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terça-feira, 1 de julho de 2025
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Goiás vive onda de feminicídios, estupros e violência de gênero

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Nos anos de 2022 e 2023, Goiás registrou 55 casos de feminicídio (Secretaria de Segurança Pública GO). No primeiro semestre de 2023, foram 1.602 estupros (Fórum Brasileiro de Segurança Pública). A violência de gênero no estado é um retrato do machismo das autoridades-fantoche e das oligarquias latifundiárias e milionárias do centro do país.

Isabelle dos Santos e Bluma | Redação GO


MULHERES – Uma das bases que fundamenta a exploração capitalista da classe trabalhadora é o patriarcado. Tão antigo quanto a propriedade privada dos meios de produção, a submissão forçada da mulher na sociedade de classes se materializa de diversas formas, todas extremamente violentas: salários menores, jornadas duplas ou triplas, cultura do estupro e variados tipos de abuso e assédio.

Em Goiás, isso se intensifica com a reacionária cultura latifundiária, que busca a retomada do tempo em que o poder patriarcal era basicamente inquestionado. As oligarquias do estado, muitas delas no poder há séculos, propagam sua ideologia dominante machista, racista e LGBTIA+fóbica para o resto da sociedade, em uma revanche cada vez mais fascista com aprofundamento da luta de classes e por direitos das parcelas mais oprimidas do povo goiano.

O estado teve o maior número absoluto de feminicídios na região Centro-Oeste no primeiro semestre de 2023, com 32 casos. E uma assustadora cifra de 1.602 estupros neste período, totalizando um aumento de 128,6% durante os anos de 2019 a 2023. Os dados representam boletins de ocorrência registrados nas delegacias da Polícia Civil, o que significa que ainda devem haver muitos casos a mais, não notificados. Alguns desses crimes de ódio hediondos foram cometidos por autoridades goianas, vejamos dois casos: 

Naçoitan Leite, o prefeito feminicida de Iporá

Na madrugada do dia 18 de novembro de 2023, o pecuarista e atual prefeito da cidade de Iporá, Naçoitan Leite (sem partido), invadiu a casa de sua ex-namorada usando sua caminhonete para arrombar o portão e então efetuou cerca de 15 disparos contra a vítima e seu atual companheiro. O casal conseguiu se proteger e não saíram com ferimentos graves, mas os danos materiais, físicos e emocionais certamente os acompanharão para o resto de suas vidas, em especial a ex-namorada e principal vítima de Naçoitan.

Portanto, não há dúvidas de que a real motivação de Leite para cometer o crime foi a insatisfação com o término, junto da segurança de sua impunidade e invisibilidade da vítima. Após a tentativa de feminicídio mal sucedida, Naçoitan ficou foragido por quatro dias até se entregar para as autoridades. Em seu depoimento, Leite justifica seus atos criminosos com a desculpa de que “estava sob efeito de álcool misturado com remédios”. O réu foi preso no dia 23 de novembro, e em dezembro o tribunal aceitou a denúncia de tentativa de homicídio e fraude processual realizada pelo Ministério Público contra Naçoitan.

Em fevereiro de 2024, o feminicida foi solto com um mandato do juiz Wander Soares Fonseca. Com a sua soltura, foram determinadas algumas medidas cautelares pensadas na segurança da vítima e seus familiares. Porém, vergonhosamente, Leite foi recebido com comemorações e retomou ao cargo de prefeito da cidade de Iporá poucas semanas depois. Até então, o cargo estava sob responsabilidade de sua vice-prefeita Maysa Cunha (PP). Assim, comprovando que o patriarcado goiano não age apenas violentando os corpos de mulheres, mas também garantindo a impunidade de seus agressores e manutenção de seus status de poder, em especial ao que se diz respeito aos grandes latifundiários e políticos do estado.

Atualmente, o prefeito de Iporá não representa nenhum partido. Mas Naçoitan fez campanha ferrenha a favor de Bolsonaro durante as eleições e como prefeito de uma cidade controlada pelo latifúndio conseguiu tirar grande proveito das políticas fascistas do governo genocida de Bolsonaro e consolidar seu poder na cidade.

Um mês antes da soltura de Naçoitan, Wander Soares Fonseca, que compõe o 1º Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Aparecida de Goiânia, determinou o arquivamento do inquérito policial contra um homem acusado de abusar sexualmente de menores de idade durante uma partida de futebol na quadra de um condomínio em Aparecida de Goiânia. A decisão mostra o compromisso do poder judiciário de Goiás com o poder econômico, político e do latifúndio. A proteção desses machistas advém de outros, tão misóginos e odiosos quanto.

Kleyton Manoel Dias, o delegado réu por estupro em Goiânia

A realidade também revolta na capital goiana. Também de madrugada, no dia 5 de janeiro de 2024, o delegado Kleyton Manoel Dias se ofereceu para levar uma modelo e miss trans para casa após a festa de um jornalista conhecido de ambos. Durante o trajeto, Kleyton parou o carro e a estuprou no porta-malas. A modelo permaneceu nua dentro do porta-malas até o delegado parar em frente à sua casa, e ela saiu dessa forma do carro, escondendo as partes íntimas com seus sapatos, como mostra o registro de uma câmera de segurança.

Kleyton se tornou réu pelo caso no dia 6 de março, sendo afastado do cargo e obrigado a cumprir várias medidas determinadas pelo Ministério Público de Goiás, como entrega de passaporte, ordens de restrição à vítima e familiares e proibição de viajar por mais de cinco dias sem autorização prévia do juiz. Em 20 de maio, aconteceu a primeira audiência na Justiça sobre o caso, na qual seis testemunhas e a vítima testemunharam. O delegado também foi acusado de direção embriagada. 

Porém, sabemos que essas medidas não o impedirão de cometer outros crimes e que essa falsa “punição” não é suficiente para combater a violência de gênero. Kleyton era titular do 2° Distrito Policial em Goiânia, e a impunidade contra os abusos autoritários dos representantes da burguesia latifundiária e empresários é a lei em nosso estado.

A modelo comemorou a vitória que foi realizar esta denúncia e o avanço do caso.

Contra o patriarcado misógino e LGBTfóbico, o feminismo marxista-leninista!

Seguimos exigindo mais: uma firme justiça contra o comportamento de ódio contra mulheres e contra a comunidade LGBTIA+, que resulta em um verdadeiro genocídio dessas populações.

Exigimos o reconhecimento do LGBTcídio como crime de ódio e medidas que verdadeiramente salvam a comunidade, como o acesso à educação e emprego com cotas trans em universidades e concursos públicos, gratuidade e investimento público pela celeridade do acesso ao tratamento hormonal e demais procedimentos de transição, criação de Casas de Referência e Acolhida para pessoas vítimas de violência de gênero, com amplo apoio psicológico e jurídico, entre outras medidas de acesso à moradia, lazer, cultura, esporte e saúde.

A luta pela vida e por direitos é urgente e cotidiana, e é isso que o Movimento de Mulheres Olga Benario faz construindo ocupações em imóveis abandonados e sem função pública, criando espaços seguros de acolhida, amparo e formação marxista que salvam vidas. Em Goiás, apenas uma das 27 delegacias do estado funciona em tempo integral, então a luta contra o feminicídio precisa se aprofundar e tomar proporções que façam frente aos crimes do patriarcado goiano.

E a Unidade Popular pelo Socialismo segue travando uma luta férrea nas ruas e assembleias contra os crimes do capitalismo, especialmente as privatizações, que pioram a qualidade de vida do povo trabalhador para encher o bolso dos grandes ricos.

Porém, a verdadeira igualdade não é possível dentro desse sistema podre e genocida em que vivemos. Enquanto permanecer a propriedade privada dos meios de produção, prevalecerá o patriarcado misógino, LGBTfóbico e racista, que lucra com nosso suor e sangue. A luta por direitos deve ter sempre o horizonte claro do Socialismo, que será alcançado pela organização de todas as parcelas da classe trabalhadora e povos oprimidos que, cansados de miséria, violência e morte, finalmente tomarão o poder e, dessa forma, controlarão seu próprio destino.

