UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 11 de setembro de 2025
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Crescer o partido: filiar aos milhares e organizar os núcleos!

Organização de núcleos e dedicação ao trabalho de construção do partido são tarefas decisivas para os militantes da Unidade Popular (UP). Crescimento de 200% nos últimos anos é caminho para transformar a UP em um poderoso instrumento da luta anticapitalista

Juliete Pantoja* | Rio de Janeiro (RJ)


“Nossos objetivos só podem ser alcançados conquistando as amplas massas oprimidas para se mobilizarem pelos seus direitos e contra o regime de exploração capitalista. A tarefa que se impõe, portanto, é a de nos tornarmos um grande partido, depositário da confiança das massas e impulsionado por suas lutas.” (Teses ao 3º Congresso Nacional da UP, novembro de 2023)

Desde o primeiro ano de fundação da Unidade Popular (UP), ficou clara a enorme responsabilidade do Partido perante a conjuntura. Coube à UP impulsionar o enfrentamento nas ruas ao governo fascista de Jair Bolsonaro e suas medidas antipovo, que jogou milhões de trabalhadores brasileiros no desemprego, na fome e na pobreza, enquanto deixava empresários, usineiros e latifundiários cada vez mais ricos.

As grandes manifestações que se seguiram durante a pandemia para exigir vacina e auxílio emergencial se somaram à rede de solidariedade, em que o próprio povo dividia o pouco que tinha para garantir comida no prato dos lares mais atingidos pela fome.

Em todas essas iniciativas, a militância incansável da UP esteve presente de Norte a Sul do país, o que fez crescer o número de pessoas pedindo ingresso ao Partido. Esse crescimento quantitativo provocou também uma maior penetração nas lutas locais, demandando um aumento na organização dos núcleos e grupos de trabalho em cada localidade.

Os núcleos desempenham um papel vital, pois, através deles, a luta pela transformação radical da sociedade se transforma em trabalho de base diário. É também esse trabalho constante e sistemático, aliado à agitação e à propaganda (inclusive no processo eleitoral), que gera um grande crescimento do Partido, como comprovam os aumentos de filiações logo após as eleições municipais de 2020 e a eleição nacional de 2022.

UP cresceu 200% em menos de dois anos

A palavra de ordem “Crescer o partido: filiar aos milhares e organizar os núcleos”, apresentada na Tese ao 3º Congresso Nacional da UP, em 2023, trouxe para o centro do debate a urgente tarefa de organizar os milhares de jovens, mulheres e trabalhadores que tomaram conhecimento da existência de um partido que, mesmo sem fundo partidário ou tempo de TV, ocupou bairros e periferias por todo o país para defender um programa de esquerda, popular e revolucionário.

Desde então, filiar todos que buscam a UP, de forma rápida e organizada, tem sido um desafio constante. Na maioria dos estados, não temos ainda responsáveis pelo processamento e acompanhamento sistemático do processo de filiação, que permanece artesanal e extremamente lento.

Do final de 2022 a abril de 2024, crescemos 200%, pois chegaram milhares de novos pedidos de filiação de toda a parte do Brasil. Os estados que mais cresceram em número de filiações (SP, RJ, MG, DF e RS) também mantiveram reuniões de núcleo regulares. Há também estados que mantiveram crescimento constante, como SC, GO, PE e PB, que possuem responsáveis pelo processo.

Desde março deste ano, o Diretório Nacional estabeleceu uma comissão de filiação para auxiliar nesse trabalho e avançou o debate sobre a metodologia no processamento e acompanhamento das metas de cada estado.

Quando existe uma grande quantidade de pedidos acumulados, a melhor forma para encaminhar é destacar um responsável para cuidar especialmente da tarefa de filiação. Esse responsável deverá contatar diretamente todas as pessoas interessadas, convidando-as para uma plenária de apresentação do Partido, coordenada por um membro do Diretório ou da comissão de filiação, caso haja.

Na plenária, são apresentados os movimentos e organizações que constroem a Unidade Popular, como foi o processo de registro da UP e os princípios políticos de organização e autossustentação que nos norteiam. Este é um momento importante, pois possibilita aos interessados tirarem dúvidas dos mais variados temas, efetivar a filiação e já direcionar os novos militantes aos núcleos. Caso também tenham interesse em ingressar em algum dos movimentos sociais que integram a UP, já podem conversar diretamente com os coordenadores destes.

Cada pessoa, para se tornar membro, precisa concordar com o programa, os fundamentos da organização partidária e o Estatuto e pagar uma contribuição mensal. Após isso, o filiado deve ser direcionado a um núcleo do partido, onde desenvolverá sua ação prática cotidiana. É no núcleo ativo, com reuniões regulares, que o filiado debate sua ação prática e se integra nas atividades políticas, como as brigadas do jornal A Verdade, panfletagens, cursos, etc.

No processo eleitoral que se aproxima, todo militante deve contribuir para a formulação do programa socialista para as cidades, que será apresentado pelo Partido, com o objetivo de aumentar a denúncia dos crimes cometidos pelos ricos, apresentar nossas ideias e propostas para milhares de trabalhadores.

Assim, a Unidade Popular se tornará um grande e poderoso instrumento a serviço da luta contra a exploração capitalista!

*Juliete Pantoja é presidente da UP-RJ

Matéria publicada na edição nº 293 do jornal A Verdade

Movimento Correnteza presente no 13º CONEUFES no Espírito Santo

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Entre os dias 7 e 9 de junho, foi realizado o Congresso de Estudantes da UFES (CONEUFES), maior instância de deliberação política e estatutária dos estudantes. O congresso contou contou com mais de 100 estudantes dos quatro campi debatendo importantes pautas nos grupos de trabalhos.

Redação ES


Nos dias 7, 8 e 9 de junho, foi realizado o Congresso de Estudantes da UFES (CONEUFES), maior instância de deliberação política e estatutária dos estudantes. Esse espaço determina o que vai guiar o movimento estudantil da universidade federal capixaba durante os próximos anos.

O congresso contou contou com mais de 100 estudantes dos quatro campi debatendo importantes pautas nos grupos de trabalhos com as temáticas: LGBTQIAP+, mulheres, PCDs, etnico-racial, políticas públicas para a juventude, dentre outros. Durante os dias de debate, uma coisa ficou nítida: não nos bastam apenas discursos e frases prontas que rimam. Não nos basta que se defendam os interesses do povo da boca para fora, sem a realização de ações práticas.

Os movimentos estudantis que compõem o Diretório Central dos Estudantes da UFES (Levante Popular da Juventude, JPT, JSB, UJS), formam a base do governo, o mesmo governo que prefere beneficiar os grandes banqueiros com pagamento da dívida pública e avança com passos lento a recomposição orçamentária para a educação. Essa mesma entidade se posicionou contra a greve dos estudantes em apoio a atual greve dos docentes e servidores técnicos. A  truculência desse processo culminou na ruptura das relações da ADUFES (Associação dos Docentes da UFES) com o DCE, o que foi uma perda significativa para o movimento estudantil, devido ao apoio histórico dessa entidade à luta dos estudantes da UFES.

Apesar dos prazos apertados e da falta de divulgação da metodologia e do cronograma do congresso por parte do DCE, o Movimento Correnteza, juntamente ao campo de oposição (Fogo no Pavio, UJC, Pajeú) e estudantes independentes, com grande mobilização dos cursos de serviço social e ciências sociais, conseguiu vitórias expressivas.

