UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 8 de setembro de 2025
Início Site Página 64

“É muita humilhação no transporte coletivo”

0

O jornal A Verdade dá seguimento à rodada de entrevistas com as candidatas e candidatos da Unidade Popular (UP) às prefeituras de importantes capitais brasileiras. Nesta edição, conversamos com Indira Xavier (39 anos), candidata em Belo Horizonte (MG); Ludmila Outtes (36 anos), candidata em Recife (PE); Santiago Belizário (31 anos), de Teresina (PI); e Reinaldo Pantaleão (73 anos), em Goiânia (GO).

Rafael Freire | Redação


Jornal A Verdade (JAV): O Brasil paga, de juros e amortizações da dívida pública, quase R$ 2 trilhões anualmente. Isso representa 43% de todo o Orçamento nacional. Enquanto isso, o Governo Federal investe o percentual de apenas 3% em Educação e 3,7% em Saúde. O que a UP pensa sobre isso?

Ludmila Outtes – É um verdadeiro crime praticado contra a população, sequestrar quase metade do orçamento público federal para enriquecer os banqueiros e empresários, que já são muito ricos. Enquanto isso, deixa a população sem os direitos essenciais, como saúde e educação. Como enfermeira da rede pública, eu vivencio como a população sofre por conta do sucateamento da saúde pública, a tentativa constante de privatização do nosso Sistema Único de Saúde. E tudo isso faz parte de um grande: sucateia o que é público para depois justificar o discurso de privatização.

Os tubarões dos planos de saúde lucram diversas formas: privatização, terceirização, entrega das unidades de saúde para as chamadas “organizações sociais” e ainda lucram como credores da famigerada dívida pública, com parte do orçamento sendo destinada a eles.

A Unidade Popular tem feito a denúncia contra todas essas arbitrariedades, inclusive para que se inverta essa lógica do que é feito com o dinheiro público para que, de fato, o recurso seja investido em saúde, educação, moradia, demais áreas sociais e garantia de emprego e renda para todos.

Indira Xavier – A Unidade Popular é uma das poucas organizações do país que defende a suspensão imediata do pagamento dos juros da dívida pública, seguida de uma auditoria. Como disse Ludmila, essa dívida impede que o nosso dinheiro seja investido, de fato, nas áreas sociais. Foi feito um pacto de que deveria ser investido, no mínimo, 10% do orçamento em educação e, anos depois, continuamos com 3%.

Então, a UP defende, nestas eleições municipais, que as prefeituras suspendam também o pagamento das suas dívidas públicas, procedam a suas auditorias e que este recurso seja revertido para o povo.

Na educação, o que vemos é a ampliação das parcerias público-privadas, que fazem com que empresas privadas administrem esta área essencial. Aqui em Belo Horizonte, por exemplo, quase metade das vagas da educação infantil está nas mãos das empresas privadas, que nem laudo de funcionamento tem para as escolas. Ou seja, colocam em risco a vida das nossas crianças.

Santiago Belizário – Como a companheira Indira falou, é preciso tirar o orçamento das mãos dos super ricos, que são também, os mesmos que mandam e desmandam nas nossas cidades há décadas. Aqui em Teresina, por exemplo, mais da metade das escolas da rede municipal não possuem quadra esportiva; 47% sem acessibilidade e apenas 23% possuem laboratório de informático e 28%, biblioteca. E o mais grave: ainda temos escolas na rede sem água potável e energia elétrica! Inadmissível!

Em Teresina a situação da população mais vulnerável é essa: 8% das pessoas são analfabetas e a população em situação de rua aumentou mais de 300% após a pandemia. Nesse período, não se construiu uma única unidade de habitação popular nem casa-abrigo, não se ampliou o restaurante popular. São mais de 35 mil famílias que não têm moradia, vivendo de favor ou de aluguel, enquanto, só no Centro, existem mais de dois mil imóveis abandonados.

Reinaldo Pantaleão – Esse aspecto nacional da dívida pública vai se refletir nos municípios. É por isso que não existe respeito ao piso salarial dos professores, que falta a devida infraestrutura nas escolas, etc. Aqui em Goiânia, prometeram a construção de 20 Cmeis [Centros Municipais de Educação Infantil] e, até hoje, isso não saiu do papel. E aqui chegou-se ao absurdo de fecharem creches e de entregarem as crianças para instituições ligadas à Igreja, que recebem até R$ 180 mil por mês e não cumprem a legislação.

Para piorar, a Prefeitura de Goiânia deixou de receber, no ano passado, mais de R$ 23 milhões por não apresentar os projetos necessários ao Governo Federal. Foi por falta de técnicos capazes para elaborar os projetos? Não. O problema não é de gestão, é de decisão política.

JAV: O transporte coletivo é um dos maiores problemas vividos pelo povo brasileiro atualmente. Ao mesmo tempo, os empresários do setor e as gestões municipais movimentam milhões de reais, cobrando passagens caríssimas dos passageiros. O que pode ser feito sobre isso?

Indira – As nossas cidades hoje vivem um verdadeiro caos na mobilidade urbana. Belo Horizonte tem o segundo pior trânsito do país. E o que vimos, nos últimos anos, foram sucessivas gestões comprometidas apenas em manter os interesses e privilégios da máfia dos transportes, que domina a cidade. Esta máfia impediu que houvesse a expansão do metrô público da empresa federal CBTU. Metrô que, uma vez sucateado e colocado para ser privatizado, mesmo diante de uma luta ferrenha da categoria metroviária contra essa privatização, foi vendido a preço de banana justamente para essa máfia do transporte coletivo.

O BNDES estimou o patrimônio da CBTU em mais de R$ 750 milhões, mas a empresa foi leiloada praticamente pelo preço de um vagão, R$ 25 milhões. Hoje, existe uma promessa de expansão do metrô, mas isso só é possível porque Governo Federal, o Governo Estadual e a Prefeitura estão injetando recursos públicos, recursos do povo.

Então, o que a Unidade Popular defende é que tenhamos um transporte público, gratuito e de qualidade. Nesse momento da luta eleitoral, a UP está trabalhando com um abaixo-assinado para alterar a lei e criar uma empresa municipal de transporte coletivo.

Nos últimos três anos, a Prefeitura investiu mais de R$ 500 milhões dos recursos públicos nas empresas privadas. A passagem em BH custa R$ 5,25 e o serviço é de péssima qualidade, uma frota com mais de dez anos, ônibus que quebram todos os dias. Então, nós pagamos duas vezes: através dos subsídios públicos e pela tarifa na catraca.

Santiago – Em Teresina, o transporte não tem nada de público. É tudo privatizado, através de concessões que duram anos, apesar dos problemas que enfrentamos. Aqui, nós que usamos ônibus diariamente, sabemos que vamos esperar uma hora na parada, paradas, que inclusive não nos protegem do sol e da chuva. Ainda corremos o risco de o veículo quebrar no percurso.

Pagamos uma passagem cara e nem sabemos se vamos poder usar. Quem necessita do transporte à noite, fica sem o serviço. Simplesmente não há ônibus. Muitos trabalhadores gastam, em média, mais de 12% do seu salário para se deslocar ao trabalho porque não têm outra opção.

Ludmila – Como os companheiros colocaram, esse tema do transpor é muito importante para os trabalhadores. A gente perde boa parte do nosso dia dentro do transporte coletivo. São horas no aperto, na humilhação. Em Recife, não é diferente. Inclusive, porque o metrô, da CBTU, só possui três linhas para toda a Região Metropolitana, e não é chega a boa parte das pessoas que precisam. É mais uma unidade desta empresa pública federal que está na mira das privatizações, como aconteceu em Belo Horizonte. Inclusive, o metrô parou de funcionar aos domingos, por tempo indeterminado, para fazer manutenção.

Pantaleão – Não existe, em lugar nenhum do mundo, transporte sem dinheiro público. A questão é que o dinheiro público deveria estar a serviço da população, e não do lucro dos empresários. Em Goiânia, por exemplo, existe uma empresa chamada de HP, que opera também na África do Sul com ônibus modernos, mas que aqui os passageiros são transformados em sardinha dentro de uma lata. Nossa cidade, apesar de ter sido planejada, agora está descaracterizada, com um trânsito caótico. Há 20 anos, fala-se na ampliação das linhas do BRT, mas a licitação nunca sai devido a irregularidades no processo por parte das empresas. Então está na hora de efetivamente transformar o transporte coletivo em transporte público, com empresas estatais à frente para garantir a gratuidade e a qualidade dos serviços.