Espartaquíadas: as olimpíadas dos trabalhadores

Realizadas de 1921 a 1937, as Espartaquíadas foram eventos de massas promovidos pela Internacional Vermelha dos Esportes, uma organização do movimento comunista. Criadas como uma alternativa popular ao evento do COI, elas deixaram um legado de internacionalismo proletário e estímulo às práticas esportivas entre os trabalhadores

Guilherme Arruda | São Paulo (SP)


As Olimpíadas são mesmo neutras, apolíticas e contra a violência, como dizem seus organizadores? As expulsões de moradores das favelas do Rio de Janeiro na preparação para os Jogos Olímpicos de 2016 e a recusa do Comitê Olímpico Internacional (COI) em punir Israel por matar mais de 400 atletas da Palestina, na edição de 2024, sugerem que não.

Para protestar contra as hipocrisias do COI e da burguesia internacional, que não garantem uma competição justa para todos os povos, os trabalhadores já chegaram a promover seus próprios jogos olímpicos: eram as Espartaquíadas, que aconteceram de 1921 a 1937 com a participação de milhares de atletas.

Essas olimpíadas eram organizadas pela Internacional Vermelha dos Esportes, ou Sportintern, uma organização que reunia federações nacionais de associações esportivas operárias de todo o mundo. A Sportintern foi criada no 3º Congresso da Internacional Comunista (1921), por sugestão do dirigente bolchevique Nikolai Podvoisky, para promover a cultura dos esportes e da saúde entre os trabalhadores e a amizade entre os povos.

Esporte e solidariedade operária

Depois da Revolução de Outubro de 1917, 13 potências invadiram a Rússia para tentar impedir a criação do primeiro Estado dos trabalhadores na história. Porém, depois que os bolcheviques triunfaram sobre os capitalistas e latifundiários, os imperialistas mudaram de tática: passaram a boicotar a recém-criada União Soviética e impedir sua participação em todo tipo de evento internacional – não apenas os diplomáticos, como também os de esportes e cultura.

Além dos atletas soviéticos, os governos burgueses vencedores da Primeira Guerra Mundial resolveram impedir os esportistas das nações derrotadas de competir nos Jogos Olímpicos de 1920. Rejeitando essas exclusões, em 1921, o movimento operário respondeu com a organização das primeiras Espartaquíadas em Praga, na Tchecoslováquia. O nome do evento homenageou Espártaco, gladiador que liderou uma revolta contra a escravidão na Roma Antiga.

Dezenas de federações esportivas de trabalhadores enviaram delegações para a Espartaquíada, incluindo as sediadas na Rússia Soviética e nos países dos “dois lados” da Primeira Guerra. Em vez de atletas profissionais, participaram dessa competição operários e camponeses comuns que amavam e se dedicavam aos esportes.

Em contraste com o ambiente de rivalidade entre nações estimulado pela burguesia para criar o clima para mais guerras imperialistas, as Espartaquíadas celebravam a solidariedade internacionalista proletária e a emulação socialista para alcançar resultados esportivos cada vez mais impressionantes. Em vez das bandeiras e hinos nacionais, levantava-se a bandeira vermelha e cantava-se “A Internacional” na abertura de cada modalidade.

A partir de 1923, a URSS passou a organizar Espartaquíadas nacionais para envolver os trabalhadores na cultura dos esportes e da ginástica que era parte da construção do “novo homem socialista”. Novas Espartaquíadas internacionais ainda ocorreriam em Moscou, em 1928, e em Berlim, em 1931. Edições voltadas para o esporte de inverno também foram organizadas na cidade de Oslo, capital da Noruega, em 1928 e 1936.

As nações coloniais e semicoloniais marcaram presença nesses eventos. Entre as 14 nacionalidades que enviaram delegações à Espartaquíada de 1928, haviam países da África, como a Argélia (então uma colônia da França), e da América Latina, como o Uruguai. Em todo o mundo, as federações afiliadas à Sportintern chegaram a contar com 2 milhões de membros, segundo o historiador André Gounot, que estudou a história dos eventos esportivos operários.

Cartaz das Espartaquíadas de 1928, realizadas em Moscou. Imagem: Wikimedia Commons
Cartaz das Espartaquíadas de 1928, realizadas em Moscou. Imagem: Wikimedia Commons

As Espartaquíadas contra o fascismo

Em 1936, o Comitê Olímpico Internacional tomou a vergonhosa decisão de realizar as Olimpíadas daquele ano em Berlim, na Alemanha nazista. Para protestar contra a conciliação do COI com o fascismo, a Internacional Vermelha dos Esportes decidiu promover uma nova Espartaquíada, dessa vez nos mesmos dias que as Olimpíadas “oficiais” da burguesia.

Sob o nome de Olimpíadas Populares, esses jogos teriam sede em Barcelona, na Espanha. Governada pela Frente Popular, que reunia o Partido Comunista e o Partido Socialista daquele país, a República Espanhola era uma aliada da União Soviética na luta antifascista.

Porém, no dia 17 de julho de 1936, o general Francisco Franco promoveu uma tentativa de golpe militar que deu início à Guerra Civil Espanhola. O conflito armado, que opôs o campo republicano apoiado pela URSS e o campo fascista apoiado pela Alemanha de Hitler e a Itália de Mussolini, inviabilizou a realização das Olimpíadas Populares em 1936.

O revés não parou o movimento operário dos esportes. No ano seguinte, uma nova olimpíada popular – que acabaria sendo a última – foi realizada em Antuérpia, na Bélgica. Essa edição contou com uma novidade: como parte da luta pela unidade operária contra o fascismo, expressa na vitoriosa política da Frente Popular, a Olimpíada dos Trabalhadores de 1937 contou com a participação não apenas de membros das federações esportivas comunistas, mas também daquelas ligadas aos partidos social-democratas.

Exemplos vivos da convicção anti-imperialista do movimento operário, atletas da Palestina, na época uma colônia britânica, também competiram na edição de 1937. O historiador André Gounot conta que esta edição das olimpíadas operárias teve 27 mil participantes e se concluiu com uma marcha de 200 mil esportistas e operários de 15 países pela cidade-sede do evento.

O Legado das olimpíadas operárias

Após a Segunda Guerra Mundial, não houve novas Espartaquíadas. Uma edição marcada para 1943 na cidade de Helsinque, na Finlândia, já havia sido cancelada pelo conflito.

Com as revoluções das décadas de 1940 e 1950, o campo socialista também cresceu a ponto de não poder mais ser boicotado pelo Comitê Olímpico Internacional. Os Estados operários mostraram sua força ganhando centenas de medalhas nas Olimpíadas seguintes.

Apesar de sua curta existência, as Espartaquíadas deixaram dois importantes legados históricos para os trabalhadores. O primeiro deles foi o de valorização e prática de esportes pelos operários e camponeses – que segue sendo imprescindível para os comunistas revolucionários para a garantia de seu bem-estar e preparo físico.

Além disso, as Espartaquíadas também desnudaram o caráter político dos eventos desportivos ao promoverem o boicote das Olimpíadas de 1936, sediadas pelo nazismo. Na atual edição, em que vemos o Estado de Israel competir livremente enquanto comete um genocídio contra o povo palestino, essa denúncia dos comunistas da época mostra sua enorme atualidade.

Viva o centenário de Abelardo da Hora

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Abelardo da Hora nasceu em São Lourenço da Mata, Região Metropolitana do Recife. Falecido em 2014, o multiartista completaria 100 anos em 31 de julho de 2024 e o jornal A Verdade homenageia o artista nesse 1 século de luta e imortalidade.

Clóvis Maia | Redação PE


CULTURA – Abelardo Germano da Hora nasceu em São Lourenço da Mata, no Recife, em 31 de julho de 1924. Artista plástico, escultor, desenhista, gravurista, ceramista, escritor, poeta, professor e militante comunista toda a vida, sua relação com as artes e com a militância iniciou ainda na juventude, quando o jovem Abelardo, que queria estudar mecânica, teve como opção o curso técnico de Artes Decorativas, na Escola Técnica Agamenon Magalhães (ETEPAM), no bairro da Encruzilhada. O destaque nas aulas lhe rendeu uma bolsa de estudos em Artes Plásticas, na Escola de Belas Artes do Recife.