Elucidando o processo político que estava sendo realizado, bem como denunciando as incoerências que estavam sendo praticadas pelo DCE, conseguimos avançar na organização do movimento em todos os 4 campi, angariando militantes que enxergaram no Movimento Correnteza uma nova alternativa no cenário político do movimento estudantil universitário.

Para além disso, através de atividades de finanças organizadas combinadas a venda do jornal A Verdade, conseguimos aumentar o nosso caixa, possibilitando maior autonomia e projeção de planos futuros nos campi de São Mateus e Alegre.

Segundo a estudante do curso de Educação Física, Sarah Rodrigues, “Apesar das passadas de perna da majoritária nesse congresso, ter participado do CONEUFES foi uma experiência formativa incrível. Ao longo do congresso, fui me aproximando do Movimento Correnteza e de fato, o exemplo dos companheiros me arrastou para a luta. Os debates dos Grupos de Trabalho foram importantes para ampliar minha visão em temáticas essenciais, e também conseguimos aprovar mudanças importantes no estatuto do DCE, além de conscientizar os alunos sobre as problemáticas de alterações que infelizmente foram aprovadas, como a realização do Congresso passar a ser obrigatória a cada 2 anos, ao invés de anualmente. Além disso, foi um espaço de socialização onde pude trocar ideias com alunos de diversos cursos que ainda não tinha tido a oportunidade de conhecer.”

Logo após o congresso, Sarah e outros diversos alunos dos campi da UFES se juntaram definitivamente à nossa organização para lutar nas trincheiras a favor de uma educação pública e de qualidade, combatendo as políticas neoliberais que sucateiam as universidades e serviços públicos, vislumbrando e organizando um horizonte socialista para o Brasil.

BH: Famílias acampam na URBEL para inclusão de ocupações no plano de urbanização

Em Belo Horizonte, famílias da região da Izidora ocupam Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte – URBEL, para inclusão da Ocupação Esperança e Vitória no plano de urbanização.

Redação MG


LUTA POPULAR – Nesta quarta-feira (19), as famílias da Ocupação Esperança e Vitória, junto com o MLB, ocuparam a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte, a Urbel, para reivindicar a inclusão das ocupações no plano de urbanização, mantendo o diálogo e o respeito com os moradores.

A luta das famílias da Região da Izidora não é de hoje. Em 2021, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) iniciou um processo de urbanização das 4 ocupações da Região da Izidora, na região Norte de BH, que somam cerca de 8 mil familias. Uma das exigências da PBH para a realização do processo foi a derrubada de mais de mil casas das ocupações.

Apesar das imposições da Prefeitura, as duas maiores ocupações, Esperança e Vitória, que somam mais de 6 mil famílias, não cederam ao processo de despejo, e, como uma forma de punição, a prefeitura da cidade as retirou do plano de urbanização.

“Nós não concordamos com o método de urbanização que a prefeitura vem usando nos últimos anos, baseado nas desastrosas experiências do Aglomerado da Serra, Morro do Papagaio (região centro sul), da Vila São José e Pedreira Padre Lopes (regional Noroeste). Em todas essas houve expulsão e despejo de alguns milhares de famílias, e muitas dessas estão lutando até hoje para serem reassentadas”, disse Edinho, coordenador Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).

Famílias acampam e resistem na URBEL. Foto: JAV/MG.

“A reivindicação das famílias da Izidora hoje na ocupação da URBEL é para a gente entrar no plano de urbanização da Prefeitura. Falaram que iam usar a verba para urbanizar toda a Izidora, mas essa história não é verídica. A Ocupação Esperança e Vitória são grandes, e ficaram de fora do plano. Se nós temos melhoras hoje dentro da nossa comunidade, foi pela construção popular. A gente fez uma horta comunitária, um calçamento, uma concretagem na avenida principal, as áreas verdes no centro da nossa ocupação, somos nós que fizemos e cuidamos. A gente quer que eles façam o básico, porque a gente cuida do resto. O nosso lixo é a gente que trata. A Prefeitura e a URBEL não fazem nada por nós. Nós queremos urbanização sim, mas queremos uma urbanização justa, ética e popular, do jeito que nós sabemos fazer. Que a URBEL nos respeite! Só isso que pedimos pra eles”, declarou Edna, liderança da região e do MLB.

Desde então, a Prefeitura reforçou que só oferece violência para quem luta por moradia digna. À mando de Fuad Noman, prefeito da cidade, a Guarda Municipal de Belo Horizonte (GMBH) se estabeleceu na porta da URBEL sem abrir nenhuma negociação. Uma ação de reintegração de posse, ainda sem julgamento até o fechamento desta matéria, foi aberta para expulsar as famílias que reivindicavam seus direitos.

Até mesmo a entrega de alimentos para quem estava construindo a ocupação foi impedida pela GMBH. Esta é mais uma demonstração da política higienista aplicada pela atual Prefeitura de Belo Horizonte. É corriqueiro o método de perseguição e despejo das ocupações urbanas, como aconteceu neste ano com a Ocupação Edneia Ribeiro, sem nenhum diálogo com o Movimento de Mulheres Olga Benario, que construiu a ocupação na luta pela vida das mulheres.

Esta quinta-feira (20) amanheceu com as famílias resistindo e permanecendo com o acampamento dentro da URBEL, exigindo seu direito à moradia digna e devido respeito e diálogo da prefeitura com as famílias. O Jornal A Verdade continuará acompanhando esta luta.

Guarda Municipal de Belo Horizonte intimida famílias na URBEL. Foto: JAV MG.

Lucros dos bancos: um abismo entre riqueza e desigualdade no Brasil

Em 2023, os bancos brasileiros ostentaram lucros exorbitantes. Enquanto isso, a desigualdade social no Brasil segue em níveis alarmantes.

Warley Costa*


Em 2023, os bancos brasileiros ostentaram lucros exorbitantes, enquanto a população se afogava em uma desigualdade social cada vez mais profunda. Essa discrepância gritante levanta questionamentos urgentes sobre o papel do sistema financeiro no país e a necessidade de medidas para garantir um futuro mais justo para todos.

Os cinco maiores bancos do Brasil registraram um lucro líquido de R$ 107,5 bilhões em 2023, um aumento de 1,9% em relação ao ano anterior. O Itaú Unibanco, por exemplo, viu seus lucros saltarem 15,7%, alcançando R$ 35,6 bilhões. Já o Bradesco e o Santander, apesar de apresentarem quedas em seus lucros, ainda assim contabilizaram valores expressivos: R$ 16,3 bilhões e R$ 9,4 bilhões, respectivamente. 

Já no primeiro trimestre de 2024, os lucros dos mesmos bancos somaram R$ 28,4 bilhões, um aumento de 14,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. O Itaú Unibanco novamente se destacou, com lucro de R$ 9,8 bilhões, seguido pelo Santander, com R$ 3,0 bilhões.

Enquanto isso, a desigualdade social no Brasil segue em níveis alarmantes. Segundo o IBGE, os 1% mais ricos da população concentram 40,2% da renda nacional, enquanto os 50% mais pobres detêm apenas 12,5%. Essa disparidade se reflete no acesso a serviços básicos como educação, saúde e moradia, perpetuando um ciclo de exclusão e pobreza.

Mesmo o Brasil fechando o ano de 2023 como a nona economia do mundo, dados do IBGE indicam que, no mesmo ano, 64 de milhões de brasileiros viveram em insegurança alimentar, ou seja, sem uma alimentação mínima necessária.

