Conferência Municipal da Cidade de Mauá foi ocupada por famílias do MLB e do Movimento de Mulheres Olga Benário. Elas denunciam que a Prefeitura não está cumprindo o acordo de cessão de um terreno onde 200 casas e uma creche devem ser construídas para os moradores das ocupações Manoel Aleixo e Antônio Conselheiro
Redação SP
No sábado (15/6), famílias do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e mulheres do Movimento de Mulheres Olga Benário ocuparam a 6ª Conferência Municipal da Cidade de Mauá e realizaram um ato na abertura do evento. O prefeito de Mauá, Marcelo Oliveira (PT), foi questionado por descumprir um acordo firmado com os moradores das ocupações Antônio Conselheiro e Manoel Aleixo, organizadas pelo MLB, e com as mulheres que construíram as Ocupações Helenira Preta I e II, do Movimento Olga Benário.
“Nós do MLB estamos aqui hoje para cobrar a promessa de cessão de um terreno para que possamos construir as nossas moradias! Milhares estão desempregados e morando nas ruas, a moradia digna é um direito e estamos aqui pra lutar”, anunciou Selma Almeida, da coordenação do MLB, durante a manifestação.
Em abril do último ano, as famílias saíram das ocupações após um acordo que previa a destinação de um terreno municipal para construção das moradias. À época, o prazo para viabilizar a doação apresentado pela Prefeitura foi de seis meses. Nesse período, o MLB desenvolveu um projeto que prevê a construção de um empreendimento habitacional para 200 famílias sem-teto, com um espaço para acolhimento de mulheres em situação de violência a ser organizado pelo Movimento de Mulheres Olga Benário.
Estes movimentos sociais atuam há anos na cidade, organizando centenas de famílias na luta pela moradia digna, contra a violência de gênero, em defesa de mais vagas nas creches e dos direitos das mães e crianças.
Desde setembro do ano passado, os movimentos têm cobrado o cumprimento do acordo e a cessão do terreno, mas a Prefeitura segue deixando de cumprir com suas obrigações com o povo mauaense. “Mauá tem 32 mil pessoas no déficit habitacional, a casa das nossas companheiras alaga quando chove. Nossa luta é digna”, afirma Luiza Fegadolli, do Movimento de Mulheres Olga Benário.
Descaso da prefeitura
No último mês de abril, o projeto foi aprovado pelo programa Minha Casa Minha Vida Entidades, o que garantiu os recursos financeiros necessários para a construção através de investimento do Governo Federal. Ainda assim, a gestão de Marcelo Oliveira está se recusando a cumprir o acordo de destinação da área e colocando em risco a conquista das famílias após anos de luta.
As famílias do MLB já haviam ocupado a prefeitura da cidade na última quarta-feira (12/6) para exigir a doação do terreno. Com o ato, elas receberam a promessa de uma reunião com a prefeitura e a Caixa Econômica Federal onde o encaminhamento do projeto seria discutido.
Depois, na sexta-feira (14/6), dia da reunião, a Prefeitura se recusou a receber presencialmente a comissão de negociação dos movimentos. As famílias foram deixadas na calçada e, em uma reunião online, a gestão municipal apresentou que não realizaria a doação, devido a uma suposta impossibilidade jurídica.
Com o descumprimento do acordo, a Prefeitura está impedindo que 200 famílias pobres tenham acesso à moradia popular, além de inviabilizar um investimento do Governo Federal na cidade que poderia gerar centenas de empregos na construção civil.
Revoltadas, as famílias do MLB estão realizando uma série de denúncias e manifestações contra a Prefeitura, como na Conferência da Cidade de Mauá. Elas reafirmam que não aceitarão ter seu direito à moradia negado após mais de 4 anos de lutas e negociações.
Mais de 100 famílias sem-teto ocupam prédio abandonado do governo do RS em Porto Alegre. Ocupação Sarah Domingues foi despejada brutalmente pela Brigada Militar que prendeu Guilherme Brasil, um dos coordenadores nacionais do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) presentes na ocupação.
Claudiane Lopes | Redação
LUTA POPULAR – Na madrugada do dia 15 de junho, mais de 100 famílias sem-teto de diversos bairros da periferia das cidades de Porto Alegre e Eldorado, organizadas pelo Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocuparam o antigo prédio da Fundação Estadual de proteção ambiental fechado há mais de 10 anos no centro da cidade sem cumprir nenhuma sua função social, demonstrando, assim, a falta de política habitacional dos Governos para com os desabrigados das enchentes.
A nova moradia foi batizada de “Sarah Domingues”, em homenagem à estudante de Arquitetura e Urbanismo da UFRGS que foi assassinada em janeiro deste ano quando fazia seu trabalho TCC sobre as enchentes na Ilha das Flores.
A situação é grave no Rio Grande do Sul após enchentes. São milhares de pessoas que deixaram os abrigos e não têm para onde ir.
O último boletim da Defesa Civil do RS revela que 2.392.686 foram impactadas pelas enchentes em todo o estado, 572.781 estão desalojadas e 30.442 estão em abrigos. Os dados demonstram a questão da moradia digna como tema central para a discussão das ações de reconstrução.
Após o início da ocupação, centenas de policiais da Brigada Militar entraram e despejaram as famílias do prédio. O despejo ocorreu por volta das 14 horas de hoje (16/06) e a PM prendeu Guilherme Brasil, um dos coordenadores nacionais do MLB que acompanhava o processo de ocupação na capital gaúcha.
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“O MLB ocupou para mostrar para sociedade que existem milhares de imóveis públicos que
não tem nenhuma função social e devem ser destinados para moradia popular. A ocupação
é uma forma de organização coletiva fundamental para as famílias que perderam tudo nas
enchentes. Lutamos pelo mesmo sonho que Sarah lutou na vida, uma sociedade sem
desigualdades sociais, onde todas as pessoas têm teto para morar e viver dignamente,
afirmou a coordenadora do MLB Helena Andrade Ew.
Imagem: reprodução redes digitais MLB
A luta de Sarah Domingues
O nome escolhido para a ocupação resgata o legado da estudante Sarah Domingues. Ela
era militante e dirigente da União da Juventude Rebelião (UJR), organização a qual dedicou
seus melhores anos e toda sua alegria de vida, tornando-se uma das principais lideranças
estudantis de Porto Alegre. Estudante de Arquitetura, foi coordenadora do Movimento
Correnteza, diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE), do Diretório Central dos
Estudantes da UFRGS, do Diretório Acadêmico da Arquitetura e membro do Conselho
Universitário da UFRGS.