Criado no bairro da Várzea, subúrbio proletário do Recife, Abelardo desenvolveu seu olhar para a cultura popular, crescendo com as expressões populares. Na Escola de Belas Artes, foi eleito presidente do Diretório Acadêmico em 1941, onde passou a organizar excursões com os estudantes para produzir e estudar a arte nos subúrbios do Recife. De 1943 a 1945, as intervenções culturais de Aberlado passaram a fazer parte da paisagem dos subúrbios do Recife, intercalando a cultura popular com as denúncias mazelas do capitalismo, a maioria das obras feitas de forma gratuita.

Organizado no Partido Comunista Brasileiro (PCB) desde o início dos anos 40, Abelardo passou a integrar a direção do partidão, chegando a ser secretário de Agitação e Propaganda do partido, estando a frente de diversas manifestações contra o Estado Novo de Vargas, o que lhe rendeu dezenas de prisões, e perseguição ao artista. Já consolidado pelo seu trabalho, começa a se dedicar como professor, tendo alunos renomados como Francisco Brennand e formado vários coletivos de arte, Aberlado se muda para o Rio de Janeiro, onde segundo ele, passou a desenvolver ainda mais sua consciência social para entender os problemas da nossa sociedade.

“Minha obra é pautada pelo amor e solidariedade”

Abelardo da Hora: Os Cantadores.
Obra “Os Cantadores”, localizada no Parque Treze de Maio. Foto: Reprodução

Do final dos anos 40 até meados de 1963, o artista organizou diversas entidades, associações e ateliês coletivos, como a Sociedade de Arte Moderna do Recife (SAMR), onde articulava aulas para novos artistas, além de promover as artes plásticas com a cultura popular. Fruto de sua atividade política, é escolhido para ocupar cargos públicos, como o de secretário de Educação e Cultura no governo de esquerda do Prefeito Pelópidas Silveira, que teve seu mandado cassado pelo golpe militar de 1 de abril de 1964.

Abelardo é preso com Gregório Bezerra e outros militantes, tendo passado por um dos momentos mais difíceis de toda sua carreira: em represália ao artista e a tudo que sua arte representava, os militares destruíram várias de suas obras públicas, entre elas uma escultura no Engenho Galiléia em Vitória de Santo Antão, que homenageava as Ligas Camponesas, e incendiaram a metade da tiragem de sua mais importante obra, “Meninos do Recife”, uma série de desenhos feitos à bico de pena denunciando a fome na Capital Pernambucana.

Abelardo presenciou na prisão as bárbaras cenas de tortura a que Gregório Bezerra fora submetido na Praça de Casa Forte. Após solto, Abelardo voltou a se dedicar ainda mais à militância, mesmo enfrentando ainda mais prisões, invasões domiciliares e perseguições pelo regime. Crítico aos erros do partidão na condução e enfrentamento ao golpe de 64, Abelardo sai do PCB, mas continua com sua militância política. Durante os anos 60, ele participa de diversas exposições em países como a China, EUA, Mongólia, Israel, Argentina e, claro, a União Soviética.

Nos anos 70, vai para Paris, onde expande seus trabalhos, e volta para o Brasil nos anos 80, onde retoma seu trabalho e sua atuação nas entidades e órgãos públicos. Com a militância do Jornal A Verdade e do Centro Cultural Manoel Lisboa, Abelardo sempre foi um incentivador e aliado.

Legado de luta e arte

Abelardo da Hora: Monumento dos Heróis da Revolução Pernambucana.
Monumento dos Heróis da Revolução Pernambucana. Foto: Reprodução.

Até a sua morte em 23 de setembro de 2014, Abelardo deixou centenas de obras espalhadas pelo mundo, além de ter trabalhado incansavelmente até seus 90 anos. Infelizmente, em 2018, a família de Abelardo teve que doar um acervo com 179 peças do artista para o Espaço Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa (PB), onde foi criado um Memorial para o artista, após o governo de Pernambuco, na época governado pelo PSB, se negar a manter as obras do artista na capital pernambucana.

Em seu centenário, diversas exposições em alusão ao artista celebram sua obra, mas é inegável notar o caráter popular de Abelardo, sua presença nos parques e praças da cidade e toda a sua diversidade.

É impossível falar das obras de Abelardo da Hora sem falar de “Os Cantadores” e “O Sertanejo”, do Parque 13 de Maio; ou de “O Vendedor de Pirulito” no Horto de Dois Irmãos; ou de tantas obras como “Monumento ao Maracatu”, “Heróis da Revolução de 1817”, “Os Retirantes” ou o “Monumento a Zumbi” na Praça do Carmo ou seu “Monumento ao Frevo” na Rua da Aurora.

Quem teve o prazer de conhecer o artista lembra de sua alegria e entusiasmo. Abelardo era mais que um otimista. Era um comunista convicto e nunca negou sua luta e sua história. Por isso que eternizou sem nome junto aqueles que lutam.

Como costumamos dizer: Abelardo da Hora, Presente!

Estudantes lutam contra violência de gênero na Unicamp

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Patrulha do Movimento de Mulheres de Olga Benário revela crescimento alarmante dos casos de assédio na Unicamp e a precariedade do Serviço de Atenção à Violência Sexual (SAVS) da universidade. Núcleo do movimento convoca estudantes e trabalhadoras da Unicamp a se organizarem para lutar contra a violência de gênero

Sofia Koyama Rehder* | Campinas (SP)


Nos últimos meses, o núcleo do Movimento de Mulheres Olga Benário na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) vêm chamando atenção para uma série de casos de assédio e tentativa de estupro na instituição de ensino.

Em novembro do ano passado, uma patrulha do núcleo do Olga no Serviço de Atenção à Violência Sexual (SAVS) da Unicamp coletou dados alarmantes, que mostram como o direito à vida das mulheres na universidade não está assegurado, e parece não ser uma prioridade para a reitoria. Uma única funcionária, lotada no campus de Campinas, deve atender todos os alunos e trabalhadores não apenas dessa cidade, mas também dos campi de Limeira, Piracicaba, da moradia estudantil e dos colégios técnicos.

A realidade das mulheres da Unicamp é de luta constante para ocupar um espaço que não garante sua permanência e sua segurança.

Acolhimento insuficiente

Na patrulha, o núcleo do Olga descobriu que o SAVS realizou 139 atendimentos entre janeiro e agosto de 2023, um aumento de 300% em relação ao período anterior. Apesar desse aumento na violência, não há serviço de apoio psicológico e jurídico no SAVS e nem perspectiva de novas contratações que fortaleçam o serviço.

Como se não bastassem essas questões, há um problema de infraestrutura: o SAVS é um espaço mal localizado, pequeno e de divulgação limitada. São poucas as estudantes e menos ainda as trabalhadoras que sabem que podem procurar esse atendimento. As informações coletadas, junto dessas condições precárias, demonstram a urgência da ampliação do serviço para que todas as pessoas que precisam de acolhimento possam recebê-lo.

Violências em série

Nos últimos anos, o núcleo do Olga acompanhou uma série de casos de violência contra as mulheres na universidade. Um dos mais notórios é o de um professor do Departamento de Filosofia conhecido por ser um assediador em série. Após ser denunciado por diversas alunas, ele não só processou todas elas como também foi à Justiça contra as professoras do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) que foram favoráveis a seu afastamento das instâncias institucionais da Unicamp.

Outro caso grave é o de um aluno do Instituto de Geociências (IG) que foi identificado como responsável por violentar e perseguir alunas de vários cursos. Esses dois homens violentos continuam livres, quando sua presença na universidade deveria ser cassada e segue gerando a evasão de diversas mulheres da graduação.

