A jornada nacional de lutas Edson Luís mobilizou estudantes do Litoral ao Sertão em Pernambuco, liderados pela União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (Uespe) e pela União da Juventude Rebelião (UJR). Estudantes em Petrolina, Caruaru e Recife organizaram dezenas de ações em defesa da meia-passagem intermunicipal no Estado.
Em Petrolina e Caruaru, no dia 15 de março, ocorreram passeatas e audiências públicas na Câmara de Vereadores sobre a meia-passagem intermunicipal. Centenas de pessoas participaram com muito entusiasmo, e os vereadores também se declararam a favor de uma lei estadual que garanta este direito.
Na Região Metropolitana do Recife foi realizada, no dia 21 de março, uma audiência pública pela meia-passagem intermunicipal na Assembleia Legislativa, organizada pela comissão de Educação da Casa e pela Uespe. Tendo presença da presidente da Comissão de Educação, Tereza Leitão, do secretário de Educação de Pernambuco, Ricardo Dantas, do presidente da Empresa Pernambucana de Transporte Intermunicipal (EPTI), Amaro João, e do representante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sintepe), Paulo Rocha. Participaram cerca 100 estudantes, representando os mais de 400 estudantes que foram em passeata até a frente da Assembleia.
A Uespe apresentou um projeto de lei pela meia-passagem intermunicipal, juntamente com um abaixo-assinado com mais de 15 mil assinaturas. Segundo o presidente da Uespe, Davi Lira, “a mobilização ganhou força porque colocamos cerca de 1.500 estudantes nas ruas do Litoral ao Sertão e recolhemos mais de 15 mil assinaturas pela meia-intermunicipal.
Foi com este espírito que os trabalhadores da limpeza urbana da Região Metropolitana de João Pessoa e de Campina Grande realizaram uma importante greve de dois dias (04 e 05 de março), arrancando dos patrões 10% de reajuste salarial e 20% no vale-alimentação. O salário do agente de limpeza passa a ser de R$ 712, e o vale-alimentação de R$ 180.
“Muito além das questões econômicas, a greve estourou devido ao repúdio da categoria a uma jornada de trabalho de 10 a 12 horas por dia; às punições injustificadas, demissões imotivadas, humilhações, etc. Com a greve, demos uma grande resposta a tudo isso, e agora vamos fiscalizar com muita determinação o cumprimento do Acordo Coletivo e garantir o fim do assédio”, declarou Ulisses Alberto, tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores da Limpeza Urbana da Paraíba (Sindlimp-PB).
O Sindicato denunciou amplamente na mídia local a questão do assédio moral e chegou a entregaruma carta ao secretário da presidenta Dilma Rousseff, que esteva em visita à Paraíba.
No dia 25 de março, aconteceu o primeiro encontro de Cipeiros da região Metropolitana do Recife, realizado no auditório do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Correios e Telégrafos (Sintect), tendo a participação de vários sindicatos, trabalhadores e estudantes das escolas técnicas.
Os palestrantes foram o educador regional da Fundacentro José Hélio, abordando a importância da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) no setor de trabalho o brigadista Manoel Pedro, técnico em combate a princípios de incêndio, abordando a forma correta de manuseio de agentes de extintores, além de Thiago Santos, do Movimento Luta de Classes (MLC), fazendo um relato sobre a importância dos sindicatos na organização dos trabalhares.
Ao final, o companheiro Wilmar Fideles, organizador do encontro, declarou “que todos os participantes saíram mais conscientes da importância da Cipa e do seu papel”.
Os trabalhadores da Empresa Vilma Alimentos, localizada na cidade de Contagem, em Minas Gerais, aderiram à campanha que exige da empresa reconhecimento do SindMassas como o representante legítimo da categoria nas negociações entre trabalhadores e patrões. O reconhecimento se deu através do abaixo-assinado. Em apenas três dias, foram colhidas mais de 300 assinaturas, mostrando que o sindicato deve ser construído e reconhecido principalmente pela sua base.