Apesar de recente, a ocupação já estabeleceu, no prédio, uma cozinha coletiva e espaços
como creche e dormitórios. Foi eleita uma Coordenação da Ocupação composta por diversos companheiros.
“A gente faz uma ocupação porque tem muitos prédios aqui em Porto Alegre totalmente
abandonados, jogado às traças, sabendo que tem pessoas morando na rua, morando
embaixo da ponte, sem ter casa depois das enchentes e não dá para ser assim. Chega de
descasos dos governantes, as pessoas têm o direito de ter uma casa, só conseguiremos se a gente se organizar”, Luciano Schafer – Coordenador Estadual do MLB.
A ocupação desde do seu surgimento tem um importante apoio dos militantes da Unidade
Popular, União da Juventude Rebelião, Movimento Correnteza, Movimento de Mulheres
Olga Benario, da Comunidade dos indígena e do Movimento Luta de Classes.
Enchentes no RS deixaram milhares de gaúchos sem casa. Muitas das famílias estão encontrando no Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) um instrumento de organização para lutar por uma moradia
Claudiane Lopes | Porto Alegre (RS)
O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e a Unidade Popular (UP), com as Brigadas de Solidariedade, iniciaram a organização das famílias atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Seis cidades foram diretamente mobilizadas: Porto Alegre, Canoas, Eldorado do Sul, Passo Fundo, São Leopoldo e Novo Hamburgo. Essas brigadas atuam com entrega de marmitas, cestas básicas, material de limpeza, água, roupas e também na limpeza das casas das pessoas.
Por orientação da Coordenação Nacional do MLB, as famílias de vários estados organizadas no Movimento doaram mil cestas básicas para os atingidos do Rio Grande do Sul. Essas cestas foram conquistadas na Jornada Natal Sem Fome, em dezembro de 2023, quando grandes redes de supermercados foram ocupadas em várias capitais brasileiras para denunciar a falta de comida na mesa para o povo pobre.
Na capital gaúcha, o trabalho está sendo desenvolvido em sete bairros, com o cadastro de famílias para organizá-las nos núcleos do MLB, preparando-as para a batalha do presente e para as futuras lutas. No Bairro Santa Rosa, o Movimento fez porta a porta para ouvir as demandas e foi criada, em parceria com a Associação Profeta Daniel, a cozinha solidária, que produz mais de 300 marmitas diariamente.
Nesta comunidade, o MLB tem realizado reuniões com mais de 100 famílias. A leitura coletiva do jornal A Verdade é um dos momentos mais importantes, pois coloca na pauta o debate sobre o papel da classe trabalhadora e analisa a situação no Rio Grande do Sul apontando os governos dos ricos como os principais responsáveis pela catástrofe socioambiental.
“Nesse momento em que o sistema capitalista só oferece desamparo, estar ao lado do povo é lutar pela vida. Hoje, estamos fazendo atividades emergenciais para garantir os direitos básicos do ser humano, a comida, o teto. Mas a forma que fazemos, organizando nosso povo, essa sim é a verdadeira potência. Estar junto do povo significa lutar pela mudança, para que todos tenham tranquilidade e segurança nos dias de chuva, para que nenhum pedreiro fique sem casa e nenhum padeiro fique sem pão”, afirma Helena Andrade, militante do MLB.
Outra iniciativa importante ocorre na Vila Cruzeirinho, na Zona Leste, que não foi atingida, mas onde as famílias vivem em situação precária e, mesmo assim, estão abrigando pessoas afetadas pelas enchentes. O MLB está fazendo doações de marmitas junto com a Associação de Reciclagem Força e Coragem, além de fraldas, leite e cestas básicas. Um novo núcleo de luta já se organizou na região.
Nas cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre, como Canoas, militantes se organizam para limpeza das casas e realizam reuniões com as pessoas afetadas. Em Novo Hamburgo, um ponto de coleta de doações foi organizado e, todos os dias, são realizadas entregas de cestas básicas, roupas e água. Em São Leopoldo, o MLB atendeu comunidades indígenas.
As brigadas de Solidariedade tiveram apoio de militantes da UP e do MLB dos Estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, que participaram das equipes de doações e também da limpeza da Ocupação Sepé Tiaraju e da Casa Mulheres Mirabal.
Eldorado do Sul
O Município de Eldorado do Sul teve 81% de sua área urbana atingida pelas enchentes. Mais de 40 mil pessoas perderam tudo que tinham dentro de casa e a cidade teve que ser evacuada. No dia 24 de maio, moradores revoltados foram até a Prefeitura para cobrar agilidade no cadastramento das famílias para receberem auxílio-moradia, além de ações concretas para limpar as ruas, já cheias de entulho e móveis completamente danificados que foram deixados nas calçadas. “Muita gente perdeu tudo. Eu perdi tudo. Os secretários fugiram pelos fundos do prédio, mas vamos continuar cobrando esses governos burgueses, que estão nos matando afogados”, denunciou Gustavo Ramos, da Coordenação do MLB e morador da cidade, durante o ato.
“Eles não nos enxergam. Só vêm aqui em tempo de eleição pra pedir voto. Só porque somos pessoas humildes, acham que não temos valor, que podem nos bater, nos surrar. Mas não somos lixo. Lixo é isso aqui que está acumulado na rua”, desabafa Santilha Brasil do Nascimento, idosa, moradora de um barraco no bairro Costaneira.
Em Eldorado do Sul, o MLB tem um núcleo de luta bastante ativo que agora terá o enorme desafio de desenvolver a reivindicação por moradia digna para o conjunto da população.
Matéria publicada na edição nº 293 do jornal A Verdade
Trabalhadora do DMAE denuncia que serviços de água e esgoto foram precarizados pela prefeitura de Porto Alegre. Retenção de R$400 milhões pode ter piorado desastre das enchentes
Redação RS
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) é a autarquia responsável pelo abastecimento de água, esgotamento sanitário e drenagem urbana na Capital gaúcha. A falta de planejamento e os cortes de verbas no setor vem desde a gestão do ex-prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Em entrevista ao jornal A Verdade, a engenheira civil Sandra Darui, coordenadora do Conselho de Representantes Sindicais da Dmae, denuncia que o prefeito de Porto Alegre reteve o valor de R$ 400 milhões do Dmae, com o objetivo de privatizar a empresa.
