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domingo, 7 de setembro de 2025
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UP defende estatização e gratuidade no transporte coletivo

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Trabalhadores chegam a gastar mais de 15% do salário mínimo apenas com passagens de transporte coletivo no Brasil. O atual modelo privatizado do transporte é dominado por monopólios e corrupção.

Rafaela Carvalho | São Paulo – SP


BRASIL – O altíssimo custo das tarifas de transporte coletivo é mais uma forma de exploração dos trabalhadores. Cerca de 60% dos trabalhadores brasileiros recebem, no máximo, um salário-mínimo (R$ 1.412,00). Assim, considerando que o valor médio da passagem em grandes centros urbanos gira em torno de R$ 5,00, um trabalhador que utiliza o transporte coletivo duas vezes por dia, cinco vezes por semana, gasta aproximadamente R$ 200,00 por mês apenas com transporte. Isso representa 15% ou mais do seu salário. Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, onde é comum precisar de dois ou até três conduções, o custo mensal pode ultrapassar 30% do salário-mínimo. 

Essa despesa significativa reduz ainda mais o poder de compra dos trabalhadores, que já enfrentam os impactos da inflação e da reforma trabalhista, que precarizou as condições de trabalho e retirou direitos. A situação força muitos a escolherem entre se alimentar adequadamente ou garantir seu transporte diário. Dito de outra forma, ao exorbitante preço das passagens retira o pão da mesa da família trabalhadora.

A falta de qualidade no transporte coletivo é um dos aspectos mais cruéis da exploração diária enfrentada pelos trabalhadores. Em muitas cidades brasileiras, os ônibus, trens e metrôs estão constantemente abarrotados, obrigando os trabalhadores a se espremerem nos veículos, onde a falta de ventilação, higiene e conforto se torna uma regra. Essa situação reflete a desvalorização da classe trabalhadora, que é tratada como mera engrenagem de um sistema que só visa a aumentar os lucros dos capitalistas à custa da dignidade e da vida humana.

Além disso, a precariedade do transporte coletivo impõe aos trabalhadores uma quantidade excessiva de horas-extras não contabilizadas, passadas em grandes deslocamentos. Muitos trabalhadores passam de duas a quatro horas diárias em trajetos para ir e voltar ao trabalho, somando, ao final de uma semana, um turno extra de trabalho apenas em deslocamento. Esse tempo, que deveria ser dedicado ao descanso, ao convívio familiar ou ao lazer, é perdido em meio a congestionamentos e paradas lotadas.

A consequência direta desse desgaste é a fadiga física e mental. Com jornadas de trabalho que já consomem grande parte do dia, o tempo restante para recuperar as energias se reduz drasticamente, gerando um ciclo de cansaço crônico. A falta de sono de qualidade, por exemplo, está associada a uma série de problemas de saúde, incluindo doenças cardíacas, hipertensão, diabetes e problemas mentais, como ansiedade e depressão.

A sobrecarga física e mental causada pelas longas jornadas de transporte, combinada com a precariedade das condições dos veículos, contribui para o desenvolvimento de doenças ocupacionais. Problemas de coluna, devido à má postura e à permanência em pé por longos períodos, problemas respiratórios causados pela poluição e pela falta de ventilação, e o aumento do estresse, que agrava outros problemas de saúde, são alguns dos graves males que afetam em massa a classe trabalhadora atualmente.

Esse cenário mostra como o Estado e os patrões negam aos trabalhadores as necessidades mais básicas, tratando o transporte coletivo não como um direito, mas como um fardo imposto ao conjunto da classe trabalhadora. A precariedade no transporte coletivo é, portanto, uma forma de violência cotidiana, que agrava a desigualdade e a exploração.

Concessões bilionárias

Em geral, o sistema de transporte coletivo opera através de contratos de concessão com empresas privadas, os quais são renovados ou renegociados periodicamente. No entanto, esse modelo é marcado pelo monopólio de meia-dúzia de empresas e pela falta de transparência nos contratos e na estrutura de custos das empresas. Embora os valores dos subsídios públicos destinados às empresas sejam conhecidos, os dados específicos sobre os lucros das empresas frequentemente permanecem inacessíveis ao público.

Exemplo disso, a Prefeitura de São Paulo destina bilhões de reais anualmente em subsídios para o sistema de ônibus. Conforme o relatório integrado de administração da SPTrans, os subsídios tarifários aumentaram 8,4%, de 2022 para 2023, subindo de R$ 5,2 bilhões para R$ 5,6 bilhões (SP Urbanuss). Apesar desse aumento no gasto público, as empresas contratadas não enfrentam cobranças significativas para melhorar a qualidade do transporte, provando que não há controle efetivo sobre a prestação de serviços no setor de transporte coletivo.

Em abril deste ano, o portal G1 divulgou um grande esquema de lavagem de dinheiro envolvendo empresas do transporte coletivo de São Paulo. Apenas uma delas, a Transwolff, tem 1.206 veículos e, de 2015 até o ano passado, recebeu mais de R$ 5 bilhões da Prefeitura.

O transporte coletivo deve ser estatizado como uma medida essencial para garantir que ele atenda às necessidades da classe trabalhadora, em vez de servir aos interesses dos capitalistas. A privatização do sistema de transporte resulta em contratos cheios de irregularidades, corrupção e desvio de recursos públicos. Essas irregularidades não só drenam os cofres públicos, mas também impõem tarifas altas e serviços precários à população.

A estatização permitiria que o transporte fosse gerido com foco no bem-estar do povo, garantindo acesso universal e a aplicação de recursos em melhorias efetivas, sem os intermediários (empresas capitalistas) que buscam apenas seus ganhos. Cancelar contratos privados e reverter a gestão do transporte do atual modelo privado para o modelo de empresas públicas, com controle popular, é uma forma de assegurar que esse serviço essencial seja operado de maneira justa, eficiente e em benefício da sociedade, não de uma elite econômica.

Unidade Popular

O partido Unidade Popular (UP) defende uma estratégia de luta e organização da classe trabalhadora e da juventude para conquistar mudanças profundas no sistema de transporte coletivo. Inclusive, tem apresentado essa plataforma, por meio de duas candidaturas, na atual campanha eleitoral em todo o Brasil:

  1. Reestatização e controle pelos trabalhadores: a estatização deve ir, na prática, além de simplesmente transferir o controle do serviço para o Estado. O transporte coletivo deve ser gerido democraticamente pelos próprios trabalhadores, garantindo que as decisões sejam tomadas em prol das necessidades da classe trabalhadora, e não de uma burocracia estatal ou de interesses privados.
  2. Cancelamento de contratos e criação de empresas públicas: para resolver as irregularidades e a corrupção nos contratos de transporte, defendemos o cancelamento imediato desses contratos e a substituição das empresas privadas por empresas públicas, sob controle operário.
  3. Redução imediata das tarifas e passagens gratuitas: a redução imediata das tarifas é fundamental para aliviar a carga sobre os trabalhadores, que já enfrentam uma exploração intensa através do trabalho e dos baixos salários. Em seguida, com a estruturação das empresas públicas, as passagens devem ser gratuitas para todos os trabalhadores e os estudantes, garantindo um alívio na renda das famílias pobres e melhorando suas condições de vida. 
  4. Investimentos massivos em infraestrutura de transporte: um grande aumento de investimentos em infraestrutura de transporte público também é necessário. Esses investimentos visariam à expansão e modernização do sistema, com aumento e renovação da frota de ônibus, assim como mais interligações entre os diversos modais: ônibus, metrôs, trens e bicicletas. Isso reduzirá drasticamente o tempo de locomoção, garantindo qualidade, segurança e saúde para os usuários.

Familiares de estudantes assassinados pela ditadura recebem diplomas na USP

A diplomação, além de homenagear estudantes da Universidade de São Paulo (USP) mortos pela ditadura militar fascista, representa a luta contínua por memória, verdade e justiça.

Lucas Simião | São Paulo – SP


MEMÓRIA – No dia 26 de agosto, as famílias de 15 estudantes da Universidade de São Paulo (USP), assassinados pela ditadura militar fascista, receberam os diplomas de seus entes. A cerimônia, realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH/USP), faz parte do projeto “Diplomação da Resistência”, que luta para conceder reconhecimento e diplomas a 31 estudantes assassinados pela repressão.