Candidatos da UP: “Só uma transformação profunda pode resolver os problemas do povo”

JAV: Santiago, recentemente, até a Fundação Municipal de Saúde teve a energia do prédio cortada por falta de pagamento. Qual a situação da saúde para a população teresinense? 

Isso. Chegaram também até a retirar equipamentos alugados de dentro de hospitais por falta de pagamento. Houve ainda atrasos nos pagamentos dos trabalhadores da área. Sem falar na superlotação das unidades, pois só hoje só funciona um hospital municipal de urgência e emergência. As filas são gigantescas nas Unidades de Pronto Atendimento. Algumas pessoas chegam a esperar quase um ano por uma consulta com um médico especialista. E, recentemente, tivemos casos de pessoas que morreram esperando por uma cirurgia.

Esses dias, tive que levar minha mãe a um hospital, mas ele tinha sido fechado pelo Conselho Regional de Medicina porque não tinha condições de funcionamento. Após a reabertura, minha mãe passou mal novamente e, quando chegamos lá, ela tomou um soro, mas não tinha esparadrapo no hospital. Então a falta de insumos e de infraestrutura é grave e atinge toda a rede.

Enquanto isso, a Prefeitura está sendo acusada de má gestão dos recursos, pois retirou milhões da saúde e da educação para outros setores.

JAV: Pantaleão, você é um militante experiente, com décadas dedicadas à luta pelo socialismo no Brasil. É muito comum, neste período eleitoral, os candidatos dos partidos burgueses falarem em experiência de gestão pública. O que você poderia nos dizer sobre isso?

É exatamente aí onde mora o perigo. Os candidatos da burguesia, que fazem a defesa do sistema capitalista, normalmente usam suas experiências em empresas ou governos para defender os interesses das elites. Eles se apresentam, mais uma vez, como os guardiões da gestão pública. Mas que gestão? Estamos falando do Estado burguês, que serve para manter a exploração da classe trabalhadora.

Como acabei de dizer, Goiânia foi uma cidade planejada, mas está descaracterizada pela mão do capital, das empreiteiras, das imobiliárias. As áreas verdes, arborizadas, foram massacradas e substituídas pela selva de pedra dos enormes prédios, cada vez com mais andares. Falar numa cidade ecologicamente correta desse jeito é conversa pra boi dormir, é enganação.

A UP propõe a implantação dos conselhos populares para termos uma relação direta com a população, por uma cidade feita pelo povo para o povo. Assim, será nossa gestão, olhando primeiro para os bairros pobres, que sofrem sem nenhuma infraestrutura. Chega de uma cidade feita só para os ricos. A classe trabalhadora é quem deve governar.

E a UP não é um partido só de eleição, é bom que se diga. Estamos prestes a completar cinco anos que conquistamos o registro eleitoral, mas nosso partido já nasceu lutando, recolhendo mais de um milhão de assinaturas para se legalizar por completo. E nossa militância está nas lutas todos os dias, chamando as massas exploradas para se organizarem com muita consciência de classe. Só uma transformação profunda pode resolver os problemas do povo, construindo o poder popular e o socialismo.

JAV: Indira, a mineração desenfreada em Minas Gerais já é um problema histórico. Qual a situação hoje na Região Metropolitana de Belo Horizonte e como as famílias mais pobres são afetadas em relação ao direito à moradia digna, que inclui o direito a um lar, com acesso à água, ao transporte coletivo, etc.?

Todo o território mineiro é rico em minérios preciosos e que hoje são usados, principalmente, na indústria de componentes eletrônicos, fundamental para o capitalismo moderno. Só que o processo de extração deixa marcas profundas, assim como no passado. As marcas são as crateras, mas também a pobreza do povo.

No caso de Belo Horizonte, a mineração na Serra do Curral pode acabar com o abastecimento de água da capital. A mineração já afeta bastante os mananciais hídricos da Região Metropolitana de BH. Ressaltando que se trata de uma exploração ilegal por parte de empresas muito poderosas. Exemplo, essas empresas preferem pagar uma multa diária de R$ 50 mil do que parar com a mineração nesta área. Cada caminhão de minério retirado da Serra do Curral equivale a R$ 30 mil, e eles retiram cerca de dez por hora.

As famílias pobres, além de sofrerem com a falta de água, também são expulsas de seus territórios para dar lugar a mais mineração ilegal. Expulsas também pelo megaprojeto do Governo Estadual, com a conivência de várias prefeituras da Região Metropolitana, de construção do chamado “rodoanel”, que, na verdade, é o “rodominério”. Uma rodovia que vai cortar 11 cidades com a única finalidade de escoar as riquezas de Minas para os portos e, de lá, para outros países. Esta rodovia, inclusive, vai passar ao lado do Vale das Ocupações, onde o Movimento de Luta nos Bairros (MLB) desenvolve um trabalho há muitos anos. Lá, várias famílias serão obrigadas a se mudarem.

JAV: Na condição de presidente do Sindicato dos Enfermeiros de Pernambuco, você circula por toda a rede pública, desde a atenção básica até as especialidades dos hospitais. O que você tem visto em relação à forma como os gestores públicos tratam os pacientes e os profissionais de saúde?

Existe muita maquiagem nas propagandas dos municípios. O quadro que se pinta é sempre de uma saúde de qualidade, que tem evoluído, etc. A Prefeitura de Recife, por exemplo, faz muita propaganda em relação à expansão da rede de atenção básica para atingir 100% da população. Mas não se coloca o que está por trás disso. Sentimos um grande aumento do assédio moral contra os trabalhadores, cobranças excessivas da gestão sem oferecer o mínimo de condições de trabalho. E, ao mesmo tempo que vemos novas unidades serem abertos, vemos a falta de material nas unidades já existentes, desde sabonete e papel toalha a medicamentos de controle de hipertensão e diabetes, materiais para curativo. Enfim, o básico para um posto de saúde.

Faltam também mais profissionais. Pacientes que levam até dois anos para conseguir uma consulta com um especialista. Isso acaba reforçando na população que a saúde pública é ruim e que a saída é pagar um plano de saúde. Mas isso é pagar três vezes, pois pagamos o SUS com nossos impostos; o Ministério da Saúde destina subsídios para a rede privada; e ainda paga novamente o plano de saúde. São planos caríssimos, mas que, na prática, nem atendem ao conjunto da população nem prestam um serviço de qualidade, pois as empresas privadas só operam com base no lucro e fazem de tudo para pagar pouco aos profissionais e para negar os mais variados procedimentos médicos aos usuários.

Matéria publicada na edição nº 298 da jornal A Verdade

Prefeitos são marionetes das grandes empresas

0

Em todo o país, prefeituras são controladas por grupos burgueses que entregam todos os recursos para os empresários ricos, deixando o povo trabalhador à míngua. Votar nas candidaturas da UP é desmascarar essa farsa e dar fortalecer a luta contra a exploração e pelo socialismo

Luiz Falcão | Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário (PCR)


No próximo dia 6 de outubro, vão acontecer eleições para as prefeituras e câmaras municipais de 5.569 cidades brasileiras. Embora a Constituição determine igualdade de disputa entre todos os partidos políticos, o Congresso Nacional aprovou várias leis, as chamadas cláusulas de barreira, para impedir que os partidos revolucionários tenham tempo na TV, no rádio e na internet. Por isso, os eleitores e eleitoras não verão os candidatos da Unidade Popular (UP) nas propagandas eleitorais que inundarão nossas casas nos próximos 30 dias. Assistirão, entretanto, hipócritas, corruptos e impostores tentando enganar o povo. Além disso, sem nenhuma consulta popular, os partidos burgueses e pequeno burgueses decidiram utilizar 100% do Fundo Partidário e 99% do Fundo Eleitoral para financiar os partidos que defendem o sistema capitalista e detêm o controle das prefeituras, dos governos e do Congresso Nacional.