A violência de gênero é uma das muitas formas de opressão presentes no sistema capitalista. Junto das explorações de classe e raça, ela impõe uma vida dura para as mulheres trabalhadoras. A violência que ocorre nas universidades revela que seu projeto original não inclui as mulheres e as minorias: em sua origem, estão a exclusão e o elitismo que geram um ambiente de violência.

Contra a situação denunciada pela patrulha na Unicamp e descasos similares em todo o país, o Movimento de Mulheres Olga Benário segue lutando contra as violências que são cotidianas na vida das mulheres e acolhendo cada vez mais companheiras em nossas ocupações construídas no Brasil inteiro!

*Sofia Koyama Rehder é militante do Movimento de Mulheres Olga Benário em Campinas (SP)

FENET convoca Dia Nacional de Lutas contra o Novo Ensino Médio

O dia 6 de agosto será marcado por manifestações, panfletagens e rodas de conversa contra o Novo Ensino Médio que defendem os grandes capitalistas da educação. Leia no jornal A Verdade a nota da Federação Nacional de Estudantes em Ensino Técnico (FENET) que convoca esse dia nacional de lutas

Nota da FENET


Desde a aprovação da reforma do Ensino Médio em 2017, os estudantes, que são os mais afetados por esse projeto de lei, têm se mobilizado pela revogação imediata desse retrocesso para a educação. Entidades de luta como a Federação Nacional de Estudantes em Ensino Técnico (FENET) e os grêmios tem organizado atividades nas escolas para ocupar as ruas em defesa da revogação do Novo Ensino Médio (NEM).

No ano passado, a pressão do movimento estudantil fez com que o Governo Federal tivesse que recuar, suspendendo a implementação do NEM e se comprometendo a rever o texto do Projeto. Mesmo assim, os estudantes dos estados que já haviam implementado o Novo Ensino Médio sentiram na pele o que ele tem a oferecer: matérias que não fazem sentido nos obrigam a estudar conteúdos que nem são cobrados nos vestibulares e nem nos formam para o mercado de trabalho.

Na Plenária Nacional de Grêmios da FENET, os estudantes aprovaram por unanimidade a convocação de um dia nacional de lutas contra o Novo Ensino Médio organizado pela entidade. “Nós queremos entrar na universidade e o NEM não oferece o tipo de ensino que permite isso, porque não temos aula de Sociologia, Biologia, História e várias outras matérias. Ao invés disso, temos aulas irrelevantes de projeto de vida e itinerário formativo. Por isso, é urgente organizar mais lutas em defesa da educação de qualidade” afirma Nicole Viana, coordenadora-geral da FENET.

Por isso, no dia 6 de agosto, devemos organizar grandes agitações, rodas de conversas, colagens de cartazes e atos de rua para revogar de vez o Novo Ensino Médio! Vamos lutar por uma educação como a dos Institutos Federais, que produzem ciência e tecnologia e nos preparam para a universidade e o mercado de trabalho. A FENET convoca cada estudante de luta a se somar somar nas mobilizações e organizar seu grêmio para ocupar as ruas e revogar o NEM!

O que está em jogo na luta pelo poder na Venezuela?

As eleições na Venezuela, com a vitória de Nicolás Maduro e o golpismo da oposição, reacenderam debates sobre a crise política e a influência imperialista no país. O Jornal A Verdade aborda esses temas em uma matéria especial, destacando as origens e os impactos deste conflito no país e na América Latina.

Redação


INTERNACIONAL – Nos últimos dias, a imprensa brasileira e internacional tem acompanhado de perto as eleições venezuelanas, cobrindo seus antecedentes, a realização e os desdobramentos. A vitória eleitoral de Nicolás Maduro e a recusa da oposição direitista em aceitá-la, seguida por posicionamentos favoráveis e contrários de líderes mundiais, reacendeu o debate sobre a situação política e econômica da Venezuela, a sua democracia, e a interferência do imperialismo e da imprensa internacional em um dos maiores produtores de petróleo do mundo.

O jornal A Verdade tem documentado as principais atividades na Venezuela há muito tempo. Desde a luta anti-imperialista do país no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, passando pela crise do petróleo em 2008, a morte de Chávez, a eleição de Maduro, até as mais recentes tentativas golpistas por parte do imperialismo. Para contextualizar e enriquecer o debate sobre a situação enfrentada pela Venezuela, as origens e possíveis consequências dos conflitos em curso, e o papel do imperialismo na atual crise política que afeta seu povo, produzimos uma matéria especial sobre o tema.

Fábricas ocupadas: exemplos do Poder Popular

Nas últimas edições impressas do jornal A Verdade, nossa reportagem foi até a Venezuela conversar e testemunhar o trabalho de militantes sociais que tentam superar as sanções econômicas e construir espaços de poder popular. Nossa equipe foi a duas fábricas tomadas pelos trabalhadores depois que seus patrões imperialistas decidiram sair do país.

Durante esta visita, ficou claro que é possível os trabalhadores tomarem as rédeas da sociedade e que não precisam dos patrões. Observamos que eles conseguiam atender às necessidades da sua comunidade com sua produção local e que a ausência de patrão melhorou e muito a sua qualidade de vida. No entanto, o caso das fábricas “Thomas Grecco”, ocupada por mulheres operárias, e da fábrica de alimentos “Proletários Unidos”, não é a regra na Venezuela da Revolução Bolivariana. 

Na sociedade venezuelana, elementos socialistas, como as fábricas ocupadas, as comunas populares e o controle social das forças armadas, andam lado a lado com elementos do capitalismo. Lá, a propriedade privada dos meios de produção ainda é a regra e a economia venezuelana continua muito dependente da sua relação com outros países imperialistas, principalmente Rússia e China.

Dito isso, é importante lembrar brevemente da trajetória da Venezuela desde a chegada de Hugo Chávez ao poder, em 1999. 

Na Venezuela, trabalhadores estão tomando as fábricas para enfrentar a burguesia e lutar por um futuro socialista. Foto: JAV
Na Venezuela, trabalhadores estão tomando as fábricas para enfrentar a burguesia e lutar por um futuro socialista. Foto: JAV

A luta anti-imperialista no centro da política venezuelana

Em 1998, Chávez foi eleito pela primeira vez presidente da Venezuela. Sua eleição abriu portas para transformações profundas no país. Até aquele momento, a principal riqueza venezuelana, o petróleo, estava sob controle de multinacionais e da elite burguesa e branca do país (assim como o Brasil, a Venezuela conta com uma grande proporção de pessoas indígenas e negras).

Esta elite se utilizava do controle do petróleo para enriquecer cada vez mais, ao passo que garantia seu poder político através de uma associação com os EUA. Enquanto eles estavam no poder, o povo vivia num cenário de miséria e falta de acesso aos serviços mais básicos.

O primeiro governo de Hugo Chávez foi caracterizado por mudar essa estrutura. Em 1999, ele convocou uma Assembleia Constituinte que criou uma nova Constituição e mudou o sistema político venezuelano. O petróleo e outros recursos estratégicos foram nacionalizados e abriu-se caminho para que espaços de poder popular surgissem na Venezuela. Ao mesmo tempo, porém, a nova Carta Magna mantinha a economia venezuelana nos marcos do capitalismo.

Uma mudança importante que Chávez implementou foi promover uma formação política anti-imperialista nas forças armadas. Essa consciência política soberana dos militares é, até hoje, um dos fatos que faz com que a Venezuela não retroceda ao regime anterior a 1999. Ao tirar os militares das negociatas e dos acordos com o imperialismo estadunidense, ele garantiu a permanência no poder do projeto bolivariano.

Mesmo assim, o imperialismo nunca desistiu de retomar a Venezuela. Em 2002, enquanto ainda estava no início essa transformação do país, membros corrompidos do alto comando dos militares, junto com o golpista Pedro Carmona, liderança dos grandes empresários venezuelanos, sequestraram Chávez e tentaram tomar o poder (esse episódio é retratado no documentário “A Revolução Não Será Televisionada”, disponível no YouTube). No entanto, o povo organizado nos círculos bolivarianos, em aliança com militares de baixa e média patente, conseguiu impedir o golpe. 