O evento, organizado por entidades estudantis (CAs e DCE), familiares e pela própria Faculdade, aconteceu no prédio de História e Geografia, onde foram homenageados estudantes dos cursos de História, Ciências Sociais, Letras e Filosofia. Membros dos Centros Acadêmicos entregaram os diplomas aos familiares dos estudantes.

Entre os homenageados estava Helenira Resende, uma corajosa lutadora que dedicou sua vida à emancipação das mulheres e à luta de classes. Yara Narazeth de Souto Santos, sobrinha-neta de Helenira, destacou a importância da luta de sua tia-avó na conquista de direitos e pela democracia: “Helenira mostrou que, sim, aquele espaço pertencia a ela; se fez presente na UNE, no partido, no combate à ditadura. Sua luta abriu caminho para que, hoje, novos espaços possam ser ocupados por mulheres negras”.

Já no dia 28, na Faculdade de Medicina (FMUSP), ocorreu a diplomação de Antônio Carlos Nogueira Cabral e Gelson Reicher, militantes da ALN. Está marcada também uma cerimônia de diplomação na Faculdade de Psicologia (IP/USP) para o dia 30/10. Em dezembro de 2023, no Instituto de Geociências (IGC/USP), houve a diplomação de Ronaldo Queiroz e Alexandre Vannucchi Leme, cujo nome batiza o DCE Livre da Universidade.

Memória, Verdade e Justiça

A luta dos familiares, dos movimentos sociais e do movimento estudantil na busca por justiça foi e continua sendo incansável. O processo de reparação ainda está inacabado, e a diplomação representa um momento histórico e crucial na luta por memória, verdade e justiça. Foram necessários 60 anos desde o golpe, e 30 anos desde o fim da ditadura, para que estudantes perseguidos, torturados e assassinados por lutarem contra esse regime cruel, que levou nosso povo à fome, à miséria e à morte, fossem reconhecidos e homenageados por sua faculdade.

“Ainda sofremos com os resquícios da ditadura militar. Um dos compromissos que precisamos assumir ao sair desta sala é lutar para que os militares da ditadura e seus cúmplices de hoje, como Bolsonaro e Tarcísio, sejam punidos pelos crimes e torturas que cometeram e continuam a cometer contra o nosso povo. A falta de punição a esses assassinos dá aval para que a Polícia Militar continue entrando em nossas casas e nos assassinando a tiros, como fizeram no Rio de Janeiro, onde invadiram a casa de João Pedro e dispararam mais de 70 tiros. Mataram um jovem de 14 anos e foram anistiados”, afirma Dany Oliveira, diretora do DCE Livre da USP. E continua: “Eles fazem isso porque têm certeza de que sairão impunes, mas nós vamos construir as condições para que essa Polícia assassina, os torturadores de ontem e de hoje, sejam verdadeiramente punidos por seus crimes contra o nosso povo, contra a juventude”.

A verdade é que a impunidade concedida aos golpistas e torturadores durante o processo de redemocratização gerou um ciclo de violência e impunidade que perdura até os dias de hoje. Por isso, a luta por justiça e reparação é tão importante.

Organizações políticas se mobilizam contra a cassação do deputado socialista Glauber Braga

Glauber Braga (PSOL-RJ) está ameaçado de ser cassado por um processo aberto depois de movimentações de aliados do presidente da Câmara Arthur Lira. Nesta semana, o Conselho de Ética aprovou a abertura do processo que pode levar a cassação do deputado socialista.

Redação


BRASIL – Durante a última quarta-feira (11/09), a maioria dos deputados que compõem o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados aprovaram a abertura do processo disciplinar que pode levar à cassação do deputado socialista Glauber Braga. Braga está sendo acusado de “quebrar o decoro parlamentar” por ter se defendido de uma agressão fascista realizada por um membro do Movimento Brasil Livre nas dependências do parlamento.

Desde pelo menos o ano passado, o deputado do Rio de Janeiro vem sendo perseguido por gangues fascistas durante suas rodas de conversa no Largo da Carioca, centro da capital fluminense. As agressões foram aumentando de tom até que a própria mãe do deputado, que estava doente na época, foi ameaçada pela gangue fascista em abril deste ano. Algumas semanas depois a mãe de Glauber veio a falecer vítima de Alzheimer.

Glauber é um parlamentar reconhecido por denunciar os crimes dos chefes do Centrão e do fascismo na Câmara. Nas últimas legislaturas vem se consolidando como um dos mandatos mais combativos no parlamento brasileiro. Uma das principais lutas nos últimos anos tocadas pelo parlamentar foi o enfrentamento aos projetos de privatizações, onde o deputado abriu as portas para que os trabalhadores vítimas das privatizações pudesse se mobilizar dentro da Câmara.

Ato em defesa do mandato de Glauber convocado no Rio

O processo no Conselho de Ética, segundo Glauber, tem forte interferência do presidente da Câmara, o latifundiário e chefe do Centrão Arthur Lira (PP-AL).

“Essa é uma batalha que vai ser dura nos próximos dias. Não vamos dar um passo atrás, vamos continuar com nossa linha política, mostrando que aconteceu, e mostrando que acontece uma perseguição objetiva articulada pelo senhor Arthur Lira.”, afirmou o deputado após a sessão aos trabalhadores que se mobilizaram em defesa do seu mandato.

A situação do parlamentar levou a entidades sindicais, estudantis, partidos e organizações políticas, além de movimentos sociais, convocarem um ato em apoio a Glauber e contra a cassação do mandato. Em 2022, Glauber foi eleito com mais de 70 mil votos do povo do Rio.

O ato ocorrerá na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio, no próximo dia 19/09, às 18h.

Os que convocam a manifestação ressaltam a necessidade de se defender um mandato eleito legitimamente e que está em risco por conta da sede de poder do Centrão e do fascismo. Inclusive, o mesmo Conselho de Ética que acusa Glauber hoje arquivou dezenas de processos contra deputados que defenderam na tribuna da Câmara a Ditadura Militar Fascista ou que estiveram envolvidos em esquemas de corrupção.

O próprio relator do processo, o deputado Paulo Magalhães (PSD-BA) que defendeu a abertura do processo contra Glauber Braga, se absteve na votação da abertura do processo de cassação de Chiquinho Brazão, deputado acusado de ter mandado assassinar Marielle Franco e ter envolvimento com as milícias do Rio de Janeiro.

Ou seja, os acusadores de Glauber sempre que podem se colocam ao lado dos interesses do fascismo. Mas para um deputado socialista nem sequer o direito de se defender de uma perseguição de uma gangue de direita é dado.

Independência do Brasil: lutas e mitos

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Revoltas como a Inconfidência Mineira, Conjuração Baiana e Revolução Pernambucana são exemplos de lutas contra a opressão econômica e política, revelando as contradições de classe.

Natanael Sarmento | Direção Nacional da UP


HISTÓRIA – As classes dominantes do Brasil, desde a origem, são atreladas aos impérios exploradores (Portugal, Inglaterra e depois EUA). O sentimento “nativista” de pertencimento e patriotismo dessa elite é a retórica ideológica de ocultação dos interesses econômicos desses exploradores da nação e alienadores do país. Por trinta moedas, entregam as riquezas naturais e minerais da nação e exploram a maioria do povo brasileiro. O passado entreguista colonial morto é um espectro que atormenta os vivos do presente. Essa histórica intercessão de interesses da burguesia nacional e estrangeira gera as contradições e define o caráter da revolução dos dias atuais, para expressar interesses da maioria do povo brasileiro: revolução popular, proletária, socialista, anticapitalista e anti-imperialista.

A base econômica da colonização portuguesa é a exploração de riquezas minerais, a degradação ambiental, a produção agrária em grandes propriedades territoriais com a força do trabalho escravo, comércio voltado para exportação, sob o sinete da Metrópole. Nos conflitos primários de indígenas e usurpadores de suas terras, negros escravizados e camponeses pobres contra grandes proprietários, colecionamos exemplos de lutas épicas: Confederação dos Tamoios, Quilombo dos Palmares e Canudos, porém, ao cabo, todos foram sufocados e trucidados pelas classes dominantes.