Mas, por que a classe dominante teme o Partido da Unidade Popular? Porque a UP defende o fim da exploração dos trabalhadores pela burguesia e não tem medo de denunciar as verdadeiras causas da pobreza, dos aumentos dos preços dos alimentos, da violência contra a mulher e da falta de moradia popular. Em resumo, a classe dominante não quer que o povo saiba que apenas acabando com o sistema capitalista, um sistema que beneficia uma minoria de ricos patrões e banqueiros, é possível solucionar os problemas sociais e construir uma sociedade justa e democrática.

No entanto, não há um só prefeito que não diga que fez muito e se reeleito fará muito mais. Porém, quando observamos com atenção os últimos quatro anos vemos que é uma mentira deslavada. Já os candidatos que se declaram oposição propagam que vão realizar grandes mudanças. Não dizem, porém, que defenderam cancelar as eleições em 2022, que apoiaram um ladrão de joias e responsável direto pela morte de mais 300 mil pessoas de Covid 19 e que promoveram o fracassado golpe fascista de 8 de janeiro.

Para evitar o debate sobre os problemas do país, os candidatos dos partidos ricos e seus meios de comunicação afirmam que as eleições são municipais e se deve discutir apenas as questões da cidade. Mas, o que são as cidades sem as pessoas?  É possível, por acaso, debater algum problema de um município sem levar em consideração os problemas das pessoas que vivem nessas cidades? Claro que não! Então, porque esconder a realidade em que vive a imensa maioria da população? Por que deixar de lado o drama do desemprego, da violência policial contra os pobres, o racismo, o descaso com a saúde pública, a privatização do transporte público e a injustiça social?

Prefeituras são contra os pobres e a favor da classe rica

Mas qual é a realidade em nossas cidades?

De acordo com o Observatório de Políticas Públicas da UFMG, 300.868 pessoas vivem em situação de rua nas cidades brasileiras. Somente na cidade de São Paulo, são mais de 80 mil pessoas. Em Belo Horizonte, 5,3 mil pessoas, conforme o 4º Censo da População Adulta em Situação de Rua. (O TEMPO, 21/06/2024).

Na capital da Bahia, Salvador, levantamento da Secretaria de Promoção Social concluiu que mais de cinco mil pessoas estão em situação de rua e dados do Cadastro Único do Governo Federal de julho de 2023, apontou que 14.004 mil pessoas vivem em situação de rua no Rio de Janeiro.

Ora, se os atuais governantes trambalharam tanto e fizeram tantas coisas boas porque há tanta gente em situação de rua? A verdade: os prefeitos são marionetes das grandes empresas e governam para atender seus interesses.

Com efeito, as prefeituras sequer tem coragem de destinar os milhares de imóveis abandonados para abrigar 6,2 milhões de brasileiros e brasileiras que moram de favor por não terem dinheiro para pagar um aluguel.  Pelo contrário, quando as famílias pobres buscam se abrigar do frio, das chuvas e proteger sua família da violência e fazem uma ocupação, os prefeitos dão ordens para os guardas municipais e a Polícia Militar despejarem essas famílias. Eis o tamanho dessa injustiça: 1,5 milhão de pessoas pode a qualquer momento serem despejadas de onde moram. Que governantes são esses que abandona milhares de famílias sem uma casa para morar?

Aliás, não há um só capital que não tenha mães implorando por uma vaga em creche. De fato, mais de 630 mil crianças estão fora da escola por falta de vagas em 44% dos municípios brasileiros. Esses números são uma vergonha para um país que possui enormes riquezas e para prefeitos e vereadores que recebem por mês mais de R$ 20 mil dos cofres públicos.

Tem mais: devido ao enorme desemprego, milhões de jovens que vivem nas cidades são obrigados a trabalhar sem salário fixo e carteira assinada e fazendo entregas debaixo do sol, de chuvas ou do frio. Para piorar, um boçal que nunca bateu um prego numa barra de sabão, vai na TV e exibe uma carteira de trabalho para humilhar os que estão desempregados.

Onde está o dinheiro do ICMS e do IPTU?

A desculpa dos prefeitos para não realizarem obras em favor dos pobres é que não há recursos. Então, para onde está indo o dinheiro dos impostos que pagamos, do ICMS, do IPTU e de outras taxas? A resposta: as prefeituras usam o dinheiro do povo para pagar juros aos bancos privados e subsidiar as empresas privadas de transporte que cobram passagens caras e oferecerem um serviço de péssima qualidade.

Também a saúde pública está sendo privatizada. Os que tem dinheiro fazem cirurgias, tratam suas doenças e prolongam suas vidas. Os pobres esperam horas numa fila para marcar uma consulta e anos por uma cirurgia. Isso é cuidar da saúde do povo? Não, isso é desprezar os pobres e a prova de que os atuais prefeitos governam para as grandes empresas e defendem os que exploram o povo.

Não bastasse, até abril de 2024, mais de 21 mil mulheres foram estupradas no Brasil. Por dia, são 174 mulheres vítimas do crime de estupro, a maioria crianças de 13 e 14 anos. E a cada 46 minutos, uma mulher sofre violência sexual. (O Globo, 18/06/2024). O pior é que os partidos do Centrão (PL, Republicanos, União Brasil, PSD, MDB, PSDB, entre outros) querem colocar na cadeia as mulheres e deixar impune os estupradores. Ora, é claro que esse tipo de político burguês não merece nenhum voto do povo. Por isso, votar na UP é votar contra o estupro e contra os estupradores.

Não aos salários baixos e à exploração

Também os candidatos dos ricos nada falam da criminosa Reforma Trabalhista que retirou vários direitos dos trabalhadores nem do vergonhoso salário mínimo de R$ 1.412,00. Dizem que isso não é pauta das eleições municipais. Claro, eles estão de barriga de cheia, tem dezenas de imóveis e recebem altos salários, além das propinas dos empresários. Por isso, não se importam com o salário de fome dos trabalhadores e das trabalhadoras nem com os bairros e favelas em que que os pobres vivem. O que importa para os políticos e partidos da burguesia é defender a exploração capitalista e o lucro do patrão. Por isso, votar nos candidatos da UP para as prefeituras é votar pelos direitos dos trabalhadores, contra a exploração dos patrões e pelo socialismo.

Conclusão: as eleições são uma importante oportunidade para desmascarar os políticos e partidos da classe capitalista e realizar uma ampla campanha de denúncias políticas, desenvolver a luta e a consciência dos trabalhadores, realizar a propaganda do socialismo e crescer as fileiras do verdadeiro exército do povo.

Matéria publicada na edição nº 298 do jornal A Verdade

Cuba denuncia bloqueio norte-americano

Resposta da Embaixada de Cuba ao editorial da Folha de São Paulo de 4 de setembro de 2024.

Embaixada de Cuba


No dia 4 de setembro de 2024, o jornal Folha de São Paulo publicou um editorial repleto de falsidades sobre Cuba e o sistema político, econômico e social que a maioria dos cubanos soberanamente escolheu.

Não surpreende que aqueles que defenderam ditaduras patrocinadas pelos Estados Unidos ou exibam sua admiração por Milton Friedman, difamem a Revolução Cubana.

A Revolução Cubana eliminou o analfabetismo; para todos e para o bem de todos, assegurou o direito universal à educação, à saúde, à cultura, ao desporto, bem como à moradia e à terra. Os seus cientistas desenvolveram cinco vacinas contra a COVID-19, que imunizaram a população da ilha.

Cuba fez da prática coerente da solidariedade uma conduta. Mais de 3.000 cubanos deram a vida nos esforços de libertação em África. O fim do apartheid, a independência da Namíbia, a luta pela independência de Angola, viram cubanos e africanos lutarem juntos. Milhões de pessoas em todo o mundo aprenderam a ler e a escrever ou recuperaram a visão graças aos programas de colaboração cubanos. Os seus médicos enfrentaram o Ébola e a Covid-19 em 42 países. Cuba formou 30.000 médicos de 105 países. Partilhamos o que temos, não o que nos sobra.

Por uma questão de decoro e de respeito pela verdade, um pouco de história:

– Em fevereiro de 1962, o Presidente J. Kennedy instituiu o bloqueio econômico, financeiro e comercial a Cuba que dura até hoje.