Todo esse processo reafirmou que, para que um governo de esquerda prosperasse na Venezuela, a luta anti-imperialista seria central. Por isso, nos anos seguintes, Chávez aproximou seu país de governos de esquerda da América Latina, especialmente de Cuba, e também de movimentos sociais de todas as partes do mundo. Dos movimentos de libertação da Palestina, até o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, no Brasil, o governo chavista sempre buscou na solidariedade internacional o caminho para sua manutenção. 

Dentro da própria Venezuela, os sindicatos e movimentos sociais foram fortalecidos. Não à toa que se desenvolve até hoje este movimento de ocupação de fábricas abandonadas pelas multinacionais imperialistas.

A resposta do imperialismo

Tudo isso, aliado a um aumento expressivo da produção e da venda de petróleo, fez com que a Venezuela bolivariana conseguisse criar amplos planos de distribuição de renda. Entre 2011 e 2017, durante o último governo de Chávez e o primeiro mandato de Maduro, o governo bolivariano construiu mais de 1,7 milhão de casas utilizando recursos dos lucros do petróleo no programa “Gran Misiones Viviendas”.

No final da primeira década deste século, a pobreza já havia caído vertiginosamente. A crise financeira capitalista, no entanto, abriu uma nova janela de oportunidade para mais um ataque do imperialismo à Venezuela.

A queda no preço do petróleo, depois da crise de 2008, derrubou os lucros da estatal PDVSA. Com o petróleo barato no mercado, o então presidente estadunidense Barack Obama viu uma janela de oportunidade para iniciar um bloqueio econômico contra o povo venezuelano. As primeiras sanções começaram em março de 2015.

Naquele ano, a Venezuela se recuperava do primeiro grande movimento golpista desde 2002. Em 2014, Maria Corina Machado (que hoje lidera o movimento para dar um golpe de estado na Venezuela após as eleições de 28 de julho), Leopoldo López e outros líderes de extrema-direita iniciaram uma jornada de manifestações para derrubar o governo.

Desde então, esses e outros agentes financiados pelos EUA vêm tentando, quase todos os anos, realizar movimentos para derrubar Maduro. Foram eles que estiveram à frente das intentonas golpistas de 2017 e 2019, esta última chegando a criar a figura de um “presidente interino”. Todos esses movimentos sempre contaram com forte apoio dos Estados Unidos e da União Europeia.

Pessoas reunidas em uma comuna na Venezuela, exemplo de de poder popular.
Uma reunião de uma comuna venezuelana, que são organizações que existem em cada bairro em que o povo pode definir como são investidos os recursos do Estado. Foto: Unión Comunera

Os erros de Maduro

Por 10 anos, portanto, o povo venezuelano vem resistindo a várias investidas estrangeiras e a um bloqueio econômico brutal. O cenário de escassez se tornou uma regra no país neste período.

Sim, é o bloqueio econômico o principal responsável pela piora das condições de vida dos venezuelanos neste período, mas o governo Maduro também cometeu erros.

O maior deles, sem dúvida, foi não ter rompido definitivamente com o sistema capitalista. O regime político criado em 1999 abriu espaço para que elementos de caráter socialista surgissem na economia e política venezuelana, mas não indicou a superação completa do capitalismo naquele país. Aqui reside a contradição principal pela qual hoje passa o povo venezuelano.

Sim, há escassez de alimentos e de produtos básicos, embora tenha se reduzido nos últimos anos (em 2023 a economia lá cresceu 5%), a inflação é um problema e a carestia é a principal reclamação da classe trabalhadora. Mas este problema poderia ser resolvido se toda a economia estivesse sob controle dos trabalhadores. 

A Venezuela é rica em recursos naturais, conta com mais de 20 milhões de habitantes e, portanto, tem capacidade de construir as condições da sua autossuficiência. Em condições menos favoráveis, Cuba conseguiu romper com as cadeias da dependência imperialista.  

Maduro não enxergou, neste período, os espaços de poder popular ou a socialização de setores da economia como o caminho central para o desenvolvimento da Venezuela. Pelo contrário, na prática, o governo venezuelano vê estes processos como secundários na conjuntura política do país e aposta na conciliação com setores da burguesia venezuelana.

25 anos de bolivarianismo libertaram a Venezuela das garras do imperialismo estadunidense, mas não entregaram os meios de produção nas mãos dos trabalhadores. Tampouco foi realizado o empoderamento completo dos órgãos de poder popular, que ainda têm que disputar poder com instituições tipicamente burguesas, como a Assembleia Nacional e o Tribunal Constitucional.

Estas limitações estão na origem dos problemas da Venezuela. Maduro, até agora, não mostrou disposição em resolver este problema. Pelo contrário, sua aposta é inserir a Venezuela no bloco imperialista de oposição aos EUA, liderado pela China e Rússia, como uma forma de fazer contraponto ao bloqueio econômico. Nesse período, a dependência econômica da China se ampliou na Venezuela, e no campo militar o país é hoje armado apenas pela Rússia.

Qual o significado de uma queda de Maduro?

Não podemos, no entanto, considerar que estes erros cometidos pelo governo Maduro indique que a oposição fascista seja uma opção melhor para o povo venezuelano. 

A Venezuela ainda não conta com uma força política revolucionária marxista-leninista com influência suficiente para disputar o poder. A disputa se dá entre os setores reacionários dos golpes de 2002, 2014, 2017 e 2019 e o campo bolivariano, que não conseguiu passar das reformas mais ou menos radicais, mas dentro dos marcos do capitalismo.

No curto prazo, portanto, não faz sentido colocar água no moinho do fascismo internacional e falar da suposta fraude que a mídia burguesa “denuncia” mundialmente. É fundamental reconhecer que as posições políticas não são definidas apenas com base em ideias puras, mas levando em conta a realidade material dos fatos e das consequências que eles geram. Sendo assim, qual seria a consequência imediata se o governo Maduro caísse e o imperialismo alcançasse seus objetivos na Venezuela? O que isso significa para Brasil, Cuba, Bolívia e para toda a América Latina? Esta é a questão central da conjuntura da América do Sul hoje.

A queda de Maduro significa a derrota de todos os setores populares, de esquerda e revolucionários na Venezuela, e para entrar o quê no lugar? A direita fascista? 

Portanto, se deixar levar pelo discurso burguês e pró-imperialista da suposta “fraude” nas eleições venezuelanas significa trair todos estes anos de luta. Não se trata aqui de minimizar ou esquecer os erros de Maduro e do PSUV, mas de apoiar uma luta construída por milhões de pessoas que estão na linha de frente do enfrentamento ao imperialismo há tantos anos.

Nessas ocasiões, vale sempre lembrar as palavras de Malcolm X: “Se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas, e amar as pessoas que estão oprimindo”.

A verdade é que a mídia burguesa não tem moral para falar em fraude eleitoral, dado que, nas democracias burguesas, as forças revolucionárias ou são impedidas de concorrer nas eleições ou concorrem em condições extremamente desiguais. 

Dá para dizer que o sistema eleitoral venezuelano é menos democrático que o do Brasil, em que vemos políticos milionários comprando votos, roubando dinheiro público e perseguindo opositores? Estamos em ano de eleições municipais, em qual cidade deste país a esquerda revolucionária pode ir tranquilamente sem sofrer ameaças? 

Qual o caminho, então?

Antes de tudo, no curto prazo, o povo venezuelano precisa da nossa solidariedade contra o movimento golpista em curso. Essa solidariedade precisa acontecer pressionando o governo do Brasil a não compactuar com essa investida imperialista. O presidente Lula ainda mantém uma posição em cima do muro e não reconheceu os resultados das eleições. 

Também é preciso acreditar na força e na capacidade da classe trabalhadora venezuelana em se organizar para lutar e superar esses problemas. A defesa neste momento não é de Nicolás Maduro, mas do projeto político iniciado em 1999.

Já no longo prazo, é preciso ter a compreensão que apenas com uma transformação revolucionária da Venezuela o povo de lá poderá superar definitivamente estas dificuldades. Isto significa passar do projeto do “socialismo do século XXI” a um projeto revolucionário socialista de verdade. 