Quais foram as políticas da Prefeitura para combater as enchentes?
O governo atual não implantou uma política clara de combate a enchentes. Desde 2019, quando o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) foi extinto e as funções foram incorporadas ao Dmae, houve várias ações: reformas nas estruturas físicas das casas de bombas, reformas de grupo motor bomba, início da automação das mesmas, dragagem de arroios em toda a cidade, contratação de empresas para manutenção da microdrenagem. No entanto, as iniciativas eram do Dmae por conta do corpo técnico e dos servidores, não da Direção Geral do Departamento. O grande problema é que se mudou de um órgão para outro, mas não vieram todos os técnicos e nem foram contratados mais servidores, apesar de solicitado concurso para todas as áreas do Dmae. O Conselho de Representantes Sindicais (Cores) avalia que as receitas deveriam estar aumentando, pois o número de economias cadastradas era de 622 mil, em 2011, e passaram a ser 736 mil, em 2021. Entretanto, as receitas diminuíram nos últimos dez anos. Para o Cores, tal redução é consequência da política tarifária do órgão, que não acompanhou os índices de reajustes oficiais e pela falta de efetivo de servidores na área comercial para fazer fiscalizações necessárias, autuações de infrações, corte de economias inadimplentes e atualização cadastral dos imóveis.
Qual o papel dos trabalhadores no enfrentamento dessa tragédia?
O papel dos trabalhadores foi fundamental para que se garantisse o funcionamento das estações de bombeamento e tratamento de água de forma rápida (apenas uma não está operando agora porque a área das ilhas ainda segue alagada), estações de bombeamento e tratamento de esgoto e casas de bombas de águas pluviais. O Dmae tem equipes trabalhando 24 horas por dia para que as unidades voltem à normalidade. A retomada só foi possível porque tivemos auxílio de outras companhias públicas de saneamento (Sabesp, Copasa, Casan, Sanepar, Corsan), pois a defasagem de trabalhadores do Dmae é muito grande. Temos mais de 3.000 vagas criadas, mas apenas 1.050 preenchidas. Resultado da política de sucateamento dos serviços públicos da Prefeitura. O problema só não foi maior porque houve um time de técnicos dedicados.
Matéria publicada na edição nº 293 do jornalA Verdade
Manifestações contra o PL do Estupro (PL 1904/24), em discussão na Câmara dos Deputados, ocorrem em todo país. Mulheres mostram repúdio à proposta que tornará crime o aborto em pessoas vítimas de estupro.
Redação
MULHERES – Desde a última quinta-feira (13/06), milhares de mulheres e movimentos sociais estão nas ruas em mobilização contra o Projeto de Lei 1904/24, proposto pelo deputado fascista Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e apoiado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). A proposição prevê a proibição do aborto após a 22ª semana para mulheres e crianças que engravidarem vítimas de estupro. A pena para essas pessoas pode chegar a 20 anos de cadeia.
A proposta reacionária tem como objetivo atacar diretamente os direitos reprodutivos das mulheres e promover a cultura do estupro, principalmente com crianças e adolescentes. De acordo com o Anuário da Segurança Pública, 60% das vítimas de estupro tem até 13 anos e 87% do total de vítimas são mulheres. Ou seja, a gravidez que surgir fruto destes crimes não poderá ser mais interrompida, como prevê a legislação atual.
Com esse cenário de retrocesso, milhares de mulheres vêm se mobilizando em todo país em repúdio ao PL do Estupro. Manifestações ocorreram em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Florianópolis e Porto Alegre, mesmo com esta cidade ainda se recuperando das terríveis enchentes que assolam o Rio Grande do Sul desde o início de maio.
Ruhanna Pessoa, militante do Movimento de Mulheres Olga Benario, de Brasília, afirmou que o PL do Estupro “vem como forma de criminalizar a vítima. Enquanto o estuprador pode sair impune, a vítima vai ser obrigada a carregar o fruto da violência”.
No Rio de Janeiro, durante a manifestação ocorrida no centro da capital fluminense, Monique Zuma, da Unidade Popular (UP), lembrou das crianças e adolescentes estupradas que engravidam e não conseguem ter acesso ao aborto legal no país.
“São 12 mil crianças de 8 a 12 anos vítimas de estupro grávidas que não tem acesso ao aborto legal e seguro no país. O aborto legal para vítimas de estupro é previsto na lei, só ainda assim só 4% das crianças – e eu queria enfatizar aqui crianças – que são vítimas de estupro e engravidam tem acesso ao aborto legal nesse país. Então essa lei da burguesia não serve para gente. Além da gente lutar contra esse PL, a gente tem que estar organizada também para construir uma sociedade em que a gente não dependa da lei de um bando de homens decidindo sobre nossas vidas, uma sociedade em que sejamos realmente livres, uma sociedade socialista!”, afirmou Monique no carro de som durante o ato.
O direito ao aborto no Brasil
O aborto em casos de estupro é legalizado no Brasil desde 1940 e esse projeto de lei quer criminalizar esses casos. Os fascistas querem que pessoas estupradas sigam a gestação ou peguem 20 anos de prisão, comparando o aborto ao homicídio. Enquanto isso, a pena para estupradores é apenas de 6-10 anos de cadeia e muitos nem são punidos, pois não tem seus crimes investigados.
Anúncios dos governos de novas casas para pessoas que estão em abrigos no RS não atende demanda dos refugiados climáticos. Mais de um mês após o início das enchentes quase nada foi feito.
Redação RS
BRASIL – Após mais de um mês das enchentes, o presente de milhares de famílias do Rio Grande do Sul é de tragédia e o futuro é totalmente incerto. Os números evidenciam o sofrimento do povo do RS: 175 pessoas mortas pelas enchentes; sete mortes confirmadas por leptospirose (dez óbitos seguem sob investigação); 581 mil desalojados e 40 mil que perderam suas casas e moram em abrigos precários.
O município de Canoas, Região Metropolitana de Porto Alegre, tem o maior número de pessoas em abrigos: 22 mil. Laura Lopes, 22 anos, estudante de História, mora no bairro de Mato Grande e foi uma das atingidas. “Quando chegou a sexta-feira, que foi o dia que começou tudo, eu estava em casa. Meus avós já estavam dormindo, quando escutei um barulho. Era minha mãe batendo com muita força na janela, chamando. Ela entrou e começou a falar pra gente arrumar nossas coisas e sair porque tinha passado um carro da Prefeitura avisando pra sair. Saímos e, na manhã seguinte, a gente deu uma olhada na nossa rua. Então voltamos pra casa”, ela relata.