Para Nilmara Ivone, de 28 anos, mãe solo de três filhos, coordenadora do MLB e moradora da Ocupação Carolina Maria de Jesus, em Belo Horizonte, “com as lutas do Natal Sem Fome, conseguimos garantir cesta básica todos os meses e entrega de verduras toda semana para moradores das ocupações. Com isso, eu só preciso complementar óleo, feijão, carne e outras coisas. Só com o auxílio do bolsa família, iria passar necessidade. Estou desempregada há muito tempo. Na verdade, nunca trabalhei de carteira assinada, sempre de bico e que nem sempre pagam bem. Se não fosse essa luta, acho que não teria comida em casa”.

*Trabalhador do Ramo Financeiro

Matéria publicada na edição nº 293 do Jornal A Verdade

Quatro anos exigindo justiça por Giovanne Gabriel, jovem morto em Natal (RN)

No dia 05 de junho de 2020, o jovem Giovanne Gabriel foi sequestardo por quatro policiais militares; seu corpo foi encontrado após nove dias. Família exige justiça por Giovanne Gabriel e punição máxima aos policiais acusados.

Redação RN


No dia 05 de junho de 2020, o jovem Giovanne Gabriel decidiu fazer uma surpresa a sua namorada, que estava fazendo aniversário. Ele saiu de sua casa no bairro Guarapes, localizado na Zona Oeste de Natal (RN) e se deslocou até Parnamirim, município da Região Metropolitana da capital. No meio do caminho, foi surpreendido por quatro policiais militares, que o sequestraram.

Imediatamente ao saber do sumiço, os familiares e a comunidade do Guarapes se mobilizaram por respostas. Foram diversos atos, mobilizações, campanhas nas redes digitais e panfletagens, exigindo saber o paradeiro de Gabriel. O Estado ofereceu quase nenhum apoio, precisando que os próprios familiares e a comunidade realizassem as buscas pelo jovem. Após nove dias, seu corpo foi encontrado em São José de Mipibu, cidade a 38 km de Natal e 20 km de Parnamirim.

Houve diversos atos de rua e mobilizações massivas exigindo justiça. Diante da pressão do povo organizado, a governadora do Estado, Fátima Bezerra, ligou para a mãe de Gabriel, Priscila Souza, dizendo que determinou todo o empenho nas investigações. A mobilização popular obteve o segundo avanço, que foi a identificação dos policiais militares Paulinelle Sidney Campos Silva, Bertoni Vieira Alves, Valdemi Almeida de Andrade e Anderson Adjan Barbosa de Sousa, como possíveis responsáveis por sequestrar, assassinar e ocultar o cadáver de Giovanne Gabriel. Assim, começou uma nova etapa da luta: colocar esses carrascos na cadeia.

A família de Gabriel teve que lutar para que Gabriel não fosse esquecido, para que houvesse justiça pela sua morte, para que esses policiais fossem condenados por seus crimes, tudo isso enquanto enfrentava o luto de perder um filho no início de sua vida.

Com o intuito de não parar essa mobilização, a Unidade Popular (UP), o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e o Coletivo Negro Valdete Guerra realizaram, em junho de 2022, um festival de cultura popular nomeado “Festival Giovanne Gabriel”. O festival ocorreu novamente em 2023, contando com diversos artistas da cena hip hop de Natal e com o apoio de outros movimentos sociais e sindicatos. O sonho de Gabriel era ser cantor de rap. Ele compunha, editava e cantava suas próprias músicas.

Em junho de 2023, ocorreu mais um ato cobrando celeridade. O ato ocorreu em frente ao Tribunal de Justiça do RN. Na ocasião, foi entregue uma carta aberta que continha um depoimento escrito por Priscila, mãe de Gabriel, que dizia: “Meu filho GABRIEL tinha muitos sonhos e projetos de vida. Meu filho era estudante aplicado e esforçado e fazia muitos planos para seu futuro e dizia que ia me ajudar e formar uma família com muito amor e carinho. Todos os dias e todas as noites, não paro de pensar no meu filho e de como ele estaria feliz e contente ao meu lado e de toda a família. Por não mais poder ter meu filho ao meu lado, quero somente JUSTIÇA para que essas pessoas que mataram meu filho GABRIEL respondam e sejam condenados pelo que fizeram e para que outras mães não sofram nem chorem as mortes dos seus filhos, provocadas por quem deveria nos proteger, e não nos matar”.

Família exige justiça por Giovanne Gabriel, jovem morto em Natal em 2020.
PROTESTO. Comunidade mobilizada, cobrando justiça e denunciando a violência policial. Foto: Luísa Medeiros (JAV/RN).

Júri Popular

As Polícias Militares matam 18 pessoas por dia em nosso país. Para a classe burguesa, é melhor que o povo da periferia morra. Logo, o interesse dessa classe é não punir aqueles que derramam esse sangue. Por isso que, mesmo com os nomes dos acusados revelados, houve toda uma movimentação por parte dos milicianos e dos fascistas para adiar o julgamento do caso Gabriel. Por várias vezes, o júri popular foi adiado na véspera da data marcada.

A Justiça burguesa, porém, decidiu seguir o protocolo da impunidade e determinou que os policiais respondessem em liberdade. E a luta se concentrou para que o caso fosse levado a júri popular, finalmente alcançando este objetivo no ano de 2024. Se não fosse toda a mobilização da comunidade, o caso não estaria no estágio em que se encontra.

Durante quatro anos, toda a comunidade sentiu a raiva, a tristeza, a desesperança e a inquietação que milhões de mães negras sofrem diariamente nesse país. O caso de Gabriel é mais um sintoma de um sistema apodrecido, que carrega os resquícios da escravização do povo preto e da Ditadura Militar de 1964.

O júri popular está agora marcado para ocorrer entre os dias 04 até 07 de junho, na 1° Vara Criminal de Parnamirim. Os movimentos sociais organizaram um ato na porta do prédio para exigir “Justiça por Gabriel” e punição máxima aos policiais acusados

Matéria publicada na edição nº 293 do Jornal A Verdade

Trabalhadoras assumem controle de fábrica na Venezuela

O jornal A Verdade conversou com as operárias venezuelanas Jane Abreu e Norix Parra, militantes do Movimento de Mulheres Ana Soto, que participaram da tomada da fábrica Thomas Greco, localizada no Estado de Lara, na Venezuela, em 2017. Atualmente, ambas estão no conselho da empresa, que é dirigida pelas trabalhadoras.

Renato Campos


Como se deu o processo em que as trabalhadoras da fábrica assumiram o controle da produção?

Jane Abreu A Thomas Greco é uma empresa transnacional, que produz documentos que necessitam de selos de segurança, como passaporte, códigos de segurança, licença para dirigir, diplomas universitários e bilhetes de loteria. É uma empresa originalmente de capital inglês, mas atualmente a maioria de seus acionistas são colombianos e está em 13 países, incluindo o Brasil. Os seus principais clientes são os governos dos países em que ela está sediada. Em 2017, a empresa fechou as portas e demitiu mais de 100 trabalhadores, deixando salários atrasados, dívidas trabalhistas, entre outros graves problemas. Os donos da empresa alegaram que não tinham condições de desenvolver o negócio e que não havia clientes para se manter na Venezuela. Para a tomada da empresa, tivemos um apoio decisivo da Federação Bolivariana Socialista dos Trabalhadores de Campo e Pesca, que era a entidade sindical que reivindicava nossos direitos frente aos patrões. O Ministério do Trabalho interveio e os trabalhadores organizados decidiram assumir o controle da fábrica e reativar a empresa. No entanto, em meio a sanções dos EUA, não tínhamos o timbre fiscal e havia dificuldade para conseguir matérias-primas.