Neste ponto, há diversos camaradas que estão na linha de frente desta luta na Venezuela, como apresentamos nas entrevistas publicadas em nosso jornal. Nosso papel é divulgar e apoiar sua luta.

Só o socialismo pode resolver os problemas dos venezuelanos. A burguesia capitalista só trará mais miséria, fome, repressão e dependência econômica.

“Afronte”: banda Subversivos lança seu quinto álbum

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O álbum “Afronte” nasce dentro do contexto histórico, dialogando sobre as diversas lutas sociais do país que marcaram as últimas décadas. A banda aborda temas como a crise ambiental, a desigualdade social e a ascensão do fascismo.

João Pedro Souza | Redação – PE


CULTURA – Formado em 1997, a banda pernambucana Subversivos sempre utilizou a música como ferramenta de protesto, denunciando as mazelas da sociedade capitalista e defendendo uma ordem social mais justa, o poder popular e o socialismo. Em 2024, após anos de trabalho e inúmeros obstáculos, a banda lança seu quinto álbum chamado de “Afronte”, sendo um testemunho de resistência e renovação da cena do Punk Rock pernambucano. 

Resultado de um processo criativo intenso e desafiador, o disco apresenta 10 faixas que mesclam composições antigas, repaginadas e com novas canções. Matheus Abreu, guitarrista e back vocal da banda, afirma que o disco estava sendo trabalhado desde a pandemia da Covid-19 e vários percalços surgiram no caminho até chegar na conclusão da obra.

A jornada até o quinto álbum

Com o advento da pandemia de COVID-19, a banda passou por um período desafiador, que precisou se adaptar e continuar criando em meio a incertezas e mudanças constantes. “Desde a pandemia que vínhamos construindo esse material e tivemos vários percalços no caminho até chegar aqui”, explica Matheus Abreu. O músico afirma ainda que “mudanças de formação, pausas forçadas e novas responsabilidades pessoais marcaram essa fase e que com isso foi preciso afrontar, antes de tudo, nós mesmos”, afirma Abreu.

O fato é que esse processo de autoconfronto resultou em um álbum que é tanto um produto de seu tempo quanto uma resposta a ele. As novas músicas refletem as diversas experiências e desafios enfrentados pelos membros da banda, trazendo letras sobre temas do nosso cotidiano com muito sentimento de afronta ao sistema econômico atual.

Disponível em todas as plataformas digitais, o álbum Afronte dialoga com as diversas lutas sociais do país que marcaram as últimas décadas. A banda demonstra sua relevância ao abordar temas urgentes e atuais, como a crise ambiental, a desigualdade social e a ascensão do fascismo.

A afronta como essência

Capa do quinto álbum, Afronte.
Capa do quinto álbum, Afronte. Foto: Reprodução

A afronta, o questionamento ao sistema econômico capitalista atual e a luta pelo socialismo são elementos centrais da banda, que se mostra desde a capa do novo álbum. A foto de capa do álbum, remonta aos protestos realizados no Recife em 2021, debaixo da pandemia contra a carestia e a fome que o povo estava enfrentando e que não aguentava mais viver aquela situação caótica em que estavam vivendo debaixo do governo Bolsonaro.

É importante destacar que o gênero Punk Rock continua vivo e relevante atualmente. Desde suas origens, o Punk Rock tem sido uma plataforma no qual várias bandas expressam descontentamento com a ordem estabelecida e lutam por um novo modelo societário. A concentração de riqueza e poder aumenta constantemente nas mãos de poucos bilionários, enquanto o poder de compra dos trabalhadores diminui, e o Estado capitalista destrói reservas florestais no Brasil e no mundo, além do avanço de novas guerras, a música dos Subversivos se apresenta como uma voz para os marginalizados e oprimidos e serve como estandarte para conscientização e transformação lutando em defesa do poder popular.

Em entrevista realizada pelo Jornal A Verdade, Camilo Maia, vocalista da banda, já apontava a necessidade de transformação da nossa sociedade, afirmando que é preciso “avançar na luta anticapitalista, construindo e formando novos e mais lutadores, até termos correlação de forças pra avançar a alguma proposta de poder popular que consiga desautorizar o Estado capitalista até suplantá-lo.” 

Em um mundo onde as forças do capital e do poder tentam silenciar as vozes revolucionárias, as músicas do novo álbum do Subversivos reafirmam a importância da organização e resistência popular, afirmando que é possível e necessária. O Punk Rock, com sua energia, permanece uma ferramenta de grande importância para afrontar as injustiças sociais e conscientizar o povo.

Assim, ao ouvir as novas faixas do álbum Afronte, somos convidados a nos questionarmos em como podemos, em nosso cotidiano, desafiar as normas estabelecidas e lutar por um futuro melhor? Os Subversivos nos mostram que, através da música e da resistência popular, podemos começar essa jornada.

Moçambique: como vencer nosso maior inimigo

“O maior desafio é vencer o inimigo que está instalado dentro de nós”

(Samora Machel, em mensagem aos combatentes da Frelimo)

José Levino | Historiador


LUTAS DO POVO – Moçambique é um país situado no sudeste da África, com 32 milhões de km², banhado pelo Oceano Índico. Foi colônia de Portugal por quase 500 anos. Teve, como as demais colônias, os seus recursos naturais explorados e levados para a Europa. A dominação não foi apenas econômica, mas política, cultural, religiosa, etc. Foi também vítima do tráfico de escravos.

Onde há dominação, surge o seu contrário, a resistência, a luta por liberdade, que existiu desde o início da colonização e deu um salto de qualidade com a fundação da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), em 1962. A Frelimo, então, desencadeia a luta armada de libertação. Durante dez anos, com inúmeras perdas e sacrifícios, o povo moçambicano enfrentou bravamente o poderoso exército português. Estava vencendo, quando a Revolução dos Cravos, vitoriosa em Portugal (A Verdade, nº290) apressou a retirada das tropas de ocupação e a Independência foi proclamada em 25 de junho de 1975.

O Governo da República Popular de Moçambique foi assumido por Samora Moisés Machel, comandante da Frelimo. Samora Machel liderava a Frelimo desde os primeiros anos de sua fundação. Era filho de agricultores e exercia a profissão de enfermeiro quando ingressou na organização. A Frelimo, além da independência nacional, tinha como objetivo a implantação do socialismo no país.

A etapa mais difícil

A reconstrução não foi fácil. A Proclamação da Independência e da República Popular não significou a paz para o povo moçambicano. Os portugueses provocaram sérios danos ao processo de reconstrução nacional com a saída em massa do país de cerca de 200 mil pessoas.

Mas os esforços do governo revolucionário deram resultado. O Estado iniciou a planificação da economia com o objetivo de “garantir o aproveitamento correto das riquezas do país e sua utilização em benefício do povo moçambicano”. Foi definida a agricultura como base e a indústria como fator dinamizador do desenvolvimento econômico em vista da liquidação do subdesenvolvimento e criação de condições para elevação do nível de vida do povo. A Revolução Agrária se daria com a implementação das machambas (grandes projetos estatais).

Os projetos foram bem planejados e bem estruturados, mas não obtiveram o êxito esperado, graças ao financiamento de uma guerra, por parte da África do Sul e da Rodésia, de beneficiários da colonização e até dos que tinham apoiado a luta pela independência, mas esperavam um modelo de desenvolvimento capitalista, visando a se tornarem grandes empresários ou grandes latifundiários. Os países citados não só financiaram a reação interna, como participaram diretamente da guerra contra o Poder Popular, junto com a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo). Os alvos prioritários dos atos terroristas da Renamo foram exatamente a infraestrutura: pontes, estradas, centros de saúde e aldeias comunais.

Mesmo enfrentando obstáculos colossais, o Estado Socialista desenvolveu um grande programa de conscientização da Nação, em vista da superação das divisões etnicorraciais estimuladas pelos colonizadores, além de um sistema de educação aberto para toda a população, tendo como meta a “Formação do Homem Novo e a Construção do Socialismo”.