No dia 04 de maio, tocou de novo o alarme de evacuação no bairro e, desta vez, a família de Laura teve que sair levando algumas poucas coisas nas mochilas. Agora, as ruas estavam sem luz e sem água.
“A casa do nosso vizinho já estava alagando e a água já estava quase pelo joelho. Foi aí que percebemos que era realmente sério. Fomos para o abrigo do ginásio do LaSalle, que tinha uma boa estrutura. Mas, no primeiro dia, eram 700 pessoas, então era muito difícil. Eu passei três dias levantando, arrumando as coisas, correndo e indo para outro lugar. Fiquei de cama por uma semana, não tinha vontade de fazer nada. Eu não conseguia me alimentar. Outras pessoas também não estavam conseguindo se alimentar. A comida, às vezes, vinha fria ou as marmitas vinham com alguma coisa que a pessoa passava mal depois. E aí começaram a ter alguns casos de intoxicação alimentar. Então, quando a gente estava no abrigo, a gente nunca sabia como ia ser o dia de amanhã, se a água ia chegar, se a gente teria que fugir para outro lugar”, conta Laura.
O professor João Petry Gentil, 23 anos, morador de Bom Retiro do Sul, cidade que fica em uma região anualmente atingida pelas enchentes, conta o que está vivendo. “As casas nessa região já são construídas mais altas para a água não entrar. No ano passado, foi a primeira vez, em mais de 60 anos, que a água entrou dentro das casas, chegando até a metade. Algo que ninguém esperava. Na enchente deste ano, a água entrou dentro das casas, mas superou a do ano passado, cobrindo até o telhado. Ninguém acreditava que era possível. Foi uma cena de desespero e tristeza, perdemos praticamente tudo e, até o momento, não conseguimos retornar a nossas casas”.
João Petry é militante da Unidade Popular (UP) e, junto com os outros militantes da UP, ajuda as pessoas atingidas na limpeza de suas casas, fazendo distribuição de alimentos e produtos de limpeza. “Na visão de alguém que foi atingido diretamente pela enchente e que está envolvido também como voluntário, percebo que essa ajuda é fundamental, tanto para dar mantimentos, quanto para dar esperança. A solidariedade de classe é fundamental nesses momentos”.
Abandono dos desabrigados
Na Zona Leste de Porto Alegre, o Movimento de Mulheres Olga Benario organizou um abrigo somente para mulheres e crianças. Ketlin Bastos, do bairro Arquipélago, da Ilha das Flores, estava com sua filha no abrigo da Brigada Militar e achou melhor ir para o abrigo só com mulheres. “Aqui somos bem tratadas, fazemos boas refeições, temos segurança, as pessoas não estão apenas doando coisas materiais, mas sim doando energia e muito carinho”.
Nos abrigos da Prefeitura de Porto Alegre, há muitos relatos sobre a desorganização e precariedade. Um dos abrigos mais problemáticos é o Centro Vida, na Zona Norte. Ele abriga mais de 600 pessoas em um único pavilhão, e 400 cachorros em outro ginásio.
“O telhado tem aberturas por onde passa muito vento à noite. É muito frio e, como não temos divisões internas, sentimos todo o vento. A gente começou a levantar pallets para tentar se proteger do vento, para conseguir dormir. Além disso, também existem as dificuldades para tomar banho, pois, apesar dos vários chuveiros, a maioria está estragada. Agora mesmo, só funcionam dois chuveiros quentes. Nesse frio, não tem como todos tomarem banho”, relata uma desabrigada.
As pessoas também reclamam da alimentação e falta de organização, pois as refeições atrasam e, a cada dia, é um horário diferente. É um descaso grande, particularmente com as crianças e os idosos, que estão passando por um verdadeiro pesadelo.
Na última semana, depois que a água baixou, muitas famílias voltaram para suas casas e estão limpando toda a lama que ficou acumulada. Outras, querem voltar para onde moravam, mas os níveis de água ainda permanecem altos, com risco de novas inundações. E aqueles que perderam suas casas estão nos abrigos e não sabem se terão casas ou ficarão morando nos abrigos. As prefeituras e o governo falam em reconstrução, mas nenhuma casa foi construída até agora em todo o estado. Fato é que essas milhares de pessoas pertencem à classe trabalhadora, são pobres e não tem dinheiro para pagar um aluguel. Não há entre os milhares de desalojados e desabrigados, um só rico.
Já que o governo nada faz, o povo organizado garante apoio. JAV/RS
O futuro dos abrigos
No último dia 23 de maio, Porto Alegre viveu uma nova inundação. Choveu muito e alagou novamente vários bairros, além de outros que ainda não tinham sido atingidos. Assim, vários abrigos que estavam ameaçados de fechar pela cobrança da Prefeitura e do Governo do Estado, voltaram a ser ocupados.
Diante desse caos, a proposta do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), é um escárnio: fazer um alojamento no bairro de Porto Seco (Sambódromo) para abrigar 10 mil refugiados climáticos. Na prática, quer nos impor, um campo de concentração e garantir lucro para grandes empreiteiras. Acha o prefeito que o povo gaúcho não tem direito a morar dignamente, a ter uma casa, mas a viver num alojamento.
Na verdade, mais de um mês após o início das enchentes e, até agora, quase nada foi feito. As ruas estão tomadas de lixo, móveis e eletrodomésticos que não funcionam mais. Os bairros mais pobres se transformaram em verdadeiros aterros a céu aberto. E ainda há bairros cobertos de águas, como Sarandi e Humaitá. O aumento de doenças, como leptospirose, dengue e Covid-19, e as Unidades Básicas de Saúde estão lotadas. Mas, prefeitos e governador só pensam nas eleições de outubro.
A população dos abrigos continua sem perspectiva de recuperar ou ter suas casas em outro lugar, o governo e prefeituras do RS continuam sem dar perspectiva real do problema. Resta ao povo gaúcho avançar sua unidade, se organizar e exigir seus direitos. Não precisamos mais de governos dos ricos, queremos um governo dos pobres e pelos pobres, por isso, nossa luta é pelo poder popular.
Governo federal anuncia casas para parte dos desabrigados
Após o fechamento da edição nº 293 do Jornal A Verdade, o Governo Federal anunciou que comprará 2 mil imóveis através da Caixa Econômica Federal para destinar aos desabrigados. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, anunciou também que o governo federal irá comprar casas e apartamentos em construção através do Minha Casa, Minha Vida das faixas mais baixas, para destinar às famílias que estão em abrigos no RS.