O espaço da “política” reduzia-se a conflitos de interesses dos abastados. Nem sempre resolvidos pacificamente. Senhores da Colônia e da Metrópole lusitana possuíam interesses comuns, mas também conflitantes. Os de lá, em importar com preço mais baixo e sobretaxar os impostos para custear a Corte Metropolitana. Os de cá, exportadores, buscavam preços mais elevados e menos impostos. O status de “Reino Unido de Portugal” não muda a essência da exploração e trocas desiguais do sistema colonial. Com a crise geral do sistema, eclodem diversas revoltas no Brasil, antes e depois da Independência de 07 de setembro de 1822. São exemplos: Inconfidência Mineira, Conjuração Baiana, Revolução Pernambucana, Sabinada, Cabanada, Revolução Praieira, Quebra-Quilos, Confederação do Equador… Do período anterior à Independência, em 1822, destacamos três “revoltas emancipacionistas”.

Inconfidência Mineira (1789)

A conspiração mineira expressou as contradições das classes abastadas do Brasil com as cobranças régias de Portugal. Conspiração planejada pelas elites ricas e cultas. A composição social dos revoltosos e os objetivos da luta definem esse caráter elitista.

A crise geral colonial reduzia a margem de lucro dos exploradores locais. Os encargos da tributação, impostos pelo Reino, prejudicavam produtores e comerciantes locais, limados nos impostos. Ventos revolucionários da Europa (França) e das ex-colônias inglesas na América moveram os extorquidos pelo sistema tributário colonial a seguir o exemplo. A independência dizia mais de interesse de não pagamento de imposto à Coroa que do subjetivo e mitificado “sentimento patriótico” dos inconfidentes mineiros: revolta pelo pagamento do imposto do quinto do ouro extraído nas suas minas à Casa Real.

Delatada por Silvério dos Reis, a rebelião foi abortada. Os conspiradores, presos e exilados. Na sentença dos implicados, sopesou mais a origem social do réu que as ações na trama separatista. Ricos são presos, mas todos escaparam da forca. Júlio Chiavenatto chama de “luta dos poetas e ricos” com razão:  Cláudio Manoel da Nóbrega, poeta, formado em Coimbra de família nobre, dono de minas; Alvarenga Peixoto, latifundiário e minerador; Tomás Antônio Gonzaga, formado em Coimbra e depois ouvidor de Vila Rica; padre Toledo e Melo, grande minerador e vigário da Paróquia de São João Del Rei. O desafortunado em todos os sentidos da conspirata foi o alferes – patente militar abaixo de oficial – Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. É enforcado em praça pública. Os pedaços do seu corpo, espalhados nas ruas de Vila Rica. Mitificado pela historiografia oficial, é o “Mártir da Independência”.

Conjuração Baiana (1798)

Movimento revolucionário pioneiro como projeto de mudança da sociedade colonial: abolição da escravidão e fim dos privilégios de classe e castas. Intelectuais como Cipriano Barata, Aguilar Pantoja e outros conheciam as ideias revolucionárias da França. Estabeleceram ligações com outros setores sociais, com grande adesão dos alfaiates ao projeto revolucionário.  Nas ruas, reafirmam o caráter popular no compromisso de abolição da escravidão. No programa divulgado, combatiam os abusos de Lisboa, defendiam a abertura dos portos e o livre comércio, combatiam o reacionarismo dos padres – “mistificadores contrários à liberdade popular”, e conclamavam: “Brancos, pardos, pretos, sem distinção, baseado na capacidade, [de todos os cativos que ficariam libertos, sem que houvesse escravo algum]”.

Crise de abastecimento, escassez de gêneros alimentícios, carestia, clima geral de insatisfação. A rebelião era publicamente propagada no intenso trabalho de agitação e propaganda, com distribuição de panfletos. Luís Gonzaga, Lucas Dantas, Manuel Faustino e João de Deus foram algumas das lideranças negras desta que foi a mais vertical das revoltas do período. Os quatro foram enforcados e esquartejados na Praça da Piedade, em Salvador.

As autoridades do Reino promoveram uma repressão seletiva, classista. Das centenas de presos, 34 condenados à morte, sendo que 23 deles eram pobres, mulatos e escravos libertos. Os abastados foram condenados à prisão e ao degredo e alguns tiveram penas comutadas, sem prisão.

Revolução Pernambucana (1817)

As teorias sobre liberdade, tolerância, república, limitação de poderes dos iluministas Rousseau, Voltaire e Montesquieu eram debatidos nas sociedades secretas de Pernambuco. Várias delas ligadas à Maçonaria. A Revolução Pernambucana de 1817 contou com expressiva participação de sacerdotes. 

As mesmas causas: crise econômica, queda de preço do açúcar, altos impostos. A Província Pernambuco respirava a produção e exportação do açúcar. Com a crise e a concorrência das Antilhas no mercado açucareiro, piorou o ruim. Nessas condições, sustentar os luxos da Corte de nobres parasitas do Regente D. João VI no Brasil causava mais indignação. El Rei e toda alta e média nobreza lusitana exilava-se no Brasil diante da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão, em 1808. Nessa vergonhosa fuga, o rei e toda laia da nobreza parasita abandonaram à própria sorte o povo numa fuga desesperada, com tempo ainda para rapar o dinheiro, joias e bens de valor da Fazenda Real.

Senhores de engenho do açúcar, ricos comerciantes, padres formavam a base social da revolução. A massa empobrecida livre, negros escravizados e indígenas escorraçados não participam do “banquete da liberdade” da elite pernambucana. No plano teórico, acenam à abolição da escravidão, porém, conquistado o poder, os escravos permanecem sob o regime desumano da lei do tronco, das correntes, das senzalas.

A elite extorquida pelos tributos da Corte promove esse movimento de “emancipação política” de Portugal, implantando a primeira República no Brasil. Na autoimagem das elites, representam as forças da libertação e do progresso. 

Caetano Pinto Montenegro, o governador de Pernambuco, subestimou o movimento. Quando colocou a tropa militar em prontidão, a revolução já estava nas ruas. O levante começou no Quartel da Artilharia. O capitão José de Barros Lima e o tenente José Mariano Albuquerque Cavalcanti colocam a tropa na rua. Populares dos bairros de São José e Santo Antônio aderem à revolução. Presos, são soltos. Nova ordem, nova lei. O governador Caetano foge do Palácio do Campo das Princesas para o Forte do Brum. As tropas do Palácio se rendem. A notícia da queda do governo português se espalha rapidamente. Os comerciantes ricos fecham suas casas. Arrecadam bens de valor e fogem rumo à Bahia. O governador Caetano Pinto assinou no Forte do Brum o ultimato de rendição, em 09 de março, e embarca para o Rio de Janeiro, sede da Corte.

Os insurgentes elegeram a Assembleia e o Conselho de Estado, no modelo do Diretório da Revolução Francesa, com notáveis: padres e maçons.

Dos atos da governança dos 75 dias de “República” da Revolução Pernambucana, destacam-se: separação dos poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário); revogação de vários impostos; decretação da liberdade de imprensa e de culto.

A forte reação do Reino foi apoiada pelo Governo da Bahia. O governador Conde dos Arcos envia numerosa tropa terrestre para combater os insurgentes. El Rei contratou corsários reforçando a Armada naval saída do Rio de Janeiro, com mais de oito mil homens, que retomam a Província.

Isolados, os insurgentes são derrotados e presos. Os líderes são fuzilados ou enforcados, esquartejados: “Depois de mortos, serão cortadas as mãos, a cabeça e os restos dos cadáveres serão ligados à cauda de cavalo e levados até o cemitério”. As partes mutiladas espalhadas nas ruas, a pedagogia do Rei pela Graça de Deus.

A historiografia de 1817 considera o movimento emancipador e republicano, anticolonial. Na retaliação, Pernambuco tem território desmembrado e, assim, cria-se a Capitania de Alagoas.

Fome é a realidade para metade dos amazonenses

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A capital do Amazonas, Manaus, tem o quinto maior Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Apesar disso, o estado enfrenta uma grande desigualdade social, com a fome atingindo metade dos amazonenses.

Redação Amazonas


O Amazonas é o maior Estado do Brasil em extensão territorial e também é o que detém a maior parte da Amazônia Legal. Sua capital, Manaus, concentra 50% da população, ultrapassando dois milhões de habitantes.