Como funcionava a fábrica antes de vocês assumirem?

Norix Parra – Havia muita exploração, as jornadas de trabalho eram muito extensas, 12 horas por dia. Cheguei a trabalhar 24 horas sem descanso, pois o trabalhador que me renderia não chegou. A realização de movimentos repetitivos no ritmo das máquinas por muitas horas seguidas levou muitos companheiros a desenvolverem doenças ocupacionais, inclusive problemas graves nos ossos e pulsos das mãos. Dentre os 126 trabalhadores, 86 eram mulheres. 

Como vocês conseguiram superar os problemas para conseguir realizar a produção?

Jane Abreu – Quando assumimos a fábrica, nossa matéria-prima era o papel. Decidimos produzir cadernos escolares porque estavam muito caros devido ao bloqueio dos EUA. Foi um período muito complexo com as sanções, de um lado, e, a pandemia, de outro. Hoje, estamos fazendo feiras de materiais escolares para nosso povo.

Como está a situação das trabalhadoras da fábrica?

Norix Parra – Estamos trabalhando entre três a oito horas por dia. São, ao todo, 16 trabalhadores, 15 mulheres e um homem. Houve uma grande mudança porque a empresa não se importou em nenhum momento conosco quando anunciou o fechamento. Nesse processo, além dos problemas físicos, tivemos problemas psicológicos, muitas mães solo ficaram sem nenhum apoio. Agora, somos nós que decidimos, nos relacionamos muito bem com a organização Operária e Camponesa da Comuna em nosso território.

Jane Abreu – Um ponto importante é que enfrentamos mudanças tecnológicas e na forma de produzir. Temos que estar sempre atentas para superar as adversidades. 

Qual recado vocês deixam para os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil?

Jane Abreu – Que as mulheres trabalhadoras do Brasil e do mundo devem lutar contra a exploração dos patrões. E devem fazer isso de forma organizada, pois vivemos uma luta de classes. Devemos defender o socialismo e assumir a produção. Só dessa maneira podemos, vamos superar nossos problemas, colocando a classe operária à frente desse processo.

Matéria publicada na edição nº 293 do Jornal A Verdade

“Nossas ocupações têm que ser trincheiras de luta”

Entre os dias 30 de maio e 02 de junho, aconteceu o I Encontro das Ocupações de Mulheres do Movimento Olga Benario, que realizou 23 ocupações ao longo dos últimos oito anos, em todas as regiões do país. Com representações de mais de 20 estados, o evento foi um espaço para reafirmar a importância de organizar as mulheres para lutar.

Larissa Mayumi (SP) e Monique Zuma (RJ)


MULHERES – Entre os dias 30 de maio e 02 de junho, aconteceu o I Encontro das Ocupações de Mulheres do Movimento Olga Benario, que realizou 23 ocupações ao longo dos últimos oito anos, em todas as regiões do país. Mais de 100 mulheres se reuniram com o objetivo de avançar a luta pelo fim da violência contra as mulheres e pelo socialismo.

Com representações de mais de 20 estados, o evento foi um espaço para reafirmar a importância de organizar as mulheres para lutar. “Onde não tem organização revolucionária, o fascismo avança. Nossas ocupações têm que ser trincheiras de luta!”, afirmou Carol Vigliar, da Coordenação Nacional do Movimento, na mesa de abertura.

Diante das violências que acometem as mulheres do Brasil e do mundo, as ocupações são um farol de esperança, como relatou Luana Miranda, advogada da Ocupação Rose Nunes, do Paraná: “Pela primeira vez, me senti valorizada no meu trabalho, porque consegui atuar em prol da vida das mulheres”. 

O desenvolvimento dos núcleos é fundamental para promover as lutas. Andressa Ribeiro, da Ocupação Mulheres Mirabal, foi uma das 580 mil pessoas que perderam tudo com as enchentes no Rio Grande do Sul: “No meio de tudo, começaram a vir relatos de abusos de mulheres e crianças dentro de abrigos, então decidimos construir um abrigo só com crianças e mulheres, e lá fizemos uma primeira reunião do Olga com 30 participantes”.

Para apontar os próximos passos da luta, as delegadas se dividiram em grupos de debate. Um dos grupos afirmaram a necessidade de mapear os serviços de acolhimento às mulheres e a importância de visitar os equipamentos existentes para aproximar as servidoras, já que as políticas para as mulheres são sempre as primeiras a serem atacadas.

Outro grupo debateu sobre o papel das ocupações, que, além de espaços de atendimento, são também de denúncia do aumento da violência de gênero e de organização das mulheres. “A gente não pode parar isso em nós, temos que voltar para as nossas cidades e organizar mais e mais trabalhadoras”, afirmou Lais Siqueira, da Ocupação Maria Lúcia Petit Vive, Campinas (SP).

Todas as ocupações do Movimento são autossustentadas, ou seja, não há financiamento de empresas ou do governo. Nesse sentido, “precisamos aumentar as finanças para dar conta do crescimento das lutas para enfrentar o avanço do fascismo e das guerras”, concluiu Gabriela Gonçalves, da Coordenação Nacional.

Para ampliar a atuação para além dos muros das ocupações, alguns estados que ainda não têm ocupação relataram que constroem redes de profissionais e atuam com casas itinerantes, seguindo o exemplo da Casa Ieda, ocupação do Distrito Federal, que, depois de despejada, passou a realizar os atendimentos onde as mulheres estavam.

Também foi realizada uma mesa de debates histórica, composta por Guita Marli, fundadora do Movimento e membro da Redação do jornal A Verdade, e Amelinha Teles, ex-presa política, integrante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e diretora da União de Mulheres de São Paulo.

Replicando o cotidiano das ocupações, com atividades culturais, creche para as crianças, e muita agitação, o Encontro encerrou com a fala de Samara Martins, vice-presidenta da Unidade Popular: “Onde há opressões, a gente hasteia a bandeira da rebelião. Sem nós, mulheres, não teremos a revolução, porque somos as mais massacradas por esse sistema. Estamos organizadas para dizer que vamos ser poder nesse país!”.

Matéria publicada na edição nº 293 do Jornal A Verdade

Plataforma Comunista: “O plano do governo de Meloni é criar um regime autoritário na Itália”

Em entrevista exclusiva ao Jornal A Verdade, a organização revolucionária italiana Plataforma Comunista afirma que “A classe trabalhadora italiana se mobiliza realizando greves e manifestações massivas em defesa de seus interesses e direitos.”

Redação


ENTREVISTA – A Plataforma Comunista é uma organização revolucionária marxista-leninista da Itália, fundada em 2008. Desde então, seus militantes vêm impulsionando a luta dos operários italianos e desenvolvendo um importante trabalho para construir um partido da classe trabalhadora comprometido com a revolução proletária.

Integrante da Conferencia Internacional de Partidos e Organizações Marxistas-Leninistas (CIPOML), a Plataforma tem contribuído para o avanço da luta revolucionária em todo o mundo, em particular, na Europa. Em entrevista exclusiva ao jornal A Verdade, os dirigentes da organização denunciam o governo fascista da Itália e analisam a situação do movimento operário e popular deste país.