– Em janeiro de 2021, 9 dias antes de deixar o cargo, Donald Trump incluiu Cuba na Lista de Países Patrocinadores do Terrorismo. No total, adotou 243 novas medidas de bloqueio contra Cuba.

– Em 6 de abril de 1960, Lester D. Mallory, Secretário de Estado Adjunto para os Assuntos Interamericanos, definiu, num memorando secreto, a filosofia do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto a Cuba:

“A maioria dos cubanos apoia Castro… a única forma previsível de diminuir o seu apoio interno é através do desencanto e da insatisfação decorrentes do mal-estar econômico e das dificuldades materiais… todos os meios possíveis devem ser rapidamente utilizados para enfraquecer a vida econômica de Cuba… uma linha de ação que, sendo tão hábil e discreta quanto possível, conseguirá os maiores avanços na privação de dinheiro e de fornecimentos a Cuba, para reduzir os seus recursos financeiros e salários reais, para provocar a fome, o desespero e a derrubada do Governo.”

Em novembro de 2023, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou por 187 votos a favor e 2 contra (EUA e Israel) a exigência de que o governo dos EUA levantasse o bloqueio a Cuba. Esta resolução tem sido adotada desde 1992 por uma maioria esmagadora. Não se trata da “esquerda continental”.

O bloqueio não é um pretexto, é uma realidade e o principal obstáculo ao desenvolvimento e ao bem-estar do povo cubano. O bloqueio nega o direito inalienável à autodeterminação. É uma política genocida destinada a provocar fome, privações de todo tipo, mal estar e desespero entre a população, com altíssimos custos humanos e materiais nos mais de 60 anos de sua impiedosa aplicação. Estados Unidos persegue toda atividade que possa gerar investimentos a Cuba. A Folha sabia que 350.000 cidadãos europeus foram formalmente notificados de que não poderão entrar nos Estados Unidos em função do Programa de Isenção de Vistos ESTA (Electronic System for Travel Authorization)? Seu crime: viajaram a Cuba como turistas.

Não é o governo cubano que é arcaico, é o bloqueio norte-americano. A resistência do povo digno de Cuba com o apoio da solidariedade internacional prevalecerá.

Brasil, 9 de setembro de 2024

Prefeito de Caruaru é denunciado por obrigar funcionários a participarem de sua campanha eleitoral

0

Segundo denúncias, os trabalhadores da prefeitura de Caruaru estão sendo coagidos a participar da campanha eleitoral do prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB), que busca a reeleição a todo custo.

Redação PE


BRASIL – Segundo denúncias apresentadas na noite de ontem (9/9), milhares de servidores comissionados e contratados estariam sendo obrigados a realizar atividades de campanha eleitoral para o atual prefeito de Caruaru, Rodrigo Pinheiro (PSDB), que busca reeleição a todo custo. As acusações apontam que até 7 mil funcionários podem ter sido coagidos a participar de ações de “porta a porta” em prol do prefeito.

Em abril de 2024, Rodrigo Pinheiro publicou uma portaria no Diário Oficial que reduziu o horário de expediente da prefeitura. A medida, segundo as denúncias, seria pensada para a campanha eleitoral que estava por vir, assim, liberando os servidores durante o horário de trabalho e coagindo sua participação nas atividades eleitorais. Os secretários municipais, ainda segundo os relatos (que incluem um áudio da diretora de uma autarquia do município), estariam pressionando os funcionários a participarem.

Na prática, os servidores em vez de estarem cumprindo seu trabalho na Saúde, na Educação e em outras áreas essenciais, estariam sendo forçados a fazerem campanha para o prefeito. A bem da verdade, Rodrigo Pinheiro está desesperado. Foi vice-prefeito da chapa de Raquel Lyra (PSDB), que segue a prática de seu partido fazendo uma gestão desastrosa, só que agora no Governo do Estado. 

A política da burguesia

É importante lembrar da convenção municipal que oficializou a candidatura de Rodrigo Pinheiro à reeleição. No evento, estava ninguém menos que Marconi Perillo, presidente nacional do PSDB. Em discurso pronunciado na convenção, Perillo coloca que veio “para abraçar esse jovem prefeito trabalhador e competente”. 

Marconi Perillo, ex-governador de Goiás, já foi condenado por crime de caixa dois nas eleições de 2006; denunciado em 2017 pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção passiva; em 2018, é denunciado por recebimento de R$17 milhões em propinas da Odebrecht. Dentre outras denúncias e condenações, esse é o tipo de político burguês que apoia o atual prefeito.

MLB conquista 13.500 cestas básicas com ocupações de mercados

Sob o lema “Pátria Sem Fome”, famílias do movimento promoveram ocupações em 38 mercados do grupo Carrefour no dia 7 de setembro para exigir a entrega de alimentos. Ação vitoriosa, que conquistou 13,5 mil cestas básicas, fez parte da Jornada Nacional de Luta Contra a Fome do MLB

Guilherme Arruda | Redação SP


13.500 cestas básicas foram conquistadas pelas famílias do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) após um dia inteiro de ocupações de mercados da rede Carrefour, neste sábado (7/9). Sob o lema “Pátria sem fome”, a ação fez parte da Jornada Nacional de Luta Contra a Fome do MLB.

Por todo o país, 38 lojas da rede Carrefour, incluindo as do mercado Atacadão, foram ocupadas pelo movimento nacional de luta pela reforma urbana desde a manhã do feriado da Independência. Após muita negociação entre a direção da rede e uma comissão do movimento, o grupo varejista decidiu ceder e entregar as cestas de alimentos.

“Consideramos que foi uma grande luta nacional do povo sem-teto e do MLB. Uma luta contra a fome em um dia emblemático, o dia da Independência. Mas não é uma Pátria independente, não é uma Pátria soberana aquela em que o povo tem fome e está sem emprego, sem habitação, sem saúde de qualidade”, avalia Kleber Santos, da Coordenação Nacional do MLB.

Porque o MLB ocupou o Carrefour

A Jornada Nacional de Luta Contra a Fome organizada pelo movimento busca denunciar que no país que mais produz alimentos do mundo, em que as redes de supermercado tiveram um faturamento de R$1 trilhão em 2023, mais de 64 milhões de brasileiros ainda vivem em insegurança alimentar. O MLB aponta o papel das redes de varejo nesse cenário de miséria, já que os altos preços dos produtos nos mercados contribuem para que o povo trabalhador não consiga comprar comida para suas famílias.

Além disso, as ocupações aconteceram nos supermercados do Carrefour também em resposta ao apoio desse grupo internacional ao genocídio que está sendo cometido contra o povo palestino. O Carrefour doou toneladas de alimentos para o Exército de Israel após o início da guerra de extermínio promovida pelos sionistas na Faixa de Gaza, em outubro passado.

“Honrando a tradição dos heróis e das heroínas do povo, as famílias do MLB se organizaram e se mobilizaram para ocupar uma grande rede de supermercados que lucra bilhões de reais e faz a remessa da maior parte desses lucros para sua matriz na França, que é a rede Carrefour”, continua Kleber.

Famílias mobilizadas pela pátria sem fome

No 7 de setembro deste ano, os fascistas quiseram tomar conta da data organizando atos antidemocráticos por todo o país, especialmente em São Paulo. Porém, além de conquistar comida para quem tem fome, as ocupações de mercado do MLB também trouxeram uma verdadeira resposta popular e antifascista ao bando de falsos patriotas do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Como destacou o coordenador do MLB Guilherme Brasil, em uma fala na ocupação do Atacadão da avenida Marechal Tito, em São Paulo, as famílias que levantaram a bandeira de uma “pátria sem fome” na Jornada Nacional organizada pelo movimento é que são as verdadeiras patriotas ao lutar por um país mais justo, solidário e socialista.

No estado de Santa Catarina, a coordenadora Marta de Lara relembra em sua fala a dificuldade das mulheres mães trabalhadoras, principalmente as mães solo, em garantir uma alimentação saudável para suas crianças. Ela questiona: “Se o Brasil tem uma das terras mais férteis desse mundo, como pode eu ter condições de dar apenas miojo para meus filhos se alimentarem? Isso não é certo.”

Com luta, com garra, a cesta sai na marra!