O estado também conta com a Zona Franca de Manaus, implementada no início Ditadura Militar, com o lema “integrar para não entregar”. Possui hoje mais de 600 indústrias do ramo comercial, de tecnologia e agropecuária, sendo os maiores do setor automobilístico (motos) e eletroeletrônicos (eletrodomésticos/informática). Nesse sentido, pesquisa realizada pelo IBGE, em 2021, apontou Manaus como o 5° maior PIB do Brasil, mais de R$ 100 bilhões.

Apesar de tanta riqueza produzida pela classe trabalhadora, o Amazonas é o segundo estado com maior índice de insegurança alimentar (leia-se: fome) no país, atrás somente do Pará. Pelo menos 350 mil pessoas (10% da população) estão em situação grave, ou seja, não têm o que comer, somados a mais de um milhão que não têm acesso à alimentação suficiente para suprir suas necessidades.

Esta é a realidade do povo pobre do Brasil: trabalha para enriquecer os capitalistas, mas passa fome. Vamos dar um basta nisso!

Supermercados lucram bilhões e promovem a fome no Brasil

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Apesar de o Brasil ser uma das maiores economias do mundo, milhões de brasileiros ainda sofrem com a fome. Os lucros dos supermercados são enviados para o exterior, enquanto o Estado apoia essas empresas, promovendo a exploração dos trabalhadores.

João Coelho | Coordenação Nacional do MLB


LUTA POPULAR – Dados divulgados pelo IBGE, em abril de 2024, indicam a melhoria de alguns indicadores sociais do país nos últimos dois anos. No entanto, a fome, um dos maiores dramas que um ser humano pode viver, persiste entre os brasileiros: são 64,2 milhões de pessoas (27,6% da população) sem ter comida no prato todos os dias; e mais, 37% das crianças com até quatro anos no país estão nessa situação.

Para entender por que os trabalhadores vivem com fome em um país que está entre as dez maiores economias do mundo e é um dos maiores produtores de alimentos, é preciso identificar quem controla esses alimentos. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), cerca de 90% da comida consumida no Brasil passa por dentro dos supermercados, um setor com faturamento bruto de mais de R$1 trilhão só em 2023.

Como se vê, o varejo alimentício é um setor gigantesco da economia, que concentra muita riqueza e poder. Como todos os demais setores econômicos importantes no capitalismo, ele é dominado por grandes monopólios: no Brasil, o grupo Carrefour, um monopólio francês, domina quase 30% desse mercado e está se expandindo, com faturamento de R$ 115,4 bilhões, em 2023.

Desde sua chegada ao Brasil, em 1975, o Grupo Carrefour tem aumentado seu controle sobre a venda de alimentos, comprando diversas pequenas e médias redes de mercados nacionais. Após a compra, em 2022, do Grupo Big, um de seus maiores concorrentes, o Carrefour passou a ter mais de mil lojas no país, presença em todos os estados e no Distrito Federal, além de redes de postos e drogarias, uma rede imobiliária e um banco próprio, sendo uma das 20 maiores empresas listadas na bolsa de valores do país.

Qual a consequência, para os trabalhadores brasileiros, de terem seus alimentos controlados por um grande monopólio multinacional? A primeira é que os preços dos alimentos são definidos por organismos financeiros internacionais, que existem para defender os interesses de lucro das empresas imperialistas. O resultado é que toneladas de alimentos se estragam nas prateleiras e são jogados fora, pois quem tem fome não tem dinheiro para comprá-los.

A segunda é que essas grandes empresas vendedoras de alimentos pagam valores baixíssimos aos fornecedores, promovendo a miséria e a fome no campo e a concentração de terras; na produção do suco de laranja, por exemplo, alimento que o Brasil é o maior produtor mundial, o supermercado fica com 50% do preço pago pelo cliente, enquanto o trabalhador que produz a laranja recebe menos de 5%. Assim, os pequenos produtores rurais vão à falência por receberem menos que o mínimo necessário para sobreviver e as grandes empresas do agronegócio vendem a preço baixo para os supermercados através da exploração do trabalhador.

A terceira consequência é que esses grandes monopólios, em função da grande riqueza que concentram, passam a influenciar a política do país, defendendo os interesses do grande capital internacional em detrimento do povo brasileiro. Exemplo foi a destruição das estruturas públicas de combate a fome: no início da década de 1990, o Brasil contava com uma série de órgãos e empresas públicas, como a Companhia de Financiamento da Produção (CFP), a Companhia Brasileira de Abastecimento (Cobal) e a Companhia Brasileira de Armazenamento (Cibrazem), que subsidiavam a produção da agricultura familiar e possuíam quase mil unidades de distribuição de alimentos, garantindo um maior controle dos preços e o acesso da população a itens básicos para a alimentação.

Após uma intensa pressão dos empresários do varejo alimentício, o então presidente da República e inimigo jurado do povo brasileiro, Fernando Collor de Mello, juntou esses três órgãos na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), demitiu metade dos funcionários, fechou os armazéns e mercados populares, cortou o orçamento destinado ao subsídio dos alimentos e abriu espaço para que os grandes supermercados assumissem o controle total sobre a comida no país.

Outro exemplo foi o intenso apoio das grandes redes de supermercados à aprovação da reforma trabalhista, que permitiu a contratação de trabalhadores com jornada intermitente e sem pagamento de horas-extras aos domingos e feriados. Para se ter ideia da participação do setor nesse crime contra os trabalhadores, cerca de 500 empresários de supermercados foram recebidos pelo presidente Michel Temer (MDB) logo após a aprovação da reforma, a quem o golpista saudou com as seguintes palavras: “Ao cumprimentar os supermercadistas, quero cumprimentar também a oportunidade que estamos dando, ao povo brasileiro, de frequentar, com tranquilidade, os supermercados aos domingos e feriados”. Mas quem, em sã consciência, pode entrar tranquilo em um supermercado, em qualquer dia da semana, sabendo que não terá dinheiro para comprar comida suficiente para alimentar sua família?

Para onde vai o dinheiro?

Apesar de o alimento ser produzido no Brasil pelos trabalhadores brasileiros, o lucro das grandes redes de supermercado não fica no país. O Grupo Carrefour teve um lucro de R$ 151 milhões no segundo trimestre de 2024, só no Brasil, lucro este que foi divido entre seus acionistas, dos quais o maior é a matriz do grupo na França, com 67% das ações. No entanto, por trás da matriz francesa, existem outros grandes grupos financeiros, a maioria sediados em paraísos fiscais nos EUA, Suíça e Holanda, para onde o lucro dessa e de outras grandes empresas é enviado sem nem mesmo pagar os devidos impostos. Ou seja, graças à ação de empresas como o Carrefour, que lucra com a fome em nosso país e envia a riqueza dos brasileiros para grandes bilionários no exterior, o Brasil continua a ser um país colonizado e seu povo segue na miséria.

Qualquer trabalhador honesto, ao ver um outro ser humano com fome, reparte sua comida para alimentar quem mais precisa. Porém, no capitalismo, o Estado ajuda os grandes ricos a controlarem os alimentos em benefício próprio. Prova disso é que, entre 2002 e 2019, o Carrefour, junto com o Grupo Pão de Açúcar, recebeu R$ 8,4 bilhões do BNDES para financiar sua expansão, sem nenhuma contrapartida social concreta.

O Estado nada faz contra esses monopólios que concentram a riqueza, sonegam milhões em impostos, descumprem direitos trabalhistas e não pagam indenizações (mesmo quando perdem os processos na justiça), promovem a fome em nosso país e, não bastasse, violentam nosso povo, como fizeram com João Alberto, homem negro de 40 anos, assassinado por dois seguranças que o espancaram e asfixiaram até a morte no estacionamento de uma loja do Carrefour em Porto Alegre no dia 19 de novembro de 2020.

O mesmo Estado, no entanto, não hesita em defender a propriedade privada dos ricos quando uma trabalhadora, desesperada pela fome, sem ter com que alimentar seus filhos, furta um alimento em uma rede de supermercados bilionária. De fato, 20% das mulheres que foram condenadas ou aguardam julgamento no Brasil foram acusadas de furto, a imensa maioria de itens de necessidade básica.