A Vilma é uma das maiores empresas do ramo de Alimentos no Brasil, a maior do Estado. Seus produtos são comercializados nas regiões Sudeste, Sul, parte do Norte e Nordeste. Seu faturamento, em 2012, chegou à R$ 470 milhões, e a previsão é fechar 2013 com um lucro de R$ 550 milhões. Enquanto isso, os trabalhadores da empresa recebem um salário miserável de R$ 700,00, em média, e recebem uma Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de R$ 170,00, dividido em duas parcelas.
Mas a exploração não está concentrada apenas nos baixos salários. Há inúmeros trabalhadores que exercem seu trabalho em alto forno, chegando a uma temperatura de 60 graus, e não recebem insalubridade nem periculosidade. Além disso, o trabalhador que faltar uma vez no mês, mesmo apresentando atestado médico, perde o direito à cesta básica, não recebendo a mixaria da PLR no final do ano.
Cansados da omissão do antigo sindicato que tudo aceitava de cabeça baixa, os trabalhadores apoiam as ações desenvolvidas pelo novo sindicato, o SindMassas. As assinaturas continuarão a ser colhidas durante e serão anexadas à documentação que obrigará as empresas de Contagem a assinar o Acordo Coletivo com o SindMassas. Assim fica claro que os trabalhadores entendem que só a sua luta e a sua organização pode melhorar suas condições de vida e poderão ter melhores salários e condições de trabalho.
As reservas brasileiras reconhecidas somam 14 bilhões de barris de petróleo. A 11ª rodada de licitação do petróleo poderá entregar mais que o dobro de nossas reservas, a julgar pela declaração da própria diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Magda Chambriard, durante um seminário realizado no dia 18 de março em Copacabana, no Rio.
Na abertura do evento, promovido pela ANP e pelo Governo Federal, com o objetivo de apresentar os blocos a serem leiloados aos investidores, Magda Chambriard destacou a importância da licitação, que será realizada nos dias 14 e 15 de maio, com a oferta de 289 blocos distribuídos em 11 bacias sedimentares (Barreirinhas, Ceará, Espírito Santo, Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Parnaíba, Pernambuco-Paraíba, Potiguar, Recôncavo, Sergipe-Alagoas e Tucano).
Em declaração divulgada pela assessoria de imprensa da ANP, Magda Chambriard afirmou:“A rodada vai oferecer excelentes oportunidades para empresas de origem nacional e estrangeira, de todos os portes, interessadas em atuar no Brasil”. Ela disse que estimativas apontam um volume de 30 bilhões de barris de óleo in situ (volume de óleo ou gás em uma determinada região, cuja extração depende de fatores de recuperação e que não pode ser entendido como reserva) nas bacias da Margem Equatorial incluídas na rodada, além de cinco bilhões de óleo in situ na Bacia do Espírito Santo e 1,7 bilhão de óleo in situ nas bacias maduras.
É lamentável, mas a maioria dos brasileiros não está se dando conta do que acontece. As mudanças da lei do petróleo, durante o Governo Lula, adotando modelo de compartilhamento e nomeando a Petrobras operadora única do pré-sal, despertou a ira das multinacionais. Mas elas preferiram ficar caladas, segundo denúncia do WikiLeaks, que revelou o conteúdo de um telegrama que afirmava que “qualquer ação deveria ser feita com cautela, para não despertar o nacionalismo nos brasileiros”.
O que agora assistimos leva a algumas conclusões óbvias: discutir os royalties, como fazem a presidente, os governadores, o Congresso Nacional e o STF é a forma mais eficaz de desviar a atenção da sociedade e deixar acontecer a 11ª rodada de leilão da ANP. Os royalties funcionam como “boi de piranha”, mas, enquanto as piranhas comem um boi, passa toda a boiada. Enquanto se discutem os royalties, que representam 10% da indústria do petróleo, as multinacionais levam os demais 90%.
