárias do Sintrasef, sempre se colocou contra esse impedimento que acabava com a liberdade dos associados de votarem em quem eles quisessem. Para o MLC, “todo filiado tem o direito de votar e ser votado”.

Ao final dos debates, os delegados votaram pelo fim do interstício com uma margem significativa de votos e, dessa maneira, devolveram o direito das bases do Sintrasef de votar em quem entenderem que seja melhor para dirigir o sindicato.

Redação – Rio de Janeiro

Seca é flagelo para milhões de brasileiros

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SecaA estiagem atinge uma grande parte do território nacional desde janeiro. Todas as cidades do Semiárido nordestino foram afetadas e quase 70% dos 1.794 municípios do Nordeste estão em situação de emergência, somando cerca de 10 milhões de pessoas,  segundo estimativas do Ministério da Integração Nacional. Também o Norte de Minas Gerais e parte do Espírito Santo sofrem com a seca.

No ano inteiro foram raríssimas as chuvas, que apenas acenderam uma ponta de esperança no sertanejo, mas que não matou sua sede. Pelo contrário, o que vimos morrer foram plantações de pequenos agricultores e os rebanhos de ovinos e bovinos, formando verdadeiros cemitérios ao ar livre dentro das propriedades e na beira das estradas. Um cenário desolador e absolutamente contrário à prosperidade, desenvolvimento e justiça social dos discursos governamentais tão repetidos ultimamente.

“Temos que dividir a água com os animais”

Sem chuva, o pasto foi reduzido à areia. Além de não ter capim para dar aos animais, os pequenos produtores ainda são obrigados a comprar ração e complementos alimentícios a preços inflacionados. “Se, pelo menos, o governo ajudasse com a ração, que é o que faz os animais darem leite, ajudaria bastante. Mas, até agora, recebemos água de carro-pipa só para o abastecimento de casa. Mesmo não dando, temos que dividir a água com os animais para que eles não morram”, afirma a agricultora Sônia Souza Costa, de Poço Redondo, em Sergipe.

Em Alagoas, a região do Município de Batalha, a maior bacia leiteira do Estado, é uma das que mais sofrem com a seca e já viu a produção de leite cair pela metade. A seca também atingiu de forma avassaladora o Estado do Ceará, que, apesar de contar com as duas maiores barragens de água do Nordeste, possui quase 90% de seu território no Semiárido (apenas seis dos 184 municípios não decretaram situação de emergência), afetando praticamente toda a atividade pecuária. Já na Bahia, os produtores da região de Jacobina perderam metade do rebanho de três milhões de cabeças de gado.

As duas principais culturas produtivas do Semiárido nordestino (milho e feijão) foram extirpadas. No Maranhão a perda chegou a 60% da produção de arroz, milho e soja do leste do Estado.

Com a brusca queda da produção no campo, verificou-se nas cidades uma alta dos preços dos alimentos, chegando ao dobro do valor em relação ao ano passado, além de um novo êxodo populacional, inchando ainda mais os grandes centros.

O próprio sistema para o consumo humano de água também está completamente em colapso. Na Paraíba, por exemplo, com 195 de seus 223 municípios em estado de emergência, a cidade de Cabaceiras está há dois meses sem uma gota de água encanada, mesmo na área urbana. O padre Djacy Brasileiro, que atua na região, enviou diversas cartas ao Congresso Nacional e à Presidência da República questionando o tratamento dado às vítimas da seca:

“Será que a seca, que devasta e mata, não é tão cruel quanto as guerras no Oriente Médio, o atentado às Torres Gêmeas do World Trade Center e o furacão Sandy, nos Estados Unidos? Será que a seca, que devasta e mata, não merece a devida atenção tanto quanto à crise econômica europeia, as reuniões opulentas e luxuosas do G8 e a Copa do Mundo 2014? Será que a seca, que devasta e mata, não merece a devida atenção tanto quanto o julgamento do Mensalão e de outros atos ilícitos de repercussão nacional?”

A indústria da seca

Em 13 de novembro, a presidente Dilma Rousseff publicou Medida Provisória para aumentar os benefícios concedidos aos atingidos pela estiagem. Os agricultores receberão um auxílio extra de R$ 280 por meio do Programa Garantia-Safra, que paga míseras cinco parcelas de R$ 80. No entanto, boa parte desta ajuda nem sequer chega às vítimas da seca.