Por isso, a luta dos milhões de trabalhadores que passam fome e veem seus filhos sem poder se alimentar é justa. O Brasil só será um país independente quando expulsar de nosso país as grandes empresas imperialistas, que lucram com a miséria do povo e enviam a riqueza para o estrangeiro. Somente com a classe trabalhadora no poder será possível construir uma pátria sem fome!

Semana da Anistia e Dia do Heroísmo Revolucionário

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No dia 31 de agosto, houve a reinstalação de uma placa em homenagem a Cândido Pinto. Já em 4 de setembro, foi celebrado o Dia do Heroísmo Revolucionário, em memória de líderes do Partido Comunista Revolucionário (PCR) mortos na ditadura.

Redação


Nos últimos dias de agosto e nos primeiros dias de setembro, foram realizadas várias atividades em Pernambuco em torno da 13ª Edição da Semana da Anistia, promovida pelo Comitê Memória, Verdade, Justiça e Democracia de Pernambuco, em parceria com o Centro Cultural Manoel Lisboa e outras entidades e movimentos, como UEP, Uespe, Movimento Correnteza, Seepe, MLC, MLB, UJR, Movimento Olga Benario.

As atividades aconteceram nas cidades de Recife, Caruaru, Garanhuns e Petrolina, em faculdades, escolas, sindicatos e com atos públicos. O dia 31 de agosto foi marcado pela reinstalação da placa oficial que sinaliza Cândido Pinto, há época do golpe de 1964, presidente da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP), como nome da ponte sobre o rio Capibaribe, no bairro da Torre, na capital.

Heróis da resistência

No dia 04 de setembro de 1973, Manoel Lisboa de Moura, principal dirigente do Partido Comunista Revolucionário (PCR), foi assassinato nos porões da ditadura militar após 19 dias das mais bárbaras torturas. Assim, esta data foi transformada no Dia do Heroísmo Revolucionário, estendendo as homenagens a Emmanuel Bezerra dos Santos, Manoel Aleixo da Silva (mortos em 1973), Amaro Luiz de Carvalho (morto em 1971) e Amaro Félix Pereira (desaparecido entre 1971 e 1972), todos também dirigentes do PCR. Neste ano, o dia foi celebrado em vários estados do Brasil com debates, plenárias, atos político-culturais, panfletagens e brigadas do jornal A Verdade.

Luta por justiça continua após 60 anos do golpe

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45 anos da Lei da Anistia e 60 anos de repúdio ao golpe militar.

Carta aberta dos Comitês e Comissões da Verdade do Norte-Nordeste


Neste dia 28 de agosto de 2024, completam-se 45 anos da Lei da Anistia, aprovada em 1979, como resultado da mobilização popular, sem, no entanto, alcançar os golpistas, torturadores e seus mandantes. Por quê?

É preciso relembrar que em agosto de 1979, o povo brasileiro ainda estava sob o tacão da ditadura militar que retirou todos os nossos direitos, inclusive, o de votarmos para presidente da República, governador e prefeito das capitais; portanto, esta Lei da Anistia foi votada por um Congresso Nacional mutilado, um terço dos senadores foram indicados pelo presidente ditador, general de plantão.

As atividades da Semana da Anistia estão sendo realizadas em todos os estados do Norte e Nordeste e de todo o Brasil e são da maior importância para a construção da memória histórica da nossa nação e fortalece a justa luta pela revisão desta lei no Supremo Tribunal Federal (STF). Esta programação ocorre no marco do repúdio aos 60 anos do golpe militar fascista de 1º de abril de 1964, que rasgou a Constituição e pisoteou a democracia exatamente no momento em que as Ligas Camponesas, a União Nacional dos Estudantes (UNE), o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e os artistas conscientes adquiriam enorme poder de mobilização das massas pela construção da democracia popular em nosso país, e que marchavam também contra o subdesenvolvimento e pela realização das Reformas de Base, como a Reforma Agrária, apresentadas pelo presidente João Goulart, deposto de forma covarde pelas Forças Armadas do nosso país, sob a orientação direta do pentágono e da CIA, causando irreparáveis prejuízos materiais e humanos à nossa pátria.

Milhares de militantes, ativistas e religiosos se opuseram àquele estado de destruição e barbárie, milhares de pessoas perseguidas, cassadas em seus direitos, exiladas, sequestradas, torturadas, estupradas, muitos tiveram seus corpos desaparecidos, massas de camponeses e povos originários exterminados, milhares de advogados e militares progressistas excluídos e encarcerados. Quem financiava tudo isto? Grandes empresários do Brasil, dos EUA e a Casa Branca financiavam as forças subservientes, especialmente, o Exército Brasileiro, que patrocinou a barbárie.

Esta lei, que devolveu ao nosso convívio os presos políticos, os exilados e a liberdade de organização, terminou praticando a terrível deturpação de não levar às barras dos tribunais os golpistas, os algozes dos nossos heróis, que cometeram crimes imprescritíveis de lesa humanidade e que pela sua impunidade tiveram o atrevimento de voltar a cometê-los no dia 08 de janeiro de 2023 à luz do dia, e novamente os generais fascistas e conspiradores ficaram de fora do alcance da justiça.

Nessa data em que relembramos nossos heróis que tombaram na luta pela democracia e pela libertação do nosso povo da tirania do capitalismo, como fizeram Carlos Marighella, Jana Moroni Barroso, Manoel Lisboa, Anatália Alves, Fernando Santa Cruz, Jaime Miranda, Terezinha Viana de Assis, Amaro Luiz de Carvalho, Paulo Fonteles, Gabriel Pimenta, Antônio de Pádua, Manoel da Conceição, Mirian Verbena, Frei Tito de Alencar, Gastone Lúcia Beltrão, Luiz Maranhão, Emmanuel Bezerra, Nilda Carvalho Cunha, João Pedro Teixeira, Luiz de Almeida Araújo, David Capistrano, Manoel Aleixo, Soledad Barret, Ezequias Bezerra da Rocha, Gregório Bezerra, Luiz Antônio Santa Bárbara, padre Henrique Pereira Neto, Margarida Alves, Gildo Macedo Lacerda, Thomás Meirelles, Luiz José da Cunha, José Carlos da Matta Machado, entre tantos outros (as), que se torna impossível nomeá-los todos aqui, mas que os Comitês de cada estado o farão nas atividades do dia 28, como também no dia 30 de agosto, dia do desaparecido forçado, designado pela ONU, fruto da pressão do movimento de familiares em todo o mundo.

Nesta ocasião, vamos exigir também a necessária revisão da Lei de Anistia pelo STF ou pelo Congresso Nacional, como já fizeram outros países da América do Sul, pois um Estado que não aplica a justiça de transição não consolida a democracia, jamais, e ficará sempre refém das forças armadas e suas constantes tentativas de golpe de Estado a serviço dos grandes monopólios e da oligarquia do capital financeiro estadunidense e da grande burguesia local.

Porém, a reversão desta tendência só poderá acontecer com a completa mobilização e a organização do povo trabalhador de forma revolucionária nos seus locais de trabalho, de moradia e de estudo, de forma autônoma e independente em relação à classe dos ricos e do seu Estado. A luta pelo isolamento e derrota do fascismo e do sistema capitalista imperialista necessita da participação dos Comitês de luta pelo direito do povo à memória, à verdade, à justiça, à reparação e à democracia, bem como, dos partidos verdadeiramente populares, dos sindicalistas progressistas, do Movimento Estudantil, de mulheres, de movimentos de luta pela moradia, para sermos verdadeiramente vitoriosos em relação à busca dos desaparecidos políticos, à punição dos responsáveis, o alargamento e aprofundamento da democracia e à justiça social. 

Assim, conquistaremos, pela força da mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras, a revisão da Lei da Anistia, a lei de número 6.683 de 1979, e passaremos a ser um povo tomado de sua autoestima, de orgulho de seus heróis da resistência ao golpe de 1964, dos nossos povos originários e afrodescendentes; desta maneira, nunca mais se repetirá tamanho atentado contra o povo brasileiro. A experiência da resistência nos ensinou a vencer as adversidades: formamos os Comitês, as articulações entre eles e a Coalização Nacional de Movimento e Comitês para fortalecer a nossa luta. Apesar da demora em reinstalar a Comissão Nacional de Anistia, e ainda mais da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e da falta de recursos para o seu devido funcionamento, os Comitês de Luta por Memória, Verdade e Justiça seguirão sua luta e só encerraremos suas atividades quando encontrar o último desaparecido político e obtermos a responsabilização criminal dos responsáveis. 