Por sua vez, assim como o prefeito de Porto Alegre, o governador do RS, continua com a política de “casas provisórias” para a população dos abrigos. No último dia 7 de junho, o governador Eduardo Leite (PSDB) anunciou a destinação de 86 milhões de reais para a construção de 750 casas, sendo 250 definitivas e 500 provisórias.
Todos estes anúncios, no entanto, estão muito longe da necessidade real das dezenas de milhares de desabrigados e refugiados climáticos das enchentes do Rio Grande do Sul.
Matéria publicada na edição impressa nº 293 do Jornal A Verdade (primeira quinzena de junho de 2024).
Em 2023, o Brasil pagou, de juros e amortizações da dívida pública, quase R$ 2 trilhões. Isso representa 43% de todo o Orçamento nacional. No mesmo período, o Governo Federal investiu o percentual irrisório de 0,3% em Transporte e apenas 3% em Educação e 3,7% em Saúde. Para explicar os mecanismos de como a dívida pública suga nossas riquezas em benefício de meia dúzia de grandes banqueiros, deixando o povo à mingua, A Verdade entrevistou Maria Lúcia Fattorelli, coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida.
Da Redação
A Verdade – Por que surgiu a Auditoria Cidadã da Dívida e qual a importância da Campanha Nacional por Direitos Sociais?
Maria Lúcia Fattorelli – A Auditoria Cidadã da Dívida nasceu no ano de 2000, no âmbito do Plebiscito Popular sobre a Dívida Externa. Ele foi organizado por um conjunto de entidades da sociedade civil: sindicatos, associações, Campanha Jubileu Sul, Igrejas, partidos políticos, movimentos sociais, enfim. Uma das perguntas era: “Você concorda em continuar pagando a dívida pública sem fazer a auditoria prevista na Constituição?”. Naquela ocasião, em menos de uma semana, ainda sem redes digitais, nós colhemos quase seis milhões de votos, com 90% dizendo que não concordavam. Isso trouxe um grande respaldo para essa luta. Nós entregamos o resultado do plebiscito ao Congresso Nacional, ao STF e ao Poder Executivo. Meses se passaram, mas nenhuma força política se moveu. Aí nós, as entidades que organizaram o plesbicito, nos reunimos e dissemos: “Não vamos deixar essa mobilização social se perder. Vamos criar uma auditoria feita pelos cidadãos para os cidadãos”.
Agora, estamos desenvolvendo, junto com várias entidades da sociedade civil, inclusive a Unidade Popular, a Campanha Nacional por Direitos Sociais. Nosso objetivo, ao analisar a dívida pública (tanto interna quanto externa, nas esferas federal, estadual ou municipal), sempre foi apontar qual o papel que essa dívida exerce no Orçamento. A dívida sangra a maior parte dos recursos, está por trás do Teto de Gastos do Governo Temer, do arcabouço fiscal do atual Governo, das contrarreformas. A Reforma da Previdência foi pra que? Pra adiar, diminuir ou cortar direitos da população pra sobrar mais dinheiro pra dívida. Todas a privatizações (desde Collor e Fernando Henrique, passando pelos demais governos, pois todos privatizaram) foram sob a justificativa de pagar a dívida.
Então que dívida é essa? Ela está por trás de todos os prejuízos sociais, patrimoniais, financeiros do povo brasileiro. Então essa campanha vem pra denunciar isso. E nós só teremos plenitude de direitos sociais quando enfrentarmos esse sistema da dívida. O país tem mantido, nos últimos anos, cerca de R$ 5 trilhões em caixa.
Então é um absurdo que tenhamos grande parte da população brasileira na pobreza, na miséria, passando fome. E esse modelo econômico que privilegia a dívida é o mesmo que dá tudo pro agronegócio, pra mineração predatória e pro setor financeiro, mas deixa a maioria da população à mingua. Então essa campanha por direitos sociais visa a popularizar esses temas e fortalecer as lutas sociais.
Como e em qual momento histórico essa dívida pública surgiu?
Quando a gente fala em dívida pública, as pessoas, em geral, fazem essa relação com a sua dívida privada. Neste caso, não tem nada a ver. A grande mídia gosta de dizer: “O país está endividado porque agiu igual a uma família, que gasta mais do que tem”. Mas não é isso. A dívida pública é outra história. Na maioria das vezes, o dinheiro não chegou efetivamente. O mercado financeiro foi muito esperto ao escolher a dívida pública como desvio do dinheiro para setores privilegiados.
Houve uma CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] da Dívida Pública na Câmara dos Deputados em 2009 e 2010. Um dos requerimentos aprovados foi para que a Procuradoria da Fazenda Nacional apresentasse todos os contratos de dívida externa que justificaram aquele crescimento brutal da dívida externa durante a Ditadura Militar. Quando começou a Ditadura, em 1964, a dívida externa era de pouco mais de 3 bilhões de dólares. Quando terminou, era mais de 85 bilhões de dólares. Então, a dívida externa se multiplicou mais de 30 vezes nesse período.
Eu era auditora da Receita Federal e fui requisitada para assessorar a CPI. Então, nós analisamos todos os contratos e, somando tudo que foi aprovado no Senado, os títulos emitidos no exterior, não explica nem 20% desse crescimento. O que pode ser, então, esses outros 80%? Financiamento da própria Ditadura, porque isso, até hoje, é mantido em arquivos sigilosos. Então é uma dívida totalmente ilegítima, jogada nas costas do povo. Tem um termo jurídico que fala uma dívida odiosa, quando é uma dívida contratada sem transparência alguma por regimes totalitários e contra os interesses do povo.
Outra coisa que está aí nesses 80%: um dos “feitos” da Ditadura foi criar o Banco Central, ainda em 1964. Em 1967, o Banco Central baixou uma circular dando liberdade total para os bancos que atuavam no Brasil, inclusive os bancos estrangeiros, para se endividarem à vontade. Foi uma farra. Os bancos pegavam dólar lá fora, a juros baixinhos, e o Banco Central convertia em moeda nacional. Aí os bancos emprestavam ao povo, a juros exorbitantes, ganhando uma fortuna, só que os bancos ficavam com essa dívida lá fora. Na década de 1980, quando veio a crise da dívida e os bancos internacionais começaram a aumentar a taxa de juros, toda essa dívida privada foi transformada em dívida pública. Pegaram a dívida privada, contraída por bancos e empresas, e somaram ao estoque da dívida pública. Durante a CPI, o Banco Central teve que admitir que concordou com essa operação, mas que não saberia dizer o valor exato porque os controles teriam se perdido. Alegações absurdas! E ficou por isso mesmo.