A VERDADE – Qual a importância da criação da Plataforma Comunista para a formação de uma vanguarda revolucionária na Itália?

PLATAFORMA COMUNISTA – Desde a nossa fundação, a Plataforma Comunista (PC) assumiu a tarefa de trabalhar pelo estabelecimento de um partido da classe trabalhadora da Itália, instrumento indispensável da revolução proletária. Para isso, colocou como tarefa central dar impulso e alcançar a unificação dos comunistas sinceros e trabalhadores avançados, de grupos e círculos marxistas-leninistas, lutando contra a confusão ideológica e a fragmentação organizativa produzidos pelo revisionismo moderno, e que cresceu muito em nosso país.

Nosso trabalho tem como objetivo unir o socialismo científico com o movimento operário, participando nas lutas do proletariado e das massas populares. Nesta etapa, nossa tarefa prioritária é nos conectarmos com os operários mais avançados e formar quadros. Hoje, estamos lutando para levar a luta do partido a um nível superior, mediante um processo de fusão com grupos e camaradas comunistas. “Pequeno grupo compacto”, nós avançamos levando adiante a luta teórica e política, acumulando forças sob as bandeiras do marxismo-leninismo e do internacionalismo proletário.

Nas últimas eleições gerais na Itália, houve uma grande abstenção. Por quê?

O fenômeno do abstencionismo alcançou 36% nas últimas eleições políticas e superou o percentual de 50% em muitas cidades nas últimas eleições administrativas. Devido a essa elevada abstenção, o Governo Meloni representa, de fato, menos de 25% dos votos do eleitorado italiano.

O abstencionismo é reflexo da crescente desconfiança das grandes massas populares nas instituições burguesas. Em particular, o parlamento burguês está cada vez mais desacreditado aos olhos da população. A crescente abstenção é resultado tanto da desilusão das massas com as experiências e propostas falidas do revisionismo e da social-democracia, como das ações dos partidos burgueses de direita, liberais e reacionários, que se alternam no governo sem trazer nenhuma solução para a situação econômica e social cada vez mais difícil das massas.

O governo fascista da primeira-ministra Giorgia Meloni tem adotado várias medidas que atingem diretamente os trabalhadores, além de investir num Estado militarista. Como o povo enfrenta o atual governo?

O governo Meloni é um governo do grande capital, particularmente dos monopólios italianos, com uma estreita base social que consiste sobretudo na pequena e média burguesia. Esse governo não representa uma alternância “normal” entre centro-esquerda e centro-direita; é uma nova fase política, caracterizada por um giro reacionário que se produz em um período de guerra imperialista.

O plano do governo de Meloni é criar um regime autoritário, atacar com mais força a classe trabalhadora, suas condições de vida e de trabalho e seus direitos democráticos. O processo de fascistização afeta a todos os aparatos estatais, estando vinculado ao fortalecimento da dominação dos monopólios, o aumento das contradições imperialistas e a política de guerra da burguesia italiana, da Otan e da União Europeia. 

Frente a essa situação, a classe trabalhadora se mobiliza realizando greves e manifestações massivas em defesa de seus interesses e direitos, especialmente nos setores metalúrgico, do transporte e da logística. Há uma retomada gradual da luta de classes, mas a ação dos líderes reformistas dos principais sindicatos não conduz à unificação e à mobilização das massas, mas sim para sua divisão e enfraquecimento. Há pequenos sindicatos classistas que não atuam suficientemente sobre as massas. Por essas razões, apesar do crescente descontentamento, ainda existem dificuldades em expressar-se como uma oposição social e política aberta e contundente.

A Itália é um dos países mais ricos da Europa, mas qual é a situação da classe operária no país?

Os salários dos trabalhadores italianos se encontram entre os mais baixos da Europa. O poder aquisitivo diminuiu muito nas últimas décadas. Com a recente onda inflacionária, perdeu mais 15%. Há demissões massivas nas grandes empresas, como de automação, telecomunicação, siderurgia, têxtil, química, etc. A exploração se intensifica entre quem permanece empregado e aumenta o número de acidentes fatais no trabalho. O desemprego oficial entre os jovens é de 20%.

É grande a expansão do trabalho precário e “ilegal”. Durante anos, o gasto social em saúde, pensão, escola, transporte e assistência social vem diminuindo. O governo Meloni aboliu subsídios para os pobres e não existe um salário mínimo determinado por lei. Os despejos continuam um após o outro, e muitos trabalhadores são forçados a dormir em carros ou nas ruas. A incidência da pobreza absoluta é por volta de 10% da população, o nível mais alto nos últimos três anos. 

No polo oposto, as classes proprietárias, especialmente a burguesia, aumentou sua riqueza pagando cada vez menos impostos. O abismo entre classes sociais se amplia constantemente: 5% da população possui 46% da riqueza total. Neste cenário, há 25 anos, o PIB não cresce acima de 2%, e a produção industrial italiana segue sendo 20 pontos inferior à de 2008. Estes são sinais do declínio histórico do imperialismo italiano. 

Como a guerra da Rússia contra a Ucrânia e a Otan tem afetado a vida do povo italiano?

O governo de Meloni nos arrasta cada vez mais para a guerra imperialista. Já aprovou sete pacotes para enviar armas, especialistas militares e ajuda econômica ao regime de Zelensky. O imperialismo italiano é muito ativo nas manobras dos EUA e da Otan; conta com presença militar não só na Ucrânia, mas também na zona do Báltico, Bulgária, Romênia, Letônia, Eslováquia, Polônia, Bósnia-Herzegovina, Kosovo, etc. Também tem aumentado sua presença militar no Mar Mediterrâneo, no Mar Vermelho e na África. As tropas italianas participam em mais de 50 missões no exterior. O gasto militar aumenta continuamente: 29 bilhões de euros em 2024.

Ao mesmo tempo, o gasto social está diminuindo significativamente. A guerra na Ucrânia foi uma das causas da recente onda inflacionária que piorou dramaticamente as condições de vida das massas populares. Os preços do combustível, da eletricidade e do gás dispararam, e é um drama a cada fatura que chega na casa das famílias pobres.

O outro aspecto da política de guerra é a contínua militarização da sociedade: mais repressão, mais controle social, mais medidas de “segurança” para reprimir os protestos operários e populares.

Como se desenvolve na Itália a solidariedade ao povo palestino?

Desde outubro de 2023, ocorrem contínuas e amplas manifestações, especialmente de jovens, em apoio ao povo palestino e para rechaçar a agressão genocida israelense, como também a cumplicidade do governo italiano. A solidariedade à causa palestina está crescendo entre a população, apesar da propaganda sionista do governo e da “oposição” burguesa.

No “Dia da Terra” e no aniversário da “Nakba”, ocorreram numerosas manifestações e ações de solidariedade com a heroica resistência do povo palestino. Também aconteceram manifestações nos portos para impedir o transporte de armas dirigidas a Israel. Agora, em diferentes universidades, há estudantes ocupando os campi para protestar contra a cooperação entre as universidades italianas e israelenses. 

No geral, as demandas são: “Abaixo à agressão sionista e o cerco a Gaza, cessar-fogo”, juntamente com a condenação do vergonhoso apoio do governo italiano ao Estado sionista. Vale lembrar que o genocídio dos palestinos é cometido com armas italianas (terceiro fornecedor de armas para Israel), e os monopólios italianos continuam a fazer negócios com Tel Aviv.