Punição aos generais golpistas de 1º de abril de 1964 e de 08 de janeiro de 2023!

Movimento de Mulheres Olga Benario realiza 1º Encontro Estadual no Mato Grosso

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O 1º Encontro Estadual do Movimento Olga Benario no Mato Grosso destacou a importância de coletivos feministas socialistas na resistência ao capitalismo e ao patriarcado, fortalecendo a consciência coletiva.

Ana Pistori e Júlia Rosa | Cuiabá – MT


MULHERES – No dia 17 de agosto, o Movimento de Mulheres Olga Benario reuniu sua militância no Mato Grosso para debater os próximos passos da luta das mulheres trabalhadoras no estado. Dentre os principais debates estiveram a importância da organização das mulheres mato-grossenses e as próximas tarefas do período.

O processo de organização e o autofinanciamento

Autofinanciamento foi essencial para garantir o sucesso do encontro. Foto: JAV/MT
Autofinanciamento foi essencial para garantir o sucesso do encontro. Foto: JAV/MT

Durante os meses de junho e julho, as mulheres do Movimento Olga Benario em Mato Grosso se organizaram para construir o 1º Encontro Estadual. Em todos os núcleos, foram destacadas comissões que funcionaram para garantir os principais pilares do nosso encontro.

Um desses pilares é o autofinanciamento. De vendas de doces, passando pela venda de rifas, até abertura de banquinhas em eventos. Todas as tarefas contribuíram para o sucesso desse processo coletivo. A autossustentação foi essencial para garantirmos o caráter de classe dos nossos debates.

Além disso, vale ressaltar a atuação do Núcleo de Sinop – cidade do interior do Mato Grosso dominada pelo agronegócio – pelo esforço tamanho realizado para que pudessem enviar suas delegadas para a capital com o objetivo de debater o socialismo e a luta das mulheres no nosso estado.

Sobre os debates

A manhã foi marcada pela realização da mesa de abertura, intitulada “Organização das mulheres na construção do socialismo”, conduzida por Lavine Marques, coordenadora do movimento. Seguida por rodadas de estudo de textos sobre as mulheres e seu papel na revolução socialista, a mesa de abertura teve como foco o debate sobre a tarefa imediata de organizar as mulheres do Mato Grosso.

A segunda mesa, que teve como tema “A Importância dos Movimentos Sociais na Luta pelo Socialismo”, foi conduzida pelas companheiras Alexia Marques e Rayssa Piovani. Este debate permitiu que todas as companheiras compartilhassem suas perspectivas e experiências sobre como os movimentos sociais podem influenciar e avançar na luta pelo socialismo.

Encontro de mulheres: um espaço de acolhimento e amor

Encontro de mulheres é espaço de acolhimento e debates sobre o socialismo. Foto: JAV/MT
Encontro de mulheres é espaço de acolhimento e debates sobre o socialismo. Foto: JAV/MT

Todas as falas no debate contribuíram para enriquecer nossa compreensão e reforçar o compromisso com a construção do socialismo no Brasil. Entretanto, foi nos momentos de refeição e na atividade cultural que os sentimentos de camaradagem ficaram visíveis.

A cada intervalo, que se revelavam momentos preciosos de fortalecimento de laços entre as militantes, notou-se o amor, o cuidado e o acolhimento entre as mulheres. Como somos um dos corpos mais oprimidos na sociedade capitalista, esse momento de troca é essencial para construirmos nossos coletivos.

Dessa forma, trouxemos à prática, o que descreve bell hooks em relação ao poder do amor na sociedade: “No momento em que escolhemos amar, começamos a nos mover em direção à liberdade, a agir de formas que libertam a nós e aos outros”.

O 1º Encontro de Mulheres no Mato Grosso fortalece a convicção da necessidade da participação das mulheres na luta pelo fim do capitalismo e, por consequência, do patriarcado que nos aprisiona e nos escraviza.

A importância de um coletivo de mulheres socialistas

O Movimento Olga Benario desempenha um papel fundamental no fortalecimento ideológico e na construção de uma consciência coletiva que combate qualquer manifestação de individualismo. Num contexto em que o capitalismo impõe diversas formas de opressão, a organização em coletivos torna-se uma ferramenta imprescindível para a resistência e a transformação social.

Através desses espaços, as mulheres encontram não apenas apoio mútuo, mas também a oportunidade de desenvolver uma análise crítica da sociedade, compreendendo como as estruturas de poder e exploração afetam suas vidas.

Primeiramente, é essencial destacar que um coletivo de mulheres socialistas não é apenas um agrupamento de pessoas com interesses comuns, mas sim um espaço de construção ideológica. Permite que as mulheres se eduquem politicamente, troquem experiências e fortaleçam sua compreensão das dinâmicas de classe, gênero, raça e sexualidade que moldam o mundo em que vivem. Este processo de educação permite que as mulheres reconheçam suas condições de opressão e que enxerguem a possibilidade de superá-las através da ação coletiva.

Outro aspecto crucial é a solidariedade entre as militantes, que fortalece essas ações, pois cada uma sabe que não está sozinha na luta e que pode contar com o apoio de suas companheiras. Logo, esse senso de propósito comum é vital para manter a motivação necessária para enfrentar as adversidades que surgem ao longo do caminho.

Por fim, em um mundo onde as forças do capitalismo tentam constantemente cooptar e neutralizar movimentos de resistência, é essencial que as mulheres estejam organizadas. Através do estudo, da discussão e da ação coletiva, o coletivo ajuda a construir essa base ideológica sólida, que é crucial para manter a integridade e o foco da luta.

Dessa forma, ao se unir em um coletivo como o Movimento Olga Benario, as mulheres não apenas se fortalecem individualmente, mas também contribuem para a construção de um movimento capaz de transformar a sociedade em direção a um futuro mais justo e igualitário: a sociedade socialista.

Audiência do caso Ana Caroline aconteceu no interior do Maranhão

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A primeira audiência de instrução e julgamento do caso Ana Caroline aconteceu no dia 30 de julho, no interior do estado do Maranhão.

Thalia Lima | São Luís – MA


BRASIL – No dia 30 de julho, ocorreu a primeira audiência de instrução e julgamento do caso Ana Caroline, na Comarca de Governador Nunes Freire, interior do estado do Maranhão, a 345 km da capital São Luís.

Elizeu Carvalho de Castro foi preso no começo deste ano, após denúncias e inquérito policial. Foram ouvidas testemunhas, tanto de acusação, quanto as de defesa. Os indícios e provas contra o acusado são grandes, mas mesmo assim, ele nega ser o assassino.
Após o encerramento da audiência, foi aberto o prazo para a apresentação das alegações finais, do Ministério Público e da defesa do réu.

A advogada Luanna Lago, que foi contratada pelo o Levante Nacional Contra o Lesbocídio, e acompanha o caso defendendo a família, e sua equipe jurídica, também vão ter a oportunidade de se somar na argumentação junto com o Ministério Público. A expectativa  é que o juiz faça a pronúncia e o processo seja encaminhado para o julgamento do tribunal do júri.

Relembre o caso da Carol

No dia 10 de dezembro de 2023, Ana Caroline, conhecida carinhosamente como Carol, foi sequestrada, torturada e assassinada, no município de Maranhãozinho, interior do estado do Maranhão. Carol era uma jovem lésbica desfem¹, negra, e de apenas 21 anos. Quando voltava do seu trabalho a noite, foi torturada e morta, da forma mais cruel e perversa. Seus olhos, pele do rosto, couro cabeludo e as orelhas foram arrancadas.

Ana Caroline não foi a primeira, e infelizmente, também não será a última. Carol foi mais uma jovem negra, trabalhadora, que foi assassinada só pelo fato de ser mulher lésbica.

A luta contra o lesbocídio

O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH); e o primeiro em assassinato de pessoas trans, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA). O país mais inseguro para pessoas LGBTIA+ viverem.