Se nos leilões anteriores a Petrobras manteve uma posição arrojada, arrematou a maior parte dos blocos e, com isso, reduziu as perdas da nação, desta vez, a empresa entrará na disputa de mãos atadas, sob a síndrome do “prejuízo” que lhe foi imputado falsamente, já que teve um lucro de R$ 21 bilhões.
Os recursos que entram por meio dos leilões pouco representarão na contabilidade da Petrobras. Por isso costumamos afirmar que a ANP está vendendo um bilhete premiado. Só a submissão exacerbada de um país – ou a corrupção desenfreada em alguns escalões – explicaria a manutenção dos leilões de petróleo, nos moldes anunciados pela ANP.
Ao invés de despertar o nacionalismo em defesa do nosso petróleo, nossos representantes criam a disputa, a guerra entre os estados brasileiros, chamam até de “covardia”, gritam “Veta, Dilma!”. Enquanto isso, as multinacionais fazem o banquete com nosso petróleo.
Perplexos, temos a impressão de estar assistindo a um grande conluio entre as classes dominantes e seus representantes em todas as esferas – Executivo, Legislativo, Judiciário, grande mídia – para desviar a atenção do que realmente importa e deixar o povo desnorteado e confuso. Parecem compactuar com o que disse o primeiro diretor-geral da ANP, David Zilberstein, então no Governo de Fernando Henrique Cardoso, para uma plateia de megaempresários: “O petróleo é vosso!”.
Emanuel Cancella,
diretor do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP)
Os ativistas do jornal A Verdade em Pernambuco têm desenvolvido uma nova forma de divulgação e de circulação da imprensa popular. Semanalmente, temos realizado no metrô de Recife brigadas do jornal.
Sempre à noite, ao voltar do trabalho, passageiras e passageiros têm a oportunidade de conhecer o jornal no metrô e se conscientizar do que acontece em nosso país e no mundo. Os pronunciamentos dos brigadistas retratam a realidade da população, denunciam os abusos dos capitalistas e seus governos contra o povo e propagandeiam o socialismo.
Em média, 60 jornais são vendidos em cerca de uma hora de brigada. Isso demonstra a identificação do povo com a imprensa popular, o jornal A Verdade.
A brigada é na verdade uma escola de agitadores políticos e espaço para denunciar os crimes e a exploração existente nessa sociedade que só explora e nada retribui para aqueles que a constroem. Por isso,continuarão as brigadas no metrô, as denúncias e o despertar do povo para a necessidade de transformar revolucionariamente a sociedade.
O Sistema Público de Saúde (SUS) é o responsável pela assistência preventiva e curativa nos postos de saúde, clínicas populares e hospitais gerais.
A Presidência da República anunciou, em fevereiro, a redução dos impostos cobrados dos planos de saúde privados. Sabemos que o dinheiro proveniente dos impostos é a principal fonte de arrecadação da União; então, por que favorecer a ampliação dos planos de saúde em lugar de investir na melhoria do SUS?
Hoje, para garantir uma real qualidade dos serviços prestados, o investimento do Governo na Saúde Pública deveria ser de, no mínimo, 10% da receita da União, mas, na prática, atinge pouco mais que a metade disso. Vale salientar que, além da insuficiência de recursos, tem destaque também a gestão ineficaz, que atualmente sucateia a saúde com a burocratização e o desvio de verbas.
Ao se reduzirem os impostos dos planos de saúde, além de se reduzirem indiretamente os recursos do SUS, alimenta-se o mercado dos planos privados, que transformam a saúde em mercadoria e visam apenas ao lucro das empresas.
Tiro pela culatra
Diante da limitada capacidade de atendimento do SUS, os planos de saúde prometem uma melhor assistência e qualidade dos serviços a um preço acessível aos trabalhadores. Na prática, porém, o que vemos é o desrespeito ao consumidor, preços abusivos (principalmente para idosos e portadores de doenças crônicas) e serviços precários. Segundo dados da revista Exame, desde 2001, os planos de saúde lideram o ranking de reclamações do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), e, só em 2012, foram responsáveis por 20% dos atendimentos do instituto. Entre as principais reclamações estão a insatisfação com os atendimentos e a demora na marcação de consultas. (Exame.com, 04/03/2013)
Além disso, é comum a negação de procedimentos onerosos, como exames diagnósticos e tratamentos de ponta, fazendo com que os usuários busquem atendimento no SUS, que serve como “retaguarda” dos planos de saúde privados.