A Plataforma Comunista é uma das organizações que integram a CIPOML, que, em 2024, completa 30 anos de existência. Qual o papel da CIPOML?

Trinta anos após sua fundação, a CIPOML continua sendo a forma mais elevada de internacionalismo proletário atualmente. A importância da CIPOML é enorme na atual situação de agravamento das principais contradições de nossa era.

Os documentos e resoluções que ela produz, com base nos princípios do marxismo-leninismo, são referência indispensável para o desenvolvimento da linha política e das atividades dos partidos e organizações aderentes, bem como dos comunistas coerentes de todos os continentes.

Na situação atual, a CIPOML, que sempre lutou pela unidade internacional dos comunistas, desempenha um papel essencial no combate aos desvios revisionistas e oportunistas que hoje se apresentam sob várias formas (por exemplo, o multipolarismo), bem como ao chauvinismo. Também atua na aproximação e união do proletariado dos países imperialistas com o proletariado e as massas oprimidas dos países dependentes, na realização de um trabalho de esclarecimento em nível teórico, político e organizacional e no incentivo ao reagrupamento das forças revolucionárias do proletariado.

Aproveitamos esta entrevista para enviar saudações fraternas e felicitações internacionalistas aos jornalistas revolucionários, correspondentes, propagandistas e a todos os companheiros que colaboram para a publicação de A Verdade, o valioso e combativo jornal dos trabalhadores e do povo trabalhador do Brasil na marcha para uma sociedade socialista.

Entrevista publicada na edição nº 293 do Jornal A Verdade.

Rebele-se e UJR crescem e se destacam por combatividade no Congresso da UBES

Entre os dias 14 e 16 de junho, milhares de estudantes participaram do 45º Congresso da UBES, realizado no Ginásio do Mineirinho, em Belo Horizonte. Estudantes de todo o país estiveram presentes, e a bancada do Movimento Rebele-se se destacou por sua combatividade e pela defesa de uma jornada de lutas pela revogação do Novo Ensino Médio e por mais verbas para a educação.

Cadu Machado | Redação


JUVENTUDE – O 45º Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), realizado em Belo Horizonte (MG), teve seu início com uma homenagem a Edson Luís, estudante secundarista assassinado pela ditadura militar fascista, enquanto participava de uma manifestação estudantil no restaurante Calabouço, no centro do Rio de Janeiro. O assassinato de Edson Luís foi um marco na luta contra a ditadura, levando 100 mil estudantes às ruas em seu velório.

O ato político elegeu Edson como patrono da entidade e contou com a participação de ex-presos políticos e lutadores populares. Um dos convidados foi Edival Nunes Cajá, presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa, que recebeu a medalha Edson Luís e falou com o jornal A Verdade: “Este evento e a homenagem a Edson Luís vêm na hora certa. Chegou a hora de a UBES assumir esta bandeira. Se queremos avançar a democracia, estabelecer uma sociedade livre de fato em nosso país, é necessário erguer esta bandeira por memória, verdade, justiça e democracia.”


Cajá fala sobre a luta pelo socialismo para centenas de estudantes. Foto: Arthur Rodrrigues/JAV

O primeiro dia ainda contou com mesas de debate que discutiram a conjuntura nacional, o massacre de Israel ao povo palestino, a revogação do Novo Ensino Médio, o genocídio da juventude negra e a questão ambiental. Quando perguntada sobre a expectativa para o congresso no fim do primeiro dia, Isabelle Vaz, diretora da UBES pelo Movimento Rebele-se, disse: “A gente está aqui com a expectativa de colocar a UBES no eixo da luta, porque os estudantes não se rendem! Essa é a tese que a gente está defendendo aqui no congresso.”

Apesar dos problemas de estrutura que impediram centenas de estudantes de participarem do primeiro dia do 45º CONUBES, os debates durante as mesas expressaram a disputa de ideias que existe dentro da entidade: de um lado, a direção majoritária da entidade (PCdoB/PT), defendendo a gestão da entidade em unidade com o Governo Federal; e de outro, a oposição, liderada pelo Movimento Rebele-se e pela UJR, defendendo que o caminho da UBES deveria ser o das lutas. Este embate permeou todo o congresso.

Solidariedade aos estudantes e ao povo do Rio Grande do Sul

O segundo dia de congresso seguiu com debates sobre a situação das escolas do Brasil pela manhã, e no período da tarde foi realizado um ato no Ginásio do Mineirinho em solidariedade aos estudantes e ao povo do Rio Grande do Sul, afetados por enchentes nos últimos meses.

Durante o ato, estudantes exibiram livros cobertos de lama que foram trazidos de escolas do estado. O jornal A Verdade conversou com Kaye, estudante do RS, que falou um pouco sobre as dificuldades de participar do congresso e sobre o espírito dela e de seus colegas de bancada: “Grande parte dos estudantes que vieram para o congresso com a nossa bancada nós conhecemos nos abrigos, na luta para não voltar às aulas enquanto as pessoas não tivessem lugar para ir. Muitos estudantes do Rio Grande do Sul não puderam vir, por isso nós estamos aqui para representá-los!”. Kaye ainda completou: “Nós viemos para denunciar que as enchentes não aconteceram simplesmente porque caiu chuva do céu, faz parte de um projeto. Viemos cobrar também ações do Governo Federal, como o fim do Arcabouço Fiscal e o cancelamento da Dívida Pública do estado.”

“E para a UBES ser de ação, tem que ter Rebelião”

Estudantes a caminho da plenária final. Foto: Arthur Rodrigues/JAV

Logo após o ato de solidariedade, foi iniciada a plenária final. Neste momento, ficou ainda mais evidente o crescimento da bancada do Movimento Rebele-se, que ocupou um dos setores do anel superior do ginásio em clima de muita agitação com palavras de ordem defendendo uma UBES de luta.

Na tarde de sábado foi o momento da defesa de teses sobre conjuntura, educação e movimento estudantil. Em sua defesa sobre educação, Isa Gandolfi, vice-diretora da entidade, convidou os estudantes para a luta: “Cada um aqui nesse plenário tem uma tarefa fundamental, que é fortalecer o Movimento Estudantil em cada canto do país. Mas isso só será possível se for construído junto com os grêmios, que ensinam para a juventude que é possível mudar a realidade do nosso país”. Gandolfi ainda denunciou a falta de democracia e de reuniões durante a última gestão (2021-2024).

Além das defesas de tese, também se destacaram bandeiras da Palestina por todo o ginásio, expressando o apoio dos estudantes ao povo palestino. Na bancada do Movimento Rebele-se havia um bandeirão com a palavra de ordem “Israel assassina crianças! Fora Israel de Gaza!”

Oposição cresce o número de diretorias na entidade

Rebelião na UBES. Foto: Wildally Souza/JAV

No domingo, terceiro dia do congresso, o dia se iniciou com uma solenidade que contou com a presença de convidados internacionais. A atividade relembrou o histórico de lutas da América Latina, da Revolução Cubana e a visita de Fidel ao 38º CONUBES, que completou 25 anos em 2024.

Logo após a solenidade, teve início a defesa da diretoria que representará a entidade na próxima gestão. Três chapas foram inscritas para a disputa: o chamado “Campo Popular”, formado pelo Levante Popular da Juventude e Juventude Sem Medo (chapa 1); a Oposição, com a tese “OPOSIÇÃO: Estudantes na luta para revogar o NEM e as privatizações”, formada por estudantes organizados pela UJR com o Movimento Rebele-se, UJC, Juntos! e o coletivo Vamos à Luta (chapa 2); e a chapa 3, formada pelo campo majoritário, encabeçada pela juventude do PCdoB (UJS), aliada às diferentes correntes de juventude do PT.