“A ajuda não está chegando nem na quantidade, nem velocidade que a gente entende que seria necessária. Estamos fazendo uma série de cobranças ao Governo Federal e Estadual [Pernambuco]. Tivemos uma reunião com o arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, para iniciarmos uma campanha de arrecadação de água para consumo humano. Temos municípios entrando em colapso. Pedimos também à Igreja que cobre dos governos. Queremos recursos para a realização de obras como cisternas e barragens subterrâneas. A situação está séria e a burocracia é grande. O que percebemos é que o governo não se preparou para enfrentar um momento como esse”, afirma Doriel Barros, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape).

No dia 9 de novembro, ao inaugurar a Adutora do Algodão, na região de Guanambi, na Bahia, a presidente Dilma Rousseff ouviu Maria Mendes do Pindaí, representante dos movimentos sociais da região, falar sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres com a seca: “A primeira coisa que a gente precisa é ter água, porque sem água não tem café para darmos aos nossos filhos”.

O governo federal anunciou ainda a criação do programa “Mais Irrigação”, que terá investimentos de R$ 10 bilhões, sendo R$ 3 bilhões de recursos públicos e R$ 7 bilhões da iniciativa privada, de acordo com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra. Na prática, o resultado será um aprofundamento do poder do capital no campo através das famigeradas parcerias público-privadas (PPPs).

Já os carros-pipa, ícones da chamada indústria da seca no Nordeste, foram amplamente ressuscitados nesta estiagem e, com eles, os chamados “coronéis da água”. Em várias cidades, moradores denunciam que a entrega de água obedece a critérios políticos: à época das últimas eleições municipais, quem não votasse no candidato que controla os carros-pipa não recebia a água. Onde esses candidatos não se elegeram houve retaliações e o completo abandono das famílias por parte do poder público.

Só minoria tem acesso à água

A pobreza no Sertão nordestino é crônica. Vários municípios hoje atingidos pela seca coincidem com os que tinham a renda mais baixa e os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país há 12 anos.

De acordo com o último Atlas do Desenvolvimento Humano, feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em 2000, das quatro cidades com menor IDH do país, três estão na lista de municípios em emergência pela seca. A cidade com menor IDH do país é Manari-PE, com índice de 0,467 – o país teve média de 0,649 no mesmo período. Outras duas cidades nordestinas, Traipu-AL e Guaribas-PI, também estão no topo da lista, com 0,479 cada uma.

A verdade é que todos os especialistas e pesquisadores sérios do Brasil vêm afirmando há décadas que o problema do Nordeste brasileiro não é a falta de água, mas sim sua concentração em determinadas propriedades privadas. Ou seja: o centro da questão não é climático, resultado de fenômenos naturais, é político, econômico, social.

O professor de sociologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Paulo Decio de Arruda Mello afirma que não há, necessariamente, uma relação direta entre a miséria e as estiagens. “Não é uma coisa automática. Podem existir locais com produção e desempenho econômicos elevados, mas que sejam atingidos pela seca. O Sertão do Nordeste acabou sendo alvo de políticas assistencialistas ao longo de décadas, o que impediu o desenvolvimento sustentável. Os governos não investiram como deveriam em obras estruturantes no Semiárido brasileiro porque nessas áreas geralmente se concentra a agricultura familiar, que não são commodities ou exportadores. São áreas ocupadas por economias agrícolas de pouco valor agregado, que acabam relegadas a um segundo plano. A tendência é investir mais em setores mais rentáveis”.

Segundo o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) João Abner Guimarães Júnior, especialista em recursos hídricos, “há água para consumo humano e animal com sobra. Há estoques suficientes para atender plenamente às necessidades do cidadão do campo, mesmo num período como este. São 10 bilhões de metros cúbicos armazenados na região acima do Rio São Francisco, em grandes reservatórios. Um sistema adutor com capilaridade seria suficiente para atender a toda demanda local, comprometendo menos de 20% da disponibilidade hídrica dos reservatórios”.

“Se o governo federal instituísse um programa do tipo ‘Água para Todos’, isso custaria cerca de R$ 20 por ano, por habitante. É um custo muito menor do que os aluguéis dos carros-pipas e do que as ajudas emergenciais, como o Bolsa-Estiagem, e representaria um terço do valor da transposição do Rio São Francisco”, afirmou.