O lesbocídio é o crime de ódio contra mulheres lésbicas. Na maioria dos casos, são mortas com extrema crueldade; 83% das mortes são cometidas por homens. Segundo o Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil, houve um aumento de 237% no número de casos de 2014 a 2017. E a maioria dos assassinatos, 69%, aconteceram no interior, assim como o caso de Ana Caroline, assassinada no interior do Maranhão. Números que continuam aumentando nos últimos anos, devido ao sucateamento de políticas públicas e incitação ao ódio às pessoas LGBTIA+ promovida pelo governo fascista de Jair Bolsonaro.

É preciso lutar para acabar com a raiz de um problema que não aguentamos mais: o capitalismo. Um sistema que sustenta em sua base a misoginia, o machismo, o preconceito contra pessoas LGBTIA+. Essa luta é necessária, pois, não podemos mais aceitar que o número de casos de lesbocídios, feminicídios e transfeminicídios continuem crescendo.

“A luta contra o lesbocídio é viva no movimento das lésbicas, mas há duas personagens emblemáticas no Brasil: Luana Barbosa; e agora Ana Caroline. Elas uniram nossas vozes em busca por justiça. […] Foram manifestações, postagens, audiências públicas e agora estamos juntas pagando a advogada que está representando a mãe da Carol no processo penal. Nossa luta é diária, nos exige muito e machuca, mas vale a pena, porque sabemos que somos nós por nós”, comenta Marcelle Fonseca, membro do Levante Nacional Contra o Lesbocidio.

Justiça por Ana Caroline, e por tantas outras que tiveram suas vidas ceifadas por serem mulheres e lésbicas!


1. Desfem: “desfeminilizada”; usado para se referir às lésbicas que não performam feminilidade dentro dos padrões de gênero.

“É muita humilhação no transporte coletivo”

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O jornal A Verdade dá seguimento à rodada de entrevistas com as candidatas e candidatos da Unidade Popular (UP) às prefeituras de importantes capitais brasileiras. Nesta edição, conversamos com Indira Xavier (39 anos), candidata em Belo Horizonte (MG); Ludmila Outtes (36 anos), candidata em Recife (PE); Santiago Belizário (31 anos), de Teresina (PI); e Reinaldo Pantaleão (73 anos), em Goiânia (GO).

Rafael Freire | Redação


Jornal A Verdade (JAV): O Brasil paga, de juros e amortizações da dívida pública, quase R$ 2 trilhões anualmente. Isso representa 43% de todo o Orçamento nacional. Enquanto isso, o Governo Federal investe o percentual de apenas 3% em Educação e 3,7% em Saúde. O que a UP pensa sobre isso?

Ludmila Outtes – É um verdadeiro crime praticado contra a população, sequestrar quase metade do orçamento público federal para enriquecer os banqueiros e empresários, que já são muito ricos. Enquanto isso, deixa a população sem os direitos essenciais, como saúde e educação. Como enfermeira da rede pública, eu vivencio como a população sofre por conta do sucateamento da saúde pública, a tentativa constante de privatização do nosso Sistema Único de Saúde. E tudo isso faz parte de um grande: sucateia o que é público para depois justificar o discurso de privatização.

Os tubarões dos planos de saúde lucram diversas formas: privatização, terceirização, entrega das unidades de saúde para as chamadas “organizações sociais” e ainda lucram como credores da famigerada dívida pública, com parte do orçamento sendo destinada a eles.

A Unidade Popular tem feito a denúncia contra todas essas arbitrariedades, inclusive para que se inverta essa lógica do que é feito com o dinheiro público para que, de fato, o recurso seja investido em saúde, educação, moradia, demais áreas sociais e garantia de emprego e renda para todos.

Indira Xavier – A Unidade Popular é uma das poucas organizações do país que defende a suspensão imediata do pagamento dos juros da dívida pública, seguida de uma auditoria. Como disse Ludmila, essa dívida impede que o nosso dinheiro seja investido, de fato, nas áreas sociais. Foi feito um pacto de que deveria ser investido, no mínimo, 10% do orçamento em educação e, anos depois, continuamos com 3%.

Então, a UP defende, nestas eleições municipais, que as prefeituras suspendam também o pagamento das suas dívidas públicas, procedam a suas auditorias e que este recurso seja revertido para o povo.

Na educação, o que vemos é a ampliação das parcerias público-privadas, que fazem com que empresas privadas administrem esta área essencial. Aqui em Belo Horizonte, por exemplo, quase metade das vagas da educação infantil está nas mãos das empresas privadas, que nem laudo de funcionamento tem para as escolas. Ou seja, colocam em risco a vida das nossas crianças.

Santiago Belizário – Como a companheira Indira falou, é preciso tirar o orçamento das mãos dos super ricos, que são também, os mesmos que mandam e desmandam nas nossas cidades há décadas. Aqui em Teresina, por exemplo, mais da metade das escolas da rede municipal não possuem quadra esportiva; 47% sem acessibilidade e apenas 23% possuem laboratório de informático e 28%, biblioteca. E o mais grave: ainda temos escolas na rede sem água potável e energia elétrica! Inadmissível!

Em Teresina a situação da população mais vulnerável é essa: 8% das pessoas são analfabetas e a população em situação de rua aumentou mais de 300% após a pandemia. Nesse período, não se construiu uma única unidade de habitação popular nem casa-abrigo, não se ampliou o restaurante popular. São mais de 35 mil famílias que não têm moradia, vivendo de favor ou de aluguel, enquanto, só no Centro, existem mais de dois mil imóveis abandonados.

Reinaldo Pantaleão – Esse aspecto nacional da dívida pública vai se refletir nos municípios. É por isso que não existe respeito ao piso salarial dos professores, que falta a devida infraestrutura nas escolas, etc. Aqui em Goiânia, prometeram a construção de 20 Cmeis [Centros Municipais de Educação Infantil] e, até hoje, isso não saiu do papel. E aqui chegou-se ao absurdo de fecharem creches e de entregarem as crianças para instituições ligadas à Igreja, que recebem até R$ 180 mil por mês e não cumprem a legislação.

Para piorar, a Prefeitura de Goiânia deixou de receber, no ano passado, mais de R$ 23 milhões por não apresentar os projetos necessários ao Governo Federal. Foi por falta de técnicos capazes para elaborar os projetos? Não. O problema não é de gestão, é de decisão política.

JAV: O transporte coletivo é um dos maiores problemas vividos pelo povo brasileiro atualmente. Ao mesmo tempo, os empresários do setor e as gestões municipais movimentam milhões de reais, cobrando passagens caríssimas dos passageiros. O que pode ser feito sobre isso?

Indira – As nossas cidades hoje vivem um verdadeiro caos na mobilidade urbana. Belo Horizonte tem o segundo pior trânsito do país. E o que vimos, nos últimos anos, foram sucessivas gestões comprometidas apenas em manter os interesses e privilégios da máfia dos transportes, que domina a cidade. Esta máfia impediu que houvesse a expansão do metrô público da empresa federal CBTU. Metrô que, uma vez sucateado e colocado para ser privatizado, mesmo diante de uma luta ferrenha da categoria metroviária contra essa privatização, foi vendido a preço de banana justamente para essa máfia do transporte coletivo.

O BNDES estimou o patrimônio da CBTU em mais de R$ 750 milhões, mas a empresa foi leiloada praticamente pelo preço de um vagão, R$ 25 milhões. Hoje, existe uma promessa de expansão do metrô, mas isso só é possível porque Governo Federal, o Governo Estadual e a Prefeitura estão injetando recursos públicos, recursos do povo.

Então, o que a Unidade Popular defende é que tenhamos um transporte público, gratuito e de qualidade. Nesse momento da luta eleitoral, a UP está trabalhando com um abaixo-assinado para alterar a lei e criar uma empresa municipal de transporte coletivo.

Nos últimos três anos, a Prefeitura investiu mais de R$ 500 milhões dos recursos públicos nas empresas privadas. A passagem em BH custa R$ 5,25 e o serviço é de péssima qualidade, uma frota com mais de dez anos, ônibus que quebram todos os dias. Então, nós pagamos duas vezes: através dos subsídios públicos e pela tarifa na catraca.

Santiago – Em Teresina, o transporte não tem nada de público. É tudo privatizado, através de concessões que duram anos, apesar dos problemas que enfrentamos. Aqui, nós que usamos ônibus diariamente, sabemos que vamos esperar uma hora na parada, paradas, que inclusive não nos protegem do sol e da chuva. Ainda corremos o risco de o veículo quebrar no percurso.