Em 2023, as famílias do MLB já haviam ocupado os mercados da mesma rede e conquistado a entrega de milhares de cestas básicas. Contudo, nos últimos meses, o Carrefour começou a quebrar o acordo, deixando de entregar alimentos a milhares de trabalhadores pobres. O desrespeito motivou a nova luta de ocupações deste ano, dessa vez com o mote “pátria sem fome”.

Após oito horas de uma negociação nacional entre a direção da rede Carrefour e uma comissão do MLB, as famílias que realizaram as ocupações de mercados saíram novamente vitoriosas. Com sua ousadia e organização, o movimento demonstrou que a luta popular é uma poderosa arma na luta contra a fome.

“Consideramos que tivemos uma grande vitória. Foi a maior vitória do MLB, que foi a conquista de 13.500 cestas básicas em único dia de ocupação de 38 lojas da rede Carrefour”, conclui Kleber Santos.

“Achei que o mundo ia acabar”: relatos de quando São Paulo queimou

0

Na região de Ribeirão Preto (SP), 24 de agosto foi o início do pesadelo de queimadas que afeta boa parte do país. Saindo a campo, o jornal A Verdade colheu relatos sobre os acontecimentos daqueles dias, marcados pelo medo das chamas e pelas brigadas de solidariedade da UP.

Matheus Cândido | Ribeirão Preto (SP)


No dia 24 de agosto, uma espessa nuvem de fumaça tomou conta do interior paulista, especialmente na região de Ribeirão Preto. De acordo com especialistas, ela não se originou unicamente das queimadas no Pantanal e na Amazônia que ardem desde julho. Naquele momento, iniciou-se uma onda de incêndios também nas regiões interioranas de São Paulo.

Foram dias de medo e susto, mas também de muita solidariedade entre os trabalhadores. O jornal A Verdade esteve presente conversando com moradores de alguns bairros e cidades atingidas.

Trabalhadores rurais foram os mais afetados

No assentamento de trabalhadores rurais sem-terra Fazenda da Barra, próximo ao conjunto de bairros conhecido como complexo do Ribeirão Verde, visitamos a casa da dona Nívea, atingida duramente pela queimada. “O fogo veio muito forte, numa velocidade enorme, não tinha como apagar mesmo. O rapaz que estava aqui tentou apagar, mas a borracha que ele pegou queimou e ele saiu correndo”, ela lamenta.

Nívea relata que os trabalhadores rurais da região sofreram grandes perdas materiais por conta das queimadas. “Queimou muita ferramenta, maquinário de moer a palha para os cavalos, até o filtro de água aqui queimou. Morreram alguns animais, uma tartaruga, morreram dois cachorros, foi feio. Eu nunca tinha visto essa cena, foi a primeira vez. O fogo veio com força mesmo, esquentou até aqui perto da casa”, revela.

Outros moradores da Fazenda da Barra relataram diversos problemas, como fiação da rede elétrica danificada e derretimento das mangueiras das casas, interrompendo o abastecimento de água e energia do local. Assentados afirmam que os bombeiros foram até o local com pouca água no carro e não combateram o incêndio, acusando os próprios moradores de terem colocado fogo no terreno ao lado de suas próprias residências.

O testemunho ilustra o caráter excludente e violento do aparato de Estado para com o povo trabalhador e periférico, que acaba abandonado e caluniado pelo poder público em meio a uma grande emergência.

Já no bairro do Cristo Redentor, recebemos o relato de uma moradora chamada Clévia. “No sábado colocaram fogo aqui do lado, e eu já estava com a criança trancada dentro de casa, mas assim que eu vi a fumaça corri para a casa da minha irmã”. Ela continua: “Na sexta-feira o ar já estava muito poluído, então eu já estava trancada dentro de casa. Quando eu vi o fogo, eu vi a fumaça crescendo e começou a entrar fumaça pela porta, a rua aqui já não dava para enxergar nada, não dava para ver casa nenhuma.”

Ainda em outro bairro, a Reserva Macaúba, o jornal A Verdade conversou com “Mineiro”, que trabalha nos arredores. “Na sexta-feira (23/8), eu tava roçando um terreno às 17h30. Eu achei que o mundo estava começando a acabar naquele dia, porque eu puxava a respiração e não achava. Minha filha começou a ligar atrás de mim, então eu corri para casa, que era um quarteirão dali, entrei no chuveiro e tomei um banho de água fria. Você não via casa, nem apartamento, nada. Tampou o mundo de terra e poeira, eu realmente achei que o mundo estava acabando”, relembrou o trabalhador rural.

Dias de fogo e destruição

No domingo (25/8) pela manhã, o jornal A Verdade se encaminhou ao bairro Ribeirão Verde, conhecido em Ribeirão Preto por sofrer frequentemente com queimadas. Nosso jornal já havia recebido inúmeros relatos de fogo, e o cenário encontrado foi de destruição ambiental e grande risco para as famílias trabalhadoras do local e suas residências.

Esse cenário desolador se espalhou por diversas outras áreas do bairro que foram visitados pelos correspondentes do jornal entre o domingo e a quarta-feira (25/8 a 28/8) e também por outras cidades dos arredores.

Em Jardinópolis (SP), na região metropolitana de Ribeirão Preto, Cláudio Garcia, morador da cidade, deu seu depoimento ao jornal A Verdade. “A fumaça foi gigantesca, muito grande. Ficamos trancados dentro de casa por causa dela quase o dia inteiro. Você olhava para o céu e só via aquela nuvem escura de queimada”.

Cláudio conta que, ao se deslocar, viu os incêndios se alastrando por toda a região. “Para vir trabalhar, eu pego um ônibus que passa pela rodovia Anhanguera. Na segunda (26/8), na terça (27/8) e até hoje, quarta-feira (28/8), vi incêndios. Próximo à ponte do Rio Pardo, no sentido de quem vem de Jardinópolis ainda tem lugares pegando fogo”.

Frente a essa ameaça às vidas do povo trabalhador, a Unidade Popular pelo Socialismo (UP) e movimentos sociais aliados organizaram brigadas de solidariedade que levaram água potável (bairros inteiros ficaram sem água por mais de 2 dias), atendimento médico preliminar à população e doações aos mais necessitados. Na ação, também houve resgate de animais silvestres. A maioria daqueles que foram localizados já se encontravam mortos.

Agronegócio tem culpa

As queimadas na região de Ribeirão Preto, assim como em boa parte do interior de São Paulo, não são raridade. Geradas, em sua maior parte, pelo alto número de canaviais e pelo uso criminoso do fogo como forma de manejo do terreno, muitas vezes elas são “normalizadas” pelos meios de comunicação e elites locais.

Nesse sentido, os grandes culpados dos incêndios que se alastram e se espalham por todo o estado tem classe e tem nome: são o agronegócio, o abuso da monocultura da cana-de-açúcar e a busca incessante dos latifundiários pelo aumento de seus lucros, que, como revelam as cenas vistas pelo jornal A Verdade, colocam a vida e a saúde do povo de lado, pouco se importando com os riscos e os danos que podem causar.

Até o momento, mais de 34 mil hectares foram destruídos com essas queimadas. É o equivalente a 34 campos de futebol. O governador fascista do estado de São Paulo, Tarcisio de Freitas, disponibilizou 10 milhões de reais para as propriedades atingidas. Contudo, os critérios vagos indicam que a maior parte desse recursos tendo a ser direcionada para os grandes latifundiários, reis dos canaviais no interior paulista.

Enquanto isso, pouco se fala e faz pela saúde do povo afetado e pelas famílias que tiveram seus entes queridos assassinados pelo fogo do agronegócio. A quem ficou, restou apenas tosse, fuligem e cheiro de queimado.

Existe solução para o problema da terra

Como se o cenário de destruição para os trabalhadores não fosse o suficiente, há também o impacto ambiental das queimadas em Ribeirão Preto, ligado à economia da cana de açúcar, diz o biólogo Vinícius, que faz parte da Unidade Popular na cidade: “Já existem estudos que apontam que o solo da região da nossa região está em processo de desertificação. É um terreno em que praticamente só tem monocultura, mas onde havia antes Mata Atlântica. O bosque da cidade, por exemplo, não foi plantado, é mata nativa.”