Na cidade de Pão de Açúcar, em Alagoas, a menos de 500 metros do rio, comunidades rurais sofrem com a seca como se não houvesse uma imensidão de água ao lado, tudo porque a água do rio nunca chegou até eles. Em Glória, na Bahia, moradores revoltados afirmam que não há abastecimento de água nem energia elétrica. “Aqui a gente acorda e vê esse rio cheio de água e vê o esquecimento em que vivemos desde que nascemos. Nunca chegaram para trazer um copo d’água desse rio pra gente”, afirma dona Maria São Pedro, que vive a menos de 5 km do rio.

Seca para alguns, abundância para outros. Eis o dilema em que se encontrará o Nordeste e o Brasil enquanto viver num regime econômico que privilegia uma minoria.

Rafael Freire, presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba

Violentados em Fortaleza 822 crianças e adolescentes

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Violência infantilSomente nos três primeiros meses do ano, 822 crianças e adolescentes foram violentados em Fortaleza, de acordo com o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). Mas esse número pode ser ainda maior, pois esse dado se refere somente aos casos atendidos neste órgão. O mais grave é que tais atrocidades foram cometidas pelos próprios pais ou responsáveis.

Esse absurdo nos leva a refletir o tipo de sociedade em que nossos filhos e filhas estão inseridos. Na realidade, o sistema capitalista não respeita nem mesmo a inocência das nossas crianças e acaba com as relações de afetividade entre pais e filhos. Através das músicas, filmes e novelas, sexualiza crianças e adolescentes. Até a moda tem fortalecido essa triste realidade. É comum vermos meninas usando roupas extravagantes, curtas e sapatos de saltinho, sendo transformadas em mulheres-pequenas. Muitas vezes crianças e adolescentes são vistas dançando coreografias com gestos obscenos de músicas com letras pornográficas. Dessa forma, crimes como a pedofilia, o abuso sexual e a prostituição de crianças e adolescentes são fortalecidos e naturalizados.

Se a humanidade não transformar essa sociedade, acabando com o capitalismo, uma realidade cada vez mais dura será imposta para todas as crianças, homens e mulheres.

Paula Virgínia Colares, Fortaleza

A quem serve o novo Código Florestal?

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Charge de Código FlorestalO ano de 2012 termina com a publicação do novo Código Florestal (Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012 e alterações da Lei nº 12.727, de 2012). Após três anos de debates, o novo Código Florestal se assemelha à proposta inicial dos ruralistas, elaborada em 2009 pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).  Acaba, assim, a legislação de 1934 para preservar parte da vegetação nativa dentro de propriedades privadas. A burguesia e os latifundiários finalmente têm um código para chamar de seu.

A Lei nº 12.727, sancionada pela presidente Dilma em outubro, é cheia de contradições, mas na essência defende os interesses dos latifundiários. Vejamos.

Os produtores que respeitaram o Código Florestal antigo, independente do tamanho do imóvel, terão de manter 50m de florestas ao redor de nascentes perenes, 30m ao largo dos pequenos rios, respeitar as florestas dos topos de morro e encostas; os que desrespeitaram não precisarão recuperar a vegetação dos topos de morro e encostas, terão só 15m ao redor de nascentes e, a depender da área do imóvel, poderão nem ter mata ciliar ao largo dos pequenos rios.

Outra característica é a sua complexidade, assim, ocorrendo desmatamento de áreas protegidas (Área de Preservação Permanente – APP e Reserva Legal – RL), a punição depende de quando ocorreu e da área do imóvel. Um pequeno proprietário que tinha todo seu imóvel desmatado antes de 2008 terá que recuperar muito pouco da vegetação original. Um médio proprietário, na mesma situação, terá que recuperar bem menos do que na legislação anterior. Se o desmatamento ocorreu após 2008, no entanto, a situação será completamente diferente para ambos. Se parte do desmatamento foi antes e parte depois de 2008, a situação será outra ainda; na prática, não vai ocorrer punição aos infratores..

No caso da Amazônia, em 90 municípios a RL cairá de 80% para 50%. Os imensos igapós e várzeas (com área do tamanho do Estado de SP) deixaram de ser considerados APP. Todas as nascentes intermitentes, abundantes nas áreas de transição com o Cerrado, poderão ser desmatadas. Foi concedida anistia ao desmatamento do Cerrado (49% da área total) e da Mata Atlântica (76% da área total), seguindo de exemplo para estimular aos que quiserem avançar um pouco mais do que a legislação permite.