A votação foi marcada por um clima bastante hostil, principalmente nas urnas destinadas aos estudantes que foram ao congresso com a UJS. Nestas urnas, a Comissão Eleitoral e fiscais foram impedidos de verificar a documentação dos delegados que estavam votando, e estudantes que queriam votar na chapa da oposição foram impedidos de depositar seus votos na urna ou coagidos.

Agitação e propaganda marcaram a bancada da Rebele-se no congresso. Foto: Ignis Medina/JAV

Apesar da falta de democracia, o crescimento do Movimento Rebele-se e da UJR no congresso foi evidente e se refletiu nas urnas. A bancada da oposição, que tinha 9 diretores na entidade durante a última gestão, com o crescimento da bancada, elegeu 12 diretores para a próxima gestão, um salto importante para a retomada da entidade para a luta.

Segundo Millene Barbosa, estudante do RN e coordenadora da União da Juventude Rebelião, esse resultado expressou o crescimento da UJR e de sua defesa do socialismo: “O crescimento do Movimento Rebele-se mostra que os estudantes querem lutar contra o desmonte e a privatização da educação. Durante o congresso, fizemos muita agitação sobre os problemas da juventude e apresentamos o socialismo como solução, e os estudantes concordaram com a gente. Saímos do congresso maiores e com muitos recrutamentos. Agora é hora de voltar para as nossas escolas e aumentar ainda mais nosso trabalho e nossas lutas para barrar o Novo Ensino Médio e ampliar o orçamento da educação.”


O jornal A Verdade realizou uma cobertura completa do evento. Para saber tudo o que aconteceu no 45º Congresso da UBES, confira o canal no YouTube, Flickr e as redes digitais de A Verdade

 

BNDES financia privatização da água no Pará

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Banco público de fomento está sendo utilizado para promover privatizações e enfraquecimento do poder público a serviço de interesses privados, como mostra o caso da privatização da COSANPA, estatal da água no Pará.

Welfesom Alves | Redação PA


BRASIL – Por definição, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é uma entidade vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e deveria servir para fortalecer a economia brasileira por meio da iniciativa pública. O anúncio da COP-30 (evento internacional que reúne nações e grandes capitalistas para discutir as mudanças climáticas e as possibilidades de lucrar com elas) em Belém, levou o Governo do Estado do Pará e a diretoria do banco a dialogar sobre a possibilidade de investimentos na ordem de R$5 bilhões, sendo R$3 bilhões na linha de financiamento de estados e municípios. O Pará é rico, possui capacidade de endividamento, e ainda assim submete seu povo à pobreza.

Acontece que os projetos deste banco deveriam servir para que o poder público se fortalecesse, utilizar os recursos a serviço do povo pobre. Contudo, a agenda de privatizações praticada pelo Governo Helder Barbalho (MDB) no Pará e a conivência da gestão da presidência do banco, de Aloizio Mercadante, buscam permitir o avanço da privatização da água e encarecimento do custo de vida da classe trabalhadora.

BNDES e a modelagem

Em evento no dia 2 de junho de 2023, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) anunciou que a concessão da água e saneamento no Pará estava sendo realizada pelo banco como parte da agenda da COP-30. Com esse nome pomposo de concessão, busca-se entregar um bem necessário à vida humana para gerar lucro.

Na proposta do BNDES, a concessão para as empresas seria de 40 anos, com um investimento previsto de R$18 bilhões escalonados a cada 5 anos para alcançar 5,4 milhões de pessoas. Para a execução do plano, o Pará seria dividido em 4 blocos de concessão composto por: A – Região Metropolitana de Belém e Marajó; B – Nordeste do Pará; C – Oeste do Pará; e D – Sudeste do Pará.

O sistema de água e saneamento é composto por: Produção, Distribuição, Esgotamento Sanitário, Gestão Comercial e Água e Esgoto dos SAAEs (Serviço Autônomo de Água e Esgoto). Na concessão, a COSANPA passa a existir apenas no Bloco A, sendo responsável apenas pela produção de água, todo o resto passa a ser de responsabilidade das concessionárias, onde a COSANPA será obrigada a vender água potável para essas empresas a um preço abaixo do que hoje vende, passando de R$4,59 para R$1,70 por m³ (metro cúbico) de água tratada.

O esgotamento sanitário é praticamente inexistente no Pará. 118 municípios não possuem nenhum tratamento de esgoto e 13 tratam abaixo de 10% do esgoto que é despejado integralmente nos rios (inclusive os que são de origem hospitalar). Contudo, isso não é falta de capacidade da COSANPA ou dos trabalhadores e sim da gestão dos governos anteriores e ineficiência do setor privado onde já há. No estado há uma tarifa de 60% que incide sobre a conta de água que deveria ser destinada para a universalização do serviço de esgotamento sanitário, porém o recurso não chega a ser visto.

Universalização do serviço

Para abrir caminho ao setor privado o governo golpista de Michel Temer (MDB), então presidente da República em 2018, editou a Medida Provisória 868/18 que alterou o Marco Legal do Saneamento esvaziando o controle social nos municípios e privilegiando as concessões. Mas foi no governo do fascista Jair Bolsonaro que o Projeto de Lei é sancionado. Resumindo, incentiva o aumento do controle da água e saneamento de empresários do setor ou não, basta que paguem mais pela outorga (concessão).

A meta oficial do novo marco é alcançar a universalização do serviço até 2033, onde 90% da população deve ter acesso ao esgotamento sanitário e 99% deve ter acesso à água potável. No projeto elaborado pelo BNDES, o acesso à água é alcançado em 2033 e o esgotamento sanitário em 2037, portanto fora do prazo, e para atingir tais metas serão necessários investimentos de R$18 bilhões de reais, mas o que não se diz é que hoje estão investidos R$2 bilhões pela COSANPA que serão entregues à iniciativa privada sem compensação alguma ao estado.

Outro ponto é que no capitalismo o povo não pode ter tudo, não pode ter pleno emprego porque os empresários ficam sem o seu exército de reserva, perdem a capacidade de demitir a qualquer momento e são pressionados a aumentar os salários, e não pode ter água e saneamento básico pois o plano não contempla trabalhadores rurais.

Articulação e luta

No dia 05 de junho, o Sindicato dos Urbanitários do Pará, categoria que atua na COSANPA, promoveu um seminário para discutir o plano de modelagem e apresentar propostas de luta contra a privatização do serviço de água. A Unidade Popular (UP), o Movimento Luta de Classes (MLC), Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Movimento de Mulheres Olga Benário, entre outras organizações e coletivos fortaleceram a atividade para conduzir a luta no estado.

Em entrevista para o jornal A Verdade, Marcos Montenegro, que é engenheiro e membro da coordenação do Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (ONDAS) destaca que a saída não é a privatização: “Nós primeiros vimos a gravidade dos problemas que existem no serviço prestado à população do Pará, por outro lado discutimos também que a privatização não é a saída. Foi feita uma crítica à política implementada pelo atual governador [Helder Barbalho] com o apoio lamentavelmente do BNDES. Não vai ser por meio da concessão de serviços essenciais que vai se resolver o problema do acesso”.