Essa medida surge, portanto, como mais um golpe ao SUS. Não bastasse tudo isso, as gestões dos serviços públicos de saúde estão sendo entregues nas mãos da iniciativa privada, seja através da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), entidade privada criada pelo Governo Federal, em parceria com o Ministério da Educação (MEC), para gerenciamento dos hospitais universitários, seja através das autointituladas Organizações Sociais (OS), na verdade, empresas de caráter privado que vêm se expandindo em todo o País na gerência de hospitais, unidades de pronto atendimento (UPAs) e postos de saúde.
Agora, o Governo reduz os impostos dos planos de saúde, contribuindo para o aumento dos lucros dos empresários e fazendo com que os trabalhadores paguem duas vezes por este direito: primeiro com os impostos que financiam o SUS, e, segundo, com o pagamento de empresas privadas, responsáveis por serviços de péssima qualidade.
Organizar para salvar o SUS
A Constituição Federal, em seu artigo 196, diz que “a saúde é um direito de todos e dever do Estado”. Na vida real, nem todos têm acesso à assistência médica, e o Estado tenta se responsabilizar cada vez menos pelos serviços.
Se foi possível, nos anos 1980, mobilizar grande parte da população nacional na defesa da criação de um sistema único, universal e gratuito de saúde, por que não seria possível organizar novamente um movimento de resistência?
É preciso, desde já, despertar em cada um de nós a necessidade de lutar contra esta e outras injustiças, sempre almejando uma sociedade igualitária, na qual a saúde seja vista como um direito e não uma mercadoria.
Ildo Sauer é professor titular e diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP. Foi diretor de gás e energia da Petrobras no primeiro Governo Lula. É um dos maiores cientistas brasileiros na área de energia com diversos artigos publicados em periódicos internacionais e livros. A Verdade foi ouvir este especialista para mostrar os sérios riscos que correm hoje as riquezas naturais do Brasil, sua economia e sua soberania.
A Verdade – No momento se fala muito das divisões dos royalties, mas pouco se discute no Congresso Nacional sobre a nova rodada de leilões do pré-sal. O que isso significa, quais os ganhos e as perdas desses leilões para os brasileiros?
Ildo Sauer – O grande problema é que não sabemos quanto petróleo foi entregue pelos leilões. Isso significa que o Brasil leiloou uma riqueza sem saber o seu valor. É uma grande irresponsabilidade o Governo organizar outra rodada desta mesma maneira, considerando ainda o momento de valorização do óleo existe nos blocos.
As perdas são enormes numa situação como essa. A luta pelo lucro suplementar, definida por Karl Marx, é uma luta radical entre a burguesia. Seus interesses são contraditórios. O petróleo tem o poder de, com um investimento baixo, gerar uma margem de lucro enorme.
Há muita divulgação na imprensa sobre os prejuízos da Petrobras. Qual é a situação real da empresa?
Na minha opinião, são três disputas que existem em relação aos rumos do controle e produção de petróleo no Brasil.
Os acionistas fazem uma enorme pressão política para que a Petrobras seja extremamente produtiva. Afinal, querem o retorno do que investiu o quanto antes, levando em conta também a pressão do capital em época de crise. Portanto, quanto mais alto o valor de venda, maior o lucro, e não importam as consequências para a economia.
Outra tendência capitalista é a da indústria nacional. Para a economia interna interessa que os derivados de petróleo acompanhem o mercado internacional. Para empresas como a Gerdau e a Vale, quanto mais baixo o valor dos derivados, mais lucros poderão ter.
Essa disputa tem reflexão na imprensa do Brasil, pois trata-se de uma disputa para pressionar o Governo para que consigam seu objetivo.