Apesar dos nove pontos vetados pela presidente Dilma, que aumentavam ainda mais a anistia a grandes proprietários, a possibilidade de “restauração” de matas ciliares com frutíferas, outros pontos importantes passaram: a anistia dos desmatamentos ilegais e redução da proteção de áreas ambientalmente sensíveis. Substituindo a lacuna dos vetos, veio um decreto que regulamenta alguns itens do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e dos Programas de Regularização Ambiental (PRAs), que serão desenvolvidos pelos governos estaduais. O governo federal garante que a nova lei não permite anistias, mas é bom lembrar que, na vigência do antigo Código Florestal, que era mais rígido, os desmatadores na maioria não pagaram um centavo das multas aplicadas até hoje é ver para crer.

A legislação aprovada abre brecha para que médios e grandes proprietários não precisem ter RL, simplesmente alegando que a área já estava desmatada antes da existência da legislação de 1934, que determina a existência da RL. A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) explica que a RL só passou a existir no Cerrado em 1989 e, nos biomas  da Caatinga, Pantanal e Pampas, em 2001. Interessante que a CNA não se lembra de que a lei da propriedade privada da terra é de 1850, e que os indígenas brasileiros até hoje não têm direito às suas terras demarcadas (e já moravam havia milhares de anos no País, antes da lei de 1850).

As reações com a publicação do novo Código Florestal pela burguesia tiveram variações. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), afirmou que entrará com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra as medidas. “Esse AGU [advogado-geral da União], Luís Inácio Adams, é um analfabeto. O que foi feito foi de uma total arrogância, prepotência e inconstitucionalidade”, afirmou Caiado. A avaliação do AGU e do Ministério do Meio Ambiente é de que o próprio Congresso deu a autorização para o Executivo legislar nesse caso, ao determinar que as regras do PRA fossem feitas por decreto. Outros representantes da burguesia tinham a intenção de derrubar os vetos da presidente Dilma, mas o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse que tem de furar uma fila de outros 2.424 vetos engavetados.

Para finalizar, com a palavra a representante oficial dos ruralistas, a senadora do PSD-TO Kátia Abreu:  “Se não estou 100% satisfeita como produtora rural, me considero 100% contemplada como cidadã, pois tivemos espaço para debater e chegamos a um bom termo na legislação.”

Hinamar de Medeiros, Recife

Sérgio Miranda: comunista e militante do povo

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Sérgio MirandaNascido em Belém (PA), Sérgio Miranda começou sua militância ainda como estudante, aos 15 anos, no movimento estudantil secundarista, quando ingressou Partido Comunista Brasileiro (PCB). Representou os estudantes do Ceará no Congresso de Ibiúna, quando foi preso, época em que estudava Matemática na Universidade Federal do Ceará (UFC), então militante do PCdoB, sendo expulso do curso em 1969, atingido pelo Decreto 477 do governo militar. Foi obrigado a viver na clandestinidade, organizando, assim, a resistência à ditadura. Sua extrema dedicação, firmeza e capacidade de organização na realização das tarefas, o levou ao comitê central do PCdoB.

Saído da clandestinidade, Sérgio Miranda foi transferido para Minas Gerais, com a função de organizar e ampliar o trabalho do partido. Em 1988, foi eleito vereador em Belo Horizonte, tendo grande atuação na criação da Lei Orgânica do município, além de ter sido o autor da lei da meia-entrada estudantil nos eventos culturais e esportivos.

De 1993 a 2006, foi eleito quatro vezes deputado federal, destacando-se da defesa dos interesses nacionais. Foi eleito por 11 vezes consecutivas na lista dos “Cabeças do Congresso” organizada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que elege os cem melhores parlamentares.

Especialista em orçamento, tornou-se referência nacional ao ser o primeiro a demonstrar o verdadeiro propósito da Lei de Responsabilidade Fiscal, criada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso: garantir o pagamento das dívidas externa e interna em detrimento dos serviços prestados à população.

Em todos os mandatos, apresentou emendas para a valorização do salário mínimo e foi sempre contrário à CPMF, denunciando que o imposto não servia à saúde, mas ao ajuste do sistema financeiro e à especulação. Participou ativamente dos movimentos nacionais em defesa do SUS e do ensino público, gratuito e de qualidade. Atuou na CPI das fraudes do INSS, na investigação do assassinato dos fiscais do Ministério do Trabalho.