“Nossa terra não foi feita para suportar toda essa cana, e a gente sente isso no clima. A cada ano que passa, fica pior e as pessoas desenvolvem mais problemas respiratórios”, continua o biólogo militante.

Em seu programa, a Unidade Popular defende uma “reforma agrária popular”, a “nacionalização da terra e fim do monopólio privado da terra”. Hoje, os pequenos e médios agricultores já produzem 70% dos alimentos que chegam à mesa do povo brasileiros, diz o IBGE – enquanto o agronegócio, como testemunhou o jornal A Verdade, traz morte, destruição, fogo e fumaça.

Somente no socialismo, reivindica a UP, quando o lucro não estiver acima dos interesses coletivos e da saúde, é que será possível combater as práticas criminosas com o fogo, que põem a vida dos trabalhadores e o próprio mundo em risco.

Arlanxeo demite 2 mil trabalhadores e fecha unidade em Pernambuco

Fundada em 1966, a Companhia Pernambucana de Borracha Sintética (COPERBO) possui um histórico na industrialização do país. Vendida ao capital privado internacional, a atual Arlanxeo anunciou de forma arbitrária o fechamento da empresa e a demissão de seus funcionários justificando o lucro. 

Pedro Noah | Cabo de Santo Agostinho – PE


BRASIL – No início do mês de Agosto, a Arlanxeo (antiga Coperbo), anunciou o fechamento de sua unidade no Cabo de Santo Agostinho, município da Região Metropolitana do Recife. A empresa, líder mundial na produção de borracha nitrílica, encontra-se nas mãos do capital internacional da Alemanha e Arábia Saudita.

Além de estar na cidade pernambucana, também possui uma unidade de produção localizada em Duque de Caxias (RJ) e duas em Triunfo (RS). Inaugurada em 1966, a empresa tem uma presença cultural e econômica na cidade, fazendo parte da história de várias gerações de famílias e da industrialização em nosso país. 

O jornal A Verdade conversou com Geraldo Soares, presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias da Borracha em Pernambuco (SindBorracha/PE) para saber a situação da empresa. 

A Verdade – Como se deu o anúncio do fechamento da empresa e como isso vai afetar os trabalhos e a comunidade Cabense? 

Geraldo Soares – Quando a Arlanxeo anunciou o fechamento da unidade, no dia 6 de agosto, o Sindicato tentou negociar para reduzir o impacto que isso traria para os trabalhadores indiretos — que são mais de dois mil; para os 104 trabalhadores próprios; e mais os 400 trabalhadores terceirizados, assim como também para a população cabense.

O capital impôs uma migalha para justificar o fechamento da empresa, mas dinheiro não falta porque a proprietária é a Saudi Aramco que, nesse segundo semestre de 2024, já teve um lucro líquido de 29 milhões de dólares. Ou seja, o capital massacrou os trabalhadores durante 58 anos, porque essa é a idade da empresa, e, ao final, nos massacra ainda mais nos fazendo perder o emprego.

Qual foi a justificativa da Arlanxeo?

A principal justificativa é de que a empresa não está dando rentabilidade e que eles vão produzir em outro lugar com o lucro mais alto. Ou seja, nenhuma preocupação com o trabalhador, nem com a sociedade em geral, nem com o Estado porque se apoderaram de incentivos fiscais e agora vão embora e deixam a sucata para o Estado cuidar.

Como essa “justificativa” chegou aos trabalhadores? 

A fábrica é rentável, dá lucro, mas não é tão alto quanto eles querem. Essa empresa sempre deu lucro. Borracha sintética é muito cara e a gente tem capacidade de produzir 120 mil toneladas por ano. Quando ainda era a Coperbo, sempre teve lucro, mas o lucro que eles querem é ainda mais alto do que se atinge atualmente.

A empresa fecha esta unidade, mas ainda mantém as atividades no Brasil?

Sim, ela tem atividade em Duque de Caxias no Rio de Janeiro e em Triunfo no Rio Grande do Sul. E no Rio Grande do Sul, a empresa montou uma unidade em 2013 e inaugurou outra em 2023. O que nós produzimos aqui ela vai produzir no Rio Grande do Sul. Segundo a empresa, lá as condições estão mais próximas do mercado consumidor e o lucro é maior do que aqui.

Existem algumas ameaças ambientais que o fechamento da fábrica pode trazer para a nossa cidade caso não haja um cuidado desses produtos. Há alguma garantia por parte da empresa com essa questão? 

Os riscos são principalmente para os moradores do Cabo de Santo Agostinho. A gente tem milhões de litros de solvente, catalisador e todo tipo de produto armazenado aqui. E a gente queria discutir. Tentamos com a Companhia Pernambucana de Meio Ambiente (CPRH) e com o Ministério do Trabalho. Tem a questão da segurança industrial no Ministério do Trabalho, porque a quantidade de produto é muito grande e a quantidade de trabalhadores que ficaram para fazer a parada de produção é pouca. Paramos de produzir, mas ainda temos que descontaminar a área e todos os equipamentos.

A empresa deixou um número de trabalhadores muito reduzido: quatro por turno. Mas deveriam ser, no mínimo, vinte trabalhadores, porque o risco para descontaminar a planta é muito grande. O risco ambiental ainda é muito grande. E a gente não sabe para onde vão levar os milhões de litros de solventes que sobraram, porque não podem ficar aqui. Tem que ir para outra indústria para ser reciclado e usado novamente. Mesmo que não seja para a produção de borracha, mas tem que estar em uma indústria que refrigere o material e faça com que ele fique em circulação. Esses produtos não podem ficar dentro de um tanque porque podem aquecer e explodir. 

Quais os principais encaminhamentos do SindBorracha neste momento?

A gente vai continuar com as Assembleias e com as questões jurídicas. Agora principalmente no campo jurídico nas instituições. Temos reuniões agendadas do CPRH e no Ministério do Trabalho e estamos procurando conversar com alguns parlamentares para tentar amenizar o impacto que causou e que ainda vai causar com o fechamento da Arlanxeo.

Regulamentar as redes é enfrentar os monopólios digitais e combater o fascismo

0

Bilionários como Elon Musk e Mark Zuckerberg querem que as redes digitais sob seu controle sirvam de veículos da propaganda fascista. Garantir a verdadeira “liberdade de expressão” do povo é regulamentar essas poderosas redes privadas, e não deixá-las agir impunemente.

Nayara Cordeiro | Campina Grande (PB)


BRASIL – A recente suspensão da rede digital Twitter (também conhecido como X) no Brasil, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), expôs novamente a urgente necessidade de regulamentação das redes e do fim dos monopólios digitais imperialistas que têm servido como veículos de propaganda fascista. As ações de Elon Musk contra a soberania nacional brasileira são apenas um exemplo do poder descontrolado e irresponsável que esses gigantes tecnológicos exercem sobre a informação, a comunicação e a democracia em escala global.

Elon Musk, Mark Zuckerberg e outros bilionários controlam boa parte da infraestrutura das redes digitais, utilizando essas plataformas não apenas para lucrar, mas também para propagar desinformação, discursos de ódio e ideologias fascistas que ameaçam a democracia, mesmo que burguesa e limitada. A decisão do STF de suspender o Twitter após o não-cumprimento de ordens judiciais é um primeiro passo importante para avançar na necessidade de responsabilizar essas empresas que, até então, atuavam acima das leis nacionais.

No Brasil, as redes digitais se tornaram um terreno fértil para a proliferação de notícias falsas, manipulação de eleições e amplificação de discursos de ódio, que alimentam o avanço do fascismo. Esse cenário não é acidental, mas parte de um modelo de negócios que prioriza o lucro acima de tudo. O PL 2630, conhecido como PL das Fake News, é uma tentativa de regular essa área, buscando estabelecer um mínimo de responsabilidade para essas empresas.

Regulamentar as redes não é “censura”, como argumentam os defensores dessas plataformas. Ela é um instrumento para garantir que a comunicação digital não seja uma terra sem lei, onde quem tem muito dinheiro pode impulsionar discursos contra a democracia e a justiça social da forma que quiser. Até mesmo grandes economias capitalistas da Europa como Suécia, Inglaterra, França e Alemanha já possuem regulações robustas que buscam fazer frente ao poder dos monopólios digitais.