No dia 19 de outubro de 1986, desgraçadamente, Samora Machel, já denominado “Pai da Nação”, morre tragicamente num acidente suspeitíssimo, quando sobrevoava a África do Sul.

O retrocesso

Os sucessores de Samora Machel não tinham a mesma têmpora revolucionária e cederam aos encantos dos caminhos mais fáceis.  Em vez de intensificarem a resistência ao inimigo, buscaram negociar a paz, o que acontece a troco da virada para o capitalismo, desmontando os avanços socialistas, por meio de processos de privatização, grandes projetos agrícolas e submissão ao programa do Fundo Monetário Internacional (FMI), a partir do final dos anos 1980. Os sucessores foram Joaquim Chissano (1986 a 2005) e Armando Guebuza (2005 a 2019), que haviam sido dirigentes junto com Machel, mas traíram a Revolução. Certamente, contribuiu para a sua involução o fim da União Soviética (1991), que apoiava a Reconstrução Nacional e a construção do Socialismo, dando, ainda, suporte militar para o enfrentamento da Renamo. O sucessor de Guebuza, Filipe Nyussi (2015 a 2024) ainda participou do último ano da guerra de libertação, mas hoje é um dos homens mais ricos do país.

Símbolos da reinserção de Moçambique no capitalismo são os projetos de mineração pelos quais a multinacional brasileira Vale explora minas de carvão no país, e o Pró-Savana JBM, uma parceria Japão-Brasil-Moçambique, que consistia em expulsar os camponeses da terra e destruir as savanas para produzir alimentos para exportação, atendendo aos interesses do mercado internacional. Gerou tanta revolta entre os camponeses, que foi encerrado em 2020.

O inimigo dentro de nós

O fato é que, voltando ao regime de dependência do capital internacional, Moçambique permanece inserido entre os dez países mais pobres do mundo e vivendo uma situação preocupante de desigualdade social, de acordo com avaliação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Em outubro deste ano, haverá eleições gerais, mas a perspectiva é de que nada mude, pois o candidato da Frelimo, Daniel Chapo, é um advogado sem nenhuma relação com a guerra de libertação.

Apesar da insatisfação popular com o Governo, o povo, certamente, elegerá mais uma vez o candidato do partido governamental, pois o opositor principal é exatamente a direitista Renamo, que tantos males causou ao povo. Pelo menos, a Frelimo carrega a aura de ter sido a promotora da independência e seu primeiro líder continua sendo venerado como “Pai da Nação”.

Para os combatentes de hoje, a experiência moçambicana comprova de que não há solução dentro do capitalismo, para os graves problemas que afligem o povo e toda a Humanidade. O afrouxamento dos sucessores de Machel faz-nos rever a lição deixada pelo grande revolucionário moçambicano na sua exortação aos guerreiros da Frelimo, de que o maior desafio não é vencer um poderoso exército colonial e imperialista, mas sim “VENCER O INIMIGO QUE SE INSTALA DENTRO DE NÓS”.

Matéria publicada na edição nº 295 do Jornal A Verdade.

A importância dos aliados e apoiadores para a revolução

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Com consciência e perspectiva revolucionárias, mesmo diante da miséria imposta pelo capitalismo, o povo se dispõe a construir materialmente esse partido. Buscar apoiadores é uma forma de garantir o avanço de consciência da nossa classe.

Redação Estadual SP


PARTIDO – A maioria da população brasileira enfrenta condições precárias de vida. O salário-mínimo não é o suficiente para sustentar uma família, os aluguéis e os alimentos estão cada vez mais caros e, com as privatizações, a conta de água e de luz tende a aumentar. E essa é a realidade da maioria esmagadora da população, já que, segundo dados do IBGE, em 2023, a renda média dos brasileiros foi de R$ 1.893 mensais. Enquanto isso, uma minoria de ricaços vive da exploração e acumula as riquezas construídas pelas mãos da classe trabalhadora.

Para mudar essa realidade e acabar de uma vez por todas com a contradição entre trabalho e capital, é necessária a ação consciente e a organização de um partido de vanguarda, autossustentado e independente politicamente. Essa independência só será garantida levantando os meios materiais entre os próprios trabalhadores, dividindo o pouco que temos, e não o que sobra, conscientes de que a libertação da classe trabalhadora será obra da própria classe trabalhadora.

Assim, com consciência e perspectiva revolucionárias, mesmo diante da miséria imposta pelo capitalismo, o povo se dispõe a construir materialmente esse partido, seja com uma contribuição regular enquanto membro e militante, seja como aliado e apoiador das lutas.

Esses apoiadores e apoiadoras aliados são aqueles que acreditam e, por isso, apoiam a revolução socialista, mesmo que, por diversos motivos, ainda não sejam membros do partido. Ainda assim, esses trabalhadores e trabalhadoras, convencidos da luta e da necessidade de destruir esse sistema, comprometem-se em apoiar materialmente o partido da sua classe, contribuindo com uma cota financeira, garantindo seu exemplar do jornal A Verdade em todas as quinzenas, cedendo espaço para as reuniões, etc.

Em entrevista ao jornal A Verdade, Felipe, aliado do partido desde 2023, relata o motivo de ser um apoiador mensal: “Acompanho a Unidade Popular desde as eleições de 2022, quando conheci o camarada Leo Péricles. Desde então, conheci também o jornal A Verdade, mostrando as hipocrisias da democracia burguesa e informando sobre a luta. Eu infelizmente não tenho muito tempo para a militância, então ajudo a divulgar com o que eu posso. Um dia, um camarada, conversando comigo e falando sobre o partido, me convidou a participar como apoiador. Aceitei, pois assim posso contribuir de alguma forma com esse projeto lindo. Ser apoiador da UP é estar na vanguarda da mudança, ajudando e promovendo lutas que são importantíssimas para a classe trabalhadora”.

A importância dessa política também é comprovada historicamente, quando nos deparamos com a trajetória de partidos comunistas durante as ditaduras militares. Nesse período de repressão e ilegalidade, não podendo realizar atividades de arrecadação abertamente e com uma série de demandas vindas da luta clandestina e revolucionária, a contribuição dos apoiadores, em conjunto com a cota individual regular de cada membro do partido, eram as medidas que garantiam a construção material cotidiana das grandes lutas travadas pela derrubada do fascismo. 

Buscar apoiadores é, ainda, uma forma de garantir o avanço de consciência da nossa classe. Através de conversas individuais com possíveis apoiadores, podemos apresentar as contradições do sistema capitalista e quais são as respostas do marxismo para libertar todos os trabalhadores do jugo do capital. Quantos são os apoiadores que, depois de anos contribuindo para a luta, convenceram-se da necessidade de se organizarem nas fileiras do partido e lutarem pelo fim da sociedade capitalista?

Para garantir essa importante tarefa, devemos encará-la de forma sistemática e diária, convidando cada um dos nossos apoiadores a participarem das jornadas de lutas, atos, plenárias e brigadas do jornal A Verdade. Devemos também acompanhá-los de forma contínua, garantindo visitá-los regularmente, ouvir suas opiniões, tirar suas dúvidas sobre o marxismo, convencê-los da justeza da causa revolucionária e ganhá-los cada vez mais para a necessidade da revolução. 

Imaginar que os apoiadores do partido virão até nós apenas de forma espontânea é um idealismo que nos impede de avançar. Não devemos ter defensivas em conversar com os operários, com os trabalhadores e trabalhadoras de todas as categorias, com familiares e amigos, mas sim ter a confiança de que o povo apoiará a causa da revolução. Devemos, em cada conversa com um novo apoiador, ter a convicção de quem carrega a linha política capaz de mobilizar a classe trabalhadora para lutar por uma nova sociedade, a sociedade socialista.

Matéria publicada na edição nº295 do Jornal A Verdade.