Qual deve ser a posição do movimento popular diante dos leilões?
Os setores populares do Brasil, desde a luta “O petróleo é nosso”, liderada pela UNE, até hoje, defendem que os recursos gerados pelo petróleo sejam utilizados para o povo: reforma urbana e agrária, saúde, educação, investimento em ciência, tecnologia e agroecologia, é o que eu defendo.
Diante desse quadro, o Governo brasileiro, com o PT assumindo em 2002 com a esperança de o programa popular ser atendido, sucumbiu às pressões do capital financeiro e traiu o povo que o elegeu.
O Governo Lula organizou cinco rodadas de leilão contra quatro de FHC. Além disso, manteve a ANP (Agência Nacional de Petróleo), criada pelo Governo tucano, que é uma agência que fundamentalmente cumpre o papel de expor e oferecer as riquezas nacionais para o superlucro.
Diante dessa realidade, o Governo joga uma cortina de fumaça para a população e para fazer propaganda política nas próximas eleições. Os royalties não passam de 15% do valor total gerado pelo petróleo nacional. A UNE deveria defender a estatização e o controle público do pré-sal e toda a cadeia petroleira do Brasil. A UNE não pode ser pautada pelos royalties, que é um jeito inócuo de resolver os grandes problemas de nosso país. Esse debate gerou também uma luta fratricida entre o bloco São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo contra os outros estados. A verdade que é o Estado brasileiro é que tem ficar com o lucro. Os locais de extração, em sua maioria, são longe da costa e sob responsabilidade da marinha brasileira.
Estão privatizando o nosso petróleo?
Tenho informações seguras, do Consulado americano, de que a Dilma sempre defendeu os interesses do capital financeiro. Quando secretária no Rio Grande do Sul, seu nome sempre esteve ligado às privatizações. Inclusive, o Governo vem criando empresas extremamente lucrativas financiadas pelo endividamento público, coordenadas pelo BNDES, por exemplo.
Por fim, o capital quer retirar o óleo e transformá-lo em dinheiro o mais rápido possível. Deixando migalhas para serem repartidas pela população. Estão no Brasil todas as grandes empresas mundiais do setor. A novidade é a agressividade das três petroleiras chinesas que estão com mais dinheiro para comprar, sob qualquer custo, o lhes interessarem. O correto seria o Brasil deixar o petróleo debaixo da terra e controlar a produção. Por isso, a imprensa ataca tanto a Venezuela, que produz e investe sob o interesse da população venezuelana. O papel da esquerda e de entidades como a UNE, não é ficar submetidas às contradições da burguesia, mas sim defender os interesses populares, que historicamente foram de uma Petrobras pública, sob controle do povo.
Com um plenário lotado, principalmente por mulheres, a última segunda-feira do mês de março, 25, marcou o encerramento da agenda de audiências dedicadas às mulheres vítimas da tortura no Brasil, realizadas pela Comissão da Verdade de São Paulo, na Assembleia Legislativa do Estado.
Organizada em parceria com a Comissão Nacional da Verdade, a audiência pública Verdade e gênero: a violência da ditadura contra as mulheres contou com a presença de diversas vítimas dessa atrocidade e também de representantes dos movimentos de mulheres de várias regiões paulistas.
Na mesa presidida por Adriano Diogo, deputado estadual e presidente da Comissão Paulista, estiveram presentes Paulo Sérgio Pinheiro, Rosa Maria Cardoso e Maria Rita Kehl, membros da Comissão Nacional.
A ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Eleonora Menicucci de Oliveira, também esteve presente e fez um emocionado discurso sobre Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, centro de tortura e desaparecimento forçado localizado em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Inês, que não pôde estar presente ao ato devido a sérios problemas de saúde, foi homenageada não somente por ter suportado por 96 dias as mais terríveis torturas, sendo vítima de estupros e todo tipo de humilhação enquanto esteve sequestrada, mas também por reconhecimento ao corajoso depoimento que fez após conseguir se libertar, enganando os torturadores ao fingir que havia virado aliada da repressão, o que permitiu que viesse a público a existência da Casa da Morte e de vários companheiros de que ela presenciou a prisão e assassinato.