Essas medidas representam um pequeno avanço na tentativa de desmantelar o poder desproporcional que esses conglomerados digitais imperialistas têm sobre a sociedade. A regulamentação das redes sociais serve para proteger os usuários. Medidas mais efetivas constituem o incentivo às rádios comunitárias, jornais populares e outros meios de comunicação que sejam construídos coletivamente pelos trabalhadores, que estimulem a produção local de conteúdo.

Por exemplo, o programa da Unidade Popular (UP), defende em seu primeiro ponto o “controle social de todos os monopólios e consórcios capitalistas nos setores estratégicos da economia”. Além disso, o 10º e o 11º ponto do documento, levantam as bandeiras da “democratização dos meios de comunicação, com a socialização de todos os grandes canais de televisão, jornais e rádios” e da “ampla liberdade de expressão e organização para os trabalhadores e o povo”.

A queda do X/Twitter no Brasil é um sinal de que é possível combater o poder abusivo desses monopólios digitais. Além de regulamentar as redes, é hora de avançar com medidas mais incisivas que retirem das mãos de bilionários fascistas o controle sobre o que vemos, ouvimos e compartilhamos. Somente com a regulamentação e a queda desses monopólios poderemos construir uma internet que sirva aos interesses do povo, e não ao lucro de poucos.

MLB ocupa mercados de todo o país em Jornada Nacional de Luta Contra a Fome

Em trinta cidades do país, as famílias do MLB estão promovendo a ocupação de mercados da rede Carrefour. Como uma ação da Jornada Nacional de Luta Contra a Fome, o MLB defende que o mercado entregue cestas básicas para enfrentar a insegurança alimentar de mais de 65 milhões de brasileiros.

Guilherme Arruda | Redação SP


Na manhã de sábado (7/9), sob o lema “Pátria sem fome”, supermercados da rede Carrefour em trinta cidades do país foram ocupados por milhares de famílias organizadas com o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).

O MLB é um movimento nacional de luta pela reforma urbana que existe desde 1999 e atua em mais de vinte estados do país.

De acordo com a comissão nacional de negociação, a principal reivindicação é a entrega de 36 mil cestas básicas, com 12 mil distribuídas nos próximos três meses. Esse número corresponde às 12 mil famílias organizadas pelo movimento que atualmente vivem em situação de fome e insegurança alimentar.

Atualmente, segundo o IBGE, mais de 64 milhões de brasileiros estão em insegurança alimentar, não tendo certeza do que vão comer nos próximos dias. Desses, 8,7 milhões vivem a fome grave, não tendo o que comer.

A ocupação dos mercados faz parte da Jornada Nacional de Luta Contra a Fome, organizada todos os anos pelo MLB há mais de 20 anos. O movimento defende que só a organização do povo para a luta é que pode acabar com a fome e a miséria no país.

Empresas lucram com a fome

Como destacado na edição n° 298 do jornal A Verdade, mais de 90% dos alimentos consumidos no Brasil são vendidos em supermercados. No ano passado, as empresas monopolistas que controlam os mercados do país, como o Grupo Carrefour (que é dono da rede Atacadão, que foi ocupada) e o Grupo Pão de Açúcar, tiveram juntas mais de 1 trilhão de reais de faturamento, segundo a própria Associação Brasileiro de Supermercados (Abras).

Além disso, estudos apontam que 27 milhões de toneladas de alimentos são descartados por ano no Brasil sem serem consumidos, principalmente pelas redes de supermercados e restaurantes. O alto preço dos alimentos, imposto pelos donos dos mercados, dificulta que as pessoas comprem a comida de que precisam para sobreviver.

Por essas razões, o MLB defende que é preciso questionar porque essas empresas bilionárias não contribuem com a luta contra a fome no Brasil. As ocupações dos mercados servem como uma forma de chamar a atenção para a necessidade urgente de mais ações para impedir que milhões de brasileiros não tenham o que comer.

O movimento também ocupa para demonstrar a ligação do cenário de fome com o sistema capitalista e a política dos ricos. Em 2023, as lojas do grupo Carrefour foram ocupadas para denunciar que a rede francesa doou alimentos para o Exército de Israel, que comete um genocídio contra o povo palestino na Faixa de Gaza, enquanto cerca de 75 milhões de brasileiros viviam em insegurança alimentar.

“O Carrefour, que é dono do Atacadão, é uma rede muito rica, trilionária, mas que não é daqui. Lá fora, eles ajudam a sustentar um exército para destruir Gaza. Não é certo que crianças e mulheres estejam morrendo de fome aqui e lá e a gente sabe que a rede Carrefour está fazendo parte disso”, diz Nadja Barreto, do MLB de Jaboatão dos Guararapes (PE).

Neste 7 de setembro, a direita fascista ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro está promovendo atos anti-democráticos e anti-povo no país. Durante a desastrosa presidência de Bolsonaro, a fome chegou a afetar mais de 100 milhões de brasileiros. A Jornada Nacional Contra a Fome do MLB também é uma denúncia do papel criminoso dos fascistas na disseminação da fome no país.

Atualmente, o Brasil é o maior produtor de alimentos do mundo. Mesmo assim, milhões de trabalhadores vivem a humilhante situação de não ter comida para pôr no prato de seus filhos. Na visão do MLB, os latifundiários do agronegócio é que decidem vender para o exterior a maior parte dessa comida, e o que sobra, encontramos a altíssimos preços nos mercados do país.

Enquanto resistem e cantam palavras de ordem contra a fome, as famílias do MLB afirmam que não vão encerrar as ocupações por todo o país até que os supermercados se abram para negociar a entrega das cestas básicas pedidas.

“A nossa luta é justa,  porque o povo não pode seguir passando fome sem que ninguém faça nada. Nosso salário não dá pra comida e aluguel tão caros”, diz Iranir, moradora da Zona Sul de São Paulo e membro do MLB que está participando da ocupação de um Atacadão na capital paulista.

A coordenação do movimento afirmou que as ocupações continuarão até que as negociações sejam concluídas.

Privatização da Deso vai precarizar serviço de saneamento em Sergipe

No dia 4 de setembro, o governador de Sergipe, Fábio Mitidieri (PSD), vendeu a companhia de saneamento do estado na Bolsa de Valores de São Paulo. Trabalhadores denunciam que privatização da Deso precarizará os serviços de água e esgoto para o povo

Redação SE


No último dia 4 de setembro, em um leilão na Bolsa de Valores de São Paulo, o governador de Sergipe, Fábio Mitidieri (PSD), leiloou a Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso), que oferece serviços de água e esgoto no estado. A venda foi feita para a Iguá Saneamento, que arrematou a empresa pública por R$4,5 bilhões. O valor está muito abaixo do lucro que a empresa já deu ao estado, tendo em vista que somente em 2022 a Deso fechou o ano com um superávit de mais de R$40 milhões.

Em uma verdadeira festa contra o povo sergipano, reunidos na Bolsa de Valores estavam o governador, o prefeito de Aracaju Edvaldo Nogueira (PDT), os senadores Laércio Oliveira (PP) e Alessandro Vieira (MDB). Todos comemorando a vitória do seu projeto privatista.

O que significará essa privatização para o povo sergipano?

De maneira mais objetiva, o governador vendeu os serviço mais baratos e lucrativos para o setor privado, que são a distribuição da água, o tratamento de esgoto e o faturamento. Os demais serviços, como captação, transporte e tratamento de água continuarão com a Deso.

A venda do serviço de faturamento significa que a empresa privatizada poderá regular o preço das contas de água e esgoto. Em diversos estados brasileiros, já se comprovou que isso se traduz em um aumento significativo das tarifas. Na região metropolitana de Maceió, estado vizinho, a BRK Ambiental, empresa privada, cobra uma tarifa de R$ 126,00 por 10m³ de água com taxa de 100% de esgoto. Já em Sergipe, a Deso, empresa pública, cobra hoje R$ 75,33 com 80% de taxa de esgoto, preço bem menor.