Fatorelli no plenário do Congresso Nacional. Foto: Agência Senado.
E o que é que aconteceu com essa dívida externa gigante lá na década de 1980? Quando transformaram a dívida privada em dívida pública, criaram novos acordos internacionais em que o Banco Central assumia o papel de devedor perante os bancos privados internacionais. Pra começo de conversa, ele nem poderia ter assumido o papel de devedor, mas esses contratos foram feitos em Nova York, sob as leis norte-americanas, rifando a Constituição brasileira. Os novos contratos previam a emissão de novos títulos da dívida externa, desta vez, em Luxemburgo (que é um paraíso fiscal), e eram chamados pela própria mídia, na época, de “papéis sujos”, que não eram negociados em nenhuma bolsa de valores do mundo. Posteriormente, uma parte desses papéis foi transformada em novos títulos (mais limpos, mais legalizados), e outra foi transformada em dívida interna em 1994, no início do Plano Real, quando os juros chegaram a quase 50% ao ano. E uma outra parte ainda foi aceita como moeda de privatização. Metade da Vale do Rio Doce foi paga com essa papelada podre.
Resumindo, apenas uma parte da dívida está explicada, por exemplo, para financiar a construção da hidrelétrica de Itaipu e outras, da Eletrobras, da Companhia Siderúrgica Nacional, da Usiminas, de ferrovias, etc. Então, a questão é: quanto de dinheiro realmente entrou no país?
Aqui no Brasil, os banqueiros estão sempre no topo da lista das pessoas mais ricas do país. Por quê?
Aqui no Brasil, existe a chamada “Bolsa Banqueiro”. Hoje, nós somos praticamente obrigados a ter conta bancária. Então, nosso dinheiro, nosso salário, está lá no banco. Inclusive, é uma mentira que o brasileiro não faz poupança. Em moeda, dinheiro da sociedade, tem quase dois trilhões de reais em poupanças nos bancos. O que é que os bancos no Brasil deveriam fazer? O que os bancos fazem mundo afora: emprestar dinheiro a juros baixos. Por que tantas pessoas fazem o financiamento e não dão conta de pagar? Porque os juros aqui são exorbitantes. E por que os bancos se dão ao luxo de cobrar juros exorbitantes? Porque eles pegam todo esse dinheiro, que é da sociedade, que nem pertence a eles, e depositam no Banco Central e ganham juros em cima dessa operação. Essa é a “Bolsa Banqueiro”. O povo paga juros duas vezes: os juros dos bancos e os juros da dívida pública.
E essa conta sempre chega. Inclusive, setores como o do agronegócio e o da mineração conseguem manter na legislação isenções injustificadas. Além de não pagaram essa conta junto com o povo, também não respondem pelos danos ambientais que causam. Vemos agora a calamidade no Rio Grande do Sul.
O ato, que contou com a participação de mais de 100 apoiadores, foi realizado na frente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e denunciou a ação de despejo da Casa Almerinda Gama movida pelo Estado.
Redação RJ
MULHERES – Na última terça-feira (11), o Movimento de Mulheres Olga Benario organizou ato contra o despejo da Casa de Referência Almerinda Gama. A manifestação foi realizada na frente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro no dia do julgamento da ação do Estado contra a ocupação, denunciando a ação do estado do Rio de Janeiro e conversando com a população presente no local.
O ato contou com a participação de mais de 100 apoiadores da Casa de Referência da Mulher Almerinda Gama e contou com apoio de diversos movimentos sociais e mandatos parlamentares. Entre estes, estiveram presentes os mandatos das vereadoras Mônica Benício, Mônica Cunha e Luciana Boiteaux, da deputada estadual Marina do MST, das pré-candidatas da UP Juliete Pantoja e Giovanna Almeida e movimentos populares como o Movimento Unificado dos Camelôs (MUCA) e do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).
O julgamento realizado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro conduziu parecer favorável à ação do Estado contra a ocupação, evidenciando o caráter da justiça burguesa de defesa da propriedade e de ataque aos movimentos sociais. Porém, a luta continua.
Casa Almerinda Gama: 2 Anos de Luta
A Casa de Referência da Mulher Almerinda Gama existe desde o ano de 2022 e realiza um importante trabalho de denúncia da violência à mulher, da falta de ações do Estado e de acolhimento a mulheres vítimas de violência doméstica. Nesses dois anos, já foram atendidas mais de 100 mulheres e mais de 30 foram abrigadas ao longo desse tempo. Além disso, diversas crianças também foram abrigadas junto de suas mães.
A ocupação Almerinda Gama fica localizada em um prédio na Rua da Carioca, centro da cidade do Rio de Janeiro, em um prédio que não cumpria função social há quase uma década e que, após ter pertencido ao Banco Opportunity, pertence ao governo do estado do Rio de Janeiro. A região em questão sofre com os efeitos da especulação imobiliária, com fechamento de comércios e pouca oferta de moradia, enquanto diversos prédios se encontram fechados.
Desde maio de 2022, o estado do Rio de Janeiro entrou com uma ação de reivindicação de propriedade com relação ao prédio e, mesmo com diversas cobranças, sequer abriu mesa de negociação com o movimento.
Agora a prefeitura do Rio de Janeiro quer criar na Rua da Carioca a “Rua da Cerveja”, um projeto de revitalização, mas que não pode servir para colocar o lucro acima da vida das mulheres. O estado do Rio de Janeiro é um dos mais violentos do país para as mulheres e não possui políticas suficientes em defesa da vida das mulheres e para enfrentar esse problema.
Justiça burguesa atua contra a vida das mulheres
A ação contra a Casa Almerinda Gama contou com parecer da justiça favorável ao Estado. Durante sua sustentação oral, Monique Zuma, advogada popular e coordenadora da Casa Almerinda Gama, ressaltou que “O STF e o CNJ entendem que quando há a possibilidade de uma desocupação coletiva de pessoas em situação de vulnerabilidade é importante que seja feito de forma cautelosa, que tenha inspeção judicial no local, tentativa de mediação, planejamento de para onde vão essas pessoas em vulnerabilidade”, porém o governo do estado, mesmo com diversas tentativas de mediação, se negou a abrir qualquer diálogo com o movimento.