A filósofa Ivone Gebara proferiu uma palestra, na audiência, em quetratou do tema verdade e gênero e relatou que o ódio particular que os torturadores sentiam pelas mulheres tinha raízes da sociedade patriarcal. Era como se essas mulheres estivessem no lugar errado e sua coragem de romper com o que a sociedade esperava delas – donas de casa, dóceis e amáveis – despertasse neles uma raiva irracional.
Um dos momentos mais emocionantes do evento foi o relato da companheira Amelinha Teles sobre a tortura que ela mesma sofreu. Os filhos de Amelinha foram sequestrados junto dela, seu companheiro, César, e sua irmã grávida, Crimeia. Amelinha contou que os torturadores levaram os filhos para vê-la naquela situação: torturada, urinada, com fezes, humilhada. “Eles usaram a maternidade contra nós”, disse.
Pela primeira vez publicamente, depois de 40 anos e toda sua história de luta em busca de justiça, Amelinha descreveu a violência sexual que sofreu na prisão. Estava amarrada à cadeira do dragão (instrumento de tortura, uma cadeira à qual o prisioneiro fica amarrado enquanto toma choques elétricos), quando o torturador Lourival Gaeta, conhecido por “Mangabeira”, começou a masturbar-se na sua frente. Ao ejacular, lançou o sêmen em cima de seu corpo. Amelinha desabafou: “Não gosto de falar sobre isso, mas sei da importância de tratar desse assunto, da desigualdade entre homens e mulheres na hora da tortura. Eles usaram da desigualdade para nos torturar mais”.
Vivian Mendes,
assessora da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” e militante do PCR
No último dia 15 de março, em ato realizado na Universidade de São Paulo (USP), o Governo do Estado retificou formalmente o atestado de óbito do jornalista Vladimir Herzog (ver A Verdade nº112), assassinado pela Ditadura Militar em 25 de outubro de 1975. A correção corresponde à execução da sentença do juiz Márcio Bonilha Filho, da 2ª Vara de Registros Públicos de São Paulo, que acatou pedido da viúva do jornalista, Clarice Herzog. Ao invés da versão falsificada de suicídio, agora consta no atestado: “A morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos em dependência do 2º Exército – SP (DOI-Codi)”.
A ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, que entregou à família o novo documento, disse que o antigo atestado de óbito “foi escrito pela caneta dos que tinham o poder”. Para o filho de Vlado, Ivo Herzog, o reconhecimento por parte do Estado pela morte de seu pai “significa enterrar um documento mentiroso que nos humilhava”.
O Estado brasileiro foi denunciado pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em março de 2012, por não apurar as circunstâncias da morte do jornalista (já rejeitada a tese de suicídio), bem como punir os culpados. O Governo Federal, por sua vez, defendeu-se com base na Lei da Anistia, que impede punições aos agentes estatais responsáveis pela repressão.
Sendo assim, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, baseada em jurisprudência da Corte Interamericana, que estabelece como inadmissíveis disposições de anistia destinadas a impedir a investigação e a punição dos responsáveis por violações de direitos humanos, como a tortura, execuções sumárias, prisões e desaparecimentos forçados, anunciou oficialmente, em janeiro deste ano, que vai abrir investigação por conta própria para apurar os fatos e os responsáveis pelo assassinato.
Um novo marco jurídico pode estar sendo aberto no tocante aos crimes da Ditadura Militar no Brasil. “Essa decisão não favorece só a minha família. Beneficia muitas famílias que vivem situações semelhantes”, afirmou Ivo Herzog.