Para o povo sergipano, que segundo dados da PNAD Contínua tem a quinta maior taxa de desemprego do Brasil, essa mudança representará um peso ainda maior no bolso mensalmente. Além disso, as empresas privadas não têm interesse em manter a distribuição de água e tratamento de esgoto para regiões que não são lucrativas, como as pequenas cidades do estado.

Outro exemplo do que pode acontecer vem de Tocantins: nesse estado, o governo privatizou em 1998 o saneamento dos 139 municípios do estado à empresa BRK Ambiental, do grupo Odebrecht. Porém, em 2010, o modelo fracassou e os empresários devolveram ao Estado a concessão de 78 municípios que não davam retorno financeiro. O caso demonstra a verdadeira face do capital, que tem como único objetivo o lucro, mesmo que isso signifique precarizar a vida de milhares de pessoas com a falta de saneamento, questão fundamental para a saúde pública.

Trabalhadores questionam a venda

Em entrevista ao jornal A Verdade, Aécio Ferreira, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto de Sergipe (SINDISAN), disse: “Com a privatização da Deso, os trabalhadores sofrerão com o risco de perderem seus empregos. Se a nova Deso, que será responsável pela captação e tratamento da água, não apresentar viabilidade econômica e financeira, certamente ocorrerá um processo de demissões”.

Isso se dá porque a parte sobre a qual a Deso continuará atuando é a parte mais custosa do serviço, tendo em vista os altos custos com energia e produtos químicos para captação e tratamento da água.

Em nota, o SINDISAN afirmou:

“Hoje é um dia nefasto para os trabalhadores e trabalhadoras em saneamento de Sergipe e, também, para a população sergipana, especialmente a parcela mais carente e vulnerável socialmente, a parte que será mais afetada com esse entreguismo deliberado do atual governo, que, diante da sua incompetência administrativa, em lugar de trabalhar para melhorar a oferta e os serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, estratégicos para o desenvolvimento do Estado, preferiu o caminho mas fácil da privatização, de olho apenas nas gordas cifras da outorga que entrarão nos cofres do governo e das prefeituras, para gasto ao bel prazer dos mandatários de plantão, numa grande farra que está por vir… Um verdadeiro butim.”

O caminho que se tem pela frente é da construção de uma ampla mobilização popular para mostrar a população sergipana que a privatização da Deso é um crime contra o povo trabalhador. Nesse sentido, o jornal A Verdade sempre será voz ativa na denúncia das privatizações e de toda a lógica do capital que ataca os direitos do povo para aumentar sua taxa de lucro e exploração.

 

CARTA | Por um jornal e um partido cada vez mais fortes

0

O crescimento do trabalho do jornal A Verdade é um caminho seguro para o fortalecimento do partido e dos movimentos sociais. Em carta, brigadista conta: a atenção com a realização das brigadas, a escrita de matérias e o apoio ao desenvolvimento dos camaradas já trouxe frutos em várias regiões

Ignis Medina | Fortaleza (CE)


Não é novidade alguma a importância que os bolcheviques deram ao jornal de partido e o poder organizativo que esse instrumento trouxe à experiência soviética. Dito isso, é preciso que olhemos ao nosso redor e analisemos: fazemos o suficiente para construir um jornal e um partido leninista, camaradas?

“Mas o que se pretende com isso?”, o leitor pode pensar. Quando pensamos o papel do Pravda na revolução bolchevique, vemos que ele foi crucial de tal maneira que as próprias massas trabalhadoras ajudaram com a estruturação do jornal, conquistou-se uma enorme demanda do povo pela leitura de suas matérias e sua tiragem chegou à periodicidade semanal. Isso tudo em plena repressão czarista.

A realidade do Brasil exige um jornal de igual estatura, se não melhor. Em nosso país, trabalhamos cada vez mais, as leis trabalhistas estão sendo destruídas, as terceirizações são crescentes, a escala 6 por 1 é uma realidade corriqueira do nosso povo, quase 30% dos lares brasileiros enfrentam algum tipo de “insegurança alimentar” — nome burocrático para fome –, a cada poucos segundos uma mulher sofre algum tipo de violência, somos o país que mais mata pessoas trans no mundo por anos consecutivos e vemos uma crescente população em situação de rua todos os dias ao sairmos de casa.

O capitalismo brasileiro e mundial está em crise, e o nosso povo sente isso das formas mais profundas e brutais. É por isso, camaradas, que a Unidade Popular cresce em ritmo tão acelerado. Cada vez mais perde-se a esperança nesse sistema. Mas é tarefa do jornal A Verdade, construído por nós, de mostrar que há esperança e que há outro sistema, que será feito pelo próprio povos brasileiro: o socialismo.

O que os bolcheviques fizeram seria impossível sem a disciplina proletária. Em nosso caso, nada mais que justo que nossa ação siga a mesma linha para que alcancemos, por consequência, o mesmo resultado. Como vai a organização com nossas brigadas, nossa cotização e prestação de contas? Ela está organizada em cada cidade e cada estado que constrói o partido? Se não, vamos garantir uma análise, uma crítica e um planejamento para implementar uma organização de fato leninista.

Esse exemplo já é alcançado pela nossa militância em diversos lugares pelo país. Em Santa Catarina, a forte agitação feita pelos brigadistas do jornal A Verdade conseguiu mobilizar uma greve dos operários do setor pesqueiro, trabalho construído pelo Movimento Luta de Classes (MLC) e pela Unidade Popular (UP) em Itajaí. Há também o exemplo do Ceará, que realizou a maior brigada da sua história, vendendo 384 jornais nos locais de trabalho da União da Juventude Rebelião (UJR), mas que hoje tem dificuldade de mobilizar o mesmo número de vendas de jornal. Essas experiências provam que conseguimos desempenhar ótimos trabalhos quando damos mais atenção ao jornal.

É, mais do que nunca, necessário que o povo brasileiro quebre suas correntes, revolucione seu país e construa uma realidade de verdadeira liberdade. Ainda assim, a disciplina é uma das principais questões que impedem e atrasam o trabalho revolucionário. Não entendemos a pressa da corrida pelo mundo que ocorre a cada momento, com notícias à cada semana sobre a emergência climática que o mundo vive, as más condições que os trabalhadores passam, a fome, a morte, a guerra.

Ainda assim, disputamos essa batalha ideológica contra o individualismo e o comportamento liberal que nos é vendido cotidianamente pelo capitalismo. É, mais do que nunca, essencial que tomemos como exemplo os camaradas Che, Lênin, Manoel Aleixo, Manoel Lisboa e tantos outros que construíram sua disciplina com muita perseverança e, acima de tudo, muito amor ao povo.

Cada um de nós deve se ver como um representante do jornal em nosso bairro ou nossa cidade e como um agente político capaz de fazer denúncias e escrever sobre sua realidade local justamente por ser um morador. A tarefa e prática de escrever matérias não pode ficar para um ou outro camarada, mas sim ser compartilhada entre cada estudante, trabalhador, mulher, lutador dos bairros, todos nós! Quando deixamos de escrever, além de renegarmos a prática de uma atividade essencial dos comunistas, causamos sobrecargas a outros militantes. Ou seja, também é uma questão de disciplina e de nosso convencimento ideológico quando escrevemos ou não uma matéria.

Se vemos a venda do jornal como um termômetro do avanço dos revolucionários em nosso país, a participação nas brigadas também pode ser avaliada assim. Quantos filiados temos, em comparação com a participação nas brigadas? Um exemplo: às vezes, uma região tem trinta filiados, mas dez aparecem para a atividade. Nos animamos, já que dez pessoas participaram da brigada, mas esquecemos que vinte ainda não estão ganhas para nossas mobilizações.

Apesar disso, a responsabilidade de incentivar o aprofundamento da relação com o nosso jornal jamais pode ser individual. Sendo assim, é preciso que os núcleos da Unidade Popular e dos movimentos sociais manifestem a importância desse trabalho, parabenizando os camaradas que conseguirem desempenhá-lo bem e apoiando os que precisam de mais orientação. Devemos criar atividades que energizem a militância de base a participar mais da construção do A Verdade.

É com exemplos assim que poderemos começar a entender melhor a potência que o jornal tem em nossa mobilização e organização cotidiana. Com uma imprensa socialista mais forte, nosso partido alça vôo, levando com ele o Brasil para a revolução.