Orgulho de ser membro do Partido

Enquanto alguns dizem que é o fim dos tempos e que não há o que se fazer, outros pregam a conciliação com aqueles que nos exploram. O nosso Partido reafirma que é o momento de renovar a perspectiva de construir uma revolução socialista

Jorge Ferreira | São Paulo


PARTIDO – Quem de nós viu e não se indignou naquela manhã de domingo chuvoso em que a polícia militar decidiu despejar mais de cem famílias que haviam perdido tudo nas enchentes do Rio Grande do Sul? Mulheres, crianças, trabalhadores que ocuparam um prédio abandonado há mais de 10 anos e foram levados para a delegacia por lutarem por um direito humano. O fato é que todos nós temos sentido na pele o aumento da violência do Estado contra o povo pobre.

Enquanto alguns dizem que é o fim dos tempos e que, portanto, não há o que se fazer, outros pregam a conciliação com aqueles que nos exploram. O nosso Partido reafirma que é o momento de renovar a nossa perspectiva de construir a revolução socialista e acabar, de uma vez por todas, com a violência e a miséria que a classe trabalhadora está submetida. 

É possível que, diante de guerras imperialistas, de tragédias anunciadas, de aumento das perseguições aos movimentos sociais e das ameaças fascistas a gente se questione se, de fato, podemos transformar essa realidade. Isso porque aqueles que lucram com esse sistema fazem de tudo para nos paralisar, para impor o medo, o desânimo, a desesperança. Temem que a gente tome consciência justamente que o capitalismo está moribundo e que está nas nossas mãos organizar a sociedade de outra forma, sem classes sociais, sem exploradores e explorados. 

Mas se essa é a conjuntura que vivemos, porque haveríamos de subestimar a ideologia propagada dia e noite pela burguesia em todos os meios de comunicação, por que haveríamos de achar que aqueles e aquelas que estão convencidos da necessidade de uma revolução estão imunes à luta ideológica da sociedade? É por isso que, assim como a luta de classes se intensifica, devemos aprofundar a assistência política a todos os nossos camaradas. Como dito no texto “Há que se cuidar do broto”, de Luiz Falcão, é preciso que tenhamos tempo para conversar cotidianamente com cada companheiro, orientar e fortalecer ideologicamente. 

Precisamos reconhecer que todos nós estamos imersos na luta de classes e, por isso, podemos sofrer com os golpes da classe dominante. São vários os exemplos de companheiros e companheiras que, ainda que concordem com a linha política do Partido, veem-se esmagados pela conjuntura e, enfraquecidos, afastam-se da luta revolucionária. Por outro lado, quantos de nós nos sentimos fortes e capazes de dar mais do nosso tempo para a construção da revolução após uma conversa profunda com o assistente político?

É na conversa individual e, se possível, na visita à casa dos companheiros, que podemos conhecer mais, compreender melhor as contradições, esclarecer as dúvidas, refletir sobre os hábitos e o cuidado com a saúde, trabalhar para que cada militante se sinta desafiado a fazer mais e melhor suas tarefas e, assim, termos melhores condições de elevar nossa organização ao nível da nossa política. 

Isso porque, se estamos convencidos de que, mais do que necessário, é de fato possível fazer uma revolução no nosso país, precisamos dedicar toda nossa energia para construir uma organização capaz de disputar a consciência de milhões de trabalhadores. Isso, sem dúvidas, passa pelo fortalecimento ideológico nas nossas fileiras, desde o militante recém-recrutado ao companheiro que tem anos de militância. Devemos despertar em todos os nossos camaradas o profundo sentimento de ter orgulho em ser membro do nosso Partido e, com isso, reafirmar a perspectiva revolucionária.

Matéria publicada na edição nº 295 do Jornal A Verdade.

Imperialismo não reconhece resultado das eleições e articula golpe na Venezuela

O presidente Nicolás Maduro vence eleições na Venezuela com mais de 51% dos votos. Oposição financiada pelos EUA não reconhece resultado e ameaça novo movimento golpista.

Redação


INTERNACIONAL – Após uma disputada campanha eleitoral, o presidente venezuelano Nicolás Maduro foi reeleito com 51,2% dos votos, derrotando o candidato da oposição de extrema-direita Edmundo González, que obteve 44,2%.

Num processo marcado por uma intensa campanha de descrédito do sistema eleitoral venezuelano por parte da mídia burguesa internacional e ataques do governo dos EUA, com apoio de governos latino-americanos, Maduro conseguiu vencer no primeiro turno por uma margem bem apertada.

Como era esperado, governos de direita e alinhados ao imperialismo estadunidense não reconheceram o resultado da eleição. O Brasil ainda não se posicionou claramente e disse acompanhar a situação. 

Desde a semana passada, o presidente Lula tem feito declarações criticando Maduro, apesar de reconhecer a importância da vitória do venezuelano para impedir o avanço da extrema-direita no país. As críticas de Lula geraram reações na Venezuela.

Campanha disputada e tensa

Ao contrário do que a grande mídia burguesa apresentou, a campanha eleitoral foi marcada por grandes atos do campo chavista, assim como manifestações da oposição de direita. Nesses atos, ficou muito claro que enquanto Maduro tinha forte apoio nas comunidades populares, favelas e nos setores mais pobres da sociedade venezuelana, o candidato da oposição tinha forte apoio das elites econômicas e dos setores mais conservadores e reacionários da classe média.

Ao mesmo tempo que a grande mídia burguesa no Brasil fala em uma suposta falta de democracia na Venezuela, se cala diante das injustiças do sistema eleitoral brasileiro, onde apenas alguns partidos são autorizados a terem programas eleitorais de TV e o Fundo Eleitoral é distribuído de forma desigual. Exemplo: enquanto o PL de Bolsonaro receberá nas eleições de 2024 mais de 880 milhões de reais, a Unidade Popular, partido de esquerda, receberá apenas 0,07% do total do fundo e não terá direito a tempo de TV e rádio, nem de participar dos debates.  

Ameaça golpista

Por todo o processo de eleições, a ameaça de ingerência externa levou as Forças Armadas a fecharem a fronteira da Venezuela ao longo do fim de semana. Na manhã desta segunda (29), o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que seu sistema de totalização sofreu ataques externos. Na Venezuela, assim como no Brasil, o sistema de votação é eletrônico.

Após o anúncio dos resultados das eleições, a líder de extrema-direita da Venezuela, Maria Corina Machado, correu para a imprensa para acusar “fraude” no processo eleitoral e fez uma ameaça de que a chamada Mesa de Unidade Democrática poderá repetir o movimento golpista realizado nas eleições de 2018. 

Na ocasião, os oposicionistas fizeram com que o presidente da Assembleia, o fascista Juan Guaidó, se autoproclamasse “presidente interino”, seguido de um processo de reconhecimento internacional liderado pelas potências imperialistas. No entanto, na época o movimento não deu certo e Guaidó fugiu do país com medo de enfrentar a justiça.

Agora, a pressão do imperialismo para que não se reconheça a eleição continua. Alguns poucos países, governados pela extrema-direita, não reconheceram o resultado. Por outro lado, países como Cuba e Bolívia reconheceram a reeleição do presidente venezuelano. 

O Brasil, por sua vez, está numa posição em cima do muro, exigindo que Maduro apresente as atas de votação que comprovam que ele teve mais votos. Ocorre que este tipo de exigência o Brasil não faz em nenhum outro país quando ocorre eleições. Por que só com a Venezuela? 

Em resposta aos ataques à estabilidade política no país, o governo Maduro expulsou diplomatas da Argentina, Peru, Uruguai, Panamá, Costa Rica e República Dominicana. 

Mais uma vez, o povo venezuelano se vê na possibilidade de sofrer uma ampliação do bloqueio econômico pelo qual o país já passa, resultado do imperialismo não aceitar que os trabalhadores da Venezuela tomem suas próprias decisões. Manifestações violentas e atos de vandalismo já começaram a ser registrados em algumas cidades. 

De toda forma, a divisão dos países da América Latina na defesa dos resultados eleitorais venezuelanos cria um cenário de vantagem para o imperialismo, que irá aproveitar este tipo de divisão para estimular na nossa região as disputas geopolíticas e econômicas que hoje travam em outras partes do mundo.