Já Juliano Ximenes, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA, em Belém, e conselheiro do ONDAS ressalta os interesses imperialistas na Amazônia: “É muito grave porque é um esforço desses segmentos reacionários no sentido de ampliar a esfera das mercadorias, de transformar a água numa mercadoria no sentido mais completo, isso vai implicar em desigualdades muito graves e têm uma ameaça à sobrevivência da população trabalhadora, e a luta é para colocar isso no debate público. Devemos criar um foco de resistência para criar uma crítica sistemática, e é muito grave porque o Pará, assim como o Amazonas, como tem uma disponibilidade de recursos hídricos de água doce superficial, um processo desse pode representar a perda de soberania, porque você pode exportar essa água, dando origem a expropriação por esses agentes internacionais, empresariais, enfim, norte-americanos, canadenses, belgas, franceses, espanhois, alemães, que são os principais atores”.

Também conversamos com Luís Alberto Rocha, professor da Faculdade de Direito da UFPA e assessor jurídico da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU) que pontua a necessidade de ouvir o povo paraense: “A principal questão do BNDES modelar o saneamento é não ter a perspectiva do Pará. Temos muita capacidade instalada que poderiam ser consultados para fazer a análise da modelagem do saneamento. O que tem acontecido é que a gente importa um modelo que não leva em consideração o povo paraense e faz um olhar exclusivamente sobre eficiência econômica, e quando tratamos de serviço público envolve a qualidade de vida das pessoas”.

Governos temem revoltas populares

Não é simples entregar um bem público, os capitalistas buscam desde 2016 viabilizar o caminho para ampliarem seus lucros, esbarram em interesses locais e regionais, mas acima de tudo tem medo que a classe trabalhadora se organize. A tradição brasileira é de orgulho do trabalhador e de todas as suas conquistas. A COSANPA é resultado do esforço diário dessa classe que hoje vê uma defasagem de pelo menos 70% do seu quadro de funcionários.

Não seria a primeira vez que um povo se revolta para garantir água de qualidade. A Guerra da Água de Cochabamba (cidade da Bolívia onde ocorreu a revolta) se deu entre janeiro e abril do ano de 2000, assim ficou conhecido o movimento que reestatizou a água no país, possível apenas com ampla organização popular.

Entrevistado pelo Jornal A Verdade, Waldir, diretor do Sindicato dos Urbanitários do Estado do Pará, indica os motivos da precarização do serviço: “O sindicato está mobilizando as entidades e a população para se somarem na luta. O que é que está por trás do interesse da privatização? Esse é um ponto importante que precisamos apresentar para os deputados e para a população, que está sendo feito um sucateamento muito grande por parte do governo do estado através da diretoria da COSANPA para que a população tenha essa visão de que a iniciativa privada é quem vai prestar um bom serviço”.

O Movimento Luta de Classes (MLC), junto à Unidade Popular, o Movimento de Mulheres Olga Benário e Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), esteve realizando denúncias sobre a falta de água no bairro da Marambaia e constatou o interesse da população em lutar pela garantia de um serviço de qualidade. Gian Victor, do MLB, destaca o caminho da luta popular: “É importante para mostrar a indignação do nosso povo, que em sua maioria é contra a política de privatização, também é uma forma de defender nosso direito a um item básico que é água e saneamento e mostrar que a água não deveria ser uma mercadoria e sim um direito garantido a todos os trabalhadores”.

Como podemos constatar não temos saída nos parlamentos, nos resta as ruas, principal elemento para mudar qualquer correlação de forças. É inaceitável que uma medida que vai atingir diretamente o povo, não passe por debates, audiências públicas, já que o que aconteceu com a CELPA é um exemplo de que a privatização apenas tornou o serviço mais caro. Podemos virar o jogo nos acréscimos se entendermos que o destino da classe trabalhadora é dirigir a produção, as relações sociais, o mundo.

MLB ocupa Conferência Municipal da Cidade de Mauá

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Conferência Municipal da Cidade de Mauá foi ocupada por famílias do MLB e do Movimento de Mulheres Olga Benário. Elas denunciam que a Prefeitura não está cumprindo o acordo de cessão de um terreno onde 200 casas e uma creche devem ser construídas para os moradores das ocupações Manoel Aleixo e Antônio Conselheiro

Redação SP


No sábado (15/6), famílias do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e mulheres do Movimento de Mulheres Olga Benário ocuparam a 6ª Conferência Municipal da Cidade de Mauá e realizaram um ato na abertura do evento.  O prefeito de Mauá, Marcelo Oliveira (PT), foi questionado por descumprir um acordo firmado com os moradores das ocupações Antônio Conselheiro e Manoel Aleixo, organizadas pelo MLB, e com as mulheres que construíram as Ocupações Helenira Preta I e II, do Movimento Olga Benário.

“Nós do MLB estamos aqui hoje para cobrar a promessa de cessão de um terreno para que possamos construir as nossas moradias! Milhares estão desempregados e morando nas ruas, a moradia digna é um direito e estamos aqui pra lutar”, anunciou Selma Almeida, da coordenação do MLB, durante a manifestação.

Em abril do último ano, as famílias saíram das ocupações após um acordo que previa a destinação de um terreno municipal para construção das moradias. À época, o prazo para viabilizar a doação apresentado pela Prefeitura foi de seis meses. Nesse período, o MLB desenvolveu um projeto que prevê a construção de um empreendimento habitacional para 200 famílias sem-teto, com um espaço para acolhimento de mulheres em situação de violência a ser organizado pelo Movimento de Mulheres Olga Benário.

Estes movimentos sociais atuam há anos na cidade, organizando centenas de famílias na luta pela moradia digna, contra a violência de gênero, em defesa de mais vagas nas creches e dos direitos das mães e crianças.

Desde setembro do ano passado, os movimentos têm cobrado o cumprimento do acordo e a cessão do terreno, mas a Prefeitura segue deixando de cumprir com suas obrigações com o povo mauaense. “Mauá tem 32 mil pessoas no déficit habitacional, a casa das nossas companheiras alaga quando chove. Nossa luta é digna”, afirma Luiza Fegadolli, do Movimento de Mulheres Olga Benário.

Descaso da prefeitura

No último mês de abril, o projeto foi aprovado pelo programa Minha Casa Minha Vida Entidades, o que garantiu os recursos financeiros necessários para a construção através de investimento do Governo Federal. Ainda assim, a gestão de Marcelo Oliveira está se recusando a cumprir o acordo de destinação da área e colocando em risco a conquista das famílias após anos de luta.

As famílias do MLB já haviam ocupado a prefeitura da cidade na última quarta-feira (12/6) para exigir a doação do terreno. Com o ato, elas receberam a promessa de uma reunião com a prefeitura e a Caixa Econômica Federal onde o encaminhamento do projeto seria discutido.

Depois, na sexta-feira (14/6), dia da reunião, a Prefeitura se recusou a receber presencialmente a comissão de negociação dos movimentos. As famílias foram deixadas na calçada e, em uma reunião online, a gestão municipal apresentou que não realizaria a doação, devido a uma suposta impossibilidade jurídica.

Com o descumprimento do acordo, a Prefeitura está impedindo que 200 famílias pobres tenham acesso à moradia popular, além de inviabilizar um investimento do Governo Federal na cidade que poderia gerar centenas de empregos na construção civil.

Revoltadas, as famílias do MLB estão realizando uma série de denúncias e manifestações contra a Prefeitura, como na Conferência da Cidade de Mauá. Elas reafirmam que não aceitarão ter seu direito à moradia negado após mais de 4 anos de lutas e negociações.