Além disso, foi cobrado que a questão relacionada à casa de referência fosse remetida à comissão de conflitos fundiários do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
A posição reacionária do juiz e dos desembargadores presentes, no entanto, reflete a atuação principal da justiça burguesa: atuar em defesa da propriedade. As posições da justiça não levam em conta que o prédio não cumpria função social e que, mesmo após o termo de reivindicação de propriedade, o estado do Rio de Janeiro não indica qualquer intenção de utilizar o prédio para algum fim.
O sentimento de indignação com a decisão da justiça tomou conta de todas que estavam presentes. Uma das abrigadas desabafou: “O que mais me deixou abalada foi o ambiente hostil com a gente que estava ali assistindo. A fala da desembargadora foi muito hostil e dói mais porque sabemos que a Almerinda não é um lugar insalubre. Nós, que somos acolhidas pela ocupação, sabemos que muitas coisas que a gente não tinha acesso na nossa vida, antes de vir para cá, só passamos a ter depois que viemos para a Almerinda.”
Apesar da decisão, a luta pela permanência da ocupação está longe do fim. O Movimento de Mulheres Olga Benario decidiu ampliar a luta em defesa da Casa de Referência Almerinda Gama, realizando atividades que denunciam a ação do Estado contra a ocupação.
A Casa de Referência Almerinda Gama realiza um trabalho fundamental pela vida das mulheres, sendo a única casa de passagem na capital e a sua continuidade é fundamental para as mulheres na cidade do Rio de Janeiro.
Ao longo deste 13 de junho, lideranças do ensino técnico de todo Brasil estarão reunidas em Belo Horizonte na Plenária Nacional de Grêmios da FENET para organizar a agenda de luta em defesa da educação pública.
Adriane Nunes | Diretora da FENET
JUVENTUDE – Ao longo do dia 13 de junho, as lideranças do ensino técnico de todo Brasil estarão reunidas em Belo Horizonte. na Plenária Nacional de Grêmios da FENET. O encontro organizará a agenda de manifestações de rua, rodas de conversas nos Institutos Federais e ocupações nas escolas técnicas em defesa da ampliação do orçamento para a assistência estudantil.
Segundo o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (CONIF), a Rede Federal de Ensino Técnico precisaria de ao menos R$4,1 bilhões para poder recompor o orçamento e para garantir o funcionamento mínimo das instituições e a aplicação das políticas de assistência estudantil. Porém, “o que encontramos são escolas precisando sobreviver com o que tem. São salas de aula sem climatização, campi sem restaurantes a preços acessíveis, cancelamento de aulas de campo e práticas pela falta de insumos, banheiros com portas quebradas e entre outros problemas que poderiam ser sanados com um investimento justo na educação”, denuncia Ana Luiza, estudante do IFBA e coordenadora geral da FENET.
A grande realidade é que os estudantes mais pobres são os primeiros a serem prejudicados com a secundarização da assistência estudantil, mesmo que sejam a maioria do quadro do alunado nos Institutos. Hoje, cerca de 70% dos estudantes são mulheres (54%) e negros (63%), conforme a Plataforma Nilo Peçanha.
No entanto, o chamado campo do “centrão” da Câmara dos Deputados e Senado não quer priorizar a permanência desses estudantes dentro das escolas técnicas. Por isso, em 2024 foi aprovado um orçamento para os Institutos Federais 20 vezes menor que as Emendas Parlamentares aprovadas e que significa metade do valor do Fundo Eleitoral. Estão mais preocupados em encher seus próprios bolsos de dinheiro!
Com esse cenário, a FENET realiza a plenária de grêmios para convocar a organização da agenda de lutas pela assistência estudantil. “Quem entrou, quer ficar! Esse é o sentimento dos estudantes de ensino técnico que sonham em acessar uma educação de qualidade e ajudar a sustentar sua família em casa. O governo federal e, em especial, o parlamento não podem fechar os olhos para esses estudantes. Os grêmios estão organizados e prosseguirão na luta pelos seus direitos”, aponta Nicole Viana, coordenadora geral da FENET.
Povo de Natal sofre com um dos piores sistemas de transporte público do país. Em um cenário em que os grandes empresários que lucram milhões por ano com esse serviço, controlam tudo referente ao transporte, como os trabalhadores ficam frente tamanho sucateamento?
João Pavanelli | Redação RN
BRASIL – O transporte público da cidade de Natal é extremamente precário. Nos pontos de ônibus o que não falta é reclamação da infraestrutura, do calor, do desconforto, do tempo enorme de espera e, é claro, da indiscreta tarifa de R$ 4,50. A tarifa de ônibus natalense é mais cara do que as das cidades de São Paulo (R$ 4,40), Rio de Janeiro (R$ 4,30) e Brasília (R$ 3,85).
Na cidade de Natal, entre 2007 e 2022, enquanto o número de motos aumentou 136,5% e o de carros 64,5%, a frota de ônibus aumentou em apenas 49,1%. Estes dados do IDEMA (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte) demonstram uma tendência de expansão do transporte privado frente ao transporte público, deixando a classe trabalhadora sem opções para se locomover pela cidade, pois os preços de veículos populares cada dia mais e mais se tornam inacessível para a grande maioria das famílias.
Além deste desprezo pelo transporte público, a prefeitura do Natal também não parece se importar muito com algumas linhas que foram todas retiradas de circulação desde a pandemia de COVID-19, segundo o Agora RN. A prefeitura realmente acha que não precisa transportar trabalhadoras e trabalhadores entre todas as regiões da cidade. As linhas também são cortadas por falta de interesse privado: se poucas pessoas se transportam em determinada região, e um ônibus pode lucrar mais em uma região que já possua mais de uma linha, a empresa privada que detém a concessão das linhas simplesmente fecha uma linha.
Também é possível perceber no relatório do IDEMA que além das empresas terem diminuído o número médio anual de viagens por ônibus (de 203, em 2013 para 177, em 2019), os carros ainda rodam menos. Um ônibus costumava percorrer 7.159 quilômetros em 2013, enquanto em 2019 percorria apenas 6.173 quilômetros, uma queda de 13,8% de percurso para os trabalhadores e trabalhadoras. Não para por aí, segundo o G1 do RN o número de linhas caiu de 83 para 55 depois da pandemia de Covid-19.