Sérgio Miranda teve papel decisivo na criação do Plano de Carreira e Salários dos servidores federais do Judiciário e do Ministério Público – direito estendido a milhares de trabalhadores em todo o país. Além disso, foi um dos precursores da proposta de diminuição da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais, sem diminuição do salário. Além do mais, defendeu a adoção do software livre no serviço público e o desenvolvimento da informática nacional.

Em 2003 e 2005, votou contra a Reforma da Previdência, pois retirava direitos dos trabalhadores. Esta votação, somada a divergências com a linha política do PCdoB, levou Sérgio a sair do partido no qual militou por 43 anos, mantendo-se coerente com seus princípios e sua história de lutas.

Em 2008, foi candidato a prefeito de Belo Horizonte, obtendo 42.812 votos, ficando em quarto lugar no pleito. Em 2010, foi candidato a deputado federal em Minas Gerais com o apoio do Partido Comunista Revolucionário (PCR), das Brigadas Populares e da Refundação Comunista. Apesar de ter obtido uma grande votação (55 mil votos), ficando entre os dez candidatos mais votados na Capital, não conseguiu ser eleito.

Lutando a vida toda

Não abandonando seus princípios comunistas e a luta pelo socialismo, os últimos anos de sua vida foram marcados pela militância a favor dos movimentos sindical e popular. “O papel da esquerda é construir outro caminho, buscar alternativas para mudar a realidade, e essas mudanças somente poderão acontecer com a organização e mobilização do povo”.  Tentou, nesses anos, com a mesma força de vontade que marcou toda a sua militância, passar sua experiência; dedicou-se ainda mais ao estudo da realidade brasileira, proferiu centenas de palestras, cursos, seminários, assessorou sindicatos e reuniu-se com lideranças populares.

No início do ano de 2012, descobriu que estava com um câncer no pâncreas. Iniciou um difícil tratamento em São Paulo, e as seções de quimioterapia não tiveram o resultado esperado. Nos últimos meses, foi morar em Brasília junto com a esposa, a engenheira Cristina Sá Brito, onde deu continuidade ao tratamento. No dia 26 de novembro, faleceu em casa, ao lado da mulher e da irmã Margarida Brito. Seu enterro no Cemitério Campo da Esperança, no Distrito Federal, foi marcado por uma grande emoção.

A primeira pessoa a falar foi sua irmã, afirmando que a maioria das pessoas ali presentes tinham uma convivência maior com o Sérgio do que os familiares, já que faziam parte da vida dele e compartilhavam dos mesmos ideais. Margarida lembrou que Sérgio era pessoa muito sensível aos problemas das pessoas, que sua relação na família foi sempre de muito respeito e carinho, que para a família ele era o Zó (apelido) e gostava muito de poesia.

Renato Rabelo, presidente do PCdoB, destacou a dedicação de Sérgio na construção do PCdoB, destacando-se como um dos melhores organizadores no período mais difícil na década de 1970.

Ronald Rocha, da Refundação Comunista, disse que “Sérgio gostava muito de debater a conjuntura, sendo que ele mesmo tomava a iniciativa de falar do assunto, era o primeiro a expor seus pontos de vista. Não tinha nenhum tipo de sectarismo, mas tinha posições claras sobre qualquer tema da realidade, era um intelectual, um militante dedicado às causas populares, admirado e respeitado por todos”.

Simman Sammer, das Brigadas Populares, destacou “a importância de Sérgio Miranda para a conjuntura política atual e o valor que Sérgio dava à necessidade da unidade popular no contexto atual”.

Fernando Alves, da direção nacional do Partido Comunista Revolucionário (PCR), afirmou que  “Sérgio Miranda teve sua trajetória de vida marcada pela coerência e pelos princípios revolucionários. Era uma referência política na sociedade, em especial, para todos os que tiveram o privilégio e a oportunidade de conhecê-lo e de militar ao seu lado Por esses motivos, Sérgio Miranda estará sempre presente em nossas vidas e em nossas lutas!”.

Raimundo Rodrigues Pereira, diretor da revista Retrato do Brasil e grande amigo de Sérgio, bastante emocionado, conseguiu apenas pronunciar que Sergio era membro do Conselho Editorial da revista.

Para os comunistas e o povo, Sérgio Miranda deixa um grande legado, uma vida de muitas lutas, um exemplo a ser seguido, de que vale a pena lutar a vida toda e que esse é o caminho para que o socialismo um dia se torne realidade em nosso país e no mundo.