Jornalistas perseguidos, torturados e mortos
“O direito à informação foi violentado de forma brutal na Ditadura, com prisões, empastelamento de jornais, exílio e a morte de muitos companheiros jornalistas”, atestou Rose Nogueira, integrante da Comissão Nacional da Verdade dos Jornalistas, após assinar convênio de cooperação com a Comissão Nacional da Verdade (CNV), no último dia 25 de março. A Comissão foi criada pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) no Congresso da categoria, em Rio Branco, no Acre, em dezembro passado.
Rose Nogueira (ver A Verdade nº 125) é ainda diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e presidente do Grupo Tortura Nunca Mais (SP). Fazia parte da equipe de redação dirigida por Vladimir Herzog na TV Cultura, na ocasião em que foi assassinado.
Fazem parte ainda da Comissão os jornalistas Audálio Dantas (presidindo os trabalhos), ele que era presidente do SJSP há época da morte de Vlado e que foi também presidente da Fenaj e deputado federal; Carlos Alberto Oliveira, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Município Rio de Janeiro; Nilmário Miranda, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, ex-deputado federal, ex-ministro dos Direitos Humanos e atualmente membro da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça; e Sérgio Murillo de Andrade, diretor e ex-presidente da Fenaj. Até agora, foram confirmados os nomes de 16 jornalistas desaparecidos, mas há informações de outras investigações que apontam um total de 25 jornalistas mortos.
O livro “Direito à Memória e à Verdade”, lançado em 2007 pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, traz registrados, como jornalistas, 16 companheiros que tombaram na luta contra o regime militar e que são considerados desaparecidos políticos. São eles:
EDMUR PÉRICLES CAMARGO
HIRAN DE LIMA PEREIRA
JAYME AMORIM DE MIRANDA
JOAQUIM CÂMARA FERREIRA
JOSÉ ROBERTO SPIEGNER
LINCOLN CORDEIRO OEST
LUIZ EDUARDO DA ROCHA MERLINO
LUIZ GHILARDINI
LUIZ IGNÁCIO MARANHÃO FILHO
MÁRIO ALVES DE SOUZA VIEIRA
NESTOR VERA
ORLANDO DA SILVA ROSA BONFIM JÚNIOR
PEDRO VENTURA FELIPE DE ARAÚJO POMAR
RUI OSVALDO AGUIAR PFÜTZENREUTER
THOMAZ ANTÔNIO DA SILVA MEIRELLES NETTO
WÂNIO JOSÉ DE MATTOS
A Verdade destaca a história de alguns destes jornalistas que, seja na imprensa comercial, alternativa ou partidária, combateram pela liberdade de expressão, pela derrubada da Ditadura Militar e pelo socialismo.
JAYME AMORIM DE MIRANDA
Nascido em 18 de julho de 1926, em Maceió, Alagoas, além de jornalista, foi advogado e sargento do Exército. Membro do Comitê Central do PCB, chegando a ocupar sua Secretaria de Organização. Era casado e pai de quatro filhos. Trabalhou no jornal A Voz do Povo, na Capital alagoana, até ser preso, e como tradutor clandestino de várias publicações importantes do Rio de Janeiro e São Paulo, já que era poliglota. Viajou várias vezes à União Soviética para cumprir tarefas partidárias e para tratamento da saúde. No dia 04 de fevereiro de 1975, deixou sua casa pela última vez e desapareceu. Há dúvidas se foi morto em São Paulo, Capital, ou no interior do Estado, e há relatos de que seu corpo teria sido jogado ao mar.
JOAQUIM CÂMARA FERREIRA
Nascido em 05 de setembro de 1913, em Jaboticabal, São Paulo, era mais conhecido pelo codinome Toledo, tendo assumido o comando da Ação Libertadora Nacional (ALN) após a morte de Carlos Marighella, em novembro de 1968. Foi um dos dirigentes do sequestro do então embaixador dos EUA no Brasil Charles Burke Elbrick, em fevereiro de 1969, resultando na libertação de 15 presos políticos de diversas organizações (ver os filmes O que é isso, companheiro? e Hércules 56). Antes, foi diretor de diversas publicações do PCB, até ser preso e torturado no Estado Novo de Getúlio Vargas. Depois disso, concentra sua atuação entre os trabalhadores ferroviários. É preso, antes do golpe de 1964, quando realizava palestra para os operários de São Bernardo do Campo sobre a importância da imprensa na luta pelas Reformas de Base propostas pelo presidente João Goulart. Anos depois, já na clandestinidade, foi novamente preso e morto, sob torturas, no mesmo dia, 23 de setembro de 1973, a partir do que não se tem mais registros sobre seu corpo.