Em contrapartida a esse serviço horrível de transporte, segundo estimativa feita pelo Jornal A Verdade, também com os dados do relatório do IDEMA, arrecadou-se em 2019, cerca de R$ 24.390.602,70 (quase 25 milhões de reais) fruto do acúmulo das tarifas pagas pelos trabalhadores. Uma quantidade enorme de faturamento para um serviço tão precário de transporte.
Os contratos das empresas privadas com a prefeitura
O mistério das licitações já dura mais de 10 anos em Natal. Ninguém tem acesso aos contratos entre a prefeitura e as empresas “vencedoras” das licitações que permitem a concessão da oferta de transporte público no estado.
Como o transporte público é um serviço de bem estar coletivo, as empresas privadas não possuem o direito de fazer o que bem entendem com as linhas e com a qualidade do serviço. Isso significa que o poder público tem obrigação de fiscalizar e cobrar das empresas que não oferecem os serviços de acordo com o que foi contratado com a licitação. Quem faz essa fiscalização é o Tribunal de Contas. Mas como ele pode fiscalizar contratos que não são encontrados? É como se houvesse um muro que tapa o órgão fiscalizador de verificar se os contratos estão sendo cumpridos pelas empresas privadas que detém as concessões das linhas de transporte.
A prefeitura tem o dever de disponibilizar os contratos imediatamente, e de cobrar que o Tribunal de Contas fiscalize e até mesmo suspenda as licitações que não estão cumprindo com suas obrigações legais.
Um dos argumentos da STTU (Secretaria de Mobilidade Urbana), segundo o G1 do RN, os contratos atuais são “emergenciais” e de curto prazo para dar conta das áreas não atendidas.
Sem acesso às condições das licitações o povo não pode saber quem está recebendo os quase 25 milhões de reais anuais. Como cobrar quem não conhecemos?
Quanto realmente custa o transporte público da cidade
A redação do Jornal A Verdade no RN fez uma estimativa considerando valores razoáveis de um ônibus novo com vida útil de 9 anos e a média de rodagem real dos últimos anos, bem como seus custos de manutenção, e também considerando o preço do combustível, e do salário de 3 motoristas e 3 cobradores. Com tudo isso temos um valor aproximado de R$ 1,36 por quilômetro rodado. Será que R$ 4,50 é realmente uma tarifa adequada?
É importante o acesso público aos contratos de licitação das empresas privadas concessionárias das linhas do transporte coletivo de Natal. Para isso é necessária uma pressão da classe trabalhadora junto ao poder público.
Por fim, para que o povo supere esses problemas e consiga viver dignamente em uma cidade que pense e se importe com a classe trabalhadora, é necessária uma luta pela estatização do transporte público. Enquanto o sistema de transportes estiver nas mãos de meia dúzia de milionários, o povo vai continuar pagando a conta do sucateamento dos ônibus em Natal.
Nos últimos meses, a redação do jornal A Verdadevem cobrindo a greve da educação federal, em que servidores técnicos-administrativos, estudantes e professores lutam pela recomposição do orçamento da Educação e por melhorias salariais. Nesta terça-feira (11/6), as categorias realizaram em Santo André (SP) mais uma manifestação para pressionar o Governo a negociar. A seguir, reproduzimos release difundido pelos servidores em luta da UFABC
Redação
Em greve há 3 meses, servidores da educação federal realizam atos e manifestações para cumprir agenda da greve em defesa da educação em mais uma semana de negociação com o governo federal. Dessa vez, o ato aconteceu em Santo André, no ABC Paulista, com servidores e estudantes da Universidade Federal do ABC (UFABC).
Com bloqueio na Avenida dos Estados, em frente ao campus da universidade, o ato acontece em um dia importante para os Técnicos Administrativos em Educação (TAEs), no qual será mais uma negociação entre as entidades representativas da categoria – Federação de Sindicatos de trabalhadores técnico-administrativos (FASUBRA) e Sindicato Nacional que representa os servidores (docentes e técnicos) da Rede Federal de Educação Básica, Técnica e Tecnológica (SINASEFE) com o Ministério de Gestão e Inovação (MGI), que responde pelo Governo Federal.
Os grevistas pedem a recomposição de 10 anos de cortes no orçamento federal da Educação e um reajuste salarial já para 2024. O governo, por sua vez, se nega a dar o reajuste e a recomposição, pois quer a todo custo cumprir as metas de superávit fiscal e garantir o pagamento dos juros da dívida pública aos banqueiros e fundos financeiros, que come metade do orçamento da União.
Segundo Priscilla Santos, TAE na UFABC, “Estamos há 90 dias em greve, por causa da nossa condição de trabalho e nossa condição financeira. Nós temos perdas salariais acumuladas desde 2010, que chegam a 50%, além disso, as nossas carreiras estão muito defasadas. Somos a maior categoria do setor federal e temos as menores médias salariais”
Após a deflagração da greve dos técnicos, somaram-se os professores. Entre as principais reivindicações estão: aumento salarial; reformulação da carreira; recomposição do orçamento das universidades e institutos federais. Ao todo, são quase 70 universidades federais em greve.
De acordo com Felipe Franco, professor da UFABC, “95% da pesquisa produzida no Brasil é feita nas universidades públicas. Durante a pandemia, foram elas que desenvolveram exames diagnósticos de COVID-19, vacinas para prevenir o contágio do vírus! Nossa greve é para defender a ciência e pesquisa também! A proposta feita pelo governo não contempla a grande maioria dos professores, apesar de ter sido propagandeada como uma boa proposta pra nós”.
Além disso, Paulo Pinheiro, vice-presidente do Diretório Central dos Estudantes acrescenta: “estamos em luta junto com os trabalhadores porque a universidade sofre com a precarização devido a falta de orçamento: goteiras, falta de professores e servidores, o que ocasiona atraso na graduação, falta de auxílio financeiro para os estudantes. Uma estudante desmaiou na sala de aula por excesso de calor e falta de ventilador. A greve tem como pauta a recomposição do orçamento das universidades e institutos federais, por isso é uma greve em defesa da educação!”.
A ação demonstra como os trabalhadores e estudantes estão dispostos a defender a universidade e a educação pública, gratuita e de qualidade; a valorização dos trabalhadores, pesquisadores e estudantes que garantem o desenvolvimento de ciência, tecnologia e pesquisa no país.
A atividade continua no período da manhã nas dependências da UFABC, com uma plenária entre os técnicos, docentes e estudantes. Até o fim da semana, as entidades representativas da universidade planejaram um calendário de atividades da greve.
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