No sepultamento, a palavra-de-ordem “Sérgio Miranda, presente!” ecoou pelo ar para se espalhar por todo o nosso Brasil.

Da Redação

Dinheiro público garante sucesso de Eike Batista

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Eike BatistaÉ grande a propaganda das possibilidades de sucesso e ascensão dentro do capitalismo. Mesmo no período de crise geral, os meios de comunicação se esforçam em alardear os “exemplos de sucesso” e de fortunas construídas por alguns poucos.

Nos últimos anos, um dos grandes escolhidos da mídia é o bilionário Eike Batista, com direito a capas de revista, entrevistas na televisão e, claro, muita propaganda de sua fortuna e de sua liderança empresarial.  Mas, como no sistema em que vivemos nada acontece por acaso, a mais recente empresa de seu grupo, a Six Semicondutores, é uma prova viva do favorecimento feito pelo Estado para aumentar a fortuna dos ricos.

Criada no mês de novembro, a fábrica de semicondutores (matéria-prima básica para a produção de chips de computadores) será instalada em Minas Gerais. Por ser o Brasil o quinto maior fabricante de computadores do mundo, ocupa um papel estratégico para o desenvolvimento de toda a indústria de tecnologia no país.  Para o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, a Six Semicondutores é “símbolo do avanço da sólida indústria brasileira rumo ao século XXI”.

Acontece que o Brasil já possui uma indústria de semicondutores, e uma empresa pública, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a Ceitec, criada em 2008, mas praticamente esquecida pelo ministro na construção dessa sólida indústria brasileira a que ele se refere.

Mais R$ 700 milhões para Eike

A Six Semicondutores terá seu início no final de 2014, com um custo estimado, para sua instalação, em R$ 1 bilhão. Os parceiros, ou melhor, beneficiados pelo Governo, serão a SIX Soluções Inteligentes (de Eike Batista), IBM, Matec Investimentos, Tecnologia Infinita WS-Intecs e os bancos estatais BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais) e o BNDESPAR, responsável pelas participações acionárias do BNDES.

Do total de ações da empresa, caberão ao BNDESPAR 33%, ao custo de R$ 245 milhões, o mesmo que a SIX Soluções Inteligentes, sendo os 34% restantes divididos entre os demais participantes. Se não bastasse esse grande apoio, o BNDES ainda aprovou um financiamento de R$ 267 milhões, e, para não restarem dúvidas do interesse em patrocinar o novo “projeto” de Eike Batista, a estatal Finep, Financiadora de Estudos e Projetos, liberou para a SIX um empréstimo de R$ 202 milhões. Resumindo: R$ 714 milhões de dinheiro público gastos na criação dessa empresa. E viva a iniciativa privada!

Mas por que Eike Batista? Será que o megaempresário, que de acordo com a lista da Forbes está entre as 10 maiores fortunas do mundo, o homem mais rico do Brasil com mais de R$ 30 bilhões, precisaria de um financiamento público para tocar sua empresa?

Será que uma análise de crédito séria deveria desconsiderar os constantes prejuízos que suas empresas vêm tendo ao longo dos últimos meses? De acordo com a consultoria Economática, de janeiro a setembro deste ano, as empresas de Eike tiveram um prejuízo de R$ 1,68 bilhão, 64% maior que o prejuízo do ano passado, de R$ 1,02 bilhão. O mesmo tratamento seria dado a uma pequena ou média empresa após dois anos de prejuízo em suas contas?

A verdade é que, para os capitalistas, a iniciativa privada só existe em seus discursos e na divisão dos lucros, pois na hora dos investimentos os recursos do Estado, arrecadados sobre os impostos dos mais pobres, são utilizados em seus interesses sem nenhuma cerimônia.

Sendo esse um setor tão importante para a indústria brasileira, o Governo, que é quem pagará a conta, deveria assumir a tarefa de impulsioná-lo mediante a criação de uma empresa pública, ou mesmo da utilização da Ceitec.

Fica claro, assim, que as grandes fortunas e grandes empresas não são obra do acaso ou do esforço de seus proprietários. São resultado de uma política combinada, de apropriação do trabalho do povo e da utilização de investimentos estatais, recursos estes que deveriam ser destinados a benefício de toda a população e não para impulsionar as fortunas de meia dúzia de famílias.

Rafael Pires,
militante do PCR