LUIZ IGNÁCIO MARANHÃO FILHO
Nascido em 25 de janeiro de 1921, em Natal, Rio Grande do Norte, também atuou como advogado, professor universitário e chegou a se eleger deputado estadual em seu Estado, em 1958. Seu irmão, Djalma Maranhão, era prefeito da Capital potiguar quando da deposição de Jango em 1964. Colaborou com diversas publicações impressas, especialmente para o Diário de Natal e a Revista Civilização Brasileira. Preso e torturado, em 1952, na Base da Aeronáutica de Natal. Viajou a Cuba juntamente com Francisco Julião, das Ligas Camponesas, pouco antes do golpe de 1964, para se encontrar com Fidel Castro. Após seu regresso, foi preso e levado à Ilha de Itamaracá, com seu irmão e o governador de Pernambuco, Miguel Arraes, ambos com mandatos cassados. Solto, cai na clandestinidade e se fixa no Rio de Janeiro. Em maio de 1974, é morto nas dependências do DOI-Codi/RJ, estando seu corpo desaparecido até hoje.
MÁRIOS ALVES DE SOUZA VIEIRA
Nascido em 14 de junho de 1923, em Sento Sé, Bahia. Iniciou sua militância política aos 16 anos. Foi um dos fundadores da União dos Estudantes da Bahia e participou ativamente da vida da UNE durante o Estado Novo. Chegou a se formar no curso de superior de Letras, em Salvador. Em 1957, é eleito para o Comitê Central do PCB, dirigindo organismos do Partido nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Como jornalista, dirigiu os jornais Novos Rumos e Imprensa Popular. Já na clandestinidade, ficou preso por um ano pouco depois do golpe de 1964. Em 1968, formalizou sua dissidência com a linha de Prestes e do PCB, organizando o PCBR, junto com o histórico dirigente Apolônio de Carvalho. No dia 16 de janeiro de 1970, saiu de casa, à noite, e não mais voltou. Morreu no dia seguinte, nas dependências de um quartel do Exército na Rua Barão de Mesquita, na Capital Rio de Janeiro. Foi brutalmente espancado e empalado até a morte no pau-de-arara. Do seu corpo não se tem notícias. Sua esposa, Dilma Borges Vieira, foi uma das precursoras do movimento dos mortos e desaparecidos.
Rafael Freire,
presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba
“Luiz Carlos Prestes – o combate por um partido revolucionário (1958 – 1990)” é o título da recente obra lançada pela editora Expressão Popular, de autoria da historiadora e filha do líder comunista, Anita Leocádia Prestes.
Anita esteve em várias cidades do Nordeste lançando o livro, entre elas Fortaleza, Aracaju, João Pessoa (UFPB), Campina Grande (UFCG) e Recife. Na Capital pernambucana a noite de autógrafos aconteceu no auditório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (CREA-PE).
Em sua palestra, a escritora traz uma abordagem geral da obra e explica que, com este livro, acredita ter terminado o levantamento de um período da política brasileira, que termina em 1990. Agora ela se voltará para a construção de uma biografia do “Cavaleiro da Esperança”. Anita é filha de Luiz Carlos Prestes e da revolucionária alemã Olga Benario.
Dando prosseguimento às pesquisas que vem empreendendo sobre o papel de Luiz Carlos Prestes na elaboração e na aplicação das políticas do PCB, a professora Anita Leocádia Prestes apresenta, neste livro, as vicissitudes enfrentadas pelo Partido através de uma documentação diversificada e abrangente.
Importante leitura sobre a organização dos comunistas no Brasil.
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