Pagamos uma passagem cara e nem sabemos se vamos poder usar. Quem necessita do transporte à noite, fica sem o serviço. Simplesmente não há ônibus. Muitos trabalhadores gastam, em média, mais de 12% do seu salário para se deslocar ao trabalho porque não têm outra opção.

Ludmila – Como os companheiros colocaram, esse tema do transpor é muito importante para os trabalhadores. A gente perde boa parte do nosso dia dentro do transporte coletivo. São horas no aperto, na humilhação. Em Recife, não é diferente. Inclusive, porque o metrô, da CBTU, só possui três linhas para toda a Região Metropolitana, e não é chega a boa parte das pessoas que precisam. É mais uma unidade desta empresa pública federal que está na mira das privatizações, como aconteceu em Belo Horizonte. Inclusive, o metrô parou de funcionar aos domingos, por tempo indeterminado, para fazer manutenção.

Pantaleão – Não existe, em lugar nenhum do mundo, transporte sem dinheiro público. A questão é que o dinheiro público deveria estar a serviço da população, e não do lucro dos empresários. Em Goiânia, por exemplo, existe uma empresa chamada de HP, que opera também na África do Sul com ônibus modernos, mas que aqui os passageiros são transformados em sardinha dentro de uma lata. Nossa cidade, apesar de ter sido planejada, agora está descaracterizada, com um trânsito caótico. Há 20 anos, fala-se na ampliação das linhas do BRT, mas a licitação nunca sai devido a irregularidades no processo por parte das empresas. Então está na hora de efetivamente transformar o transporte coletivo em transporte público, com empresas estatais à frente para garantir a gratuidade e a qualidade dos serviços.

Candidatos da UP: “Só uma transformação profunda pode resolver os problemas do povo”

JAV: Santiago, recentemente, até a Fundação Municipal de Saúde teve a energia do prédio cortada por falta de pagamento. Qual a situação da saúde para a população teresinense? 

Isso. Chegaram também até a retirar equipamentos alugados de dentro de hospitais por falta de pagamento. Houve ainda atrasos nos pagamentos dos trabalhadores da área. Sem falar na superlotação das unidades, pois só hoje só funciona um hospital municipal de urgência e emergência. As filas são gigantescas nas Unidades de Pronto Atendimento. Algumas pessoas chegam a esperar quase um ano por uma consulta com um médico especialista. E, recentemente, tivemos casos de pessoas que morreram esperando por uma cirurgia.

Esses dias, tive que levar minha mãe a um hospital, mas ele tinha sido fechado pelo Conselho Regional de Medicina porque não tinha condições de funcionamento. Após a reabertura, minha mãe passou mal novamente e, quando chegamos lá, ela tomou um soro, mas não tinha esparadrapo no hospital. Então a falta de insumos e de infraestrutura é grave e atinge toda a rede.

Enquanto isso, a Prefeitura está sendo acusada de má gestão dos recursos, pois retirou milhões da saúde e da educação para outros setores.

JAV: Pantaleão, você é um militante experiente, com décadas dedicadas à luta pelo socialismo no Brasil. É muito comum, neste período eleitoral, os candidatos dos partidos burgueses falarem em experiência de gestão pública. O que você poderia nos dizer sobre isso?

É exatamente aí onde mora o perigo. Os candidatos da burguesia, que fazem a defesa do sistema capitalista, normalmente usam suas experiências em empresas ou governos para defender os interesses das elites. Eles se apresentam, mais uma vez, como os guardiões da gestão pública. Mas que gestão? Estamos falando do Estado burguês, que serve para manter a exploração da classe trabalhadora.

Como acabei de dizer, Goiânia foi uma cidade planejada, mas está descaracterizada pela mão do capital, das empreiteiras, das imobiliárias. As áreas verdes, arborizadas, foram massacradas e substituídas pela selva de pedra dos enormes prédios, cada vez com mais andares. Falar numa cidade ecologicamente correta desse jeito é conversa pra boi dormir, é enganação.

A UP propõe a implantação dos conselhos populares para termos uma relação direta com a população, por uma cidade feita pelo povo para o povo. Assim, será nossa gestão, olhando primeiro para os bairros pobres, que sofrem sem nenhuma infraestrutura. Chega de uma cidade feita só para os ricos. A classe trabalhadora é quem deve governar.

E a UP não é um partido só de eleição, é bom que se diga. Estamos prestes a completar cinco anos que conquistamos o registro eleitoral, mas nosso partido já nasceu lutando, recolhendo mais de um milhão de assinaturas para se legalizar por completo. E nossa militância está nas lutas todos os dias, chamando as massas exploradas para se organizarem com muita consciência de classe. Só uma transformação profunda pode resolver os problemas do povo, construindo o poder popular e o socialismo.

JAV: Indira, a mineração desenfreada em Minas Gerais já é um problema histórico. Qual a situação hoje na Região Metropolitana de Belo Horizonte e como as famílias mais pobres são afetadas em relação ao direito à moradia digna, que inclui o direito a um lar, com acesso à água, ao transporte coletivo, etc.?

Todo o território mineiro é rico em minérios preciosos e que hoje são usados, principalmente, na indústria de componentes eletrônicos, fundamental para o capitalismo moderno. Só que o processo de extração deixa marcas profundas, assim como no passado. As marcas são as crateras, mas também a pobreza do povo.

No caso de Belo Horizonte, a mineração na Serra do Curral pode acabar com o abastecimento de água da capital. A mineração já afeta bastante os mananciais hídricos da Região Metropolitana de BH. Ressaltando que se trata de uma exploração ilegal por parte de empresas muito poderosas. Exemplo, essas empresas preferem pagar uma multa diária de R$ 50 mil do que parar com a mineração nesta área. Cada caminhão de minério retirado da Serra do Curral equivale a R$ 30 mil, e eles retiram cerca de dez por hora.

As famílias pobres, além de sofrerem com a falta de água, também são expulsas de seus territórios para dar lugar a mais mineração ilegal. Expulsas também pelo megaprojeto do Governo Estadual, com a conivência de várias prefeituras da Região Metropolitana, de construção do chamado “rodoanel”, que, na verdade, é o “rodominério”. Uma rodovia que vai cortar 11 cidades com a única finalidade de escoar as riquezas de Minas para os portos e, de lá, para outros países. Esta rodovia, inclusive, vai passar ao lado do Vale das Ocupações, onde o Movimento de Luta nos Bairros (MLB) desenvolve um trabalho há muitos anos. Lá, várias famílias serão obrigadas a se mudarem.

JAV: Na condição de presidente do Sindicato dos Enfermeiros de Pernambuco, você circula por toda a rede pública, desde a atenção básica até as especialidades dos hospitais. O que você tem visto em relação à forma como os gestores públicos tratam os pacientes e os profissionais de saúde?

Existe muita maquiagem nas propagandas dos municípios. O quadro que se pinta é sempre de uma saúde de qualidade, que tem evoluído, etc. A Prefeitura de Recife, por exemplo, faz muita propaganda em relação à expansão da rede de atenção básica para atingir 100% da população. Mas não se coloca o que está por trás disso. Sentimos um grande aumento do assédio moral contra os trabalhadores, cobranças excessivas da gestão sem oferecer o mínimo de condições de trabalho. E, ao mesmo tempo que vemos novas unidades serem abertos, vemos a falta de material nas unidades já existentes, desde sabonete e papel toalha a medicamentos de controle de hipertensão e diabetes, materiais para curativo. Enfim, o básico para um posto de saúde.

Faltam também mais profissionais. Pacientes que levam até dois anos para conseguir uma consulta com um especialista. Isso acaba reforçando na população que a saúde pública é ruim e que a saída é pagar um plano de saúde. Mas isso é pagar três vezes, pois pagamos o SUS com nossos impostos; o Ministério da Saúde destina subsídios para a rede privada; e ainda paga novamente o plano de saúde. São planos caríssimos, mas que, na prática, nem atendem ao conjunto da população nem prestam um serviço de qualidade, pois as empresas privadas só operam com base no lucro e fazem de tudo para pagar pouco aos profissionais e para negar os mais variados procedimentos médicos aos usuários.

Matéria publicada na edição nº 298 da jornal A Verdade